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Kierkegaard:
Uma contraposição entre as
teses do Juiz Wilhelm e
de Johannes o Sedutor
Direção Editorial:
Lucas Fontella Margoni
Comitê Científico:
Daniel Arruda Nascimento
(UFF)
Luizir de Oliveira
(UFPI)
A ética da liberdade em
Kierkegaard:
Uma contraposição entre as
teses do Juiz Wilhelm e
de Johannes o Sedutor
Porto Alegre
2016
Diagramação e capa: Lucas Fontella Margoni
Revisão: André Oswaldo Ribeiro
ISBN - 978-85-5696-003-0
CDD-170.701
Cecília Meireles
Søren Kierkegaard
“O eu é um outro”.
Charles Baudelaire
Paul Ricœur
Apresentação . 13
André Oswaldo Ribeiro
Introdução . 15
Para uma ética da liberdade
2. A liberdade estética . 64
Referências . 158
Apresentação
André Oswaldo Ribeiro 1
Em um de seus diários, Kierkegaard se pergunta:
“se o Bem é bom em si mesmo, de que maneira Deus é
livre em relação a ele, de que maneira o homem tem
liberdade?” (Not 13:43,1842-1843). Perante a suposta
autonomia do bem, Hvorledes den menneskelige Frihed, ”como
o homem pode ser livre?” pergunta-se Kierkegaard,
levantando uma questão que atravessa a história do
pensamento. No texto A doença para morte, de 1849, o
pseudônimo Anti-Climacus afirma: Selvet er Frihed, “o self é
liberdade”. E prossegue: “mas a liberdade é o dialético nas
determinações possibilidade e necessidade”. Ou seja,
Kierkegaard desloca a discussão sobre a liberdade para o
terreno do que ele chama de interioridade. A liberdade é
elucidada, neste sentido, a partir do exame do vasto
conceito de self desenvolvido por ele. Não obstante isto,
nos seus diários encontramos uma pista importante:
[Foi isso que] Agostinho disse sobre a verdadeira
liberdade (diferente da liberdade-de-escolha
[Valgfriheden]): o mais forte senso-de-liberdade tem
o homem quando ele, cheio de determinação,
decide marcar em sua ação a sua necessidade
visceral, o que exclui o pensamento de qualquer
outra possibilidade (Kierkegaard, NB23:172, 1851,
trad. minha).
p. 146).
fé. Ainda assim, ele tenta atraí-la com a sua intuição como
um adorno imediato da fé. Porém, é essa falsidade que
impede que Margarete salve a sua fé, pois, para
Kierkegaard, por meio do pseudônimo do Juiz Wilhelm, a
mulher é a salvação do homem.
O que ocorre no decorrer do romance entre
Fausto e Margarete é que essa passa a viver por aquele.
Margarete torna-se um nada, passando a ser isso por causa
dele. Fausto percebe que isso é uma imediaticidade que não
pode continuar e, por conta disso, abandona-a. O Esteta
considera que Fausto foi “deveras hipócrita”
(KIERKEGAARD, 2013, p. 246).
Ao mesmo tempo, traz uma elasticidade dialética,
o fato de Fausto ter tornado todo aquele sentimento como
nada. É uma polissemia. Aqui podemos ver o grande
diferencial da filosofia kierkegaardiana. O que faz o
interessante ser uma categoria dialética elástica é o que o
diferencia de uma hermenêutica analítica, sistemática e
especulativa. A elasticidade que Kierkegaard faz é convidar
cada indivíduo a se identificar com essas figuras. No caso
do Fausto e de Margarete:
2.4 O tédio
1) Totalmente vulnerável;
2) Totalmente dependente;
3) Totalmente identificada com o amor pelo homem;
4) Apenas reativa, não direcionando suas ações;
5) Ambivalente;
6) Auto-reprovadora.
152 A ética da liberdade em Kierkegaard
SECUNDÁRIAS
ADORNO, Theodor W. Kierkegaard. Construcción de
lo estético. Ed. Akal, Madrid, 2006.
TESES E DISSERTAÇÕES
NASCIMENTO, Daniel. Ipseidade e alteridade em
Heidegger e Kierkegaard. (Dissertação de
mestrado). Rio de Janeiro: PUC, Departamento de
Filosofia, 2007.
ARTIGOS
ARDILA, J. 'The Origin of Unamuno’s Mist: Unamuno’s
Copy of Kierkegaard’s Diary of the Seducer'.
Modern Philology, vol 109, n. 1. Chicago: Chicago
Press. 2011. pp. 135-143.