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CAPACIDADE EMPREENDEDORA
EM EMPRESAS DE BASE TECNOLÓGICA
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CEG-IST, Centro de Estudos de Gestão do Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa, e-
mail: carlosbana@ist.utl.pt.
Department of Management (Operational Research Group), London School of Economics
and Political Science (LSE), e-mail: c.bana@lse.ac.uk.
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UECE, Universidade Estadual do Ceará, Campus do Itaperi, Faculdade Christus, e-mail:
bernadetteamora@terra.com.br.
ENGEVISTA, v. 10, n. 1, p. 4-14, junho 2008 4
1. INTRODUÇÃO características psicológicas dos
empreendedores (McClelland, 1987;
O Instituto de Software do Ceará McClelland e Burham, 1987); e a
(INSOFT), com o objetivo de tornar o perspectiva sociocultural adota a origem
Ceará um centro de excelência em cultural e social do indivíduo como
pesquisa, desenvolvimento e produção de referência para a análise da figura do
software, abriga uma incubadora de empreendedor (Young, 1971; Filion,
empresas de base tecnológica, a 1991; Bygrave et al., 1996). Embora não
IncubaSOFT – Incubadora de Software. se possa afirmar que uma pessoa que
A cada dois anos, a IncubaSOFT possua uma determinada característica
seleciona candidaturas submetidas ao seu terá sucesso em seu empreendimento, ela
programa de incubação de empresas, com terá seguramente mais chances de ser
base na avaliação, não só dos planos de bem sucedida do que outra que a não
negócios respectivos, mas também da possua (Carton et al., 1998). Em qualquer
capacidade empreendedora dos daquelas três abordagens, o
proponentes. De fato, os diretores da empreendedor é considerado um
IncubaSOFT, responsáveis pela elemento vital, principalmente quando se
avaliação, sabem, por experiência, que a trata da criação de empresas de base
capacidade empreendedora potencia o tecnológica. Ao contrário das empresas
sucesso empresarial. convencionais de capital centrado nas
Esta constatação vai ao encontro de instalações e na infra-estrutura e/ou
muitos estudos: por exemplo, Luczkiw equipamentos, as empresas de base
(1997) afirma que o êxito de um tecnológica, por serem detentores de
empreendimento não advém conhecimento, exigem um capital
exclusivamente do mercado, da orientado na qualificação humana.
tecnologia, ou do capital, mas sim da Entretanto, o processo de avaliação
agregação destes fatores com as atitudes de capacidade empreendedora realizado
e comportamento do empreendedor; e, pela IncubaSOFT, essencialmente
segundo Bygrave et al. (1996), “o baseado em entrevistas, não satisfaz os
ingrediente chave” na consolidação de seus responsáveis. De 15 empresas
um empreendimento é, precisamente, o incubadas, todas com planos de negócios
empreendedor. De acordo com Sexton e à partida promissores, 6 não tiveram
Bowman (1985), para além de serem sucesso (3 não completaram o período de
gestores capazes, os bons incubação de 2 anos e outras 3
empreendedores devem possuir um encerraram após a conclusão da
conjunto de características psicológicas incubação). Para os diretores da
que os diferenciam dos executivos IncubaSOFT, esta elevada taxa de
empresariais. Estudos recentes encontram insucesso resultou da incapacidade
uma relação positiva entre o capital empreendedora dos proprietários, e,
humano dos fundadores e o sucesso da conseqüentemente, a avaliação falhou,
nova empresa (Baptista, Karaöz e por não detectar, a priori, essas
Mendonça, 2007). insuficiências.
As características e as habilidades Frente a esta realidade, emergiu a
empreendedoras têm sido estudadas sob decisão de desenvolver um modelo de
três perspectivas distintas: econômica, avaliação adequado, a ser utilizado, no
comportamental e sociocultural futuro, para avaliar a capacidade
(Guimarães, 2002; Oliveira et al., 2003). empreendedora dos inscritos no programa
A perspectiva econômica vincula o de incubação. Este artigo aborda as fases
empreendedor à característica da principais do processo sócio-técnico
inovação, associando-o ao desenvolvido para construir o modelo,
desenvolvimento econômico e ao descrito em detalhe por Amora Silva
aproveitamento de oportunidades (2003).
(Schumpeter, 1985; Shane, 2000); a
perspectiva comportamental detém-se nas
ENGEVISTA, v. 10, n. 1, p. 4-14, junho 2008 5
2. METODOLOGIA Na perspectiva do
empreendedorismo, o modelo de Filion
O estudo da literatura forneceu o (1991, 1999a, 1999b) foi adotado como
fundamento teórico para a estruturação referencial teórico. Este modelo,
do modelo, revelando que múltiplas apresentado na Figura 1, integra as
perspectivas deveriam ser consideradas. propriedades de modelos sistêmicos de
A adoção de uma metodologia atividades humanas e incorpora quatro
multicritério (Belton e Stewart, 2002) elementos que se influenciam
tornou-se assim clara. E, porque o reciprocamente e funcionam como
modelo a construir deveria refletir, suporte à formação da visão do
essencialmente, a experiência e juízos de empreendedor: Relações,
valor dos agentes de decisão no contexto Wetanschauung, Energia e Liderança. A
específico da IncubaSOFT, palavra alemã Wetanschauung, traduzida
incorporando-os de forma interativa na por Dolabela (1999) para a expressão
construção do modelo, impôs-se o “conceito de si”, designa os valores do
recurso à abordagem MACBETH (Bana e indivíduo, sua forma de ver o mundo, a
Costa et al., 2003 e 2005a). A distinção motivação. Este conceito está quase
fundamental entre MACBETH e outros sempre vinculado a modelos, ou seja, as
métodos multicritério é que este requer pessoas com as quais o indivíduo se
apenas julgamentos qualitativos sobre as identifica. Segundo Dolabela (1999,
diferenças de atratividade entre p.77), as pessoas só realizam algo quando
elementos, para gerar pontuações para as se julgam capazes de fazê-lo, portanto o
opções em cada critério e para ponderar “conceito de si” configura-se como a
os critérios (Bana e Costa e Chagas, principal fonte de criação: “Projetamos o
2004). O processo de construção do futuro com base no que somos. A
modelo envolveu uma componente empresa é a exteriorização da nossa
qualitativa, de caráter exploratório, que personalidade, do que se passa em nosso
visou identificar os fatores essenciais à íntimo (...) nossas características pessoais
avaliação da capacidade empreendedora, irão influenciar a nossa empresa”.
e uma componente quantitativa que visou “Conceito de si” foi utilizado nesta
a definição de um “índice de capacidade perspectiva como critério de avaliação no
empreendedora” (Icape), usando o modelo proposto.
sistema de apoio à decisão M-
MACBETH (Bana e Costa et al., 2005b)
que implementa a metodologia
MACBETH.
Wetanschauung
Visão
Relações Energia
Liderança