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profundidade.
4
Cf. ALVIRA, Tomás; CLAVELL, Luis e MELENDO, Tomás. Metafísica. Pamplona, Espanha: EUNSA, 1986, p.
86.
Adentremos nas demonstrações de Mário Ferreira dos Santos, a
respeito efetibilidade dos seres5.
Aponta-nos o gigante brasileiro (seguindo as teses de Scoto) que o
devir é o campo da sucessão. O que vem-a-ser de uma determinada forma
transita da potência ao ato, de um estado de ser, para outro. Ora, nada passa da
potência ao ato, senão por um ser em ato. Logo, o devir, implica um ser
efetivo (causa), que explica a sua sucessão.
Desta forma, todo ente mutável (efetível) possui um início, caso
contrário viria do nada, ou de si mesmo. De princípio, podemos eliminar o
nada absoluto, pois tal é impotente para causar qualquer coisa, por si também
é um erro, pois nada pode engendrar-se a si mesmo. Logo só nos resta
concluir que, o ser é mutável, é causado por outro, e este outro é efetivo.
5
Cf. SANTOS, Mario Ferreira. Filosofia Concreta. 3. Ed. São Paulo: Logos, 1961, p. 206.
6
Cf. FRANCA, Leonel. O problema de Deus. 2. Ed. Rio de Janeiro: Agir, 1955, 201-202.
7
Cf. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica, Ia parte, Tratado De Deo Uno, q. 2, art. 3.
Contudo, há movimentos nas coisas (trânsitos da potência ao ato).
Logo, a série não pode infinita.
Outra demonstração firma-se no caráter do móvel, pois em cada
movimento, a potência é anterior ao ato, e se a sequência se estendesse ao
infinito, a potência sempre precederia o ato, e nunca o ato seria anterior a
potência. Porém, é necessário que o movimento parta de um ser em ato, como
já foi anteriormente demonstrado, donde se segue que a série não pode
regredir ao infinito.
Poderíamos apontar também que, se fossem em número infinito a série
de movimentos essencialmente subordinados, resultaria consequentemente em
um infinito quantitativo em ato, e neste caso está descartado; pois em um
infinito numérico sempre haverá a aptidão de se acrescentar mais um, e assim
sucessivamente, porém nunca se chegará — a um infinito atual, pois haverá
sempre à potência de acréscimo, e, portanto o infinito quantitativo é somente
aceito em potência, mas nunca em ato, e se é impossível em ato uma série
infinita de movimentos essencialmente subordinados, logo a série é finita, e
exige um primeiro motor8.
Isto posto, finaliza-se a tese, que prova de modo apodítico, a finidade
da série de movimentos essencialmente subordinados.
8
Cf. LAGRANGE, Garrigou. Dieu son existence et sa nature. Solution Thomiste des antinomies
agnostiques. Paris: G. Beauchesne, Éditeur, 1941, p. 244-245.
existência de um Motor sem mistura com potência passiva. Noutras palavras,
um ato puro9.
Logo, se o Primeiro Ser possuísse mistura com potência, teria de
mover-se com a força de um motor que lhe precede, e o primeiro, já não seria
primeiro, e cairíamos no circulo vicioso do infinito, que tornaria impossível o
movimento atual. Donde se segue inescapavelmente a conclusão: o Primeiro
Motor é um ato puro, sem mescla de potência passiva.
9
Cf. GONZÁLEZ, Ángel Luiz. Teología Natural. 6. ed. Barañáin, Navarra: Eunsa, 2008. cap. 3, p. 103.
menos nos excessos do dinamismo‖10. Mas defende a existência dos destes
dois princípios, e, por conseguinte, estabelece entre eles relações
fundamentais que compõe o ser corpóreo, erigindo-se na evidência irrefutável
da potência e do ato, a admissão da matéria-prima e da forma substancial
torna-se inescapável.
Admitindo tais fatos, demonstra-nos o filósofo Mário Ferreira dos
Santos em seu notável livro O homem perante o infinito11 que se matéria é o
Ser Primeiro como querem os materialistas, ela teria de se distinguir em ato e
potência. E como ato, seria puramente ato, sem mescla de potência, e
precederia ontologicamente a parte passiva de seu próprio ser, que é potencial.
Isto aponta-nos novamente que o materialismo não consegue escapar da
antecedência de um primeiro motor imóvel (ato puro) em relação à potência,
do motor ao móvel. À vista disso, o que resta aos materialistas, seria afirmar
que, o que é passivo, é simultaneamente ativo, o que é potência é ao mesmo
tempo e sob o mesmo aspecto ato (que violaria o princípio de não
contradição). Portanto, a matéria seria puramente ato e puramente potência.
Que é absurdo, pois o ato puro repugna à mistura com potência, assim como a
potência pura, não possui nenhuma atualidade.
Assim conclui-se a tese, que comprova de modo necessário, a
antecedência do ato em relação à potência.
10
Cf. HUGON, Édouard. Principios de Filosofía: Las Veinticuatro Tesis Tomistas. Buenos Aires: Ediciones
BAF, p. 37.
11
Cf. SANTOS, Mario Ferreira. O Homem perante o Infinito (Teologia). São Paulo: Logos, 1955, p. 108-
109.
12
Cf. JOLIVET, Régis. Tratado de Filosofia: Metafísica. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Agir, 1965, p. 368-
369.
potência para a perfeição que lhe faltasse, e, portanto não seria ato puro.
Porém o primeiro ser não tem potência, logo possui todas as perfeições em
grau infinito.
13
Cf. FRANCA, Leonel. Op. cit., p. 211.
14
“O ato, sendo perfeição, não é limitado senão pela potência, que é uma capacidade de perfeição.
Portanto, na ordem em que é puro, o ato é necessariamente ilimitado e único; onde ele é finito e
múltiplo, ele entra em verdadeira composição com a potência” (Cf. HUGON, Édouard. Revue thomiste:
questions du temps présent. Nouvelle Série. – 3 e Année. Avril-Juin. 1920, p. 121-122).
15
Cf. AQUINO, Tomás de. Op. cit., I, q. 3, art. 7, resp.
conclusão de que Deus seria causado, já que todo ente composto existe depois
de seus componentes, ao menos ordine naturæ, e deles depende. O primeiro
ser não tem anterior, logo ele não pode ser composto16. Ademais, em todo ente
composto há potência de ser decomposto, o primeiro ser não tem potência,
logo o primeiro ser é simples.
Terceiro, porque todo ente composto é causado, tendo em vista que a
união das coisas que entre si são diversas, só podem formar um todo pela ação
de uma causa extrínseca que as unifique. Isto porque o todo é ato em relação
aos elementos; assim sendo, estes só poderão passar ao ato, ou seja, formar o
todo, pela ação de um ser em ato, isto é, uma causa extrínseca aos elementos
como tais. Pois o que é de si diverso não pode ao mesmo tempo e sob o
mesmo aspecto ser a razão da unidade (do contrário ter-se-á dois absurdos: a
admissão de uma causa sui ou o apelo ao nada)17.
16
Cf. GONZÁLEZ, Ángel Luiz. Teología Natural. 6. ed. Barañáin, Navarra: Eunsa, 2008. cap. 3, p. 163.
17
Cf. AQUINO, Tomás de. Op. cit., loc. cit.
18
Ibid., I, q. 11, art. 3, resp.
19
Ibid., I, q. 10, art. 2, resp.
Podemos iniciar a explicação desta tese, com o belo axioma de Duns
Scot, em seu ilustre – Tratado do Primeiro Principio, onde o filósofo
franciscano afirma brilhantemente que: ―O que é intrinsecamente necessário é
por natureza anterior ao que não o é‖20. Pois é próprio do ente contingente, o
devir, e este devir se efetua por outro ser que o antecede ontologicamente. E
como já ensinava São Tomás: tudo o que pode ser ou não ser, com certeza, um
dia não foi. De modo que, todo contingente tem potência para o não ser, e se
tem potência para o não ser, sua razão de existência se deu por um ser
anterior. Contudo não pode existir um regresso infinito de seres engendrados,
portanto, deve haver um Ser cuja existência implique a impossibilidade de não
ser, isto é, um Ser Necessário e propriamente subsistente.
20
Cf. SCOT, Duns. Tratado do Primeiro Princípio. São Paulo: É Realizações, 2015, cap. 4, conclusão
oitava.
“Foi também acima afirmado que Deus é ato puro, sem mistura
alguma de potência. A matéria-prima sendo ser em potência, convém que
Deus seja totalmente carecente dela. Ora, a imunidade de matéria-prima é a
causa da intelecção, pois as formas materiais fazem-se inteligíveis em ato, na
medida em que são abstraídas da matéria-prima e das condições materiais.
Logo, Deus é um ser inteligente”21.
21
Id., Compendium Thelogiae, Capítulo XXVII.