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Faculdade de Educação
POR
Monografia apresentada à
Faculdade de Educação da
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro como exigência à
obtenção do grau de licenciatura
plena em Pedagogia.
RIO DE JANEIRO
2003
1
Dedico este trabalho à
minha amada mãe, Marluce,
pessoa maravilhosa que amo
muito e admiro, meu pilar inicial.
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Resumo
3
Sumário
Página
Introdução...............................................................................................................6
1) A historia de Anita.............................................................................................8
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2.2.3) A família e a escola.....................................................................................26
Conclusões finais................................................................................................40
Referências bibliográficas..................................................................................41
Anexo 1.................................................................................................................43
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Introdução
No campo educacional e escolar esta busca se torna cada dia mais urgente
devido aos grandes níveis de fracassos e evasões escolares.
6
O capítulo 2 busca identificar a influência que as instituições primeiras
exercem na formação do sentimento valorativo particular de cada um.
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Capitulo 1
Mesmo sendo analfabeto João se envolveu com a política local e logo sua
filha mais velha, Ângela, começou a secretariar para deputados e senadores, em
seguida João também era assessor. Ângela e João já passavam tanto tempo em
Brasília que logo a família toda estava morando lá. A família começou a prosperar
rapidamente. Banquetes e festas fartas eram comuns e muito freqüentes.
1
A mãe de Anita tinha envolvimento com o candomblé e ocultismo, não houve autorização para registro dos
fatos ocorridos. Anita quando criança foi católica, depois testemunha de Jeová e hoje se diz afastada da
religião.
8
apenas seis filhos continuam em casa, os outros, todos homens, já estavam
trabalhando no Rio de Janeiro, já eram maiores.
Anita sempre foi uma criança quieta, simpática e falava pouco, gostava de
estudar, se adaptou rápido à nova escola no Rio. Era um pouco atrapalhada,
sempre perdia tudo. Durante as séries iniciais nunca demonstrou problema de
aprendizagem e passava com grande facilidade. Ao chegar na 4º série do ensino
fundamental, Anita começou a ter sérios problemas para aprender matemática.
Não contou a ninguém sua enorme dificuldade com problemas matemáticos e
cada vez mais sentava no fundo da sala de aula.
Anita tinha notas muito boas em português, ciências, e tudo que não
envolvesse cálculos. Em matemática Anita sempre passou com um mínimo.
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Na 5º e 6º série, a coisa começou a ficar insustentável, pois as
disciplinas eram separadas e a matemática cada vez mais abstrata.
“não sei o que essa menina tem. Ela arruma briga com todo mundo...é só
olhar torto pra ela ou falar diferente que ela já acha que a pessoa está tirando
onda da cara dela...” ( Conceição, mãe de Anita, em entrevista no final de
dezembro de 2003)
“... ela acha que todo mundo tá contra ela... distorce tudo. Não tem mais
nenhuma amiga. Ninguém quer dar emprego”.(Lúcia, irmã de Anita).
Durante todos esses anos Anita tentou voltar a estudar, algumas vezes até
fez a matrícula, mas não conseguia entrar em uma sala de aula.
Aos 20 anos ficou grávida. O rapaz preferia o aborto, mas Anita teve a
criança e suas dificuldades financeiras aumentaram infinitamente. Devido à baixa
escolaridade, dificuldade no entendimento de formulários e uma imagem de
encrenqueira e brigona, Anita não conseguia arrumar emprego estáveis e vivia da
ajuda da mãe e de raros amigos.
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“Porque tem gente que não consegue aprender?... porque eu sou mais
burra que os outros?... meu filho disse uma vez que não quer ser igual a mim,
prefere ser como a Márcia que sabe falar...?” (Anita, durante a entrevista com
Ricardo) obs. (Márcia é uma amiga da família e universitária)
2
Associação Brasileira de Dislexia Foi fundada em 1983 eé reconhecida como uma Coligada (Affiliate) da
IDA - International Dyslexia Association. Tem por objetivo, atender e orientar a todas as pessoas
interessadas em distúrbios de aprendizagem, mais especificamente quanto à dislexia
3
psicopedagoga clínica Tânia Maria de Campos Freitas, Diretora científica da Associação Brasileira de
Dislexia (ABD).
4
Dislexia é uma alteração nos neurotransmissores cerebrais que impede uma criança de ler e compreender
com a mesma facilidade com que o fazem as crianças da mesma faixa etária, independente de qualquer causa
intelectual, cultural ou emocional. O termo dislexia é uma expressão latina para 'dificuldade com palavras'.
11
O comportamento e a própria conceituação do eu e do símbolo significante
se vêem comprometidas diretamente com os mecanismos e processos de
aprendizagem. Este comprometimento se dá à medida que o ser humano, com
sua capacidade inerente de aprender, aprende por vias que vão depender da
recepção dos estímulos, da normalidade da percepção e do processo cerebral
que seleciona e interpreta as informações.
5
PIOTELLI, A,1995. De Feto a Criança: um estudo observacional e psicanalítico - Rio de Janeiro: Imago.
12
1.2.1) Abordagem pela vertente: aprendizagem e desenvolvimento
6
Vigotski, A formação social da mente, p.117.
7
Piaget, Linguagem e pensamento.
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universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente
organizadas e especificamente humanas...” ( A formação social da mente,
1998,p.118).
14
1.2.3) Condições mínimas para aprender: é preciso integridade!
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Professor Catedrático no Departamento de Educação Especial e Reabilitação da Faculdade de Motricidade
Humana da Universidade Técnica de Lisboa. Regente das seguintes disciplinas da Licenciatura e do
Mestrado: Perturbações do Desenvolvimento, Psicomotricidade e Dificuldades de Aprendizagem. Doutorado
(pH. D.) em Educação Especial e Reabilitação. 17 Livros Publicados (12 tambem editados no estrangeiro): 1
em Inglaterra, 1 na Alemanha, 4 na Espanha e 6 no Brasil. Ver anexo I.
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primeiros anos de vida e são essenciais na formulação da afetividade como
também nos processos cognitivos.
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nervos (conjunto de neurônios) podem ser divididos em nervos que levam
informação para o SNC e nervos que levam informação do SNC. Os primeiros são
chamados fibras aferentes e os últimos de fibras eferentes. As fibras aferentes
enviam sinais dos receptores (células que respondem ao estímulo sensorial nos
olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, articulações) para o SNC. As fibras
eferentes enviam sinais do SNC para o corpo.
17
“A aprendizagem é o resultado da integração e transformação de uma informação
que interfere naturalmente com o desenvolvimento normal e com a maturação
neurobiológica do indivíduo.”(FONSECA, p.246)
18
Os problemas de aprendizagem que envolve destruição física de
partes do cérebro, geralmente são irreversíveis devido à natureza de não-
renovação do tecido neurais.
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disfunção, não consegue selecionar estímulos relevantes de irrelevantes e se
mostra confusa diante de muitos estímulos. Dessa forma por não conseguir se
fixar num estímulo por tempo suficiente para identificação e seleção, o processo
de retenção não acontece, impossibilitando a memorização da informação. A
memória faz o reconhecimento e a rechamada do que foi aprendido e através da
função de compreensão possibilita a formulação de idéias e as articulações
necessárias para as funções cognitivas. Sem memória todo processo de
aprendizado fica inviável. Uma criança com desordem nas funções relacionadas
com a memória apresenta grande dificuldade para memorizar seqüências,
códigos, sistemas silábicos.
9
Bannatyne, 1974.
20
“Para a percepção se dar é necessário que se opere uma estimulação sensorial,e,
dentro dela, há que contar com o tipo de modalidade sensorial que está em causa,
a natureza, as características da situação e da sua proximidade, nível de
desenvolvimento sensorial,...só depois da observância dessas condições se pode
analisar a percepção...”( FONSECA, p.255).
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É interessante lembrar que mesmo estando os fatores de integridade da
percepção ligados imediatamente aos aspectos sensoriais, principalmente visão e
audição, as pessoas que apresentam a percepção alterada geralmente
apresentam visão e audição normais, visto que, não são problemas físicos que
causam as alterações e sim características genéticas que interferem na
estruturação e ordenação das aquisições básicas do processo de percepção.
“A instabilidade emocional é uma das características que tem sido mais referida
nas crianças com dificuldade de aprendizagem. Hipersensíveis e vulneráveis, que
ao” riso constrangido “, quer ao” choro exagerado”, essas crianças tendem a
evidenciar rápidas e imprevisíveis mudanças de humor e de temperamento que se
refletem em problemas perceptivos e em problemas motores.” (FONSECA, p.265)
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influenciar diretamente na formação da auto-imagem provocando depressão,
sentimento de inferioridade e baixo-estima.
A aprendizagem vai atuar de forma direta na postura que o indivíduo vai ter
diante do mundo.
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Capítulo 2
2) Formação da auto-estima
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2.2) Como se forma a auto-estima?
10
Burns, R.B. (1986). The Self-Concept (4rd ed.). London: Longman.
11
Vaz Serra, A. (1986). A importância do auto-conceito. Psiquiatria Clínica.
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“infância” é bem recente e foi possível pela demanda de modificações
econômicas e políticas da sociedade. O sentimento e a valorização da infância é
decisivo na formação do auto-conceito que a criança estrutura e estabelece como
o real.
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Philippe Ariés12 em suas pesquisas escreveu sobre a evolução do sentimento de
família nas sociedades inglesas no século XV13.
“... a criança desde muito cedo escapava à sua própria família (...) A família não
podia, portanto, alimentar um sentimento existencial profundo entre pais e
filhos.(...)A família era uma realidade moral e social,mais do que sentimental(...) A
partir do século xv, as realidades e os sentimentos da família se
transformariam(...) Essa evolução correspondeu a uma necessidade nova de rigor
moral da parte dos educadores, a uma preocupação de isolar a juventude do
mundo sujo dos adultos para mantê-la na inocência primitiva, a um desejo de
treiná-la para melhor resistir às tentações dos adultos.”(Áries,p.231 e 232).
12
Nasceu em 1914. Após seus estudos da história na Sorbonne, tornou-se especialista em técnicas de
informação sobre agricultura tropical, o que não o impediu de escrever uma obra de história e de ser
considerado entre os melhores do gênero.
13
A sociedade inglesa foi uma das primeiras a se organizar e possibilitar modelos à serem imitados por todo
mundo.
14
Nilo Fichtner, Psiquiatra, colaborador no livro: psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e
atuação profissional.
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frustrações e problemas de descontroles emocionais freqüentes. Da mesma
forma, Fichtner fala que as famílias rígidas e perfeccionistas com alta expectativa
em relação aos rendimentos e aproveitamentos de seus filhos provocam grande
ansiedade e diminuição do rendimento escolar, desencadeando fracassos,
frustrações e totais desajustes sociais, familiares e escolares.(Fichtner,2000)
15
Edward J. Murray é professor de psicologia e autor do livro: Motivação e Emoção.
16
BRIGGS, Dorothy Corkille A auto-estima do seu filho, Martins Fontes, 2000.
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negativas possuem um grande peso afetivo com poder altamente destrutivo na
auto-estima.
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2.3) Abordagem rápida sobre a química da auto-estima
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SHAPIRO, David,1965, Neurotic Styles. Teórico sobre o transtorno obsessivo compulsivo.
18
Ver cap.I Abordagem sobre o sistema nervoso central.
19
O estudo foi apresentado numa conferência em Londres e publicado pela BBC Brasil em novembro de
2003. O mundo científico ainda não se declarou sobre o estudo que provocou grande rebuliço ao meio
acadêmico.
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Doutora Snia Lupier, diretora associada da clinica Reseach. Mcgrill Center for studies in Aging. Tel: 514-
761-6131(Canadá). E-mail: lupson@douglas.mcgill.ca.
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Capítulo 3
“Com eles aprendi o diálogo que procuro manter com o mundo, com os homens,
com Deus, com minha mulher, com meus filhos”.(Freire, 1996, p.13)
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3.1) Freire e seu trabalho inovador
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3.1.1) Etapas do método de Paulo Freire
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uma situação existencial construída pelos educandos em interação com seus
elementos.
2) Elas devem ter um teor pragmático, ou melhor, as palavras devem abrigar uma
pluralidade de engajamento numa dada realidade social, cultural, política etc...
3) Elas devem ser selecionadas de maneira que sua seqüência englobe todos os
fonemas da língua, para que com seu estudo sejam trabalhadas todas as
dificuldades fonéticas.
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4ª etapa: Elaboração de fichas-roteiro que auxiliem os coordenadores de
debate no seu trabalho. Essas fichas deverão servir somente como suporte sem
obrigação do uso rígido.
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fragmentados, partindo primeiro das partes para a idéia geral, todos os alunos
que apresentares desordens nos canais aferentes perceptivos não vão conseguir
organizar a informação e transcender a verdadeira significação esperada pelo
professor.
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nos processos do aprender, à medida que o aprender consiste no entendimento
de situações significantes.
“... por outra parte, aqueles que são servidos pela situação-limite atual vêem o
possível não experimentado como uma situação limite ameaçadora, que deve ser
impedida de realizar-se e atuar para manter o” status quo”. Conseqüentemente as
ações libertadoras, num certo meio histórico, devem corresponder não somente
aos temas geradores como ao modo de se perceber estes temas. Estas
exigências implica em outra: a procura de temáticas
significativas.”(FREIRE,1980,p.30)
Paulo Freire trabalhava nos círculos de culturas com slides, gravuras, enfim
materiais audiovisuais a fim de proporcionar uma melhor percepção visual e
auditiva dos temas propostos. Freire foi um dos pioneiros na utilização da
linguagem multimídia na alfabetização de adultos.
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sobre a ideologia educacional perversa que através dos materiais didáticos e
sistemas regulares de ensino alimentam o sentimento de inferioridade intelectual
da grande maioria da população não privilegiada pelo poder.
“A asa é da ave.
Eva viu a uva.
O galo canta.
O cachorro ladra.
Maria gosta dos animais.
João cuida das árvores.
O pai de Carlinhos se chama Antônio.
Carlinhos é um menino bom, bem comportado e estudioso.
Se você trabalha com martelo e prego, tenha cuidado para não furar o dedo.
Pedro não sabia ler vivia envergonhada. Um dia, Pedro foi à escola e se
matriculou num curso noturno. A professora de Pedro era muito boa. Pedro agora
já sabe ler, por isso, está feliz. Vejam a cara de Pedro. Pedro está sorrindo.
Já tem um bom emprego. Todos devem seguir o seu exemplo”.
(FREIRE, 1978, p.45)
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O alfabetizador, muitas vezes de forma inconsciente, assume a postura
imposta do material didático e acaba reproduzindo uma ideologia que considera o
alfabetizando um vazio, onde seus valores, sentimentos e emoções não são mais
relevantes que as relações propostas pelas cartilhas.
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Conclusões finais:
E ainda, este trabalho mostrou que o método que Freire elaborou para
alfabetizar é favorável à aprendizagem e a auto-estima por fazer do educando o
sujeito do processo de aprendizagem e também o principal agente transformador
de seus próprios sentimentos valorativos.
Mas será que o professor tem consciência plena que sua interferência pode
mudar definitivamente a vida de seus alunos?
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Referencias bibliográficas
- BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Método Paulo Freire. 18º ed. SãoPaulo:
Brasiliense, 1981.
- FREIRE, Paulo. Ação cultural para a Liberdade.(e outros escritos). 3º ed. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
41
- FREUD, S. Os caminhos da formação dos sintomas. 1986. ( trabalho original
apresentado em 1917 na 23º conferência de introdução a psicanálise)
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Anexo 1
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Notícias, Lisboa, 1988 <338 págs.> (editado em Espanha e no Brasil);
- "Escola, escola quem és tu?: perspectivas psicomotoras do desenvolvimento
humano" - Ed. Notícias, 4ª edição, Lisboa 1988 <376 págs.> (editado no Brasil);
- "Psicomotricidade: contributo para o estudo da sua génese" - Ed. Notícias, 4ª
edição, Lisboa, 1988 <352 págs.> (editado no Brasil e na Espanha);
- "Uma Introdução às Dificuldades de Aprendizagem" - Ed. Notícias, 2ª edição, Lisboa,
1984 <407 págs.> (editado em Espanha e no Brasil);
- "Special Education and Social Handicap" - colaborador com o capítulo: - - - "Learning
and Developmental Disabilities" - Ed. Freund Publishing House Ltde., London, 1983 (pág.
323-328);
- "Diagnóstico Informal da Leitura - DILE" - Ed. CDI do IAACF, Lisboa, 1978 <34
págs.>;
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