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ORIGEM E ETIMOLOGIA DA PALAVRA ALUNO
Professor Dr. Oscar Luiz Brisolara
Um estudo etimológico apressado levou alguns estudiosos a uma leitura
histórica da palavra aluno um tanto equivocada. Todo filólogo e todo o estudioso da
linguagem sabe que há inúmeros termos cujo percurso etimológico se perde num
emaranhado de radicais, prefixos e sufixos foneticamente assemelhados.
Porém, ocorre que muitas vezes esses étimos se revestem de histórias e
percursos significativos diferentes. É o que ocorre com o da palavra aluno.
Alguns estudiosos tomaram o termo latino “lumen”, nominativo, e seu genitivo
“luminis”, cujo significado original é luz e adicionaram-lhe o prefixo “a”, que “pode” ter o
sentido de negação, ausência. Chegaram, a partir daí, à conclusão de que o termo
aluno, historicamente, seria desprovido de luz, aquele que deve ser iluminado.
Acontece que as palavras são sempre polissêmicas e a etimologia sempre
pode ser outra. Partindo do significado da palavra latina “alumnus, i” nos dicionários
latinos: “1. criança de peito; pupilo; discípulo. 2. Escravo nascido na casa; criança
exposta que se tornava escrava daqueles que a recolhiam e alimentavam.”[1], chega-
se a um resultado diferente.
A definição de dicionário acima leva-nos a concluir que, já entre os romanos,
o termo ligava-se ao processo de alimentação. Por sua vez, o termo “alumnus”, no
interior da própria lingua latina, deriva do verbo latino “alo, alis, alui, altŭm, alĕre”,
que significa alimentar, sustentar, nutrir, fazer crescer.
Assim, aluno, carinhosamente, é um lactente intelectual. Nas sociedades
primitivas, a educação era função apenas familiar associada à própria nutrição.
Gradativamente, com o surgimento da educação feita por mestres especializados e,
muito depois com a educação coletiva, o termo foi assimilado outras significações.
Esse milenar percurso partiu de um nome, cujo significado primeiro era
eminentemente físico e biológico, para, através de um processo típico da mente
humana, engendrar uma nova esfera, que agrega novas dimensões, ligadas a novos
sistemas de cultura e filosofia.
Assim, de um significado apenas fisiológico, trófico, alimentar o termo foi
agregando outras significações cada vez mais intelectivas e racionais. Entretanto,
esse novo ser, que gradativamente, nutrindo o corpo, desenvolvia a intelectualidade,
passou a valorizar muito mais a razão e o raciocínio, deixando o físico e fisiológico em
um plano inferior.
A existência do “alumnus” nessa nova dimensão conduziu o raciocínio a uma
nova realidade: a educação. Esse sistema que valoriza muito mais o processo de
formação humana, num eterno devir, em contraposição ao absolutamente físico,
estabelece uma distância abissal que separa o simples lactente do aluno na nova
perspectiva. Desse modo, o novo processo: a educação, passou a exercer sua
dinâmica transformadora no próprio termo aluno.
Ele não é apenas um adestrando, um aprendiz no sentido simplesmente
profissional, mais que isso, é um discente. De “discere”, aprender em latim, que na
moderna filosofia da educação significa aquele que constrói o próprio saber e
estabelece o significado sempre novo de seu próprio estar no mundo, forma-se o
termo discente, novo étimo para definir aluno.
Seguramente, com as sucessivas reformulações dos conceitos e das novas
concepções do homem de si mesmo e de seu estar no universo, o termo vai
acompanhar essa perene caminhada polissêmica em que nada mais será o que foi.
Desse modo, entendendo o processo etimológico em que grande parte das
palavras na língua latina foram formadas por aglutinação de prefixos e sufixos (afixos)
a um radical (raiz), podem-se estabelecer outros laços que a lógica permite, mas que a
história e a cultura não confirmam.
A partir de um certo modo de olhar o mundo e os sentidos, pode-se, em
latim, adicionar o prefixo “a” que indica ‘movimento para’, ‘aproximação’, ‘na
direção de’ como acontece em abordar, apurar, arribar, arraigar, associar, assimilar e
tantíssimas outras, ao substantivo também latino “lumen, luminis”.
Segundo essa proposição eminentemente latina, o percurso etimológico
deveria ser outro. Empregando o prefixo ‘a’ no sentido de ‘movimento para’,
‘aproximação’, ‘na direção de’, adicionado ao termo latino “lumen, luminis”, ou seja,
luz, poder-se-ia chegar ao sentido de “aquele que vai em direção da luz”.
Entendendo metaforicamente luz como conhecimento, saber, orientação, engendrar-
se-ia um novo processo significativo, cujo resultado seria a compreensão do termo
aluno como representação daquele que vai ao encontro do conhecimento, de um
saber, de uma formação.
Por outro lado, no entanto, conforme diversos estudos filológicos, não foi esse
o percurso semântico que o vocábulo fez desde a origem até a contemporaneidade.
Como se viu, o termo já existia em latim e seu significado relacionava-se com a
conceito de nutrir, alimentar, conforme a explanação anterior.
Também o prefixo 'a', de origem grega, que pode significar negação, privação,
ausência pode gerar a leitura primeira de desprovido de luz, que deve ser iluminado,
proposta pelos intérpretes que criticamos.
Pelas razões apresentadas, parece-nos mais autêntica a vinculação do
termo aluno ao processo nutricional da criança, percorrendo depois a senda
racional que conduz ao entendimento que ora se tem de educação,
Corrobora com nosso posicionamento o antropólogo latino Plínio, o Velho, em sua
“Naturalis Historiae”, quando emprega o temo “alumnus” no sentido de discípulo. O
mesmo acontece com inúmeros outros escritores latinos dos primórdios da civilização
romana.
Essa me parece ser a mais autêntica vertente de onde o termo se originou. O percurso
de sentido que originou os significados possíveis de hoje seguirá constantemente seu
caminho de revisão e renovação pelos venturos séculos sem conta.
[1] Torrinha, Francisco. “Dicionário Latino-Português”. Porto: Edições
Maranus, 1937

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