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The Amateurs Series

Livro 1

SARA SHEPARD
Sinopse
Assim que Seneca Frazier vê o post no site Casos Arquivados sobre Helena Kelly,
ela fica viciada. O desaparecimento de alto nível de Helena cinco anos antes é o que
originalmente deixou Seneca viciada em crimes de verdade. É a razão pela qual ela
é um membro do site em primeiro lugar. Então, quando Maddy Wright, sua melhor
amiga do site dos CA, convida Seneca a passar as férias da primavera em Connecticut
analizando casos arquivados, ela imediatamente faz as malas.
Mas no momento em que ela sai do trem badalado e glamouroso de Dexby, as
coisas começam a dar errado. Maddy não é nada como ela esperava e a irmã de
Helena, Aerin Kelly, parece completamente hostil e totalmente desinteressada em
ajudar com sua investigação de assassinato. Mas quando Brett, outro super usuário
do site, se junta a Seneca e Maddy em Dexby, Aerin começa a se juntar a eles. A
polícia deve ter perdido algo e alguém em Dexby tem definitivamente a informação
que estiveram mantendo em segredo.
Enquanto Seneca, Brett, Maddy e Aerin começam a desvendar os segredos
obscuros e traições chocantes sobre as pessoas mais próximas a eles, eles parecem estar
na trilha do assassino, finalmente.
Mas em algum lugar perto o assassino está observando... pronto para fazer o
que for preciso para se certificar de que a verdade permaneça enterrada.
Antes

A neve caiu por toda a noite, transformando o mundo pela


manhã. Era neve de cristal, neve mágica, criando uma manta
perfeita e uniforme que ocultava tudo embaixo.
Aerin Kelly, de onze anos, subiu pelo pátio traseiro de três camadas,
com as botas afundando na neve espumante. Ela caiu para a frente e riu,
rolando em suas costas e olhando para o céu branco. Uma figura apareceu
sobre ela. Era sua irmã de dezessete anos, Helena, usando um sobretudo
branco, com um colar bege, botas cor de pele e um chapéu fedora
marrom. Seus olhos pareciam azuis. Seu cabelo loiro platinado recém
cortado emoldurava seu rosto. Helena parecia mais bonita do que nunca
naquele dia, Aerin pensou mais tarde.
Aerin se levantou de um salto quando Helena inclinou o rosto para
cima.
— Não é engraçado como a neve tem um cheiro? — Helena meditou.
— Acho que devemos pegar mais — disse Aerin ansiosamente.
Helena apertou a bota de pele contra a neve.
— Está com o seu telefone? Posso verificar o Weather.com?
— Você está sempre perdendo o seu — disse Aerin, com bom
humor, atirando seu iPhone, que ela convenceu a mãe a comprar no verão
passado, para sua irmã.
Helena pegou-o entre as luvas de couro vermelho, ligou e clicou na
tela.
— Seis graus mais frio hoje. — Ela sorriu — Nós realmente
deveríamos fazer o nosso boneco inaugural amanhã, mas eu aposto que
você estará nas pistas o dia todo. Está à fim disso agora?
— Com certeza.
As meninas caminharam em direção ao meio de sua vasta propriedade
de seis acres, onde haviam construído o primeiro boneco de neve de cada
estação desde que eram pequenas. Helena começou a rolar como uma bola
de neve, seu chapéu inclinando em direção aos seus olhos.
— Eu acho que este ano deveríamos fazer uma mulher de neve —
Helena decidiu. — Com peitos grandes.
— E uma bunda de havaiana — acrescentou Aerin, ainda ofegante.
Helena sorriu maliciosamente. — E talvez uma vagina. Fazê-la
totalmente e anatomicamente correta.
Aerin riu. Mas o que ela realmente queria fazer era jogar os braços ao
redor de sua irmã. Helena menosprezava isso, mas era estranho elas
estarem juntas novamente. Rindo.
Houve um tempo em que Helena e Aerin haviam sido
inseparáveis. Elas faziam tendas de cobertores e contavam histórias de
fantasmas. Elas imaginavam uniformes novos e melhores para usar na
Windemere-Carruthers, a escola privada que frequentavam em Dexby,
Connecticut. Elas inventavam novos sabores de sorvete como morango
jalapeño para sua mãe fazer em sua máquina de sorvete, ambas admitindo
que jamais experimentariam aquela loucura.
No início do verão passado, no entanto, Helena tinha... mudado. Ela
tinha estado se escondendo em seu quarto, cortou seus longos cabelos e
deixou de falar com a família, incluindo Aerin. Ela é uma adolescente, sua
mãe dizia para Aerin distraidamente. Ela está tendo seu primeiro
namorado. Precisa de espaço para se descobrir.
Mas Aerin a necessitava mais do que nunca. Seus pais, que sempre
pareciam tão apaixonados, agora brigavam sem parar. Aerin sabia que
Helena escutava as brigas através de suas paredes finas do quarto, também,
mas sempre que Aerin tentava falar com ela sobre isso, Helena mudava de
assunto.
Mas agora, Helena estava juntando neve para construir o tronco,
sorrindo como se as coisas fossem totalmente normais. Ela até mesmo
começou a tagarelar sobre como Aerin deveria se unir a equipe de esqui
junior — ela era tão talentosa.
De repente, Aerin soltou:
— Posso concluir que Kevin não queria fazer um boneco de neve?
Helena parou e olhou para ela. — Eu não perguntei a ele.
— Vocês, tipo, fazem isso? — Aerin perguntou rapidamente.
Helena franziu a testa.
— Fazemos o quê?
Aerin quis perguntar algo que a fizesse parecer mais velha, como uma
garota que sua irmã gostaria de estar. Agora, Helena provavelmente
entraria e fecharia a porta do quarto mais uma vez, e isso seria tudo.
Em vez disso, Helena agarrou o ombro de Aerin, da mesma maneira
que costumava fazer quando Aerin pulava para fora da água depois de
chegar por último. O gesto era tão terno e familiar que Aerin sentiu as
lágrimas.
— É só que eu sinto sua falta.
Helena a apertou com força.
— Nós nos falaremos mais. Mas... algumas coisas terão que ser em
segredo.
Aerin piscou.
— Hã?
— Como em nossos telefones.
— Tipo... mensagens de textos?
Helena olhou para ela como se quisesse dizer algo mais, mas depois
inclinou a cabeça em direção ao bosque, como se tivesse ouvido alguma
coisa. Aerin seguiu seu olhar, mas só viu as mesmas árvores que estavam
sempre lá. Quando ela olhou para Helena de novo, sua irmã estava
pegando uma bola de neve e esmagando-a na cabeça de Aerin. Aerin
gritou.
— Vamos encontrar varas para os braços dela — Helena disse. — Eu
estou com o traseiro congelando.
Elas construíram a cabeça e moldaram o cabelo. Conversaram sobre
comprar um novo cachorro. Aerin votou por um dourado; ela pensou que
poderiam nomeá-lo de Cap’n Crunch.
— É um bom nome — disse Helena suavemente.
Aerin olhou para cima, ainda mais intrigada. Era um nome idiota, e
ambas sabiam disso. Por que Helena estava sendo tão boazinha? Aerin
sentiu-se preocupada. E se ela soubesse algo sobre seus pais que Aerin não
sabia — e se eles estivessem se divorciando? Aerin não tinha certeza se
estava pronta para aquela conversa.
Mas Helena não disse nada sobre isso, e então a boneca de neve estava
pronta. Ambas as garotas terminaram de fazer os pés. Aerin sorriu para o
trabalho.
— Ela é nossa melhor obra.
Quando olhou para Helena, a cabeça de sua irmã estava virada para o
bosque.
— Totalmente — ela disse suavemente.
Por um momento, pareceu que ela iria chorar, mas então ela se
concentrou na mulher de neve e sorriu alegremente.
— Ela precisa de mais alguma coisa, não acha?
— Como o quê?
— Como... — Helena pôs a mão na boca. — Uma bolsa,
talvez. Encontrei uma de vinil marrom na Goodwill há alguns dias
atrás. Está na minha cama. Você pode ir pegá-la?
Aerin tinha certeza de que a tinha ouvido mal. O quarto de Helena
estava fora dos limites. Talvez isso fosse algum tipo de teste?
— O... ok.
Aerin cruzou o quintal de volta para a casa, subiu os três pisos do
pátio, abriu a porta deslizante, atravessou a acolchoada sala de estar,
deixando trilhas molhadas sobre o tapete feito-a-mão. A casa estava calma,
seus pais estavam ausentes. Ela sorriu para seu reflexo no espelho do
corredor gigante. Ela tinha o mesmo cabelo loiro de Helena, mas seus
traços eram mais confusos, seus ombros mais masculinos. Ainda assim,
ficava claro que eram irmãs.
Talvez elas fossem pedir uma pizza mais tarde. Talvez Helena a levaria
para algum lugar em seu VW Bug. Talvez elas fossem descobrir alguma
maneira de fazer com que seus pais parassem de discutir.
A porta do quarto de Helena estava fechada. Aerin virou a
maçaneta. Dentro, cheirava a óleo de patchouli e jasmin — aromas
inebriantes que pareciam misteriosos e adultos. Ela examinou uma mesa
cheia de arte com suprimentos, cartazes de bandas que Aerin nunca tinha
ouvido falar, um iPhone em um travesseiro em forma de coração na cama
e a bolsa de vinil marrom. As portas do armário de Helena estavam abertas,
revelando as roupas extravagantes que ela tinha usado ultimamente —
penas e seda, babados e franjas. O olhar de Aerin se moveu para a
cômoda. Um origami em forma de pássaro, dobrado com papel vermelho
liso, estava ali como uma sentinela.
Um arrepio percorreu seu corpo. Parecia estar olhando para ela.
Ela caminhou mais perto, tocou sua asa. Um caderno com capa de
pano estava ao lado dele. Aerin levantou a capa e olhou para o nome de sua
irmã escrito na primeira página em sua letra rabiscada.
Aerin escutou um rangido e enrijeceu. Ela pegou a bolsa da cama de
Helena, a pôs ao redor do seu cotovelo, e correu para o corredor. A
cozinha gigante ainda estava vazia. Ela olhou para o quintal.
Helena tinha ido embora. A mulher de neve estava de pé, com os
braços postos, no meio do quintal.
— Helena? — Aerin gritou, dando alguns passos para o pátio.
Um pássaro alçou voo de um ramo alto. Ainda havia vento.
— Helena? — Aerin berrou de novo, descendo os degraus. — Onde
você está?
Sua voz ecoou na quietude. Seu coração disparou. Ela fugiu porque eu
estava espiando.
Ela correu para a frente. O carro de Helena estava parado na
entrada. Ninguém estava no lugar do motorista. Logo depois Aerin viu o
telefone de Helena, ainda dentro da casa. Sua irmã nunca partiria sem ele.
Algo cintilou na linha das árvores e Aerin virou-se.
— Helena?
Então ela notou algo na neve. Os ramos dos arbustos que alinhavam a
parte de trás da propriedade pareciam estar manchados com sangue contra
o chão branco. Em meio aquilo, Aerin conseguiu ver as luvas de couro que
Helena estava usando, na neve ao lado deles, com as palmas para cima.
Aerin correu em direção às luvas, seu coração batendo forte.
— Helena? — ela gritou. — Helena!
Helena nunca mais responderia.
Cinco anos e quatro meses depois...
“BEM-VINDO À COMUNIDADE CASOS ARQUIVADOS,
A COMUNIDADE #1 DA WEB DE CASOS NÃO RESOLVIDOS”

CAIXA DE MENSAGENS

PASTA: PROCESSOS EM ANDAMENTO

NOVA LINHA TÍTULO: HELENA KELLY, Dexby, CT

Mensagens: (1) 14 de Abril, 21:02

AKellyReal: Eu preciso de algumas respostas sobre minha irmã. Me


ajudem...
Capítulo 1
Traduzido por Ann

N a noite de quinta-feira, pouco antes da escola fechar para as


férias de primavera, Seneca Frazier sentou de pernas cruzadas
em sua cama em seu pequeno dormitório na Universidade de Maryland. Já
passava das 23:00 horas e o dormitório estava tranquilo porque todo
mundo tinha saído para festas das fraternidades ou para casas
noturnas. Tove Lo cantava através dos alto-falantes de seu laptop. Caixas
embaladas estavam espalhadas ao redor de sua cama. Ela tinha desligado a
luz do alto e o brilho de seu computador transformou sua pele morena em
uma pele cor de ouro. Ainda sentia o cheiro de perfume que sua colega de
quarto, Eve, tinha pulverizado sobre si antes de sair, o que havia causado
seus espirros, e mechas de seu rabo de cavalo continuavam caindo e
fazendo cócegas em suas bochechas. Mas quando viu a postagem que
Maddy tinha acabado de escrever no bate-papo sobre Casos Arquivados,
um fórum de resolução de crimes misteriosos do qual Seneca era um pouco
viciada, aqueles pequenos incômodos passaram. Seu olhar penetrou nas
palavras na tela.

MBM0815: Você conhece este caso?

Abaixo havia uma captura de tela de uma postagem escrita horas antes
por alguém chamada AKellyReal. O estômago de Seneca revirou diante do
nome no título do tópico: Helena Kelly. Sim, Maddy. Tenho todos os detalhes
desse caso memorizado.
Mas ela não podia dizer isso a Maddy. Ela mexeu os dedos sobre o
teclado.

TheMighty: Menina rica desaparecida há cinco anos atrás? Corpo


encontrado em um parque?
MBM0815: Sim. Aconteceu na cidade vizinha à minha. Estou
pensando em investigar isto.

Seneca puxou o cachecol de malha grossa em volta do pescoço e olhou


novamente para a captura de tela.
Seria aquele usuário AKellyReal, Aerin Kelly, irmã de Helena? Como
Aerin tinha ouvido falar sobre o fórum de Casos Arquivados? Talvez da
mesma maneira que Seneca tinha — por acidente. Ashton, uma de suas
amigas na faculdade, que vivia lendo livros da Agatha Christie, mencionou
isto no refeitório um dia: — Você sabia que há um site onde detetives
amadores resolvem crimes? — ela disse animada. — É, tipo, meio
videogame, meio Bones. Isso está ocupando completamente todo o meu
tempo livre. — Seneca tinha respondido apenas com um encolher de
ombros e aproximou mais de si a sua mistura de morango tropical e Cocoa
Krispies. — Parece divertido. No entanto, no primeiro momento em que
pôde, ela fugiu para o seu quarto, ligou seu laptop, e digitou Casos
Arquivados no navegador.
Era fácil perder horas nos quadros de mensagens do site. Ela levava
seu laptop para a aula, fingindo usá-lo para tomar notas, mas em vez disso
avaliava casos arquivados de assassinatos e desaparecimentos. Alguns dias
ela simplesmente matava as aulas — os vídeos com o resumo da aula
ficavam online mais tarde, de qualquer maneira. Ela não queria perder
nenhum novo caso arquivado. Algumas das postagens eram de idiotas ou
especuladores, mas alguns tinham inteligência e conhecimento prático:
MizMaizie costumava trabalhar para o Departamento de Polícia de
Seattle. UnicornHorn tinha um laboratório forense. BMoney60 sempre
avaliava algumas entradas tolas com uma proclamação de frase chamativa
como Alerta de Spoiler: a mãe fez isso. Ele sempre estava certo.
Era como se Seneca tivesse sua própria pequena unidade de CSIs
dentro de seu computador.
E então havia sua amiga Maddy, ou MBM0815, ou Madison Wright de
Connecticut. No Facebook, Maddy era uma líder de torcida sorridente,
com pele e cabelo asiáticos perfeitos e uma propensão à cor rosa, mas suas
postagens nos Casos Arquivados eram espirituosas e perspicazes. Quando
se graduaram para a Gchat, elas falavam sobre coisas tolas e pessoais e
inventaram um jogo onde comparavam pessoas que conheciam com os
tipos de doces. Seneca tinha contado muita coisa para Maddy, mas não
tudo. Ela nunca dizia tudo a ninguém se ela não precisasse.
A tentação se agitou dentro de Seneca e ela começou a escrever uma
nova mensagem.

TheMighty: Ideia louca. As minhas férias de primavera começam


amanhã e eu vou estar super entediada. Eu poderia ir te ver. Podíamos
conferir o caso de Helena juntas.

Ela acrescentou um emoji com cara de surpreendido e pressionou


ENVIAR, ansiosamente batendo as unhas contra a cabeceira da cama. Ia ser
incrível encontrar-se com sua nova amiga. Ela tinha um grupo de pessoas
com quem andava por aí na faculdade, mas todos eram apenas bons
conhecidos.
E Helena Kelly... bem. Esse seria o Santo Graal dos casos arquivados
para ela. Ela estava morrendo de vontade de cavar esse mistério.
Há cinco anos e meio atrás, quando Helena desapareceu, Seneca
começou a assistir à CNN religiosamente. As notícias não paravam de
pipocar sobre a história. Valentes grupos de voluntários saíam em buscas,
toda a cidade foi entrevistada, e até mesmo o Governador de Connecticut
fez um discurso sobre trazer Helena de volta para casa e em segurança. No
começo, tudo aquilo repugnava Seneca e a deixava se sentindo vazia, mas
à medida que os meses passavam e Helena ainda não havia sido encontrada,
seus sentimentos começaram a mudar. Quando Seneca via algum relatório
ou documentário de notícias sobre Helena, ela abandonava tudo apenas
para assistir. Ela lia cada história sobre Helena uma e outra vez. Ela
memorizou sua página de memórias, memorizando inadvertidamente os
nomes de seus amigos. Ela procurou o perfil das pessoas da família no
Facebook por meses, descobrindo que os pais de Kelly estavam se
separando e que a Sra. Kelly estava reabrindo um negócio de sorvetes na
cidade, apoiado massivamente pela comunidade de Dexby em
solidariedade à família. Seneca segurava a respiração, esperando o retorno
seguro de Helena. Ela entendia que nem sempre o universo proporcionava
finais felizes, mas ela pensava que, quem sabe, Helena iria romper as
estatísticas.
Então, quatro anos mais tarde, o corpo de Helena foi
encontrado. Seneca observou horrorizada a polícia de Dexby admitir que
duvidava de que conseguissem descobrir quem havia feito aquilo. Mas há
muito mais para investigar! ela pensava. Por que não estavam se esforçado
um pouco mais para confirmar o álibi do namorado? Não poderiam enviar
mais cães farejadores ao bosque? Teria sido cada momento da vida de
Helena completamente perdido em nada?
O computador de Seneca apitou novamente. Ela clicou na mensagem.

MBM0815: Você deve ser telepata. Eu estava pensando a mesma


coisa. Você pode ficar comigo. O Amtrak Metro-Norte trará você aqui...
tem uma estação de trem em Dexby.

Seneca recostou-se, batendo os dedos em uma de suas caixas, rotulada


como “Mistérios, A-L”.
A excitação inundava seu corpo, seguido de um aperto frio de
medo. Ela realmente estava indo fazer aquilo. Viajando para o lugar que
tinha consumido seus pensamentos, indo questionar as pessoas que ela já
parecia conhecer tão bem. Isso traria muitas lembranças, das que ela tinha
tentado ignorar.
No entanto, ela não pôde deixar de se sentir galvanizada pelo
desafio. Ela sabia mais sobre esse caso do que a maioria dos policiais que
trabalharam nele. Maddy precisava dela. Inferno, Helena precisava dela, e
Aerin, também. Seneca conseguia até imaginar Aerin entrando no Casos
Arquivados, exatamente como ela fez, desesperada por respostas.
Talvez se Seneca desvendasse isso, todo o resto em sua vida que estava
saindo de controle poderia quem sabe voltar ao lugar certo, também. Tudo
bem, então: ela estava indo. Ela estava indo para descobrir o que
aconteceu.
Não resolveria todos os seus problemas. Não resolveria todos os seus
mistérios. Mas já seria um começo.
Capítulo 2
Traduzido por Ann

A
e
erin Kelly afundou em um incômodo assento de vime no pátio
de sol de sua amiga Tori, cruzando as pernas provocativamente,
encarando o cara ao
Owen. Merda. Definitivamente era Owen.
lado dela. Oliver. Não,

— Que festa, hein?


Ela bebeu a limonada açucarada que Mike tinha pego da caixa térmica,
estremecendo com seu sabor doce-doentio. Ela deveria ter escolhido uma
Corona.
Os dedos de Owen se contorceram na cerveja.
— Gostaria de morar em Dexby. Esse lugar arrebenta.
— Não se você mora aqui — disse Aerin, encolhendo os ombros.
Ela olhou pelas janelas blindadas do imenso quintal de Tori. Embora
o Sr. e a Sra. Gates tivessem dito explicitamente para Tori ficar longe do
poço de fogo enquanto eles estivessem fora da cidade, havia uma grande
fogueira ardente e um bando de jovens dançando tribalmente ao redor,
bebendo, lançando pedras ou ambos. Do outro lado, os rapazes de
Windemere, a escola preparatória que Aerin frequentava, estavam jogando
basquete, tropeçando em cerca de três meninas que decidiram deitar-se
bem ali. Uma música de Pitbull estava tocando, alguém estava vomitando
no mato e Aerin tinha certeza de que ela tinha visto Kurt Schultz conduzir
o Porsche do Sr. Gates para fora da calçada. Uma noite típica em Dexby, Aerin
pensou ironicamente. As pessoas aqui faziam tudo em excesso —
especialmente as festas.
Ela deu a Owen seu sorriso mais sexy. Ele vivia fora da cidade e era
um primo de Cooper Templeton, que deveria estar provavelmente
fumando todas as coisas que ele trouxe com ele, porque é isso que
Cooper sempre fazia em festas. Mais cedo, Aerin tinha notado Owen em
meio a multidão. Ele tinha olhado sem jeito, então ela se aproximou. Vamos
encontrar um lugar tranquilo para conversar — ela disse, pegando a mão
dele. Na saída, Quinn McNulty, a amiga de Aerin da sala de orientação,
tinha dado sua aprovação. Ele é bonito — Quinn murmurara, mas Aerin
tinha escolhido Owen principalmente porque ele não a conhecia... e nem
sabia sobre seu passado.
O olhar de Owen vagou para os dedos de Aerin, que estavam logo
acima de seu braço. Ele riu nervosamente.
— O que a galera faz por aqui? Eu vi que há uma pista de esqui por
perto. Você curte?
— Eu costumava gostar — disse Aerin, — mas eu fiquei entediada.
Era a mesma mentira que ela dissera a seus pais.
Ela não estava com disposição para conversar, então se levantou e
puxou sua camiseta sobre a cabeça, revelando um pálido sutiã roxo com
lacinhos. O deck era um lugar isolado e mais vazio. Ou deveria ser. De
qualquer maneira, a maioria dos rapazes ali já havia visto seu sutiã alguma
vez.
A mandíbula de Owen caiu.
— Uau.
— Sua vez — ela exigiu, apontando para ele e abaixando os cílios.
Owen puxou sua camiseta Sunkist sobre a cabeça e a deixou cair no
chão do gazebo, também. Era tão fácil desviar a atenção de um cara.
Aerin o olhou de cima a baixo. Ele tinha a pele bronzeada e um
abdômen definido. O elástico amarelo brilhante de sua cueca espiava por
cima de seus shorts. Havia uma cicatriz pequena à direita de seu
umbigo. Todos esses detalhes ela esqueceria dentro de uma hora. Ele
estendeu as mãos e puxou-a para perto.
— Humm — ele gemeu, pressionando os lábios contra a clavícula.
— Uau.
Aerin fez um som de Hummm, também, tentando sentir uma vibração
de... bem, de alguma coisa. Mas, na verdade, Owen era como qualquer
outro. Ela só precisava de uma via de escape para se esquecer do arrebato
em escrever aquela postagem naquele site louco sobre Casos Arquivados.
Se encararam por um momento, as mãos de Owen se movendo para
o fecho de seu sutiã. Aerin deu-lhe alguns beijos atentos e apertou suas
mãos contra seu peito liso e nu. Seus dedos se moveram para a cintura de
sua saia. Ela sentiu que ele tentou pegar o botão e reagiu.
— Espera. Não — ela disse, retrocedendo.
Owen olhou para ela. Seu cabelo estava bagunçado e seus lábios
estavam separados. Então ele sorriu.
— Qual é — ele insistiu, beijando seu pescoço.
As mãos dele voltaram para sua cintura. Aerin sentiu o velho pânico
chegando e ouviu aquela voz familiar. Não.
— Eu disse que não — ela disse, se balançando para longe dele.
Ele se recostou, as mãos nos joelhos. Alguém soltou um grito na
festa. A bola de basquete batia forte contra o pavimento. Owen parecia
atordoado.
— É sério?
Aerin levantou-se e quase tropeçou em seus sapatos, que ela tinha
tirado. Os olhos de Owen procuravam uma resposta enquanto ela vestia a
blusa. — Eu não entendi.
Ela ficou rígida. — Eu mudei de ideia.
Ele pegou sua camiseta do tapete e colocou de volta. Ele vestiu o que
faltava rapidamente e soltou: — Maluca.
Ela assistiu ele sair da varanda rumo ao quintal, em direção à fogueira,
e se sentou em uma das cadeiras de madeira. Você é uma aberração, ela disse
para si mesma.
Suspirando, ela entrou no banheiro do pátio de Tori, que estava cheio
de papel higiênico e tinha um invólucro de preservativo na pia. Ela ligou a
torneira de qualquer maneira e salpicou água em seu rosto. Seu reflexo no
espelho olhou de volta para ela, rímel entremeado e batom borrado. Seu
cabelo loiro parecia mais longo, graças a uma chapinha e sua pele
continuava impecável justificando os seus quarenta e cinco minutos de
maquiagem. Seus peitos, que haviam crescido significativamente nos
últimos cinco anos, se derramavam para fora do sutiã roxo. O que tinha
passado pela cabeça dela ao seduzir aquele pobre garoto e depois dispensá-
lo? Não era apenas porque hoje era o aniversário de quando os ossos de sua
irmã foram encontrados. Não era apenas por causa daquela postagem que
ela escreveu no site. Isso já tinha acontecido muitas vezes antes.
A primeira vez foi no aniversário de dois anos do desaparecimento de
sua irmã. Ela tinha treze anos. Ela e James Ladd estavam na fila para entrar
na capela da escola, e ele estava olhando para ela, provavelmente sentindo
pena dela.
— Quer que eu tire minha blusa para você? — ela tinha sugerido.
Eles entraram no teatro da escola e se esconderam atrás da grande
árvore de Natal no palco. Lá, ela tinha puxado para cima sua blusa. James
olhara para ela com tanto... apreço. Foi bom estar no controle de uma
situação em vez de ao contrário. Foi bom sentir algo depois de dois anos
de entorpecimento.
Então ela continuou. E vieram Kennett McKenzie, o menino que ela
beijou em uma cidade do Upper West Side quando ela deveria estar
visitando seu pai. E Landon Howe, o garoto que ela mostrou as calcinhas
durante um brunch no jardim. E então, exatamente um ano atrás, quando
Aerin seduziu Brayden Shapiro no Dexby Country Club. Naquele mesmo
dia, sua mãe tinha recebido a ligação falando dos restos de sua irmã naquele
parque no condado de Tolland, a duas horas de distância. Aerin tentou não
desmaiar quando os forenses do CSI falaram do trauma causado pela força
contundente na pelve de Helena, ainda aparente depois de quase cinco anos
de decomposição.
De repente, começou uma comoção lá fora. Aerin olhou através da
janela. Luzes azul e vermelha de carros de polícia giravam no pátio da
frente. Um grito de sirene perfurou o ar. Quando ela abriu a porta do
deck, centenas de jovens fugiam, jogando latas de cerveja e copos de
plástico sobre seus ombros. — O bosque! — Ben Wilder gritou. — Pegue
sua bolsa! — Rebecca Hodges sibilou para Greta Atkinson. — Caso
contrário, eles vão encontrar sua carteira de motorista e saber que você
estava aqui!
Aerin agarrou um Doritos de uma tigela no vestíbulo e caminhou
calmamente para o pátio da frente. Deixe que a polícia a prenda. Ela não
se importava.
Os policiais estavam fazendo averiguações. Tori estava chorando na
varanda. Aerin quase quis consolá-la, mas não era como se fosse resolver
qualquer coisa.
— Você não pode ir embora! — uma voz rouca gritou para Aerin.
Um policial lhe lançou uma luz áspera no rosto, mas depois de um
momento ele baixou a luz para a grama.
— Aerin Kelly?
O jovem oficial se aproximou. Tinha a pele lisa e pálida; Aerin se
perguntou se ele havia acabado de fazer a barba. Seu uniforme pendia em
seu corpo magro.
— Eu sou Thomas. — Havia um ligeiro tremor em sua voz. —
Thomas Grove. Nos conhecemos na, hã, festa do Coelhinho da Páscoa do
ano passado.
Aerin olhou mais de perto.
— Ah, Merda.
A festa do Coelhinho da Páscoa era uma coisa anual em Dexby. Era
realizada no Estate Chester Morgenthau na noite de domingo de Páscoa —
por sinal, a festa do Coelhinho da Páscoa deste ano seria no próximo fim
de semana. Os adultos vestiam alta costura, smokings, se vangloriado
sobre seu valor líquido, ofertavam coisas no leilão silencioso, bla-blá-
blá. Uma das tradições era que era totalmente apropriado que meninas
aparecerem vestidas metade como prostitutas, metade como Coelhinhas
da Páscoa, e ainda por cima carregando uma cesta.
O ano passado tinha sido a primeira incursão de Aerin no mundo das
festas Coelhinho da Páscoa, e ela não ficou surpreendida ao ter livre acesso
à adega de vinho e ver pessoas praticamente terem relações sexuais sobre
os tapetes de caxemira.
Ninguém era deixado de fora, Aerin tinha até arrastado um calouro
aleatório de Windemere para alguns momentos na despensa. Não que ela
realmente tivesse que arrastar alguém.
E aqui estava ele: Thomas Grove. Se tivesse tido um milhão de
chances de adivinhar o seu nome, ela nunca conseguiria.
Thomas se aproximou dela, mas não de maneira ameaçadora. Seu
sorriso era surpreendentemente doce e tímido e Aerin notou que ele era o
primeiro cara que não estava olhando para seu peito.
— Você é um policial agora?
— Sim, você acredita? — Thomas disse num tom conspiratório,
como se ele tivesse descoberto algo sobre seus superiores. — Eu tenho
estado na Força há dois meses. É uma enorme honra conseguir um
emprego aqui. A maioria dos caras começam em Clearview ou Rhode. Eu
nem precisei me mudar.
Aerin ainda pensava na festa do Coelhinho da Páscoa. Depois de
terminar o que haviam começado — o qual ele obviamente não colocou
nenhum impedimento — ela e Thomas haviam se sentado na despensa da
pousada, olhando ao redor. Havia uma dúzia de latas de presunto, paletes
inteiras de espaguetes enlatados e caixas de Creme de Trigo. A ideia do Sr.
e da Sra. Morgenthau comendo sopa de aveia era hilariante, e ela e Thomas
riram juntos, imaginando. Durante alguns minutos, Aerin se sentiu
quase... normal, como uma garota qualquer convidada regularmente para a
festa do Coelhinho da Páscoa.
Mas então Thomas tomou sua mão e disse algo sobre como ela era
bonita e então algo sobre sua irmã — que ele sempre achou Helena
legal. Ele havia estudado com ela quando estava no nono ou no décimo
segundo ano, ou algo assim. Aerin se afastou depois disso.
Aerin se desviou da memória e ficou de pé. Thomas era um policial
agora. Ela odiava policiais. Especialmente os policiais de Dexby. — Então
você vai me prender ou não? — ela desafiou.
Thomas puxou a gola, depois olhou sub-repticiamente para um
policial à direita que estava algemando Cooper Templeton.
— Vá. Eu odiaria fichar algo assim no seu registro.
Aerin o olhou desconfiada. Por que ele estava sendo tão legal? Talvez
não importasse. Ela certamente não queria continuar mais tempo naquele
lugar.
— Obrigada — ela disse, jogando os cabelos de lado. — Eu te devo
uma.
— Até a próxima? — disse Thomas, mas Aerin não respondeu.
Já em segurança dentro de seu Audi, ela contou o número de viaturas
na entrada da casa de Tori. Quatro — não, cinco.
Praticamente toda a força policial de Dexby. Claramente eles não
tinham nada melhor para fazer em uma noite de quinta-feira. Tudo porque
Dexby era supersegura, certo? Nada de ruim acontecia aqui, nunca.
Quase nada. Às vezes Aerin sentia que era a única que se lembrava
disso.
Quando ela encostou o carro perto de casa, tudo estava escuro, e o
carro de sua mãe ainda não estava estacionado. Não era nenhuma
surpresa. Ela provavelmente ainda estava em uma das três lojas de sorvete
Scoops ao redor de Dexby, certificando-se de que o Rocky Road ficava
cremoso o suficiente.
Aerin sempre se perguntava o quanto sua mãe realmente sabia sobre
sua vida. Sobre os meninos com quem ela ficava. Sobre como ela tinha
deixado de esquiar porque ela cansada disso. Sobre como parecia que ela
era a única pessoa que ainda pensava em Helena. Sobre o grito de socorro
que ela postou naquele site ridículo.
Ela bateu a porta do carro, abriu a garagem e piscou diante da
escuridão úmida, pensando. O velho Karaokê ainda estava no canto. As
palavras Apinhado com 1.045 canções! estavam escritas com letras cor-de-
rosa grandes no lado. Recordação dos anos em que Aerin e Helena tinham
ficado obcecadas com a máquina de karaokê do Carnaval Beneficente de
Dexby, e após implorar o suficiente, seu pai terminou comprando um para
elas. Agora, Aerin quase nunca pedia alguma coisa ao seu pai nestes dias. Ela
mal o visitava em seu apartamento de Nova York, para onde ele se mudara
depois do divórcio de seus pais. Ela odiava aquela visão da axila da Estátua
da Liberdade e de sua geladeira quase vazia.
Ela chutou de lado uma caixa de sacos de lixo e empurrou de lado a
pequena cortina que cobria a máquina. Estava quente e úmido dentro da
cabine de karaokê e tão escura que ela mal podia ver sua mão na frente de
seu rosto. Ela não tinha visto aquela máquina ser ligada nos últimos cinco
anos, mas quando ela fechou os olhos, ela ainda pôde quase ouvir os longos
arpejos de uma canção de Mariah Carey. A doçura de “A Whole New
Wolrd”. Como Helena cantava Bruno Mars em uma voz monótona,
enquanto Aerin dava tudo o que tinha.
Lágrimas ameaçaram derramar-se pelas suas bochechas, e ela respirou
vigorosamente para detê-las. Ela puxou seu celular para fora. Odiando-se,
ela digitou Casos Arquivados no navegador.
Dedicado a investigar casos não resolvidos desde 2010, dizia a logo mal
projetada. Havia uma aba marcada como Ajuda Visual; quando ela visitou o
site pela primeira vez, ela tinha clicado ali, encontrando miniaturas de
ilustrações intituladas como Trajetória do assassino ou Ângulos de
faca e Marcas no corpo = ritual satânico? Uma nova mensagem piscando
intitulada Vídeos continha as imagens em vídeo de um corpo, machucado e
totalmente nu, deitado em um estacionamento; um outro era a tomada
lenta de uma cena de crime, com manchas sangrentas nas paredes; e o
vídeo seguinte mostrava um investigador de pé sobre um corpo e outro
forense descrevendo a causa da morte. Um link que dizia Arquivos de mídia
trazia uma listagem de várias histórias com títulos como Grupo de detetives
amadores ajuda a encontrar menina desaparecida no Arkansas e Pistas coletadas e
monitoradas por investigadores on-line ajuda a descobrir um assassino em West
Virginia. E logo abaixo estavam páginas e mais páginas de fóruns, com
categorias como Evidências, Processos em andamento, Desaparecidos, Crimes
Sexuais, Vídeos de Webcam e até mesmo um chamado Imagens desprezíveis.
Em Processos em andamento, dezenas de nomes apareciam. Havia o
nome da irmã de Aerin entre o grupo: Helena Kelly, Dexby, CT. Foi chocante
ver isso, mesmo que tenha sido exatamente Aerin quem o colocou lá.
Seus músculos se enrijeceram e ela clicou em sua mensagem. Seu
coração saltou. Sete respostas!
Esta é uma pergunta difícil — XCalibur escreveu. — Eu não arrisco nesse.
Nem mesmo o FBI conseguiu encontrar alguma evidência — escreveu
alguém chamado RGR. — Estou fora, também.
Mais cinco mensagens diziam a mesma coisa. Aerin respirou fundo, se
sentindo como se estivesse sendo apunhalada.
A sensação de alegria que ela havia sentido momentos antes foi se
esvaindo, deixando-a vazia. Ela apenas contemplou o seu desesperado grito
de socorro e as respostas sombrias de estranhos idiotas. Ela deveria
desistir: ela nunca conseguiria descobrir a verdade sobre Helena. O que
aconteceu com a irmã dela continuaria sendo um mistério — e um
pesadelo recorrente — para o resto de sua vida.
Capítulo 3
Traduzido por Ann

N o domingo, depois de algumas reuniões como conselheira e uma


discussão com um representante de atendimento ao cliente no
Storage Cacifos 4 U, Seneca sentou-se em um assento irregular no Metro-
Norte em direção a Dexby. O trem cheirava a desinfetante e café. Ela tinha
certeza de que ela estava no vagão mais silencioso, mas ela mantinha o
telefone bem ao ouvido de qualquer maneira, tentando acalmar seu pai.
— Eu realmente queria te ver nas férias de primavera, também — ela
murmurou, — mas Annie passou por uma crise difícil em Berkeley e
precisa de minha ajuda.
— Odeio a ideia de você viajar sozinha — disse o pai de Seneca.
— Pai. Tenho dezenove anos. Posso lidar com o Amtrak
sozinha. Não se preocupe.
Ele suspirou. — Bem, eu preciso ligar para a família de Annie e
agradecer a eles por te acolher?
— Não! — Seneca gritou, logo depois se preocupou por haver
demonstrado seu pânico. — Quer dizer, eu cuido disso. — Ela respirou
fundo e olhou em volta. Havia um menino com um casaco de capuz de
tamanho grande, usando um ridículo par de tênis dourado, sentado alguns
lugares à frente. Ela já o havia flagrado olhando para ela. Do outro lado do
corredor, uma menina excessivamente maquiada movia os lábios foscos
enquanto lia a OK Magazine.
— Mas você vai passar em casa um pouco antes de voltar para a escola,
certo? — perguntou seu pai. — Você volta... quando? Uma semana após
a segunda-feira?
— Uma semana após a terça-feira.
Ela cruzou os dedos atrás das costas, rezando para que os conselheiros
da Universidade de Maryland não telefonassem para a sua casa.
— Divirta-se com Annie, Piu-Piu — disse seu pai tristemente,
usando o apelido de quando Seneca era pequena, o que lhe fez se sentir
culpada. Ela odiava mentir para ele. Ela sabia como ele se preocupava com
ela — era incrível que ele tenha permitido que ela fosse viver nos
dormitórios. Ele estava preocupado com as novas amizades que faziam
parte de sua vida também, mas quando ela lhe contou sobre Annie
Sipowitz, uma menina que ela conheceu na faculdade, ele pareceu confiar
nela. Como ele não poderia? Annie era uma musicista talentosa, gênia da
matemática e influente líder do grupo de jovens que nunca se metia em
problemas. Mas Seneca não estava indo ficar com Annie desta vez. No
entanto, Seneca jamais poderia dizer ao seu pai o que ela
estava realmente indo fazer.
Ela colocou o seu pingente da letra P em sua boca e chupou com força,
algo que ela fazia quando estava nervosa. Mais uma vez, ela olhou para o
texto de Maddy enviado há alguns minutos atrás. Vai ser épico. Aliás, eu disse
que éramos amigas do acampamento de férias, portanto finja que você é uma
corredora!
Seneca assentiu, recordando como Maddy tinha mencionado que ela
estava realmente praticando corridas. Ela continuou lendo a mensagem na
tela. Acabamos de passar Stamford. Peguei um Krispy Kreme pra você. Ela focou
em uma caixa de donuts próxima a ela. Seneca apreciava que Maddy fosse
o tipo de garota que se sentia bem entregando-se a um Krispy Kreme ou
dois se necessário.
Legal. Maddy escreveu de volta. Eu estou vestindo uma jaqueta verde. Vou
estar na plataforma.
Seneca sorriu, apertou a tecla Home e clicou no Google
Chrome. Ontem à noite, ela releu os relatórios de investigação sobre o
caso de Helena Kelly. Agora ela clicou em um link da classe sênior de
Helena que conduzia ao anuário de Windemere-Carruthers. Havia uma
foto que lhe parecia profunda e dura onde aparecia Helena andando pelo
corredor em seu uniforme xadrez com um chapéu de feltro cobrindo parte
da sua cabeça. Ela parecia estar tão despreocupada. Em outra página, cada
sênior tinha escrito dedicatórias sob suas fotos. A de Helena, que tinha sido
escrita pouco antes de morrer, era particularmente sentimental: Eu vou
sentir a sua falta Becky-bee, o amor é forte, você vai ficar bem para sempre, Kaylee,
xoxo minhas queridas, LOL Samurai esgrima tarde da noite.
Finalmente, Seneca clicou sob o rol de notícias após os restos mortais
de Helena serem encontrados no ano passado.
Algumas crianças estiveram se divertindo em um riacho em Charles
County, Connecticut, quando um menino avistou algo que pensava ser um
osso de cão. Sua mãe percebeu que não era e chamou a polícia. Logo ficou
claro que a arcada dentária combinava com a de Helena.
Seneca tinha que descobrir quem a deixou lá.
Dentro de alguns minutos, o trem chegaria na estação. Seneca puxou
a mala de couro vintage para fora do porta-bagagem. A menina que estava
lendo a OK! ficou na frente dela na fila de saída, falando com uma voz
melosa em seu iPhone. Mais à frente, o menino dos sapatos dourados olhou
para Seneca com uma sobrancelha levantada. Seneca olhou para seu
próprio reflexo na janela. Com sua pele cor de oliva, seus olhos azuis claros
e selvagens e seu cabelo escuro, ela sabia que alguns caras a achavam
“exótica” — ela também usava pouca maquiagem e umas botas de
motociclista com bicos de aço.
A garota da OK Magazine! não seria muito mais o tipo daquele
garoto? Quando ela olhou para cima novamente, o cara dos sapatos
dourados já tinha ido.
Havia um enxame de pessoas na plataforma e todas pareciam estar
vestindo roupas formais. Pinheiros enormes como aquelas miniaturas
usadas em purificadores de ar do carro se projetavam no horizonte, o ar
fresco estava leve e tinha uma brisa fria. Então aqui estou eu, pensou
Seneca. Cada reportagem que ela leu sublinhava a riqueza de Dexby, então
ela esperava ver grandes mansões em colinas com seus carros Rolls-Royces
nas garagens. Havia uma pequena área comercial do outro lado da rua com
uma loja da Pure Barre, outra loja de roupas e uma Vineyard Vines. Um
charmoso hotel chamado Restful Inn ficava no topo do bloco; Seneca não
conseguia se decidir se aquilo era um exagero total ou um charme adorável.
Ela manteve-se atenta para encontrar uma menina asiática vestida com
uma jaqueta verde. Todo mundo seguia em direção às escadas ou parava
cumprimentando as pessoas que tinham saído dos vagões de Seneca. Ela
abriu o telefone e digitou uma mensagem.
Eu estou aqui, ela escreveu para Maddy. Onde você está?
Os passageiros se multiplicavam ao encontrarem com seus
conhecidos, e a possiblidade de encontrar Maddy diminuía. Seneca olhou
para o telefone; Maddy não tinha respondido. Depois de alguns minutos,
Seneca era a única pessoa sobrando na plataforma, com exceção de um
rapaz, perto do estacionamento, alto, bonito, com cabelos ondulados
castanhos, um queixo pontudo e uma camiseta que dizia Universidade de
Oregon. Hã. Maddy tinha dito à Seneca que tinha acabado de receber uma
bolsa para a Universidade de Oregon por causa do atletismo. Talvez esse
cara também já estudasse lá e de alguma forma conhecia Maddy.
Ela caminhou rumo ao estacionamento, se perguntando se ela não
tinha descido na parada errada. — Com licença? — O cara da camiseta da
Universidade de Oregon a seguiu. — Você é Seneca?
— Sim...
Ele sorriu e estendeu a mão.
— Ei! Eu sou Maddy!
Seneca olhou para a palma da mão estendida, em seguida, para ele. Na
verdade, era meio difícil não olhar para ele. Ele tinha penetrantes olhos
verdes que poderiam ser descritos como intensos e uma covinha no
queixo. Ele usava uma jaqueta verde-oliva que realçava o verde em seus
olhos. Seus tênis New Balance branco e laranja estavam um pouco gastos,
estragando a sua aparência perfeita — como se ele tivesse cuidadosamente
calculado como se tornar acessível e, ao mesmo tempo, adorável. Ela se
lembrou imediatamente do jogo que ela e Maddy — a Maddy on-line, que
claramente não podia ser essa pessoa — tinham feito, dando-lhe doce que
mais combinavam com sua aparência. Ele era um daqueles deliciosos
chocolates Cadbury que ela tinha comprado em uma viagem à Inglaterra
com seu pai no ano passado. O melhor chocolate de todos, e você pode
comprá-lo na loja da esquina.
Ela sentiu-se corar e lançou seu olhar para longe.
— Espere, você é quem?
— Maddy. — Ele apontou para si mesmo com um sorriso pateta. —
Dos Casos Arquivados.
— Você é MBM0815? — ela gaguejou.
Ele inclinou a cabeça interrogativamente.
— Sim... — Então ele olhou para a caixa de rosquinha que ela estava
carregando. — Tentadores. Você vai me ajudar a comer isso também,
certo?
Seneca não tinha ideia do que dizer. Ela não podia se imaginar
comendo uma rosquinha na frente desse cara; ela estava constrangida
demais para isso.
— Quem coloca no filho um nome como Madison? — ela finalmente
disse.
— Maddox é o meu nome verdadeiro. — Ele se inclinou para trás.
— Você achava que... Merda. Você pensou que eu fosse Madison Wright,
uma garota? Ela é minha irmã. — Ele revirou os olhos com conhecimento
de causa. — Ela entrou em contato com você no Facebook? Ela faz isso
sempre.
A cabeça de Seneca parecia estar recheada com creme de barbear —
algo incomum para ela. Ela odiava se sentir por fora da situação, e
normalmente ela só entrava em uma determinada situação após ter feito
sua pesquisa e saber exatamente quem e o que estaria esperando por ela.
— Hum, não, eu sabia que você era você. Eu só me atrapalhei um
pouco com os nomes.
Aquilo simplesmente não fazia sentido. A Maddy virtual tinha
professado um amor por Antiques Roadshow. Ele disse a ela que às vezes ele
se sentia fora de lugar entre as crianças ricas em sua escola. No entanto, ali
estava ele, de pé, um cara alto, relaxado e confiante, com os dedos
enganchados no cinto de sua calça jeans de grife. O sorriso no seu rosto era
de um cara que sabia que ele era atraente e bem quisto. Pior ainda: Seneca
tinha confessado no Gchat que ela nunca tinha tido relações sexuais, que
ela ainda usava um contensor durante a noite, que ela passava mais tempo
na biblioteca da universidade do que no bar — ou, sempre que necessário,
em sala de aula. Ela contou a Maddy sobre seus problemas na escola. Ela
até revelou a Maddy suas histórias sobre Chad, seu ex-quase-namorado,
incluindo uma em que ele tinha totalmente ignorado ela enquanto assistia
futebol durante o que era para ser um jantar romântico na Filadélfia. Esta
pessoa, este Maddy masculino, parecia alguém que poderia ter preferido o
futebol, também.
E meu Deus. Tinha sido ela quem sugeriu que ela viesse a Dexby. E
se ele estava pensando que ela estava dando em cima dele?
Então, com um esforço, ela procurou esquecer suas inseguranças. E
daí que ele era um cara. E daí também que ele era delicioso demais para se
olhar. E daí que, além disso, ele fosse um gênio dos casos
arquivados. Quem se importava? Ela sabia porque ela realmente estava
aqui.
— Então, e aí? — Maddy abriu aquele sorriso fácil e autoconfiante
novamente. — Vamos indo?
Ele pegou sua mala, mas a mão de Seneca disparou para a frente. —
Eu levo.
Ela começou a andar. Quando ela finalmente olhou para trás, Maddy
estava quase ao lado dela. Até mesmo o seu caminhar era sexy e
atlético. — Ei... está tudo bem. Ainda sou eu. Você me conhece. — Seus
olhos se enrugaram quando ele sorriu.
Seneca ajustou a mala na mão. Não, eu não te conheço, ela desejou poder
dizer.
— Só para constar? — ela falou olhando por cima do ombro. —
Maddy é nome de menina. Você provavelmente devia ficar com Maddox
mesmo.
Capítulo 4
Traduzido por Ann

M addox Wright abriu a porta de seu jipe, as chaves do carro


penduradas em um longo cordão que dizia “Equipe de Trilha
do Colégio Dexby”.
— Foi boa a viagem de trem? — ele perguntou à Seneca, colocando
o livro e a caixa de Krispy Kremes ao lado de sua mochila e se acomodando
no banco do motorista.
— Ótima — Seneca disse friamente.
Ela hesitou do lado de fora da porta do passageiro como se não tivesse
certeza se deveria entrar. Maddox se perguntava qual o problema com
aquela garota. Será que ela pensou que ele era uma menina? Qual é: seus
posts gritavam “sou um homem”, não é? Ok, talvez Maddy não tivesse sido
a melhor escolha de nome e talvez ele tivesse sido um pouco mais íntimo
com Seneca do que ele geralmente era com os outros por ali. Às vezes era
mais fácil dizer o que ele estava pensando quando já era tarde da noite e ele
sabia que a pessoa em que ele confiava naquele momento não estaria
zombando dele na escola no dia seguinte. Mas não havia nenhuma razão
para ela estar chocada ou estar agindo tão relutantemente agora. Ele meio
que queria dizer a ela que a maioria das meninas em sua escola estaria
pirando e super empolgadas diante da possibilidade de ser vista com ele,
mas aquilo soava tão arrogante, mesmo em sua cabeça.
A verdade era que Seneca realmente não parecia ser como qualquer
uma das meninas da escola. Ele espiou-a pelo canto do olho, focando em
sua aparência, tão diferente do que ele esperava. Suas bochechas estavam
rosadas, sua pele era cor de cobre, e seu cabelo era lindo, quase-preto e
com um ar selvagem, perfeitos naquele rabo de cavalo. Ela usava shorts
jeans com franjas, uma camisa xadrez que parecia que poderia pertencer
ao seu avô e umas botas de motociclista fodonas que exibiam ainda mais as
suas longas pernas. Ela totalmente não era o que ele esperava.
A Internet era estranha mesmo. Durante todo o tempo que tinham
conversado online — primeiro pelas postagens, depois pelo Gchatting, em
seguida trocando e-mails longos sobre os casos e outras coisas, também —
ele a tinha imaginado... de uma forma diferente. Esquisita, talvez, com a
pele ruim, óculos de armação escura e um corpo menos cheio de curvas.
Alguém por quem ele não se sentisse atraído. Alguém que ele não
fosse imaginar automaticamente em um biquíni.
Houve uma batida alta no carro. Carson Peters e Archer McFadden,
dois amigos da equipe de Maddox, apareceram do nada.
— Ei, cara, você vai para a corrida Achilles 5K amanhã? — Archer
berrou quando Maddox rolou a janela para baixo. — Você vai totalmente
ficar em primeiro lugar. E eu escutei que a Tara vai estar lá também. —
Ele socou seu braço.
— Eu sei que você poderia perseguir essa menina durante todo o dia
— Carson brincou.
— Estou muito ocupado perseguindo a sua mãe — Maddox brincou,
mas depois ele notou a expressão azeda de Seneca com o canto do olho. —
Não, eu tenho coisas para fazer — ele disse em voz baixa.
Então Archer e Carson notaram Seneca e lançaram a Maddox olhares
maliciosos e sorrisos cheios de questionamento.
— Esta é a minha amiga Seneca — Maddox disse para eles. — Nós
nos conhecemos naquele acampamento para corredores.
— Certo — Archer e Carson disseram, olhando-a de cima a
baixo. Seneca educadamente acenou para ambos e eles responderam com
um sorriso estranho, seguido de um profundo silêncio.
Maddox acelerou seu motor. — Estamos indo — ele disse a seus
companheiros de equipe.
Archer deu-lhe um sorriso assustador. Carson ainda estava olhando
para os seios de Seneca.
Na virada para a estrada, Maddox olhou para Seneca. — Me desculpe
por isso. Mas eles são caras legais uma vez que você começa a conhecê-los.
O rosto de Seneca estava tenso. Ela apertou a mandíbula e murmurou
algo baixinho.
— Então, de qualquer maneira — disse Maddox, fingindo não
perceber, — aqui estamos em Dexby. Tenho certeza que você quer dar
um passeio.
— Na verdade, eu quero ir até a casa dos Kelly — disse Seneca em
um tom de voz formal.
Maddox franziu a testa. — De Aerin Kelly?
Ela olhou para ele como se ele fosse louco. — De quem mais?
— Eu estava pensando que poderíamos verificar alguns dos lugares
que Helena costumava frequentar primeiro, como o Connecticut Pizza e a
pista de esqui, talvez até a Escola Windemere. E então eu tenho uma lista
de amigos dela com quem eu acho que também devemos conversar. A
antiga melhor amiga dela, Becky, é a proprietária de um restaurante que
faz umas batatas fritas com pimentão incríveis. E Helena também conhecia
outra garota, Kelsey, que trabalha para o Rangers agora, e depois dessa
pensei que nós poderíamos tentar falar com...
— Mas foi Aerin quem nos escreveu um SOS sobre o caso — Seneca
interrompeu.
— Nós não temos nenhuma certeza que aquela postagem era dela. E
de qualquer maneira, os amigos de Helena podem ter mais fatos para
contar do que sua irmã mais nova que era apenas uma criança na época,
você não acha?
— Sua irmãzinha foi a última a vê-la viva — Seneca enfiou a língua em
sua bochecha. — Quero dizer, me corrija se eu estiver errada, mas isso
não é mais importante do que batatas fritas?
— Não foi isso o que eu quis... — Maddox não queria soar como um
idiota. Seneca estava certa sobre Aerin... mas ele não queria que ela
estivesse certa. — Ok — ele se rendeu, movendo-se para a pista da direita
em direção à casa de Aerin, como se aquilo fosse totalmente normal. —
Eu acho que nós podemos fazer isso.
Ele cerrou os dentes enquanto verificava seu espelho
retrovisor. Merda, merda, merda. Ele esperava evitar qualquer contato com
Aerin Kelly por tanto tempo quanto possível.
O carro ficou em silêncio, de modo que Maddox decidiu fazer para
Seneca uma mini tour enquanto dirigiam.
— Aqui há um desvio que leva a um parque, onde um grupo de
pessoas diz que viu o Pé Grande. Você já participou de uma caça ao Pé
Grande? As pessoas são loucas por ele por aqui. Isso é meio doentio.
Nenhuma resposta. Ele girou para entrar em uma longa avenida
rodeada por um enorme complexo chamado de “Centro Recreativo
Dexby”.
— Aqui é onde eu costumo praticar com Catherine.
Uma longa pausa novamente.
Seneca brincava com a aba da sua bolsa. — Quem é Catherine? — ela
finalmente disse, como se estivesse sentindo náuseas ao ter que perguntar
algo.
— Minha treinadora de corrida.
Seneca lançou-lhe um olhar estranho. — Você precisa de alguém para
te ensinar a correr?
Ele encolheu os ombros. — Catherine me ajudou a reduzir seis
segundos dos meus 800. Isso é insano. É minha chance de ganhar uma bolsa
para Oregon.
Ele olhou para Seneca, imaginando que ela estaria impressionada, mas
seu olhar estava voltado para fora da janela.
Passaram em frente da Escola Preparatória Windemere-Carruthers,
onde Aerin Kelly e um grupo de outros jovens que Maddox conhecia
estudavam — ele frequentava a escola pública de Dexby. A Escola
Windemere tinha um gramado verde intocado e seu edifício principal era
um complexo de tijolos do século XVIII, que brilhava à luz do sol. Logo ao
lado estava a Delegacia de Polícia de Dexby, uma maravilha moderna de
pedra e vidro. Depois vinha a emblemática sorveteria de Dexby com a sua
placa em forma de cone girando. Seneca piscou solenemente diante de cada
marco que passava.
Maddox esforçava seu cérebro tentando lembrar de alguma piada que
ele pudesse dizer, mas as únicas boas piadas que ele conhecia eram bastante
ofensivas.
Conforme avançavam, as casas iam se transformando em suntuosas
mansões que ele já conhecia bem. Anos atrás, Maddox costumava sentar-
se no banco de trás do carro de sua mãe, imaginando o interior desses
lugares. A fortaleza à direita, continha uma sala cheia de figuras de ação. A
propriedade de pedras e tijolos na colina adiante tinha uma piscina interior
com um escorrega. Mas isso era história antiga.
Seneca virou-se para ele.
— O que foi que aconteceu com esse lugar depois que Helena
desapareceu?
Ele arregalou os olhos. — Foi totalmente insano. Aquelas vans de
reportagens obstruíam todas as ruas. Eles acamparam aqui, invadiram a
cidade. Eles entrevistaram a todos. Realmente jogavam na sua cara os
fatos.
A casa dos Kelly era uma estrutura clássica de pedra e arcos com um
quintal amplo, rodeada por bosques exuberantes. Tudo era tão familiar
que Maddox poderia ter revivido tudo de memória. Ele desligou o motor
e se ajeitou. Bem, eles estavam aqui. Ele só tinha que falar o que deveria
agora.
Ele limpou a garganta e olhou para Seneca. — Então, escute. Aerin
Kelly... me conhece.
Seneca revirou os olhos. — Você namorava com ela?
Maddox ficou momentaneamente desarmado. — N... não. Cerca de
dez anos atrás, minha mãe trabalhava para a família dela. — Ele encolheu
os ombros com indiferença. — Ela era uma espécie de babá.
Agora era Seneca que se sentia deslocada. — Por quanto tempo?
— Oh, três anos, mais ou menos. — Ele tentava manter seu tom leve
e tranquilo. — Eu era muito pequeno para ficar sozinho, e eu ainda não
praticava esportes depois da escola, então às vezes eu ficava aqui. — Ele
tossiu em seu punho. — Meu pai... nos abandonou... quando eu tinha
quatro anos. Eu não sei se eu mencionei isso. Não é nada demais. E agora
a minha mãe se casou novamente. Ela não trabalha mais.
A boca de Seneca vacilou. — Você não me disse isso antes porque
você se sentia envergonhado?
— O quê? — Maddox acenou com a mão rapidamente — Não. Eu
provavelmente só esqueci. — Ele esperava que ela não conseguisse
perceber que ele estava mentindo.
Os olhos de Seneca olhavam para todos os lados. — Bem, tudo bem
— ela disse depois de alguns minutos. — Você chegou a andar com
Helena?
Maddox sacudiu o cordão que prendia suas chaves.
— Na verdade, não. Ela era legal, quando estava por perto. Era uma
dessas pessoas que você não queria ver ferida, sabe? Eu acho que é por isso
que eu sempre me interessei pelo caso. Ela não merecia passar por isso.
Seneca piscou, aparentemente aceitando tudo isso. Seus dedos se
enroscaram na maçaneta da porta, mas então ela virou-se para trás e olhou
para Maddox de uma forma que ele não conseguia desvendar — ela estava
pensando, ou ela estava tentando ler sua mente? Finalmente, ela desabafou:
— Eu não quero te estereotipar, mas seus amigos têm ideia de que você
está participando dos... Casos Arquivados?
Maddox piscou com força. — Meus amigos da escola?
Ela encolheu os ombros. — Sim. E seus amigos de corrida. Aqueles
caras no estacionamento.
Ele os considerava seus amigos. Eles certamente olhavam para ele e
viam o mesmo que Seneca deveria estar vendo agora: atleta, charmoso,
bom partido. Era como se seus amigos tivessem apagado completamente
de suas mentes quem ele foi um dia e a verdade é que ele não se preocupava
em lembrá-los. Por que trazer o passado de volta?
Então Seneca deu de ombros.
— Esqueça que eu perguntei. Tem certeza de que está pronto para
isso?
Ele endireitou os ombros. — Pode apostar.
Eles se aproximaram da porta da frente. No tapete, havia os mesmos
dizeres pintados que ele se lembrava de ter lido quando criança: “Bem-
vindos, Amigos”.
Quando ele apertou a campainha, a melodia familiar lhe trouxe um
toque nostálgico.
Passos se escutaram de dentro. Havia alguém se aproximando, e então
a porta se abriu. O enorme hall de entrada, cheio de vigas de madeira, arte
popular e móveis Shaker ainda mantinha-se inalterado desde quando
Maddox tinha visto pela última vez. Maddox só reconheceu Aerin, no
entanto, por seus olhos azuis. Ela estava mais alta, com um brilhante cabelo
branco-loiro, seus olhos estavam excessivamente maquiados e os lábios
bem rosados. Ela estava vestindo uma blusa rosa apertada, um short que
expunha toda uma extensão de suas coxas finas e um sapato que parecia um
cruzamento entre sandálias e botas.
Maddox tentou não sorrir como um tolo, mas era difícil. Nos últimos
anos, ele tinha visto Aerin Kelly de longe — na maioria das vezes enquanto
fazia trilha ou no Desfile de Quatro de Julho de Dexby... mas não de tão
perto. Os rumores eram verdadeiros: a menininha malcriada que ele
conhecia havia se tornado uma garota sexy.
Aerin Kelly os olhou com desconfiança. — Posso ajudar?
— Somos da equipe dos Casos Arquivados Online — disse Seneca.
— Nós estamos aqui para ajudar — disse Maddox quase ao mesmo
tempo.
Seneca olhou Maddox e Maddox a encarou de volta. Ele se virou para
Aerin e começou tudo de novo. — Nós lemos a sua postagem no fórum
dos Casos Arquivados. Sobre sua irmã.
O rosto de Aerin empalideceu. — Hã?
Maddox franziu a testa. — Não foi você que escreveu a postagem?
Aerin empurrou uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Eu escrevi,
mas... — Sua garganta travou enquanto ela engolia, — diga-me que isso é
uma piada. Vocês têm praticamente a minha idade.
Seneca endireitou-se. — O site tem sido bem-sucedido em desvendar
Casos Arquivados por todo o país.
Aerin passou a mão sobre a testa. — Eu me sentia mal o suficiente
para pensar em postar algo em um fórum bizarro de perdedores de
quarenta anos de idade que ainda vivem com seus pais e gostam de bancar
o Scooby-Doo. Isso é uma piada para vocês? Algo que vocês acham que
ficaria bem em uma aplicação para uma faculdade?
Seneca piscou rapidamente. — Não! É...
— Você filma aqueles vídeos do necrotério? — As narinas de Aerin
queimavam. — Você sabia que é ilegal ter aquelas coisas postadas
lá? Aquelas pessoas ali são reais. Com famílias reais.
Maddox deu de ombros. — Eu apago os rostos. Mas as imagens
podem ser úteis, especialmente se alguém está investigando sobre as feridas
ou lesões causadas. Algumas das postagens do fórum são escritas por
médicos, ex-policiais e...
— Os outros usuários sabem que vocês são apenas crianças? — Aerin
interrompeu. — E se eu conectar no fórum agora e avisar todo mundo que
vocês dois sequer saíram do ensino médio?
— Na verdade, eu já saí do ensino médio — disse Seneca. — Então
vá em frente. Meu nome online é TheMighty.
Aerin olhou com raiva para ela. Em seguida, seu olhar voltou-se para
Maddox, o reconhecimento finalmente cintilando em seus olhos.
— Eu acho que conheço você. O que é isso, algum tipo de brincadeira
para que você possa se gabar para seus amigos sem cérebro?
Maddox começou a rir. — Na verdade, Aerin, eu sou Maddy
Wright. Lembra?
Aerin o olhou como se tivesse levado um tapa no rosto. Um longo
momento se passou. — O filho da minha babá? — Ela tocou a maçaneta
da porta. — Agora eu realmente preciso que você desapareça da minha
frente.
— Mas... — Seneca protestou.
— Vão.
Aerin foi fechar a porta, mas Maddox colocou o braço e agarrou-a. —
Espera. — Ele se atrapalhou para pegar uma caneta que ele tinha
trazido. Ele rasgou um pedaço de um recibo aleatório do bolso e rabiscou
seu número de telefone e endereço, jogando-o para ela. — Aqui está o
meu número. Pode ligar a qualquer momento.
Ele ergueu as sobrancelhas e, como se fosse um último esforço,
atirou-lhe o sorriso que normalmente funcionava com as meninas.
Isso fez a carranca de Aerin ficar ainda mais profunda. Ela bateu a
porta na cara deles. A coroa de Páscoa pendurada na porta da frente saltou
com o impacto.
— Bem — Seneca disse firmemente, fazendo uma saudação estilo
militar e voltando para o carro. — Isso foi delicioso.
A pele de Maddox parecia queimar. Ele sentou no assento do
motorista e virou a chave na ignição. Era por isso que ele não queria vir:
ele estava preocupado que isso fosse acontecer. Aerin o tratara exatamente
da mesma maneira como ela sempre o tratou quando ele era apenas o
garoto estranho filho da babá, um nerd. Mesmo que ele tivesse mudado
tanto.
Mesmo quando ela reconheceu que ele tinha mudado, que eles tinham
amigos em comum agora. Ele tinha esperado, ilusoriamente, que sua
atitude fosse mudar agora. Ele odiava ser lembrado de quem era naquela
época de sua vida.
— Eu te disse que não deveríamos ter vindo — ele disse. — Aerin é
uma vadia. Sempre foi.
— Ela não parece ser uma vadia — Seneca se endireitou ao seu lado.
— Ela apenas parecia chateada.
— Bem, nós não deveríamos ter ido com armas em punho. Dizendo
que nós éramos de uma coligação.
— Então, eu deveria ter deixado você falar tudo, certo? — Seneca
perguntou firmemente.
— Talvez devêssemos ter feito uma abordagem mais suave. Dizer que
nós entendíamos de onde ela veio.
Seneca se encolheu. — O que isso quer dizer?
Maddox fechou a boca. Ele realmente não tinha ideia do que queria
dizer.
— Por que eu saberia o que ela esteve fazendo? — Seneca
persistiu. Havia manchas vermelhas em suas bochechas. — Eu nem sou
daqui. Eu nem a conheço. Por quê você disse isso?
— Cara. Eu estava apenas dizendo algumas besteiras. — Dá um
tempo! ele pensou, mas não disse. Ele não precisava saber muito sobre as
garotas para saber que pedir para uma garota se acalmar e “dar um tempo”
só iria deixá-la mais irritada.
Seneca apertou os lábios. — Talvez isso não seja uma boa ideia.
Maddox virou a cabeça bruscamente. — Hã?
— Talvez eu devesse ir para casa.
— Espera, o quê? Só porque Aerin não quer colaborar isso não
significa...
— Se você não quer me levar para a estação de trem, eu vou encontrar
um táxi.
Maddox sentiu seu estômago cair. Jesus. Ela estava falando sério. —
Que tal se nós...?
— Não, eu realmente só quero ir embora.
Maddox olhou para ela, mas ela não quis olhar para ele. Ele nunca
tinha sentido algo dar tão bombasticamente errado. Antes de Seneca
chegar, ele estava vibrando com a ideia de ter uma amiga de verdade por
ali, para estar com ele no que ele realmente gostava. Mas ele voltou a estar
errado sobre tudo. A Seneca que ele tinha conhecido online era calorosa e
engraçada — nada a ver com a garota estranha e distante no assento ao lado
dele. Ele não a conhecia mais.
O que ele estava fazendo, de qualquer maneira, conversando com
aberrações que apareciam em um site? Ele não era mais um esquisitão. Ele
era um cara legal agora — e ele não precisava de mais amigos, muito menos
se fossem psicóticos como Seneca. Mesmo assim, de alguma forma, ele
sabia que se ele dissesse tudo isso em voz alta, não soaria tão bem como
soava dentro de sua cabeça.
— Você é a chefe — ele disse calmamente, seguindo para pegar o
retorno. — Vamos para a estação de trem.
Capítulo 5
Traduzido por Ann

Q uando a noite caiu, Aerin se sentou no sofá em sua biblioteca no


andar de cima, com uma cápsula do tempo de 2012. Havia uma
edição da Newsweek que falava sobre a reeleição de Obama. O leitor de
DVD não era um Blu-ray. Havia também uma linha fina de poeira no topo
de cada Enciclopédia Britânica, relíquias por si mesmas. Desde o
desaparecimento de sua irmã e da mudança de seu pai para a cidade, sua
mãe havia trabalhado duro para manter a enorme casa intocada — ela não
estava caindo aos pedaços, não, senhor! — mas este local era o seu
pequeno segredo.
No térreo, Aerin conseguia ouvir sua mãe, em uma de suas raras
aparições em casa, abrindo uma garrafa de vinho.
Sua melhor amiga, Marissa Ingram, comemorou quando a rolha
estalou. — Cara, eu preciso de uma taça — ela disse.
Aerin se arrastou para fora da biblioteca, fechou a porta, e olhou por
cima do corrimão. O marido de Marissa, Harris, estava na sala grande,
verificando livros sob a mesa de café da mãe de Aerin. A mãe de Aerin e
Marissa se sentaram à mesa de jantar enorme, brindando com suas taças de
vinho. Marissa, que usava um corte chanel no cabelo preto, tocando o
queixo, provavelmente pesava cinquenta quilos. Como sempre, ela usava
um enorme anel de diamante — grande o suficiente para arrancar fora o
olho de alguém se ela precisasse socar algum rosto com ele. Enquanto as
mulheres bebiam seu vinho, Marissa fofocava sobre como seu filho, Heath,
tinha ido à um encontro com uma garota nova.
— Ela é legal? — A mãe de Aerin perguntou.
— Você acha que nós realmente chegamos a conhecê-la? — O Sr.
Ingram — todos o chamavam Skip — zombou.
— Mas pela forma como Heath descreve ela, ela parece meio... oh,
eu não sei — Marissa suspirou, — regular.
Aerin resistiu ao impulso de bufar. Essa era a palavra que os Ingram
usavam para se referir à classe baixa. Mas, no entanto, ninguém era bom o
suficiente para Heath. Nem mesmo Heath era bom o suficiente para ele
mesmo. Com o passar dos anos, Marissa passou a fazer vista grossa para as
coisas que Heath fazia como (a) ter sido suspenso da Windemere-
Carruthers por ter pintado um graffiti na parede do laboratório de ciências,
que sua família havia doado, (b) ter abandonado a Columbia e fugido para
o Colorado para ser um vagabundo do esqui e (c) ter voltado para a
propriedade da família três anos mais tarde, sem conseguir um emprego,
mas sim participando de vários protestos em torno da cidade, incluindo um
sobre matar veados para controlar a superpopulação. Marissa
provavelmente também não gostava das tatuagens tribais no bíceps de
Heath. Aerin as tinha visto na última festa na piscina na casa dos Ingram.
O piso de madeira rangeu. — Querida, eu acho que é melhor ir
andando — a voz rouca de Skip se manifestou com seu leve sotaque de
Boston. — Temos aquela coisa às sete.
Marissa ficou de pé. — Eu quase me esqueci, querido.
Aerin chutou a grade com sua bota. A maneira melosa que os Ingrams
usavam para falar um com o outro era nauseante.
Depois de alguns beijos, o Sr. e Sra. Ingram caminhavam para a porta
da frente. Em seguida, o único som na casa passou a ser o zumbido baixo
da estação de música clássica no aparelho de som. Aerin olhou para o andar
de baixo mais uma vez.
Sua mãe, que com seu cabelo louro amanteigado ainda ficava bem
naquelas calças de cetim justas que ela costumava usar, sentou-se à mesa,
roendo a haste dos óculos de tartaruga. Se Aerin tivesse que preencher um
balão de pensamento acima da cabeça de sua mãe, ela não teria nenhuma
ideia sobre o que escrever.
A Sra. Kelly notou sua presença e saltou. — Quando você chegou?
— Eu estou em casa há horas — Aerin falou baixo.
A testa de sua mãe franziu. — Sentada no escuro?
Ela caminhou até a pia e enxaguou os copos de vinho. Quando ela se
virou e viu Aerin ainda de pé perto dela, com as mãos nos bolsos de seus
shorts, ela inclinou a cabeça. — Está precisando de ajuda com alguma
coisa?
A boca de Aerin caiu aberta. Anos atrás, ela e sua mãe tinham sido tão
próximas — até mesmo Helena tinha um pouco de ciúmes dessa
intimidade entre as duas. Aerin gostava de ajudar a mãe a fazer sorvete
caseiro no porão. Às sextas-feiras, a mãe de Aerin a levava para sua
academia, onde elas faziam uma aula de ginástica mãe-filha e depois
ganhavam massagens. Elas costumavam ter um aperto de mão especial se
Aerin estivesse com medo: um polegar na palma seguido por um polegar
nas costas da mão. Sua mãe deveria acompanhar com três apertos rápidos
que significava eu estou com você. Ela apostava que sua mãe sequer se
lembrava do aperto de mão agora.
— Eu fui presa ontem — ela deixou escapar, — na casa da Tori.
As mãos da Sra. Kelly caíram até a cintura. — O... o quê?
Aerin não podia acreditar. A mãe dela estava tão fora de órbita que
ela não tinha sequer imaginado que a festa de Tori pudesse ter passado dos
limites e chamado a atenção da polícia.
— Esqueça — Aerin disse encolhendo os ombros. Logo depois ela se
virou em direção ao seu quarto. — Eu inventei isso.
A Sra. Kelly subiu acelerada pelas escadas e pegou sua manga. — O
que há com você?
Aerin se soltou. — Você ainda se lembra de quem era o aniversário
ontem, ou eu sou a única que ainda se lembra de que Helena existiu?
A Sra. Kelly se encolheu com o nome de Helena. Suas pestanas
baixaram. — É claro que eu me lembrava.
— Você quase me enganou.
Aerin fechou a porta do quarto atrás dela. Ela ficou no meio do quarto
e esperou. Após um momento, ela ouviu um suspiro e passos indo na
direção oposta. Típico de sua mãe.
Aerin virou e examinou seu quarto. Se um antropólogo espiasse ali,
ele pensaria que ela foi, um dia, uma adolescente feliz e normal. Havia
fotos de Aerin e seus amigos em seu protetor de tela. Pompons amarelos e
vermelhos do último dia de ensaio ainda estavam presos à parede. Um
enorme hipopótamo que Blake Stanfield havia ganhado para ela no
Carnaval dos Bombeiros de Dexby no ano passado ficava apoiado em seu
travesseiro.
Sim, um cientista teria que fazer um trabalho forense sério para
descobrir a verdade sobre ela. Talvez testar seu travesseiro para medir o
teor de sal das lágrimas que ela ainda derramava quando ela sabia que
ninguém estava escutando, ou quem sabe olhar com cuidado o seu histórico
do Google para encontrar os sites em memória à Helena que ela ainda
visitava, ou o vídeo de Helena de seis Natais atrás, que ela assistia todas as
noites.
Será que Aerin ainda pensava tanto na irmã, mais do que os outros,
porque ela tinha estado lá naquele último dia?
Ela costumava andar por aquelas tardes nevadas com Helena mil
vezes. Por que diabos ela tinha ido para dentro daquele bosque estúpido? O
que tinha acontecido com Helena nesse período curto de tempo em que
Aerin não tinha conseguido mantê-la segura? Nas entrevistas que ela tinha
dado a tantas redes de notícias, alguns repórteres costumavam perguntar
se ela se sentia responsável pelo desaparecimento de sua irmã. Talvez fosse
apenas para provocar lágrimas nela, ou talvez fosse o que eles realmente
acreditavam. Talvez todo mundo acreditava nisso. Se Aerin tivesse cuidado
melhor da sua irmã, Helena não estaria morta. Era uma teoria tão boa
quanto qualquer outra.
Se era ou não era verdade, ela sempre sentiu que seu trabalho fosse
descobrir o que aconteceu com Helena, especialmente agora que a polícia
tinha perdido o interesse. Então, ela encontrou aquela comunidade online,
e o que tinha aparecido? Pirralhos da sua idade. Insultante! Ela odiou ver
suas caras ansiosas de um conselho estudantil. Ela odiou escutar aquela
menina se referindo a eles como uma coligação. E ela odiou que um deles
fosse justamente o filho de sua babá. Aquele cara parecia muito diferente
do velho Maddie Wright que ela se lembrava. E se Maddy Wright estivesse
ali testando ela, só porque ele sabia que Aerin se sentia bem ao redor dele
quando eles eram crianças?
Ela se perguntava aonde aqueles dois estariam agora. Buscando outros
casos antigos, qualquer um longe dela?
Aerin agarrou o telefone e digitou Casos Arquivados novamente. Seu
tema ainda estava quase no topo e havia um novo comentário. Era de
TheMighty — que era a menina que se apresentou na porta, certo?

Viajei para Dexby para verificar as coisas. Este caso é uma furada. Voltando
para casa no trem das 19:00.

Voltando para casa?


— Jesus — Aerin sussurrou.
Ela olhou para o relógio, em seguida, remexeu no bolso buscando o
pedaço de papel que Maddy tinha jogado para ela antes. Ela só guardou ali
porque ela não queria que a mãe dela pudesse encontrar o papel e depois
perguntar por que o número de Maddy Wright estava ali, jogado no chão.
Ela olhou para o telefone novamente, em seguida, colocou a mão
sobre os olhos. Ela se odiava pelo que estava prestes a fazer.
Capítulo 6
Traduzido por Ann

M addox havia deixado Seneca na estação de trem apenas quinze


minutos antes, mas seu telefone tinha tocado por quase
cinquenta vezes desde então. Agora, enquanto ela estava na máquina de
bilhetes, comprando uma passagem de volta, um nome brilhou no
identificador de chamadas novamente. Maddy, dizia a tela. Ela mais uma
vez teclou IGNORAR.
Toda a situação tinha azedado. Tudo o que Maddox disse e fez no
carro tinha sido decepcionante e muito diferente da pessoa que ela esperava
encontrar, menina ou menino. Ela esperava que toda aquela fachada dele
em algum momento fosse se romper, mas aquilo não tinha acontecido e
isso a fez se sentir tão desconectada dele que ela não tinha mais nem ideia
de como sequer continuar uma conversa.
E lá estavam todos os marcos de Dexby — aqueles com os quais ela
tinha sonhado anos atrás, e ver tudo aquilo, de verdade, trouxe suas
próprias memórias de volta como uma torrente jorrando. E, de fato, Aerin
Kelly parecia combinar com tudo aquilo — estilo impecável, atitude altiva
— mas havia um halo de medo, uma tristeza torturante rondando ao redor
dela. Seneca conhecia aquilo. Ela tinha aquele halo triste, também.
E o que era aquele comentário que Maddox tinha feito sobre Seneca
saber de onde Aerin veio? Por que ele disse isso? Será que ele sabia?
Seneca queria ser forte e manter a investigação em curso. Talvez se
Maddox fosse realmente a pessoa que ela tinha construído em sua mente,
ela poderia ter levado o caso adiante. Ou talvez se Aerin tivesse sido mais
receptiva. Mas, no final, ela sentia-se instável e insegura, e todos os tipos
de sinais de alerta diziam a ela para fugir.
A lua estava subindo, criando listras longas em toda a
plataforma. Quando Seneca olhou em volta, ela percebeu que a plataforma
estava estranhamente vazia. Passos ecoaram em uma escadaria e ela ouviu
sussurros.
— Lá está ela — alguém disse.
Seu cabelo na parte de trás do pescoço eriçou. De repente, uma figura
subiu a escada, diretamente em direção a ela. Seneca protegeu seu corpo.
— Me deixe em paz!
— Uou! — uma voz gritou. — Se acalma!
A figura avançou em direção à luz. Era Aerin Kelly.
Maddox estava ao lado dela. E ao lado dele estava um cara usando
roupas largas e tênis dourados bem feios.
Seneca o conhecia, mas por um momento ela não conseguia se
lembrar de onde. O trem, ela reconheceu assustada. Esse era o cara do trem
que estava olhando para ela esta tarde.
— O que está acontecendo? — Ela olhou de um lado para o outro.
Aerin colocou a mão no quadril. — Eu mudei de ideia. Espero que
eu não me arrependa disso. — Ela apontou o polegar para Maddox. —
Então eu chamei o seu amigo aqui. E ele trouxe o amigo dele. E aqui
estamos nós.
Seneca ficou boquiaberta olhando o garoto com sapatos
dourados. Maddox nunca tinha mencionado que mais um amigo fosse se
juntar a eles.
— Quem é você?
— Este é BMoney60, do fórum — explicou Maddox. — Ele quer
ajudar também. Eu ia dizer para você, mas... — Ele parou e deu de
ombros.
Seneca sabia quem era BMoney60: o cara que sempre lançava um rol
de suposições sobre suspeitos no site, que muitas vezes acabava por ser uma
pista fria. Na verdade, também tinha sido ele quem apresentou Seneca a
Maddy, dizendo que ambos tinham teorias semelhantes sobre um caso no
Alabama e deveriam conversar. Ela olhou para o cara de cima a baixo,
desde seu casaco de capuz sujo até os seus tênis de rapper hediondos. Ele
cheirava a spray corporal Axe.
— Você não pode ser BMoney60.
— Bem, Brett Grady é meu nome verdadeiro — o cara admitiu, sua
voz mais suave e mais sonora do que ela tinha imaginado. — Eu sou de
Wesleyan, mas vivo em Greenwich. Maddy e eu nos encontramos em um
caso arquivado que investigamos no outono passado. Você é TheMighty,
certo? Você é de Maryland? Você e eu conversamos sobre esse novo caso
do México, aquele onde o menino foi morto. Você disse que quem quer
que o assassino fosse com certeza era algum lunático ao estilo do Sr.
Mercedes, um cara confuso e sem consciência. Eu sou um grande leitor,
também.
Ok, então a maior parte disso era inteligível. — Eu vi você no trem
hoje mais cedo — disse Seneca. — Você olhava para mim como um louco.
Maddox riu e o cutucou. — Que sutil, mano.
— Desculpa. — Sapatos dourados gesticulou. — BMoney, Brett,
parecia arrependido. — Eu não estava realmente certo de que era você.
Eu pensei que talvez fosse, mas... bem, eu não queria ficar encarando. Isso
não vai acontecer novamente. — Seus olhos brilharam e ele levantou a
mão em uma saudação. — Eu estava indo encontrar com vocês antes, mas
eu recebi um palpite sobre uma coisa e quis fazer uma pesquisa primeiro.
— Brett tem uma versão muito interessante sobre Helena — disse
Maddox. — Eu acho que vale a pena todos nós escutarmos sobre isso...
embora talvez não aqui.
— Maddy acha que nós estamos sendo seguidos. — Brett revirou os
olhos, bem-humorado.
Maddox deu de ombros. — Um Corvette estava colando na minha
traseira no caminho para cá. Parecia grudado em mim.
Aerin bufou. — Você acha que nós estamos em um filme dos Velozes
e Furiosos?
— Nós poderíamos ir para outro lugar, conversar em privado — disse
Brett, apontando com o polegar por cima do ombro em direção ao
restaurante ao lado da Pousada Restful. — Não é um lugar muito ruim.
Podemos ir lá para tomar uma boa dose de cafeína.
— Na verdade, eu estou partindo — Seneca disse rigidamente,
segurando o bilhete que tinha comprado.
Aerin parecia irritada. — Você está dentro ou não? Eu não vou
trabalhar com você se você já fraqueja de primeira.
O vento soprou novamente. Seneca ficou intrigada e, sim, ela queria
falar com Aerin sobre o caso e conhecer detalhes. Mas ela deveria fazer
isso?
O trem chegou na estação. Maddox encarou-a longa e duramente. —
Fica, por favor? Nós precisamos de você — ele disse.
Seneca virou. Ela se imaginou entrando no trem e voltando para
casa. Ela ficaria todo o resto do tempo pensando sem parar no que esses
caras estariam fazendo. E se Aerin terminasse não trabalhando com eles
por causa da atitude dela, ela se sentiria muito culpada.
As portas do trem se abriram e os passageiros desembarcaram. Os
condutores pisaram na plataforma e pessoas começaram a retirar sua
bagagem. Seneca encarou Aerin. Havia uma esperança iluminando o olhar
em seu rosto, o triste halo em torno dela temporariamente havia
desaparecido. As luzes do trem piscaram uma vez.
Ela se levantou e pegou suas malas.
— Ok, eu vou ficar por um pouco mais. Vamos.

***
Cinco minutos depois, todos eles estavam sentados na lanchonete ao
lado da Pousada Restful. Era um daqueles estabelecimentos antiquados
construídos dentro de um reboque de aço inoxidável, as cabines feitas de
vinil laranja, o menu eram cartazes acima do balcão e o lugar tinha uma
jukebox que só tocava clássicos. Algumas pessoas se sentavam em
banquinhos, segurando grossas canecas de café. A garçonete, uma mulher
com olheiras e um porte cansado, deu-lhes um sorriso cheio de tiques
enquanto eles entravam. Um sentimento assustador cutucou Seneca, mas
ela provavelmente ainda estava abalada com a emboscada na estação.
— Ok. — Aerin se sentou e olhou para todos eles. — Contem-me
as suas grandes teorias.
Brett olhou de um lado para o outro ao redor da lanchonete, tomou
um gole de água e limpou a garganta um pouco dramaticamente. — Você
sabia que Helena escreveu sua dedicatória do anuário em código skip?
Aerin franziu a testa. — O que é isso?
— Os jovens na minha antiga escola sabiam que seus pais ficavam
monitorando as suas contas de Twitter o tempo todo, então eles postavam
algo que parecia totalmente inofensivo, mas se você soubesse como ler em
códigos, entendia que aquela mensagem queria dizer outra coisa
completamente diferente. Normalmente, os códigos eram sobre quem
estava pegando quem, ou se alguém tinha comprimidos, ou se havia alguma
festa acontecendo no bosque naquela noite.
Seneca riu. — Você sabe disso porque você já foi a um monte de
festas na floresta?
— Quem me dera — disse Brett. — Eu era um perdedor na
escola. Nenhum de vocês teria falado comigo naquela época,
especialmente você.
Ele lançou a Aerin o que claramente deveria ser um olhar
encantador. Ela zombou. — Como você sabe se eu sou popular?
— Ah, garota, você aparenta isso. — Brett sorriu. — Aposto que
todo mundo quer sair com você.
— Você também quer? — Aerin perguntou desafiadoramente, mas
também com um toque de flerte. Ela de repente se comportava bem
diferente daquela menina que Seneca havia conhecido na porta de sua casa
ainda hoje.
Brett acenou com a mão. — De jeito nenhum, cara. Eu sei quando
algo está fora do meu alcance.
— De volta a história — Seneca prosseguiu impacientemente.
— De volta a história — disse Brett. — Eu acho que a dedicatória de
Helena continha um código skip também. — Ele lhes passou uma xerox
de uma página do anuário da Windemere-Carruthers, o mesmo que Seneca
tinha visto online. Ali estava a dedicatória de Helena: Eu vou sentir a sua
falta Becky-bee, o amar é forte, você vai ficar bem para sempre, Kaylee, xoxo minhas
queridas, LOL Samurai esgrima tarde da noite.
— Fui até a biblioteca pública esta tarde, eles têm anuários escolares
em arquivo. Eu queria encontrar a cópia física para me certificar de que a
imagem online que estávamos olhando não tinha sido alterada sem querer
quando foi digitalizada — Brett apontou para cada palavra. — Então, isso
parece uma mensagem intima para algumas amigas, piadas, ou o que quer
que seja, certo? Mas se você pular e só ler algumas palavras, a mensagem
diz algo totalmente diferente.
Seneca olhou e leu em voz alta. — Eu vou... amar... você... para
sempre... meu... Samurai... noite. — Ela olhou para cima e fez uma careta. —
Ok…
— Eu estou pensando que ela queria dizer Samurai Knight, com
um K, e apenas não pôde encontrar como expressar essa última palavra.
— Você acha que Kevin é o seu Samurai Knight? — Seneca pensou
em Kevin Larssen, o namorado de Helena. Ela costumava manter um
recorte com a foto dele em sua mesa em casa junto com outros materiais
sobre o caso de Helena. Ele tinha a pele pálida e cabelos claros
ondulados. Mas aquilo era provavelmente muito literal para uma
interpretação.
Aerin também não parecia convencida. — Houve uma vez que todos
nós assistimos Saw. Ele escondeu os olhos com medo durante todo o
filme. Isso não parece coisa de samurai para mim.
— Garota, eu me escondi naquele filme, também — Brett disse
timidamente. Ele cutucou Seneca alegremente após haver deixado escapar
o que estava em sua mente, parecendo não se importar com o quão tolo
ele pudesse parecer. Ela sempre se surpreendia com pessoas assim, já que
ela costumava fazer exatamente o oposto, escolhendo cada palavra e gesto
após uma análise cuidadosa.
Brett abriu a página do Facebook de Kevin, que Seneca já conhecia
bem. Ela checava aquela página regularmente, em busca de quaisquer
referências sobre Helena, embora a maioria das publicações de Kevin
fossem sobre um clube do qual ele fazia parte, a Juventude de Connecticut.
Hoje, a página de Kevin era toda sobre política; em sua imagem
principal, ele estava em um pódio dando um discurso para o Conselho de
Educação de Connecticut. Havia outra foto dele apertando a mão de Joe
Biden.
— Ele está concorrendo para o senado estadual, então ele tentou
apagar suas mensagens do ensino médio — disse Brett. — Mas há maneiras
de recuperar esse tipo de coisa se você sabe exatamente o que está
buscando e consegue entender bem de computadores. E se você conseguir
entrar em sua página antiga...
— ...você consegue ver que ele conversou com Helena no chat do
Facebook — Seneca interrompeu, lembrando de repente. — Helena o
chamava de apelidos. Sr. Man, Gatinho, mas nunca de Samurai Knight.
Brett levantou uma sobrancelha. — Você pesquisou também. Eu
sabia que estava lidando com uma sabe-tudo.
Seneca apertou os lábios. Talvez fosse melhor deixar o grupo
acreditar em suas próprias teorias para que não notassem que talvez ela
também tivesse estado um pouco obcecada com tudo isso.
— De qualquer forma — ela apressou-se, — você está pensando que
Helena está se referindo a alguém ao usar o código skip? Um japonês,
talvez?
Maddox colocou as mãos atrás da cabeça, revelando uma faixa de pele
nua acima de seus jeans. Seneca desviou o olhar.
— Ou talvez seja alguma piada aleatória entre os dois. — Ele limpou
a garganta. — Sua irmã gostava de piadas.
A cabeça de Aerin se levantou bruscamente. — Como é
que você sabe?
Ele sentou-se reto. — Nós conversamos, às vezes. Ela era legal.
Os olhos de Aerin brilharam. — Na verdade, como sabemos que não
foi você quem fez algo com a minha irmã?
Seneca arregalou os olhos. Uau.
A expressão relaxada de Maddox desapareceu.
— Como assim? — Aparentemente, ele não conseguia manter a calma
sempre.
— Você tinha acesso a minha casa. E você provavelmente sentia uma
coisa pela minha irmã... então ela falou com você, tipo, uma vez? Oh, você
é legal agora, mas naquela época você não era. Naquela época, você era...
— Aerin — Brett interrompeu. — Eu realmente não acho que
Maddy faria mal a ninguém.
— Sim, eu concordo... — disse Seneca. Ela duvidava que Maddox
conseguisse esconder seus instintos assassinos tão habilmente. Além disso,
por que o assassino de Helena iria querer resolver seu assassinato?
— Eu tenho um álibi — Maddox disse sombriamente. — Eu estava
com a minha mãe. Ela me arrastou para fora da cidade naquele dia para
olhar vestidos de casamento.
Por sua expressão, ele estava claramente magoado.
— Ok, ok — Aerin disse, emburrada. — Todo mundo já pode parar
de olhar para mim desse jeito, ok? Eu tinha que perguntar. — Ela olhou
para Brett. — Então Helena poderia ter tido um namorado secreto, é o
que você está tentando dizer? Como é que vamos descobrir quem é?
Brett estava tamborilando sobre a mesa.
— A sua irmã... tinha amigos japoneses? Ela estava interessada em
qualquer coisa japonesa? Você chegou a notar algum tipo de mudança?
Aerin apertou sua mandíbula. — Provavelmente três japoneses vivem
em Dexby, no máximo, e eles administram o sushi bar daqui. E adivinhe,
a minha irmã odiava sushi, então você está latindo para a árvore errada.
Ela se levantou como se estivesse indo embora. Seneca a agarrou pelo
braço. — Bem, eu tenho uma pergunta para você. — Aerin estancou. —
Eu estou querendo saber por que você demorou dez minutos para
encontrar uma bolsa.
Aerin arregalou os olhos. — Como é?
— Em suas entrevistas sobre o seu último dia com Helena, você disse
que entrou para buscar uma bolsa para a boneca de neve e voltou para fora
dez minutos depois. Cinco minutos já é muito tempo, Aerin. Suas
entrevistas também dizem que você estava ansiosa por passar um tempo
com Helena; que não tinham mantido muito contato por um longo período
de tempo. Se você estava tão ansiosa para passar o tempo com a sua irmã,
por que você iria perder tempo longe dela?
Aerin sentou-se novamente, pegou um guardanapo do dispensador e
começou a rasgá-lo em pedaços. — Eu não entendo por que isso importa.
Seneca cruzou os braços sobre o peito. — Eu acho que importa
muito. O que você estava fazendo?
Aerin apertou os olhos fechados. Os únicos sons eram o tilintar dos
talheres. — Eu estava fuçando no quarto de Helena, ok? Ela me mandou
para lá. Eu só queria ver o que havia lá.
Seneca assentiu, satisfeita. — Você encontrou alguma coisa
interessante?
Aerin sacudiu a cabeça. — Não...
Seu olhar disparou para o lado. Seneca poderia dizer que ela estava
pensando em alguma coisa, mas ela decidiu deixar para lá antes de
perguntar.
— Aconteceu alguma coisa antes de você entrar? — Maddox
perguntou.
Aerin pensou por um tempo. — Houve uma coisa. Eu disse a Helena
que sentia falta dela, e ela disse: Nós nos falaremos mais, mas algumas coisas
terão que continuar em segredo.
Maddox pareceu intrigado. — E que coisas ela queria manter em
segredo?
— Eu não sei. E, além disso, ela nunca me contou nada
importante. — Uma expressão de dor cruzou o rosto de Aerin. Então ela
se levantou. — Está tarde. Vamos voltar a nos encontrar amanhã.
Ela pendurou a bolsa no ombro, deu alguns passos, e depois parou e
girou.
— Espera. Origami é japonês, não é?
— Sim — Seneca disse, inclinando a cabeça. — Por quê?
— Havia um origami no quarto dela, quando eu fui lá. Achei
estranho.
Seneca sabia que Aerin estava pensando em alguma coisa. — Será que
a polícia o recolheu?
— Eu o peguei antes de entrarem em seu quarto. Eu senti que eu
precisava protegê-lo de alguma forma.
— Você ainda o tem? — Maddox perguntou.
Os olhos de Aerin se apertaram. — Sim.
— Você pode trazê-lo para nós? — Seneca perguntou.
Aerin piscou. Seu lábio inferior tremeu. — Sim — ela sussurrou. —
Ok.
— Ótimo — Seneca apertou as mãos. — Bem, escuta. Já nos
encontramos aqui e agora precisamos nos encontrar novamente amanhã
pela manhã. Você escolhe o local.
Aerin pensou por um momento. — Le Dexby Patisserie — ela disse.
— Às nove. Vejo vocês lá, então.
Ela se virou para a porta. Todos os demais permaneceram onde
estavam. Finalmente, Maddox se levantou também e disse: — Um
origami? — ele perguntou. — Você realmente acha que significa alguma
coisa?
Seneca deu de ombros. — É o que ela precisava ouvir por agora. E na
verdade, nunca se sabe. — Ela pegou sua bolsa. — Vejo vocês mais
tarde. Prazer em conhecê-lo, Brett.
Ela caminhou em direção à porta. Maddox correu e a seguiu. A meio
caminho da rampa de acesso para o estacionamento ele a chamou: — Para
onde você está indo?
Seneca apontou para a pousada. — Reservar um quarto ali.
Maddox estudou a fachada da pousada. Seneca esperava que ele não
fosse comentar o fato de que várias lâmpadas estavam queimadas e que os
arbustos ao redor pareciam assustadores. Então ele mudou de assunto.
— Eu não fiz nada para Helena, você sabe.
— Eu sei. Eu não acho que Aerin realmente quis dizer isso.
Ele balançou a cabeça, parecendo aliviado por sua resposta. — Você
ainda pode ficar comigo, se quiser.
Seneca deu de ombros. — Eu estarei bem aqui.
A casa de Maddox provavelmente seria mais confortável do que a
pousada, mas ela realmente não queria estar todo o tempo ao redor tendo
que vê-lo jogar Madden NFL. Além disso, ela precisava estar
completamente sozinha para que pudesse repassar tudo o que tinham
descoberto naquele dia, sem distração.
Seu cérebro se iluminou e ela se lembrou de um e-mail que ele enviou
sobre seus livros favoritos.
Cem Anos de Solidão de Márquez. Submundo de DeLillo. O Leão, a
Feiticeira e o Guarda-Roupa. Aqueles eram alguns de seus favoritos,
também. Ele realmente leu aqueles livros?
Em seguida, ela teve outro pensamento. — De qualquer forma, agora
você não tem que colocar Austin & Ally no mudo.
Ao mesmo tempo, Maddox desabafou: — Pelo menos amanhã de
manhã eu posso gargarejar.
Eles pararam e trocaram um olhar. Seneca sorriu. Durante um de seus
bate-papos, Maddox tinha dito a ela que para adormecer, ele precisava
assistir ao Disney Channel antes. Ela confessou a ele que o som de
gargarejo era um dos piores ruídos de todos. Ela não conseguia acreditar
que ele se lembrava disso. Estranhamente, ele estava sorrindo para ela
como se também não pudesse acreditar que ela ainda se lembrava daquilo
também.
Ela percebeu que já estava encarando Maddox por muito tempo. Este
ar fresco de Dexby estava mexendo com seu cérebro. — Vejo você amanhã
— ela disse afetadamente.
E, em seguida, dando-lhe um aceno, ela girou nos calcanhares e
caminhou rumo ao hotel.
Capítulo 7
Traduzido por Ann

P oucas horas depois, Seneca estava assistindo as notícias em uma


velha TV que mal funcionava. Era uma história sobre uma festa em
Dexby que tinha terminado com a presença da polícia; aparentemente
toneladas de jovens tinham sido presos por estarem bebendo mesmo sendo
menores de idade e também por posse de drogas. Quando ela se virou, o
controle remoto caiu sobre o tapete, que tinha um desenho antigo e parecia
que não tinha sido aspirado desde 1972.
Então ela ouviu uma batida em sua porta e franziu o cenho. Quem
poderia ser?
E então houveram mais batidas, cada vez mais insistentes. Finalmente,
ela se aproximou da porta e espiou através do olho mágico, mas a lente
estava tão embaçada que ela não podia ver muito mais do que o contorno
de uma figura na escuridão. — Olá? — ela sussurrou.
Ela ouviu movimento no corredor. Então uma voz fina e alta sibilou:
— Volte para casa.
Séneca recuou. Talvez este lugar fosse realmente assombrado? Ou
talvez este fosse seu pesadelo recorrente, finalmente se tornando
realidade. Havia uma figura escura nesses sonhos, também. Mãos
estendidas para ela, agarrando-a, arrastando-a para um lugar escuro e
úmido...
— Volte para casa — a voz disse novamente, mais alto desta vez, alta
e séria. A maçaneta de Seneca começou a vibrar.
— Vá embora! — ela gritou, se apoiando com força na porta. — Vou
chamar a polícia!
Mas quando ela mergulhou na direção do telefone do hotel, ela
tropeçou sobre o tapete e acidentalmente arrancou o cabo fora da parede.
Quando ela vasculhou sua bolsa, lutando para encontrar seu celular, ela
percebeu que mal podia respirar. Ela olhou ao redor, confusa e ansiosa.
Uma inesperada fumaça subitamente enchia o quarto. E em sua próxima
inspiração, seus pulmões queimaram.
Com o coração martelando, ela finalmente encontrou seu celular
onde ele tinha caído debaixo da cama. Ela rastejou em direção ao telefone,
enquanto mais fumaça ondulava em direção a ela, ficando cada vez mais
negra. Em algum lugar à distância, um alarme de incêndio soou. —
Socorro! — ela gritou fracamente. Sua mão finalmente se fechou sobre seu
celular; ela o segurou em seu rosto, deslizando a tela, tentando discar para
pedir ajuda. Seus dedos tremiam e ela continuou pressionando o botão de
discar em vez de digitar 911.
Através do crepitar do fogo, ela ouviu o mesmo baque insistente e
zangado de antes. A porta fina cedeu, rachando nas dobradiças e uma figura
encapuzada disparou para dentro. Seneca gritou e lutou quando a figura a
ergueu. — Ei, está tudo bem — disse uma voz familiar. Seneca olhou para
o rosto debaixo do capuz. Era Brett.
Seneca registrou vagamente que ele a estava levando pelo corredor do
hotel. Ele cruzou uma saída de emergência e partiu rumo ao
estacionamento. Lá fora, o ar estava deliciosamente limpo, mas gelado.
Brett a abaixou e Seneca tossiu e tossiu. O céu estava cor de rosa purpúreo.
Ela esfregou os olhos e o oxigênio voltou aos seus pulmões.
— Como você soube onde me encontrar? — ela perguntou.
Brett gesticulou em direção a pousada. — Maddy me disse que você
estava aqui. Eu me hospedei em um quarto aqui também, lembra?
— Era você sussurrando para mim através da porta? Me dizendo para
ir para casa?
Brett lançou-lhe um olhar assustado. — Não...
Um carro de bombeiros rugiu, as sirenes brilhando. Enquanto os
bombeiros saíam do caminhão, Seneca olhou pela porta aberta em direção
ao corredor. Sua porta era a única com fumaça saindo.
Brett também estava olhando para a direção do quarto dela. — Você
não acha que isso possa ter sido... intencional?
Séneca se encolheu. — Porque estamos investigando sobre Helena?
— Sim. Talvez. Quero dizer, você disse que alguém estava
sussurrando para você ir para casa... e então há um incêndio em seu quarto,
no mesmo momento. Acha mesmo que isso é uma simples coincidência?
Seneca observou como as figuras sombrias dos bombeiros se moviam
em seu quarto. Depois olhou para Brett. — Você me arrastou para fora.
Você viu alguém?
— Não, mas poderiam ter fugido antes de eu chegar lá.
Um calafrio percorreu sua espinha. — Não seja bobo — ela disse,
forçando transparecer em sua voz uma confiança que ela não sentia. —
Sobre a voz... era tarde e eu estava cansada. Devo ter adormecido e tive
um pesadelo. Eu tenho pesadelos o tempo todo.
— Você tem?
— Uh-hum — Seneca disse com rigidez, se perguntando se ela havia
revelado demais. E então ela lhe lançou um sorriso rígido como se quisesse
dizer: — Assunto acabado.
Capítulo 8
Traduzido por Ann

À s 7 da manhã, a mãe de Maddox, Betsy, encostou no


estacionamento do Centro Recreativo de Dexby, um lugar que
tinha uma piscina olímpica, uma pista de gelo, uma academia de
musculação ultra-moderna e deques interiores e
exteriores. Normalmente, Maddox dirigia para o treino, mas o carro de
sua mãe estava no conserto esta semana e ela precisava do jipe para ir para
a ioga.
Ela bagunçou o cabelo de Maddox. — Como você está indo nos
treinos?
— Bem — Maddox disse, notando Catherine sentada nas
arquibancadas, vestida com uma camisa rosa sem mangas e uma saia de
corrida branca e curta.
— Você está se esforçando nos 800 segundos? O treinador da equipe
do Oregon quer o seu nível em 1:50.
Maddox resistiu ao impulso de gemer, em vez disso se manteve
focado no emblema da Universidade de Oregon da blusa da sua mãe. Ela tinha
comprado aquela blusa na livraria online da escola depois de Maddox ter
recebido sua carta de admissão no programa de bolsas. Ela estava
empolgada, isso era tudo. Um passe livre para a melhor universidade para
atletas em todo o país sempre era uma grande coisa.
A mãe de Maddox sempre tinha apoiado o filho, seja no que fosse que
ele estivesse metido, mesmo que fossem leilões de brinquedos no eBay e
convenções de videogame. Ele sempre foi muito próximo dela, mas ele
sabia que ela ficaria incomodada se soubesse que ele andava bisbilhotando
os assuntos sobre os Kelly. Depois que Helena desapareceu, ele perguntou
à sua mãe se ela tinha notado alguma coisa estranha em Helena. Ela
esfregou o queixo e disse: — Helena era como uma ilusão de ótica onde
você olha e vê uma senhora de idade em um instante e logo depois você
olha de novo e você vê uma jovem. Ela era muito mais do que qualquer
coisa que aparentava ser.
Ele fez uma nota mental de comentar isso com o grupo hoje. — Diga
olá à Catherine por mim. — A Sra. Wright se inclinou para beijar a sua
bochecha. Maddox se contorceu e saltou para fora do carro.
— Ei, filhinho da mamãe — Catherine disse com um sorriso
enquanto Maddox se aproximava.
Maddox sorriu confiante. — O que posso fazer? Minha mãe é uma
beijoqueira.
— Eu pensei em você correr alguns quilômetros hoje — disse
Catherine. — Precisamos diminuir pelo menos quatro minutos se você
quiser ser competitivo. Pronto para isso?
— Absolutamente.
Maddox agarrou seu pé para fazer o aquecimento e encarou o centro
de recreação. À distância, ele podia ver a Rua Waterdam, onde ficava o Le
Dexby Patisserie. Ele deveria se reunir com o grupo lá em duas horas. Era
uma caminhada fácil a partir de onde ele estava.
Catherine começou o aquecimento ao redor da pista. Maddox correu
atrás dela, observando as extremidades de sua saia balançando com a brisa
e exibindo as suas coxas. Ela olhou por cima do ombro e piscou para ele,
mas Maddox fingiu não perceber. Ele sabia como jogar duro para conseguir
o que queria, também.
Esta era a sua décima sexta sessão de personal training com
Catherine. Ele sempre foi muito bom na corrida.
Quando ficou mais velho — um pouco antes de se tornar um cara
descolado — a corrida era praticamente uma necessidade. Isso o fazia se
sentir como um cara descolado. Poderoso. Forte. Importante. Em
seguida, na nona série, ele cresceu quinze centímetros. Se destacou
mais. A mãe dele se casou de novo, então ele começou a vestir roupas
melhores. Durante seu primeiro ano no cross-country, seus tempos foram
incríveis e foi assim que ele foi convidado a se unir aos populares. Maddy,
o perdedor que economizava dinheiro para ir para o Antiques Roadshow em
Farmington, que achava bom beber leite comum e que achava que
conhecer o Pokémon era o caminho mais próximo do que era socialmente
aceitável, tinha mudado. Ele se livrou de suas cartas do
Pokémon imediatamente. E deixou de lado aquele garoto
inteiramente. Bem, quase inteiramente — pois quando não havia mais
ninguém ao redor, ele assistia Doctor Who e publicava coisas no fórum dos
Casos Arquivados.
Todos os anos, a sua corrida tinha melhorado. Ele competiu no
Estadual e também no Nacional. As pessoas falavam sobre bolsas de
estudo. Logo ficou claro que os treinadores da escola pública não estavam
equipados para treinar um corredor de alto nível como ele, por isso o seu
padrasto sugeriu que ele buscasse um treinador particular.
Claro que Maddox iria escolher Catherine. Não porque ela era uma
corredora incrível, mas porque ele já conhecia seu estilo de treinamento:
ela tinha trabalhado como assistente para a sua equipe da escola durante o
seu primeiro ano e ela ainda era uma caloura na UConn. Maddox tinha
fortes lembranças desse primeiro ano de pista: os garotos fofocando uns
com os outros no vestiário, ele vencendo veteranos na pista e batendo
recordes, e a linda Catherine, com seus longos cabelos castanho-chocolate
e seu rosto em forma de coração, seus olhos azuis cor de safira e seus seios
perfeitos. Cada indivíduo na equipe falava o quanto desejaria poder sair
com ela.
Maddox nunca tinha sido corajoso o suficiente para dizer a seus
companheiros de equipe que gostaria de sair com ela, mas às vezes, durante
o treino, ele poderia jurar que via Catherine olhando para ele como se ela
estivesse afim de sair com ele. Não havia dúvida de que ele possivelmente
estivesse imaginando isso — como se ela fosse mesmo se interessar por um
calouro idiota! — mas ele mesmo assim desenvolveu uma forte paixão
platônica. Ele passava horas idealizando como seria poder ser seu
namorado, que tipo de lingerie sexy ela provavelmente usava, o que ela
responderia se ele realmente tivesse alguma coragem para convidá-la para
sair.
Para decepção de todos, Catherine só tinha treinado a equipe por um
ano, mas Maddox nunca mais esqueceu dela. Ele manteve suas boas marcas
na corrida, eles seguiam-se mutuamente no Instagram, e ele inclusive
acenou para ela quando ele ganhou os 800 no torneio estadual em que se
encontraram. Conforme os anos passaram e ele adquiriu mais experiência
com as meninas, ele continuava se perguntando se a sua intuição sobre ela
tinha sido em algum ponto certa. Talvez ela tivesse visto algo nele. E agora
que eles tinham começado a treinar juntos? Bem, vamos apenas dizer que
ela ainda lhe lançava aqueles olhares especiais.
Maddox tinha contado para Madison, sua meia-irmã, que ele
acreditava que Catherine sentia um certo tesão por ele — e que ele
obviamente também sentia por ela. Madison tinha olhado para ele com
total incredulidade.
— A garota mais bonita da escola está morrendo de vontade de sair
com você, Maddox — ela repreendeu. — É com ela que você deveria sair,
e não com uma veterana bem mais velha que nem pensa em olhar para caras
do ensino médio.
Lembrando sobre isso, ele não tinha certeza por que ele se dava ao
trabalho em confiar em Madison para desabafar sobre coisas sobre
mulheres.
— Ok — disse Catherine, parando depois de um quilômetro fácil e
puxando um cronômetro do bolso. — Quero quatro repetições. Lembre-
se da sua forma. Não vá muito rápido. Você está pronto?
— Eu nasci pronto — disse Maddox, agachando-se.
Ele decolou, voando ao redor da pista, com os braços e as pernas
parecendo ter vida própria. Quatro voltas mais tarde, quando ele cruzou a
linha, Catherine gritou: — 4:02:23. Eu acho que você não estava dando
tudo de si.
Maddox se inclinou sobre suas coxas. 04:02 era o seu terceiro melhor
tempo de todos. Ele não tinha certeza se aguentaria correr mais algum
quilômetro. Porém, mesmo assim, após o descanso mínimo, ela estava
ordenando-lhe para voltar para a linha de chegada. — Respire
profundamente — Catherine disse a ele, olhando-o firme nos olhos. —
Você consegue fazer isso. Temos trabalhado muito duro. Pense em seus
treinos. Pense na sua postura. Pense no seu objetivo.
Ela pegou suas mãos e apertou-as com força, seus dedos estalando
muito depois de apertar. — Concentre-se “Homem de Ferro” — ela disse
enfaticamente, referindo-se à forma como, um dia, quando ela perguntou-
lhe se ele tinha alguma música da sorte para ouvir antes das corridas, ele
tinha admitido que gostava do clássico Ozzy Osbourne. Ela disse que
gostava daquela música também e eles passaram a próxima meia hora
falando sobre suas trilhas sonoras favoritas.
— Vai! — Catherine gritou e Maddox avançou na linha.
Desta vez, em vez de manter sua mente vazia, ele deixou o
pensamento vagar. Ele pensou em Aerin ligando para ele ontem, dizendo
que ela tinha mudado de ideia sobre sua ajuda. Pensou em quando eles se
encontraram no estacionamento da estação de trens e Aerin o havia olhado
e dito: — Então, Maddy Wright. O que aconteceu com seus óculos?
— Lentes de contato — Maddox tinha respondido, saboreando o
apreciativo olhar que ela lhe dava quando ela achava que ele não estava
olhando.
— Você está mais alto — ela acrescentou.
— Ganhei uns bons centímetros — Maddox disse com orgulho.
— E você tem uma meia-irmã agora — disse Aerin. — Madison. Eu
conheço ela.
— Na verdade, eu acho que nós dois temos um monte de amigos em
comum — Maddox tinha dito e, em seguida, citou um monte de nomes
de caras e meninas que ela conhecia. Ele não tinha a intenção de agir de
maneira arrogante, mas ele estava cansado do tom que ela usava enquanto
falava com ele. Como se ele ainda fosse um nerd total, sendo que agora eles
eram mais parecidos do que ela pensava.
Ele gritou ao completar a sua primeira volta. Na segunda volta, ele
pensou em Seneca e como ela tinha decidido ficar, depois de tudo. Por que
ela queria sair da investigação, de qualquer maneira? Sua decisão parecia
tão abrupta. Bem, melhor que ela houvesse decidido ficar — ela era
inteligente. Eles tinham uma melhor chance de encontrar algo com ela por
perto.
E então ele pensou em Brett — ele gostava de ter um outro cara na
equipe. Ele tinha conhecido Brett em um evento dos Casos Arquivados em
setembro passado perto de um campo de trilha no acampamento do
Rutgers. Maddox e os outros corredores foram autorizados a sair sempre
que dissessem aos conselheiros para onde estavam indo, mas ele não tinha
como explicar sobre seu hobby nos Casos Arquivados, de modo que ele
acabou escapando. Ele conheceu Brett logo no primeiro momento quando
ele entrou no hall do Olive Garden e eles sentaram-se juntos a noite
inteira, analisando todos os registros de telefone de um caso de assassinato
no Texas. Depois que o resto do grupo havia deixado o local, ele e Brett
ainda tinham assistido juntos a um jogo dos Giants no bar e Brett assobiou
ao conferir a impressionante identidade falsa de Maddox. Brett contou que
tinha dirigido até ali em seu Beemer 7-series. E Maddox não sabia explicar
bem porque, mas quis contar para Brett que seu padrasto tinha o mesmo
carro que ele, embora ele costumasse dirigir mais um Subaru.
Eles mantiveram contato desde então, e quando Maddox disse à Brett
que ele estava indo responder ao pedido de Aerin Kelly por ajuda, Brett
tinha perguntado se poderia participar também. Ele tinha a intenção de
contar esse detalhe à Seneca logo que ela chegou, mas eles tinham tido um
primeiro encontro tão tenso, que ele não sentiu que devesse acrescentar
mais tensão ao momento.
O final da última volta estava chegando. Estirando os braços, Maddox
se lançou em direção à linha de chegada.
A cabeça de Catherine estava inclinada, estudando o cronometro. Seu
coração afundou. Ele havia marcado um 04:04, 04:05, pelo menos.
Mas quando ela olhou para cima, ele notou um sorriso animado no
seu rosto. — 03:58:42.
A mandíbula de Maddox caiu. — Eu consegui!
Catherine saltou na direção dele e o abraçou apertado. — Isso é um
novo recorde, Maddy!
— Eu não teria sido capaz de fazê-lo sem você — Maddox falou
ofegante, apertando seus braços.
Seus olhares se encontraram e eles ficaram em silêncio. Maddox
sorriu. Catherine sorriu de volta. Foda-se, ele pensou. Ele inclinou-se e
tocou os lábios nos dela.
Catherine o empurrou. — Maddy, não, espere.
Maddox se afastou. — Oops. — Ele bateu na testa com a palma da
mão aberta. — Eu perdi a cabeça por uns segundos.
As bochechas de Catherine estavam rosadas. — Está tudo bem,
realmente! Quer dizer, não é que eu não te ache bonito. Eu acho. Eu tenho
pensado em nós... você sabe. — Ela baixou os olhos. — Mas eu sou a sua
treinadora.
— Ei, você não tem que explicar isso para mim — disse Maddox,
interiormente morrendo de vergonha. — Eu apenas fiquei animado por
causa do meu tempo e me empolguei. Ainda bem que você não é meu
treinador da escola. Beijar o Sr. Masters seria desagradável. — Ele riu,
esperando que sua agonia não fosse óbvia.
— Bem, tudo bem — disse Catherine, embora ele poderia jurar que
ela parecia um pouco chateada. — Que tal dar mais uma volta?
Mas, em seguida, o celular de Maddox, preso a uma faixa no braço,
soltou um apito. Maddox puxou para fora da manga e olhou para a
tela. Nova mensagem de Seneca.
— Meu quarto pegou fogo na noite passada — Seneca havia escrito. —
Eu estou com Brett agora. Talvez seja necessário aceitar a sua oferta sobre o quarto
de hóspedes.
A boca de Maddox caiu aberta. — Puta merda.
— Está tudo bem? — Catherine espiou seu telefone. — Quem é
Seneca?
— Eu preciso ir — Maddox disse fracamente, andando para trás em
direção às arquibancadas.
O rosto de Catherine murchou. — Mas nós temos mais dois
quilômetros para correr.
— Vamos adicioná-los à prática de amanhã. — Maddox vestiu as
calças de corrida, empurrou o seu telefone para dentro de sua bolsa de
ginástica e começou a atravessar o gramado. — Mesmo horário amanhã?
— Maddy — Catherine gritou para ele com uma voz firme. Ele
virou-se para trás. Ela parecia profundamente alterada e as manchas
rosadas ainda estavam em suas bochechas. — Você não está indo embora
por causa do que aconteceu, não é?
— De jeito nenhum — ele disse de maneira tranquilizadora, como se
ela fosse a pessoa que precisava de conforto. — Estamos totalmente em
paz.
E então ele acenou e caminhou o mais lentamente que pôde para longe
dela. Só depois que ele estava fora de sua linha de visão que ele começou a
acelerar, e depois, em seguida, a correr, esperando que o movimento de
seus braços e pernas pudesse apagar, pelo menos temporariamente, a
humilhação desenfreada correndo através de sua corrente sanguínea como
uma febre.
Não funcionou.
Capítulo 9
Traduzido por Ann

B rett Grady olhou para a placa de madeira sobre sua cabeça. Le


Dexby Patisserie dizia a placa, com uma seta apontando para uma
porta. Ele sorriu para o nome pretensioso, em seguida, virou-se para
Seneca, que estava ao lado dele.
— Como é que de repente toda fazenda pequena ou granja antiga se
tornou agora um gourmet, uma cafetaria, um spa ou até mesmo uma
boutique que só vende calças jeans de 500 dólares que só se encaixam em
meninas que não têm bunda?
Seneca lançou-lhe um olhar vazio que Brett só pode concluir que se
devia ao fato de ela ainda estar em estado de choque. Ele ajustou seu boné
de beisebol e avançou para dentro, segurando a porta para Seneca. Havia
pratos de porcelana Limoges lascados pendurados nas paredes e esculturas
de arte popular ao lado do balcão. O casco de um barco foi pendurado no
teto. O ambiente cheirava a pão acabado de cozer. Três mulheres bonitas
vestindo blusas de cashmere e brilhantes brincos de diamante conversavam
em uma mesa em frente. — Opa — Brett disse para a mais bonita, uma
morena alta, cavalheirescamente curvando-se e pegando seu guardanapo
de pano. A mulher olhou-o de cima a baixo, em seguida, fez careta e
baixou os olhos. Brett suspirou por dentro. Oh, bem. Ela não era o tipo
dele, de qualquer maneira.
Aerin estava sentado na próxima mesa, mas Maddy ainda não havia
chegado. Brett acenou e foi em direção a ela, sentindo-se empolgado. Ele
nunca tinha se juntado a um grupo grande para resolver um caso arquivado
— normalmente ele trabalhava sozinho em seus casos. Ele queria causar
uma boa impressão nas meninas, conquistá-las. Estas garotas eram
inteligentes. Eles iriam investigar o desaparecimento de Helena. Ele tinha
uma sensação boa sobre tudo isso.
— Bom dia — Brett disse enquanto ele se sentava em frente a Aerin.
Seneca sentou ao lado dela. Brett avaliou as duas meninas lado a
lado. Seneca tinha ajuntado seu cabelo molhado em um rabo de cavalo e
ela estava usando um vestido xadrez enrugado que estava na bagagem que
ela tinha sido capaz de recuperar com algumas outras coisas de seu quarto
após o incêndio ter acabado. Aerin, por outro lado, vestia um vestido cor
de rosa que parecia novo em folha. Seu cabelo estava escovado e sua
maquiagem estava perfeitamente aplicada.
Brett apontou para o vestido. — Ei, é Diane von Furstenberg?
A boca de Aerin caiu aberta. — Como é que você conhece as roupas
de Diane von Furstenberg?
Brett sorriu misteriosamente. — Eu sou um homem de muitos
talentos.
Aerin sorriu. — Claramente.
Brett sentiu uma sensação de calor no estômago. Ele não tinha
flertado com ninguém em muito tempo e ele não era bom nisso — ele
nunca sabia dizer quando uma menina estava falando sério ou apenas
tirando sarro dele. — Eu conheço um pouco da indústria da moda — ele
admitiu. — Se você precisar de um companheiro de compras, eu também
sou um bom estilista.
Seneca bufou. — Você vai assistir ela trocando de roupas escondido
pelo canto da cortina do vestiário?
— Claro que não! — Brett já havia decidido que Seneca parecia ser
aquele tipo de pessoa que nunca parecia confiar em ninguém. Mesmo esta
manhã, quando ele a levou ao seu novo hotel, o Dexby Water’s Edge, para
que ela pudesse tomar banho, ela parecia ter ficado paranoica achando que
ele fosse postar fotos sobre seu novo paradeiro no Instagram.
— Você contou a Aerin sobre o incêndio? — ele perguntou a ela,
tomando a decisão de mudar de assunto.
Aerin revirou os olhos. — A pousada Restful é uma armadilha mortal.
Brett entrelaçou os dedos. — Seneca acha que foi um incêndio
proposital.
Seneca zombou. — Não, eu não acho!
Brett olhou para Aerin. — Ela ouviu alguém sussurrando “Vá para
casa” pela porta, logo antes do fogo começar.
Os olhos de Aerin se arregalaram. — Alguém está atrás de nós?
— Não — Seneca disse com firmeza. — Devo ter imaginado. Além
disso, olhem... — Ela pegou o celular e mostrou-lhes um relatório de
notícias. “Fogo atinge a Pousada Restful de Dexby”. — A polícia não está
dizendo que o incêndio foi criminoso.
— Sim, mas eles não disseram também que não se trata de um
incêndio criminoso. Eles nem sequer investigaram ainda — Brett
argumentou.
Parecia loucura que alguém realmente pudesse estar atrás deles, não
é? Mas, no entanto, isso significaria que alguém sabia que eles estavam
revirando o caso sobre o desaparecimento de Helena. Ele olhou em volta
para os presunçosos clientes em volta dele. Talvez alguém aqui soubesse
mais do que eles estavam imaginando que soubessem.
Uma garçonete com um avental floral apareceu e perguntou-lhes se
eles queriam café. Depois de terem feito o pedido e seus cafés terem
chegado, Seneca apontou para a mochila de couro vermelho no colo de
Aerin.
— Você trouxe o origami?
— Não deveríamos esperar por Maddy? — Brett perguntou, mas as
meninas o ignoraram.
Aerin enfiou a mão na bolsa e pegou o pássaro vermelho de papel. Era
feito em um papel brilhante, tão brilhante que parecia brilhar mais quando
colocado na direção da luz. Quando Aerin virou-o, Brett apontou para algo
escrito em caneta preta em sua base em forma de hexagonal. — O que é
isso?
Seneca apertou os olhos. — OI — ela leu.
Aerin puxou para perto. — Eu não posso acreditar que eu nunca tinha
notado isso.
— Você acha que sua irmã fez isso? — Brett perguntou.
Aerin, que havia encomendado um café gelado, pegou um único cubo
de gelo de seu copo e colocou-o em sua boca. — Eu nunca vi ela fazer
origami. Nem uma única vez.
Seneca virou o origami em suas mãos. — Nós poderíamos tentar
buscar por impressões digitais, talvez.
Brett colocou a caneca sobre a mesa. — Não vamos envolver a polícia
nisso. Eles só vão estragar as coisas.
— Oook — Seneca concordou com prudência, encarando-o.
Brett apenas deu de ombros. Ele não estava à vontade para explicar
suas razões nesse momento.
— Que tal falarmos com Becky Reed? — ele disse, nomeando a
melhor amiga de Helena. Ele tinha lido sobre ela em algumas entrevistas.
— Talvez ela saiba quem deu o origami à Helena.
Aerin brincou com o canudo. — É.
— Aposto em Kevin Larssen — Seneca afirmou.
Aerin tocou a cabeça do origami. — Isso não soa como algo de Kevin,
na minha opinião.
— Não, eu não acho que ele lhe deu o origami. Eu quis dizer como
suspeito. Eu estava pensando sobre isso ontem à noite. Se Helena tinha um
namorado secreto, o Samurai Knight, o verdadeiro namorado dela não
deveria estar puto?
Aerin franziu o nariz. — Kevin tinha um álibi. Ele estava em uma
conferência naquele fim de semana.
— Para um programa estudantil, certo? — Seneca perguntou. —
“Juventude de Connecticut”?
— Sim. Ele vive para esse clube, ele chegou a trabalhar com um
senador durante o verão. Eu ouvia sobre isso o tempo todo sempre que ele
vinha jantar em casa. Meu pai vivia indiretamente através dele. Kevin era
como o filho que ele nunca teve.
Uma expressão melancólica atravessou o rosto de Aerin. Brett tocou
em seus joelhos. Em muitos aspectos, este grupo parecia conhecer coisas
do mundo que ele ainda nem havia vivenciado. Ele não sabia muito sobre
o Sr. Kelly, exceto que ele era um poderoso executivo de Wall Street.
Seneca mexeu o café. — A Juventude de Connecticut é um grupo
fechado, certo?
— Sim, eles são bem unidos — disse Aerin. — Eles se levam tão a
sério, no entanto. Como se estivessem em uma espécie de sociedade
secreta.
Seneca assentiu. — Você sabia que supostamente Kevin deveria ter
feito um discurso sobre liderança nessa conferência, mas aparentemente
ele não o fez?
— Onde você descobre essas coisas? — Brett perguntou.
— Foi publicado em um artigo logo após Helena desaparecer. Os
policiais não seguiram essa pista.
— Eles são incompetentes — Aerin inclinou-se sobre os cotovelos.
— Então, pode ser que Kevin não estivesse lá.
— Não há nenhuma foto dele na conferência. E há fotos de todos os
outros membros.
Aerin torceu a boca. — Mas todos eles disseram que o viram lá.
— Sim, bem, é a palavra deles contra a nossa — Seneca disse
firmemente.
Aerin suspirou, então se levantou. — Em breve continuamos. — Ela
afastou-se para o banheiro das mulheres.
Seneca observou a porta fechada. A situação lembrava Brett daquelas
pessoas que ficavam olhando para os números dos elevadores que subiam e
desciam, tudo para não ter que dar continuidade a alguma conversa
fiada. Ele chamou a atenção de Seneca e sorriu, mas Seneca apenas o olhou
com desconfiança.
— O que você está estudando na faculdade? — Brett perguntou,
ciente de que era uma pergunta banal.
Seneca deu de ombros, brincando com o menu laminado. — Coisas
básicas, principalmente.
— Você já escolheu uma carreira definitiva?
— Não. Ainda não.
— Você deveria. Quanto mais cedo você fizer isso, às melhores
matérias você consegue se candidatar.
Ela lançou-lhe um olhar irritado. — Eu já tenho um conselheiro na
minha cola, muito obrigada.
Brett brincava com a colher do café. Ele pensou que conhecia o tipo
de Seneca. Ele ficou imaginando toda a manhã como deveria se
aproximar. Respirando fundo, ele decidiu tentar conversar. Manter sua
opinião sobre ela para si mesmo parecia insincero. Talvez se ela soubesse
que ele entendia por que ela estava aqui, isso pudesse ajudar. — Hum,
sabe como eu sei bastante sobre moda? — Sua voz falhou. — É por causa
da minha avó. Talvez você já ouviu falar dela. Vera Grady? De Greenwich?
As sobrancelhas de Seneca se levantaram. — Sua avó é aquela herdeira
da moda que foi assassinada?
Brett concordou, abaixando a cabeça.
Seneca piscou forte. — Uau.
Brett pensou que ela deveria ter visto no noticiário: mulher idosa e rica
é encontrada esquartejada em seu quintal com um machado ao lado. Foi a
governanta que a encontrou. Espanoza ou Esmeralda — Brett esqueceu
seu nome.
— Ela e eu éramos bem próximos. Tenho tantas saudades dela.
— Jesus — Seneca sussurrou, agarrando o colar que ela nunca parecia
deixar de usar.
— Eu tentei descobrir o que aconteceu com ela por mim mesmo —
Brett confidenciou em voz baixa. — Eu não pude fazer ser preso nem
mesmo encontrar quem fez isso com ela, mas aparentemente eu
prejudiquei uma testemunha com quem a polícia estava tratando, então
eles ficaram muito chateados comigo e exigiram que eu ficasse fora do
caminho. Eles disseram que iriam me prender por obstrução da justiça.
Seneca franziu a testa. — Isso é uma droga.
— Eu sei disso agora. — Brett sentiu seus ombros levantando. — É
por isso que eu não quero me envolver com a polícia. É por isso que sou
cauteloso. Por que quero descobrir todas as teorias sobre a morte dela. E
também quero ajudar outras pessoas. — A voz dele falhou. — Pelo menos
eu posso fazer isso.
Pela primeira vez, Seneca pareceu realmente olhar para ele. — Sinto
muito, Brett.
— Obrigado. Eu queria ter te contado antes. — Seu coração batia
forte. — Eu sei o que aconteceu com você, também.
Seneca se encolheu. Suas pupilas ficaram muito pequenas. — Hã?
— Eu pesquisei sobre você — disse Brett, desejando não soar tão
intrusivo. — Eu estava pesquisando e tentando descobrir sobre todos os
que estavam ajudando nesse caso. E... vi que a sua mãe foi morta. Collette
Frazier.
O sangue sumiu do rosto de Seneca.
Ele deslizou um pouco mais à frente. — Eu estou aqui se você quiser
conversar. Eu já passei por isso. Eu sei o quão difícil isto é. E, quero dizer,
eu adoraria ter alguém para conversar sobre isso comigo também. — Ele
bateu os dedos nervosamente na mesa. — Talvez todos nós devêssemos
falar sobre isso. Você, eu, Aerin...
Seneca se inquietou, empurrando a cadeira para trás com tanta força
que raspou no chão. Seus olhos estavam arregalados. A boca dela parecia
ter se apertado.
— Não temos que incluir Aerin nisso se você não quiser — Brett
sussurrou apressadamente. — Eu entendo totalmente se você não quiser
que mais gente saiba.
Mas, antes de Seneca responder, seu olhar se virou à esquerda, e um
pequeno som torturante escapou de seus lábios. Brett virou a cabeça,
também. Aerin tinha voltado do banheiro e sentou-se em sua
cadeira. Maddox também apareceu. Ambos tinham expressões estupefatas
em seus rostos, como se tivessem ouvido cada palavra.
Merda.
Capítulo 10
Traduzido por Ann

A erin observava como os dedos de Seneca ficaram se revezando da


caneca para a mesa. Antes que alguém pudesse dizer uma
palavra, ela se virou e fugiu do café. Aerin saiu atrás dela, porém, antes
disso, olhou por cima do ombro para Brett. — Da próxima vez que você
souber um segredo sobre alguém, pergunte primeiro se a pessoa quer que
você saia falando sobre isso.
Brett parecia querer começar a berrar. — Eu não sabia que você
estava aí!
Aerin acreditava nele — quando ela voltou do banheiro, Brett estava
inclinado em direção a Seneca e virado para o outro lado da mesa,
totalmente alheio ao mundo. — Ela obviamente não queria falar sobre
isso, Dr. Phil.
Ela foi grosseira, mas, realmente, o que Brett estava pensando? Que
eles fossem agora como uma espécie de uma banda quando estavam juntos:
“Os Jovens Feridos que desvendavam assassinatos de outras pessoas”? Se
fosse assim, eles poderiam cantar músicas edificantes e pedir para as pessoas
levantarem as mãos? Sim, certo. Ela não culpava Seneca por haver surtado.
E Jesus Cristo! Aerin recordou a história de Vera Grady — ela não
conseguia imaginar como Brett poderia ter superado tudo isso.
Mas a história da mãe de Seneca conseguia ser ainda pior. Pelo que
Aerin recordava, aquilo aconteceu pouco antes de Helena desaparecer,
embora não tenha recebido muito destaque na mídia. A pobre mulher,
uma jovem mãe com olhar marcante, cabelo loiro platinado e um sorriso
deslumbrante, havia sido encontrada dois dias depois de seu
desaparecimento, seu corpo jogado em um cais. Aerin também tinha
ouvido falar que o legista havia intimado Seneca, que deveria ter no
máximo quinze anos na época, para reconhecer o cadáver. Será que aquele
procedimento era realmente legal?
Ela empurrou a porta da frente do café. Lá fora, o céu estava cinza e
a temperatura tinha despencado. Seneca estava na beira do
estacionamento, seus braços apertados em torno de seu torso. Quando ela
viu Aerin vindo, ela fingiu estar fascinada por um aviso de limite de
velocidade. — Eu não quero conversar.
— Por mim tudo bem — disse Aerin. — Você não tem que falar
sobre isso nunca mais. Eu não quero saber. Quero dizer, talvez você não
tenha notado, mas eu não sou uma boa ouvinte, de qualquer maneira.
Não era verdade — Aerin gostaria de saber como Seneca se sentia
depois daquele dia — mas ela abordou Aerin como alguém que
compartimentalizava partes de sua vida, para logo depois entrar em pânico
quando a sua própria história veio à tona.
— Eu não posso acreditar no que Brett... — A voz de Seneca falhou.
— Foi por isso que eu parti ontem. Eu não poderia ser útil neste caso.
Aerin revirou os olhos. — Entendi. Você tem bagagem
emocional. Mas só porque as pessoas sabem sua história, isso não muda
nada. Você teve uma experiência ruim de novo há poucas horas atrás,
também, e mesmo assim estava disposta a continuar trabalhando no caso,
certo?
Seneca não respondeu. Aerin soprou ar para fora de suas
bochechas. — Ajudaria se eu lhe disser que você é a mais inteligente
aqui? Muito mais inteligente do que aqueles meninos idiotas? Sem você,
nós definitivamente não vamos desvendar nada. Portanto, não desista.
Ugh. Depois de dizer tudo isso, ela quase queria tomar um banho. Ela
odiava ter que implorar. Isso a fazia se sentir mais suja do que quando ficava
saindo com caras aleatórios.
Seneca subiu sua bolsa de couro em seu ombro. — Ok — ela disse
em um tom de voz estoico, como se dissesse “esses são os meus
sentimentos e ninguém vai interferir neles”, o que Aerin definitivamente
se identificava. — Mas nós não falaremos mais sobre isso. Entendido?
— Fechado! — disse Aerin. — E se eu pegar qualquer outra
pessoa falando com você sobre essas coisas que você não gosta, eu vou
enforcá-la.
Seneca quase sorriu e o interior de Aerin se aqueceu. Mesmo que ela
tivesse acabado de dizer que não era uma boa ouvinte, ela teve a sensação
de que ela e Seneca poderiam ter uma boa relação.
Aerin caminhou com ela até uma mesa ao ar livre e se sentou. Era
muito frio para estar lá fora, mas ela duvidava que Seneca quisesse voltar e
enfrentar os meninos neste momento. — As suas suspeitas sobre Kevin são
interessantes. Você acha que seus amigos estavam encobrindo ele e
mentiram sobre seu álibi?
Seneca inclinou-se ao lado dela. O vento soprava seu cabelo
encaracolado em seu rosto. — Não há nenhuma prova de que Kevin estava
realmente na conferência, apenas o que seus amigos disseram. Quem pode
garantir que eles não estão todos juntos nisso e inventaram uma história?
Aerin começou a cutucar uma lasca de madeira no banco. Os amigos
de Kevin poderiam tê-lo acobertado enquanto ele estava fazendo algo
horrível? Ela tinha beijado um daqueles caras recentemente, ela recordou
— Tim Anderson, em uma festa na piscina no verão passado. A lembrança
deu-lhe uma sensação profunda e doentia sobre a traição que ele poderia
ter cometido enquanto olhava em seus olhos, tocava seus lábios, dizia que
ela era bonita, ao mesmo tempo em que talvez estivesse retendo um cruel
segredo, detalhes sobre sua irmã.
Seneca pegou o telefone. Ela clicou em um ícone de nuvem, em
seguida, passou para Aerin. Uma história de cinco anos atrás se reproduzia
na tela; era sobre a conferência da Juventude de Connecticut, todos
completamente alheios ao desaparecimento de Helena. Havia uma foto do
grupo da Windemere-Carruthers — com dois garotos que ela já tinha
beijado, Aerin observou, e logo ao lado deles havia uma garota nerd
chamada Pearl Stanwyck que provavelmente tinha passado a conferência
desejando ter relações sexuais com todos ou talvez tenha apenas ficado
vagando sozinha.
Kevin estava no centro com um sorriso de satisfação no
rosto. Próximo a ele, com um dos braços em torno dos ombros de Kevin,
estava James Gorman, o senador de Connecticut para quem o grupo
trabalhava naqueles verões.
— O sorriso de Kevin parece sorrateiro — Aerin disse
fracamente. Ela odiava ter que olhar para o namorado de sua irmã sob um
novo ângulo. Ele tinha soluçado durante todo o serviço memorial que eles
fizeram para Helena. Ela lembrou-se de quando ele ofereceu-se como
voluntário com Helena em um hospício. — Nós principalmente
seguramos as mãos deles — Kevin explicou tristemente durante um jantar
em família. Helena tinha tocado o ombro dele, os olhos cheios de
admiração, e por um momento Aerin entendeu por que ela gostava dele.
Seu estômago se abateu. Falar sobre Helena estava mexendo com sua
mente. Ela tinha inclusive momentos em que se pegava pensando que
Helena pudesse voltar, uma espécie de aparição transparente ao seu lado.
Aerin percebeu que voltava a cair em rotinas que só tinha quando
Helena ainda estava viva, como, por exemplo, gritar “Boop!” quando as
torradas pulavam da torradeira, algo que Helena amava fazer. Esta manhã,
com a torrada na mão, ela até se virou, antecipando a risada de Helena.
Seneca clicou no ícone para o anuário virtual da Windemere-
Carruthers e folheou as páginas.
Além de mais fotos de Kevin e de seu grupo político da Juventude de
Connecticut, havia também um monte de outras selfies de Kevin. Em pé
na quadra de basquete. Dando um discurso no auditório. Liderando um
grupo de crianças por um corredor. Abraçando uma mulher obesa
identificada como Sra. G., bibliotecária da escola.
Seneca recostou-se. — Ele me parece o tipo de cara que poderia
ajudar uma velha senhora a atravessar a rua, mas que deseja também ganhar
sempre algum crédito por sua boa ação.
— Totalmente — Aerin concordou.
— O que você lembra sobre ele?
Aerin se recostou. — Ele parecia... normal. Ele era meio rígido,
quase como se suas juntas precisassem de óleo. Eu dei um apelido para ele,
Puppet. Como uma marionete. Helena não achava isso engraçado. — Sua
garganta travou, lembrando como o rosto de Helena tinha endurecido
quando ela lhe disse isso. Quando você ficou tão má? ela tinha dito para Aerin.
— Eu não estava brincando quando disse que ele e meu pai eram bem
próximos — ela continuou. — Quando Kevin aparecia, ele e meu pai
falavam sem parar. Helena quase não prestava atenção neles. E, quero
dizer, ela também começou a se vestir de modo diferente, no início do
verão. Como uma hippie. Kevin costumava tirar sarro de suas roupas. Eu
sempre me perguntava por que Helena não terminava investindo naquele
cara da nossa escola chamado Raj Juniper. Ele era alto e sexy e fazia seus
próprios sapatos com pneus reciclados.
— Talvez ela namorava Kevin para agradar seu pai.
Aerin abraçou seu peito — sua pele estava ficando arrepiada de frio.
— Meus pais brigavam muito. Talvez manter Kevin por perto era sua
maneira de manter o papai feliz.
— Seu pai não está por perto agora, não é?
Ela encolheu os ombros. — Ele está em Nova York. Não é como se
ele estivesse tão longe.
— Mas ele não é exatamente um pai presente. Quero dizer, você não
costuma vê-lo sempre, não é?
Aerin sentiu uma pontada de aborrecimento. Em que ponto a
conversa tinha se voltado tão reveladora e melosa?
— É em parte culpa minha. Eu odeio Nova York, então eu não vou
para lá muito frequentemente. É tão suja.
Seneca olhou para ela, então voltou a olhar para a página sênior de
Kevin. Seus olhos se arregalaram. — Olha isso!
Aerin inclinou-se e olhou para onde Seneca estava apontando: uma
dedicatória em itálico sob a sua imagem. Estava escrita sob a forma de um
poema.

Você prosperará, peregrino


não vai ser uma cabeça dura
ter uma risada de pterodáctilo!
o que você é, mais doce que o mel e merece tudo isso,
amando H como oxigênio.

Aerin bufou. — Ele deve estar tentando manter as aparências.


— Eu sei. Mas veja: conte as palavras de cinco em cinco, começando
com você.
Aerin levantou a cabeça. — Outro código skip? — ela perguntou
incerta e então começou a contar. Quando ela terminou, engasgou.

Você vai ter o que merece, H.


Capítulo 11
Traduzido por Ann

A lgumas horas mais tarde, Seneca e Maddox chegaram à frente da


casa de Maddox, um enorme casarão colonial azul com três
dormitórios, janelas imensas, uma varanda grande com duas cadeiras de
balanço amarelas e uma cerca de madeira branca. — É tão... Connecticut
— Seneca sorriu. Ela não conseguia acreditar que realmente tivesse feito
uma piada agora, mas, no entanto, mascarar o que ela estava sentindo não
era realmente nada novo para ela.
Ela puxou as malas da parte de trás do jipe e agarrou o buquê de
margaridas que tinha comprado na loja de flores perto do Le Dexby Patisserie
para o Sr. e a Sra. Wright como um agradecimento por deixá-la ficar
hospedada na casa. Maddox levou-a até o caminho da frente, passaram por
um hall de entrada com piso em parquet e uma mesa ao centro com fotos
de família, logo depois chegaram em uma grande cozinha, bem ao estilo
caseiro, pintada em tons amarelos e vermelhos. Ela colocou as flores na
água e, em seguida, eles se dirigiram até uma escada atapetada que conduzia
a uma porta. Maddox abriu a porta com o ombro. — Aqui está seu quarto.
Dentro havia um longo sofá, um tapete de bolinhas, arte expressiva e
fresca nas paredes e uma cozinha pequena com um balcão de café da
manhã. Maddox atravessou o espaço. — Você tem uma minicozinha e
também TV a cabo. — Ele abriu uma porta na parte de trás. —
Banheiro. Toalhas limpas. — Seneca espreitou e viu um chuveiro com uma
cortina de plástico com desenho de peixinhos. — E aqui está o quarto. —
Ele andou por outra porta para revelar uma cama queen-size com uma
mesinha de cabeceira.
— Obrigada, isso está ótimo — disse Seneca. — Estou um pouco
cansada. Eu acho que gostaria de deitar um pouco.
Maddox assentiu, mas não se mexeu. Os braços de Seneca se
contraíram. Era estranho estar aqui em um quarto com ele. Ela sentia-se
ainda mais exposta do que ela tinha se sentido no café, com todo o seu
passado exposto naquela mesa de refeição rodeada de pessoas.
Ela se movimentou para abrir a sua mala de viagem, ao mesmo tempo
em que Maddox foi mexer na porta, e eles colidiram, Seneca batendo
direto do seu lado.
— Opa — ela disse entredentes. — Ela se afastou e Maddox fez o
mesmo, mas não antes que seus olhos encontrassem os dela. Um sorriso se
contorceu em seus lábios. Suas bochechas queimaram. O abdômen dele
tinha parecido tão firme debaixo daquela camiseta que ele vestia, que só de
pensar ela começou a se sentir envergonhada e desorientada. Ela ainda
estava incomodava de pensar que ontem, a esta hora, ela ainda estava
esperando um Maddy muito diferente. Uma pessoa que não tinha um
abdômen de tanquinho. Uma pessoa cujo bumbum ela não teria reparado.
Então Maddox se agachou e rapidamente tirou algo da sacola que ele
trouxe do andar de cima. — Eu quase esqueci. Toma.
Ele entregou-lhe uma garrafa de cerveja Red Stripe. Ainda estava
gelada. Seneca franziu a testa para ele. — Eu realmente não estou com
vontade de festejar agora.
Ele balançou sua cabeça. — É apenas no caso de você mudar de
ideia. Eu tenho mais na geladeira lá de cima. — Ele deu um passo mais
perto. — Depois do tipo de dia que você teve, eu pensei que poderia...
ajudar. E eu lembro que você disse uma vez que essa era a sua cerveja
favorita. — Ele deu de ombros e voltou-se para a porta. — O abridor de
latas está na gaveta da geladeira. Eu estou indo dar uma corrida. — E então
ele se foi.
Seneca olhou para a porta fechada e depois para a cerveja nas mãos. O
gesto de Maddox era estranhamente reconfortante e, na verdade, era
exatamente o que ela precisava no momento. Ela não queria uma longa
conversa, como tantos outros tinham oferecido assim que ficavam sabendo
sobre sua mãe. Ela não precisava de um abraço. Ela não queria um cartão
ou um tapinha no ombro. Bem, ponto para Maddox por descobrir
isso. Então, por que ela sentia que estava mais irritada ainda com ele?
Ela encontrou o abridor de garrafas, tirou a tampa, e examinou o
quarto. Na geladeira havia um ímã com o mascote da Universidade de
Maryland, uma tartaruga d’água. Claramente Maddox tinha colocado lá
para agradá-la, e isso fez ela sentir uma pontada de culpa. Na prateleira no
canto haviam livros de bolso de mistério — ela já havia lido todos eles —
e uma cópia do 14.000 dicas para ser feliz. Sentindo uma raiva de repente,
ela virou a capa do livro em direção à parede. Ela esperava que não tivesse
sido Maddox quem tivesse posto aquele livro lá para ela. Depois que a mãe
dela foi assassinada, seu vizinho idoso, que Seneca sempre chamava de
Bertie, tinha dado a ela esse mesmo livro. Sem ofensa, Bertie, mas ler
besteiras sobre como ter anões de jardim alegram a visão não fazia parte
das crenças dela.
Ela sentiu o aperto na garganta. Você não vai chorar. Mas Brett tinha
causado uma rachadura em sua armadura. Tudo o que ela conseguia pensar
agora era em sua mãe. Exatamente o que ela mais tentava poder esquecer.
Tomando um grande gole de cerveja, ela pensou naquele dia
entorpecente quando a mãe dela, Collette, desapareceu, todas as ligações
frenéticas para a polícia, seu pai preso em Vermont por causa de
tempestades de neve. Depois de terem encontrado seu carro naquele
estacionamento e seu corpo naquele cais, as agências de notícias passaram
alguns dias tentando cobrir aquele assassinato estranho, mas, em seguida,
o foco deles mudou-se para o caso de Helena. A família de Seneca não
costumava ir no Nancy Grace como os Kelly iam. A história deles não iria
interessar ao New York Times. Ninguém se preocupava com o luto de um pai
negro ou da filha mulata, mesmo que a mãe dela tivesse sido uma linda
mulher branca. Em vez disso, Helena e sua família perfeita de Connecticut
tinham se tornado o centro das atenções, empurrando o caso de sua mãe
para o fundo de uma longa lista de crimes não resolvidos.
Enquanto isso, Seneca não tinha mais mãe. Sua voz não despertava
mais Seneca a cada dia. O rosto dela nunca mais apareceu na cozinha
quando Seneca chegava da escola. Seneca nunca sequer chegou a dizer
adeus. A última lembrança que ela tinha de sua mãe era de um rosto
irreconhecível em uma sala fria, estéril e infernal.
A dor tinha sido muito poderosa para enfrentar completamente, era
como se fosse uma correnteza forte varrendo-a para o mar, destroçando
todo o resto — comer, respirar, dormir. Durante semanas, ela ficou
encolhida em sua cama agarrando o colar com a letra P que pertencia a sua
mãe, o mesmo que ela ainda usava hoje. O P significava Pinky (N.T.:
Mindinho), um apelido carinhoso que sua mãe ganhou porque era muito
pequena e magrinha. Por mais de um mês, Seneca não saiu da cama. Não se
movia, exceto para usar o banheiro. Ela ouvia sussurros preocupados do
lado de fora da porta. Seu pai trouxe um padre, um assistente social e até
uma terapeuta chamada Dra. Ying. Ele trouxe também a tia favorita de
Seneca, Terri, mas mesmo ela não conseguiu quebrar seu escudo. Se
sentindo somo alguém em estado de coma, ela pôde ouvir certa vez a
palavra unidade psiquiátrica sendo dita por alguém. Ela ouviu também algo
sobre transtorno de estresse pós-traumático. Luzes brilhantes de aparelhos
médicos brilharam diversas vezes examinando dentro de seus
olhos, perguntas delicadas eram feitas a ela a cada hora por
profissionais. Mas ela continuava se sentindo como se estivesse afundando
em sete camadas de si mesma. Ela se sentia incapaz de sair do túnel.
Até que um dia, quando ela nem sequer esperava, ela começou a
reagir novamente. Talvez a medicação finalmente tivesse começado a
funcionar. Talvez seu corpo e mente decidiram lutar e vencer essa
batalha. Ela de repente começou a ir para a escola novamente. Declarou-
se bem. Houveram algumas dificuldades — uma vez ela chegou a enfrentar
um cara na cafetaria porque ela achava que ele estava rindo dela pelas
costas, e uma outra vez que ela também agiu de maneira agressiva durante
uma discussão na aula de Inglês sobre Hamlet em um debate se ele deveria
ou não assassinar seu padrasto/tio. Mas ela chegou até o ensino
médio. Depois foi para a faculdade. Ela estava lidando com aquilo.
Bem, mais ou menos...
Houve um baque. O telefone de Seneca caiu de seu colo para o
chão. Quando ela o pegou, a tela brilhou exibindo as últimas mensagens
que tinham chegado, incluindo uma do seu pai. Como está Annie?
Seneca bebeu mais cerveja, sentindo-se apática. Ela ansiava dizer ao
seu pai a verdade... sobre tudo. Sobre a forma como a dor de perder sua
mãe nunca a tinha deixado. Como ainda era uma dor torturante e quente,
vivendo dentro de seu peito e parecia estar piorando. Mas ela não podia
fazer isso com ele. Ultimamente, ela tinha pensado em chamar a terapeuta
que seu pai encontrou para ela, mas a Dra. Ying provavelmente iria
convidá-la a fazer aquela terapia aleatória com desenhos ou ficaria falando
com uma voz de empatia sobre como ele entendia o que Seneca estava
passando. Como inferno ela podia realmente entender? Como alguém
poderia sequer imaginar?
Ok, exceto Brett. E Aerin. Mas ela não sabia se deveria confiar tanto
assim neles, como se ela tivesse vindo a Dexby para além de tudo formar
um grupo de apoio. Ela estava com medo, também — com medo de que
se ela começasse a falar sobre sua mãe, ela não conseguisse parar nunca
mais.
A maçaneta da porta começou a mexer. A cabeça de Seneca
disparou. O barulho persistiu. Seneca levantou, pensando sobre aquela
figura escura aparecendo na porta do hotel. Poderia esse alguém ter
voltado?
A porta se abriu. Todo o corpo de Seneca ficou tenso. Em seguida,
apareceu uma menina asiática com cabelo longo e escuro, vestindo um
vestido ultracurto cor de rosa de tecido felpudo, meias brancas e botas de
salto. Seneca expirou. Era Madison, a meia-irmã de Maddox. Ela poderia
reconhecê-la em qualquer lugar.
— Com licença? — ela falou, espreitando o sofá.
Madison virou e gritou. — O que... — Ela se aproximou. —
Oh! Você é Seneca? A amiga de Maddy?
Ela tinha uma voz estridente e alegre, e sua maquiagem era um pouco
exagerada. Seu perfume cheirava a pêssegos. Pixy Stix, Seneca pensou
imediatamente, jogando o jogo dela e de Maddox.
Madison disparou em direção a Seneca e agarrou as suas mãos. — Eu
sou Madison! Eu pensei que você ia chegar na noite passada! Você está
apenas visitando meu irmão por poucos dias? Você vai ficar conosco até a
festa da Páscoa? Vocês se encontraram na Internet, não é? Por um
site? Pessoalmente, eu quero tentar o Tinder, mas ouvi que os caras lá são
porcos. — Ela soltou um agudo eca. — Se você precisar de tempo longe
do meu irmão, está convidada a vir ao meu quarto, podemos fazer uma
sessão de manicure. Eu até tenho uma luz LED para géis. Olha as suas
cutículas! Você precisa de ajuda. Você se importa se eu fumar aqui?
— O... o quê? — Conversar com Madison era como tentar segurar
um beija-flor.
Madison pegou um cachimbo de vidro rosa e roxo. — Este é o meu
lugar secreto para fumar. Não conte para o meu irmão, ok? Ele sabe, mas
ele está sempre me repreendendo. — Ela revirou os olhos. — Ele corre,
tipo, três vezes por dia. Um dia, no jantar, ele disse que correu em ritmo
de maratona por toda a pista. Isso é, tipo, cem quilômetros.
— Eu acho que é quarenta e dois quilômetros — Madison deu-lhe
um olhar vazio. — Ele não conseguiu ainda uma bolsa de estudos,
certo? Talvez por isso ele anda praticando tanto — acrescentou Seneca.
Madison coçou a cabeça. — Eu sou uma má anfitriã! Os hóspedes
primeiro.
Seneca olhou para o cachimbo estendido, em seguida, ergueu a
cerveja. — Estou bem.
Madison deu de ombros, tirou um isqueiro todo decorado com o que
pareciam cristais Swarovski e acendeu o cachimbo. Seneca tentou conciliar
esta menina com a pessoa que ela imaginou ter amizade no Facebook.
Então Madison se inclinou mais perto. — Então você não está aqui
para dar uns amassos no meu irmão, não é?
Seneca caiu na gargalhada. — De jeito nenhum.
— Certo — Madison assentiu sabiamente. — Eu percebi isso.
Seneca fez um esforço para não mostrar um sorriso falso. Madison
pareceu desdenhar extremamente da possibilidade. Será que Maddox fez
algum tipo de comentário de que eles não eram compatíveis? Será que
Seneca não era seu tipo? Bem, obviamente. Mas mesmo assim — será que
ela não poderia jamais ser boa o suficiente para o Sr. Maratonas?
— Então, por que você está aqui? — Madison se apressou a dizer.
Seneca piscou. Ela sentiu como se ela tivesse acabado de entrar em
uma caverna cheia de víboras; qualquer movimento repentino faria as
víboras atacarem. — Corridas — ela disse. — Eu também pratico.
— Então por que você não está correndo com ele agora?
— Eu...
Então o telefone de Madison apitou. Ela o olhou e gritou. — Isso é
um pênis?
Ela empurrou seu telefone na cara de Seneca. Seneca olhou para a foto
na tela. Era a foto de um cara meio baixinho com uma sunga bem
transparente. — Credo.
— Nada de credo. Esse é o capitão do time de lacrosse. — Madison
deu um pulo. — Eu tenho que enviar uma foto de volta.
Ela olhou para o espelho redondo decorado com conchas e ajeitou o
cabelo.
Seneca olhou para ela. — Por favor, não me diga que você vai ficar
nua.
— Uh, não. — Madison franziu o nariz. — Mas eu vou mostrar um
pouco de decote. — Ela alisou o vestido. — Isto está tudo errado. Quer
me ajudar a escolher outra coisa?
— Isso não é realmente a minha especialidade.
— Boo — Madison zombou. Ela pegou seu cachimbo e atravessou a
porta aberta em direção as escadas. Então virou-se para trás e lançou à
Seneca um olhar malicioso. — É por causa de Helena Kelly, não é?
— O... o quê?
— É por isso que você está aqui. Maddy está investigando ela de novo.
De novo? Seneca tentou pensar em uma desculpa, mas ela sabia que sua
expressão a delatou, porque Madison correu de volta para o quarto. —
Deixem-me ajudar.
— Ajudar?
— Eu conhecia Helena, também — Madison se aproximou, o cabelo
cheirando a maconha. — Antes da minha mãe morrer, ela esteve em
cuidados paliativos, e Helena era voluntária no hospital. Um dia, ela parou
no 7-Eleven para comprar para a minha mãe um Naked Juice, porque era
a única coisa que ela aguentava comer. Ela não precisava ter feito isso...
— Sinto muito por sua mãe — Seneca disse automaticamente. —
Mas eu não acho que seja uma boa ideia. Isso poderia ficar perigoso.
Madison bufou. — Eu não tenho medo do perigo.
— Na verdade, não vai ser perigoso coisa nenhuma. Acho que vai
estar mais para chato — Seneca inverteu sua história, tentando desmotivar
Madison. — Nós provavelmente vamos desistir em breve. Nem chegamos
a lugar nenhum.
Madison olhou para o celular de Seneca, que estava virado para cima
na mesa. A mensagem de Seneca para o pai dela estava aberto; a coisa tinha
mudado para o Google aparentemente por conta própria. Na caixa de
pesquisa estavam escritas as palavras: Kevin Larssen, agenda de
campanha, brilhando como o dia. Seneca tentou esconder a tela, mas o
estrago já estava feito.
— Você acha que o Kevin é suspeito? — Madison guinchou. — Ele
era um voluntário do hospital, também. Eu não conhecia ele muito bem,
mas ele não parece ser um cara louco e raivoso que mata pessoas.
— Nós apenas queremos falar com ele — Seneca disse rapidamente,
sentindo-se irritada. — Certas coisas não fazem sentido sobre seu álibi.
— Então ligue para seu escritório de campanha. É na cidade.
Seneca zombou. — Se ele for culpado, ele nunca vai falar. Temos que
pegá-lo de surpresa.
O sorriso de Madison se aumentou. — Você está com sorte,
então. Eu conheço um lugar onde ele estará de guarda baixa, com certeza.
O Dexby Country Club, amanhã. Será a sua festa de noivado.
— Como você sabe disso?
Madison sorriu para Seneca e enroscou um braço no dela. — Porque
eu recebi um convite.
Capítulo 12
Traduzido por Ann

T erça-feira à tarde, Maddox estava em um quarto cheio de


almofadas, cortina rosa com desenhos de leopardos, pôsteres da
Kate Perry e todo tipo de coisas da Hello Kitty. Seus pés descalços
afundaram em um tapete felpudo todo colorido, e ele olhou para o
armário, que estava recheado com vestidos, tops, sapatos e bolsas. Seneca,
Aerin e Brett estavam atrás dele. E de pé na frente dele, rindo
histericamente, estava sua meia-irmã, Madison. Este era seu armário; este
era o seu quarto.
— Tudo bem, senhoritas — Madison apontou para as portas do
armário abertas. — Para uma festa no Dexby Country Club, eu vou
direcionar sua atenção para a seção 3-A de Marc Jacobs.
Aerin bufou. — Seu armário está organizado como se fosse um
estacionamento?
As duas começaram a falar sobre o comprimento dos vestidos, tecidos
e estilistas — bem, ele assumiu que falavam sobre estilistas, embora ele
realmente não soubesse bem. Seneca ficou para trás, parecendo um peixe
fora d’água, mas, em seguida, Madison segurou um vestido para ela e
puxou-a em sua direção. Maddox deitou sua cabeça contra a parede e fingiu
roncar. Este tipo de besteira iria mesmo colocá-lo para dormir.
Na noite passada, houve uma batida na porta. Ele esperava que fosse
Seneca — talvez ela quisesse falar sobre sua mãe. Ele não conseguia parar
de pensar nela. Ele tinha pesquisado toda a história de sua mãe e leu
algumas das entrevistas de Seneca. Ele tinha encontrado um link da CBS
News, e tinha ficado um bom tempo olhando para uma foto de Seneca de
cinco anos atrás. Seu pequeno rosto era tão inocente e assustado.
Como ela tinha escondido aquilo tão bem? Como ela fazia? Isso
explicava por que ela se apavorou quando ele insinuou sobre
Aerin. Seneca sabia como Aerin se sentia.
Em vez de Seneca, era a sua irmã quem tinha batido na porta. —
Conheça o novo membro da sua equipe! — Madison falou, levantando os
braços sobre a cabeça. — Vamos pegar o assassino de Helena Kelly.
Maddox tinha sido pego de surpresa. — Foi Aerin quem te contou?
— Aerin tinha mencionado conhecer Madison. — Não, Seneca me contou
— Madison respondeu. — Isso foi ainda mais estranho. Por que Seneca
tinha contado aquilo? — Vocês precisam de mim — Madison insistiu. —
Você quer falar com Kevin Larssen e eu tenho um convite para a festa de
noivado dele amanhã. Todos ganhamos.
Maddox e sua meia-irmã se davam bem. Quando suas famílias se
mesclaram, ela nunca agiu de maneira mal-intencionada ou manipuladora,
como as meias-irmãs da TV. E quando Maddox tornou-se popular,
Madison praticamente perdeu a cabeça de tanta alegria, dizendo que eles
precisavam fazer uma festa em honra à Maddox, algo que ele tinha
imediatamente rejeitado. Mas essa era a coisa: Madison tinha um jeito de
fazer tudo se tornar uma diversão eterna, uma vida cheia de almofadas fofas
e cortinas cor de rosa — algo excelente quando Maddox queria espionar
as meninas em uma festa do pijama, mas inadequado para resolver um
assassinato. Aerin havia sido bem clara: aquela era a sua vida. Não um jogo.
Ainda assim, Madison tinha prometido que levaria essa coisa muito a
sério. Maddox não sabia mais o que fazer, a não ser aceitar a sua ajuda.
Seu olhar caiu para o relógio da Hello Kitty de sua irmã na mesa de
cabeceira. Eram 14:03. Ele deveria ter ido treinar com Catherine, mas ele
tinha faltado ao treino. Não tinha nada a ver com o beijo, de qualquer
maneira. Bem, quase nada a ver com o beijo. Sério — ele quase não
pensava mais sobre isso. A razão era mais sobre o que eles tinham que
preparar para esta noite.
Brett enfiou a mão na massa de roupa e arrancou um vestido dourado
iridescente com um laço nas costas.
Ele entregou a Aerin. — Esse ficaria ótimo em você.
Aerin lançou-lhe um olhar cauteloso e estudou o vestido. Quando ela
o ergueu na direção do seu corpo, a cor imediatamente se animou em sua
pele pálida. — Maravilhoso — Madison disse empolgada.
— Sim, eu meio que não posso acreditar — Aerin olhou para Brett e
sorriu.
Maddox revirou os olhos. — Cara, Brett, você é
exatamente como uma menina.
Brett apenas deu de ombros. — O que posso dizer? Eu sou um
estilista nato.
— Bem, eu deveria prever algo assim, considerando quem era sua avó
— Aerin apontou.
Maddox assentiu, refletindo sobre a verdadeira identidade de Brett
também. A dinastia Grady era lendária... mas havia algo desagradável
permeando a mente de Maddox. Em alguns aspectos, Maddox se sentia um
pouco ingênuo ao redor dessas três pessoas que tinham experimentado tais
perdas tão hediondas, como eles pareciam saber muito mais coisas do que
ele por terem vivenciado tudo aquilo. Mas, no entanto, ele estava
inconscientemente desejando que alguém de seu entorno fosse
assassinado? De jeito nenhum.
— Escolha um para mim — Seneca pediu a Brett, apontando para o
armário.
Brett escolheu um vestido feito de cetim vermelho e entregou-o a
Seneca. Quando Seneca olhou para si mesma no espelho, Maddox sentiu
um aumento de impaciência e clareou a garganta. — Podemos finalizar de
uma vez o desfile de moda? Como Brett e eu entraremos nesta festa?
Brett olhou para cima dos sapatos e estalou os dedos. — Eu sei como
podemos entrar. Maddox, meu chapa, você e eu vamos trabalhar hoje
como garçons.
Aerin franziu o nariz. — Quer dizer que vocês vão ficar servindo
bebidas?
— Sim. Minha família costumava fazer coquetéis o tempo todo. O
garçom tem a liberdade de circular com as bandejas, cumprimentar as
pessoas, assistir a galera curtir. As pessoas ricas totalmente não reparam
nos garçons. Kevin poderia dizer algo na frente de um de nós
facilmente. Ou podemos flagrá-lo bêbado e, em seguida, começar a fazer
perguntas.
Madison deu de ombros. — Parece divertido. — Brett atirou-lhe
uma piscadela e um sorriso como quem diz “eu gosto do seu estilo”.
— Eu concordo — disse Seneca. — Mas como é que vocês vão
conseguir um emprego de garçons tão rapidamente?
— Nós vamos tomar o lugar de alguém — disse Brett.
— Como vamos fazer isso? — Maddox perguntou.
Brett puxou uma garrafa de tequila Patrón de sua mochila. Madison
se lançou para ele. — Eu quero!
Brett colocou a garrafa de volta em sua mochila. — Isto é para os
garçons. Nós vamos dar a eles a garrafa, avisaremos que precisamos só por
hoje tomar o seu trabalho, mas garantimos que eles ainda vão receber seu
pagamento, e fazemos a mágica.
Maddox sentou-se sobre a colcha da Hello Kitty na cama de
Madison. Parecia uma ideia maluca, mas não era como se eles tivessem
qualquer outra opção. — Eu topo.
Brett bateu na mão de Maddox. Madison bateu na mão dele
também. E com o canto do olho, Maddox notou Seneca sorrindo. Mas
quando ele se virou, ela desviou os olhos e apertou a boca em uma linha,
como se ele a tivesse flagrado fazendo algo idiota.
Ora, ora. Parecia que Seneca estava começando a querer entrar no
jogo, finalmente... mesmo que ela não quisesse admitir isso.
Capítulo 13
Traduzido por Ann

A lgumas horas mais tarde, Brett estava no vestiário dos homens do


Dexby Country Club, que cheirava a sapato de couro e loção pós
barba das mais caras. Ele fechou o zíper da calça de smoking que ele tinha
pegado emprestada e estremeceu. As calças eram curtas demais e tão
apertadas que pareciam, bem, collants.
Então ele olhou para Maddox e gemeu. A roupa parecia ter sido feita
sob medida para ele.
— Como é que você veste isso e fica parecendo o James Bond e eu
me sinto pior do que uma criança com esse smoking?
Maddox olhou para ele e começou a rir. — Eu tenho sorte, eu acho.
— Ele se virou no espelho, admirando-se.
Brett sabia que deveria se sentir orgulhoso diante do fato de que seu
plano tinha funcionado. Ele havia conduzido com Maddox até ali, enquanto
as meninas estavam se arrumando. No Country Club, eles tinham
encontrado um grupo de garçons de pé, conversando do lado de fora da
entrada da cozinha, fumando. Dois caras chamados Jeffery e Tim tinham
aceitado a garrafa de bebida ansiosamente, entregando seus smokings e
crachás de imediato, cantando uma música piegas em Espanhol que Brett
lembrava de haver escutado na classe da Señorita Florez na nona série.
O telefone de Maddox vibrou e Brett olhou para a
mensagem. Chegamos, Seneca havia escrito na mensagem.
O vestiário dava a um longo corredor que estava preenchido de cada
lado por placas com os nomes dos vencedores do Dexby Country Club
Golf Invitational, que remontava desde 1903. Pelo lado de fora, eles
tinham uma boa vista do deslumbrante campo de golfe, da piscina e das
quadras de tênis.
— Por que essa festa está acontecendo em uma terça-feira, afinal? —
Brett perguntou enquanto ele mancava como um pinguim em direção ao
fundo do corredor. Estava meio difícil de respirar nessas calças.
— Porque este fim de semana é a festa do Coelhinho da Páscoa —
Maddox respondeu. — É um grande negócio para a Morgenthau
Estate. Ninguém ousaria intervir no cronograma deste fim de semana de
maneira nenhuma.
Brett levantou uma sobrancelha. — Você vai?
Maddox deu de ombros. — Talvez. Eu não sei.
— Por que não? Aposto que haverá algumas garotas quentes lá ...
Maddox não respondeu, mas Brett podia sentir alguma coisa se
contorcendo dentro dele. — Você está tendo problemas com alguma
garota?
Maddox acenou com a mão. — Você está brincando?
Brett sorriu. — Tem que defender a fama de garanhão, hein? —
Então ele viu as meninas no final do corredor. — Uau — ele arfou.
Madison parecia perfeita em seu vestido rosa-choque e os saltos
amarelo-banana. E o cabelo de Seneca estava todo preso para cima,
mostrando seus grandes olhos, queixo pontudo e maçãs do rosto
salientes. Sem a calça jeans e as camadas de moletom, suas pernas pareciam
mais longas, com os braços mais esculturais. Mas Aerin estava... uau. Ela
usava o vestido dourado que Brett tinha escolhido, e seu cabelo estava
preso, revelando seu pescoço longo e esguio.
Brett tentou não olhar. Ele já sabia que Aerin era linda, é claro, mas
hoje, toda vestida daquele jeito, ela parecia... mais velha. Mais
interessante. Mais sexy. O tipo de garota que você não apenas flerta por
um tempo, mas aquela que te deixa seriamente abalado. Ele arrancou uma
rosa de um vaso e entregou a ela sem palavras.
Aerin a girou entre os dedos. — Ora, ora. Eu sinto que estou em The
Bachelor.
Seneca estava lançando à Brett um olhar estranho. — O que
aconteceu com suas calças?
Madison riu também. — Elas se parecem com leggings.
— Eu sei, eu sei, eu pareço uma aberração — Brett gemeu,
irritado. Aquela calça realmente funcionou como uma autêntica estraga-
prazeres. — Podemos ir agora?
O grupo caminhou até uma escada traseira que conduzia para uma sala
de jantar. Brett encabeçava o grupo, tentando controlar a sua súbita onda
de emoção por Aerin. Mantenha sua cabeça no plano — ele disse a si
mesmo. Isso tinha acontecido antes — e quando aconteceu, ele terminou
com seus sentimentos feridos. Ele deveria recuar. Respirar fundo.
No topo das escadas havia um enorme hall de entrada repleto de
pessoas. As mulheres estavam todas em vestidos cocktail ou trajes
luxuosos; o flash de sorrisos brancos e o brilho dos diamantes era
ofuscante. No meio do grupo havia um rosto que já se tornara familiar após
horas e mais horas conferindo as notícias do caso. Kevin Larssen era mais
alto do que Brett havia imaginado de suas fotos on-line, sua mandíbula
redonda contrastava bastante com seus olhos azul-gelo. No espaço de
quatro segundos, ele rapidamente beijou a bochecha de uma mulher
imponente e mais velha, que segurava a mão de um homem de cabelos
grisalho, e deu em uma mulher mais jovem um enorme abraço. E ao
mesmo tempo parecia examinar o recinto avidamente.
Seneca caminhou até uma mesa e selecionou três taças de champanhe,
entregando uma para Aerin e outra para Madison. — Onde está Macie
Green? — sussurrou ela, referindo-se a noiva de Kevin. Madison tinha
dado todas as informações sobre Macie naquela mesma tarde: ela era uma
herdeira promissora de Dexby, se formou como a primeira da classe da sua
escola e em Middlebury, foi campeã de vários torneios e blá blá blá.
— Ali. — Brett apontou para uma loira alta e esbelta que tinha
acabado de chegar para se posicionar ao lado de Kevin. Macie tinha um
rosto largo e orelhas pequenas, e quando ela sorria, não mostrava os
dentes. Seu vestido prata parecia sob medida tamanha a perfeição, e seu
enorme anel de noivado de diamante brilhava sob as luzes. O corpo dela
foi se afastando de Kevin, e ela começou a conversar animadamente com
uma senhora mais velha que usava enormes pérolas.
Brett sentiu Seneca encarando Macie firmemente, também. A festa
começou a ficar tão barulhenta, de repente, e ele se moveu até estar um
pouco mais ao lado das meninas. — Hey — ele sussurrou. — Seneca
olhou para cima. — Eu sinto muito. Eu não deveria ter pesquisado nada
sobre você. E eu definitivamente não deveria ter falado sobre o que
aconteceu. Eu não quis dizer tudo aquilo para...
— Eu sei — Seneca o interrompeu, mas seus olhos demonstravam
que ela o perdoara. — Está tudo bem. — Brett sentia que ela estava
realmente sendo sincera quanto a isso. Ele olhou para ela novamente,
desejando poder dizer mais, desejando poder desfazer aquele horrível
momento completamente, mas então alguém cutucou seu ombro. — Ei,
camarada.
Uma mulher com ombros largos, cabelos crespos e um lápis de olho
super marcante o encarava. Um crachá bronze resplandecia em seu
smoking onde se lia Sandy.
— Eu não estou pagando para você ficar parado aí admirando os
convidados, Jeff — ela sibilou. — Vá buscar a sua bandeja e comece a
circular.
Brett olhou para Sandy, avaliando-a rapidamente. Ela parecia estar
cansada, uma simples senhora sobrecarregada de tarefas que só precisava
de uma boa massagem nos pés e um elogio. Ele lhe deu um sorriso. —
Entendido. Alguém já lhe disse que você parece muito com a Anjelica
Huston? Uma versão mais jovem, é claro.
A carranca de Sandy se desfez só um pouquinho. — Eu vou ter que
admitir que não me lembro dela, e eu odeio a maioria das celebridades. —
Ela pareceu pensar por um momento, depois inclinou-se em direção a ele
e disse em tom conspiratório. — Diga à Doris que eu mandei ele te dar a
bandeja de Martinis. Elas são muito mais fáceis de descarregar do que os
canapés.
A cozinha estava cheia de cozinheiros ocupados e chefs de cozinha
remexendo panelas com vapor. Brett passeou por ali e logo reuniu sua
bandeja com muitos Martinis. Maddox estava atrás dele enquanto eles
seguiram para o salão novamente. Algumas meninas começaram a olhar
para Maddox com interesse. Ele lhes lançou sorrisos simpáticos, mas ainda
assim parecia estar um pouco distante.
Brett contornou uma mesa enorme preenchida com camarão cru e
ostras, passando por um grupo de mulheres que estavam falando sobre a
aplicação de Botox em suas vaginas — o... o quê? Então ele espiou Kevin
em um canto, inclinando-se contra um balcão de mogno. Um bando de
caras estava ao seu redor; Brett reconheceu a maioria da Juventude de
Connecticut, por causa das várias fotos que ele tinha visto online. Com o
coração acelerado, ele passeou até ali, tendo cuidado para não derramar
qualquer um dos Martinis.
Kevin estava ocupado falando. — Eles estão pensando que vou ter
chances grandes com o senado estadual, por isso vamos ver. Eu tenho
muitas pessoas trabalhando na campanha e...
— Martini? — Brett interrompeu.
Kevin deu de ombros e pegou um. — Sim, claro. — Ele lançou para
Brett um sorriso tenso e tomou um pequeno gole. Depois ele colocou a
bebida no balcão.
Brett limpou a garganta. — Você deveria beber tudo enquanto ele
ainda está frio — ele disse suavemente. — O frio que realça o sabor da
vodka.
Kevin tomou outro gole obrigatório, depois passou para contar uma
história sobre um acampamento onde ele e os outros haviam estado no
último ano. Brett ouviu por um momento alguma menção do nome de
Helena, mas parecia ter sido apenas um comentário ao acaso. Mesmo
enquanto Kevin falava, seu olhar ainda parecia estar percorrendo o salão
como se ele estivesse procurando por alguém.
A atitude dele era contagiante; Brett olhou ao redor do salão,
também, à procura de Aerin. Ela havia se afastado de Madison e Seneca e
estava de pé ao lado de uma menina pequena de cabelos escuros segurando
uma bebida. A menina sussurrou algo e apontou para um cara perto do bar,
e Aerin revirou os olhos. Brett seguiu seu olhar, tentando descobrir quem
era o cara. Ele parecia um dos galãs de sempre das escolas, com um queixo
saliente e um proeminente pomo de Adão. Brett poderia ser muito mais
impressionante do que ele.
Ele pegou sua bandeja novamente e ofereceu Martinis para uma loira
que definitivamente parecia ser menor de idade, um velho usando um
andador acompanhado de uma mulher envolvida em camadas de diamantes
e um cara musculoso que ele jurava estar usando um anel do Super
Bowl. Ele encontrou Maddox do outro lado do salão, que estava repleto
de pessoas querendo bebidas. — Tire uma folga — ele aconselhou-o
enquanto eles se afastavam um pouco, apontando para uma mesa vazia para
que ele colocasse sua bandeja.
Maddox colocou sua bandeja para baixo e soprou ar através de suas
bochechas. Brett se encostou na parede e avaliou a multidão. — Isto é
como um quem é quem em Dexby, hein?
— Sim — disse Maddox.
— Você conhece alguém? — Brett olhou para ele fixamente. —
Algumas dessas pessoas provavelmente vive em Greenwich — acrescentou
Maddox.
Brett sacudiu a cabeça. — Eu estive fora dessa cena por um
tempo. Mas eu gostaria ter conhecido ela. — Ele apontou para Macie
Green. — Eu amo essas mulheres com pinta de loira gelada.
Eles ficaram encarando enquanto Macie selecionava friamente uma
fatia de melão envolto em presunto de uma bandeja itinerante e deslizava
para o local que Kevin estava. Kevin, que ainda segurava o mesmo Martini,
acenou para Macie, se aproximou e murmurou algo em seu ouvido, com a
testa franzida. Macie abruptamente virou-se e recuou. Havia um olhar
tímido em seu rosto, como se ele tivesse alertado que ela havia esquecido
de depilar as axilas. As entranhas de Brett azedaram. Quando se tratava de
“como tratar as mulheres”, alguns caras simplesmente eram péssimos.
Maddox apontou para um homem passando. — Aquele não é James
Gorman? O senador para o qual a Juventude de Connecticut
trabalhava? Acho que ele e Kevin continuam mantendo contato.
Brett o olhou. — Bem, ele está de olho em uma vaga no
senado. Talvez Gorman esteja aqui para apoiá-lo.
Quando Brett reparou no copo de Martini de Kevin novamente, ele
já estava vazio. — Outro round? — Brett perguntou, se aproximando
dele.
Kevin balançou a cabeça e deu um sorriso. — Bom conselho sobre
beber isso enquanto estiver frio. — Ele inspecionou Brett, reparando um
bom tempo em suas calças justas demais. — Você me parece
familiar. Você trabalha aos domingos?
— Não — Brett sentiu um arrepio nervoso, mas tentou se acalmar.
— Eu estou aqui só por esta noite.
Kevin passou o braço em torno do ombro de Brett. — Tome um
drink comigo.
Brett objetou. — Estou trabalhando, cara.
Kevin fingiu selar os lábios. — Eu não vou contar nada.
Brett esperou alguns segundos. — Bem, você venceu. — Ele
selecionou um copo. — Então, eu deveria te parabenizar.
Kevin pegou o copo de Martini e tomou um longo gole. —
Obrigado. Eu estou animado. — Ele parecia qualquer coisa, menos
animado.
Maddox encarou a cena, em seguida arregalou os olhos para a bebida
na mão de Brett. Brett bateu com a outra mão no ombro de Maddox. —
Este é meu amigo. Se importa se ele tomar um Martini conosco também?
— Por que não? — Kevin disse expansivamente, abrindo os braços.
Brett arrancou uma bebida da bandeja. Maddox parecia um pouco
inseguro no começo, mas depois de alguns goles, ele relaxou. Playboys,
pensou Brett.
— Eu também ouvi que você está concorrendo para o Senado? —
Brett colocou o queixo na mão como se estivesse verdadeiramente
interessado.
Então Kevin se lançou em uma descrição minuciosa do cargo de
senador estadual e as plataformas que ele iria representar. Brett acenava
com a cabeça como se estivesse ouvindo, mas ele mal escutava. Depois que
Kevin terminou, Brett recuou. — Espera, eu já sei de onde eu te
conheço. Você namorou aquela garota daquela escola, certo? Aquela que
desapareceu? Qual era mesmo o nome dela?
Maddox começou a sentir falta de ar, mas Brett o ignorou.
Kevin colocou a bebida no balcão, sua face parecendo perder a cor. —
Uh, Helena Kelly.
— Certo, certo. — Brett balançou a cabeça solenemente. —
Cara. Como foi isso?
Kevin estudou um retrato de um homem gorducho atrás do bar. A
banda no outro lado começou a tocar New York, New York. — Você é um
repórter ou algo assim? — ele finalmente perguntou.
— Não! — Brett ergueu as mãos. — Merda, esqueça que eu
perguntei. Eu estou sendo intrometido demais.
Houve uma longa pausa. Quando Kevin pegou a bebida mais uma vez,
o líquido espirrou pelos lados e em sua manga. — Ela era uma menina
doce.
Brett deu-lhe um olhar incrédulo. Menina doce? Isso era algo que você
diria para descrever a sua avó.
— Vocês eram muito próximos?
— Sim. — Houve uma vacilação na voz de Kevin. — Mas... — Ele
parou.
— O quê?
Kevin acenou com a mão de forma descuidada. — Nós não éramos
tão próximos, na verdade. Era mais um namoro de escola.
— O amor pode ser real mesmo na escola — Maddox soltou.
Kevin agitou sua bebida, pensativo. Um sorriso brincou em seu
rosto. — Eu acho que é porque haviam coisas na minha relação com
Helena que não eram reais — ele murmurou.
Brett sentiu algo queimando dentro dele e inclinou a cabeça. — O
que você quer dizer?
Kevin olhou para cima e piscou como se tivesse saído de um
transe. Por uma fração de segundo, um olhar perigoso pareceu brilhar em
seus olhos, transformando suas feições completamente. Brett prendeu a
respiração. Então Kevin bateu-lhe no ombro. — Eu tenho certeza que
outras pessoas querem bebidas, você não acha?
E com um sorriso que só poderia ser descrito como gélido, ele virou
as costas para eles.
Capítulo 14
Traduzido por Ann

A erin já havia frequentado um monte de festas fabulosas durante


certa época, e esta era muito parecida com as outras, com a sua
cachoeira de chocolate Swiss que ia do chão ao teto, a banda de swing de
nove componentes, e os ricos emergentes de sempre, posando para
qualquer fotógrafo itinerante e tentando muito, muito mesmo, agir da
maneira mais perfeita possível.
James Gorman, o senador do estado de Connecticut, estava ali,
exalando classe. Ele tinha um queixo igual ao do Abraham Lincoln, um
sorriso estilo George W. Bush e uma arrogância idêntica à do Bill
Clinton. Ela conseguia imaginar o seu modo de enfrentar o mundo.
Ela se isolou em um canto com Amanda Bettsworth, uma amiga que
tinha estado na festa de Tori, mas tinha escapado dos policiais. Amanda,
que estava se embebedando com um tônico de vodca e que já tinha dito
duas vezes à sua mãe que aquilo era apenas ginger ale, acotovelou Aerin. —
O’Neill está te encarando profundamente ali perto dos mariscos.
Aerin espiou através de sua bebida. De fato, Brian O’Neill, um garoto
de cabelos selvagens e olhos escuros que vestia uma camisa branca e gravata
listrada, estava olhando para ela por trás de uma mesa decorada
inteiramente com patas de caranguejo Dungeness. Aerin lhe mostrou seu
sutiã no vestiário na nona série e ele nunca superou isso. Durante meses
depois disso, Brian tinha enviado para ela cartas de amor por mensagem de
texto, fazendo seu telefone vibrar dez vezes seguidas até ele conseguir
terminar de escrever todos os seus monólogos de amor.
Às vezes Aerin se lamentava por ter sido tão displicente e fácil.
Amanda cutucou Aerin. — Quem são essas pessoas que vieram com
você? Apenas reconheço Madison. O outro é o meio irmão dela, certo? Ele
já não é praticamente um atleta olímpico? Eles são seus amigos?
— Eu acho que sim — Aerin respondeu, sem saber se havia uma outra
palavra que pudesse usar para se referir ao que eles eram. Mas talvez
amigos não fosse tão incerto assim para se usar como rótulo. Ela tinha
confortado Seneca, e ela sempre achou Madison muito mais do que uma
cópia humana da Hello Kitty. Brett mostrava seus sentimentos muito
abertamente, mas mesmo assim ela se sentia tentada a convidá-lo para ir
com ela na Sparrow, a melhor boutique de Dexby, e saber o que ele
escolheria para ela. Ela também admirava Maddy, que definitivamente
havia deixado para trás a sua fase estranha e nerd para transformar-se em
alguém quente e interessante. E praticamente um atleta olímpico?
Um rumor impressionante, embora muito exagerado.
Então, sim, eles eram amigos. E se ela pensasse mais sobre isso, aquele
novo grupo de Casos Arquivados conhecia ela muito bem e
se importava mais com ela do que qualquer um dos seus antigos amigos
daqui. As pessoas que tinham conhecido ela por praticamente a vida
inteira.
Ela sentiu um toque em seu ombro e estremeceu, temendo que
pudesse ser outro fantasma incomodo de seu passado. Marissa Ingram
sorriu para ela. — Aerin! Que surpresa agradável!
Marissa usava um vestido de seda verde e uma gargantilha com joias
tão grandes e bulbosas que parecia que seu pescoço esquelético não fosse
suportar por muito tempo o seu peso. Skip estava ao seu lado, agitando
uma bebida acastanhada. Seu terno estava muito pegado ao corpo, dando-
lhe uma aparência sufocada, mas ele conseguiu dar um sorriso caloroso
para Aerin mesmo assim. E então Heath apareceu por trás deles, vestido
com um terno preto bem ajustado e uma gravata cinza.
— Aerin, ei! — Ele beijou-a no rosto. — Há quanto tempo!
— Oi — Aerin respondeu, sem jeito.
Era especialmente estranho ver Heath — ele, Aerin e Helena
costumavam ser próximos. Ela queria perguntar-lhe detalhes sobre o
evento no Country Club em que ele apareceu usando calças cáqui sujas e
sapatos com buracos. Ela tinha respeitado isso.
Marissa examinou a multidão. — Sua mãe está aqui?
— Ela, hum...
De repente, Aerin não conseguia mais suportar o cheiro insuportável
de carne bovina que exalava de algum lugar perto deles. — Eu tenho que
ir — ela murmurou e saiu correndo, dando a Amanda um abraço
fraco. Não era como se ela não gostasse dos Ingram. Ficar ali, agindo
daquela maneira falsa, simplesmente não era seu estilo.
Ela saiu para um terraço vazio. Descendo a colina havia um gazebo
branco muito familiar que era o lugar favorito dos casais de Dexby. Era
conhecido como o Cubo Pube, por razões que Aerin desconhecia.
Houve um sussurro atrás dela. Os cabelos na parte de trás de seu
pescoço se eriçaram; parecia que alguém estava observando. Mas quando
ela se virou, viu apenas Macie Green passando em uma nuvem de Coco
Chanel. Um celular estava no ouvido dela, e sua voz estava pegajosa, como
se ela tivesse chorado. — Você não vai acreditar em quem está aqui. Eu
vou matá-lo. — Aerin se esforçou para ouvir o resto, mas o vento mudou
de direção, levando a conversa para outro lugar.
Esta parecia ser a festa de noivado mais estranha de todas.
— Aerin?
Um rosto familiar, de cabelo cortado rente e maçãs do rosto
proeminentes, estava junto das portas. Era Thomas Grove, Aerin
reconheceu. O policial da festa de Tori... e da festa do Coelhinho da
Páscoa.
— Ei. — Thomas foi até ela. — Eu estava me perguntando se você
estava por aqui. Parece que toda Dexby está aqui, hein?
Aerin encarou seus penetrantes olhos azuis e rosto bem definido. Ele
até que era bonitinho quando não estava prendendo pessoas no gramado da
amiga dela. Não era mais tão desengonçado. Não era mais tão pálido. Ela
também não se lembrava dele ser quase quinze centímetros mais alto do
que ela — e ela tinha um metro e setenta. — Você está aqui como
convidado? — ela perguntou.
— Não, eu consegui um trabalho extra como manobrista. Você não
acreditaria nas gorjetas que essas pessoas dão. — Ele piscou de uma
maneira adorável. — Você está muito bonita, por sinal.
Aerin olhou para seu vestido e corou. Todo mundo ficava dizendo
quão linda ela estava. Como se ela normalmente se vestisse mal. Babacas.
— Quer voltar para dentro? — Thomas perguntou. — Estou em
hora de descanso. Poderíamos experimentar o buffet. O camarão está
ótimo.
Ela fez uma careta. — Na verdade, estou tomando um ar. Essas
pessoas me fazem perder a paciência.
Thomas levantou uma sobrancelha. — Nesse caso, eu tenho um lugar
ainda melhor para você se esconder.
— Ah, é? Onde?
— É uma surpresa. Eu prometo que você vai gostar, no entanto.
Aerin hesitou. No inverno passado, um instrutor de esqui na
montanha local tinha usado essa mesma frase para convencê-la a visitar o
seu quarto. A surpresa era — surpresa! — seu pênis. Ele tinha arrancado
a roupa interior no exato momento em que eles colocaram os pés dentro
do quarto. Um pervertido total.
Mas, no entanto, ela tinha a sensação de que Thomas Grove não
poderia ser um pervertido nem mesmo se tentasse.

***
— Dá uma olhada nisso — Thomas sussurrou, destravando uma
Ferrari 458 Spider vermelha rebaixada. Aerin só sabia de todos esses
detalhes porque Thomas tinha acabado de sussurrar a mesma coisa cerca de
seis vezes. O carro estava estacionado na parte de trás do estacionamento
do country club; o único outro veículo perto dele era o carrinho de golfe
do zelador.
O proprietário do carro, o Sr. Levine, gostava de estacionar longe,
Thomas explicou, para ter certeza de que nada arranharia seu carro.
Thomas deslizou no assento de couro bege do motorista e agarrou o
volante, fazendo sons de motor acelerando como um menino de três anos
de idade. Aerin riu. — Desde quando policiais roubam carros?
— Eu não estou roubando. — Thomas balançou as chaves. — Mas
não há nenhuma regra sobre nós nos sentarmos e passarmos um tempo
dentro dela. Posso dizer ao Sr. Levine que nós estamos aqui apenas para
ter certeza de que nada vai arranhar o carro dele. — Ele deu um tapinha
no banco do passageiro. — Vamos lá.
Aerin gostava de como Thomas burlava as regras. Ela caminhou para
o outro lado do veículo e se aconchegou no banco do passageiro, que tinha
uma imagem de um garanhão costurado bem no topo. Até mesmo o cinto
de segurança do carro era o típico cinto de carros de corrida, um cinto de
cinco pontos que protegia cada parte dela.
— Essa coisa tem 549 cavalos de potência — Thomas disse
reverentemente. — Ele vai de zero a sessenta em uns três segundos. Eu
mataria para ter um.
Aerin riu. — Eu acho que você está na linha de trabalho errada para
ter acesso a isso, policial.
Ele suspirou. — Eu sei. Mas há sempre a loteria. Ou se casar com
alguém muito rica.
— Verdade. — Aerin tinha medo de tocar em qualquer coisa no
carro; tudo era couro demais e coisas caras. Nem mesmo o seu pai nunca
tinha tido um carro como aquele.
Eles caíram em um silêncio e olharam para o campo de golfe. O sol
se punha sobre as colinas verdes, e um solitário carrinho de kart estava
largado no caminho. Aerin espiou Thomas, mas ele parecia totalmente
confortável com aquele silêncio. Era bom, pelo menos dessa vez.
Depois de um tempo, ela limpou sua garganta. — Eu estou realmente
gostando dessa coisa.
Thomas passou o dedo ao longo da costura no volante. — Engraçado
você falar isso, considerando que pessoas ricas dão brotoeja em você.
— Urticária.
— Certo.
Aerin suspirou. — Eu estou investigando a morte da minha irmã, na
verdade. — Ela olhou para ele, refletindo se deveria contar a ele sobre o
grupo dos Casos Arquivados, mas provavelmente seria besteira
dizer. Todos em Dexby talvez já sabiam.
Thomas a olhou intrigado. — Você já descobriu alguma coisa?
— Eu suspeito de Kevin Larssen. Seu álibi sobre o fim de semana em
que Helena desapareceu é um pouco esquisito. Não há fotos do evento,
mas um relatório diz que ele não apareceu para um discurso que ele
supostamente deveria ter dado.
Um olhar duro atravessou o rosto de Thomas. — Hum.
Aerin endireitou a coluna. — Hum o quê?
Thomas olhou para a meia distância. Com o sol brilhando sobre os
ângulos de seu rosto, ele se tornou alarmante bonito, seus olhos grandes
azuis resplandeciam. Ele tinha um corte de cabelo bem raspado, que
acentuava suas pequenas orelhas e uma pequena cicatriz na testa. Aerin
poderia facilmente se curvar e beijar aquele garoto. Ela imaginou isso por
um segundo, seu coração batendo rápido. Ele se sentiria muito melhor
beijando ela do que falando sobre Helena, com certeza.
Mas antes que ela se inclinasse para tomar a iniciativa, Thomas limpou
a garganta. — Eu só estou pensando em algo que li no arquivo de Helena
sobre ele. — Ele parecia envergonhado. — Depois que eu encontrei você
dias atrás, eu decidi olhar de novo aqueles arquivos.
— O que você viu?
Thomas sorriu desculpando-se. — Eu não posso te dizer.
— Você pode pelo menos me dizer se ele é culpado?
Ele não encarou o seu olhar. — Eu não sei.
— Como você não sabe?
— Eu sinto muito. Eu não deveria ter sequer tocado no assunto.
Ele deu de ombros e ela se deu conta na hora: Thomas, como um
policial, tinha acesso a um monte de coisas. O que mais havia naqueles
arquivos confidenciais?
Thomas se virou para ela. — Quer sair comigo algum dia?
Aerin olhou para ele. — O quê?
Seus olhos brilharam. — Eu tenho certeza que eu poderia encontrar
um bom lugar que serve creme de milho.
— Ha, ha. — Aerin não podia acreditar que ele se lembrava disso. Ela
apontou para os comandos do carro, tomando a decisão de mudar o rumo
das coisas. — Dá partida nisso. Só por um minuto.
Thomas recuou. — De jeito nenhum!
— Vamos — Aerin brincou. — Você poderá dizer ao Sr. Levine que
estávamos apenas se certificando de que ele ainda estava funcionando
direito.
Thomas mordeu o lábio inferior. — E se alguém ver?
— Se você estivesse realmente preocupado com isso, não estaríamos
sentados aqui, não é?
Thomas tocou o botão de arranque para a ignição, mas não
pressionou. — Medroso — disse Aerin, inclinando-se na direção dele. Seu
ombro pressionou contra seu peito. Ela podia sentir seu doce aroma de
shampoo frutado — ela tinha quase certeza de que era Herbal Essences.
Ela apertou o dedo sobre o botão e o carro rugiu à vida com tanto
entusiasmo que ambos saltaram. Todos os tipos de luzes se acenderam
e alertas brilhavam através de uma tela central. O rádio começou a tocar
alto e uma canção de Led Zeppelin ecoava através das caixas de som.
Thomas apertou o acelerador. O carro rosnou. Ele apertou de novo,
e a agulha do velocímetro saltou. Eles trocaram um sorriso
maroto. Coloque na marcha ré, Aerin sussurrou sobre a música alta.
A mão de Thomas avançou em direção a alavanca da marcha quando
algo chamou sua atenção pelo retrovisor. Com um gesto rápido, ele
apertou o botão da ignição, desligando o carro. Aerin girou. Um carro de
polícia estava se aproximando devagar pela estrada principal, paralela ao
country club.
— Abaixe-se — Thomas sussurrou, pressionando-a para baixo nos
assentos.
Aerin fez o que lhe foi dito, a mão dele quente em seu ombro, mal
ousando se mover até que o carro se mantivesse a uma boa distância. Então
ela explodiu em risadas.
— E eu estava começando a respeitá-lo como um oficial da lei — ela
sussurrou.
Eles empurraram abertas as portas e desajeitadamente saíram. Pouco
antes de Thomas seguir rumo ao estacionamento, ele lançou para Aerin um
último olhar. — Estou falando sério sobre termos um encontro.
Aerin deu de ombros. — Talvez quando você se tornar
verdadeiramente um menino mau — ela disse, batendo as mãos no capô
do carro. Então ela se foi, balançando os quadris exageradamente. Ela
esperava que Thomas estivesse assistindo.
Logo que Aerin voltou para o hall de entrada, Brett e Maddox saíram
caminhando em sua direção. Brett parou e a encarou. — Nós estávamos
procurando você! — ele sussurrou. — Você viu Kevin?
— Uh, não — Aerin gesticulou. — Mas eu vi a noiva dele chorando.
Maddox puxou Aerin para o hall de entrada. — Nós quase
conseguimos fazer Kevin admitir alguma coisa, mas então ele nos
despistou. Quando voltamos para o salão, ele estava saindo, ele se foi.
Seneca e Madison se aproximaram deles, também. Os meninos
falaram a todos sobre os comentários de Kevin sobre as coisas em seu
relacionamento com Helena não serem reais.
— O que vocês acham que isso significa? — Madison perguntou.
— Eu não sei — disse Maddox. — Talvez ele estivesse falando sobre
o amor, como o seu amor por ela era real, mas o amor dela por ele não
era. Isso poderia indicar que ela estava saindo com outra pessoa.
Neste momento eles estavam no fim do corredor. Maddox espiou em
uma área menor onde um bando de caras se reuniram em torno de um jogo
de hóquei, depois outra sala de jantar, e, em seguida, uma sala enorme com
um piano e uma harpa. Kevin não estava em nenhum lugar. Mais lugares
vazios: um tinha um monte de troféus de caça, outro tinha uma mesa de
bilhar, um outro estava cheio de livros de capa dura e cadeiras de leitura. O
corredor estava escuro logo no final — um dos lustres de teto grandes
parecia estar com algumas lâmpadas faltando. Aerin olhou inquieta para o
brilho da placa de saída no final do corredor. — Vamos voltar para a sala
de jantar — ela sugeriu.
Mas então, quando ela se virou, acabou trombando em alguém alto e
sólido.
— Opa — ela disse, apoiando-se na parede.
Quando ela olhou nos olhos do homem à sua frente, seus nervos
estalaram sob sua pele.
Kevin. Ali estava ele.
Capítulo 15
Traduzido por Ann

O coração de Maddox bateu forte. Kevin Larssen estava junto a


eles, a única luz que refletia em seu rosto era o brilho vermelho
da placa de saída, o que lhe dava um aspecto assustador. Conforme sua
visão se ajustou, ele percebeu que havia uma porta em um lado do corredor
marcada com Homens.
Como se respondendo à suas perguntas, a porta se abriu
novamente. Todo mundo deu um passo para trás para permitir que um
segundo homem passasse. Maddox reconheceu o senador Gorman por seu
cabelo sal e pimenta e um broche da bandeira. O senador olhou para cima
e os encarou, dando ao grupo um sorriso diplomático. Maddox sentiu o
cheiro de uma forte colônia enquanto ele passava. Era um cheiro de colônia
antiga, algo que ele nunca usaria.
Kevin estava prestes a ir também, mas, em seguida, olhou para o
grupo. Seus olhos se arregalaram ao reconhecer Aerin, e ele deu a ela um
sorriso como quem não entendia por que ela estava ali, mas depois ele
apenas balançou a cabeça e começou a descer o corredor. — Espera —
Aerin desabafou. — Helena estava te traindo?
Kevin parou. — Helena... sua irmã?
— Você conhece alguma outra garota chamada Helena?
Kevin lhe ofereceu outro sorriso, possivelmente perigoso. A
compostura controlada de Kevin estava fazendo Maddox se sentir
nervoso. Ele poderia ser uma daquelas pessoas que parecia estar
perfeitamente calmo, para, em seguida, aleatoriamente bater em todo
mundo.
— Você disse aos meus amigos que havia coisas em seu
relacionamento com Helena que não eram reais — disse Aerin. — O que
você quis dizer?
Kevin olhou para Brett e Maddox com um olhar acusador, como se
eles o tivessem traído. — Nada. Nada mesmo. Eu tenho que voltar para a
minha festa agora.
Ele começou a passar pelo resto do grupo, desta vez roçando os
ombros de Seneca. Ela virou um pouco para trás, levantando a mão para
massagear o local onde ele havia trombado com ela. Maddox estava prestes
a gritar com Kevin, chamá-lo de idiota, mas logo notou em Seneca um
olhar de como quem acaba de descobrir algo. O que foi? Maddox gesticulou
para ela, mas ela só lhe lançou um sorriso furtivo.
— Kevin — ela gritou atrás dele. Kevin virou-se para trás, dando-lhe
um olhar cauteloso, e Seneca avançou até ficar bem próxima a ele, o nariz
dela quase tocando o seu pescoço nu.
Kevin recuou. — O que você está fazendo?
Seneca recuou. — Essa é uma colônia interessante que você está
usando. Como se chama?
Kevin olhou para ela como se ela fosse louca. — Eu não me lembro.
— Não se lembra, ou não sabe?
Sua mandíbula ficou tensa. Maddox se sentia desconfortável. Talvez
fosse melhor eles deixarem Kevin simplesmente ir embora.
— É Bay Rhum — Seneca esclareceu. Ela riu. — Você realmente
não sabe o nome da colônia que você decidiu usar justo esta noite?
Kevin levantou o queixo no ar. — Macie escolheu para mim.
— Eu acho que Macie teria um gosto bem melhor — disse Seneca.
— Meu pai usa Bay Rhum, também, e o atendente na loja onde ele
comprou disse que seria perfeita para o meu pai porque essa é uma típica
colônia para os caras mais velhos... ninguém com menos de quarenta anos
usaria esse tipo de perfume.
Kevin olhou para ela. — Eu uso colônia masculina para caras mais
velhos. Quem se importa?
Maddox observou-a, se perguntando onde ela estava indo com isso.
— Sabe o que é interessante? O Senador Gorman estava usando a
mesma colônia agora mesmo... eu senti nele quando ele saiu do
banheiro. Muita coincidência que você também esteja usando...
Os olhos de Kevin brilharam. — O que você está insinuando?
Seneca piscou inocentemente. — Eu não estou insinuando nada.
Maddox olhou para Seneca, ligando os pontos. De repente, ele
percebeu. Ele olhou para os outros, que pareciam estar surpreendidos,
também. Kevin e o senador... juntos?
Kevin apertou seu punho. — Eu não convidei vocês. Vou chamar a
segurança.
— Oh, já vamos sair — Seneca disse suavemente — Mas antes disso,
vamos contar a todos a nossa descoberta. Eu não acho que o senador
gostaria que as pessoas soubessem o que ele estava fazendo com seu antigo
pupilo. Eu estou realmente certa de que ele não gostaria que sua esposa
descobrisse.
— E, só para constar, a sua quase esposa também não vai gostar disso,
Kevin — disse Maddox.
Kevin parecia furioso. Uma gargalhada soou da sala de jantar. Kevin
fechou os olhos. — Eu estou na minha festa de noivado. Toda a minha
família está aqui. Meu avô ultraconservador de noventa anos de idade está
aqui. — Ele tropeçou sobre a palavra conservador. — Eu só preciso passar
por isso, ok?
Precisa passar por isso? Uma frase estranha para um evento que deveria
ser alegre.
Mas, no entanto, talvez Kevin não quisesse se casar com Macie. Ele
queria outra pessoa, alguém que não podia ter.
Maddox pensou na página do Facebook de Kevin novamente. Todos
os links entusiasmados sobre os eventos na Juventude de
Connecticut. Todas aquelas fotos dele ao lado do senador Gorman. Nunca
com Kevin em uma extremidade e Gorman em outra — sempre os dois
lado a lado.
Ele apontou para Kevin.
— Toda a sua relação com Helena não era real. Você não amava
Helena como mulher. É isso o que você quis dizer.
Aerin olhou para ele. — Do que você está falando?
Seneca estava balançando a cabeça. — Aerin, lembra que você me
disse ontem que você chamava Kevin de fantoche e Helena ficava com
raiva? Kevin era um fantoche. Você sem querer acertou em cheio.
— Eu acertei o quê? — Aerin ainda parecia confusa.
Maddox olhou para Seneca, sabendo aonde ela queria chegar. Eles
tinham ficado tantas vezes resolvendo casos online que ele já conhecia bem
seu modo de pensar. Ele tocou o braço de Aerin. — Helena era o disfarce
de Kevin.
Os olhos de Aerin se estreitaram. Levou um momento para ela digerir
a notícia. Ela olhou para o rosto de Kevin e ele não conseguiu negar.
— Mas isso não faz qualquer sentido. Minha irmã poderia ter saído
com qualquer um. Por quê que ela iria escolher um namorado que não
sentia absolutamente nada por ela?
Todos se voltaram para Kevin. Um cheiro de bife flutuava do fundo
do corredor. Um vidro quebrou e alguém riu. Kevin tentou escapar, mas
Aerin agarrou seu braço.
— Conte-nos — ela disse entredentes.
Kevin puxou o braço. — Deus, está bem. Eu acho que ela podia estar
saindo também com mais alguém. Alguém que ela não queria que ninguém
soubesse.
O coração de Maddox parou. — Quem?
Kevin suspirou. — Eu não sei.
— Mas você sabia que havia outra pessoa? — A voz de Aerin estava
trêmula. — Como você pode continuar mantendo essa farsa?
De repente, ela se lançou na direção de Kevin. Maddox a agarrou e
puxou de volta. — Ei — ele disse em advertência.
Kevin olhou ameaçadoramente para eles. — Tudo o que eu sei é que
ele era um cara mais velho. Ligado à arte, museus. Eu acho que ele vivia
em Nova York.
— Nova York? — Maddox percebeu a voz falha de Aerin. Para ela,
isso era mais do que apenas uma fascinante reviravolta em um caso
arquivado.
Kevin assentiu. — Nós fomos uma vez para lá, no outono. Ela
desapareceu por um tempo. Disse que ela estava indo para uma exposição,
na galeria, mas eu tive a sensação de que havia algo mais do que isso.
Brett mordeu o lábio inferior. — Você podia até não ter nutrido
nenhum tipo de sentimento por ela, cara, mas ainda assim, deixar sua
namorada fugir com algum... cara qualquer? O quê, você estava mesmo
totalmente à vontade diante do fato de ela sair com ele, comer e beber em
alguma cobertura do Upper West Side? Levando-a para passeios
românticos de carruagem no parque? Você não se importava com o fato de
que ela estava fazendo você parecer um idiota?
— Eu não sei — Kevin esbravejou. — Talvez.
— Por que você não contou a ninguém sobre isso? Como a polícia? —
Aerin perguntou.
— Eu achei que não importava. — A voz de Kevin subiu um tom
mais alto.
Não achou que importava? Aquilo parecia tão fraco para
Maddox. Talvez ele estivesse escondendo algo.
— Por que você não apareceu para o seu discurso na conferência
daquele fim de semana em que Helena desapareceu? — Seneca perguntou.
Kevin estreitou os olhos. — Você está insinuando que eu sou um
suspeito? Eu tenho um álibi. Eu já fui inocentado.
— Notícia de última hora — disse Brett. — Nós não confiamos em
você ou em seus amigos.
— Bem, pois a polícia confia — Kevin disse, estufando o peito.
Maddox deu um passo adiante. — E quanto aquela mensagem raivosa
que você escreveu para Helena no anuário? Descobrimos o código. Diz...
— Você vai ter o que merece, H? — Kevin falou rapidamente. — Essa
mensagem foi amigável. Ela tinha feito um enorme favor esse tempo todo
ao manter o meu segredo. Eu quis dizer que o karma ia trazer coisas boas
para ela em troca.
— Por que o seu segredo é tão horrível? — disse Seneca. — Então
você é gay. Não é uma grande coisa.
Kevin olhou para longe. Sua expressão era torturada, como se o seu
segredo fosse bem maior do que apenas isso. Maddox acrescentou a última
peça do jogo. — Sempre foi o senador, não foi? Vocês dois, mesmo
naquela época. É por isso que você não poderia dizer nada a ninguém.
Kevin rangeu os dentes e olhou para longe.
— Uou — Brett sussurrou.
Madison colocou as mãos nos quadris. — E é por isso que você não
disse a polícia? Porque você estava preocupado consigo mesmo? Isso é
muito egoísta, cara.
— Vocês não podem entender — Kevin murmurou.
— Helena sabia sobre o senador? — Aerin perguntou.
Kevin deu de ombros. — Nós nunca trocamos confidências. Nós
apenas usávamos um ao outro, para que as pessoas não suspeitassem de nós.
— Será que alguém suspeitava de vocês dois não serem realmente um
casal de verdade? — Seneca atalhou.
— Ninguém suspeitava. — Quando Kevin olhou para Aerin, sua
expressão era sombria. — Eu sinto muito.
Com isso, ele virou-se e caminhou solenemente de volta para a festa,
com as costas retas, as mãos agitando em seus lados. Ele parecia muito
menos perigoso do que ele aparentava há poucos minutos, como se revelar
seu segredo houvesse roubado seu poder. Maddox se sentia mal por ele.
Uma vez que Kevin virou a esquina, Maddox apontou para Seneca.
— Você leu a mente dele.
— Eu só o cheirei — Seneca disse agitando a mão, apesar de ter um
sorriso satisfeito estampado no rosto.
Maddox virou-se para Aerin. Ela estava encostada na parede, inerte,
como se tivesse sido atingida na cabeça por um taco de golfe. — Você está
bem?
Aerin tirou um pó compacto do bolso e começou a reaplicar o
batom. — Eu não sei. — Ela olhou para Maddox e, em seguida, para
Seneca. — Isso foi incrível. Eu não imaginava que vocês fossem tão bons
farejando essas coisas.
Maddox refletiu. — Se Kevin está dizendo a verdade, talvez Helena
realmente tinha um namorado de Nova York.
— Um cara que ela deve ter conhecido antes dela começar a namorar
Kevin, porque senão ela não teria nem se preocupado em recrutá-lo para
cobrir seu romance secreto — disse Brett. — Gente, nós temos que ir
para Nova York. Faz sentido.
— Não vamos nos precipitar — disse Seneca. — Aerin, quando é que
Kevin e Helena começaram a namorar?
Aerin a olhou. — Julho, eu acho.
— Sua irmã esteve em Nova York naquele verão?
Havia um olhar confuso no rosto de Aerin. — Ela fez um programa
de verão na NYU, também em julho. Talvez ela conheceu alguém lá.
— Viu? — Brett insistiu. — Todos os sinais apontam para Nova
York. É fácil chegar lá de trem.
Kevin parecia ter ficado desorientado por um momento, mas todo
mundo imaginou que ele provavelmente iria chamar a segurança assim que
se acalmasse. Eles logo encontraram uma porta de saída que levava direto
para o estacionamento lotado. Brett olhou em volta buscando pelos dois
funcionários que haviam emprestado a eles os uniformes, mas eles não
estavam em lugar nenhum. Na verdade, o estacionamento estava
estranhamente vazio.
— Dane-se — ele disse, arrancando a jaqueta. — Vamos deixar os
smokings no meio-fio. — Ele desabotoou a camisa, revelando um
abdômen firme e esculpido. Em seguida, ele começou a desabotoar suas
calças também, deixando escapar um suspiro de alívio. Ele ficou parado no
estacionamento vestindo cuecas boxer Under Armour.
Madison assobiou. Maddox grunhiu. Ele que era um corredor de elite
nunca conseguiu ter aquele corpo. — Isso aí, Magic Mike — Aerin
murmurou em apreciação.
Brett se afastou e, em seguida, voltou com as roupas guardadas na
parte traseira do jipe de Maddox debaixo do braço.
— Alguém pode me levar de volta para o meu hotel? — ele
perguntou com indiferença.
— Posso deixá-lo depois de Madison — Aerin ofereceu.
Ela ainda estava olhando-o de cima a baixo.
Brett avançou para entrar no banco da frente do seu carro, e Aerin
riu. — Você vai vestir as suas roupas primeiro, não é?
— Oh, sim — Brett rapidamente puxou sua camisa, esticando todos
os seus tensos músculos do estômago e peito enquanto ele levantava os
braços sobre a cabeça. Exibido, Maddox pensou bem-humorado.
Madison deslizou para o banco traseiro. — Eu preciso fumar, comer
alguns Cheez-its e ir para a cama.
— Eu não posso acreditar que vocês vão dormir depois de tudo isso
— disse Seneca. — Eu estou elétrica.
— Eu também — Maddox olhou para ela. — Quer dar uma volta?
Seneca se virou para ele com um olhar de surpresa. —
Hum. Sim. Ok.
Aerin ligou o motor e aumentou o som, ecoando a Katy Perry
cantando Firework. Em pouco tempo, o estacionamento estava novamente
em silêncio, o único som que se ouvia era dos grilos zumbindo. Maddox
agarrou sua calça jeans, se escondeu atrás de um dos carros e trocou de
roupa, também.
— Sortudo — Seneca disse sorrindo. — Você pode se trocar,
enquanto eu ainda estou presa nessa coisa. — Ela se contorceu
desconfortavelmente em seu vestido apertado, fazendo a saia girar.
— Sim, mas você está linda — Maddox disse sem pensar, antes de se
lembrar que estava falando com Seneca — e que ela provavelmente não
iria gostar que ele a elogiasse como se ela fosse uma das meninas cabeça de
vento da escola, sempre em busca de elogios.
O rosto de Seneca congelou. — Você quis dizer que o vestido é lindo.
Maddox piscou, não sabendo como responder a isso — ele realmente
deveria concordar que o vestido que era bonito e não a própria Seneca? Mas
antes que ele pudesse cavar o buraco mais fundo, ele ouviu um estalo alto
atrás dele. Ele agarrou o braço de Seneca e virou, examinando a linha de
carros. Ele ouviu um som de algo vibrar e depois um sussurro. As sombras
ondulavam. A lua flutuava atrás de uma nuvem.
— O que foi isso? — Seneca sussurrou, os olhos arregalados.
— Eu não sei. — Maddox sentiu um formigamento súbito, como se
estivesse sendo vigiado. Ele olhou de soslaio para ela. — Eu lembrei agora
do incêndio no seu quarto. E aquela voz que você ouviu pela porta. Eu acho
que lembrar disso faz eu me sentir assustado, sabe?
Seneca estava prestes a falar, mas de repente houve uma lufada. Algo
gigantesco mergulhou em direção à cabeça de Maddox. Ele abaixou-se e
deu um grito. Quando ele olhou para cima, duas enormes asas majestosas
batiam no céu.
A coruja pousou em um dos picos no telhado e olhava para eles, seus
olhos amarelos redondos brilhando.
Maddox e Seneca agarraram um ao outro, nenhum deles conseguindo
respirar. Em seguida, Maddox começou a rir fracamente, desembaraçando
lentamente de Seneca. Inseguro para onde olhar, ele manteve sua atenção
focada na coruja.
Após um piscar calmo e pensativo, a coruja voou do telhado e foi para
longe.
Capítulo 16
Traduzido por I&E BookStore

P or alguns quarteirões, Seneca e Maddox caminharam em um


silêncio tenso. Seneca podia dizer que a coruja tinha abalado
Maddox. O que era patético era que também a tinha assustado.
— Ninguém está nos observando — ela assegurou a si mesma e a ele.
— Isso é loucura.
— Mas talvez estejamos no caminho certo. Talvez o namorado
secreto de Helena esteja tentando nos silenciar.
— Se Helena tinha um namorado secreto, quem disse que ele não era
um cara bom? — Não que ela acreditasse nisso. Ainda assim, ela não
poderia acreditar que alguém estivesse espionando-os, ou até mesmo
tentando machucá-los.
O country club estava situado em um bairro onde cada propriedade
era de pelo menos 700 metros quadrados de mansão e assentava-se em dez
hectares de gramado pristinamente paisagístico. Cavalos relincharam em
uma cerca a poucos metros de distância. Um carro esportivo importado
retumbou em uma placa de pare à frente deles, as luzes traseiras piscando.
Finalmente, Maddox gesticulou para baixo para um aterro em um grande
estacionamento que levava a uma longa fila de celeiros de 4 hectares.
Parecia ter surgido do nada. — Olha aquilo.
Ele estava apontando para um Parque de Diversões no
estacionamento. Seneca deve ter ficado realmente perdida em seus
pensamentos, porque ela ouviu a música alta e chata e sentiu o bolo de funil
gorduroso e doce de uma só vez, como se estivesse construindo um sonho.
Uma roda gigante com raios que pareciam tão finos e quebráveis como
paletas de picolé girava. Um foguete de passeio, com luzes de néon
piscando, disparou com crianças gritando para o ar. Havia rangidos de
xícaras giratórias. À distância, uma grande estrutura chamada Máquina do
Tempo cintilou. Veja o futuro! dizia uma placa de néon no topo.
Um caminho se abriu no cérebro de Seneca e ela olhou para Maddox.
— É o Parque de Diversões de Dexby Firemen, não é?
Maddox inclinou a cabeça. — Você é como uma Dexby-pedia.
Seneca encolheu os ombros. — Eu apenas faço minha lição de casa.
— Na verdade, Helena costumava publicar sobre isso no Facebook. — É
definitivamente um sopro de ar fresco depois do country clube. Toda
aquela opulência e pompa me assombraram.
Maddox gesticulou em direção ao meio do caminho. — Vá, então.
Esteja com o povo comum.
Seneca começou a descer o aterro, com cuidado para não escorregar
nos sapatos desconfortáveis de Madison. Ela estava falando sério sobre
odiar o que ela estava vestindo — ela sentia-se comprimida no vestido
apertado e nos sapatos. Ainda assim, ela tentou se esquecer e deixar a
música soul do carrossel deslizar sobre ela. À direita havia um monte de
jogos infantis, mas divertidos, como Adivinhe Seu Peso, Acerte o Aro e
Estoure o Balão. As pessoas sorriram na direção de Seneca, provavelmente
divertidas com o quão bem vestida ela estava, e ela sorriu de volta,
abraçando isso.
— Que noite — ela suspirou. Uma parte dela queria agarrar o braço
de Maddox e reviver a situação, dizendo: — Você pode acreditar que
Kevin contou tudo? — Ou — Você acha que eles estavam se pegando no
banheiro? — Mas, no entanto, ela não queria parecer excessivamente
excitada. Ela deveria agir como se ela interrogasse as pessoas o tempo todo!
E ela ainda não sabia exatamente onde ela e Maddox estavam. Ela apreciou
a cerveja Red Stripe que ele trouxe para ela em sua casa. Também foi
satisfatório que ambos tenham chegado à mesma conclusão sobre Kevin ao
mesmo tempo. Então, eles eram amigos de novo? Co-solucionadores de
crimes?
Quando passaram por uma grande cabine cheia de camisetas com
mensagens bregas, Maddox disse: — Cara, aquilo lá atrás foi louco. Eu
nunca pensei que Kevin iria desembuchar tudo!
Seneca sorriu. Acho que ele estava pensando o mesmo. — Eu me
sinto mal por ele. Deve ser terrível ter que esconder uma verdade tão
grande sobre você. — Assim que as palavras saíram de sua boca, ela pegou
a si mesma. Ela não estava fazendo a mesma coisa ao omitir a verdade sobre
sua mãe? Ela olhou para Maddox, se perguntando se ele tinha feito essa
conexão também, mas sua expressão não mostrou nada.
— Eu acho que Helena mentiu também — disse Maddox.
Seneca considerou isso. Todo esse tempo, ela sustentou que Helena
devia ter um segredo, mas realmente esperava que ela estivesse errada.
Helena parecia tão despreocupada, tão inocente nas fotos e vídeos. Se
aquela jovem podia esconder segredos obscuros, isso significava que
qualquer um poderia. Até a mãe dela.
Só que ela conhecia melhor a sua mãe. Collette muitas vezes
cantarolava quando estava escondendo alguma coisa e rabiscava
distraidamente quando um problema estava em sua mente. Na manhã
fatídica, ela estava relaxada e composta, fazendo com prazer o Sudoku.
Não havia nenhuma tinta e rabiscos distraídos em seu dia planejado. Ela
não cantarolou nenhuma melodia nervosa. Se Seneca pudesse adivinhar,
Collette não sabia que estava indo embora quando ela entrou na Target.
Foi simplesmente... um dia.
Um grito se elevou de um dos brinquedos, e Seneca se moveu, ainda
nervosa com a coruja e o confronto com Kevin. Maddox tinha atravessado
o meio do caminho para a cabine de algodão doce, comprando grandes
espirais algodonosas para ambos. Ele entregou a Seneca. Ela deu uma
grande mordida, o açúcar dissolvendo-se em sua língua. — Ai, eu posso
sentir as cáries se formando — ela zombou.
— E ainda assim você está comendo. — Então ele olhou para a
multidão. — Quem aqui grita algodão doce para você?
Seneca lambeu um pouco de açúcar pegajoso no lábio. Maddox estava
se referindo ao jogo de doces que eles haviam inventado, mas agora era
muito íntimo. Ela não respondeu.
— Vamos lá. — Maddox a cutucou. — Eu digo ela.
Ele apontou para uma garota loira no meio do caminho em saltos altos
e um minivestido branco que mal cobria a bunda. Seneca explodiu em
risadas. Ela parecia muito com a garota que se sentara em frente a ela no
trem, aquela que estava lendo a revista OK!
Seneca decidiu se juntar ele, afinal de contas. — Eu acho que ele é a
versão masculina. — Seneca apontou para um cara alto e magro em um
banco perto de um carrinho de camisetas. Ele usava jeans apertados e tênis
descolados, tinha uma mecha azul em seus cabelos e continuava a checar
constantemente um enorme iPhone.
Maddox parecia surpreso. — Esse é Chase Howard, da minha escola.
Seus pais têm casas em cinco países. Eu teria dito que ele era algo complexo
que muita gente não conhece. Como doces japoneses que têm gosto de chá
verde.
Seneca observou enquanto o cara olhava de forma deslocada em todas
as direções. Era como se ele estivesse certificando-se de que as pessoas o
olhassem. — Não o vejo como uma alma profunda.
Maddox riu. — E aqui estava eu me preparando para juntar vocês.
Ele parecia ser seu tipo.
Seneca estremeceu. Era estranho falar sobre namoro? Ou ela estava
apenas pensando nisso porque Maddox era um cara e meio que disse a ela
antes que ela estava bonita? Mas, no entanto, talvez ela não devesse ver
nada demais nisso. Provavelmente ele era mais a fim do tipo com saltos e
vestidos.
Ela ergueu o queixo no ar. — Você não tem ideia de qual é meu tipo.
— Então, me conte. — Os cantos da boca de Maddox puxaram um
sorriso provocador. — Eu já sei que não é alguém que gosta de futebol.
Seneca sentiu suas bochechas enrubescerem. Ela não podia acreditar
que ele se lembrasse dessa conversa. — Desculpe se eu quero que alguém
preste atenção em mim em vez do que está na TV — ela disse.
— Sim, mas não era o fim de semana do Super Bowl? — perguntou
Maddox.
— E daí?
— Olha, é isso que você não entende sobre os caras. — Maddox fez
um som de estalo com a língua. — É o Super Bowl. Claro que seus olhos
estariam colados na tela. Você deveria ficar lisonjeada de ele concordar em
sair de casa. — Ele segurou seu ombro. — É reconfortante que uma garota
da faculdade ainda não entenda isso. Mas não se preocupe. As garotas
também são difíceis de entender.
Seneca queria resmungar. Como se Maddox tivesse tido problemas
com as garotas! — Eu aposto que teria melhor sorte em encontrar seu tipo
do que você teria encontrando o meu.
Maddox colocou as mãos nos quadris. — Vá em frente. Tente.
— Ok, então. — Seneca olhou através da multidão. Uma garota com
cabelos loiros longos e retos, olhos castanhos enormes, uma camiseta rosa
curta e um shorts jeans branco desgastado andava em uma fila com outras
três meninas menos bonitas e vestidas exatamente como ela. — Dela. A
loira no meio.
Maddox respirou fundo. — Oh. Aquela é Tara.
O nome ressoou na mente de Seneca. — A Tara gostosa? A corredora?
— Você não precisa gritar — ele murmurou.
— Por quê? — Um sorriso deslizou nos lábios de Seneca. — Você
gosta dela?
Antes que ele pudesse responder, a cabeça de Tara girou em direção
a eles. Ela agitou os dedos para Maddox, então se aproximou
graciosamente. Ela provavelmente era o tipo de garota que nunca
tropeçava nos calcanhares, pensou Seneca com uma mistura de desdém e
inveja. — Maddy! — Tara disse quando ela chegou perto. — Eu não sabia
que você viria esta noite.
Maddox encolheu os ombros. — Decidi no último minuto. — Ele
gesticulou para Seneca. — Esta é a minha amiga Seneca.
Os olhos de Tara se estreitaram ao vestido e aos calcanhares de
Seneca, mas então seu olhar voltou para Maddox. Ela tocou o algodão doce
ainda em seu palito. — Você realmente comeu isso? Eu pensei que seu
corpo era um templo. — Ela titulou casualmente, aproximando-se dele.
Maddox moveu-se ligeiramente, mas nitidamente para longe. Apenas
Seneca captou o olhar dolorido em seu rosto... e o olhar enamorado no de
Tara. E foi quando ela entendeu: essa linda garota estava louca por ele.
Ela tentou ver Maddox como Tara podia. Ele certamente era bonito
e alto. Seus olhos verdes brilhavam na luz difusa do parque, e seu cabelo
era especialmente ondulado no ar úmido. As luzes do parque de diversões
piscando mostravam as bordas de sua mandíbula e maçãs do rosto, e seus
ombros eram largos, mesmo que ele não fosse tão sarado como Brett. Até
mesmo a leve camiseta cinza dos Giants que ele havia trocado parecia sexy
de repente, quando antes Seneca tinha simplesmente achado que parecia
meio idiota e previsível. Ela piscou furiosamente, tentando recuperar sua
velha visão de Maddox, mas era como se a presença de Tara o tivesse
transformado — agora tudo o que ela podia ver era um Cara Bonito.
Tara tocou seu antebraço novamente, dizendo algo sobre uma corrida
5K. Maddox se afastou mais uma vez. Ele ainda tinha o sorriso educado,
mas ele continuava esfregando o polegar e o dedo médio juntos, um tic
tênue que Seneca havia notado antes. Ela encontrou uma pausa apropriada
e aproximou-se mais. — Uh, Maddox? Eu acho que eu fumei muita
maconha. Você pode me levar para casa?
Maddox deu a Seneca um olhar breve e confuso, mas então pareceu
entender. — Claro. — Ele assentiu com a cabeça para a garota. — Até
logo. Divirta-se esta noite.
— Me ligue! — Tara gritou atrás deles.
Seneca puxou seu braço em torno de uma série de cabines e
finalmente parou atrás de um carrinho que vendia strudel. Maddox
inclinou-se contra uma lata de lixo e expirou. — Bom salvamento. Você é
uma ótima acompanhante.
Seneca mordeu o lábio. Ela sentia-se meio irritada em ser chamada de
acompanhante, especialmente depois de estar na presença de uma garota
tão bonita. — Sim, bem, eu estava ficando cansada da sua atuação de cara
grande no campus — ela murmurou.
Ele cruzou os braços sobre o peito. — Você quer dizer que você não
ficou impressionada?
— Não — ela retrucou. — Não sou muito a fim de grandes egos.
Seneca sabia que seu tom era orgulhoso e superior, mas ela não
esperava o olhar ferido no rosto de Maddox. — Certo — ele disse. — Eu
acho que para uma garota da faculdade como você, eu sou um idiota total.
Seneca baixou os olhos. Ela não sabia por que ela havia dito isso. Ela
não queria magoá-lo. — Na verdade, eu teria que estar matriculada na
faculdade para você me chamar de garota da faculdade.
Maddox olhou para ela com perplexidade. — Espera, o quê? Você
desistiu?
Seneca estudou algumas formigas devorando uma casca de melancia.
— Na verdade não. Mas esqueça isso.
Maddox franziu a testa. — Vamos, Seneca. Você pode me dizer. Você
costumava me contar tudo.
Ela olhou para ele. Costumava. Sim, online. Quando ela achava que ele
era alguém completamente diferente. Mas, de repente, ela quis dizer a ele.
Ela precisava contar para alguém. E depois do encontro com Kevin, ela não
queria fingir que era algo que ela não era.
— Então, você lembra quando eu disse que estava com dificuldade na
faculdade? — Ela suspirou. — Eu estava um pouco... além da dificuldade.
Falhando em tudo é mais próximo da verdade. Meu conselheiro me
chamou antes das férias da primavera e disse que eu deveria dar uma
pequena pausa na faculdade, me reagrupar e voltar no ano que vem.
Maddox mordeu o lábio. — Merda. Você contou a sua família?
— De jeito nenhum. Eu coloquei minhas coisas em um armazém
porque não queria voltar para casa durante as férias de primavera e contar
para o meu pai. — Ela tentou rir, como se tudo fosse um mal-entendido
que poderia ser facilmente acertado, mas a risada travou em sua garganta.
— A U de M é sua alma mater. Ele ficou tão excitado quando entrei,
especialmente quando recebi uma bolsa de estudos. Depois de tudo o que
passei... parecia ser como uma grande vitória.
A garganta de Maddox balançou. Parecia que ele queria fazer todos os
tipos de perguntas, mas Seneca estava feliz por ele não ter cedido à
tentação. — Então, o que você quer fazer?
— Eu não sei. — Ela mexia com o colar dela. — Eu fui para a
faculdade porque parecia tão são e saudável. Era o que ele queria para mim.
O que todos queriam para mim. — Ela foi a história de sucesso, depois de
tudo. A menina que passou por muita coisa, mas também conseguiu obter
um GPA de 4.0, uma pontuação quase perfeita em seu SATs e um passeio
completo para a faculdade de Maryland. Suas mãos tremiam quando ela
alisou o vestido. — Mas a faculdade não parece ser o certo.
Maddox pareceu furioso. — Talvez você esteja na faculdade errada.
Seneca queria que fosse tão fácil. Ela desejava que houvesse um lugar
ideal para ela onde tudo pareceria... certo. E então, ela percebeu: estar
aqui, em Dexby, questionando Kevin — isso parecia certo. A sensação de
calor em seu peito que geralmente nunca saía havia diminuído esta noite,
ela percebeu pela primeira vez. Mas não era como se ela pudesse fazer disso
a sua vida, ser uma Investigadora Particular profissional ao estilo Veronica
Mars ou algo assim. A vida não era um programa de TV.
Quando ela olhou novamente, Maddox a olhava com simpatia, seus
olhos enrugando nos cantos. Parecia que ele ia dizer algo legal — talvez
algo dolorosamente legal. Ela não tinha certeza se ela merecia isso agora.
Uma figura surgiu no canto do seu olho e ela saltou, feliz pela
distração. — Tara às dez horas — ela falou, arrastando Maddox. — E ela
está vindo em nossa direção!
— Eu vou dar o fora daqui. — Maddox virou-se e correu na outra
direção. Rindo, Seneca perseguiu-o para a casa do salto. Andando e
desviando, eles correram em torno da Máquina do Tempo, que
apresentava desenhos antiquados de carros voadores. Seneca ofegou por ar
enquanto tentava acompanhá-lo, correndo por um estande de fotografias
que dizia Visite o Seu Passado! onde as pessoas estavam vestidas em anáguas
da virada do século, chapéus de abas largas e calças com suspensórios.
Ela parou para recuperar o fôlego, reprimindo uma risada. Ela
literalmente correu além do futuro e do passado. Era como se um Deus
benevolente tentasse ensinar uma lição a Seneca, dizendo-lhe que ela
precisava lidar com seus problemas. Bem, talvez ela iria, eventualmente.
Mas agora, permanecer no presente estava sendo muito bom.
Capítulo 17
Traduzido por Napoleana

Q uarta-feira de manhã, Maddox ouviu o café da manhã soar na


cozinha e começou a descer as escadas. Seneca estava sentada ao
lado de Madison na mesa da cozinha, vestida com uma camiseta cinza-urze
e calças de pijama azul clara de bolinhas. Ela amarrou o cabelo e a tatuagem
temporária de golfinho saltando que ela fez no parque de diversões ainda
estava tatuada na parte de trás do seu pescoço. Em um momento de tolice,
eles escolheram tatuagens irônicas um para o outro. Maddox fez uma do
Calvin fazendo xixi do Calvin e Hobbes em seu bíceps.
Madison, que estava com calças jeans rosa e um top preto transparente
que já cheirava a maconha, estava fazendo a sua habitual rotina de fazer-
cinquenta-mil-perguntas-na-mesma-hora, bombardeando Seneca sobre
um trabalho pós-escola e quais eram suas bandas favoritas. Quando ela
perguntou a Seneca se ela gostava da faculdade, Maddox chamou sua
atenção e ergueu as sobrancelhas.
Seneca apontou para ele em advertência. Não diga uma palavra, ela
falou sobre o ombro de Madison.
Maddox levantou as mãos em rendição. Então levantou a garrafa de
café. — Quer um pouco mais?
Seneca estendeu a caneca. — Sim, por favor. Vocês o fazem tão fraco
que é praticamente descafeinado. — Ela olhou desanimadoramente para a
borra de café. — E não é do Comércio Justo.
Maddox zombou. — Você acha que o bolo de funil que você comeu
ontem à noite era um Comércio Justo?
— Eu precisava de algo para reabastecer a queima de uma zilhão de
calorias fugindo da sua namorada — Seneca revirou os olhos para Madison.
— Não escute ela. — Maddox agarrou uma rosquinha da caixa no
balcão.
Madison permaneceu na mesa, sorrindo sabiamente. — Sabe, vocês
dois são super fofos.
— Nossa, obrigada! — disse Seneca.
Maddox revirou os olhos. — Ela quis dizer nós dois, Seneca. Juntos.
Seneca grunhiu uma risada. — Por favor.
Mas quando Maddox e Seneca olharam para Madison, ela estava
olhando para ambos com um sorriso meio sonhador. — Você entendeu
tudo errado — disse Seneca enquanto se dirigia para o banheiro no
corredor. — Maddox gosta de alguém com uma bunda gostosa.
— Mentira, tudo mentira — gritou Maddox atrás dela.
Quando a porta do banheiro fechou, Maddox apontou para a sua meia-
irmã. — Não tente bancar o Cupido, está bem? As coisas começaram
estranhas o suficiente entre nós. Estou finalmente sentindo que nossa
amizade está voltando ao normal.
Madison piscou inocentemente. — Eu não disse nada.
— Eu sei o que você está pensando. — Maddox tinha se divertido
com Seneca ontem à noite. Mais diversão do que ele teve em muito tempo.
Por eles serem tão diferentes, toda a situação parecia... segura. Legal. A
última coisa que ele precisava era que Madison estragasse isso. Ele não tinha
certeza de já ter tido uma garota como amiga.
— Então, você não acha ela fofinha? — Madison gritou.
Maddox olhou para a porta fechada do banheiro. Madison nem sequer
tentava ser discreta. — É claro que ela é fofa — ele sussurrou. — Mas ela
não estaria a fim mim, de qualquer maneira. Nós somos muito diferentes.
Madison cruzou os braços sobre o peito. — Por que você disse a ela
que você estava a fim da sua treinadora?
Maddox franziu a testa, depois percebeu por que Madison tinha
assumido que Seneca estava falando sobre Catherine quando ela disse que
Maddox gostava de alguém com uma bunda gostosa. Ele começou a
corrigir a ela que era de Tara Sykes de quem ele fugira, mas Seneca saiu do
banheiro e a conversa não pareceu apropriada.
Catherine. Na verdade, ele tinha uma sessão de treinamento em meia
hora; ele não podia cancelar novamente. Como ele deveria lidar com isso?
Ele nunca tinha estado em uma situação difícil onde uma garota o tivesse
rejeitado — e, tudo bem, talvez isso meio que o incomodasse, o incidente
tocando mais e mais em sua mente como um refrão. Mas tanto faz —
Catherine não voltaria a trazer isso à tona. Eles apenas esqueceriam isso e,
em breve, eles seriam confortavelmente treinador e aluno de novo, o
universo de volta ao seu eixo.
Ele não tinha nada com que se preocupar.
***
Vinte minutos depois, Maddox parou no estacionamento do centro
de recreação, verificou o reflexo no espelho retrovisor e saiu do Jeep.
Estava congelando lá fora, e ele não vestiu uma roupa extra sobre a sua
camisa. O cheiro dos pinheiros o assaltou, perfumado e forte.
Catherine imediatamente apareceu por trás das arquibancadas como
se estivesse aguardando-o. — Vamos entrar? — Ela disse em um tom
neutro que ele nunca tinha ouvido antes, gesticulando para a entrada da
pista interna. — Nós precisamos conversar.
Maddox endureceu. Conversar?
Catherine tinha um olhar sóbrio em seu rosto enquanto caminhava.
Todos os tipos de cenários passaram pela mente de Maddox. E se o que ele
fez o colocou em problemas? Talvez Catherine se sentisse tão estranha que
não queria mais trabalhar com ele. O futuro da faculdade ficaria em perigo?
Catherine tinha sido extremamente influente em convencer o treinador de
Oregon a dar-lhe uma bolsa de estudos — a família dela tinha conexões na
escola, o que ela usou para convencer o treinador de Oregon a rever seus
tempos e assistir a um vídeo de suas melhores corridas.
A pista interna estava vazia, e seus passos ecoavam no chão vermelho
salobra. Catherine, que também trabalhava como diretora do atletismo
aqui, levou-o até o escritório, uma pequena sala escondida na área dos
vestiários das meninas. Estava preenchida com horários da equipe de
atletismo que ela treinava. Na parte de trás havia uma pequena mesa cheia
de papéis e havia algumas medalhas empilhadas em uma prateleira
empoeirada. O ar cheirava a mofo e adstringentes, como Ajax.
Catherine empoleirou-se na mesa e olhou para ele. — Você perdeu o
treino de ontem.
Maddox piscou, surpreso. — Desculpa. Eu compensarei isso.
Correrei o dobro hoje.
Ela acenou com a mão. — Está tudo bem. Eu só queria ter certeza de
que você estava... bem.
Havia um olhar sensível, mas possivelmente paternalista em seu rosto,
mas Maddox sorriu com confiança como se ele não tivesse notado. — Eu
estou ótimo. Perdi ontem porque eu tinha planos. Eu deveria ter
explicado.
— A festa de noivado de Kevin Larssen, certo?
Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Sim. Como você sabia?
— Porque também pertenço a aquele clube. Minha família conhece a
família Larssen. — Ela sorriu. — Foi uma boa festa, hein?
Maddox ficou de queixo caído. Catherine estava lá? — Eu não te vi
— ele disse devagar.
O sorriso de Catherine não vacilou. — Eu cheguei atrasada. Eu vi
você no estacionamento... eu acho que você estava indo embora. Você se
divertiu?
Ele encolheu os ombros. — Claro.
— Você estava lá com amigos?
— Uh-hum. E minha meia-irmã.
— E aquela garota Seneca? Aquela que você estava preocupado?
— Sim...
— Ela é a menina meio negra? Que estava com você no
estacionamento? Vocês saíram juntos.
Uma sensação quente tomou conta de sua pele. Ela o estava
observando? O quê, ela estava com ciúmes agora?
— Ela é muito bonita. — O sorriso de Catherine curvou-se. — Eu
achei que você tinha uma queda por mulheres mais velhas, no entanto.
Figuras de autoridade.
Ela agitou seus cílios. Maddox lutou para mudar as marchas. Ela
mudou de ideia sobre estar com ele?
— Eu estava com medo quando eu o afastei no outro dia — Catherine
disse suavemente, sua respiração quente em sua bochecha. — Mas eu não
consigo parar de pensar em você. Não consigo parar de pensar que tomei
uma decisão errada e que eu deixei escapar o que poderia ser uma coisa
maravilhosa.
Maddox examinou o olhar dela. Não havia nenhuma brincadeira lá.
Os olhos dela estavam intensos e ardentes. — Hum — ele disse,
finalmente encontrando sua voz. — Ok...
Uma pequena parte ética dele queria perguntar a ela se ela tinha
certeza, mas ele sonhara com isso há anos — como ele poderia deixar
passar a oportunidade se ela também o queria? Então ele se aproximou.
Tocou os ombros dela. Puxou-a para ele, fechando o espaço entre eles,
deslizando as mãos pelas costas esguias e logo abaixo da bainha da camisa,
sentindo ela se arquear para ele. Finalmente, ele pressionou seus lábios
contra os dela.
Ele provou o ChapStick em seus lábios, sentiu ela se mover e gemer
suavemente contra ele. Ela aprofundou o beijo rapidamente. Ele estava
fazendo isso certo? Ele nunca tinha feito isso com uma garota mais velha
antes. Claro que ele estava indo bem. Ela não estava parando, estava? Por
que ele não poderia simplesmente desligar seu cérebro e apreciar isso?
Quando se separaram, respirando profundamente, Catherine lhe
lançou um sorriso sexy e ele puxou-a de volta. Ele pensou demais durante
muito tempo. Ele precisava quebrar o hábito.
Nada que um pouco de prática não ajustasse isso.
Capítulo 18
Traduzido por Napoleana

M ais tarde, na quarta-feira, Aerin andou todos os três níveis do


seu pátio e deu vários passos no quintal. Isso era tão longe
quanto ela iria, no entanto. Mesmo cinco anos depois, o fantasma de
Helena governava a propriedade. Aerin quase podia vê-la na plataforma,
rolando uma bola de neve imaginária. Ou perto do elegante alimentador
de pássaros em forma de orelha, dizendo a Aerin que Cap’n Crunch era
um bom nome de cachorrinho. Aerin imaginou as luvas de couro
vermelhas que ela encontrou na borda da floresta. Será que o Cara
Misterioso as arrancou e as jogou na neve? Ele não sabia que custaram 300
dólares na Bergdorf’s?
Buzz.
Era uma mensagem de Thomas Grove. O Cara da Ferrari disse que eu
posso pegar emprestado o carro dele essa noite. Te pego às 7?
Há, há. Aerin escreveu de volta. Boa.
O telefone apitou novamente. Droga, eu achei que isso funcionaria. Eu
acho que você teria ficado chateada quando eu aparecesse na moto, no entanto.
Que tipo de moto? Aerin mandou.
Uma Norton. Costumava ser do meu avô.
Aerin sorriu. Ela tinha uma fraqueza por motos vintage.
O telefone apitou de novo. Uma foto apareceu. Apenas me chame de
Magic Mike, dizia a legenda, e Brett estava meio nu na frente de um espelho,
flexionando seus bíceps. Ele entrecerrou os olhos com um olhar que
claramente deveria ser sexy, mas na verdade ele parecia um pouco
constipado. Aerin riu.
Um jipe entrou na entrada particular. Seneca saiu do banco do
passageiro, vestida com uma camisa preta, uma saia jeans e um Converse
vermelho. A porta de trás se abriu e Brett surgiu em seguida, e logo depois
Madison. Maddox estava digitando no telefone. Ele não olhou para cima
por todo o caminho até o portão traseiro.
Aerin abriu o trinco para deixá-los entrar no quintal. Brett chamou
sua atenção. — Gostou da minha mensagem?
Aerin baixou os cílios. — Adorei, garotão. Especialmente o seu rosto
sexy. — Ela lhe deu um tapa de leve na bunda com as pontas de seus dedos.
Era divertido flertar com ele. Era tão bom também eles estarem na mesma
sintonia sobre isso — provocando de um lado e do outro sem nenhuma
pressão de mais nada. Muito refrescante, sair com caras que não queriam
entrar em suas calças.
Ela voltou para o primeiro nível do pátio e se acomodou em uma
espreguiçadeira. Maddox cutucou um vaso exuberante com impaciência.
— Então, como vamos descobrir quem é esse Samurai Knight secreto?
— Eu vou ligar para as velhas amigas de Helena — disse Aerin. —
Eu já comecei a fazer uma lista de todas que eram próximas dela.
— Liguei para Becky Reed — disse Seneca, referindo-se a antiga
melhor amiga de Helena. — Mas ela não me contou nada de novo. Apenas
aquele programa de verão que ela fez na cidade.
Aerin lembrou-se de Helena indo para a cidade em julho. Ela queria
encontrar-se com ela durante essas duas semanas, mas Helena disse que
estava muito ocupada. Aerin achou que era porque sua irmã não queria ser
vista em Nova York com uma menina de onze anos, mas talvez ela tivesse
outros motivos. Talvez se encontrar com alguém que ela não queria que
Aerin conhecesse.
Seneca cruzou e descruzou as pernas. — Talvez seu namorado secreto
fosse um garoto pré-faculdade, como ela. Do mesmo programa.
— Kevin pareceu pensar que ele era alguém mais velho — lembrou
Maddox.
Aerin apertou os olhos. — Um cara que ensinou no curso?
Seneca fez uma careta. — Suponho que seja possível. Podemos
procurar quem estava ensinando.
Maddox levantou o telefone. — Aqui vamos nós. — Na tela estava a
página inicial da NYU para um programa de verão em filmes e literatura
comparativa. Ele clicou na lista de instrutores do curso e franziu a testa.
— Bem, há um monte de homens na lista para o programa deste ano. Mas
como saberemos quem estava ensinando há seis anos?”
Seneca colocou o dedo no queixo dela. — Vamos ligar para a NYU.
— Vamos para a NYU — insistiu Brett.
Seneca olhou para ele. — Nós não podemos simplesmente ir sem ter
alguém para procurar. E para mim, Kevin ainda é suspeito. E se ele matou
Helena para manter ela quieta sobre ele com o senador?
— Eu concordo — disse Maddox. — Não podemos ignorar Kevin
até que possamos provar que ele realmente estava naquela conferência. Só
porque ele estava guardando um segredo para Helena não significa que ele
seja inocente.
Aerin puxou o lábio inferior para dentro de sua boca. Na Ferrari,
Thomas mencionou que ele havia lido algo sobre Kevin no arquivo de
Helena. Era sobre ele e o senador, ou alguma outra coisa?
Seneca olhou para Aerin. — Podemos olhar o quarto de Helena?
O estômago de Aerin ficou atado. Ela achou que esse momento
chegaria, mas isso ainda não parecia certo. — Eu acho...
Ela abriu a porta de vidro deslizante e começou a entrar, depois
parou. Sua mãe estava na cozinha — Aerin pensou que ela já tinha ido para
a Scoops. Marissa Ingram estava ao lado dela, usando um longo vestido
maxi sobre sua figura esquelética. — Skip vai adorar isso.
Aerin foi para trás nas pontas dos pés. Seu tornozelo virou e ela bateu
alto nas persianas verticais na porta deslizante, as fazendo baterem.
— Aerin? — Sua mãe esticou seu pescoço. Então ela espiou os outros,
que estavam confusos atrás dela. — Quem está com você?
Seneca se aproximou e estendeu a mão para a Sra. Kelly. — Seneca.
Companheira de estudo de Aerin.
Marissa colocou uma mão no peito. — Estudando, mesmo durante as
férias?
Madison deu um passo à frente. — E eu sou Madison. Acho que já
nos encontramos, Sra. Kelly... eu adoro o seu sorvete.
Brett sacudiu a mão da Sra. Kelly enfaticamente e disse: — Esta é uma
bela casa para duas lindas senhoras.
— Hum, é bom vê-la de novo também — murmurou Maddox, e a
Sra. Kelly apenas olhou para ele, provavelmente não fazendo a conexão.
Aerin não preencheu os espaços em branco. Quanto menos sua mãe
soubesse, melhor.
Marissa tocou o cotovelo de Aerin. — Foi adorável ver você na festa
na noite passada.
Aerin fez uma careta. Merda.
A cabeça de sua mãe girou. — Que festa?
— O noivado de Kevin Larssen — Marissa chilreou.
A boca da Sra. Kelly ficou aberta. — Você foi ao noivado de Kevin?
Aerin encolheu os ombros, fingindo estar excessivamente interessada
na vela perfumada na ilha.
— Foi divino, Elizabeth — disse Marissa. — A comida... a banda...
de muito bom gosto. Você deveria ter ido. Mas você virá para a festa de
Páscoa Morgenthau, certo?
A Sra. Kelly ainda estava olhando com curiosidade para Aerin. Por
um momento, o único som na cozinha era a corrida do sistema de filtração
de água dentro da geladeira. Aerin preparou-se para um confronto — e
talvez ela quisesse um. Mas então, sua mãe virou-se para Marissa. —
Deixe-me mostrar-lhe quais plantas anuais o jardineiro está colocando
neste ano.
— Claro — disse Marissa, pegando o braço dela.
Aerin viu isso como uma sugestão e ela guiou o grupo lá para cima.
Depois de um momento, ela ouviu a porta de vidro deslizante abrir para a
plataforma novamente. Ela apontou para os outros para uma porta fechada
no final do corredor. — Aquele é o quarto dela.
Brett era o primeiro no corredor, mas ele se afastou e deixou Aerin
virar a maçaneta. Ele parecia entender que ninguém entrava neste quarto
há muito, muito tempo.
O quarto cheirava a poeira. A cama de Helena estava cuidadosamente
feita com os mesmos lençóis rosa que haviam estado lá quando ela
desapareceu. Sua cômoda estava livre de desordem, o que era diferente de
como Aerin lembrava-se — a polícia deixou o lugar mais arrumado do que
encontraram. O coração de Aerin se apertou. Ela só entrou neste quarto
uma ou duas vezes desde que Helena havia desaparecido. Tudo em que ela
podia pensar agora era em como a polícia havia esvaziado o lugar por
impressões digitais e cabelos. Forensicamente, muito de sua irmã ainda
estava aqui — células mortas da sua pele embutidas no colchão, unhas
cortadas no tapete, o DNA de seus lábios aderidos ao brilho labial. Se
simplesmente todos esses átomos pudessem se reunir e reconfigurar
Helena.
Ela olhou por cima do ombro para os outros no corredor. — Entrem.
Todos entraram e começaram a olhar ao redor. Aerin atravessou o
quarto e passou os dedos pelas lombadas dos livros na estante de Helena.
Crepúsculo. O Sol é Para Todos. Ela pegou Destrua Este Diário e o folheou, mas
Helena não havia preenchido uma única página. Junto a isso, estava o diário
que Aerin havia cutucado durante o dia em que Helena desapareceu,
cuidadosamente guardado. Era uma das primeiras coisas que a polícia havia
examinado, na esperança de pistas, mas além de algumas páginas de letras
de músicas copiadas e uma lista de itens vintage que Helena queria comprar
(bolsa Chanel acolchoada, vestido Pucci, fivela de cinto de prata), o diário estava
em branco.
— Olhem — disse Aerin, segurando um catálogo de cursos para o
programa de verão da NYU há seis anos. Todos se reuniram ao virar as
fotos dos professores. Todos os caras que ensinavam as aulas de cinema
pareciam medianos.
Brett pegou seu telefone. — Eu vou procurar detalhes sobre esses
caras. Talvez um deles tenha um registro. Ou talvez veremos evidências
no Facebook de que eles flertam com as garotas na faculdade.
Aerin assentiu, depois voltou a procurar. Seneca cutucava o guarda
roupa. Maddox tinha o laptop de Helena aberto na cama — o qual Aerin
não estava entusiasmada, especialmente porque os policiais já haviam
investigado isso. Brett vagueava pelo Facebook, mas depois de alguns
minutos ele soltou um suspiro. — Nenhum professor solteiro tem uma
página no Facebook. Quais são as probabilidades disso?
— E sabem, a polícia já investigou todo esse quarto — murmurou
Aerin. — Não sei o que achamos que vamos encontrar.
Ela se moveu para a mesa de Helena, abrindo a gaveta superior. Havia
alguns lápis com a ponta gasta, borrachas rosa, uma caneta azul. Aerin
tocou em um antigo cartão do Connecticut Pizza; aparentemente, Helena
precisava comer apenas mais duas fatias para conseguir uma de graça.
Então, ela percebeu um ingresso preso à parede interna que poderia ter
passado despercebido. Era de uma banda chamada Gel Apocrypha datado
em julho, antes de Helena ter desaparecido. Aerin entrecerrou os olhos ao
local do show: Houston Street, na cidade de Nova York. Ela virou-o. Me
ligue, dizia o rabisco bagunçado. E depois o nome Greg, um número de
telefone e as palavras Amo VC.
Aerin deve ter estado com um olhar estranho em seu rosto, porque
Seneca veio e inspecionou o bilhete. — Você conhece essa banda? —
perguntou Seneca. Aerin balançou a cabeça fracamente.
— Eu me lembro deles — disse Maddox. — Esta era uma das bandas
que Helena ouvia muito. Ela me disse para fazer o download deles. Eles
são muito melancólicos.
Aerin levantou as sobrancelhas para ele. — Me pergunto quem é
Greg.
Maddox estava no telefone novamente. — Há alguém chamado Greg
Fine na banda. E ei, eles ainda tocam. Eles moram em Nova York... e eles
moravam naquela época também.
Aerin piscou forte. — Greg Fine. Esse nome parece familiar. Eu acho
que ele falou com os policiais.
— Significa que ele deve ter tido uma razão para falar com os policiais
— disse Seneca, pensativa. — Como se alguém tivesse visto ele e Helena
juntos, talvez. Talvez alguém soubesse que eles eram um casal.
— Ele tinha um álibi? — perguntou Maddox.
— Ele deve ter dito o suficiente para evitar a suspeita da polícia —
disse Seneca. Ela estalou a língua. — Que garota não tem fantasias sobre
namorar uma estrela do rock? Talvez ela o conheceu quando estava no
programa de verão... Houston Street não é longe da NYU, não é?
Brett franziu os lábios. — Kevin mencionou galerias de arte e museus,
não shows de rock, mas acho que nunca se sabe.
— Devemos pelo menos tentar chegar a ele. Vê o que ele sabe.
— Talvez seu número ainda funcione. — Maddox digitou no seu
telefone. Ele escutou por um momento, depois ergueu as sobrancelhas. —
Mensagem de voz. Mas é o nome dele na mensagem.
Então, Brett levantou o antigo iPhone branco de Helena. — Podemos
ver se ela ligou para ele.
— Eu acho que sim. — Aerin encolheu os ombros. — Embora os
policiais já tenham percorrido essa coisa antes deles finalmente
devolverem. Registros telefônicos, mensagens, tudo.
— Nós podemos olhar, também. — Brett examinou o quarto. —
Tem um velho carregador?
— No meu quarto, eu acho — disse Aerin. Na verdade, era uma boa
desculpa para tirar todo mundo do espaço de Helena. Ela estava
começando a se sentir claustrofóbica aqui.
Ela levou o grupo para o quarto dela, pegou um carregador da mesa e
ligou-o ao telefone. O ícone de carga da bateria apareceu e, depois de uma
longa pausa, apareceu uma tela de boas-vindas. O papel de parede de
Helena apareceu, uma foto alegre dela e Becky Reed. Um ícone em cima
mostrava quatro barras de bateria.
Aerin ficou de boca aberta. — Isso ainda funciona.
Seneca se aproximou. — Você acha que sua mãe se esqueceu de
desconectá-lo?
— Eu aposto que ela não ligou para a Verizon — disse Aerin
suavemente, lembrando como a assinatura da Teen Vogue de Helena tinha
chegado na porta um ano inteiro depois que ela desapareceu.
Ela clicou no ícone de contatos e percorreu a lista. De fato, havia
alguém chamado Greg nos contatos telefônicos de Helena; o número que
ela havia inserido correspondia ao número no ingresso. Aerin percorreu as
chamadas recebidas e discadas de Helena e o número de Greg apareceu
algumas vezes. Sobre o que eles estavam falando?
Bzzz.
Aerin quase deixou cair o telefone de Helena. — Oh meu Deus —
ela sussurrou, olhando a nova mensagem na tela. Uma nova mensagem de voz.
Maddox se comprimiu atrás dela. — Isso acabou de chegar?
— Eu... eu não sei — disse Aerin tremendo.
Maddox pegou o telefone, fez alguns movimentos, e suas sobrancelhas
dispararam. — A mensagem é de 27 de janeiro, cinco anos e meio atrás.
Estou surpreso que a Verizon salvou uma mensagem antiga. — Ele
pressionou a tela algumas vezes. — Ela também recebeu uma mensagem
nesse dia. Apenas diz Me ligue.
— É de Greg Fine? — perguntou Seneca, excitada.
— Na verdade, não. — Maddox parecia confuso. — É de um número
917 que ela colocou como Loren, sem sobrenome. Soletra-se L-O-R-E-N.
Me pergunto se é uma garota ou um cara.
— Ela está na banda? — Seneca perguntou.
Maddox balançou a cabeça. — Eu não vi ninguém chamado Loren na
página da Wikipédia da Gel Apocrypha. — Ele olhou para Aerin. — O
nome lembra alguém?
Aerin ficou atordoada. — Nunca ouvi esse nome na minha vida.
Maddox pressionou o botão para ligar para a Mensagem de voz e, em
seguida, colocou o telefone no viva-voz. Todos se reuniram para ouvir. Por
favor, digite sua senha, disse uma voz automática.
Seneca olhou para Aerin. — Alguma ideia de qual possa ser?
A mente de Aerin ficou em branco. Ela pegou o telefone e digitou o
aniversário de Helena, mas não era isso. O ano em que se formaria? Seu
endereço, 1564 Round Hill Lane? Então ela pensou naqueles números
tolos em cima da máquina de karaokê. Contém 1.045 músicas! Com as mãos
trêmulas, ela digitou 1045. Você tem uma nova mensagem em sua caixa de
correio, disse uma voz.
O coração de Aerin estrondou. Seneca assentiu encorajadoramente.
Brett apertou seu ombro e sussurrou que ia ficar tudo bem. Respirando
profundamente, Aerin apertou o número um para escutar.
Havia um barulho na outra extremidade. Buzinas. E, então, uma voz
masculina estranha e estridente explodiu, agressiva e insistente: — É
Loren, vadia. Nós precisamos conversar. Eu estarei no Kiko, os mesmos
detalhes de antes. É melhor você aparecer.
Clique.
Capítulo 19
Traduzido por Napoleana

N a manhã de quinta-feira, Seneca e os outros pegaram um trem


Metro-North em direção a Nova York. O sol brilhava através das
janelas sujas. As nuvens no céu azul pareciam de pelúcia e macias, do tipo
que você poderia imaginar formas de animais. Por dentro, porém, Seneca
sentia-se cinzenta e tumultuada, como sempre se sentia quando estava indo
em direção ao desconhecido. Eles deixaram para Greg Fine um monte de
mensagens de voz se passando como repórteres para um documentário da
faculdade e que desejavam uma entrevista sobre sua banda, mas ele não
havia ligado de volta. E Loren? Bem, ele parecia perigoso. Seneca não podia
acreditar que os detetives haviam perdido sua mensagem. Eles deveriam
ter monitorado o telefone de Helena um pouco mais. Eles deveriam ter
chamado esse cara e o interrogado, perguntar-lhe sobre o que ele estava
tão irritado.
Isso fez com que ela se perguntasse o que os detetives haviam deixado
passar no caso de sua mãe.
Seu telefone tocou, e ela dirigiu sua atenção para a tela. Um Alerta do
Google mostrava relatórios de notícias de Dexby: Nova Investigação Mostra
que o Incêndio na Pousada Restful foi Possivelmente Criminoso.
Uma sensação ruim brotou nela. Ela tocou para ler a história, mas não
havia detalhes reais — apenas que a fiação elétrica do hotel era sólida e a
polícia estava mudando as coisas. Ela deveria contar-lhes sobre a voz baixa
e áspera que ela tinha ouvido em sua porta? Ela ouviu mesmo uma voz?
Para tirar a preocupação da cabeça, ela clicou no grande banco de
dados de entrevistas antigas logo após Helena ter desaparecido.
Selecionando aleatoriamente, ela observou uma cena fora da escola
Windemere-Carruthers aparecer. — Todos os alunos estiveram em
intensos questionamentos desde que Helena Kelly desapareceu — disse
uma repórter à câmera. Atrás dela, espiando, estava uma garota morena
com sobrancelhas afiadas e lábios cheios cor-de-rosa. Seneca franziu a testa.
Mesmo anos atrás, ela notou essa garota — ela também estava atrás
durante algumas outras entrevistas. Havia algo desconcertante sobre ela.
Ela tocou em Aerin, que estava sentada ao lado dela. — Quem é?
Aerin apertou os olhos. — Oh. É Katie. Ela estava no mesmo ano que
Helena. — Ela bateu nos lábios. — Elas costumavam ser amigas, mas...
Seneca inclinou a cabeça. — Aconteceu alguma coisa?
— Tudo o que eu lembro é que minha mãe perguntou se Helena
queria convidá-la para seu jantar de aniversário e Helena estava tipo
Definitivamente não. Foi bem na época em que Helena começou a mudar,
vestir-se de forma diferente, escondendo coisas, sabe.
Seneca olhou para a tela. Ela deu uma pausa no preciso momento em
que os lábios de Katie estavam apertados maliciosamente. — Devíamos
falar com ela?
Aerin enrugou o nariz. — Elas não eram amigas quando ela
desapareceu. E, de qualquer forma, lembro-me da polícia interrogando
ela. Ela tinha um álibi.
Seneca não se sentiu convencida. Mas ela deixou para lá — eles
tinham maiores suspeitos para questionar.
Então, Aerin gesticulou para Maddox através do corredor. Ele tinha
a cabeça inclinada para trás e seus olhos estavam fechados. — Você pode
acreditar que ele está dormindo agora? Estou tão nervosa que mal consigo
respirar.
— Seriamente.
Maddox fez um enfurecido som de grunhido. — Bem, pelo menos,
alguém ficará bem descansado quando chegarmos. — Sorrindo
diabolicamente, ela fez uma bolinha da sua passagem e jogou-a na sua
cabeça, apontando para a boca dele. Saltou em sua bochecha e ele se
sacudiu com um suspiro.
Maddox virou em seu assento e a pegou olhando. Ele levantou as
sobrancelhas desafiadoramente.
Seneca revirou os olhos e virou-se para encarar a janela.
Ela esperava que ele não a tivesse visto corar.

***
Depois de um passeio esburacado de táxi tão rápido que eles
provavelmente poderiam ter ido andando, o grupo parou na rua Twenty-
sixth em Chelsea. Uma rajada de vento soprava na rua. Os altos edifícios
de concreto se erguiam de lado a lado, alguns com cartazes impressos e
propagandas de bandas. O Hudson brilhava no final do quarteirão. Um
percurso para corrida corria paralelamente ao rio, com gente andando de
bicicleta e caminhando. Parecia tão tranquilo aqui. Não um lugar onde um
assassino passava seus dias.
Ontem à noite, eles decidiram se concentrar em Loren primeiro. A
mensagem ameaçadora no telefone o colocou no topo da lista. Depois dele,
eles se concentrariam em rastrear Greg, o guitarrista. Eles procuraram
pelo número de telefone de Loren no Google, mas nenhum resultado
apareceu. Depois de ouvir a mensagem de Loren uma dúzia de vezes, eles
determinaram que ele estava dizendo a palavra Kiko. Eles haviam
procurado por combinações em Nova York, e havia uma dúzia de anúncios
para empresas chamadas Kiko na cidade: uma loja que vendia maquiagem
de qualidade profissional; um abrigo de animais; um lugar em Chinatown
que, na medida em que puderam adivinhar, vendia carne de cabra; um
atacadista de acessórios sem fio. Finalmente, Brett encontrou uma menção
de uma Galeria de Arte Kiko em Chelsea. De acordo com o site, o lugar
era especializado em arte asiática dos séculos XX e XXI. — Arte asiática
— disse Seneca, sua animação aumentando. — Como os origamis. Como
Samurai. — E Kevin havia dito que o namorado secreto de Helena era
culto. Se Loren for esse cara, então talvez Kiko fosse seu ponto de
encontro. Talvez ele brigaram por causa de alguma coisa. Talvez Helena
lhe disse que ela queria acabar com o seu encontro amoroso. Talvez ele
tenha viajado para Connecticut e a pegado na floresta naquele dia nevado.
No meio da fachada, a palavra Kiko estava gravada de forma
translúcida em uma janela frontal de um prédio. Dentro havia uma sala de
aparência escassa; uma escultura parecida com uma bolha sobre uma
madeira clara estava em cima de um pedestal na parte de trás. Uma mulher
asiática inclinava-se friamente contra um balcão.
— Como vamos passar por ela? — disse Aerin pelo canto da boca.
Em sua pesquisa sobre Kiko, eles descobriram que a galeria era semi-
privada, apenas aberta a compradores sérios. Para passar pelas portas, você
tinha que assinar um livro de visitas. Eles tinham esperança que Loren
tenha assinado... e talvez tenha deixado um endereço. O problema era ter
acesso ao livro de visitas. Eles inventaram algumas idéias na noite passada
— eles eram investigadores particulares; eles eram assistentes pessoais de
Loren cuidando de seus impostos e queriam saber quando ele havia visitado
ali pela última vez; eles eram de uma revista de arte e queriam detalhes
sobre quem estava interessado nas peças da galeria. Nada parecia certo.
Um caminhão de lixo rugiu ruidosamente pela rua. Seneca trocou de
um pé para o outro. Brett olhou para a menina japonesa na janela da galeria,
depois cutucou Madison. — Você fala com ela.
— Por que eu? — Madison cutucou o seu peito.
— As crianças asiáticas não se juntam? Você poderia dizer algo a ela
em chinês, talvez. Faça algum kung fu. Nós com certeza entraríamos.
— Brett! — Seneca repreendeu, meio provocando, meio
horrorizada.
Madison parecia confusa. — Eu sou Koreana.
— Oh. — Brett pareceu ficar branco. — Merda, garota. Desculpe.
— Então ele estalou os dedos. — Eu já sei. Eu sei como vamos entrar. Sou
um investidor. E eu sou de L.A... não, de Vegas. Sou ridiculamente rico e
também ridiculamente inseguro.
Aerin inclinou a cabeça para ele. — De onde você tira essas coisas?
Maddox esfregou as mãos. — E você é um daqueles caras que só quer
comprar arte se estiver na moda e se todos os outros estiverem
comprando, também. Então você está pronto para gastar algum dinheiro,
mas você quer ver o livro de visitas para garantir que outros compradores
também estão interessados. Porque se for um grupo de sem nomes nesta
lista, você não vai comprar.
Brett levantou a mão para bater na mão de Maddox. — Cara, eu gosto
do jeito que você pensa.
Aerin começou a rir. — Vocês são loucos.
— O quê? — Brett inclinou a cabeça. — É um plano perfeito.
— Como vocês dois vão fazer com que eles acreditem que são
colecionadores de arte bilionários? — Seneca riu também. — Você não
está realmente vestido como parte...
— Podemos dar-lhe um papel, também — ofereceu Maddox.
— Sim! — Brett iluminou-se. — Você pode ser minha parceira de
negócios, Seneca. E Aerin — ele se virou para ela, — você pode ser minha
namorada.
Aerin fez beicinho. — Que tal eu ser sua namorada e outra parceira
de negócios?
— Posso ser uma modelo herdeira que você pegou ao longo do
caminho? — perguntou Madison, excitada.
Seneca revirou os ombros e atravessou a rua. — Eu tenho outra ideia.
— Ei! — Brett a chamou. — Ainda não estamos prontos! Nós nem
temos nomes!
Seneca tocou para entrar, depois abriu a porta de vidro para a galeria.
A sala estava tão gelada que ela imediatamente sentiu o desejo de tremer.
Os únicos sons no espaço eram os dedos da mulher enquanto batiam em
um teclado e os sapatos de Seneca conforme eles batiam no chão de
madeira. Finalmente, a mulher parou de digitar e encarou Seneca. Ela era
mais nova do que Seneca pensou, vestindo um top preto fosco de aparência
complicada e uma calça de couro sobre as pernas mais finas que Seneca já
viu. Havia uma cópia da Cosmo na sua bolsa. Seneca olhou para a tela do
computador. Ela estava olhando o OkCupid.
— Posso ajudá-la? — a recepcionista perguntou, seu tom zangado.
— Oi. — Seneca tentou ignorar seu coração batendo forte. — Eu
deveria encontrar alguém aqui, e ele disse que ele é um comprador da sua
galeria. Existe alguma maneira de confirmar alguma coisa sobre ele?
O olhar da menina voltou ao teclado. — Eu sinto muito. Os registros
dos nossos clientes são privados.
Seneca achou que ela diria isso. Ela se inclinou confiantemente. — Eu
o conheci em um site de namoro para pessoas ricas, e ele se gabou de ter
muito dinheiro. Como um avião próprio. Eu só quero ver se ele está sendo
verdadeiro antes de conhecê-lo. — Ela sorriu calorosamente e
confiantemente. — Você não quer que eu seja enganada, não é?
A menina passou a língua pelos dentes. Um relógio fazia tic-tac acima
delas. — Não posso te prometer nada. Qual o nome dele?
— Loren... alguma coisa. Soletra-se L-O-R-E-N. Ainda não sei seu
sobrenome, então não consegui pesquisar no Google.
A assistente soltou uma risada truncada. — Posso dizer-lhe agora que
não temos nenhum cliente chamado Loren, mas conheço Loren. Loren
Jablonski: ele trabalha aqui... como segurança. — Ela balançou a cabeça.
— Ele te contou tudo isso?
A mente de Seneca estava girando, mas ela tentou duramente se
manter no personagem. — Sim, sim — ela balbuciou, fingindo surpresa.
— Ele é um segurança? Ele não tem um avião privado?
— Eu duvido.
Seneca zombou. — Uau. Isso é simplesmente... uau. Obrigada pela
sua ajuda. — Ela se moveu para sair, mas depois voltou. — Eu quero expô-
lo, mas eu certamente não vou aparecer no nosso encontro neste fim de
semana. Ele estará aqui amanhã?
A menina clicou em algo no computador. — Ele estará aqui amanhã
de manhã.
— E você não vai dizer a ele que vou aparecer?
A menina lhe deu um olhar de piedade. — De jeito nenhum.
Quando Seneca abriu a porta para a rua, ela gesticulou para a bolha no
meio da sala. — O que isso deveria ser, afinal?
A menina sorriu. — Representa o poder silencioso e duro como aço
da essência feminina.
Seneca sorriu. É isso aí.
Todos estavam olhando para ela enquanto ela atravessava a rua. Brett
correu para ela. — O que ela te disse? Você disse que nós éramos
investidores?
— Loren é um segurança, seu sobrenome é Jablonski, ele estará lá
amanhã de manhã e ele não sabe que viremos — disse Seneca com
confiança, evitando um táxi apressado. — De nada!
Madison soltou um assobio baixo e apreciativo. Maddox e Aerin
trocaram um olhar impressionado. — Você arrasou — murmurou Brett.
Boom, pensou Seneca triunfante. Ocasionalmente, era divertido acabar
com o plano de todos.
Capítulo 20
Traduzido por Napoleana

M ais tarde naquela noite, Brett sentou-se em uma espreguiçadeira


de couro branco no meio de uma suíte gigante no RitzCarlton
no Central Park South. Três garotas estavam sentadas ao seu redor, e ele
estava sendo poético sobre o império da moda de Vera Grady. A mais
próxima dele, Sadie, apertou os lábios brilhantes. — Você conseguiu ir
para as exibições dela em Paris?
— Sim, algumas vezes — respondeu Brett. — Foi incrível.
— Você conheceu alguma celebridade? — perguntou a garota no
final.
— Matt McConaughey e eu saímos uma vez de uma pós-festa — disse
Brett. — E eu almocei com aquele cara de Guardiões da Galáxia.
As meninas ficaram dando chilique. Quando Brett levantou os olhos,
Aerin apareceu através da multidão como um raio de sol que atravessava
uma nuvem de tempestade. Brett encontrou um momento apropriado para
se despedir das meninas e empurrou a multidão, tecendo em torno de
minas terrestres de vidro quebrado e uma competição de break-dancing.
Agarrando uma garrafa de champanhe recentemente aberta da bancada, ele
correu para o lado de Aerin.
— Quer? — ele perguntou, acenando a garrafa hipnoticamente sob o
nariz dela.
Aerin balançou-se de um pé para o outro. Seus olhos estavam
brilhantes e suas bochechas estavam coradas; Brett imaginou quantas
bebidas ela já tinha bebido. — Ou talvez não — ele disse rapidamente.
Mas Aerin agarrou a garrafa de qualquer maneira, e antes que Brett
pudesse detê-la, colocou tudo na boca com um gole. Quando terminou,
dirigiu-os para um sofá de couro no canto. Era próximo dos alto-falantes
estridentes, mas pelo menos era semiprivado. — Você está se divertindo?
— ele gritou sobre a música.
— Dã — Aerin gaguejou. Ela golpeou Brett desajeitadamente. —
Isso provavelmente é bastante normal para você, hein? Dar festas por
impulso?
Brett encolheu os ombros modestamente. — Eu acho que fiz
algumas. — Ele não queria levar todo o crédito, mas ele organizou esta
festa sozinho. Uma vez que eles perceberam que teriam uma noite inteira
para matar antes de conhecer Loren, ele pegou seu telefone, pediu uma
suíte de hotel, encomendou dez garrafas de Moët & Chandon de uma loja
de vinhos local e chamou um chefe de Midtown para cozinhar a comida
que estava espalhada em uma longa mesa de buffet através da parede. Ele
encontrou jovens na rua, na Starbucks e comprando na Quinta Avenida, e
convidou qualquer pessoa que parecia legal para a festa. Ele até trocou sua
roupa de tamanho grande para uma camisa de botão elegante e calças
skinny. Quando ele saiu pela primeira vez do banheiro, Aerin assobiou.
O que, é claro, era exatamente o efeito que ele estava procurando.
— O que você estava fazendo com aquelas garotas ali? — perguntou
Aerin, com uma voz provocante.
— Oh, fazendo merdas para impressioná-las — disse Brett
modestamente.
Aerin bufou. — Sim, certo. — Ela apontou para as meninas que ainda
estavam reunidas na espreguiçadeira. — Você tem certeza de que não quer
voltar? É como seu próprio fã-clube Brett Grady.
— Elas são lindas, mas não estou a fim delas — disse Brett
rapidamente.
Uma sobrancelha disparou para cima. — E porque não?
Se essa não era uma questão importante, Brett não sabia qual era. Ele
agarrou o champanhe e derramou alguns goles na sua garganta. Coragem
líquida, certo? Ele tentou manter seus sentimentos por Aerin sob controle,
tentou se concentrar no caso, mas era impossível. Ela manteve o flerte com
ele. Ele a pegou verificando-o quando ele tirou o smoking no clube, e ele
pôde dizer que ela ficou impressionada com suas habilidades estilísticas. E
sim, tudo bem, ela confundiu a mensagem dele no espelho com uma piada,
mas ela lhe enviou uma selfie de volta depois, seu corpo inclinado para a
câmera, seus lábios franzidos em um beicinho.
Ela gostava dele. Ela tinha que gostar. Isso fazia sentido: eles tinham
tanta coisa em comum. Eles compartilhavam uma história trágica.
Eles vinham do mesmo mundo.
Ele respirou fundo. — Você sabe que esta festa é para você, certo?
Os cantos da boca de Aerin puxaram em um sorriso torto. — Para
mim... e somente para mim?
— Você merece uma festa. Você merece centenas de festas. — Um
músculo se contraiu no olho de Aerin, e ela olhou para a multidão. —
Espero que você tenha o dinheiro para pagar uma equipe de limpeza. —
Isso saiu como uma dica de limpeza.
— Eu sou bom nisso. — Normalmente, Brett tentaria encurralar o
grupo — as contas de limpeza de suítes do hotel poderiam custar uma
fortuna. Mas esta noite, ele não se importava. O caos destrutivo era
realmente um pouco romântico, totalmente contribuindo com o
momento.
Ele voltou-se para Aerin. — No entanto, eu falo sério. Eu fiz isso para
você. Então, você está se divertindo? — Aerin piscou para ele, suas
bochechas adoravelmente rosas. — Você já perguntou isso, Brett, mas
sim, eu estou. Obrigada.
Ela parecia grata. Agradecida. Apaixonada, talvez? Seu coração bateu
forte. Ele foi pegar a garrafa de champanhe e Aerin também. Suas mãos se
tocaram. Brett não se afastou e Aerin também não. Eles se olharam e riram.
O rosto de Aerin estava tão perto do dele que ele podia sentir as mechas
de seu cabelo loiro tocando sua bochecha. Faça isso, sussurrou uma voz em
sua mente. Beije-a.
— Gente. — Seneca colocou-se ao lado deles. — Greg Fine está aqui.
Brett mordeu o interior de sua bochecha, irritado. Pior momento.
— Espere, o quê? — Aerin girou a cabeça pela sala. — Onde? Como?
— Maddox deixou outra mensagem de voz para ele dizendo que
queremos realizar a entrevista aqui, esta noite, se ele estivesse interessado.
E aquele é ele, na porta. — Ela apontou para um cara magro com jeans
apertados. Ele tinha um cabelo espetado, um nariz com piercing e uma
barba de vários dias. — Eu o reconheço do MySpace de sua banda.
Aerin começou a morder a unha do polegar. — O que devemos fazer?
Seneca brincou com as pulseiras em seu pulso. — Bem, entrevistá-lo,
obviamente. Podemos interpretar a coisa do Kevin, deixá-lo bêbado, vê se
ele fala sobre Helena.
— Parece que Madison já está lá — murmurou Aerin, apontando.
Madison se aproximou de Greg e lhe ofereceu uma garrafa de Moët. O
cara parecia desconfortável e acenou.
Aerin pegou o olhar de Brett e deu-lhe uma piscadela conspiradora.
Ele tentou engolir sua impaciência e voltou-se para Fine, que estava
murmurando algo para o amigo que ele trouxera com ele, outro roqueiro
com um moicano. Momentos depois, uma das meninas que estava ao lado
de Brett lhe ofereceu um copo de Solo. Mais uma vez, Greg balançou a
cabeça. Brett não era um mestre da leitura de lábios, mas até ele conseguiu
decifrar o que Greg lhe disse: desculpe. Eu não bebo.
Aerin ergueu as sobrancelhas, entendendo também. — Que roqueiro
não bebe?
Seneca levantou-se. — Eu vou investigar por aí.
Ela finalmente se afastou. Brett voltou para Aerin, relaxando. —
Então, onde estávamos?
Ela deu-lhe um sorriso descarado e aproximou-se. Nesta iluminação,
Aerin parecia angelical, seus cabelos brilhando ao redor de seu rosto, seus
olhos grandes e curiosos. O coração de Brett acelerou. Certo, ele disse a si
mesmo. É tudo ou nada. Ele moveu-se para que ele estivesse de frente para
ela. Estendendo a mão, ele tocou uma mecha de seu cabelo suave e
enrolou-o em torno de seu dedo. Era como girar ouro. Deus, as loiras o
deixavam louco.
Mas então ele notou novamente quão vidrado seus olhos estavam.
Como ela vacilava um pouco conforme ela estava sentada ao lado dele.
Como cada vez que piscava, seus olhos ficavam fechados por tempo
demais, como se estivesse lutando para ficar acordada. Estava claro que ela
estava pronta para beijá-lo, mas ela se lembraria? Brett queria que seu
primeiro beijo fosse memorável. Algo que ela queria fazer quando estivesse
sóbria também.
— Na verdade — ele disse, afastando-se dela ligeiramente e
gesticulando para um travesseiro no sofá. — Por que você não se deita? Só
por um minuto?
Aerin não se moveu. Ela estava olhando para ele com alguma coisa
parecida com amor nos olhos, ele tinha certeza disso.
— Você é tão doce. — Ela inclinou-se para ele, os braços estendidos.
— Doce Brett — ela murmurou, caindo diretamente em seus braços.
E então ela vomitou em todo o seu colo.
Capítulo 21
Traduzido por Napoleana

M addox sentou-se no pátio da suíte, olhando para a cidade.


Dentro, todos estavam dançando, bebendo e destruindo o
lugar, mas ele estava aqui tentando entender seus pensamentos girando.
Catherine o beijou. Catherine o queria. Ele deveria estar animado com isso.
Então, por que ele não estava? Por que ele estava apenas meio... meh?
Ele tirou o telefone e olhou para a mensagem que ela enviou alguns
minutos atrás. Ei, lindo, e aí? Ele sabia que ele devia mandar uma mensagem
para ela de volta. Ele estava morrendo de vontade de sair com ela há anos.
E, no entanto, sempre que ele abria uma nova mensagem, seus dedos
endureceriam e sua mente esvaziava.
A porta deslizante rangeu e Aerin apareceu balançando na varanda,
com um sanduíche na mão. — Eu vomitei — ela anunciou embriagada.
— Mas agora eu me sinto melhor.
Maddox riu. — Bom para você. — Ela ainda parecia bastante perdida
para ele.
Aerin sentou, estendendo as pernas longas e nuas. — Adivinha com
quem Madison e Seneca falaram? — Ela deu uma mordida no sanduíche.
— Greg Fine.
— O quê? — Maddox levantou-se a meio caminho. — Ele ainda está
aqui?
Aerin balançou a cabeça. — Ele disse que este lugar tem muita
tentação. — Ela olhou de volta para a festa. — Ele é um alcoólatra em
recuperação. Disse que já ficou várias temporadas na reabilitação,
começando a mesma no outono que Helena desapareceu. — Ela arregalou
os olhos. — Então ele pode ter um álibi. O problema é que não podemos
verificar. Os registros da reabilitação são confidenciais.
Maddox pensou por um momento. — Talvez a polícia de Dexby
saiba.
— Então, o que vamos fazer, esgueirar-se na estação de polícia e
hackear seus computadores? — Maddox sorriu, claramente ansioso para
brincar de 007, mas Aerin balançou a cabeça. Ela inclinou-se um pouco na
cadeira para se mover, os ingredientes do sanduíche se espalhando. —
Você assistiu a muitos filmes.
— Ele falou sobre Helena? — perguntou Maddox.
Aerin balançou a cabeça novamente. — Eu acho que Seneca não
chegou tão longe. Ele fugiu depois que viu todas as bebidas alcoólicas.
— Ele pareceu... estranho para você? Você sentiu alguma vibração?
Aerin pensou por um momento. — Na verdade, não. Mas o que eu
sei? Estou tão perdida neste momento, que o assassino de Helena poderia
estar aqui nesta festa e eu não teria ideia alguma.
Maddox acenou com a mão. — Isso é ridículo.
Lá dentro, dois jovens que eles encontraram na Apple Store
estouraram a rolha de outra garrafa de champanhe, que atravessou a sala e
quebrou uma lâmpada. Todos riram embriagados. Madison, que agora
estava usando um enorme chapéu cheio de Hello Kitty que ela comprara
na loja Sanrio mais cedo, chutou o vidro de forma delicada para uma pilha
desordenada.
Aerin voltou-se para Maddox e perspicazmente o avaliou, de repente
parecendo muito menos bêbada. — Então, como está sua mãe?
Maddox piscou, assustado. — Ela está bem. E, hum, seu pai não mora
em algum lugar por aqui? — Ele gesticulou para a cidade.
O rosto de Aerin se fechou. — Downtown. Por sorte, estamos longe
do lugar.
— Você não vai visitá-lo?
Aerin zombou. — Você gosta de sair com seu pai?
Maddox estava prestes a dizer que sua situação era diferente — ele
nem sabia onde estava seu pai. Mas talvez, quando se tratava disso, as
famílias quebradas eram todas iguais. Era uma merda.
Então, Aerin riu. — Você sabe o que eu costumava pensar sobre
você? Você me lembrava aquele cara de Meu Malvado Favorito. O Gru.
Aquele que tinha todos os Minions.
Maddox ficou de boca aberta. — Hã?
— Você era um garoto estranho, sentado no meu sofá, sempre
parecendo tão irritado. Achei que você estava criando um plano mestre.
Maddox pegou sua bebida apenas para lembrar que acabou. — Eu não
estava com raiva. — Aerin estava inventando isso porque estava bêbada?
O passado pareceu muito confuso, de repente.
— Eu sei. Eu percebo isso agora. — Aerin baixou os olhos. — Eu
me sinto mal que eu o acusei de ter alguma coisa a ver com a minha irmã.
Eu não deveria ter dito isso.
Maddox assentiu, tocado. Mas Aerin sequer ter dito isso em voz alta
tinha doído. — Obrigado.
Aerin ofereceu sua mão. — Então... amigos?
— Definitivamente. — Maddox a balançou. — Fico feliz que você
não pense mais que sou o Gru.
— Você definitivamente não é mais o Gru. — Aerin levantou um
copo. Depois de engolir mais champanhe, ela beijou a bochecha de
Maddox, abriu a porta de novo e dançou de volta para a multidão, os
quadris tremendo conforme a música. Madison a viu e gritou.
Maddox assistiu o trafego por um tempo, tentando lembrar-se de se
sentar no sofá dos Kelly enquanto sua mãe era babá. Em que ele tinha
estado pensando naquela época, antes do assassinato de Helena, antes que
ele entrasse para a equipe de atletismo, antes que sua mãe tivesse se casado
com seu padrasto e suas vidas mudaram para sempre? Quando a porta
deslizante se abriu novamente, era Seneca, quem ele não tinha visto a noite
toda. Seu estômago mergulhou quando ele a viu — era louco que ele ainda
ficasse nervoso ao redor dela. Provavelmente, porque ele ainda não
conseguiu conciliar esta linda garota com seu amigo on-line.
Seneca sentou no braço da cadeira no pátio, onde ela podia espreitar
do corrimão a cidade abaixo. — Você ouviu falar sobre Greg?
Maddox assentiu. — Aerin me contou. Acha que ele estava em
reabilitação quando Helena desapareceu?
— Eu não sei. — Sua sobrancelha franziu quando ela digitou em seu
telefone. — Estou tentando encontrá-lo no Facebook, mas sem sorte até
agora. Mas adivinha quem eu encontrei? Loren Jablonski.
— Sério? Alguma coisa sobre a época que Helena sumiu?
Seneca apertou os dentes e olhou para o telefone. — Eu estou
trabalhando nisso. A página está demorando para carregar.
Maddox riu. — Sabe, você não precisa trabalhar o tempo todo.
Seneca o olhou, um cacho de cabelo caindo sobre seus olhos. Maddox
tinha certeza de que, se Seneca soubesse o quão adorável ela parecia, ela
resolveria isso imediatamente.
— Aproveite a vista. Tome uma bebida. — As palavras soaram idiotas
assim que saíram da sua boca. O que o deixou sem equilíbrio ao redor dela
novamente? Ele pensou que superara isso.
— Eu já bebi o suficiente — Seneca riu, mas ela enfiou o telefone no
bolso e pegou o copo dele, tomando um gole de champanhe. — Essa vista
é bastante doce — ela admitiu, olhando para os arranha-céus e a vegetação
escura do Central Park.
Maddox tinha a intenção de olhar para a vista também, mas
encontrou-se olhando o modo como as luzes da cidade iluminavam seu
perfil no escuro, em vez disso. — Você sabe do que Aerin acabou de me
chamar? — ele disse abruptamente. — De Gru, de Meu Malvado Favorito.
Ela disse que eu era como um supervilão quando eu estava na casa dela.
Sempre com raiva.
Seneca inclinou a cabeça, fixando aquele olhar intenso sobre ele. —
Você estava?
— Não sei. — Maddox passou a mão pelo cabelo. — Eu achei que
ela fosse uma maluca, mas talvez fosse o contrário.
Seus olhos se encontraram e eles sorriram. Com a fraca luz sobre seu
perfil, com suas bochechas cor-de-rosa e cabelos escuros afrouxados de seu
rabo de cavalo e voando por toda parte, Seneca parecia mais do que
simplesmente adorável, Maddox percebeu. O que ela estava fazendo aqui
com ele? Por que ela não estava lá dentro, com todos aqueles caras legais
que Brett encontrou para vir a essa festa ostentosa?
Seneca voltou-se para a vista novamente. — Eu vim aqui com minha
mãe uma vez há muito tempo — ela disse depois de uma longa pausa.
Maddox congelou. Era como se uma corrente de ar frio tivesse
varrido através do terraço. Ele se segurou de perguntar-lhe sobre sua mãe,
dando-lhe o espaço que ele achava que ela queria, mas talvez ele estivesse
errado. — Me fale sobre isso — ele disse.
Os olhos de Seneca se moviam de um lado para o outro. — Ela me
levou para um chá no Plaza, o que foi muito chato, mas no final, quando o
garçom lhe fez assinar o cartão de crédito, ele lhe deu a caneta mais incrível
para usar. Ela olhou para mim e disse: Que tal roubamos? Ela a colocou no
bolso e saiu com ela.
Maddox riu, observando Seneca cuidadosamente. — Sua mãe roubou
uma caneta?
— Quase. — Seneca começou a rir. — Estávamos a meio caminho,
mas o mesmo garçom, um velho com provavelmente oitenta anos ou mais
com pequenas pernas de frango, correu atrás de nós e disse: Senhora? —
Ela aprofundou a voz para demonstrar. — Eu gostaria da minha caneta de
volta, por favor.
— Isso deve ter sido embaraçoso.
— Na verdade não. Ela apenas riu e deu a ele. Ela não se importava.
Ela era assim. Nada a atingia. O mundo era mais divertido com ela nele.
Seu rosto enrugou. — Ei — ele disse, de pé e se aproximando de
onde ela estava empoleirada, amontoada contra o corrimão. — Está tudo
bem.
Seneca encolheu os ombros. — Ela está sempre comigo. — Ela
pareceu sufocada. Então ergueu o cordão com o P. — Especialmente por
causa disso.
— Ela deu isso a você?
Seneca riu bruscamente. — Uh, não. Não exatamente.
Ela olhou para o seu colo. Maddox não tinha ideia do que dizer, então
ele ficou em silêncio. — Quando eles encontraram seu corpo, meu pai
estava ausente em uma conferência de negócios, e houve um mau tempo
que atrasou sua viagem para casa. Eu queria ver o corpo dela, eu não podia
acreditar que era na verdade ela, então eu menti para o legista para que eu
pudesse ser aquela que ia identificá-la. Eu já tinha uma identidade falsa. Eu
disse que tinha dezoito anos.
Maddox olhou para ela, incapaz de respirar.
— Então, de qualquer forma, lá estava eu. No necrotério. — Um
músculo em sua mandíbula se contraiu. — Ela estava usando esse colar,
você sabe, na maca. Não sei o que aconteceu comigo, mas quando o médico
legista virou as costas, eu tirei dela. — Ela olhou para Maddox como se
estivesse desafiando-o a julgá-la. — Pode não ter sido legal. Meu pai ficaria
destruído se descobrisse, ele apenas pensa que eu encontrei em sua caixa
de joias. Ele já estava realmente confuso que eu a tinha visto daquele jeito.
Ele também estava chateado com o quanto o legista e a polícia tinham
ferrado tudo.
— Deus, Seneca — murmurou Maddox. Ele ousou se aproximar e
tocar sua mão, que estava quente contra a frieza do ar noturno. — Eu
realmente sinto muito.
— Tudo bem — disse Seneca distante, mas ela não soltou a mão dele.
Então, abruptamente, ela se virou para ele. — Obrigada.
— De... de nada. — Quando ele olhou para ela, Seneca estava
olhando para ele de forma diferente. Ele havia dito algo errado de novo?
Qual era o problema com ele?
Seneca se afastou. — Você está fazendo aquela coisa de novo.
Ele estremeceu. — Que coisa?
— Aquela coisa com os dedos, onde você os esfrega. — Seneca
apontou para a mão dele. Quando ele olhou para baixo, seu dedo do meio
e o polegar estavam de fato se tocando. Ele os separou imediatamente.
— Você está se sentindo... nervoso? — ela perguntou.
— Eu? Eu nunca fico nervoso. — Maddox enfiou a ofensiva mão atrás
de suas costas.
— Está tudo bem se você estiver. — O sorriso de Seneca tremeu. —
A Maddy que eu conheci na internet ficava nervosa às vezes. Eu gostava
daquilo.
Ele encontrou seu olhar novamente. A buzina tocando na rua abaixo
de repente soou abafada. Mesmo a música da festa lá dentro desvaneceu.
Parecia que o champanhe percorria as veias de Maddox, borbulhante e
quente. Sua pele começou a picar com antecipação. — Hum — ele tentou,
sem ter a menor ideia do que dizer.
— Hum — Seneca brincou, seus olhos brilhando. E então,
surpreendentemente, Seneca agarrou sua outra mão e puxou-o para ela.
Seus lábios se tocaram, suavemente primeiro. Maddox levantou uma mão
para a parte de trás do pescoço de Seneca, a ponta dos seus dedos em
chamas. O beijo se aprofundou em algo com fome e urgência. Seneca
pressionou suas mãos, e ele passou um braço em torno de seus quadris,
puxando-a até que ela estivesse esmagada com força contra ele.
— Não posso acreditar que isso esteja acontecendo — sussurrou
Seneca, encontrando seu olhar por um momento.
— Eu sei — Maddox respirou fundo. Estar com Catherine não era
nada assim, ele percebeu.
Catherine. Ele se afastou para trás bruscamente, quase ofegante. —
Espera.
Seneca também abriu os olhos. Ela procurou seu rosto. — O que foi?
Maddox baixou os olhos. — Não posso fazer isso. Não podemos fazer
isso.
O olhar de Seneca sobre ele pareceu um laser. Um pequeno som
escapou dela, então seus lábios se apertaram. — O que foi? — ela
perguntou, pisando para trás, fora de seu abraço. — Você tem namorada?
Maddox podia sentir uma dor de cabeça começando, uma picada
afiada perfurando o lado de sua cabeça. — É complicado. Mas...
Seneca cortou-o com um aceno de mão. Os olhos dela eram fendas.
— Complicado. — Sua voz falhou. Ela abriu a porta deslizante e escorregou
para dentro, fechando a porta atrás dela com um puxão violento de seu
braço.
— Seneca... — Maddox foi até a porta, mas ela já estava perdida na
multidão. Ele recostou-se em uma cadeira e colocou a cabeça entre as
mãos. — Merda — ele disse em voz baixa, e depois olhou para o telefone
dele. Ele sentiu um súbito desejo de jogá-lo pela varanda.
Ele sentou-se por um momento, mas logo o pátio pareceu muito
pequeno, também muito apertado. Ele precisava se afastar desta suíte. Ele
precisava clarear a cabeça. De cabeça baixa, ele entrou na sala, atravessou
a festa e buscou a porta de aço para o hall do hotel. Não havia ninguém no
elevador, e o elevador fez um som vazio e gritante que ecoou nos seus
ouvidos. O lobby, embora opulento, estava estranhamente vazio — até
mesmo a recepção estava desocupada. Maddox olhou cautelosamente para
a loja de presentes fechada, o bar escuro. O relógio na parede dizia que
passaram das 2 da manhã. Ele não tinha percebido que era tão tarde.
Fora das portas giratórias, uma linha de semáforos abaixo na Quinta
Avenida brilhava um verde estável. Retardatários arrastavam-se ao longo
dos muros de pedra do parque. Um sem-teto sentou-se na calçada,
gritando e gesticulando, e Maddox esquivou-se dele. Um táxi passou
balançando, quase encostando em seu lado. Ele pulou para fora do
caminho, seu pulso correndo para suas têmporas.
Ele virou na Sexta Avenida e passou por um bistrô vazio. O metrô
balançou sob seus pés, a exalação quente e fedorenta através das grades.
Sempre foi tão alto?
Quando uma mão cobriu seus olhos, o primeiro pensamento de
Maddox era que era Seneca — ela veio para conversar. Ele tentou virar,
mas um braço de aço abraçou seu peito. Ele pegou o cheiro de couro e...
gasolina?
Alguma coisa estalou em seus joelhos, e ele soltou um gemido
estrangulado e caiu cegamente no pavimento. Ele tentou gritar
novamente, mas o atacante caiu com ele, cobrindo sua boca, procurando
em seus bolsos, golpeando suas costas. Algo sobre a pessoa pareceu leve...
porém forte. Maddox ouviu uma voz alta no seu ouvido: — Pare, ou eu vou
matar você. — Outro golpe explodiu em sua cabeça, e uma dor branca e
abrasadora atravessou seu crânio. Onde estavam os policiais? Onde
estavam todas as pessoas?
Escuridão o envolveu. Quando ele abriu os olhos novamente, nuvens
passavam por uma meia lua. As luzes das ruas giraram vertiginosamente.
Maddox tentou mover um dedo, depois um dedo do pé. Ele tocou
tentativamente seu couro cabeludo e sentiu um pouco de sangue pegajoso,
e quando ele mexeu no bolso, seu telefone ainda estava lá, mas sua carteira
tinha desaparecido. Quantos minutos tinham passado — um, dois, dez?
Ele se sentou e olhou em volta. A rua estava vazia. Ele ainda estava
sentado na frente do bistrô vazio, a última coisa que ele se lembrava de ver.
Ele olhou para dentro, um homem limpava o bar, atordoado que ele não
tinha visto nada, nem feito nada. Esse trecho de calçada estava muito
escuro? O homem simplesmente não se importou?
O que acabou de acontecer?
Capítulo 22
Traduzido por Napoleana

A erin não se sentiu tão mal depois da festa selvagem que ela foi no
ano passado, onde ela e Anderson Keyes beberam de cabeça pra
baixo de um barril, ou depois das repetidas vezes que ela e Brad
Westerfield beberam Jäger e assistiram aos fogos de artifícios no Quatro
de Julho, ou mesmo depois da horrível gripe que ela contraiu no inverno
passado, cinco dias na cama atormentados por febris sonhos de Helena se
afogando sob pilhas de neve. Por que ela bebeu tantos copos de
champanhe? Por que ela continuou a beber até depois de ter vomitado? O
que havia de errado com ela?
No entanto, ela conseguiu levantar a sua bunda na manhã de sexta-
feira — os chuveiros a jato definitivamente ajudaram — colocou suas
roupas do dia anterior e seguiu os outros para o Central Park South. Era
antes das 9 horas. Eles queriam pegar Loren assim que ele começasse a
trabalhar.
Esse era o único ponto brilhante na mente de Aerin. Tudo isso pode
acabar hoje. Loren pode ser a resposta. Embora Aerin não tivesse nenhuma
prova sólida, ela simplesmente achava que Greg Fine não era o quebra-
cabeça final — ele agiu como se estivesse nervoso e inseguro na noite
passada. Ela não conseguia imaginar Helena se apaixonando por ele — e
mais do que isso, ela não podia imaginar esse cara trabalhando esse tipo de
raiva para assassinar alguém. Claro, as pessoas eram diferentes quando
bebiam — sua estoica amiga Tori chorava por pessoas famintas na África
depois de um número demais de drinques, por exemplo. Ainda assim,
Greg parecia ainda mais passivo do que Kevin.
Mas ela esperava que Loren fosse uma história completamente
diferente.
Brett ficou na fila de sanduíches de ovos, e quando ele entregou a
Aerin o dela, ele encontrou seu olhar por um momento. — Será que você
poderia manter isso? Não me interprete mal, seu vômito é realmente sexy,
mas esta é minha última camisa limpa.
— Vou me certificar de vomitar em outra pessoa da próxima vez,
garotão — Aerin rosnou. Ela tinha uma vaga lembrança de vomitar em
todo o colo de Brett na noite passada, mas ele foi tão doce sobre isso,
limpando os dois no banheiro, mandando todos irem embora, mesmo que
Madison continuasse a bater na porta do quarto dizendo repetidamente que
ela tinha que fazer xixi. Ele caminhou pelo resto da festa sem camisa, e ela
se lembrou de tomar uma dose do abdome dele mais tarde... e depois de
desmaiar no chão da cozinha, apenas para acordar esta manhã com uma
pilha de baba. Que classe.
Seneca encolheu os ombros. — Você se sente bem esta manhã?
Brett se voltou para o porteiro do hotel e pediu para ele chamar um
táxi. Quando uma minivan amarela brilhante estacionou na calçada,
Maddox agarrou o braço dele. — Talvez não devêssemos fazer isso.
— Oi? — Brett franziu a testa.
— Cara, eu fui assaltado ontem à noite — gemeu Maddox. — Eu
sinto que é um mau presságio.
O estômago de Aerin se contraiu. Aparentemente, enquanto ela
estava dormindo, um policial de Nova York chegou na porta com Maddox
depois de falar com ele sobre a pessoa que o roubou. A assustava que
assaltos ainda aconteciam. A cidade não deveria ser realmente segura?
Brett afastou a preocupação dele. — Vamos ficar bem, irmão.
Prometo.
Eles entraram no taxi minivan. Seneca sentou no banco de trás. —
Madison e Aerin, sentem-se comigo. — Aerin fez o que ela pediu, mas ela
sentiu que não era um pedido de vamos ser amigas, mas como se ela não
quisesse se sentar com alguém em particular. Maddox? Alguma coisa
aconteceu entre eles?
— Vinte e Seis e Décima Primeira — Brett disse ao motorista de taxi.
O taxi foi para o centro da cidade, ficando preso no trânsito da Times
Square e depois manobrou para o rio. Na rua Vinte e Seis, Brett entregou
algum dinheiro e todos saíram. Para as orelhas sensíveis de Aerin, os sons
da construção nas proximidades eram quase ensurdecedores. Ela olhou
para a Galeria Kiko. As luzes estavam apagadas, uma grade de metal puxada
para baixo sobre as janelas e a porta.
Madison balançou as borlas em seu chapéu. Maddox continuava
olhando de um lado para outro na rua. Brett jogou a embalagem de seu
sanduíche de ovos em uma lata de lixo.
— Aquele é ele — sibilou Seneca.
Alguém emergiu da esquina. Era um homem de vinte e poucos anos
vestindo uma camisa preta e Ray-Bans. Ele tinha cabelos longos, uma cara
redonda, um corpo corpulento e a pele cheia de buracos. Havia manchas
de suor sob seus braços. Mesmo do outro lado da rua, Aerin podia ouvi-lo
respirar alto. Ele parecia o tipo de cara que tinha cabelo nas costas.
O cara parou na frente da galeria e tirou uma chave. Um cigarro
apagado caiu de sua boca. Seneca cravou as unhas no braço de Aerin. —
Acha que ele e Helena sairiam?
Aerin enrugou o nariz. Não havia como Helena viajar secretamente
para a cidade por esse cara.
Seneca pareceu pegar essa vibração também. — Então, quem é ele?
— ela sussurrou.
— Há apenas uma maneira de descobrir — Brett atravessou a rua,
evitando por pouco um mensageiro em uma bicicleta. — Você é Loren?
O cara olhou para cima. Seus olhos estavam vermelhos. — Quem
quer saber?
O ovo no estômago de Aerin coalhou. Era a mesma voz grave na
mensagem de voz de Helena.
— Estou procurando por alguém — disse Brett. — O nome dela é
Helena Kelly. Ela desapareceu em dezembro, cinco anos atrás. Eu acho
que você a conheceu.
Loren coçou o queixo peludo. — O nome não significa nada para
mim.
Seneca trocou um olhar com Aerin, então começou a atravessar a rua
também. — Bem, ela conheceu você. Ela tinha seu nome no telefone dela.
E em janeiro do próximo ano, você deixou uma mensagem no telefone
dela. Então ela apareceu morta.
Loren enrugou o nariz. Não havia sinal de culpa no seu rosto, mas
talvez ele fosse um bom mentiroso. Ele acendeu o cigarro entre seus lábios.
— Vocês são policiais? Vocês têm que me dizer se vocês são.
Brett sacudiu a cabeça. Loren relaxou um pouco. — O que essa
mensagem dizia? — ele perguntou.
Com as mãos tremendo, Aerin pegou no bolso o celular de Helena.
Depois de colocar sua senha, ela colocou o celular no alto-falante e
caminhou em direção ao grupo. De perto, a pele de Loren cheirava
surpreendentemente a hortelã. Sua voz irritada explodiu novamente na
mensagem, dando a ela calafrios. Depois que terminou a gravação, Loren
olhou para a rua, em seguida, na direção do rio a oeste. — Ela
provavelmente era uma das minhas clientes — ele disse em voz baixa. —
Eu trabalho em um serviço de entrega.
— Um serviço de entrega de quê? — perguntou Aerin.
— Depende do que você quer. Algumas pessoas querem
comprimidos. Algumas pessoas querem maconha. Algumas pessoas
querem strippers. Eu sou como uma loja que vende tudo.
O estômago de Aerin girou. Strippers? — Talvez você tenha deixado
essa mensagem por engano?
— Não uma mensagem como essa. — Loren tinha um sorriso
grosseiro.
Aerin procurou uma foto de Helena no celular. Era uma do dia de
Ação de Graças antes dela desaparecer. Helena estava sentada à mesa, o
peru meio comido, o rosto virado para a câmera, seus traços delicados e
graciosos suavizados pela luz das velas. — Esta era ela.
Loren fez um som de cacarejo com a língua enquanto a estudava. —
Ok, sim. Ela era uma cliente. Eu entregava duas vezes por semana.
— Entregava o quê? — perguntou Aerin, então levantou a mão. —
Na verdade, não responda. Não quero saber.
Madison esfregou a mandíbula. — Se você entregava a ela duas vezes
por semana, isso significaria que ela teria que ter um endereço na cidade,
certo?
Loren jogou o cigarro na sarjeta. — Eu não entrego nas esquinas.
Seneca parecia animada. — Você se lembra do endereço de Helena?
Loren riu. A risada rapidamente se transformou em tosse, que durou
vários segundos. Ele enxugou os olhos. — Isso pode ser uma surpresa, mas
às vezes eu experimento meus produtos. Minha memória é uma merda...
não me lembro da semana passada.
— Bem, você mantém uma lista de clientes? — Seneca perguntou.
Loren começou a tossir novamente. — Não sou um consultório
médico, querida.
— Sabe, não estou acreditando nisso — murmurou Brett. — Não
consegue lembrar um endereço, não tem registro dos clientes e aqui há um
telefonema muito pessoal.
— Ela provavelmente me devia dinheiro. Essa é a única vez que eu
ligo para os clientes, quando não pagam suas contas.
Maddox se aproximou de Loren. — Sabe o que eu penso? Você foi
onde Helena estava hospedada e tentou pressioná-la. Mas talvez ela não
tivesse o dinheiro. Talvez isso tenha deixado você ainda mais irritado.
Talvez as coisas tenham saído de controle...
Loren estufou o peito. — Eu poderia ligar para os policiais agora
mesmo. Esta é uma propriedade particular.
— Mas você não vai — Brett sorriu triunfantemente. — Porque
então eles vão descobrir sobre você. E você não gostaria disso.
Houve uma breve encarada. Loren soltou fumaça. — Você está
tentando seriamente dizer que eu fiz algo com essa garota? — Ele começou
a rir. — Pense no que você acabou de dizer. Helene, Helena, seja qual for
o nome dela, desapareceu em dezembro cinco anos atrás, certo? E estamos
assumindo que ela também foi morta por aí, também? Se vocês tivessem
feito sua pesquisa, vocês saberiam que eu quebrei minhas duas pernas, uma
delas em quatro lugares diferentes, em dezembro... eu estava fazendo uma
incrível acrobacia que meio que deu errado no final.
Ele tirou um iPhone do bolso, pressionou a tela algumas vezes e
mostrou ao grupo um vídeo. A data era 16 de dezembro, cinco anos atrás.
Um garoto corpulento que parecia exatamente com Loren fez uma
cambalhota em uma jogada de futebol. Ele pousou diretamente em um
grande barril azul cheio de Gatorade, e então a coisa caiu e rolou por uma
enorme colina diretamente para onde uma banda de ensino médio estava
praticando em um campo. Loren e o barril derrubaram vários trompetistas
tão fáceis quanto pinos de boliche. O câmera aplaudiu em segundo plano.
Loren se arrastou para longe do barril, gritando de agonia.
Madison olhou para ele. — Você estava drogado?
— Absolutamente — Loren riu. — A publicação virou viral. Estava
em todo o Facebook, até mesmo no programa Today! Então, eu pergunto
a vocês, um cara com um grande maldito gesso nas duas pernas pode matar
uma mosca, muito menos uma menina? — Então algo mais pareceu
ocorrer a ele. — Além disso, se vocês acham que ela foi morta em
dezembro, por que eu ligaria para ela em janeiro? — Ele revirou os olhos.
— Vocês são amadores totais.
O vento uivou nos ouvidos de Aerin. Em algum lugar ao longe, um
coro de buzinas explodiu. Loren girou e abriu a porta da galeria. Ele
entrou, trancou e deu-lhes um aceno prolongado por trás do vidro, com
os olhos zombadores.
Brett correu para a porta e bateu com uma palma. — Espere! Você
sabe se ela tinha namorado, então? Com quem ela estava hospedada em
Nova York? — Loren caminhou para a parte de trás da galeria sem
responder.
Brett girou de volta e encarou o grupo. — Droga. Como perdemos
isso? Ele disse que estava em todo o Facebook!
Seneca tinha as mãos sobre os olhos dela. — Facebook.
— Por que ninguém procurou para ver se ele tinha uma página? —
Aerin gritou.
Maddox apontou para Seneca. — Você não o encontrou na noite
passada? Eu pensei que você estava verificando.
Seneca olhou para ele. — Eu estava verificando, mas então você falou,
Você não precisa trabalhar o tempo todo! Pegue uma bebida! — Ela usou uma
voz imbecil e zombeteira, e seus olhos arregalados.
Maddox pressionou a mão no peito. — Então agora é minha culpa?
— Ok, ok, vamos nos acalmar. — Brett começou a andar. — Então
Loren não é nosso cara. Mas conseguimos tirar algo dele. Helena tinha um
endereço aqui. Isso é muita coisa!
— Ou então ela estava apenas vindo para a cidade de Nova York
regularmente porque ela não conseguia comprar drogas em Dexby — disse
Maddox.
— Você pode conseguir drogas em Dexby facilmente — apontou
Madison. — Quero dizer, a menos que ela estivesse com uma droga muito
louca...
— Ela não estava indo para a cidade de Dexby. — Aerin odiava até
mesmo dizer isso. — Mesmo que ela pegasse droga dele, Loren disse que
ele entregava duas vezes por semana. O que significa que ela teria estado
em Nova York duas vezes por semana. Eu a vi todos os dias naquele ano,
exceto quando ela fez aquele programa de verão aqui. Ela também não
poderia ter faltado a escola, seu registro de presença era perfeito. Eu sei
porque a maldita direção lhe enviou um prêmio póstumo. Ainda está em
seu quadro de avisos com todo o resto de suas porcarias porque minha mãe
está muito triste para tirar tudo isso. — Ela endireitou seus ombros. —
Loren deve ter pensado que ela era outra pessoa.
— Ou... — Seneca limpou a garganta. — Talvez Loren descobriu
alguma coisa. Talvez Helena não tenha morrido no último dia em que você
a viu, em dezembro. Talvez ela tenha vindo para cá, morado na cidade por
um tempo... em janeiro. Foi quando Loren entregou a ela. Quero dizer,
talvez ele entregou algumas vezes antes daquele dia de dezembro, também,
como quando ela estava no programa de verão, caso contrário ele não teria
conseguido o seu número de seu telefone. Mas a maior parte de suas
entregas, duas vezes por semana, talvez fossem no final de dezembro, para
o começo de janeiro.
O vento mudou e a cidade cheirava bruscamente a lixo. Aerin olhou
para Seneca. — Do que você está falando? Um minuto, Helena estava no
quintal comigo. No minuto seguinte, ela se foi. Alguém a levou, assassinou-
a. — Ela piscou. — Ela não fugiu.
Seneca não parecia tão segura. — No último dia em que você a viu,
ela mandou você entrar para pegar uma bolsa. Por que ela mesma não
pegou?
Aerin piscou, confundida com a pergunta. — Eu não sei.
— Ela pode ter enviando você para dentro porque isso daria tempo
para ela fugir.
A mandíbula de Aerin caiu. — Mas ela não pegou seu telefone. Ou
qualquer roupa.
— Talvez este cara de Nova York tivesse um esconderijo para ela.
Havia um som correndo nas orelhas de Aerin. — Ok, mesmo que seja
verdade, porque Helena iria querer passar por toda a charada de construir
um boneco de neve? Por que ela não encontrou outro momento quando
nenhum de nós estivesse em casa e fugisse?
— Talvez eles tenham marcado uma hora antes. Talvez ela não
previsse que você estivesse por perto.
— Oh, então eu era apenas um aborrecimento que tinha que ser
afastado?
Seneca beliscou a ponta do nariz. — Não sei, Aerin. Eu não a
conhecia. Talvez você não a conhecia, também.
Aerin ofegou. Parecia que Seneca a tinha perfurado. Ela olhou para os
outros. — Vocês acham que ela está errada, certo?
Madison arrastou os pés. Brett enfiou as mãos nos bolsos.
— Certo? — Aerin gritou, sua garganta apertada.
— Ela não está necessariamente errada, mas ela não deveria ter falado
isso para você desse jeito — disse Maddox.
Seneca virou-se para ele, com as sobrancelhas franzidas. — Como é?
— Qual é, Seneca — disse Maddox gentilmente. — Tenha alguma
compaixão.
— Concordo — disse Brett.
Seneca gemeu. — Talvez a princesa Aerin devesse ser um pouco
menos sensível. Quero dizer, estamos investigando um caso de assassinato.
Ela esperava que tudo fosse filhotinhos e arco-íris? — Aerin olhou para ela,
abrindo a boca para dar uma resposta irritada.
Maddox a cortou. — Ei. Só porque você está com raiva de que você
esqueceu de procurar Loren no Facebook, não significa que você precise
descontar em Aerin.
Seneca parecia que ia explodir. — Por que você não procurou a
página, Maddox? Por que sempre deve ser eu procurando essas merdas?
Por que eu sou a única trabalhando aqui?
— Ei. — A voz de Brett rachou. — Todos estamos trabalhando.
— Sim, Seneca — Madison gritou.
Seneca apontou para Brett. — Na verdade, você parece mais
interessado em flertar com Aerin. E Madison? Você é legal, mas eu não sei
por que você está aqui. Para se aproximar de seu irmão? Você não devia
perder o seu tempo.
— Seneca — disse Aerin, cansada. Toda a raiva de repente drenou
de seu corpo, até que tudo que ela podia sentir era cansaço. — Seja legal.
Seneca virou-se para ela. — Por que você está defendendo Maddox?
Ele acha que você é uma vadia. — Aerin piscou e, chocada consigo mesma,
sentiu lágrimas se aproximando. Ela engoliu rapidamente.
Maddox parecia mortificado. — Não, eu não acho!
— Ah, por favor — disse Seneca. — Você disse isso várias vezes.
Brett cruzou os braços sobre o peito. — Vamos respirar, pessoal.
Todos se acalmem.
— Cala a boca, Brett! — gritou Seneca.
A testa de Brett franziu. — Seneca — Havia um aviso em sua voz. —
Estou falando sério. Acalme-se.
— O que você vai fazer comigo? — Seneca zombou, colocando as
mãos nos quadris.
— Você precisa relaxar, Seneca — ordenou Maddox. — Dar um
tempo.
Ela se virou e olhou para ele. — Vou fazer uma pausa, tudo bem. Por
que não? Eu não estou chegando a lugar nenhum com você. Você é apenas
uma distração para mim. Eu estou melhor sozinha.
Ela virou-se e começou a caminhar em direção ao rio. Madison
começou a persegui-la, mas Maddox pegou seu braço e balançou a cabeça.
— Ela não vai te ouvir agora — ele disse, com tristeza em sua voz. —
Apenas deixe-a ir.
Eles ficaram em silêncio por um momento. Maddox olhou para Aerin.
— Eu realmente não acho que você seja uma vadia — ele falou.
Aerin respirou profundamente, ainda lutando contra lágrimas. O
estresse da estranha briga a deixou toda errada, enchendo-a de uma
autoconsciência inesperada. Ela realmente não se importava que Maddy
Wright pensasse que ela era uma vadia, ou talvez ela se importasse. Ela não
se importava de que Seneca tivesse dito aquela coisa sobre sua irmã ou
tivesse assustado todos eles, ou talvez ela tenha se importado. Tudo o que
ela sabia era que ela se sentia ainda mais perdida do que nunca. — Talvez
Seneca esteja certa em alguma coisa — ela disse calmamente. — Talvez
devêssemos acabar isso.
— O quê? — Brett gritou atrás dela. — Aerin, não! Estamos tão
perto!
— Não, não estamos — A voz de Aerin se quebrou. — Nós não
chegamos a lugar nenhum. Não sabemos de nada.
Como Seneca, ela começou a andar, embora ela tenha escolhido a
direção oposta, em direção ao meio da cidade. Felizmente, ninguém do
pequeno grupo perseguiu-a. Ela odiava o quanto eles sabiam sobre ela,
como a sua roupa suja, as inseguranças e as imperfeições da sua família
estavam na frente e no centro. Ela desprezou a ideia de descobrir coisas
ainda mais horríveis sobre sua irmã.
A revelação de Seneca voltou. Aerin odiava pensar isso, mas... Seneca
poderia estar certa? Helena poderia ter vivido... e estado bem... por
semanas? Meses? Ela estava aqui em Nova York no final de dezembro. No
Natal, no Ano Novo. Ela pensou em seus pais, em Aerin? Ela assistiu seu
grupo de busca nas notícias noturnas? Riu dos pedidos frenéticos de seus
pais para que quem a sequestrou a devolvesse com segurança? Como se
fosse uma piada?
Era muito horrível para considerar.
Ela atravessou a rua, passando por um carro com janelas tingidas.
Enquanto ela olhava através do para-brisa, um rosto borrado olhava para
ela, parando-a repentinamente. Parecia que a pessoa a observava.
Aerin olhou por cima do ombro dela. Não havia uma alma nesse
quarteirão. O vento soprava na esquina. Grades de metal sobre lojas
fechadas sacudiam. Embalagens de doces vazias sopravam em uma valeta.
Uma sombra se moveu dentro do carro para abrir a porta do
motorista. O coração de Aerin parou e ela afastou-se da calçada e começou
a correr, mas seu passo estava hesitante e ineficiente por causa de seu sapato
alto. Ela ouviu passos atrás dela e soltou um grito indefeso. Seu tornozelo
virou-se, e ela tropeçou, quase cambaleando para a calçada. Lutando para
manter o equilíbrio, ela correu pela esquina para uma avenida mais
movimentada. As pessoas se moviam para lá e para cá. Um comerciante
que pendurava bolsas em uma estante do lado de fora lhe lançou um olhar
estranho.
Você está sendo ridícula, ela disse a si mesma, respirando e expirando.
Ninguém está atrás de você. Ninguém se importa.
E, de fato, quando ela olhou ao virar da esquina, o carro suspeito
desapareceu do ponto do estacionamento. Talvez nunca tenha estado lá.
Capítulo 23
Traduzido por Napoleana

D e volta ao Metro-North, Seneca estava sentada sozinha, com os


pés na parte de trás do assento na frente dela. Embora ela tivesse
aparecido na estação de trem separada dos outros, de alguma forma todos
conseguiram embarcar não só no mesmo trem, mas no mesmo maldito
vagão — bem, exceto Aerin, mas Seneca tinha certeza de que ela havia
conseguido um táxi para casa. Típico. Maddox estava duas filas na frente e
Brett do outro lado do corredor dele perto da janela. Madison estava na
parte de trás perto do banheiro com fones de ouvido sobre os ouvidos. Era
como se fossem estranhos. Talvez fossem, novamente.
Ela olhou pela janela para as pequenas casas passando, sentindo-se
irritada. Era uma merda que ela voltaria para Dexby. Quando chegou à
bilheteria da Grand Estação Central, ela considerou comprar um bilhete
para Annapolis e simplesmente deixar suas malas para trás, mas a estúpida
estação só tinha trens indo para o norte. Bem, tanto faz. Ela pegaria suas
coisas na casa de Maddox e iria embora. Ela não podia mais imaginar ficar
com ele.
Ela não tinha mais motivos para ficar em Dexby, também: na estação
de trem, Brett havia murmurado para ela que Aerin havia cancelado a
investigação. Seneca não podia acreditar. O que eles descobriram sobre
Helena vivendo depois daquele dia em dezembro reabriu o caso. Eles
tinham uma nova linha de tempo agora: Helena poderia ter sido morta
entre a época que ela desapareceu e o telefonema de Loren no final de
janeiro, explicando por que ela não pagou sua maconha ou drogas, ou o
que quer que for. Ou, ela poderia ter vivido depois daquele telefonema e
mudado de cidade novamente, deixando suas dívidas para trás, encenando
a mesma atuação de desaparecimento duas vezes. Os álibis para o fim de
semana que ela desapareceu já não se aplicavam; qualquer um poderia ser
um suspeito novamente. Kevin. Greg Fine. Ok, talvez não Loren com as
suas pernas quebradas, mas definitivamente o namorado misterioso que
morava em algum lugar da cidade.
Então, por que Aerin queria parar agora? Ela não estava morrendo de
vontade de saber a verdade? Se esse fosse o caso da mãe de Seneca e eles
tivessem feito um avanço tão grande, Seneca estaria indo a todo vapor, não
importava o quê.
Uma mulher mais velha passando se desequilibrou, segurando uma
xícara de café. Ela disparou a Seneca um sorriso pequeno e gentil, mas
Seneca não pôde sorrir de volta. Ela estava muito chateada. Não apenas por
parecer uma tola na frente de Loren e do grupo. Não apenas por ficar
totalmente distraída e esquecer o Facebook de Loren. Sobre a noite
passada, também.
A pior parte foi que Maddox nem sequer tentou se desculpar. Ontem
à noite, ela esperou por ele, mas quase uma hora se passou, e ele ainda
estava desaparecido da festa. Sua fúria acabara de queimar mais quente e
mais quente com o passar do tempo. Bela maneira de evitar a situação, idiota.
E quem era sua complicação? Provavelmente era Tara. Eles provavelmente
estavam juntos o tempo todo. Por que ele não iria querer namorar com ela?
E Tara provavelmente pensava que ele era um namorado, mas Maddox a
via como uma chamada para sexo. É por isso que ele queria evitá-la no
parque de diversões, não porque não gostasse dela. E, como uma idiota,
ela o ajudou!
E, tudo bem, então, ele apareceu com a polícia e disse que tinha sido
assaltado, o que foi assustador. Mas de alguma forma seu cérebro racional
não conseguiu subjugar sua raiva. Além disso, se ele fosse um adulto sobre
isso, se ele tivesse tentado suavizar as coisas com Seneca, ele não precisaria
dar essa caminhada e sua carteira não teria sido levada.
Claro, ela nunca deveria ter beijado ele também. Não era como se ela
tivesse planejado. Meio que... aconteceu. Ela sentiu-se próxima dele
depois de contar aquele segredo sombrio sobre sua mãe. Beijar ele pareceu
tão certo... até que pareceu tão tragicamente errado.
O condutor gritou que estavam parando em Dexby e Seneca olhou
para cima. Os outros membros do grupo estavam nos corredores,
preparando-se para sair. Ela sentiu uma pontada enquanto ela olhava para
os ombros quadrados de Brett e o rabo de cavalo alegre de Madison, até a
tatuagem do Calvin, meio desintegrada, no bíceps de Maddox. Ela respirou
fundo. Ela deveria se desculpar, até mesmo com ele. Ela estava com raiva
de suas escolhas estúpidas e por se tornar tão vulnerável. Estava chateada
por ter esquecido de procurar a história de Loren; no geral, parecia que
ela estava deixando escapar uma coisa importante. Ela não teria feito isso
se ela estivesse sozinha. Ela ficaria sóbria, não deixaria seu passado nublar
seus pensamentos e definitivamente não deixaria um cara ficar entre ela e
descobrir a verdade. Mas porque ela não podia realmente dizer tudo isso,
ela atacou o grupo para esconder suas inseguranças. Talvez se ela pedisse
desculpas, se ela pedisse que Aerin reconsiderasse, eles poderiam começar
de novo. Certo?
Todos desembarcaram do trem e começaram a ir para o
estacionamento. Seneca percorreu o grupo, compondo suas desculpas em
sua cabeça. Ao passar pelas primeiras linhas de veículos, uma voz gritou —
Seneca!
Ela virou-se e viu uma figura, mas era alguém tão inesperado em
Dexby que ela deu uma segunda olhada. Ela avistou o Ford Explorer
branco atrás dele com seu familiar amassado no para-choque traseiro e a
placa de Maryland, depois espiou novamente. Um sabor azedo brotou em
sua boca.
— P... Pai — Seneca disse em uma voz vacilante. — Oi.

***
O Sr. Frazier olhou para Seneca friamente sobre seus óculos. Sua boca
uma linha dura. Seus ombros estavam tensos. Seneca sentiu-se enorme no
meio do estacionamento. Ela desejava que ela pudesse se derreter em uma
poça e escorrer para dentro do bueiro.
— Como você me encontrou? — ela finalmente perguntou, quando
seu pai não falou.
O Sr. Frazier soltou uma risada cáustica. — É uma história engraçada.
— As palavras saíram como pequenas bolas de fogo. Seneca não estava
certa de ter visto ele tão irritado. — Veja, tudo começou esta manhã,
quando recebi uma cobrança da biblioteca da U de M dizendo que você
tinha algumas multas. Eu paguei, de nada, mas, em seguida, entrei na sua
conta de cartão de crédito para ter certeza de que você estava pagando suas
outras contas.
Seneca piscou. — Você tem acesso ao meu cartão?
— Eu co-assinei para você, Seneca. Claro que tenho acesso. Eu
encontrei uma cobrança de um caixa eletrônico de uma Pousada em
Dexby, Connecticut. E eu penso, Uh-oh, o cartão de Seneca foi roubado. É
melhor eu ligar para ela. Então eu ligo várias vezes, mas você não atende.
O estômago de Seneca afundou. Ela estava tão de ressaca — e tão
louca por causa de Maddox — que ela ignorou o telefone por toda a
manhã. Opa.
— Então eu liguei para o número que você me deu de Annie — seu
pai continuou.
Seneca fechou os olhos. Não.
— Foi tão estranho — disse o Sr. Frazier, sua voz ficando cada vez
mais aguda. — Uma mulher da limpeza atendeu e ela disse que a família
Sipowitz estava no Maine para as férias de primavera. — Ele estava
tremendo agora. — Então eu entrei no carro e dirigi até Delaware. Eu não
sabia para onde ir. A meio caminho, lembrei-me do Encontre Meu iPhone,
e graças a Deus fui eu quem configurou seu ID na nuvem antes de mandar
você para a faculdade. Dizia que você estava na cidade de Nova York. Então
começou a se mover de novo, e descobri para onde deveria me dirigir. O
pequeno ponto azul chegou a parar, surpresa, surpresa, Dexby. — Ele
arqueou as costas e olhou para as árvores. — O subúrbio de Connecticut.
Não é um lugar ruim para fugir, eu acho.
Seneca manteve o olhar no chão. — Eu não fugi.
Seu pai parecia que queria bater em alguma coisa. — Todos os tipos
de cenários horríveis me vieram à mente, Seneca. Eu pensei que alguém a
tivesse sequestrado. Pensei que estivesse morta. Isso trouxe muitas
lembranças, deixe-me dizer-lhe. Não são boas.
— Desculpa — sussurrou Seneca. — Eu deveria ter explicado,
mas...
— Seneca, você deveria dizer a ele a verdade.
Madison estava ao lado dela. Ela agarrou a mão de Seneca e a
balançou. Então ela se virou para o pai de Seneca. — Olá, Sr. Frazier. É
um prazer conhecê-lo.
Seneca olhou para Madison, confusa. O Sr. Frazier também olhou. —
E você é...?
— Annie — Madison estendeu os braços.
Seneca viu quando seu pai olhou para a menina asiática vestida de rosa
e usando um lindo chapéu da Hello Kitty em sua cabeça. — Annie de
Delaware? — ele disse com descrença.
— Minha família está no Maine, mas eu vou ficar com amigos aqui —
Madison chilreou. — Seneca estava preocupada que você não quisesse que
ela estivesse tão longe de você. Eu realmente sinto muito. Eu apenas sentia
muita saudade dela. Eu realmente queria vê-la.
Ela passou um braço pelo cotovelo de Seneca e puxou-a com força.
Seneca tentou ficar de boca aberta para ela. Como ela inventou isso tão
rápido? E isso funcionaria? Seu pai nunca conheceu Annie afinal, apenas
ouviu tudo sobre ela.
O olhar do Sr. Frazier saltou de garota para garota. — Você é Annie?
— Uh-hum. — Madison sorriu.
— Annie Sipowitz?
Madison piscou muito rápido. — Eu sou adotada.
O que era verdadeiro, tecnicamente, mas sua pausa havia sido longa
demais... o jogo estava acabado. O pai de Seneca resmungou. — Entre no
carro — ele exigiu para Seneca, apontando para o Explorer.
— E as minhas coisas? — Seneca gritou. — Está na casa dela. — Ela
apontou para Madison.
O Sr. Frazier apontou o queixo para o Explorer novamente. — Ela
pode enviar de volta. Eu providenciarei isso. Eu quero você neste carro
agora mesmo.
Seneca engoliu em seco. Pela primeira vez, ela olhou para o resto do
grupo. Brett parecia arrasado. Os olhos de Madison estavam grandes e
solenes. Até mesmo Maddox parecia conflituoso. No entanto, ninguém
deu um passo à frente para dar outra desculpa. Mas, no entanto, o que eles
poderiam dizer?
O Sr. Frazier sentou no banco do motorista e virou a ignição. Seneca
deslizou ao lado dele, olhando para as mãos dela. Eles passaram pela
pousada, que ainda estava fechada. Algumas paredes estavam escurecidas
por causa do fogo. Teria sido um incêndio criminoso? Alguém estava
avisando eles, ou foi apenas uma coincidência?
Seus pensamentos voltaram para Loren. De quem era o endereço que
Helena estava dando para as entregas? De um namorado secreto? Há
quanto tempo ela ficou na cidade antes que alguém a matasse?
Buzz.
Ela olhou para o telefone dela. Brett tinha enviado mensagens de
texto. Sinto muito que você teve que ir embora. Sem ressentimentos. E então: Eu
sei que Aerin quer que a gente pare, mas eu pensei sobre a palavra no origami. Eu
sinto que isso significa alguma coisa.
Seneca sentiu um salto de gratidão por ele ter mandado a mensagem.
Como o quê? ela enviou de volta.
Não tenho certeza, a mensagem de Brett chegou. Eu achei que você teria
uma ideia.
Seneca moveu-se para escrever de volta, mas seu pai lançou-lhe um
olhar afiado. Uma angústia a cobriu de novo. Se ao menos ela tivesse visto
o Facebook de Loren na noite passada ao invés de beijar Maddox. Sua
cabeça estaria clara nesta manhã; eles podem ter interrogado Loren de
qualquer maneira, mas eles não teriam parecido idiotas sem pistas. Ela
poderia ter convencido Aerin a avançar com a investigação, argumentado
que estavam um passo à frente o tempo todo. Ela teria ouvido o telefone
tocar e atendido a ligação de seu pai e acalmado ele também. Ele não teria
conduzido até aqui em pânico, e ela ainda estaria em Dexby, analisando
essa nova linha do tempo, descobrindo a palavra no papel, descobrindo
tudo.
Isso era culpa dela. Cada pedaço disso.
Ela olhou miseravelmente para fora da janela novamente. Uma
limusine de Recém-casados arrastava-se em frente a eles, a mensagem alegre
na parte de trás irritando-a. Abaixo do Recém-Casados tinha um desenho
descuidado de um coração com uma flecha através dele. Dentro,
presumivelmente, os nomes do casal: Kyle Brandon + Hayley Isaacs. Nas
janelas laterais estava o mesmo coração, mas quem desenhou o objeto não
conseguiu encaixar seus nomes dentro, então simplesmente colocaram
suas iniciais: K.B. + H.I.
Uma luz piscou no cérebro de Seneca. Então outra. Ela pensou em
pequenas letras em outro lugar, depois ofegou. — Pare o carro.
Seu pai resmungou. — Como é?
— Estacione. — O coração de Seneca estava batendo rápido. — Por
favor. Isto é uma emergência.
Seu pai olhou para o outro lado, depois estacionou o carro. — E
então?
— Eu preciso voltar.
— Você o quê?
— Eu preciso voltar. Preciso falar com alguém.
— Você não pode fazer isso por telefone?
Seneca sentiu-se frenética. — Olha, eu sei que não lhe dei muitas
razões para me tratar como uma adulta ultimamente, mas preciso que você
confie em mim sobre isso. Não estou fazendo nada estranho. Eu só preciso
de alguns dias. Então, quando chegar em casa, eu prometo que
conversaremos. Sobre tudo.
O Sr. Frazier olhou para ela. — Eu acabei de dirigir quatro horas e
meia por você.
— Eu sei. Eu vou explicar, eu prometo. Mas você tem que me dar
mais alguns dias.
Ele balançou sua cabeça. — Não. De jeito nenhum. Não a menos que
você me diga o que está fazendo.
Ela beliscou a ponta do nariz. — Eu simplesmente... não posso.
— Desculpa. Então você tem que voltar para casa.
A garganta de Seneca fechou. — Ok. Bem. Uma das pessoas com
quem estou saindo é Aerin Kelly, está bem? A menina cuja irmã foi
sequestrada quando mamãe... — ela parou. — Nos conhecemos online.
Nós somos amigas. Essas outras crianças passaram por isso também. — Ela
olhou para ele. — Estar com eles... ajuda.
O Sr. Frazier pareceu chocado e Seneca sentiu um toque de culpa. Ela
nunca jogou a carta de saída de eu-ainda-estou-confusa-sobre-minha-mãe.
Era uma ótima jogada — e era quase verdade — mas ela resistiu ao
impulso. Ela sabia que se ela dissesse a verdade, ela conseguiria aquele pai
obsessivo, neurótico, envolvido e preocupado; o mesmo que foi atrás de
médico após médico para vê-la, o mesmo que se sentava fora da porta do
seu quarto dia após dia para se certificar de que ela não se matou com o
travesseiro, o mesmo que ligou para ela no ensino médio seis vezes em um
dia para ver se ela estava conseguindo lidar. Ela não podia suportar ser um
fardo. De novo não.
Mas ainda assim, não era uma mentira. Seneca não tinha intenção de
encher Aerin de conversa fiada sobre seus familiares assassinados, mas
apenas saber que Aerin passou por isso — e Brett, também, embora em
menor grau — deu-lhe um conforto constante. A vida de Aerin não tinha
sido fácil, tampouco. Aerin lutou bastante. Aquele halo que Seneca tinha
recusado naquele primeiro dia aqui agora parecia reconfortantemente
reconhecível — talvez fosse bom ter o halo. Talvez fosse bom estar com
raiva, procurando e uma bagunça. E Seneca tinha descoberto tudo isso
apenas conhecendo um pouco de Aerin. Se ela fosse embora agora, se ela
voltasse para sua casa velha e ficasse escondida em seu antigo quarto, ela
temia que ela voltasse para seus velhos hábitos. Ela tinha que continuar
tentando resolver este caso. Era a chave, de alguma forma.
Mais carros passaram. Um semi-caminhão buzinou. O Sr. Frazier
estufou as bochechas e, lentamente, soltou um suspiro. — Como eu
saberei que você está dizendo a verdade?
— Ligue para a mãe de Aerin. Eu estou ficando com aquela garota,
Madison, mas também conheci a Sra. Kelly.
— Por que você não disse que é isso que você estava fazendo em vez
de mentir sobre Annie?
Seneca encolheu os ombros. — Porque eu não queria que você
enlouquecesse.
Ele acariciou o queixo. — O que você achava que eu faria, trancaria
você em casa? Proibiria que você falasse com as pessoas?
Seneca olhou para o painel. Não, papai, pensei que você iria me levar de
volta as terríveis sessões diárias de terapia, ela pensou, mas não disse.
— Existe alguma maneira de você falar com esta Aerin pelo telefone?
Seneca encolheu os ombros. — Ela e eu tivemos uma briga. É por
isso que eu gostaria de voltar. Para pedir desculpas, para ter certeza de que
está tudo bem. — Ela não tinha percebido o quão importante era para ela
até então. Talvez o impulso para ficar não fosse apenas sobre encerrar o
caso de Helena. Era também sobre isso.
O Sr. Frazier olhou fixamente para o volante. Seneca viu quando o
relógio do painel mudou de 3:34 a 3:35 antes dele falar novamente. —
Bem, eu gostaria do número da Sra. Kelly, pelo menos.
— Ok.
— E você pode ter mais dois dias, se essa família ficar com você, mas
é isso. Eu quero você em um trem às 8 da noite no domingo de Páscoa.
Seneca assentiu, emocionada. — Obrigada.
Ele não parecia muito feliz. — Se eu descobrir que algo estranho está
acontecendo, eu vou voltar.
— Nada estranho está acontecendo, eu prometo.
Ele assentiu, então encontrou seu olhar. Seus olhos estavam cheios de
lágrimas, mas seu sorriso era encorajador. — Espero que você encontre o
que você está procurando.
Seneca baixou os olhos. Ocorreu-lhe que ela não tinha contado a pior
parte — a parte da faculdade. Invocando força, ela afastou a preocupação.
Ela só tinha que passar por isso primeiro. Então ela lhe contaria tudo. —
Espero que sim, também — ela sussurrou.
O Sr. Frazier ainda parecia dilacerado quando ele dirigiu novamente,
saiu do lugar e fez um giro em U. Quando começaram a voltar, Seneca viu
a limusine novamente, agora estacionada na parada de descanso do outro
lado da rodovia. Havia aqueles nomes novamente no coração com uma
flecha. Kyle Brandon. Hayley Isaacs.
H.I. HI.
O que mais isso significava?
Capítulo 24
Traduzido por Napoleana

A cabeça de Maddox ainda estava martelando mesmo depois de


comer um saco de castanhas, junto com um Red Bull e três
aspirinas. Ele estava sentado na cozinha, olhando para as margaridas que
Seneca havia comprado para seus pais. As flores ainda estavam alegres e
frescas. Elas durariam mais do que sua amizade.
Ping. Era outra mensagem de Catherine. Tive um sonho sexy com você na
noite passada.
Maddox colocou a cabeça na mesa. Ele não queria responder
Catherine. Qualquer coisa que ele dissesse seria desonesto. E, no entanto,
ele foi o único a dar o pontapé inicial, beijando-a primeiro. Tenha cuidado
com o que você deseja, ele pensou sarcasticamente.
Houve uma tosse e Madison apareceu na entrada. Silenciosamente,
ela atravessou a cozinha, pegou uma cadeira e sentou-se. Maddox podia
senti-la olhando-o fixamente. — O que foi? — ele perguntou com
impaciência.
— É tudo culpa sua — ela disse em voz baixa.
Maddox apertou as mãos sobre os olhos. — O que isso significa?
— Seneca não teria agido assim se você não tivesse feito algo para
afastá-la. E então, quando o pai dela apareceu, você ficou parado como um
idiota e deixou-a ir.
Maddox fez uma careta. — O que eu deveria fazer? Entrar em uma
briga com ele?
— Você poderia ter inventado alguma coisa.
— Ela colocou a culpa em mim!
— Nós dois sabemos o porquê. Eu vi vocês dois no pátio ontem à
noite. Eu vi você afastá-la. O que você estava pensando?
— É complicado. — Ele estremeceu. Ele não pretendia usar as
mesmas palavras que ele usara com Seneca quando ele se afastou de seu
beijo.
Madison zombou. — Complicado como?
— Eu não posso... — Ele parou.
Ele queria dizer a Seneca como ele se sentia — e como esses
sentimentos se uniram quando eles se beijaram, e como ele realmente
estava sendo um cara legal porque ele não queria duas pessoas ao mesmo
tempo — as garotas não deveriam apreciar isso? Mas então houve aquele...
incidente na rua. Pare, ou eu vou matar você. Aquela estranha voz rouca de
mulher — ou era um cara, disfarçando sua voz? Ou foi apenas um
assaltante, como a polícia lhe havia dito, e ele estava pensando demais sobre
isso? Eles prometeram que ligariam para ele para dar seguimento ao
relatório se eles pegassem a pessoa, mas até agora ele não tinha ouvido uma
palavra.
De qualquer forma, depois que tudo aconteceu, ele sentia-se muito
disperso para ter uma conversa de coração para coração com Seneca. Ele
prometeu fazer esta manhã, mas já era tarde demais. Ela nem sequer olhava
para ele.
Ele olhou para cima. Madison ainda estava olhando furiosa para ele,
esperando por uma resposta. — Por que você se afastou dela na noite
passada? — ela exigiu.
— Porque eu estou com outra pessoa, ok? — ele admitiu. — E estou
tentando ser um cara legal e não trair ninguém.
Madison franziu o nariz. — Você não tem uma namorada.
Como se fosse uma dica, houve outro ping em seu telefone. Olá?
Catherine escreveu.
Madison olhou para o telefone antes que ele pudesse desligar o alerta.
Seus olhos se arregalaram. — Oh meu Deus, você está brincando. Não ela.
Maddox sentiu-se repentinamente defensivo. — Por que não ela,
Madison?
Madison revirou os olhos. — Ela é louca. Com certificado.
— Do que você está falando?
Um olhar culpado atravessou o rosto de Madison. Ela encostou-se na
cadeira. — Eu não queria dizer nada antes, porque ela é sua treinadora e
tudo mais, mas conheço algumas irmãs da irmandade dela de quando ela
estava na UConn. Elas disseram que Catherine é uma psicopata.
Especialmente quando se trata de namorados.
Maddox zombou. — Isso não é algo legal de se dizer.
— Por que suas irmãs da irmandade iriam mentir?
— As garotas não mentem sobre tudo? — Maddox retrucou
fracamente, mas Madison já encolhia os ombros e começou a subir as
escadas. — Livre-se dela, Maddox! Ela é tóxica! — ela gritou. Ele soltou
um gemido frustrado e acenou com os braços loucamente para suas costas,
depois descansou a cabeça na mesa com um baque.
Enquanto ele estava acumulando energia para se levantar, a campainha
tocou. Maddox saltou, franzindo a testa. Talvez fosse Seneca. Talvez ela
tenha encontrado de alguma forma uma maneira de convencer seu pai a
trazê-la de volta. Seu coração acelerou com a perspectiva, e ele se dirigiu
para a porta, preparando o que ele ia dizer.
Em vez disso, era o rosto de Catherine no outro lado do vidro.
Maddox abriu a porta com um sobressalto, olhando para sua treinadora de
cima a baixo. — U... uau — ele balbuciou. Catherine estava vestindo um
vestido cor-de-rosa escuro que roçava o topo de suas coxas. Seu cabelo
estava enrolado, seus lábios pareciam brilhantes, e ela cheirava a limões,
um dos aromas favoritos de Maddox. Só que havia um olhar estranho nos
olhos dela, como se ela estivesse curtido a noite toda e estivesse ligada com
café expresso. Ela também parecia muito irritada.
— Oi — Catherine disse, mexendo em uma mecha de cabelo. —
Então, eu estava dirigindo por perto e eu pensei em parar e ver o que você
estava fazendo. — Ela limpou a garganta, então olhou para seus sapatos —
os mais sexies saltos pretos que ele já tinha visto. — Você não falou nada.
Você saiu para algum lugar ontem?
— Hum... — As imagens de Nova York passaram por sua mente —
a festa, sua conversa com Seneca, seu beijo. — Eu tinha uma coisa de
família — ele respondeu.
— Oh. Bem, faz sentido porque você não podia enviar uma
mensagem. — Ela riu nervosamente. — Eu estava começando a me sentir
como uma perdedora desesperada.
Maddox fechou os olhos. Ele era um idiota. Ele estava totalmente
amarrando essa linda garota. Ela não merecia isso. — Escute — ele disse
seriamente. — Eu acho que... bem, acho que talvez tenhamos cometido
um erro.
Catherine arqueou as sobrancelhas. — Como é?
Sua voz estava afiada. Maddox sentiu um redemoinho na barriga. —
O que você disse no outro dia estava certo. Você é minha treinadora. Eu
sou seu aluno. Tenho medo de que, se começarmos algo, meu treinamento
possa ser prejudicado. — Parecia uma boa razão, uma que não machucaria
seus sentimentos.
Uma risada desagradável escapou dos lábios de Catherine. — Desde
quando você se preocupa com seu treinamento?
Ele sentiu-se machucado. — Desde sempre!
— Oh, por favor. Isso é por causa daquela garota Seneca, não é? —
As narinas dela alargaram-se.
— Não é — Maddox mentiu, horrorizado com a mudança que isso
tomou. — Eu juro. Eu simplesmente... — Ele engoliu em seco. — Eu
não...
Catherine cruzou os braços sobre o peito, um olhar muito sinistro se
acomodando no seu rosto. — Seu treinamento não sofrerá se estivermos
juntos, Maddy. Eu prometo. Mas adivinha? Se você terminar comigo,
poderá sofrer. — Ela apontou para o telefone dela na mão. — Eu acho que
você esqueceu que eu sou uma boa amiga do treinador que lhe deu sua
bolsa de estudos. Posso sugerir que ele retire a oferta.
Maddox ficou de boca aberta. — Você não pode fazer isso!
Ela sorriu docemente. — Nós não vamos testar, vamos? — Ela se
inclinou para frente e beijou-o diretamente nos lábios. Quando ela se
afastou, havia um sorriso satisfeito e superior em seu rosto. — Nós
estamos entendidos?
O coração de Maddox estava batendo forte, e seu peito pareceu
apertado. Ele concordou com um pequeno aceno.
— Perfeito — disse Catherine, apertando suas mãos. Então ela girou
nos calcanhares, a saia levantando-se provocativamente. — Vejo você no
treino amanhã! — ela gritou por cima do ombro dela e atravessou a rua.
Capítulo 25
Traduzido por Napoleana

N a noite de sexta-feira, Aerin colocou o resto da garrafa de vinho


em seu copo, sem se preocupar em esfregar os pingos que
derramaram no tapete. Ela estava parada na entrada do quarto da sua irmã,
olhando para dentro. Lá estava aquele prêmio pela frequência do último
ano de Helena em seu quadro de avisos. Havia fotos dela e de Kevin no
barco da família. Havia a bolsa Coach que Aerin comprou para Helena no
natal em que ela sumiu. Durante um tempo, a família deixou os presentes
de Helena debaixo da árvore na esperança que ela voltasse. Naquela época,
em torno do tempo em que seu pai se mudou, os presentes foram
finalmente transferidos para o quarto de Helena. No verão, Aerin entrou
lá e abriu todos os presentes, interpretando o que ela e sua irmã diriam se
realmente fosse natal. Oh, Helena, esse kit de sombra da Sephora é lindo! Posso
pegar emprestado em algum momento? E, Um mini IPad! Sortuda!
Helena poderia estar aqui naquele Natal? Ela poderia ter aberto esses
presentes?
Aerin olhou para o telefone novamente e franziu o cenho. Além de
Madison, que tinha enviado mensagens de texto para dizer que o pai de
Seneca tinha aparecido inesperadamente e que ela foi embora, ninguém
mais havia entrado em contato. Ela esperava mais deles. Maddox poderia
ter assegurado a ela novamente que ele não achava que ela fosse uma vadia.
Brett poderia ter lhe enviado uma foto de despedida de seu abdome. E o
que, o pai de Seneca pegou o telefone dela também? A sua separação foi
tão abrupta, como um programa de TV que ela estava assistindo que de
repente foi cancelado.
O vinho tinha um gosto metálico, provavelmente de meio arrolhado.
Ela definitivamente queria abandonar o caso, certo? Claro que sim. Eles
não estavam chegando em lugar algum. Era muito, muito melhor manter
o passado de Helena selado dentro de uma caixa. Aerin ficou surpresa com
a dor que ela sentiu com o que descobrira. Todos esses anos pensando que
ela e Helena eram próximas. Todos aqueles anos confiando em sua irmã, a
admirando. Até mesmo no último dia, quando Helena parecia tão gentil
com Aerin, tão doce e aberta. Mas ela usou Aerin como um peão,
enviando-a para uma tarefa estúpida para que ela pudesse escapar.
Helena estava realmente tão infeliz para desistir da vida dela e fugir
com algum cara aleatório para Nova York? Ela tinha que estar apaixonada.
Talvez ela pensou que ela só fugiria por um tempo, depois voltaria. Talvez
ela tivesse se encontrado com o Sr. Nova York na floresta, como Seneca
havia sugerido, mas então ele se tornou malvado, cruel e abusivo. Helena
tinha se apaixonado ingenuamente por um Dr. Jekyll e recebeu o Sr. Hyde.
E se realmente fosse culpa de Aerin por deixá-la lá sozinha naquele
dia? Se ela se recusasse, se ela fizesse Helena ir buscar a bolsa, talvez isso
não tivesse acontecido. E por que Aerin nunca considerou que Helena
poderia ter deliberadamente enviado ela para dentro? Pior ainda, por que
os policiais não consideraram? Talvez ela devesse ter mencionado que
bisbilhotou o quarto de Helena em suas primeiras entrevistas. Talvez isso
poderia ter levado os policiais a escavar mais os segredos de Helena,
perguntando por aí sobre um namorado secreto ao invés de aceitar que ela
estava com Kevin, limitando isso a alguém e encontrando Helena antes
que... bem, antes que seu corpo aparecesse nos bosques a três municípios
de distância.
Perfeito — outra coisa para Aerin se sentir culpada.
Ela derramou o vinho na boca, mas o copo já estava vazio novamente.
Então, tudo bem, talvez ela não tenha desistido completamente de Helena.
Mas como ela poderia chegar ao coração do que aconteceu? Tinha que
haver outra maneira de encontrar coisas. Se ao menos ela fosse onisciente
e pudesse ler a mente de todos. Se ao menos ela tivesse acesso especial aos
motivos e álibis de cada suspeito — como se Kevin realmente estava
naquela conferência, ou se Greg Fine realmente estava na reabilitação ou
se havia outra pessoa em que ela ainda não pensara que tivesse feito algo
ruim.
Então algo a atingiu. Havia um acesso especial: na delegacia de Dexby.
Ela conhecia alguém que trabalhava lá.
Ela desordenadamente rabiscou em um Post-it que ela voltaria mais
tarde, caso sua mãe se importasse. Então ela digitou Thomas Grove, Dexby,
CT no Google. Ele estava listado. Aerin sorriu. Parecia um sinal.

***
Thomas morava em um quarteirão de apartamentos próximo a água
ao lado de um restaurante com os melhores rolos de lagosta em toda
Connecticut. Os prédios foram feitos para parecerem vitorianos, com
janelas, torres e complicados detalhes de modelagem. Os narcisos estavam
começando a florescer nos jardins da frente e o revestimento estava pintado
de amarelo. Um monte de carros estava estacionado no estacionamento e
Aerin percebeu uma moto Norton entre eles. Ela se perguntou se era de
Thomas.
Aerin caminhou até o número quatro e tocou a campainha,
balançando de um pé para o outro em seus saltos finos. Ela olhou para si
mesma, olhando seu suéter apertado, saia tweed curta e as pernas nuas.
Seus cílios estavam grudados por causa de toda o rímel que ela passou, e
seus lábios estavam grudentos com brilho.
A porta se abriu. Thomas estava do outro lado com um jeans que
pendia sobre os seus quadris e uma camiseta cinza que dizia Basquete da
Universidade de Connecticut. Seus olhos se arregalaram. — Oh meu Deus.
Oi.
Aerin ergueu uma garrafa de vinho para o alto. — Quer compartilhar
isso comigo? Talvez nós pudéssemos sentar em um iate no porto e fingir
que é nosso.
O olhar de Thomas saltou da garrafa para o rosto de Aerin. — Me dê
um segundo.
Ele fechou a porta suavemente. Passos retrocederam. Um minuto
depois, ele abriu a porta de novo. Seu cabelo estava penteado e ele trocou
para uma camisa de mangas compridas. Os jeans também eram diferentes
— uma lavagem mais escura, sem buracos nos joelhos — e ele trocara as
meias amareladas que Aerin notara por um par de New Balances. Um
perfume Musky flutuava dele.
Ela escondeu um sorriso.
Thomas abriu mais a porta. — Por que você não entra? Está
congelando aí fora.
O apartamento era pequeno, mas muito limpo — Aerin se perguntou
se ele tinha arrumado rapidamente também. A sala de estar era quase
grande o suficientemente para um sofá de tweed marrom. Havia uma
poltrona La-Z-Boy de algum momento do século passado encostada no
canto. Uma TV quadrada estava em cima de uma caixa. Aerin entrecerrou
os olhos. Ou ela estava mais bêbada do que pensava, ou o jogo de baseball
na tela estava em preto e branco.
— Aqui é... legal — ela disse com incerteza.
— Oh, não minta. — Thomas levou a garrafa de vinho para a cozinha.
— É um buraco total. Mas é legal. Tenho uma visão da água e é legal morar
sozinho.
Aerin olhou ao redor do resto da sala. Havia uma pintura a óleo sobre
o sofá de um deserto. As lâmpadas de ambos os lados não combinavam e
ambas eram feias, penduradas em abajures plissados, do tipo madeira falsa.
Uma manta de crochê com aparência irregular nas cores marrom, amarelo
e laranja pendia na parte de trás da poltrona, e havia várias figuras de
cerâmica do Hallmark na prateleira. Um menino jogava beisebol, outro
carregava uma mochila como se estivesse fugindo, e mais um sorrindo,
mostrando os dois dentes da frente faltando. Isso deu uma pontada em
Aerin. Quando completou seis anos, Helena lhe deu uma figurinha do
Hallmark de uma bailarina. Ela adorava aquela garotinha, mas depois de
Helena ter desaparecido, Aerin a afastou, seu sorriso inocente era muito
difícil de suportar.
— Quem decorou este lugar, sua avó? — ela falou.
— Na verdade, ela decorou. Vivi com meus avós por quinze anos.
Vovó me ajudou a me mudar para cá. Esta é ela.
Aerin olhou para uma foto na parede. Thomas estava sentado com o
braço em volta de uma senhora mais velha em um vestido florido e óculos
grandes. Parecia o tipo de avó alegre que fazia o seu próprio molho para o
espaguete, alimentava gatos vadios e gostava de beber cerveja. Não como
a avó de Aerin, que mal deixava seu condomínio na Flórida e reclamava de
sua vida constantemente para quem quisesse ouvir.
— Você morou com seus avós? — repetiu Aerin.
— Sim.
— Onde estavam seus pais?
Ele abriu o vinho com um estalo. — Eu não estava seguro com eles.
Eles tinham problemas. Têm problemas.
Aerin queria dizer que seus pais eram assim também, embora ela
tivesse a impressão de que seus pais não eram nada como o que ele estava
insinuando. — Você quer dizer drogas?
— Definitivamente. — Thomas pegou duas taças de vinho diferentes.
— De quais tipos?
— Praticamente qualquer coisa disponível.
— Isso... foi difícil para você?
Thomas deu de ombros. — Meus avós são boas pessoas. Eles foram
para os meus jogos de futebol, me ajudaram com a lição de casa, me
levaram para os filmes que eles definitivamente não tinham interesse. Nós
fomos ao Cabo todos os verões. Meu avô também era um policial. Em
Norwalk.
Sua expressão era aberta e imperturbável. Aerin ficou surpresa. Ela
achava que todos que viviam em Dexby — e especialmente aqueles que
frequentaram a Windemere-Carruthers — tiveram vidas fáceis. Ela se
perguntou como era crescer com a situação caótica que era os pais dele.
Thomas parecia estar lidando muito bem.
Ela piscou. Ela estava aqui para procurar maneiras de entrar na
delegacia de polícia, não para se relacionar.
Ela examinou o espaço procurando possibilidades. O casaco de
Thomas pendia em um gancho perto da porta; seus bolsos pareciam cheios.
Havia também uma tigela na cozinha que parecia estar cheia. Mas e se ele
mantivesse as coisas — como chaves, ou um cartão-chave, ou um código
— em lugares estranhos, como seus pais costumavam manter dinheiro
insignificante em um vaso de flores não utilizado na garagem?
Thomas estava olhando para ela como se ele tivesse lhe feito uma
pergunta. — O quê? — ela disse.
Thomas brincava com uma taça de vinho vazia. — Talvez você deva
comer alguma coisa antes de beber mais. Você parece um pouco instável.
Torrada, talvez. Ou um queijo quente?
O pensamento daquilo era esmagadoramente tentador. Quando foi a
última vez que alguém se ofereceu para fazer um queijo quente?
— Diga sim — disse Thomas. — Eu faço o melhor queijo quente
neste complexo de apartamentos.
Aerin não podia deixar de rir. — Não tenho certeza se isso é
impressionante ou não.
Thomas caminhou até ela, pegou suas mãos e a sentou na mesa. Ele
estava tão perto de repente. Ela podia sentir o cheiro da colônia que ele
havia passado. Em qualquer outra situação, ela se inclinaria para frente e o
beijaria com força. Não era que ela não o achasse bonito — de fato, ele era
muito mais bonito do que a maioria dos caras que ela beijava. Doce,
também. E ela sabia que ele era um bom beijador. Isso provavelmente era
parte do problema.
Thomas se afastou e sentou-se na cadeira em frente a ela. — Então, e
quanto a Helena? Você soube de algo novo?
— Não, eu decidi parar. — Sua voz soou alta demais.
— Sério? — Thomas brincou com a rolha de vinho. — Eu estava
esperando que você descobrisse.
Aerin olhou pela janela. Thomas tinha um pequeno pátio em volta
com apenas uma poltrona. — A polícia estava certa. Tudo é apenas um
beco sem saída.
Silêncio. Aerin esperou, esperando que Thomas oferecesse alguma
coisa voluntariamente, um segredo sobre os arquivos. Isso tornaria isso
muito mais fácil. Talvez tenha sido uma ideia terrível vir aqui.
Ela levantou-se da mesa, pensando em outra ideia. — Sabe de uma
coisa, comida pode ser legal, afinal.
Thomas foi até à geladeira. — Eu tenho... merda. Não muito. Um
ovo cozido? Pepperoni? Queijo Cottage?
— Queijo cottage? — Aerin mostrou a língua. — E quanto a
Cheetos?
Thomas olhou para ela da porta da geladeira. — Eu e Chester Cheetah
realmente não nos misturamos.
— Eu vi uma máquina de venda automática aqui perto... — Ela bateu
seus cílios para ele.
Thomas fechou a porta da geladeira. — Eu vou verificar. — Ele
gesticulou para o sofá. — Sente.
Ela fez o que ele lhe disse. Thomas colocou a manta sobre ela — na
verdade, era muito menos irregular do que parecia. Ele puxou até o seu
nariz, e ela riu, então sentiu um pouco de tristeza. Ele estava agradando
ela. Ela não tinha ideia quando alguém tinha feito esse carinho nela.
— Eu volto logo, tudo bem? — disse Thomas. — Não se mova.
A porta se fechou, fazendo as paredes do pequeno lugar tremerem.
Aerin contou até dez. Então ela empurrou a manta para o lado, levantou-
se e ficou no meio da sala, com as pontas de seus dedos mexendo-se. Ela
puxou o casaco dos ganchos primeiro, alcançando os bolsos. Nada. Ela
correu para a cozinha e abriu gavetas e armários, mas tudo que encontrou
foram cardápios, talheres e lixos aleatórios. Seu banheiro, que tinha uma
pequena pia e cheirava a potpourri, não tinha nada de interessante. Seu
quarto continha uma pequena mesa junto à janela. Ela não tinha certeza de
por que ela puxou uma gaveta de baixo, mas dentro havia um iPad com
uma capa preta. Ela abriu e inspecionou os aplicativos. iTunes. Netflix.
Bloco de Notas. Ela clicou no Bloco de Notas e surgiu uma lista. Quando
seus olhos se ajustaram, ela percebeu o que estava olhando. Chase Bank:
XCX1934. Gmail: NorthxNorthwest87. E assim por diante.
Era uma lista de senhas.
Aerin examinou a lista com avidez. Na parte de baixo, havia algo
chamado Base de dados do DP de Dexby.
Bingo.
Havia duas senhas para o site e algum tipo de código-chave para o ID,
era demais para memorizar. Aerin pegou o seu telefone e tirou uma foto
da tela inteira. Enquanto estava de pé, ela viu seu reflexo no espelho sobre
a mesa. Seu rímel estava borrado. Seu batom estava em seus dentes. Sua
camisa tinha se movido e metade do seu sutiã estava aparecendo.
— O que você está fazendo? — ela sussurrou para o reflexo dela.
A chave foi inserida no bloqueio da porta da frente. Em pânico, Aerin
empurrou o iPad de volta para a gaveta e correu de volta para o sofá,
saltando sob a manta bem a tempo.
Thomas entrou na pequena sala de estar, com os braços carregando
um monte de pequenos sacos. — Eles só tinham Cheetos genéricos, e eu
não sabia se você era uma purista sobre ter o verdadeiro, então eu também
peguei Doritos, Fritos, uma mistura de salgadinhos e pretzels. — Ele os
jogou na mesa de café, depois abriu uma garrafa de coca-cereja. — Eu
pensei que você também poderia gostar disso. É sempre o meu favorito
quando eu bebo muito.
A mente de Aerin estava girando. E se Thomas tivesse entrado quando
ela ainda estava olhando o iPad? Isso teria sido um desastre. Ela tinha que
sair daqui. Ela precisava fazer login nesse site agora.
Ela se sentou e lhe deu um sorriso frágil. — Eu me sinto pior do que
pensei. Eu deveria ir para casa.
O rosto de Thomas ficou frustrado. — Você não quer ter o melhor
piquenique de máquina de venda automática de Dexby?
— Não, estou realmente cansada. — Aerin levantou-se sem olhar
para ele. Ela podia sentir a vovó Grove olhando da parede. Desculpe, ok? Ela
gritou silenciosamente para a velha. Agora, eles provavelmente nunca
seriam amigos.
Thomas se afastou para deixá-la chegar à porta. — Eu dirigiria para
você, mas eu tenho apenas a moto, e isso pode fazer você se sentir pior.
Deixe-me chamar um táxi para você.
O táxi chegou dentro de alguns minutos. Thomas embalou os lanches
em uma sacola de plásticos para ela e a ajudou a descer as escadas. Ele se
moveu para entregar ao motorista algumas notas, mas Aerin pegou seu
braço. — Eu pago. Desculpe por ter vindo.
— Eu gostei de você ter vindo. — Thomas deu um tapinha no ombro
dela. — Fique melhor, ok?
No táxi, Aerin observou nervosamente os barcos em direção ao
porto. Uma vez que estavam fora da rua de Thomas, ela digitou o nome
do site DP de Dexby em seu telefone. Com os dedos tremendo, ela digitou
as senhas que tirou da tela na ordem que Thomas as havia listado. Seu
coração bateu forte quando a pequena bolinha girou. E se ela inserisse
incorretamente as senhas? E se os policiais rastreassem seu telefone e
viessem prendê-la?
Mas, então, apareceu uma mensagem. Bem-vindo de volta, T. Grove.
Aerin clicou em um botão que dizia Casos Passados, e então selecionou
o ano em que Helena havia desaparecido. Uma pasta de arquivos intitulado
H. Kelly, Caso #23566 surgiu.
Engolindo com dificuldade, ela abriu. Havia depoimentos, um
relatório de pessoas desaparecidas e informações sobre a decomposição dos
ossos de Helena. Aerin viu uma pasta chamada Sob Suspeita e se lançou
sobre ela. O nome de Kevin Larssen era o primeiro. Dentro da pasta, os
primeiros itens a aparecer eram miniaturas de fotos que Aerin nunca tinha
visto. Ela pressionou cada uma para ampliá-las, depois ofegou. A primeira
era uma foto de Kevin e do senador Gorman em um abraço. Centro de
Conferência de Liderança da Juventude de Connecticut mostrava uma placa atrás
deles. Um carimbo datava 8 de dezembro — o dia em que Helena havia
desaparecido. Outro carimbo sobre a foto dizia Confidencial.
Então, Gorman esteve naquela conferência, e Kevin estava com ele.
Talvez isso explicasse por que ele perdeu o discurso dele, mas também
porque ele insistiu sobre o álibi. Aerin apostou que Gorman pagou os
policiais para manter as fotos escondidas. Ele não gostaria que essa
informação fosse divulgada nos noticiários.
Havia mais fotos de Kevin depois desse fim de semana, também —
indo para a escola, indo para a livraria, jantando com Gorman na cidade.
Os policiais devem tê-lo perseguido obsessivamente, talvez observando se
ele estava fazendo alguma coisa suspeita. Isso foi tranquilizador, pelo
menos — Aerin duvidava que ele pudesse fugir para matar Helena durante
esse tempo. Ela nunca quis que Kevin fosse o culpado, na verdade.
Seu olhar esquadrinhou o resto dos suspeitos. Greg Fine também
estava, mas dentro de seu arquivo havia um relatório sobre a reabilitação
Halcyon Heather, afirmando que ele havia sido um internado desde
novembro desse ano até março. Então ele também estava fora?
O táxi chegou a sua rua e aproximou-se de sua casa. — Chegamos —
disse o motorista quando ele virou para a entrada. — Parece que você tem
um visitante.
A cabeça de Aerin levantou. Uma figura estava sentada em seus
degraus da frente, mas não havia como ser sua mãe. Ela apertou os olhos
com mais força, observando os longos cabelos, o vestido drapeado, as botas
de combate.
Seneca.
Ela empurrou algumas notas para o motorista e correu pela passagem,
sentindo-se surpreendentemente exaltada. Seneca se pôs de pé. — Sinto
muito, Aerin.
— Demorou bastante tempo. — Disse Aerin ao mesmo tempo.
As meninas pararam e sorriram uma para a outra. Então, deixando
um pouco de lastimar, Seneca abraçou Aerin com força. — Eu sou uma
idiota — ela murmurou no ombro de Aerin. — Eu não deveria ter falado
com você daquele jeito. Eu não deveria ter dito aquilo sobre Maddox. Ele
não acha que você é uma vadia, eu juro.
— Eu odiei como todos foram embora tão de repente — disse Aerin
sobre ela. — Eu não quero desistir do caso, eu não deveria ter fugido.
Seneca recuou do abraço. — Você não quer desistir do caso? — ela
perguntou. Aerin balançou a cabeça. — Bem, ótimo. Porque acho que
descobri algo.
A língua de Aerin sentiu-se pesada com o vinho. — Isso é um alívio,
porque todos os suspeitos que pensávamos serem viáveis não são mais
suspeitos.
Seneca estreitou os olhos, mas Aerin não queria explicar naquele
momento. Ela revirou as mãos com impaciência, pedindo para Seneca dizer
o que tinha descoberto. — Aquela mensagem no origami — começou
Seneca. — Não é um OI, são iniciais. HI. Estou achando que é o namorado
secreto, ou o nome que Helena usaria se ela se casasse com o namorado
secreto. E eu estive pensando, e eu encontrei um nome.
Aerin piscou forte. Seu cérebro pareceu lento e desordenado. Ela
pensou nas pessoas na vida de sua irmã — amigos, namorados, tios,
professores. Ela pensou nos caras do country club, pessoas que entraram
no Scoops. Mas não havia muitas pessoas cujo sobrenome começava com
I. Seus olhos se arregalaram. Ela conhecia alguém que tinha exatamente
essas iniciais.
Um arrepio correu por suas costas. Ela tocou no braço de Seneca. —
Heath Ingram?
Seneca concordou. — Foi isso que eu também pensei.
Capítulo 26
Traduzido por Napoleana

N ão só Aerin foi legal em reabrir o caso e a convidando para ficar,


como também informou a Seneca sobre o seu ataque ao site do
DP de Dexby. No dia seguinte, depois de uma boa noite de sono e um
banho, Seneca conversou com seu pai no FaceTime, mostrando a ele a casa
de Aerin e apresentando-o a Aerin para provar que ela estava bem. Uma
vez que ela fez isso, as meninas partiram para a mansão Ingram.
Seneca sabia um pouco sobre os Ingram, principalmente porque eles
eram amigos dos Kelly e fizeram um lançamento em dinheiro para a
primeira loja Scoops em Dexby. Anos atrás, no Facebook, Heath Ingram
foi marcado em algumas das fotos de Helena. Uma foto era em um evento
de Natal; ambos ele e Helena estavam em xadrez, fazendo caretas malucas.
Em outra, eles estavam sentados na parte de trás de uma carruagem puxada
por cavalos, amontoados de maneira amigável. Ou talvez mais do que
amigável...
— Não posso acreditar que Heath ainda mora com seus pais —
sussurrou Aerin, navegando pelas estradas com uma mão no volante. Ela
estava usando um vestido com estampa preta e rosa que se agarrava a cada
curva e um par de saltos altos nude. — Ele não se aproveitava da sua
família. Ele dirigia um antigo Subaru. Ele comprava em loja de
departamento. Quando éramos pequenos, ele criou uma peça chamada Sra.
Badger e Sra. Fox Têm um Plano, sobre como esses personagens queimaram a
mansão dos pais para que o fogo aquecesse a cidade. Helena era a Sra.
Badger e eu era a Sra. Fox, e Heath era a mãe, que nos implorava para que
não queimássemos suas bolsas e sapatos. E quando dormíamos lá, Heath
disse que todos nós devíamos fingir que vivíamos em um apartamento e
que dormíamos na mesma cama.
Seneca lhe lançou um olhar estranho. — Vocês dormiam todos na
mesma cama?
Aerin torceu a boca como se ela tivesse percebido o quão estranho
era. — Talvez por isso Helena manteve um relacionamento secreto com
Heath. Nós fomos basicamente criados como irmãos.
Seneca arregalou os olhos. — Ouvi sua mãe chamá-lo de seu quase-
filho em uma entrevista uma vez.
Aerin tirou os olhos da estrada por um momento. — Que entrevista
foi essa?
A memória veio de forma rápida. — Não, na verdade era um vídeo
no YouTube de sua mãe fazendo sorvete. Heath e outra pessoa, não
consigo lembrar quem, eram as estrelas convidadas.
Aerin parecia realmente confusa. — Eu pensei que minha mãe tivesse
tirado esses vídeos anos atrás.
A Sra. Kelly provavelmente tinha — Seneca os assistiu logo que
Helena desapareceu. — A linha de tempo também se encaixa — ela
pensou rápido. — Heath estava em Columbia no mesmo inverno que
Helena desapareceu. Em janeiro, Heath a abandonou, mudou-se para o
Colorado, morou no Ritz em Beaver Creek e aprendeu a praticar
snowboard.
— Eu pensei que ele era tão sortudo — meditou Aerin. — O Ritz
em Beaver Creek é demais.
— Mas eu liguei para o Ritz esta manhã e não havia registros de aulas
de Heath no registro. Talvez ele aprendeu sozinho.
— Ele definitivamente precisaria de um instrutor. Ele era um desastre
nas pequenas encostas aqui, até mesmo nos esquis para iniciantes.
— Então, talvez ele não estivesse fazendo snowboard, ou sequer
estivesse no Ritz. — Seneca olhou para o telefone dela. — Pedi um favor
da MizMaizie, uma mulher que conheço dos Casos Arquivados. Ela
costumava trabalhar com o DP de Seattle, e ela olhará as checagens da
identidade de Heath no Colorado, vê se ele alugou um apartamento, se
tirou uma carteira de motorista, se registrou para votar. Eu também terei
um bom controle em Nova York, bem como em alguns outros estados.
Encontraremos onde ele estava. E quanto a esta visita, veremos o que ele
nos diz. Vamos deixá-lo leve e amigável.
O rosto de Aerin se fechou. — Não me sinto particularmente
amigável agora, se tudo isso for verdade.
— Eu sei. Isso mostra que muitas vezes você realmente não conhece
uma pessoa.
Ela ouviu a acidez em sua voz depois de falar. Aerin clareou a
garganta. — O que aconteceu com Maddy?
As bochechas de Seneca ardiam. — Ele meio que tem uma namorada
que ele se esqueceu de mencionar.
Aerin bufou. — Quem?
— Uma garota chamada Tara. Ela é linda.
Aerin revirou os olhos. — Ele quem perde.
Seneca fingiu estudar um celeiro vermelho que estava passando.
Talvez Aerin estivesse certa. Era uma maneira muito melhor de ver isso do
que chafurdar na miséria. Ela sentiu vergonha de si mesma — na noite
passada, ela teve um sonho com Maddox. Eles estavam no pátio da
cobertura novamente, e Maddox puxou ela para perto e disse para ela que
tudo estava acabado entre ele e sua namorada e ele escolheu Seneca. Ela
não podia acreditar que ela era capaz de sonhar com algo tão pequeno e
excessivamente sentimental. Pior ainda, ela odiava quão eufórica ela se
sentiu naqueles momentos nebulosos quando acabara de acordar, antes que
a realidade voltasse.
— Aqui estamos nós — disse Aerin fracamente, parando em um
portão de ferro forjado. O lugar era como uma fortaleza, todo de pedra,
ardósia, ferro e colunas grandiosas. Havia duas chaminés, hera se
arrastando pelas paredes, uma estufa e um pequeno vinhedo. Um
jardineiro estava cavando nos canteiros na frente. Ao lado havia uma
garagem que tinha espaço para pelo menos seis ou sete veículos.
— Quando foi a última vez que você esteve aqui? — perguntou
Seneca.
Aerin torceu a boca. — No natal. Eles tiveram uma grande festa. Mas
quando Helena estava viva, nós estávamos aqui praticamente todos os fins
de semana.
— Dormindo na cama dele — Seneca brincou, depois estremeceu.
Aerin colocou a cabeça entre as mãos. — Eu não estou pronta para
isso.
— Eu sei — disse Seneca. — Mas obrigada por fazer isso hoje. —
Ela explicou que ela só tinha mais dois dias antes dela ter que voltar para
casa e que eles tinham que resolver este caso rapidamente.
Aerin suspirou e pressionou a campainha do intercomunicador. —
Sim? — falou uma voz suave e acentuada.
— Oi! — disse Aerin brilhantemente. — É Aerin Kelly. Heath está
em casa?
— Uh... — Houve uma pausa. Então a voz disse: — Sim, entre.
O portão foi aberto. Aerin iniciou o longo caminho para a entrada.
Ela olhou para Seneca novamente, parecendo conflituosa. — Eu acho que
precisamos trazer os meninos de volta. Não sendo sexista ou o que quer
que seja, mas em momentos como este, seria bom ter alguns músculos em
nossa equipe. E Madison, também... é bom ter ela ao redor.
Seneca desmoronou, mas entendeu a lógica de Aerin. — Vamos
primeiro conversar com Heath, ok? Então você pode chamar os outros.
Elas estacionaram na entrada e saíram. Aerin levou-as para a porta da
frente, que estava abrindo quando se aproximavam. Um cara alto de
cabelos ondulados de vinte e poucos anos apareceu. Ele estava usando uma
camisa cinza amarrotada, calças cáqui e mocassins que mal tinha solado.
Havia três pulseiras de cordas no seu pulso. Ele tinha um sorriso de
ganhador, de eu sou um menino mau, o deixando ainda mais bonito apesar
dos dois dentes tortos da frente. Seneca não queria olhar para ele, mas era
difícil não olhar.
— Sra. Fox! — disse Heath, deslizando em direção a Aerin com os
braços estendidos. — Como você está?
— Bem. — Aerin tocou no braço de Seneca. — Esta é a minha amiga
Seneca. Temos uma pergunta para você... eu considerei ligar, mas
estávamos na área, então achei que deveríamos passar aqui.
— Você é sempre bem-vinda. — Heath deu a Seneca uma espiadinha,
longos cílios sombreando seus olhos verdes. Ela sentiu sua pele ficar
quente. Havia algo indesculpavelmente sexy sobre ele. Como o tipo de
cara que você conhecia em um festival de música no deserto.
Heath as levou para um enorme hall de entrada com pisos de mármore
e uma escada dupla. Um vaso com a metade do tamanho do corpo de
Seneca estava em uma mesa; havia lírios fálicos brotando de dentro. Na
escada havia um retrato de Marissa Ingram sentada em um divã, o rosto de
perfil, as pernas estendidas, um gato branco de pelos compridos no chão.
Eles se viraram e caminharam por uma sala cheia de livros de
aparência antiga, móveis de couro, tapetes orientais e mesas detalhadas de
madeira com quebra-cabeças semi-completos. Toda pintura era de um
homem sobre um cavalo. Finalmente Heath parou em uma sala pequena.
Lá dentro tinha uma lareira que parecia grande, mas estava cheia de livros
de capa dura. Uma cadeira estilo ovo pendia perto da janela. As cortinas
eram de seda Paisley e havia um enorme cacto saguaro em um vaso no
canto.
Aerin olhou em volta. — Aqui não costumava ser o escritório do seu
pai?
— Sim, mas ele pegou uma sala no andar de cima. Eu remodelei. —
Enquanto Heath caía em um sofá de couro, seu iPhone tocou. — Ei, mãe
— ele disse pacientemente. — Papai? Eu não sei onde ele está...
Seneca estudou os livros na lareira. Seu Melhor Você. Superando Qualquer
Coisa. Quando a Vida lhe Der Limões, Faça uma Limonada! Os que os limões de
Heath tinham a ver com Helena?
Heath desligou e gemeu. — Minha mãe tenta, tenta e tenta, mas meu
pai não atende. — Ele recostou-se no sofá. — Então, o que foi, Sra. Fox?
Lupita pode pegar algo para beberem? Água? Ponche? — Ele riu
maliciosamente. — É um pouco cedo, mas ela faz um muito bom.
— Estamos bem. — Aerin aproximou-se de Seneca. — Eu disse a
Seneca que você foi para a Columbia e já que ela está pensando em se
transferir para lá, ela estava se perguntando o que você pensa sobre isso.
— É fantástico. — Heath parecia melancólico. — Gostaria de ter
ficado mais tempo, mas a faculdade e eu não estamos nos misturando no
momento. Você está procurando alguém para entrar em contato? Eu
provavelmente poderia falar sobre você com o reitor de admissões... ele
deve um favor ao meu pai.
Seneca arregalou os olhos. Se ela ao menos pudesse fazer ele fazer
isso. Certamente, isso amorteceria o golpe quando ela tivesse que contar
ao seu pai sobre a U de M.
Aerin deslocou o peso. — Você não deu a Helena um tour por
Columbia?
Uma ruga formou-se na sobrancelha de Heath. Parecia que mencionar
o nome de Helena deixava todos por aqui eriçados. Mas, no entanto, quem
queria se lembrar de uma coisa tão horrível? Depois que a mãe de Seneca
desapareceu, ninguém queria dizer o nome dela também. — Helena era
mais uma garota da NYU — respondeu Heath.
— Então vocês fizeram um tour em NYU juntos?
Heath balançou a cabeça. — Não a vi em Nova York. E se ela fez um
tour em Columbia, ela provavelmente foi com aquele cara, o Kevin. —
Ele riu. — O que ela viu nele, afinal?
O pé de Aerin balançava tão selvagemente que Seneca estava
preocupada que ele pudesse se soltar. — Não tenho certeza de que ela
estava com Kevin, na verdade. Ela não mencionou isso para você?
— Não... — Heath inclinou a cabeça, ainda sorrindo.
Se ele sabia algo, ele estava fazendo um bom trabalho em esconder.
Seneca decidiu mudar de tática. — Para onde você transferiu quando você
saiu de Columbia?
Heath soltou uma mistura entre uma risada e uma tosse. — Você não
sabe? Minha mãe age como se fosse uma notícia nacional que eu não escolhi
outra faculdade.
— O que você fez em vez disso?
— Eu fui para o Colorado. Relaxar. Aprendi snowboard.
— Ah, certo — disse Aerin. — Você ficou no Ritz em Beaver Creek,
certo?
— Uh-hum. — Ele esfregou furiosamente seu nariz, como se ele
estivesse tentando apagar suas sardas.
— Eu só fui para o Ritz para almoçar — Seneca falou de repente. —
Não posso imaginar ficar lá.
— Os quartos são muito agradáveis — concordou Heath.
— Tem um pequeno transporte que leva para as pistas, certo? —
perguntou Seneca, lembrando-se da pesquisa que ela havia feito sobre o
Ritz naquela manhã.
Heath balançou a cabeça. — Não, há um elevador. Que leva
diretamente para as pistas, para dentro e para fora.
Seneca balançou o pé. Isso era verdade. — E acho que você conheceu
Phinneas?
Heath piscou. — Phinneas?
— Você o conheceu totalmente — Seneca disse. — Ele é, tipo, um
ornamento no Ritz.
— Oh, Phinneas — disse Heath depois de pensar. — Sim. O barman
mais impressionante de todos os tempos.
A porta se abriu. E todos pularam. A Sra. Ingram entrou. Ela usava
um vestido cor de creme com um entrelaçamento grande dos Cs da Chanel
no cinto. Ela estava puxando o marido atrás dela, que estava franzindo a
testa para alguma coisa em seu celular. — Heath, eu realmente gostaria
que você viesse almoçar conosco — a Sra. Ingram dizia, mas depois ela
olhou duas vezes. — Aerin! Olá, querida!
Aerin beijou a mãe de Heath, então abraçou o Sr. Ingram. —
Desculpe visitar sem avisar. Nós apenas tínhamos uma pergunta para Heath
sobre a Columbia. Minha amiga está interessada na faculdade.
O Sr. Ingram fez uma cara azeda. — Heath não será de grande ajuda.
Ele nunca foi a uma aula.
Marissa lançou-lhe um olhar e depois sorriu para Seneca. — Você é
de Dexby? A gente se conhece?
O olhar de Seneca girou para cada membro da família. O sorriso de
Marissa era apenas gengivas. A atenção do Sr. Ingram estava em seu
telefone novamente. Heath não estava olhando para a mãe dele. Ele estava
olhando para Seneca, seus olhos focados como lazeres, com os olhos frios.
Seneca olhou para a mão dele. Ele estava agarrando o braço da cadeira com
tanta força que suas veias azuis se estendiam.
O olhar de Aerin também estava na mão de Heath. Ela se levantou.
— De qualquer forma, não queremos interromper o seu almoço.
Marissa zombou. — Não seja boba. Por que vocês duas não vêm?
Vamos para o iate clube.
— Muito obrigada, mas já estamos indo. — Aerin já estava na porta.
Ela balançou os dedos para Heath, mas ele apenas deu um fraco sorriso.
Uma veia palpitava em seu pescoço.
Somente quando elas estavam em segurança fora da porta e dentro do
carro de Aerin, Seneca soltou um suspiro. — Eu acho que Heath está um
pouco confuso.
— Por quê? — perguntou Aerin com os olhos arregalados.
— Porque Phinneas? O ornamento do Ritz? Eu também fiz algumas
pesquisas nesta manhã. Ele não é um barman, como Heath disse. — Seneca
levantou as sobrancelhas de forma significativa. — Ele é o cão do resort.
Capítulo 27
Traduzido por Napoleana

B rett caiu no sofá de couro no esconderijo de Maddox. A tela para


começar Battlefield 4 estava na TV, mas nem ele nem Maddox
pegaram um controle para jogar. O quarto cheirava a pés, biscoitos
Goldfish e maconha — Madison também entrou e estava lendo uma Vogue
na espreguiçadeira.
Brett não estava pronto para deixar Dexby, então, depois de vagar
pela cidade, ele voltou para a casa de Maddox. — Podemos conversar? —
ele perguntou. Ele agradeceu que Maddox o tivesse deixado entrar, porque
sua conexão com Aerin estava deixando ele louco, e ele precisava da
perspectiva de um cara.
— Estávamos tão perto — ele estava dizendo a Maddox, descrevendo
como Aerin parecia a fim dele. — Mas não parecia certo, sabe?
— Espere até que ela não esteja bêbada — Madison falou da
espreguiçadeira. — Então será real.
— Exatamente. — Brett recostou-se e sorriu. Isso aconteceria entre
eles. Ele sabia disso.
O telefone de Maddox tocou. Ele olhou para a tela e fez uma cara
estranha. Brett inclinou-se — o telefone de seu amigo estava louco desde
que ele chegou. Uma mensagem dizia, O que você está fazendo agora?
Ele cutucou Maddox de lado. — Quem é essa Catherine que está tão
ansiosa para encontrá-lo?
— Uma... garota — disse Maddox, sua voz hesitando.
Outro toque. Brett olhou para a tela. Uh, o que é esse silêncio? uma nova
mensagem dizia. Você não se lembra do que falamos? — Jesus, isso não é muita
insistência? — ele murmurou.
— Eu disse a você que Catherine é louca — disse Madison, sem olhar
para cima da revista.
Maddox murmurou algo que Brett não conseguiu entender.
— Você deveria ligar para Seneca — Madison cantarolou.
Maddox colocou seu telefone com a tela para baixo no sofá. — Com
qual objetivo?
— Tenho certeza de que ela apreciaria uma desculpa — disse Brett.
— Talvez ela também se desculpe com você. Eu recebi uma mensagem de
desculpas dela.
Maddox fechou os olhos. — Eu não sei...
Brett encolheu os ombros. — Disque *67 antes de ligar para ela. Ou
use o meu. — Ele puxou o telefone através das almofadas e colocou ao
lado do colo de Maddox. — Vamos lá. Acerte as coisas.
Suspirando, Maddox pegou o telefone e percorreu os contatos de
Brett. Depois de um momento, ele pressionou o celular na orelha. —
Coloque no alto-falante — instruiu Brett.
Maddox lhe lançou um olhar. — Eu não vou colocar no auto-falante!
— Mas ele acabou apertando o botão do alto-falante de qualquer maneira.
No terceiro toque, Seneca atendeu. — Ei, Brett — sua voz retumbou
através do alto-falante, soando como se ela estivesse falando de negócios.
— Eu estava prestes a ligar para você.
— Na verdade, é o Maddox — disse Maddox ao telefone.
Houve uma pausa. — Ah — ela disse friamente. — Bem, eu acho
que você pode ouvir isso, também.
— Espere — disse Maddox. — Eu quero falar primeiro. — Brett
deu-lhe um polegar para cima. — Eu realmente sinto muito. Sobre... você
sabe. Eu estraguei um grande momento. — Sua voz parecia cheia de
arrependimento.
Seneca demorou um pouco para responder novamente, mas depois
suspirou. — Ok, Maddox. Me desculpe também. E, na verdade, temos
mais trabalho a fazer no caso.
— Você não está em Maryland? — Brett explodiu ao fundo.
Maddox lançou-lhe um olhar.
— Oi, Brett — disse Seneca. — Eu fiz meu pai voltar. Na verdade,
Aerin e eu estamos estacionando na entrada de Maddox agora.
Um motor ronronou na frente da casa. Brett, Maddox e Madison
caminharam até a porta quando Aerin e Seneca estavam saindo do carro de
Aerin. Brett estava tão feliz por vê-las novamente que deu um abraço
enorme em Seneca. — É bom ter você de volta.
— Minha vez! — Aerin disse depois. Brett a pegou e a balançou,
desejando poder mergulhá-la romanticamente e beijá-la ali mesmo.
Mas então, Seneca começou a percorrer o caminho, toda negócios.
— Nós descartamos Kevin e Greg.
— Como? — disse Brett, seguindo-as.
— Não importa — disse Seneca, atirando para Aerin um olhar
conspiratório. — Mas, Brett, sua mensagem sobre o origami me fez
pensar. E se HI for na verdade as iniciais H.I.? Uma pessoa se encaixa: Heath
Ingram.
Brett sentiu-se orgulhoso de si mesmo. — Eu sabia que o origami era
uma pista. Mas quem é Heath Ingram?
— Amigo da família Kelly — Madison falou de repente.
Seneca olhou para Maddox. — Você se lembra de Heath nos Kelly?
— Um pouco — Maddox disse lentamente. — Ele veio com Helena
uma vez. Helena saiu da sala e ele se virou para mim na cozinha. E ele
disse... — Maddox parou.
— Disse o quê? — Seneca perguntou.
Maddox suspirou. — Ele disse, Você está a fim de Helena, não é? Eu vejo
a maneira como você olha para ela. Você está espionando ela.
— Você estava? — Aerin exigiu.
— Cara, não — murmurou Maddox. — Meu ponto é que ele parecia
paranoico. Como se talvez estivesse se certificando de que eu não sabia de
algo.
Seneca sentou na mesa da cozinha e tirou um laptop da bolsa. — Nós
o pegamos em uma mentira nesta manhã. — Ela olhou para Aerin. —
Todo mundo no Ritz conhece esse cachorro. Está em todo o
TripAdvisor... os hóspedes podem levar Phinneas para caminhadas, e ele
fica na recepção, você praticamente tropeça nele quando você entra. E ele
estava definitivamente vivo há cinco anos, quando Heath estava lá. Se ele
realmente tivesse ficado no Ritz, ele teria sabido sobre esse cachorro.
— Heath disse que Phinneas era um barman — Aerin explicou ao
grupo.
— Então, o que ele estava fazendo? — Brett perguntou, intrigado.
— Não sabemos — murmurou Aerin.
Seneca começou a digitar no laptop. — Estou achando que ele esteve
em Nova York há cinco anos. Escondendo Helena. Eu pedi para MizMaizie
investigar.
— A partir das placas? — Brett assobiou. — Ela tem acesso a todos
os tipos de bancos de dados.
— Pessoal, espere um minuto — disse Maddox.
Seneca ergueu os olhos, franzindo a testa. — O que foi?
Maddox respirou fundo. — Há algo sobre o qual eu não falei quando
fui assaltado. — Seu pomo de adão tremia. — Lembro-me de alguém se
aproximando de mim, dizendo que eu precisava parar ou eu ia ser morto.
Tudo bem, parece improvável... mas e se isso estiver relacionado com o
caso? E se eles querem que a gente pare de investigar?
Madison ficou pálida. — Espere, o quê?
Brett olhou para ele. — Você tem certeza de que eles disseram isso?
Maddox puxou a gola de sua camisa. Seu telefone começou a tocar de
novo, mas ele ignorou. — Parecia muito real.
— Por que você não contou à polícia? — Aerin gritou.
Maddox olhou para as mãos dele. — Porque... parecia loucura.
Seneca torceu a boca. — Ainda assim poderia ter sido um assaltante.
Eles poderiam querer dizer para parar de se contorcer ou você seria morto.
Ou parar de gritar.
Aerin acenou com o braço. — Eu concordo. — Embora houvesse
uma hesitação em sua voz, como se talvez ela não tivesse tanta certeza.
Brett olhou para Maddox. E se Maddox estivesse certo, e se alguém
estava atrás deles? Mas as meninas já estavam estudando o computador de
Seneca. — Hum — disse Seneca quando abriu a página de Heath no
Facebook, recostando-se na cadeira e apertando os olhos para a tela. —
Aqui está o fim de semana em 8 de dezembro, cinco anos atrás, quando
Helena desapareceu. Heath postou uma publicação dizendo que ele estava
em Aspen... mas não há fotos.
Brett inclinou-se sobre a tela. — Se pudéssemos conseguir os
registros do seu celular em torno dessa época, poderíamos provar onde ele
realmente estava. Aposto meu dinheiro nisso.
Madison parecia confusa. — Mas onde Heath e Helena foram? Não
para sua casa em Dexby. Nem para o seu dormitório em Columbia,
tampouco, ele a abandonou no primeiro semestre.
— Talvez eles tenham um apartamento em algum lugar da cidade —
sugeriu Brett. — Porque eles tinham que estar em Nova York, lembra?
Loren fazia entrega para eles.
Estalo.
Brett levantou-se ereto, em alerta. — O que foi isso?
Os outros franziram a testa e abaixaram a cabeça. — Eu não ouvi nada
— disse Madison.
Outro som, como galhos quebrando, embora não fosse um dia
ventoso. Agora Maddox levantou-se e olhou pelas janelas. — Alguém está
lá fora.
— Vou checar — disse Brett.
— Não, eu vou — disse Maddox, pulando.
— Nós dois vamos — disse Brett, batendo em seu peito.
Eles se moveram cautelosamente através do esconderijo para a porta
de vidro deslizante. O crepúsculo havia caído, o céu era de um amarelo-
púrpura. Um balanço de pneu na parte de trás da propriedade balançava
hipnoticamente.
O ar estava fresco e mantinha o persistente cheiro de madeira de uma
fogueira. Os pássaros chilreavam alto, como se estivessem avisando. —
Olá? — gritou Brett quando abriram a porta. O telefone de Maddox tocou
de novo, o som abafado em seu bolso.
O ar estava decididamente calmo, como se alguém estivesse tentando
muito ficar quieto. Ele e Maddox trocaram um aceno de cabeça, depois
saíram do pátio. Brett caminhou para a esquerda. Nada no quintal lateral.
Havia uma mangueira de água enrolada. Uma tampa de plástico cobrindo
a grelha.
Então ele sentiu um golpe afiado no lado de sua cabeça. Isso o
derrubou de lado e sangue encheu sua boca. Ele caiu de joelhos. Algo o
atingiu novamente, desta vez no maxilar, e ele caiu sobre seu estômago.
Ele tentou se virar, tentou ver o que estava acontecendo, mas sua mão se
torceu estranhamente e ele sentiu o pulso quebrar.
— Brett? — Ele ouviu a voz de Maddox gritar de longe. Seu amigo
apareceu sobre ele, mas ele estava vendo embaçado. Brett tentou se sentar
e limpar os olhos. Seus dedos tocaram algo pegajoso. — Brett? — Maddox
estava gritando com ele agora. — Brett, diga alguma coisa!
Brett abriu a boca, mas não conseguiu falar. A cabeça dele martelava
como se ele fosse desmaiar. Ele olhou ao redor, tentando entender o que
aconteceu — e se isso iria acontecer novamente. Uma sombra se moveu
em seu campo de visão, alguém de preto. Seus olhos se concentraram. A
figura espreitava na rua atrás do carro estacionado em um vizinho. Ele
ergueu o braço, tentando sinalizar para Maddox, mas a tontura o alcançou
e ele caiu na grama.
— Brett! — Maddox gritou em sua orelha. — Brett, amigo, não
durma! — Mas Brett não podia mais lutar contra isso. Ele fechou os olhos,
sua cabeça latejando tão forte que parecia que alguém estava martelando
um prego no seu cérebro. Ele sentiu-se afundando, então, descendo,
descendo, descendo, em um poço de escuridão. O último som que ele
ouviu foi o insistente toque do telefone de Maddox.
Capítulo 28
Traduzido por Napoleana

S eneca estava sentada em uma cadeira de plástico vermelha em um


minúsculo quarto separado por uma cortina na emergência do
Hospital Dexby Memorial. Na cama, Brett estava deitado com os olhos
bem fechados, embora seus lábios continuassem se contorcendo. Um tubo
de endovenosa estava preso em seu braço, havia um hematoma preto e
roxo em sua mandíbula e um monte de sangue seco em seu cabelo. Toda
vez que ela olhava, ela sentia-se um pouco mal. O médico legista tentou
limpar sua mãe antes que Seneca a visse, mas também havia muito sangue
seco nela.
A porta abriu. Aerin e Maddox entraram com latas de refrigerante da
máquina de venda automática. — Como ele está indo? — sussurrou Aerin,
entregando a Seneca uma cerveja de raiz.
Seneca encolheu os ombros. — Ele não se moveu desde que vocês
saíram. Mas o médico voltou e disse que ele não tinha uma concussão. Eles
não precisam fazer mais testes. Ele ficará bem.
Depois que os meninos saíram para olhar lá fora, os pelos na parte de
trás do pescoço de Seneca se eriçaram. E se Maddox tivesse razão? E se a
voz que ela ouviu fora da porta do hotel fosse real? E se não foi um
assaltante em Nova York? Alguém estava atrás deles? Ela achou que ela
estava sendo tola, mas ela tinha que verificar isso de qualquer maneira.
Quando ela viu Brett deitado no quintal, não respondendo, e Maddox
inclinado sobre ele, ela primeiro pensou que estava alucinando. Isso não
poderia ser real. Alguém não poderia realmente estar atrás deles. E então ela
se sentiu responsável. Ela deveria ter levado Maddox mais a sério.
Havia um som rouco vindo da cama. Seneca virou-se e viu os olhos de
Brett fechados, depois se abriram. Ele se concentrou nas figuras acima dele
e seus lábios secos se separaram. A primeira pessoa que ele olhou foi Aerin.
Ele tentou sorrir.
— Bem-vindo de volta — Madison brincou, apertando suas mãos.
— Apenas fique deitado aí, irmão — acrescentou Maddox. — Você
está no hospital.
Brett se mexeu desconfortavelmente. — Alguém me bateu.
Todos trocaram um olhar. Eles tinham deduzido praticamente isso.
— Você viu quem fez isso? — Seneca perguntou.
Brett olhou para a endovenosa correndo em seu braço. — Na verdade
não.
Aerin abriu a cortina e espiou o outro lado. — Precisamos chamar a
polícia.
— Não podemos. — Seneca fechou a cortina novamente. — Eles vão
querer saber por que alguém pode ter feito isso com Brett. Teremos que
dizer o que fizemos.
— Alguém o atacou! Nós devemos simplesmente deixar isso para lá?
Maddox se mexeu desconfortavelmente. — Aerin, o que
descobrimos sobre Kevin, a escrita no origami, até mesmo a conversa com
Loren... não informar isso à polícia pode ser visto como retenção de
evidência. Podemos estar grandes problemas. Alguém nos ameaçando
pode ser uma coisa boa, se você pensar sobre isso. Isso significa que
estamos perto, talvez até mesmo certos. Alguém está irritado.
— Eu não quero que mais alguém se machuque! — gritou Aerin.
Seneca mordeu seu colar. Ela concordava que os policiais teriam
muitas perguntas.
Ela se virou para Brett. — Nós temos que manter nossa história.
Quando nós o trouxemos aqui, nós dissemos ao médico que você e
Maddox estiveram praticando os movimentos do Ultimate Fighter e as coisas
ficaram turbulentas. Se um policial fizer perguntas, você não pode dizer
nada mais do que isso.
Brett estremeceu. — Podemos pelo menos dizer que chutei o traseiro
de Maddox também? Não quero que eles pensem que esse cara magro me
mandou para o hospital.
— Cara, eu posso totalmente derrubar você — disse Maddox, rindo.
— Podemos ignorar a atuação de machão? — Seneca interveio. Ela
se aproximou de Brett. — Então, você não se lembra de quem bateu em
você? Nenhuma descrição?
— Tudo o que eu lembro é que a pessoa estava de preto. Eu a vi do
outro lado da rua. Eu tentei sinalizar para você, Maddox, mas você estava
concentrado em mim.
Maddox arqueou as sobrancelhas. — O assaltante na cidade também
usava preto. E o seu atacante era de tamanho médio? Tinha uma voz
esganiçada? Meu assaltante era, talvez fosse a mesma pessoa.
— O quê, como uma mulher? — Brett ficou horrorizado. — De jeito
nenhum. Uma mulher não me bateu.
— Na verdade, eu senti uma vibração feminina na Pousada Restful
também — disse Seneca. Ela se afundou na cadeira de plástico, sentindo-
se exausta. — Precisa ser Heath Ingram, no entanto. Nós o visitamos
ontem. Perguntamos sobre Helena. Talvez ele estivesse apenas disfarçando
sua voz...?
Aerin jogou sua lata de Sprite na pequena lata de lixo através da
cortina. — Eu apenas queria que tivéssemos provas. E um motivo. Por que
Heath levaria Helena para Nova York e depois a mataria?
— Talvez ela estivesse enganando-o? — sugeriu Maddox.
— Se ao menos ela tivesse dito a alguém sobre Heath — murmurou
Seneca. — Um blog ou um diário. — Ela vasculhou seu cérebro, tentando
se lembrar de qualquer indicação no Facebook, qualquer dica de que Heath
e Helena estavam realmente juntos, mas não conseguiu pensar em nada.
— Os policiais procuraram em todas essas coisas — disse Aerin. —
Não havia nada.
Um olhar pensativo cruzou o rosto de Brett, e ele se apoiou nos
travesseiros. — Aerin, Helena não disse algo sobre segredos para você no
dia em que ela desapareceu?
Aerin franziu a testa. — Não…
— Tem certeza disso? Você disse a Seneca que você espionou o quarto
dela e havia algo estranho que ela disse para você.
O olhar de Aerin mudou. — Oh. Eu disse que sentia falta dela, e ela
disse que conversaríamos mais, mas que algumas coisas poderiam ter que
ser em segredo (under wraps*). É isso que você quer dizer?
Brett apontou para ela. — Sim.
Seneca enrugou o nariz. — Aerin disse isso a polícia. Não é nada
novo.
Brett passou as mãos atrás da cabeça. — Talvez ela estivesse tentando
lhe dizer algo, especialmente se ela estava planejando sua fuga. Talvez ela
estivesse se referindo discretamente a um lugar que vocês gostavam para
pegar embrulhos, como de um sanduíche?
Aerin piscou. — Hã?
— Alguém que você conhece, usa um lenço de cabeça? — perguntou
Brett. — Ou... ela poderia estar se referindo a um papel de embrulho?
Seneca resmungou. — Brett, você é tão estranho.
— Ooh! — Madison gritou. — Under Wraps é um aplicativo. Isso
poderia ser algo?
Seneca se virou ao redor. — É?
Madison assentiu. — É uma espécie de Verdade ou Desafio... você
publica seus segredos nele, e as pessoas avaliam.
— Nunca ouvi falar de um aplicativo chamado Under Wraps — disse
Seneca, duvidosa.
— Não fez sucesso. Tinha um nome estúpido e havia muitos outros
aplicativos por aí que tinham uma interface melhor. — Madison arqueou
as sobrancelhas. — Havia outra característica onde as pessoas sussurravam
segredos em particular. Os casais usavam isso para trocar mensagens de
sexo e publicavam coisas safadas que eles iriam fazer um com o outro
depois da escola. Os pais não saberiam onde encontrar as mensagens.
Os olhos de Aerin se arregalaram. — Meu Deus. Havia outra parte
do que ela disse. Terão que ser em segredo... como em nossos telefones. Ela
poderia estar me dando uma pista!
Fogos de artifício estavam saindo do cérebro de Seneca. — Então,
Under Wraps é uma maneira para os casais conversarem um com o outro?
Em particular, sem pistas, sem usar mensagens que seus pais veriam?
Madison assentiu. — Isso é o que eu acabei de dizer.
Seneca olhou para Aerin com entusiasmo. — Precisamos do celular
de Helena.

***
Vinte minutos depois, Seneca e Aerin voltaram para o hospital da casa
de Aerin com o iPhone de Helena na mão. Embora Seneca tivesse dito aos
outros que esperaria antes de olhar, ela não pôde deixar de percorrer a lista
de chamadas de Helena no carro. Havia toneladas de chamadas para Heath.
Mensagens também. Mas talvez isso fizesse sentido — eles eram amigos.
Além disso, as mensagens eram todas amigáveis e mundanas, a maioria
relatando cena a cena dos episódios de The Walking Dead. Casualmente, ela
olhou o contato de Katie, a velha amiga de Helena, com quem ela brigou.
Havia apenas uma mensagem dela, seis meses antes de Helena desaparecer:
Obrigada por nada. Helena não respondeu. O que isso significava? Mas, no
entanto, talvez não valesse a pena prosseguir nisso — Katie estava limpa.
Ela olhou para Aerin. — Você se lembra de ter visto o nome de Heath
no arquivo de Helena no arquivo da polícia?
— Claro, mas apenas dizia que ele estava no Colorado. A entrevista
foi muito curta, os policiais não o questionaram sobre nada mais. — Aerin
fungou. — Talvez seja porque os Ingram ajudaram a financiar a renovação
de luxo da estação de polícia no mesmo ano.
De volta a emergência, Brett parecia muito mais forte e estava sentado
contra seus travesseiros jogando Candy Crush em seu celular. Depois de
alguns minutos mexendo no dispositivo antigo de Helena, Maddox gemeu.
— Under Wraps não está baixado aqui.
— Você tem certeza? — Seneca perguntou, desapontada.
— Eu procurei em todos os lugares. Verifiquei pastas ocultas dentro
de pastas, sob diferentes nomes de aplicativos...
— Você pode esconder aplicativos em celulares? — A voz de Aerin
se elevou. — Eu não sabia disso.
— Droga — Madison sussurrou em voz baixa. — Isso pareceu tão
promissor.
Então o celular de Seneca tocou. — É MizMaizie. — Ela olhou para
o e-mail. — Não encontrei nenhum registro de Heath Ingram em Nova York ou
Connecticut nas datas em questão — ela leu.
Brett sentou mais alto na cama do hospital. — Sério?
Havia mais. — Há registros de um Heath Ingram que corresponde à sua
idade e descrição vivendo no Colorado há cinco anos. Ele solicitou uma carteira de
motorista do estado do Colorado no dia 1 de janeiro desse ano. Há uma licença de
casamento também. — Ela parou. — Espera, o quê?
Aerin piscou forte. — Heath casou-se com Helena?
— Não. Ele se casou com alguém chamada Caitlynn Drexler. —
Seneca mostrou-lhes a foto em anexo. Era uma menina de cabelos escuros,
com olhos cinzentos e um sorriso suave. Seu cabelo estava preso em
pequenas tranças. Ela também tinha uma margarida grande pintada em sua
bochecha — Seneca não achava que fosse uma tatuagem.
— MizMaizie também fez um relatório sobre ela. Aparentemente, ela
é um membro recrutador da Igreja Espírito Animal. — Seneca olhou para
cima. — Não é um culto que os hippies se juntam, e eles tomam todo o
seu dinheiro? Eu vi uma reportagem de 60 minutos sobre isso há algum
tempo atrás.
Aerin semicerrou os olhos. — Você acha que Heath era parte disso?
— Essa seria uma boa razão para inventar uma história sobre o
snowboard e o Ritz — murmurou Seneca. — Quando Heath voltou para
Dexby, ele imediatamente voltou para casa?
Aerin estalou os dedos. — Talvez ele precisasse. Talvez esta garota
tenha roubado todo o seu dinheiro para o culto.
— Acha que eles ainda são casados? — Seneca percorreu o relatório.
— Não vejo uma anulação...
— Então, Heath não matou Helena? — disse Brett lentamente.
— Não sei — respondeu Seneca. — Talvez não.
Bzz.
A espinha de Seneca se endireitou. Ela achou que era seu celular,
talvez outra mensagem da MizMaizie. Mas era a cama de Maddox que
estava vibrando. Sua respiração ficou presa.
Era o telefone de Helena. Estavam ligando.
Todos olharam para ele como se estivesse possuído. Aerin agarrou-o,
suas mãos tremendo. — É de um número restrito — ela sussurrou.
O telefone tocou novamente. Ninguém se moveu. Finalmente, Brett
sentou-se na cama e agarrou-o. — Alô? — ele disse fracamente no porta-
voz.
Silêncio. Uma ruga formou-se na testa de Brett. Ele piscou uma vez,
duas vezes, e depois disse — Sim. Sim. Ok. Obrigado cara. — Ele desligou
o telefone. — Era Loren.
— Loren o traficante de drogas? — disse Seneca.
Brett assentiu distraidamente. — Ele lembrou o endereço de Helena.
Ele lembrou do nada, ele disse, e ele ainda tinha esse número. — Sua voz
estava espantada e como se estivesse em transe. — Ela recebia entregas no
prédio onde John Lennon foi baleado. Entre a West Seventy-second e o
parque.
Os olhos de Maddox foram de um lado para o outro. — É o Dakota.
Aerin recuou, sua testa franzida. — Não conheço ninguém que more
lá...
— Loren se lembrou de outra coisa — acrescentou Brett. — O nome
na conta não era o de Helena. Era Ingram.
Seneca bateu as mãos. — Então foi Heath!
Maddox afundou no travesseiro. — Como Heath poderia estar no
Colorado e em Nova York?
— Talvez ele tenha ido depois que ele matou Helena — sugeriu
Seneca.
— Ou talvez ele estivesse indo e voltando — disse Brett.
— Não.
Seneca virou-se. Aerin estava de boca aberta perto da porta. — Não
é Heath.
— Mas, Aerin, tem que ser — Seneca pressionou.
Aerin balançou a cabeça lentamente. Parecia que ela ia vomitar. —
Há outro Ingram, que definitivamente tinha acesso a um lugar em Nova
York. Skip Ingram. Harris Ingram, H.I. — Ela bateu uma mão trêmula
sobre a boca. — Eu acho que Helena estava com o pai de Heath.
Capítulo 29
Traduzido por Napoleana

A quele canalha, Aerin pensou entorpecida enquanto sentava no banco


de trás de um táxi da cidade de Nova York. Era domingo de manhã,
e ela e os outros estavam acelerando através do Central Park West em
direção ao prédio Dakota. Eles precisavam entrar no apartamento do Sr.
Ingram, encontrar algum tipo de prova sólida.
Aquele canalha egoísta, nojento e maldito. As palavras perfuravam
constantemente o seu cérebro como um batimento cardíaco. O Sr. Ingram
— ela não podia pensar nele como Harris, e definitivamente não como Skip
— era totalmente o cara. Ele se encaixava no perfil deles. Ele tinha feito
isso.
Ele era escandalosamente mais velho. Jovial. Culto — um grande
colecionador de arte. Aerin não se lembrava dele colecionar a arte asiática
por si só, mas era porque ele colecionava tudo — ele e o pai de Aerin
costumavam ir aos leilões o tempo todo, da mesma forma que outros pais
participavam de eventos esportivos. Seu pai voltava de feiras com pinturas
abstratas e estátuas tribais de madeira, tudo o que ele pudesse guardar no
seu horrível apartamento no centro da cidade. Presumivelmente, o Sr.
Ingram faz o mesmo.
Naturalmente, Helena teria que recrutar Kevin Larssen como seu
namorado falso para encobrir um caso com um homem casado. E o
apartamento em Dakota? Até mesmo Aerin se lembrava, em retrospectiva
— Marissa tinha falado sobre isso há alguns anos. Ela não queria que Skip
tivesse um lugar na cidade, mas eles bem podiam ter algo luxuoso. O
Dakota, ela se gabava, tinha uma das placas de cooperativa mais difíceis de
conseguir na cidade.
E, oh, as bilhões de vezes que o Sr. Ingram e Helena estavam ao redor
um do outro em Dexby! Os churrascos, jantares casuais, festas luxuosas,
os filmes em seu home theater. Todas as vezes que Aerin tinha visto o Sr.
Ingram e Helena conversando na cozinha e não pensou nisso. Ela pensava,
Uau, Helena claramente obteve o gene educado da família, porque eu não tenho a
menor ideia de como conversar com adultos. E o tempo todo, o Sr. Ingram estava
examinando os peitos de sua irmã. Isso a deixou doente. Somente o caso
deles em si já era um crime repugnante. Helena ainda não tinha dezoito
anos. O Sr. Ingram deveria estar ciente disso.
Ainda assim, Aerin não podia imaginar o Sr. Ingram assassinando
alguém. Em uma das primeiras festas de Natal do Scoops, o Papai Noel que
haviam contratado ficou gripado, e o Sr. Ingram o substituiu, vestiu a roupa
vermelha e falava o hoo hoo com bom humor. Mas até mesmo isso a deixou
enojada agora — ela se sentou no colo dele. Ela queria ir lavar a bunda nesse
mesmo instante, a lembrança parecia tão fresca.
Como o Sr. Ingram fez Helena escapar para Nova York com ele? O
que ele havia dito, com sua voz de barítono, seu sotaque de Kennedy de
Boston? — Venha comigo? — Posso te esconder no meu apartamento? — Vou
comprar roupas bonitas? — Mas você não pode ver sua família nunca mais?
E então, como um animal, ele a matou.
O telefone de Aerin zumbiu em suas mãos, a surpreendendo tanto
que ela quase o deixou cair. O nome de Thomas apareceu na tela. — Ei
estranha. Como você está? Comeu algum Cheetos ultimamente?
Aerin sentiu um golpe de culpa. Ela odiava que ela tivesse hackeado o
sistema da polícia usando sua senha. Ela também entrou de novo naquela
manhã para verificar o álibi do Sr. Ingram. Ele disse que esteve em uma
viagem de negócios em Washington, DC. Os policiais idiotas não o
desafiaram.
Ela queria responder a mensagem de Thomas, mas no momento em
que ela fizesse isso, ela temia que ela revelasse tudo. Ela desligou o telefone
e colocou-o em um compartimento com zíper na bolsa.
Brett, que estava sentado na frente com um pacote de gelo em seu
maxilar ainda inchado, virou-se para o motorista do táxi. — Uh, você pode
cortar através da Quinta?
O motorista lançou-lhe um olhar estranho. — Eu pensei que você iria
para a Seventy-second e o parque.
— Vamos andar um pouco. Poderemos ver a cidade.
O motorista sacudiu a cabeça, mas fez o que ele lhe disse. Aerin virou-
se e olhou para o sedan verde diretamente atrás deles. Ela encontrou os
olhos de Brett. — Nos seguindo? — ela balbuciou.
Brett mordeu o lábio inferior e encolheu os ombros.
O estômago de Aerin doeu. No caminho para a estação de trem, Brett
direcionou Aerin, que estava dirigindo, para pegar a rota mais tortuosa
possível para despistar quem os estava seguindo. Eles conseguiram um
trem no Metro-North e esperaram vinte minutos para o próximo, porque
uma mulher estava olhando para eles com desconfiança. E então, apenas
para estarem seguros, eles saíram do trem em Harlem, trocaram de metrô
e foram para a Eighty-sixth e depois pegaram um táxi. O que normalmente
era uma viagem de quarenta minutos tinha demorado duas horas.
Depois de ficarmos presos no tráfego do museu da Quinta Avenida, o
táxi cruzou a rua através do Central Park e dirigiu-se para Seventy-first.
— Pegue aqui — instruiu Brett, gesticulando para o canto da Seventy-
second e Columbus, a uma quadra do Dakota.
Todos saíram, sacudindo os ombros. Demorou um pouco para Brett
sair. Aerin nem sequer tinha certeza se ele deveria ter sido deixado sair do
hospital; ele ainda parecia muito tonto. Maddox apontou para uma
cafeteria. — Vamos nos trocar no banheiro. Prontos?
O café na loja cheirava a queimado. O lugar estava cheio de pais e seus
filhos pegajosos e fantasiados; um coelhinho da Páscoa estava sentado na
parte de trás distribuindo os ovos. Aerin esqueceu que esse domingo era
dia da Páscoa; significava, infelizmente, que ela teria que aparecer na festa
do Coelhinho da Páscoa mais tarde — sua mãe nunca faltava.
Eles foram diretamente para o banheiro, que estava cheio de papel
higiênico. Dentro de uma cabine, Aerin se trocou para uma roupa de
limpeza rosa do hospital que haviam roubado do hospital depois que Brett
teve alta. Madison saiu de sua cabine também com sua roupa de limpeza,
mas Seneca usava o terno azul marinho da Calvin Klein que eles haviam
roubado do guarda-roupa da mãe de Aerin. Seu rosto estava pálido.
— Quero acabar com tudo isso — disse Aerin, tremendo.
Seneca balançou a cabeça. — Nós chegamos tão longe. Não podemos
simplesmente parar.
De volta ao café, um bebê que tinha um rosto enrugado começou a
chorar. Maddox e Bret surgiram do banheiro, eles também trocaram para
roupas de limpeza. De uma das mochilas, Brett vasculhou as garrafas de
limpeza e jogou lenços para Aerin e Madison. Eles seriam faxineiros. Brett
conseguiu bajular o assistente pessoal de Skip Ingram, que disse que Skip
estava em Dexby hoje, tendo um brunch de Páscoa com a sua família. O
assistente também lhe deu o nome do pessoal da limpeza que Skip usa no
apartamento de Nova York.
Seneca ligou para a dona da empresa e representou o assistente que
Brett tinha acabado de conversar, dizendo que o Sr. Ingram decidiu usar
outro serviço e ela tinha que entregar a chave do apartamento. Eles
concordaram em se encontrar no Dakota quinze para dez; e já eram 9:40.
Eles voltaram para a rua. Aerin olhou para a rua movimentada,
olhando as pessoas olhando enquanto eles passavam. Ou ela apenas pensava
que eles estavam olhando?
De alguma forma, suas pernas bambas conseguiram andar o
quarteirão. Uma mulher mais velha, de pele cor de azeitona, esperava na
frente do Dakota. Quando Seneca se aproximou, a mulher se endireitou.
Elas trocaram algumas palavras, e então a mulher passou a Seneca um
envelope. Aerin não podia acreditar. A mulher não pediu as credenciais de
Seneca. Ela foi embora rapidamente, puxando seu capuz ao redor de seu
rosto.
Seneca entrou em um beco, abriu o envelope e segurou uma chave.
— Perfeito.
Eles andaram em direção ao prédio, que se erguia sobre o parque.
Aerin estudou suas janelas ornamentadas e de ferro. Muitas famílias que
ela conhecia tinham lugares na cidade — seus pais tinham pensado em
conseguir um antes de se separarem. Helena havia opinado uma vez que
adoraria um prédio de fachada marrom no Village, um loft em Tribeca.
Este lugar, em comparação, parecia tão formal e conservador. Como
Kevin Larssen — não o estilo dela.
Mas, no entanto, por que ela achava que ela conhecia o estilo de sua
irmã?
Eles atravessaram um portão aberto para um pequeno escritório de
segurança à direita. No interior, pelo menos dez telas de vídeo de várias
vistas da propriedade estavam alinhadas nas paredes. Dois guardas
observavam o grupo com desconfiança. — O Sr. Ingram está esperando
vocês? — perguntou o mais alto e mais encorpado.
— Nós somos o novo serviço de limpeza do Sr. Ingram. — Seneca
levantou a chave. — Ele quer que a gente limpe para um jantar que ele vai
dar amanhã. Você pode ligar para o seu assistente para verificar.
Aerin prendeu a respiração enquanto os guardas os examinavam. De
repente, ela percebeu que eles pareciam todos errados, do maxilar
machucado de Brett ao seu pulso enfaixado, o cabelo selvagem de Seneca,
a aparência de garoto popular de Maddox e a sombra prata brilhante nos
olhos de Madison. Não ligue para verificar, ela pediu silenciosamente.
— Podem ir — disse o guarda pequeno e gorducho depois de um
momento, os indicando o caminho.
Eles foram direcionados através de um pátio de pedra com uma
enorme e sonora fonte no centro. Sinos de vento tocavam. Bancos estavam
espalhados ao redor da fonte e o ar cheirava a limpo. Madison tocou o braço
de Aerin. — Isso é... legal — ela disse.
Aerin olhou para ela. — Você está tentando dizer que é melhor do
que ela ter estado escondida em um poço no porão? — Ainda era
desconcertante inserir Helena nesse quadro. Sentada na fonte, esperando
que seu amor volte — ugh. Lançando moedas na água, desejando o Sr.
Ingram — estremecimento. Ou talvez fosse uma imagem louca. Helena tinha
estado por todas as notícias — se alguém a reconhecesse, o Sr. Ingram
estaria em grandes problemas. Ele provavelmente lhe disse para nunca sair
do apartamento.
Aerin apertou os punhos, fúria enchendo-a novamente.
Os registros públicos do prédio diziam que Ingram possuía o
apartamento 8B. Depois de um passeio de elevador, Aerin ficou em frente
a ele e concentrou-se, imaginando se ela poderia dizer, de alguma forma,
se sua irmã esteve aqui.
Ela não sentiu nada.
Seneca colocou um par de luvas e encaixou a chave na fechadura. As
engrenagens encaixaram e a porta se abriu. Luz vinha de uma sala na frente
cheia de móveis grossos e caros. Cortinas de seda pendiam das janelas do
chão ao teto. O único som era o farfalhar do tráfego.
Até o sinal sonoro.
Era estridente ao ponto de prejudicar os seios paranasais de Aerin. Ela
colocou uma mão sobre suas orelhas. A pele de Seneca ficou cinza. — Um
sistema de alarme? Você está brincando comigo? — gritou Maddox.
— Nós não temos um código! — Aerin gritou.
Seneca virou o envelope de cabeça para baixo e o sacudiu. Nada saiu.
— Eu... eu não achava que precisávamos de um. Este é um prédio seguro,
com um porteiro.
— É também um dos edifícios mais exclusivos da cidade! — gritou
Aerin.
Brett colocou luvas, correu para um painel na parede e levantou a
pequena tampa para olhar o teclado. — Minha família tem esse mesmo
sistema. Existe uma maneira de burlá-lo. — Ele digitou alguns números.
O sinal sonoro parou, mas o silêncio foi pior. — Ok, temos cerca de cinco
minutos até a empresa de alarme ligar para Ingram para avisá-lo que houve
uma invasão. Mas se pudermos sair daqui antes, posso rearmar o sistema e
ficaremos bem.
— Como vamos encontrar algo em cinco minutos? — Madison
gritou.
Aerin voltou para a porta da frente. — Precisamos sair daqui.
Seneca girou, seu olhar flutuando de uma sala para outra. — Ainda
podemos encontrar algo. Nós apenas temos que pensar. Coloque as luvas,
Aerin. Vamos.
Ela correu para uma sala de trás. Aerin e Madison a seguiram,
colocando luvas, também. A pele de Aerin enrugava enquanto caminhava,
como se o Sr. Ingram fosse saltar sobre ela do teto, como o Homem-
Aranha. Ela sabia que ela estava sendo melodramática, que não fazia
nenhum sentido, mas isso não a impediu de se agitar a cada pequeno
barulho.
O grande quarto na parte de trás continha uma cama king-size coberta
por um edredom de seda brilhante — Aerin não podia deixar de imaginar
Helena deitada sobre ela. Seneca correu para uma mesa do outro lado do
quarto e abriu a gaveta de cima, depois a segunda abaixo. Balançando a
cabeça, ela correu para o guarda-roupa e abriu a porta. Camisas e gravatas
estavam penduradas nos ganchos. Mocassins, sapatos brogue e Oxfords
estavam alinhados no chão.
Madison fez uma careta. — Ele tem mau gosto para acessórios.
— Quatro minutos — gritou Brett. Seneca passou por ela através da
cozinha; Aerin seguiu atrás como uma sombra. Madison abriu um armário
e mostrou a Aerin uma caneca Eu Coração NY. — Lembra alguma coisa?
Aerin apenas encolheu os ombros.
Em um escritório, as garotas procuraram nas estantes de livros, mas
tudo o que acharam eram biografias e livros didáticos. Aerin verificou um
banco embaixo da janela, na esperança de ver as figuras de cachorro de
vidro que Helena gostava, uma tigela que ela poderia ter feito de cerâmica,
até mesmo outro origami de papel. Nada. Em uma parede distante, no
entanto, havia três espadas longas com alças intrincadas. Caracteres
japoneses estavam gravados nas lâminas.
Ela olhou para Seneca. — Espadas de Samurai?
— Acho que sim — murmurou Seneca.
Elas olharam ao redor das espadas, esperando algum tipo de pista para
a presença de Helena, mas tudo o que viram foram seus próprios reflexos
no metal brilhante. Seneca bateu as mãos nos lados. — Isso definitivamente
sugere que ele é o seu Samurai Knight, mas não é suficiente.
— Dois minutos, quinze segundos — disse Brett, olhando para o
relógio.
Aerin entrou no banheiro de azulejos brancos e abriu um armário de
remédios. Havia garrafas de comprimidos, mas nada interessante. Cremes
para pele seca. Tilenol, vitaminas. Abaixo da pia, ela não encontrou um
único tampão, ou garrafa de Proactiv ou os lenços japoneses que sua irmã
usava para tratar sua testa oleosa. No chuveiro, havia garrafas de Selsun
Blue, creme para barbear. Nem mesmo um barbeador rosa. Mas por que
haveria? Helena esteve aqui há cinco anos atrás.
— Um minuto — disse Brett.
Seneca entrou no corredor. — Alguma coisa, Maddox?
— Nada.
Um gosto azedo brotou na boca de Aerin. — Isto é ridículo. Não há
nada.
Seneca colocou as mãos nos quadris dela. — O que Skip espera que
ninguém encontre?
— Uma carta — sugeriu Maddox. — Um livro. Uma foto.
— Roupa íntima — gritou Madison. Ela olhou para Aerin. —
Desculpa.
Brett abriu um armário cheio de casacos escuros. — Um guarda-
chuva?
Seneca olhou para o alarme. — Temos trinta segundos restantes. Nós
devemos simplesmente ir embora.
Mas Aerin olhou para o armário, seu olhar deslizando sobre os casacos
nos cabides, chapéus nos ganchos. Algo marrom e flexível foi empurrado
para trás de um chapéu-coco e uma calça na prateleira de cima. Aerin o
puxou, apertando a ponta das luvas contra a camurça suave. Não poderia
ser.
Brett estava na porta da frente. — Temos cerca de doze segundos
antes de ter que re-ligar.
Maddox e Madison entraram no corredor. O olhar de Seneca estava
em Aerin. — O que é isso?
Aerin segurou o fedora suavemente, como se fosse um ovo. Quando
Helena chegou em casa da loja, Aerin lembrou-se de enrugar o nariz. O
chapéu era tão estranho, nada parecido com algo que outra pessoa de sua
idade fosse usar. Era como se sua irmã tivesse se transformado em alguém
que ela não conhecia. Alguém que usava chapéus estranhos, alguém que
ousava ser diferente, alguém que mergulhara na idade adulta e deixou
Aerin muito para trás. Aerin atribui ao chapéu um significado, um símbolo
de quão longe ela e sua irmã haviam se distanciado. Ela odiava a coisa.
Até hoje. Porque aqui estava o chapéu, no apartamento do Sr. Ingram,
fornecendo-lhes toda a prova que eles precisavam.
Capítulo 30
Traduzido por Napoleana

M ais tarde, na tarde de domingo, Maddox, Madison, Brett e


Seneca estavam sentados no sofá no quarto de Maddox, abrindo
atordoadamente doces da Páscoa e olhando para a TV. Aerin foi para casa
para estar com a mãe dela. Maddox pensou nas duas mulheres Kelly
assistindo as notícias naquela casa enorme, todo aquele luxo inútil para
suavizar o golpe da verdade terrível.
Grande Notícia sobre o Caso de Helena Kelly, aparecia em uma manchete
na CNN. Um repórter estava em frente ao Dakota, sua expressão sombria.
— As informações ainda estão chegando, mas fontes me dizem que uma
dica revelou que a Srta. Kelly e Harris ‘Skip’ Ingram tiveram um caso há
cinco anos atrás, na época em que a Srta. Kelly desapareceu. Os detetives
procuraram no seu apartamento na cidade de Nova York, onde
encontraram diversos itens pessoais da Srta. Kelly, bem como prova de
DNA e sangue. Os testes não foram concluídos, mas as autoridades
esperam que o sangue combine com o da Srta. Kelly. O corpo da Srta.
Kelly foi encontrado no norte de Connecticut apenas no ano passado, e
enquanto os detetives ainda estão tentando descobrir a forma como ele
chegou lá, ligar o Sr. Ingram é um enorme avanço para esse crime não
resolvido.
A tela mostrou mais imagens do Dakota e, em seguida, a propriedade
dos Ingram em Dexby, quem eles estavam procurando agora. Maddox e o
resto do grupo haviam se preocupado em como encontrar o fedora no
apartamento de Skip Ingram iria parecer. Quando eles avisaram a Aerin
para soltar o chapéu no chão, sair do apartamento e ligar para a polícia,
admitindo que ela suspeitava dele, ela balançou a cabeça. — Não posso me
revelar!
— Sim, você pode — Brett assegurou-lhe. — Diga que você se
lembrou de algo. Basta fazê-los procurar no apartamento.
Era um risco — os policiais poderiam rir. Talvez eles não fossem
capazes de conseguir um mandato de busca. Aerin poderia ficar com
problemas. Mas tudo havia se encaixado no lugar.
Maddox virou-se para Seneca. — Não posso acreditar que eles
encontraram o sangue dela.
Brett zombou. — Ele era um assassino desleixado e de primeira
viagem, que não sabia nada sobre forense.
— Usar água sanitária para limpar sangue não funciona — disse
Maddox, lembrando das discussões no Casos Arquivados. Havia um
produto químico que os policiais costumavam usar que ia além da água
sanitária após uma limpeza, que detectava até o menor rastro de sangue.
Agora os noticiários estavam falando sobre como o Sr. Ingram havia
acabado de confessar ter um caso com Helena. Ele podia ser condenado
por sexo predatório com alguém menor de idade mesmo com
consentimento, e ele enfrentará uma acusação grave de contravenção por
abrigar ilegalmente uma menor de idade e fugitiva e de reter evidências da
polícia. Isso se ele não for acusado por assassinato em primeiro grau. — O
Sr. Ingram admite que ele não matou Helena — um homem identificado
como advogado de Skip Ingram diz a câmera. — Ele nunca quis que Helena
cortasse laços com sua família. Ele estava planejando deixar sua esposa em
um determinado momento, e ele e Helena voltariam para Dexby depois
disso. Ele sustenta que Helena foi a única a querer se mudar para a cidade.
Ele era contra isso.
Seneca enrolou os punhos. — Então, diga não a ela, cara. Você é o
adulto nesta relação.
Madison bufou. — E o quê, ele esperava que ele e Helena voltassem
para Dexby e as pessoas os convidassem para jantares no clube como se
tudo fosse normal? O cara está louco.
O telefone de Maddox zumbiu em seu bolso de trás, e ele se deslocou
para ver. Preciso vê-lo, Catherine escreveu.
Falando de loucura... Sua cabeça doeu toda a tarde, e ele não tinha
certeza se isso era por causa do que ele estava descobrindo na TV ou por
quantas mensagens ele havia recebido de Catherine esse dia. Cento e
setenta e seis. Isso tinha que ser algum tipo de recorde.
Ele não sabia o que fazer. Se uma hora passasse e ele não respondesse,
ela o encontrava no iChat. Ou Gchat. Ou enviava e-mail ou ligava. Você
está saindo com aquela garota Seneca? ela continuava perguntando. Ele jurou
ter visto o carro de Catherine passando na sua casa várias vezes hoje,
também.
Maddox sentia-se completamente preso. Se ele dissesse a ela que eles
tinham realmente terminado — o que ele queria desesperadamente, já que
ele não sentia mais nada por ela — ela realmente retiraria sua bolsa de
estudos? Ele tinha trabalhado tão duro por isso. Não havia tempo para se
candidatar em outra faculdade para o próximo ano. Sua mãe ficaria
devastada.
Sua atenção voltou para a TV, onde a polícia levava Skip Ingram para
fora do Country Clube de Dexby. Ele estava vestindo um terno que parecia
caro e seus ombros estavam curvados. Por uma fração de segundo, ele
olhou para a câmera. Seus olhos estavam úmidos.
Maddox gemeu. — Por que eles sempre choram?
— Sr. Ingram, o senhor tem algum comentário? — o repórter gritou.
A câmera voltou-se para o Sr. Ingram. Ele abriu a boca como se
quisesse falar, depois olhou para alguém além das câmeras e fechou a boca.
Maddox virou-se para Seneca. — Nós conseguimos. Nós o
encontramos. Não é incrível?
A boca de Seneca se contraiu. — Eu não sei. Parece muito fácil...
Brett acenou com a mão. — Você está de brincadeira? Ele é nosso
cara com certeza. Pare de se preocupar.
— Mas na verdade não sabemos se ele a matou... ou por quê.
— Quem se importa com o motivo? — disse Brett. — O sangue dela
estava naquele apartamento. Ele fez isso.
Seneca parecia incerta sobre o travesseiro de crochê que ela segurava
no peito. Maddox não podia deixar de notar que seu cabelo estava meio
que saindo de seu rabo de cavalo, lembrando da sensação desse cabelo
contra suas mãos. Ele riu fracamente. — Então deixe-me ver se entendi.
Você fica chateada quando está errada, mas você fica miserável quando está
certa? — Ele ousou mexer na sua coxa com o polegar e o dedo indicador.
— Você é impossível de entender.
Seneca retaliou desanimadamente jogando um ovo de manteiga de
amendoim na sua orelha. Rindo, ele jogou um mini coelho de chocolate
nela, e ela pegou a cesta de Páscoa e jogou todas as coisas sobre sua cabeça.
— Ei — Maddox gritou. Mas ele secretamente não se importava. Ele
estava feliz por ela estar voltando a prestar atenção nele, finalmente
voltando para seu velho eu.
Madison, que estava sentada no final do sofá, fez um grande
espetáculo ao se levantar e se alongar. — Eu tenho que me preparar para
a festa do Coelhinho da Páscoa. — Ela deu a Maddox um sorriso malicioso.
Brett lentamente e rangendo também se levantou. — E eu vou, hum,
ver como o tempo está lá fora.
Eles escaparam. Conforme um comercial aparecia na TV sobre o Kim,
um restaurante local, Maddox sorrateiramente olhou para Seneca. Ela lhe
devolveu um olhar desconfiado. — Isso foi planejado?
— Não — Maddox disse honestamente. — Embora, eu, hum, queria
falar com você sozinho. Queria pedir novamente que me desculpe.
A testa de Seneca se franziu. — Você já pediu. E eu já perdoei você.
— Até mesmo pelo que aconteceu no pátio?
— Sim. Está tudo bem. — Ela olhava diretamente para frente.
— Não, não está. Eu posso dizer.
Seneca soltou o ar do nariz e olhou para ele por uma fração de
segundo. — Nós não podemos simplesmente fingir que tudo está normal
novamente. A vida não funciona assim.
Maddox assentiu, sentindo uma pitada de tristeza. — Eu queria que
isso acontecesse. — Ele suspirou. — Eu só quero que a gente seja amigos
novamente. Você é diferente de qualquer pessoa que eu já conheci. E com
isso, eu quero dizer melhor.
Ela deu-lhe um olhar cauteloso. — Você usa isso com todas as
garotas?
Maddox balançou a cabeça. Não era uma frase descartável para entrar
em suas calças. O que ele realmente queria, ele percebeu, era apenas ela
— estar ao redor dela, sair com ela, conversar. Mesmo que isso significasse
que eles seriam apenas amigos. — Eu realmente gosto de você — ele disse.
— Desde a nossa primeira conversa online. Acho que você é engraçada e
inteligente, e a cada coisa nova que eu descubro sobre você me faz gostar
ainda mais de você. — Ele limpou a garganta. — Até mesmo sobre sua
mãe. Até mesmo sobre como você se ferrou na faculdade.
Seneca fez uma careta. — Obrigada por compilar essa lista lisonjeira
de todos os meus melhores atributos. — Mas então ela olhou para o chão.
— Eu tenho que dizer, você é cheio de surpresas, Maddox. Isso me
desestabilizou no início. Mas talvez não me importe tanto agora.
Maddox sentiu suas bochechas corarem e se virou para olhá-la
diretamente, interrogando com os olhos. Ela estava olhando diretamente
para ele, seu rosto aberto, vulnerável. Ela…
A porta abriu. Maddox afastou-se de Seneca, o coração na garganta.
Era apenas sua mãe, Betsy, na porta. — Ok, Maddy — ela falou
superficialmente. — Você está pronto para ir?
Maddox piscou. — Ir... para aonde?
— O treino. Com Catherine.
Por um momento, Maddox ficou atordoado. — E... ela está aqui? —
Ele imaginou Catherine acampando no pátio da frente. Espreitando em sua
janela. Ela estava observando ele e Seneca?
Sua mãe entrou com seus sapatos azuis. Seu olhar pousou na TV e um
olhar estranho surgiu no seu rosto — eles ainda não haviam discutido sobre
Helena. — Não — ela disse devagar. — Ela acabou de ligar. Ela disse que
você perdeu alguns treinos, mas que ela teria tempo esta tarde, se você
quisesse se recuperar. Deixei um bilhete para você. Você não viu?
Maddox piscou. Ele não tinha visto nenhum bilhete.
— Eu tenho que levá-lo porque preciso do seu carro para pegar
algumas flores para sua tia Harriet. — Ela passou as mãos nas calças. —
Então vamos.
Maddox procurou uma desculpa. — Estou me sentindo meio cansado
— ele disse fracamente.
Sua mãe colocou as mãos nos quadris. — É importante que você
mantenha o cronograma.
Havia um enorme nó na sua garganta. Ele tinha que sair disso. Ele não
conseguiria ver Catherine agora. Mas como ele poderia explicar isso?
Ele olhou para Seneca. Ela deu de ombros inocentemente. — Vá em
frente. Não me importo.
Maddox ficou parado, sentindo-se preso. No carro, ele não podia
pensar em nada para dizer a sua mãe, nem mesmo sobre Helena. Suas
emoções pareciam complicadas. Ele precisava enfrentar Catherine com a
cabeça erguida. E dizer a ela — bem, o que exatamente ele queria dizer a
ela? Ele poderia dizer adeus a Oregon? Por outro lado, ele realmente
queria estar preso na sua teia louca?
O estacionamento do centro de treinamento estava vazio, salvo por
apenas dois veículos — uma van azul que parecia estar sempre lá e o Prius
de Catherine. Maddox a espiou sentada nas arquibancadas perto da pista,
seu lugar favorito. Seus nervos começaram a estalar sob sua pele.
Fique calmo, ele recitou silenciosamente, saindo do Jeep. Seja honesto.
Ao aproximar-se dela, Catherine levantou-se, com os olhos enormes e
redondos. Maddox respirou fundo, estabilizando-se.
— Catherine. — Maddox ficou satisfeito ao ouvir sua voz alta e forte.
— Nós precisamos conversar.
Capítulo 31
Traduzido por Napoleana

A cozinha ficou escura em torno de Aerin, mas ela não ligou


nenhuma luz. Ela estava sentada à mesa, virando um saleiro em
forma de maçã repetidamente em suas mãos. A TV estava desligada. A
tampa do laptop estava fechada. A notícia estava em todos os lugares —
em todos os canais, talvez até no Animal Planet — mas não era como se
ela precisasse que isso recomeçasse. Começaria tudo de novo, ela sabia. Os
olhares. As perguntas. Os sussurros.
Quando ela ouviu o motor na entrada e a porta do carro bater, ela
colocou o saleiro de volta à mesa e olhou para a porta da garagem. Sua mãe
entrou na casa como um balão rebelde. Suas mãos tremiam. Havia olheiras
sob seus olhos. Ela notou Aerin e parou no meio da cozinha, seus braços
caindo para seus lados.
Aerin ficou de pé. — Eu tentei te ligar. Mas estava dando ocupado.
A Sra. Kelly tateou na parte de trás de uma cadeira. — Eu sei. Falei
com Kinkaid... e depois com o DPNY... e depois com seu pai. — Ela
olhou para Aerin. — Eles estão dizendo que uma fonte os avisou sobre o...
relacionamento. Foi você?
O estômago de Aerin estava cheio de nós. — O chefe lhe disse? —
Kinkaid, o chefe da polícia com quem Aerin falou, jurou que ele manteria
sua identidade em segredo.
A Sra. Kelly sacudiu a cabeça. — Eu descobri. — Ela fechou os olhos.
— Você estava investigando, não é? Foi por isso que você foi à festa de
noivado de Kevin, não foi? E antes de tudo isso estourar, Marissa
mencionou que você os visitou ontem, sem aviso prévio. Mas você tem
certeza? Você está certo que Skip...
A matou? Aerin preencheu silenciosamente.
Em breves intervalos entre odiar as tripas do Sr. Ingram e querer
assassiná-lo, Aerin sentiu as dúvidas mais importantes, especialmente
porque o Sr. Ingram havia feito uma declaração enfática dizendo que ele
era inocente e que amava Helena profundamente. E se ele estivesse falando
a verdade? Uma lembrança havia chegado a Aerin há algumas horas: em um
verão, a gata da família Ingram, Pickles, havia deixado um rato na porta
dos fundos e o Sr. Ingram estava aterrorizado até mesmo em tocá-lo. Na
verdade, Heath quem levou a coisa ao lixo.
E falando em Pickles, o Sr. Ingram era louco por aquela gata, pagando
milhares de dólares de quimioterapia felina cara quando ela teve câncer de
osso porque ele odiava a ideia de perdê-la. Era uma piada na família Ingram,
na verdade — Papai ama Pickles mais do que nós. Esse era um homem que
bateu tanto na sua namorada que seus ossos ainda mostravam o trauma
depois de cinco anos de podridão?
Claro, se ela acreditasse no Sr. Ingram, ela também teria que acreditar
em sua história de que Helena foi a única que insistiu que ela fugisse de
Dexby e morasse com ele... e que ele estava planejando trazê-la de volta a
sua família. Ela tentou imaginar Helena e o Sr. Ingram elaborando os
detalhes, negociando seus planos. Helena realmente pensou, Eu preciso deste
tempo particular com essa pessoa, só serão alguns meses, e então tudo será perfeito?
Ela não considerou quão preocupada sua família ficaria? Por que, pelo
menos, ela não descobriu alguma maneira de entrar em contato com eles
para garantir que ela estava bem? Aerin tinha ouvido muitas vezes que o
amor fazia com que você fizesse coisas estúpidas, que era tão poderoso
como uma droga. Mas ela não podia imaginar sua irmã mais velha,
inteligente e obstinada, realmente caindo nessa besteira. Aerin nunca faria
isso.
Aerin limpou a garganta, ciente de que sua mãe ainda estava olhando
para ela. — Tenho certeza de que é ele — ela murmurou.
A Sra. Kelly recuou como se Aerin a tivesse chutado. — Não sinta
pena. — Sua voz estava afiada. — Ele a machucou. Ele nos machucou. Ele
deveria estar ciente disso. Ela era uma garotinha.
Os olhos de Aerin se encheram de lágrimas, e por um momento
ambas choraram silenciosamente. Quando ela olhou de novo, sua mãe
estava observando Aerin de uma maneira tensa e desolada que Aerin nunca
tinha visto. — Eu trabalho demais — ela disse do nada. — Eu finjo não
ver as coisas. Mas eu vejo, vejo o que está acontecendo com você, e eu
penso que fiz a mesma coisa com ela também. Eu não deveria saber sobre
isso?
— Não fique louca.
Havia lágrimas nos olhos da Sra. Kelly. — Mas eu o coloquei na minha
casa. Deixei-os sozinhos juntos! Que mãe faz isso?
Aerin estava prestes a responder, mas então sua mãe entrou em
colapso. Aerin avançou e tentativamente envolveu seus braços em torno
do corpo estremecendo de sua mãe. A Sra. Kelly se inclinou sobre ela tão
fortemente que Aerin quase caiu. Seu ombro estava molhado
instantaneamente com as lágrimas de sua mãe.
Ela deixou sua mãe chorar por um tempo até seus soluços virarem
gemidos. Então a Sra. Kelly ergueu a cabeça, tomou algumas respirações e
enxugou os olhos. — Seu pai chegará em breve. E há uma coletiva de
imprensa amanhã de manhã. Preciso que você esteja lá.
Aerin suspirou pesadamente. O que sua mãe achava que ela ia fazer
— não ir? — Tudo bem.
— E nós vamos para a festa do Coelhinho da Páscoa mais tarde, como
uma família.
Aerin voltou a sentar-se na cadeira. — Você só pode estar brincando
comigo.
A Sra. Kelly levantou o queixo. — Nós temos que ser fortes. Temos
que continuar com nossas vidas. Até o seu pai vai participar.
— É isso o que é importante aqui? Eu acho que as pessoas nos
perdoariam se ficássemos em casa.
Sua mãe afastou os cabelos dispersos atrás de suas orelhas. — Peguei
seu vestido na costureira. Ainda está no carro. Tem uma cabeleireira
chegando às cinco. Me avise se você quiser que ela lhe dê uma arrumada.
Então ela se levantou e deslizou para seu quarto como uma espécie de
princesa perturbada. Aerin olhou para ela, esperando que sua mãe voltasse
e dissesse que era uma piada. O chuveiro ligou. Food Network, que sua
mãe sempre colocava quando estava se preparando para algo, tocava.
Aerin levantou-se e caminhou até seu próprio quarto, abriu o guarda-
roupa e olhou para seus sapatos. Todos eram horríveis. Como diabos ela
iria entrar no modo festa?
Ela sentia-se tão dispersa e tensa, e com muito, muito medo. Ela não
deveria se sentir melhor, agora que o assassino de sua irmã foi pego? E, no
entanto, todos os movimentos que ela ouvia, ela se encolhia. Toda vez que
seu telefone tocava, ela endurecia, antecipando algo horrível. Enquanto
isso, todos aqueles toques eram apenas pessoas curiosas que queriam saber
o que ela pensava sobre o Sr. Ingram.
Deus, ela desejava ter alguém com quem conversar. Ela pegou o
telefone e percorreu suas mensagens, eventualmente clicando no nome de
Thomas. Fiz um queijo quente para o almoço e estou pensando em você, dizia
outra mensagem que ele enviou ontem à tarde. E então, algumas horas
depois: Estou em um supermercado e vi alguns borscht, ele escreveu ontem.
Parecem deliciosos, se você quiser fazer um piquenique. Ela sorriu, pensando nos
pacotes de salgadinhos que ele tinha jogado na mesa de café para ela.
Ela pegou o telefone e discou um número. — Polícia de Dexby —
respondeu Thomas no segundo toque, sua voz grave, familiar e de partir o
coração. Aerin fez uma pausa na linha por um momento, respirando
ritmicamente. — Alô? — disse Thomas na outra extremidade. — Alô?
Aerin desligou e pegou o casaco. Ela não podia falar com ele pelo
telefone. Isso era algo que ela precisava fazer pessoalmente.
Não havia quase nenhum carro de polícia na delegacia, e metade das
luzes estavam desligadas. Aerin achou que a maioria dos policiais estavam
em casa, comendo um presunto de Páscoa. Ou espera. Talvez muitos deles
estivessem em um escritório da cidade de Nova York, falando sobre sua
irmã... ou então procurando na propriedade dos Ingram. Era estranho
pensar que toda a maldita cidade estava mais uma vez zumbindo sobre
Helena.
O relógio de Aerin dizia que eram 6 da tarde. A festa do Coelhinho
da Páscoa começava em uma hora. Seu vestido pendia em um gancho no
banco de trás e seu sapato alto estava no porta-malas. A cabeleireira de sua
mãe tinha fixado seus cabelos em um estranho estilo boneca Barbie antes
de deixá-la sair da casa, e parecia particularmente não combinar com seus
jeans rasgados e sua camisa branca.
Começou a chover, e ela cobriu a cabeça e correu de seu carro para o
toldo que cobria a entrada da delegacia. Ela sabia pelas muitas vezes que
ela teve que vir aqui para os interrogatórios sobre Helena que as portas da
delegacia estavam trancadas depois das sete; então você precisava usar um
cartão-chave. Ela se perguntou onde era o escritório de Thomas no prédio.
Ela deveria ligar para ele?
— Aerin?
Thomas estava atrás dela, no meio da chuva, segurando um copo da
Starbucks, presumivelmente da loja mais abaixo na rua. Era como se apenas
pensar sobre ele o tivesse evocado.
— O... oi — Aerin gaguejou, sentindo-se instável.
Thomas entrou no toldo. — Essa coisa de Helena... você está bem?
Ela encolheu os ombros. — Eu não sei. Talvez. Ou talvez não.
— Foi você que avisou a polícia? Como você sabia?
Ela se movia de um lado para o outro. O grupo a aconselhou a nunca,
nunca contar a ninguém que eles tinham invadido o apartamento em
Dakota. — Lembrei-me de algo que conectava ela ao Sr. Ingram. E eu
sabia que ele tinha uma casa na cidade de Nova York. Foi um palpite de
sorte.
Ele passou a mão pelos cabelos molhados. — Tenho tentado entrar
em contato com você. Eu também descobri que era Skip Ingram.
— Você descobriu?
— Eu realmente vasculhei os arquivos sobre sua irmã. Há imagens de
câmera de segurança de Helena dos dias e semanas antes de ela ter
desaparecido — de supermercados, caixas eletrônicos, na escola. Os
policiais tentaram todo tipo de coisas para conseguir pistas sobre sua vida.
Um vídeo era de Coldwaters Spa, em meados de novembro. Você conhece
esse lugar?
— Claro. — Coldwaters Spa era onde as garotas do ano de Aerin
preparavam seus Aniversários de dezesseis anos. Sua mãe ia lá
semanalmente, mas Aerin achava as peças de chá prateadas e a decoração
muito femininas demais. — Helena estava lá?
— A câmera de vigilância a pegou entrando em um carro que não era
dela. Alguém a estava pegando, mas não eram seus pais. O detetive no
momento não seguiu para saber de quem era o carro, não sei por quê. Eu
fiz algumas investigações sobre marca e o modelo, é um BMW comum,
mas tem uns aros personalizados e pneus grandes. Acho que meu
conhecimento extensivo sobre carros valeu a pena. — Ele encolheu os
ombros. — De qualquer forma, pertencia a Ingram. Eu ia te contar... mas
parece que você estava um passo à frente de mim.
Aerin olhou para ele. — Você ia me contar sobre os seus negócios
particulares da polícia?
Um trovão soou. Thomas olhou para o céu e depois para ela. — Eu
achei que seria necessário. Eu sabia que você estava investigando, fazendo
perguntas. Eu queria ter certeza de que você estava segura.
Aerin sentiu um arrepio, e não era do frio úmido. — Bem, obrigada.
— De nada, mas não é como se você realmente precisasse da minha
ajuda, então...
Do outro lado da rua, Aerin viu um único narciso amarelo brilhante
brotando do canteiro de flores. Isso lhe deu um ímpeto de otimismo.
Talvez isso fosse bom.
Ela sorriu maliciosamente, inclinando os quadris. — Minha mãe está
me forçando a ir para a festa do Coelhinho da Páscoa.
— Sério? — Thomas pareceu surpreso. — Isso parece... estranho.
— Não é? — Aerin sentiu um ímpeto de confiança. Ela sabia que ele
simpatizaria. — Quer ser meu acompanhante?
Thomas sorriu com pesar. — Eu tenho que ficar na delegacia. Acabei
de sair para um café.
— Você não pode trocar com alguém? — Ela bateu os cílios. —
Podemos ver se eles ainda têm creme de trigo. E talvez pudéssemos andar
no carro do polícia. Eu nunca estive em um.
Thomas caminhou até ela. Aerin olhou seu uniforme bem ajustado e
seu rosto esculpido. Havia uma mancha no seu pescoço que parecia que ele
se esqueceu de barbear. Ela queria tocá-la.
Ela inclinou a cabeça para cima e fechou os olhos quando ele colocou
a mão suavemente em seu ombro, aproximando-a. As gotas de chuva no
toldo soavam musicais. Era como se todo o mundo estivesse segurando a
respiração.
Então ela sentiu os músculos de Thomas endurecerem. — Desculpe,
mas estou com problemas, sem troca de turno para mim. O chefe acha que
entreguei minha senha para alguém invadir o servidor.
Os olhos de Aerin se alargaram. O sorriso de Thomas havia
desaparecido. — O... oh — ela balbuciou.
Ele encontrou seu olhar fixo, com os olhos frios. — Eu sei que foi
você, Aerin.
Aerin recuou. — Não tenho ideia do que você está falando...
— O sistema rastreia quando entramos e olhamos — interrompeu
Thomas rapidamente. — O primeiro login foi logo depois que você saiu
da minha casa na outra noite, e os únicos arquivos abertos foram sobre
Helena. A segunda vez foi quando eu estava em uma reunião do
departamento, e por isso Kinkaid sabia que outra pessoa tinha minha senha.
Ele pensa que eu compartilhei com alguém de bom grado. — Ele tirou um
cartão-chave do bolso, o virou e o colocou contra o teclado. O teclado fez
um barulho e a porta foi destrancada. — Eu também notei que meu
aplicativo de bloco de notas estava aberto no meu iPad depois que você
saiu. A página com todas as minhas senhas.
Aerin estremeceu. — Thomas, eu sinto muito.
Ele olhou para ela por um momento, seu rosto cheio de anseio... e
depois desapontamento. — Sim, eu também — ele disse com tristeza. Ele
abriu a porta e entrou.
E depois a fechou na cara dela.
Capítulo 32
Traduzido por Napoleana

O coração de Seneca estava martelando. Ela continuou olhando


para o marshmallow Peep em sua mão e esmagando sua pequena
cabeça flexível. Ela não se moveu do sofá de Maddox, principalmente
porque estava tentando processar o que acabara de acontecer.
Ela estava louca porque, por um momento, pensou em beijar Maddox
novamente? Ele falou sério sobre todas aquelas coisas sobre gostar dela?
Nenhum cara disse coisas tão legais para ela antes. O que ela faria quando
ele voltasse?
Ela sentiu um sorriso pateta se espalhar por seu rosto. Ok, então ela
gostava dele. Gostava muito dele, apesar de tudo. Seus sentimentos a
surpreenderam, e a coisa toda parecia terrível — era difícil para ela se
apegar a qualquer um, ela reconhecia isso. Mas talvez gostar dele — e
talvez aceitar isso — significava que ela estava crescendo como pessoa. Até
mesmo curando-se. Talvez ela devesse dar uma chance.
Ela assistiu ainda mais cobertura da prisão do Sr. Ingram na TV. A
mídia estava focada na história de Skip de que ele e Helena supostamente
planejavam retornar a Dexby no inverno. Provavelmente era uma grande
mentira, certo? Porque se Skip tivesse grandes e felizes planos com Helena,
então por que ela acabou morta no seu chão? Isso não batia.
Seneca ouviu o som de um motor lá fora e se levantou, certa de que
era Maddox. Quando ela olhou pela janela, um sedan preto passou, não
parou. Ela franziu a testa e caiu no sofá novamente. Quem de fato tinha
treino no dia de Páscoa, de qualquer maneira? Essa treinadora era uma
megera.
Entediada e ansiosa, Seneca entrou no Google do seu telefone e depois
digitou Catherine + treinadora de corrida + Dexby, Centro de Treinamento na
janela de pesquisa. Fotos de alguém chamada Catherine Markham
apareceram. Seneca clicou na primeira, um perfil do Centro de
Treinamento de Dexby. Tinha que ser ela. No topo, estava uma foto de
uma morena musculosa e suada, saindo na frente na corrida 10k de Nova
York, e depois outra da mesma garota em um pódio, seus braços em um
poderoso V. Seneca rolou para baixo e notou um close da mulher, desta
vez vestida com uma camisa de Oxford com o cabelo sobre os ombros. Ela
parecia muito mais bonita sem seu equipamento de corrida. E bastante...
familiar.
Ela lembrou quase que instantaneamente. Essa não era Katie? A garota
que queria desesperadamente estar nas câmeras durante todas as
reportagens sobre Helena?
Sua cabeça começou a girar. Ela lembrou-se da mensagem que ela
tinha visto de Katie no telefone de Helena: Obrigada por nada. Como Aerin
havia dito que Helena havia dito a sua mãe, absolutamente não, quando ela
perguntou se Helena queria Katie no jantar do seu aniversário. O que
aconteceu entre elas?
Com a garganta seca, ela procurou o número de Becky Reed, a velha
melhor amiga de Helena, do grupo com quem ela já falou várias vezes, e
discou. Milagrosamente, Becky atendeu.
— Havia uma garota na turma de Helena chamada Katie Markham?
— Seneca deixou escapar depois que ela se desculpou com Becky por ligar
na Páscoa.
Houve uma longa pausa. — Uh... sim — disse Becky.
— E ela e Helena romperam a amizade?
— Tipo isso — Becky respondeu. — Ela se afastou de nós. Parecia
nos odiar. Eu sempre pensei que eram apenas amigas que se separaram,
embora depois disso, ela ficou meio assustadora.
O estômago de Seneca apertou. — Assustadora como?
— Ela apareceria em lugares em que não era convidada, enviava
mensagens desagradáveis, nos queimava no Facebook, esse tipo de coisa.
— Becky fez um barulho na parte de trás da sua garganta. — Você não
acha que...? — Ela parou. — Ela foi limpa há anos. Além disso, você não
ouviu falar sobre aquele cara, Ingram? Foi ele quem fez isso, está em todos
os noticiários.
— Tenho certeza de que você está certa — Seneca disse rapidamente,
desligando. O mundo pareceu tremer. Ela ficou meio assustadora, ela ouviu
Becky dizer. Ela apareceria em lugares onde ela não era convidada.
E agora Maddox estava treinando com Katie. Ele sabia disso? Ele não
podia saber — ele certamente teria dito alguma coisa. Por que ela queria
que Maddox treinasse hoje? O que ela sabia sobre Maddox e o que ele fazia
quando ele não estava correndo?
Ela tem um álibi, disse Seneca a si mesma, mas não era reconfortante.
Os álibis não eram prova de inocência, afinal.
Com os dedos tremendo, Seneca discou o número de Maddox, mas
ele não atendeu. Seu estômago começou a doer. Ela ouviu a voz outra vez
da porta da pousada. Aquela voz estridente, irritada e feminina: Vá para
casa. Maddox havia dito que seu atacante também parecia ser uma mulher.
E se eles estivessem errados sobre Skip? E se fosse outra pessoa que
eles precisavam ter medo?
Seneca correu para a entrada, a chuva borrando sua visão. Estava
vazia; até o carro de Madison já havia desaparecido. Girando, ela entrou na
garagem e se dirigiu para uma bicicleta vermelha. Os pneus estavam secos
e a sela estava baixa demais, mas teria que servir.

***
Treze minutos depois, agora completamente molhada, Seneca passou
pelo centro de treinamento. Ela colocou a bicicleta no bicicletário e olhou
ao redor. Havia uma pista de corrida na parte de trás. Ela correu para ela
e examinou os carros no estacionamento. Ninguém estava correndo nos
anéis externos da pista na chuva. Respirando pesadamente, ela ligou
novamente para Maddox. Correio de voz. Ela também tentou Brett,
Madison e Aerin novamente — o mesmo.
Ela andou ao redor, examinando as quadras de tênis, um campo de
esportes vazio e um enorme prédio marcado como Ginásio e Piscina. Ela
correu para ele e empurrou um conjunto de pesadas portas duplas. Elas
abriram, revelando uma pista interna e um monte de arcos de basquete.
Um homem em um turbante disparava bolas nos aros na parte de trás. Uma
senhora mais velha caminhava na pista, falando em seu celular.
Uma placa chamou a atenção de Seneca.
Diretório, ela leu e, em seguida, listou os nomes das pessoas que
trabalhavam na equipe no centro de treinamento. A meio caminho estava
Catherine Markham; seu escritório era a sala 107. Uma placa do outro lado
do ginásio anunciava que os escritórios 105 a 108 eram em um corredor ao
lado do vestiário feminino. Seneca correu, seus sapatos deixando marcas
molhadas no chão da academia. Ela sabia que ela estava sendo absurda, mas
ela não conseguiu parar de imaginar Catherine amarrando Maddox em seu
escritório, tampando sua boca, dizendo que ele havia levado a investigação
longe demais...
O corredor de escritórios estava iluminado por painéis fluorescentes
e cheirava a meias. O chão e as paredes de cimento intensificavam todos os
sons; Seneca podia ouvir cada respiração rouca que ela dava. Finalmente,
no final do corredor, ela notou uma luz debaixo de uma porta. Catherine
Markham, dizia em uma placa de identificação ao lado da maçaneta.
Quando Seneca olhou através do vidro manchado, ela avistou duas formas
difusas lá dentro. Seu estômago ficou nauseado. Tinha que ser Catherine
— Katie — e Maddox.
Ela tentou a maçaneta. Ela virou. Ela abriu a porta e olhou para um
escritório cheio de troféus. As costas de Maddox estavam para ela. Ele
estava parado, não preso e amordaçado, como ela imaginava. Catherine,
que encarava a porta, estava na frente dele. Então Seneca olhou de novo.
Na verdade, ela não estava apenas na frente dele; ela estava beijando-o.
E Maddox a beijava de volta.
Seneca deve ter soltado um pequeno som, porque Catherine ergueu
o olhar e se afastou. — Hum, posso ajudá-la? — ela disse docemente.
Maddox se virou. — Meu Deus. Seneca.
Seneca tentou falar, mas nenhum som saiu. Ela se sentiu grande e
intrusiva na entrada. Ela olhou de novo para as pernas delgadas de
Catherine, seus amplos seios, seu rosto bonito. De repente, fez todo o
sentido. Tara da corrida não era a única menina bonita nesta cidade.
Ela girou e saiu.
— Seneca! — Maddox gritou atrás dela.
— Não se atreva a ir embora, Maddy! — Catherine gritou para ele.
Mas Maddox deve ter ignorado ela, porque Seneca ouviu seus passos atrás
dela.
— Seneca, espere! — ele gritou.
Seneca passou por um carrinho de basquete, pensando em subir nele.
Sua mente girava enquanto ela pisava em um grande selo do estado de
Connecticut no chão do ginásio. Ela ouviu passos, e Maddox pegou seu
braço. Claro, ela não podia superar a estrela das corridas, ela pensou
amargamente. Ela se virou, soltando fumaça. — Não é o que parece —
ele ofegou.
Seneca apenas olhou para ele e puxou seu braço dele. Atrás de
Maddox, Catherine também emergiu do corredor. Suas mãos estavam em
seus quadris e seu rosto estava vermelho.
Maddox olhou nervosamente para Catherine, mas continuou. — Nós
tínhamos... uma coisa, eu acho — ele disse. — Mas eu estava tentando
dizer a ela que não estou interessado. Eu gosto de você. Mas então ela iria
revogar minha bolsa de estudos da faculdade se eu terminasse com ela.
Seneca olhou para ele. — Você está tentando me fazer sentir pena de
você?
— Não! — gritou Maddox. — Absolutamente não! Eu disse a ela que
não me importava, que Oregon não valia a pena. — Ele olhou para
Catherine. — Eu também disse que eu poderia denunciar seu
comportamento inadequado para o chefe dela do centro de treinamento.
Eu tenho muitas mensagens dela que são bastante longe do profissional.
Catherine resmungou. — Como se eu tivesse medo de você.
— Eu simplesmente vou embora — disse Seneca através dos dentes.
A última coisa que ela queria testemunhar era a briga dos amantes.
— Não! — Maddox virou de volta para Seneca. — Eu disse a ela tudo
isso e eu estava pronto para ir embora, mas então ela simplesmente... me
beijou de novo. Foi o que você viu.
Seneca sentiu uma sensação e baixou o olhar. De alguma forma,
durante a última parte, ele agarrou suas mãos. Uma hora atrás, a visão de
seus dedos entrelaçados a encantaria, mas agora a enchiam de desgosto.
Ela se afastou. Ela sentia-se sufocada nesse ginásio, ecoando no seu
próprio corpo. — Na verdade, eu só vim porque estava preocupada com
o fato de ela te machucar, Maddox — ela disse suavemente e alto, sem se
importar que Catherine ouvisse. — Você sabia que ela era a rival de Helena
no colégio? Catherine a odiava.
Maddox piscou. Ele se virou e olhou para Catherine, que franziu a
testa e deu um passo para trás.
— O que você estava fazendo, me espionando? — Catherine falou.
Seneca a ignorou, concentrando-se em Maddox. — Mas não acho que
ela está nos machucando, não é? Você parece bem. Melhor do que bem. —
E então, com um sorriso rígido, ela se virou e caminhou calmamente em
direção à saída. — Até mais.
Maddox correu para ela. — Espere! Você está brava comigo?
O primeiro instinto de Seneca foi gritar, mas ela usou todos os seus
melhores truques e conseguiu se recompor. — Não — ela disse, falhando.
— É a sua vida, Maddox. Eu sou apenas sua amiga online. Você não precisa
se explicar para mim.
Maddox ficou de boca aberta. Tanto faz, pensou Seneca. Enquanto ele
acreditasse na sua mentira, ela não se importava.
Lá fora, o crepúsculo havia caído e a chuva parou. Os únicos sons eram
os passos de Seneca no pavimento molhado. Quando alguém agarrou seu
braço, ela atacou, assumindo que era Maddox novamente.
— Uou! — Brett se materializou na frente dela. — Devagar!
— O que você está fazendo aqui? — Seneca gritou, seu coração na
garganta.
— Você me ligou. Disse que você estava indo para a pista de corrida,
Maddox está com problemas? — Ele olhou para a porta, então para a
expressão que Seneca imaginou que estava no seu rosto. — Ele está bem?
— Ele está bem — disse Seneca com frieza. — Muito bem.
Ela caminhou até as quadras de tênis, iluminada por grandes
holofotes, depois se jogou no chão, olhando fixamente para as redes. A
porta do centro de treinamento abriu e Maddox saiu e olhou em volta.
Seneca encolheu os ombros e escondeu o rosto, rezando para que ele não
a visse. Depois de um momento, Maddox se foi.
Brett deslizou ao lado de Seneca, seu olhar na forma de Maddox
correndo. — Que idiota.
Seneca apertou os dentes. — Não vale a pena discutir.
Brett bateu nos seus joelhos. — Ok — ele disse gentilmente. —
Entendi.
Sua súbita pena era demais para suportar, e Seneca sentiu uma onda
de tristeza e desespero. — Não importa, de qualquer maneira — ela disse
bruscamente. — Eu vou para casa esta noite. Eu estava planejando ir
embora em um trem em poucas horas. — Não era verdade: ela na verdade
estava escrevendo uma mensagem para seu pai para conseguir um ou dois
dias mais. Ela estava feliz por não ter enviado.
— Bem, não deixe Maddox nublar o que descobrimos — disse Brett.
— Nós pegamos um assassino, lembra? Isso é muito grande. Aposto que
mudamos a vida de Aerin. — Então um olhar pensativo passou por seu
rosto. — E se pudéssemos ajudá-la com sua mãe, hein?
Seneca sentiu uma exasperação. Ele realmente ia trazer sua mãe à tona
agora? Mas, no entanto, talvez fosse melhor do que falar sobre Maddox. E,
de certa forma, Brett também estava certo.
— Realmente sinto muito novamente sobre ter emboscado você com
tudo isso no café — prosseguiu Brett. — Eu só queria me conectar com
alguém que passou pelo mesmo, sabe? Mas foi egoísta. Se você quisesse
falar sobre isso, você teria falado sobre isso. Eu entendo isso agora.
Sobre a luz, os machucados de Brett em sua mandíbula pareciam ainda
pior, roxos e inchados. Seneca empurrou um dedo em uma das ligações da
corrente na cerca. Ela nunca perguntou a Brett como ele conseguiu superar
a morte de sua avó. Sua indiferença parecia insensível — talvez ela fosse a
egoísta.
— Você pensa muito na sua avó? — ela perguntou.
Brett puxou o capuz para baixo. — Bastante. E você? Na sua mãe?
— Bem, sim. Claro.
— Você sabe o que eu adoraria? — Brett olhou para as silhuetas das
árvores. — Mais um dia com ela. Apenas um dia normal, nada especial.
Teríamos café da manhã, eu iria com ela para sua poderosa caminhada, e
sairíamos para ver os cavalos. Nós leríamos o jornal, eu a observaria
tricotar, qualquer coisa.
Seneca riu levemente. — Sua elegante avó tricotava?
— Eu apenas quis dizer isso como um exemplo genérico — disse
Brett rapidamente. — Mas você me entendeu. Apenas mais um dia para
abraçá-la, dizer que eu a amo, toda essa merda. Eu trocaria isso por
qualquer coisa.
Seneca sentiu lágrimas nos olhos dela. Ela fantasiou sobre o dia que
ela teria com a mãe também. Comum seria bom. Elas poderiam falar sobre
nada. Assistir a um show de prêmios. Dobrar a roupa. Ela faria para sua
mãe seu jantar favorito — linguine com molho de molusco.
Brett se encostou na rede com um barulho. — Eles alguma vez
descobriram alguma coisa sobre o assassino de sua mãe? Eu não acompanhei
seu caso.
Seneca balançou a cabeça. — Nada. Nada estranho estava
acontecendo na minha casa, até mesmo meu pai confirmou isso. Minha
mãe não estava recebendo telefonemas estranhos, e não havia indícios de
que alguém a seguisse. Ela nem sequer estava agindo de forma diferente,
como se ela tivesse com medo de alguém. Foi só... sem sentido. — Ela
expirou. — Sem significado.
Brett apontou para o colar com o P. — Mas pelo menos você
conseguiu isso de volta para lembrar dela, certo?
Os dedos de Seneca se fecharam ao redor do colar. — Isso é o que eu
digo a mim mesma.
Lentamente, tentativamente, ela deixou as memórias de sua mãe
inundar sua mente, particularmente aquela última lembrança dela no
necrotério. Ela estava com um lençol da cintura para baixo, mas Seneca
ainda podia dizer que partes de sua mãe não estavam ali embaixo, não
mantidas como um esqueleto normal. Alguns meses atrás, quando ela
entrou pela primeira vez nos Casos Arquivados, ela finalmente leu o
relatório forense da sua mãe. A coisa era tão chocante, que ela nunca
conseguiu retornar ao arquivo de sua mãe. Entre outras coisas, o relatório
dizia que alguns dos ossos mais baixos de sua mãe haviam sido bastante
quebrados — estilhaçados, o médico legista havia escrito. Presumivelmente
de um ato de violência.
Ela soltou um gemido na parte de trás da garganta, a dor era demais.
— Tudo bem — disse Brett suavemente, puxando-a para um abraço. —
Tudo vai ficar bem.
O abraço era reconfortante, mas Seneca ainda sentia uma saudade
vazia e insatisfeita. Havia uma omissão em seu cérebro, algo que não estava
certo, mas provavelmente era a confusão de tudo o que aconteceu hoje, o
impulso e a atração de muitas emoções. Também era frustrante perceber
que, por mais que ela gostasse de Brett, ela desejava que o abraço fosse de
outra pessoa. Ela olhou para o caminho que Maddox havia tomado para
casa. Pare de desejar que ele estivesse aqui, ela pensou com raiva.
Ela tinha que superar ele.
Capítulo 33
Traduzido por Napoleana

E nquanto a chuva caía, Aerin estava sentada na parte de trás da


limusine a caminho da festa do Coelhinho da Páscoa. O vestido que
ela escolheu meses antes, um Narciso Rodriguez preto, tinha uma gola
frente única que circundava sua garganta como um laço e um corpete que
se contraía como uma camisa de força. Sua mãe estava sentada perto de
uma janela, perfeita e polida em um vestido branco, mas Aerin podia ver
as veias desenhadas em seu pescoço, a carranca de preocupação em torno
de sua boca e o tremor em sua mão quando ela levantava a taça de
champanhe aos seus lábios. Seu pai estava sentado perto da outra janela,
vestido perfeitamente com um terno preto, com as mãos cruzadas no colo.
Então, eles eram uma pequena família feliz novamente... exceto que não
realmente. Seus pais não haviam dito uma palavra um ao outro durante
todo o caminho. Até mesmo o motorista estava lançando a eles um olhar
estranho, provavelmente se perguntando por que eles estavam agindo
como se estivessem indo para um funeral em vez da maior festa do ano.
Eles pararam no Morgenthau Estate, uma mansão palaciana em uma
ampla faixa de gramado verde brilhante. Os holofotes giravam sobre o
carro da frente. Havia até um tapete vermelho cobrindo a calçada da frente
patrocinado pela revista Dexby Living com o nome oficial da festa, o Leilão
de Caridade e Gala da Páscoa de Morgenthau Estate, escrito através do
fundo verde. Os convidados emergiram das limusines esperando e carros
esportivos e todos se posicionaram no tapete para os fotógrafos como se
eles fossem realmente importantes. Aerin odiava todos eles.
Do outro lado do gramado, algumas meninas com orelhas de coelho
e vestidos provocativos estavam correndo embriagadas em direção à casa
de hóspedes na chuva. Colin Woodworth e Reed Cristensen, dois sêniores
de Windemere, estavam amontoados sob um guarda-chuva com garrafas
de cerveja na mão. E lá estava Dax Shelby, que, segundo o rumor,
conseguiu êxtase do laboratório de controle de qualidade da indústria
farmacêutica que seu pai era CEO — Dax sempre organizava uma caça aos
ovos, escondendo ovos de plástico cheio de pílulas ao redor do terreno.
No ano passado, ele se aproximou de Aerin, agitando um ovo
tentadoramente, e disse: — Quer encontrar meus ovos? — Graças a Deus
Aerin tinha arrastado Thomas para a despensa. Todos os outros neste
círculo eram perdedores.
Thomas. Ela sentiu uma dor e depois a empurrou para longe.
O motorista abriu a porta para a família de Aerin. Minnie
Morgenthau, que tinha um rosto longo e rechonchudo e lábios falsos,
estava parada com um guarda-chuva. — Elizabeth. Derek. — Minnie
pegou as mãos dos pais de Aerin nas dela. — Meu Deus, vocês não
precisavam vir, considerando tudo o que vocês enfrentaram hoje.
Foi o que eu disse a eles, Aerin quase disse em voz alta.
A mãe de Aerin deu beijos no ar em Minnie. — Não perderíamos
isso.
Então Tori e Amanda correram para o carro, puxaram Aerin e a
abraçaram com força. Ambas as meninas cheiravam vagamente a bebida e
Aerin percebeu que Tori estava usando o anel de diamante de quatro
quilates que costumava ser de sua mãe até que ela trocou por algo maior.
— Oh, Aerin, você é tão corajosa — murmurou Amanda. — Nós te
amamos muito.
Aerin se afastou desesperadamente do aperto de suas amigas. Então,
ela era uma espécie de heroína agora? Não era como se elas soubessem que
ela havia resolvido o assassinato de Helena. Elas estavam apenas curtindo o
drama épico.
— Eu não quero lidar com isso agora — gritou Aerin, agarrando as
mãos de suas amigas e pisoteando em direção à casa, sem se importar que
seu vestido estivesse ficando ensopado. Ela baixou a cabeça quando
atravessou a porta da frente aberta, mas as pessoas ainda estavam olhando.
Fodam-se todos vocês, ela pensou raivosa, tecendo em torno de mais algumas
garotas com orelhas de coelho.
Amanda entregou-lhe uma cerveja de uma caixa de isopor cheia de
gelo na cozinha. Aerin virou-se para agradecer a ela, mas quando ela
encontrou o olhar de Amanda, ela parecia um pouco assustada. Aerin
virou-se e abaixou a cerveja rapidamente, quase sem provar.
Então ela ouviu os sussurros nos cantos.
— Ouvi dizer que ele confessou ter um caso com Helena — disse uma voz.
— Eu também — disse outra. — É tão indecente, você não acha? Mas ele
está dizendo que ele não a matou. Eu acredito nele.
— Você é uma idiota, Frances. Claro que ele a matou. Ele provavelmente ficou
entediado com ela e só queria se livrar dela.
— De jeito nenhum. Ele joga golfe com meu pai o tempo todo. Ele é muito
legal.
Aerin deve ter estado com um olhar furioso em seu rosto, porque
Tori levantou-se e apertou os punhos. — Vou matar essas vadias — ela
rosnou, começando a ir para próxima sala.
— Tori, não — disse Aerin fracamente, seguindo-a.
Elas atravessaram o arco e emboscaram Brooklyn Landers e Frances
Hamilton, duas estudantes do segundo ano que Aerin nem conhecia,
sentadas em um longo sofá e com gin tônica na mão. Tori caminhou
diretamente para elas. — Vocês querem dizer isso novamente na cara dela?
As meninas ficaram pálidas quando viram Aerin. Frances agarrou a
mão de Brooklyn e as duas entraram no banheiro e fecharam a porta atrás
delas. Tori olhou para ela. — Quer que eu coloque uma vassoura na porta
para elas ficarem presas lá?
— Está tudo bem — disse Aerin, sentindo como se tivesse tomado
seis cervejas em vez de apenas uma. Jogando sua lata vazia no lixo, ela fez
um gesto para Amanda e Tori de que precisava de um segundo sozinha e
vagou para a varanda coberta. Ela caiu em uma cadeira Adirondack e olhou
fixamente para o bosque.
Se ela fosse realmente sincera consigo mesma, ela entendia Frances.
Por que o Sr. Ingram mataria Helena? Talvez Helena tenha lhe dado um
ultimato? Também surgiu que o Sr. Ingram às vezes fumava maconha —
talvez ele e Helena fumassem juntos. Talvez eles tivessem chegado a usar
coisas mais fortes, também, Loren pode ter entregado comprimidos, algo
que os deixasse loucos.
Seus pensamentos voltaram para o comentário que Helena havia feito
sobre coisas ficarem em segredo entre ela e Aerin. Aquele aplicativo
pareceu ser uma boa dica — tudo indicava isso. Talvez Helena tenha
baixado em algum outro lugar e não no seu celular? Se isso fosse verdade,
Helena estava tentando dizer a Aerin que ela também deveria fazer o
download? Se Helena tivesse baixado para ela no último dia. Ela estava
usando o celular de Aerin, afinal, verificando o tempo, vendo se ia nevar
mais.
Uma luz acendeu em seu cérebro. Espera. E se Helena tivesse
baixado?
Ela deve ter engasgado, porque Chase Grier, um jogador de futebol
sarcástico que estava pegando cubos de gelo de um grande balde perto,
virou-se e lançou a ela um olhar estranho. — Você está bem?
A mente de Aerin estava trovejando, mas ela conseguiu acenar com a
cabeça. — Estou bem.
Chase não se moveu. De repente, ela sentiu-se muito visível. Ela
caminhou para o lado da casa, seus sapatos afundando na grama úmida.
Uma vez sozinha, ela pegou o celular da bolsa e clicou no App Store. Então
ela ouviu um barulho na escuridão. Ela ergueu a cabeça, sua visão borrada.
Uma sombra se escondia a alguns metros de distância, iluminada por um
holofote.
— Ei! — ela gritou quando a figura começou a se aproximar.
— Aerin, sou eu! — gritou uma voz. — O que você está fazendo
aqui? Fazendo xixi?
A figura saiu da luz. Era Madison, resplandecente em um vestido rosa,
seu longo cabelo preto seco e reto. Aerin esqueceu completamente que
Madison viria. E então ela percebeu — Madison era exatamente a garota
que ela precisava.
Ela a puxou para perto, seu coração batendo rápido. — Eu tenho algo
para te mostrar — ela disse com entusiasmo. — Uma coisa que você
definitivamente precisa ver.

***
Madison era ainda mais paranóica do que Aerin, então ela agarrou a
mão de Aerin e a levou através de uma trilha na floresta atrás da
propriedade dos Morgenthau. A chuva finalmente estava parando, mas as
árvores e as plantas estavam cobertas de orvalho e cheiravam a mofo. Aerin
podia sentir a parte de baixo de seu vestido ficar encharcada de lama, mas
ela realmente não se importava.
Ela contou a Madison o que ela descobriu. — Eu pensei sobre o
aplicativo Under Wraps. Helena não baixou no celular dela, ela baixou no
meu.
Madison moveu seu peso. — Por que ela faria isso?
— Porque a polícia não procuraria no meu celular por pistas sobre
ela. Ela poderia se comunicar com o Sr. Ingram e ninguém saberia. Helena
sempre estava perdendo seu celular, ou fingindo perder, de qualquer
maneira. Ela sempre estava pegando emprestado o meu para fazer
pequenas coisas, como verificar o tempo ou enviar uma mensagem. Agora
que penso nisso, acontecia diariamente. Mas ela não estava apenas
observando o clima, ela estava no Under Wraps, conversando com o Sr.
Ingram.
— Ok — Madison falou. — Mas por que você nunca notou o
aplicativo?
— Porque provavelmente estava escondido em uma pasta, como
Maddox disse. Mas agora, eu fui à App Store e tentei baixá-lo. A Apple me
disse que já estava na minha nuvem, o que significa que alguém já comprou
para mim, em um celular antigo. Eu definitivamente nunca comprei. Deve
ter sido Helena. — Ela tocou na tela para ligar novamente. — Estou
baixando ele no celular agora. Eu preciso que você me mostre como usá-
lo, no entanto.
— Claro — disse Madison, parecendo impressionada.
Poucos segundos depois, o ícone do Under Wraps, um U e W
misturados, apareceu na tela. Com os dedos trêmulos, Aerin clicou nele.
Bem-vinda Novamente, SamuraiGirl0930. Esse deve ter sido o nome de
usuário de Helena.
Uma solicitação de senha apareceu. Os dedos de Aerin pairaram sobre
o teclado. — Skip? — ela disse em voz alta, digitando. Errado, apareceu
em letras vermelhas no aplicativo. Ela tentou Scoops, a banda que Helena
gostava, e até Kevin. E então, com seu estômago revirando, ela digitou
HelenaIngram. Bem-vinda, disse uma mensagem.
— Conseguimos — ela sussurrou.
Uma música alegre tocou, então uma tela de navegação apareceu.
Uma barra no lado direito mostrava ícones para Mensagens Recebidas,
Mensagens Enviadas, Escrever Nova e Diga ao Mundo. Madison clicou em
Mensagens enviadas. — Vamos ver o que ela estava falando.
Um monte de arquivos carregou. As postagens lembravam Aerin do
Instagram: primeiro uma imagem, depois uma legenda. Madison
percorreu a mensagem mais antiga no final da lista e abriu. Uma selfie de
Helena sentada em sua cama apareceu — a decoração do quarto
exatamente como estava agora. Aerin estendeu a mão para tocar a imagem
na tela. Helena parecia tão viva.
Não posso acreditar que estou realmente pensando em fazer isso, dizia a
legenda. Nada mais. Madison tocou um botão que dizia Mais informações.
Os dados surgiram na tela. — Apenas uma conta recebeu esta mensagem
— explicou Madison. — HAR1972.
— Você acha que é Ingram? — Aerin sussurrou.
— Quem mais poderia ser?
Havia um nó na garganta de Aerin enquanto ela rolava através de mais
mensagens de Helena. Na próxima, Helena tirou uma foto de si mesma no
espelho do banheiro. Ela estava usando um top e um short de ginástica que
mostrava suas longas pernas. Tudo o que penso é em você, dizia a legenda —
novamente, apenas para essa conta. As outras descreviam como ela sonhava
com ele à noite, como ela estava animada que eles estavam juntos, ou como
tudo em que ela pensava era no último encontro deles.
— Estas são do verão e do outono — informou Madison, verificando
os horários. Então ela clicou em uma mensagem no meio da lista. Era outra
selfie de Helena mais uma vez sentada em sua cama, vestindo um suéter
roxo familiar, um sobretudo branco e aquele famoso fedora marrom. Ela
tinha um olhar determinado em seus olhos. Estou pronta, a legenda dizia.
— Este é o dia em que ela desapareceu — murmurou Madison.
Mas não era a última mensagem que Helena enviou. A seguir, havia
uma imagem de uma rosa vermelha com as palavras Com saudades de você. A
data era de uma semana depois. Então veio uma foto de um gatinho
batendo em um relógio acompanhado de Contando os minutos até você voltar.
18 de dezembro. Aerin suspirou. Então, Seneca tinha razão. Helena ainda
estava viva depois daquele dia fatídico em dezembro.
Doces em bastões nas cores vermelha e branca serviam de fundo para
Feliz natal para nós; a data em que a mensagem foi enviada foi 26 de
dezembro. Aerin mordiscou os lábios. Natal. Havia algumas mensagens,
também, que não foram enviadas para a conta de Ingram — não foram
enviadas para ninguém. Você está aí? uma dizia. E, Não pense que não estou
pensando em você. E então, Sinto sua falta, Aerie. Mas não se preocupe. Volto em
breve. 2 de fevereiro, para ser exata — Dia da Marmota!
O coração de Aerin parou. Helena às vezes a chamava de Aerie. Então
ela estava tentando falar com ela através disso? E Skip tinha falado a verdade
— eles realmente iriam voltar para Dexby? Ele realmente deixaria sua
esposa?
A única missiva que mostrava uma foto de Helena depois que ela
desapareceu era a última na lista. Era um close do rosto de Helena, os olhos
arregalados, os lábios erguidos fazendo beicinho, os cabelos mais longos e
desgrenhados. Era difícil dizer onde ela estava — a foto estava fortemente
filtrada, o fundo borrado — mas ela parecia triste, não com medo. Tudo
vai ficar bem. Ela foi para o Sr. Ingram.
Madison apontou para isso. — O que vai ficar bem?
— Não sei — murmurou Aerin.
Madison saiu das mensagens enviadas e clicou em Mensagens Recebidas
na barra de navegação. Toneladas de imagens carregaram a partir da mesma
conta HAR1972. Nenhuma delas eram selfies do Sr. Ingram — graças a
Deus; Aerin pensou que não poderia suportar ver o rosto dele — em vez
disso, as mensagens eram sobrepostas sobre fundos simples ou imagens. A
primeira mensagem foi no início do verão nesse mesmo ano. Estou tão feliz
também, ele escreveu. A próxima: Você estava tão bonita esta tarde. A
seguinte: Pensando em você. Aerin se contorceu. Helena se apaixonou por
isso?
Quando se aproximou da data do desaparecimento de Helena, o Sr.
Ingram escreveu coisas como, Eu sei que isso é difícil para você. Eu apoiarei
qualquer coisa que você escolher. E, Eu vou amar você para sempre. E, Estou tão
entusiasmado com o nosso futuro.
Madison fez um som como se estivesse fungando. — Isso não soa
como um homem que planeja matar sua namorada.
— Verdade — murmurou Aerin. Ela continuou rolando. No início
de janeiro, quatro semanas depois de Helena ter desaparecido, ele
escreveu, Estou pronto para deixá-la. Ela olhou para cima. — Marissa? —
Ela tentou lembrar-se da atitude de Marissa durante essa época — ela
poderia saber?
— Olha isso — disse Madison, deslizando. A próxima mensagem era
datada em 24 de janeiro. Não havia imagem, apenas uma tela em branco.
Na legenda, o Sr. Ingram havia escrito, Estou preocupado com ela. Com medo
dela fazer algo louco.
24 de janeiro foi a data em que Helena escreveu. Tudo vai ficar bem.
Aerin clicou de volta nas mensagens escritas por Helena, mas a do dia 24
foi a última. — Você acha que foi quando ela...?
Madison levantou as sobrancelhas. — Foi quando Loren ligou para
ela, também. Se ele está falando a verdade, ela não estava atendendo ele.
Algo poderia ter acontecido com ela.
Aerin clicou de volta nas mensagens recebidas de Helena, esperando
não ver mais mensagens do Sr. Ingram, mas sua próxima mensagem para
Helena era em 30 de janeiro. Por favor, volte. Havia outra no dia 2 de
fevereiro. Hoje deveria ser o dia. Por que você está fazendo isso? 6 de fevereiro:
Eu sempre vou te amar. Onde quer que você tenha ido, seja lá o que você precisa
fazer, está tudo bem. 8 de fevereiro: Diga-me onde você está. Estou preocupado.
Aerin agarrou seu joelho. — Do que ele está falando? Por que ele não
sabe onde ela está?
— Ela poderia ter fugido do Dakota? — perguntou Madison. —
Fugido da cidade?
— Foi encontrado sangue no apartamento, lembra? Os detetives
estão bastante seguros de que vai combinar com o tipo dela. — Mas Aerin
entendeu sua pergunta. — Por que Ingram escreveu para Helena se ele
sabia que ela estava morta? Talvez ele estivesse cobrindo seus rastros no
caso dos policiais descobrirem?
Madison enrugou o nariz. — Em um aplicativo super secreto?
— Então, qual a outra opção? Que ele realmente não sabia onde ela
estava?
Os olhos de Madison se arregalaram. — Você acha que ela tinha uma
chave do apartamento dele na cidade?
— Quem? — perguntou Aerin. — Helena?
Madison balançou a cabeça. Ela procurou a mensagem anterior do Sr.
Ingram novamente: Estou preocupada com ela. Com medo dela fazer algo louco.
Quando Aerin encontrou o olhar de Madison, um silêncio frio e silencioso
se instalou dentro dela, uma sensação torturante de incerteza
desaparecendo. — Marissa — ela sussurrou.
Madison acenou com a cabeça, então olhou para o Morgenthau Estate.
A cor foi drenada do seu rosto. — Falando do diabo — ela sussurrou,
gesticulando para uma limusine na entrada. Uma porta se abriu, e Aerin
observou enquanto uma mulher magra, de cabelos pretos, vestindo um
longo vestido de renda e cheia de diamantes saiu e posou para fotos.
Puta merda, pensou Aerin. Aquela vadia estava aqui.
Capítulo 34
Traduzido por Napoleana

M addox estava sentado no escuro na varanda da frente, sentindo


o telefone vibrar nas palmas das mãos. Catherine, ele leu na tela.
Ele apertou seu celular, tentado a jogá-lo entre as árvores.
Há uma hora, ele apareceu na pista de corrida e soltou um discurso
sobre como ele não iria deixar Catherine controlar ele, blá, blá, blá. Os
olhos de Catherine ficaram muito grandes e úmidos, e ela se virou e fugiu
para o seu escritório. E o que Maddox deveria fazer, não segui-la?
Na verdade, em retrospectiva, talvez essa tenha sido uma boa jogada.
Em seu escritório, Catherine sentou-se em sua mesa, respirando
profundamente. Mas quando ela olhou para ele, sua feição se transformou.
— Tudo bem — ela falou com uma voz composta. Ela pegou o telefone e
discou um número. — Posso falar com o treinador Leventhal, por favor?
— ela disse depois de uma pausa.
O coração de Maddox deu uma cambalhota. Leventhal era o treinador
de Oregon. Ela realmente ia fazer isso.
Catherine olhou para ele, levantou uma sobrancelha como se quisesse
dizer: Ainda dá tempo de voltar atrás! Mas ele continuou lá de pé, trêmulo.
— Vá em frente — ele disse em voz baixa, virando-se para ir embora. —
Não me importo.
Ele começou a sair do escritório, mas sentiu uma mão em seu pulso.
— Maddox! — Catherine gritou, soltando o telefone, girando-o e
plantando um beijo nos seus lábios. Antes que ele pudesse lutar contra ela,
Seneca apareceu... e viu tudo. Viu e assumiu, é claro, que ele era um
grande idiota.
E aquela coisa sobre Catherine ser a rival ciumenta de Helena?
Maddox não se lembrava de ter visto Catherine na casa de Helena... mas
talvez ela não tivesse ido lá. Ela, obviamente, não queria que ele soubesse
quem ela era, no entanto: Maddox de repente lembrou, muito
distintamente, de mencionar Helena durante sua segunda sessão de treino,
no aniversário de seu desaparecimento. — Você a conheceu? — ele
perguntou a Catherine e ela olhou vagamente em seus olhos e sacudiu a
cabeça.
O celular parou, depois tocou novamente. Maddox contemplou jogá-
lo na calçada da frente, mas depois notou um nome diferente na tela.
Madison. Jesus. Ela já ouviu falar sobre o desastre com Seneca? Ele não
estava pronto para outro sermão.
Ele ouviu um motor rugir e olhou para cima. Um táxi amarelo tinha
parado no meio-fio, Seneca estava saindo dele, junto com Brett. Maddox
olhou para o telefone tocando e apertou o botão ATENDER. — Madison,
por que Seneca está em nossa casa?
— Porque eu liguei para ela — Madison respondeu com um tom
apressado. — Eu disse a ela para pegar você em casa para que vocês possam
vir para cá juntos.
— Ir para onde?
— A festa do Coelhinho da Páscoa.
Maddox piscou. Ele tinha esquecido totalmente que a festa estava
acontecendo.
Madison começou a falar um quilômetro por minuto. — Lembra que
achávamos que foi Skip Ingram? Bem, não foi... foi Marissa... nós invadimos
a conta de Helena no Under Wraps e encontramos todas as mensagens de
Skip e Helena e, no final, ele diz que está preocupado com alguém, e esse
alguém é totalmente Marissa, e tudo faz sentido!
— Espere — disse Maddox. Mas, nesse momento, Seneca e Brett
estavam caminhando até ele. Brett estava pálido e preocupado, com as
mãos fechadas em punhos. Seneca estava estudando algo em seu celular e
balançando a cabeça.
Ele deixou as palavras de Madison serem absorvidas por ele. Marissa
Ingram? Fazia sentindo. Se ela tivesse descoberto sobre Helena, ela
certamente teria motivo. E talvez tenha sido ela a pessoa que estava
tentando se livrar deles também. Ele achava que o ladrão em Nova York
fosse uma mulher...
As imagens de Skip Ingram nas notícias brilharam em sua mente. —
Nós colocamos a pessoa errada na prisão?
— Sim — Seneca murmurou com raiva, apressando a caminhada e
pegando o celular de Maddox dele. — Ela ainda está desaparecida? — ela
falou no receptor. Houve uma pausa. — Está bem, está bem. Bem,
continue procurando. Nós estaremos aí em breve.
Ela desligou e entregou o celular de volta para ele, não encontrando
o olhar de Maddox. — Eu sabia que havia algo errado sobre Skip Ingram.
Eu sabia.
Brett tocou no braço de Maddox. — Assim que Madison e Aerin
perceberam que era Marissa, elas a notaram na festa — ele explicou. — E
então, antes que Madison pudesse detê-la, Aerin foi atrás de Marissa.
Madison tentou alcançar Aerin, mas ela se perdeu na multidão.
— Aerin é uma bomba-relógio — Seneca disse rapidamente. —
Precisamos detê-la antes que ela diga algo louco para Marissa, que faça ela
perceber que sabemos. — Ela soprou a franja de seu rosto. — Não posso
acreditar que Marissa apareceria lá, depois de tudo o que aconteceu hoje.
Ela tem bolas de aço. — Ela gesticulou para o táxi, que ainda estava
esperando na calçada.
Maddox revirou os ombros e entrou na parte de trás. Marissa Ingram
não era a única que precisava ter bolas de aço esta noite.

***
Dez minutos depois, eles estavam na mansão Morgenthau, que estava
iluminada dramaticamente por uma série de refletores brancos. No topo
da colina, a primeira coisa que Maddox viu foi um grupo de pessoas girando
e posando em um tapete vermelho. Flashs instantaneamente surgiram. O
fotógrafo instruía as pessoas a girar à esquerda ou à direita. Maddox ergueu
o pescoço, se perguntando se era realmente alguém famoso — muitos
jogadores do Rangers viviam dessa maneira, assim como alguns atores,
CEOs notáveis e escritores famosos. Mas tudo o que ele viu foram crianças
e adultos que ele reconhecia em torno de Dexby.
Houve uma batida na janela. Madison abriu a porta, depois girou e
entrou na casa. — Eu tentei todos os quartos principais — ela gritou por
cima do ombro. — Mas esse lugar é como um labirinto. Há uma parte
traseira, o andar de cima...
— Você acha que devemos chamar a polícia? — perguntou Maddox.
— E se algo acontecer com a Aerin?
Seneca balançou a cabeça. — Marissa pode ver os carros da polícia e
fugir antes que possamos provar que é ela. Eu digo para esperarmos até
que seja absolutamente necessário.
Eles entraram no salão de baile principal, que estava bombando de
pessoas com vestidos e ternos extravagantes. Maddox sentiu-se meio
ridículo de jeans e camisa, mas, no entanto, todos pareciam tão abafados e
ridículos com seus ternos também. Madison deu uma volta em um
corredor que se abriu para outra sala de festas que estava ainda mais lotada
com os convidados. Foram colocadas mesas longas ao longo dos lados da
sala com itens para o leilão silencioso em exibição. Entre algumas das coisas
a serem oferecidas, havia uma viagem ao redor do mundo com todos os
gastos pagos, um colar de diamantes no valor de US$ 24.000, uso ilimitado
de uma limusine Rolls-Royce (com motorista) por seis meses e um ano de
fornecimento de leite materno de uma mulher que comia apenas produtos
orgânicos cultivados localmente.
Madison estava se movendo mais rápido agora, rodeando corpos,
encontrando buracos entre grupos, passando por itens de leilões
inestimáveis. Maddox via garotas loiras e mais garotas loiras, mas nunca
Aerin. Seu estômago começou a formar um nó. E se Marissa a levou para
algum lugar? E se ela estivesse ferida? O que todos esses convidados
pensariam se soubessem que uma assassina estava no meio deles?
Em outra sala, uma multidão começou a rugir. O barulho da multidão
no espaço principal ficou mais alto. As luzes diminuíram e a música tecno
começou a tocar. — Todos sejam bem-vindos ao nosso Leilão de Caridade
Anual da Páscoa — uma voz surgiu por um alto-falante.
Eles passaram por uma sala com homens fumando charutos, alguns
caras brincando na piscina, um espaço escuro onde um casal bebia vinho.
Madison segurou a bainha de seu vestido e subiu um conjunto de escadas
que levavam a outro andar de salas de festas. Em uma, os convidados se
alinhavam em um longo divã, conversando. Em outra, um grupo de caras
estavam reunidos em torno de um simulador de golfe, se revezando com
um taco. Este andar mostrava o salão de baile lá embaixo; Maddox olhou
para as dezenas de cabeças abaixo dele. Uma trombeta brilhante usada por
um dos membros da banda no canto captou a luz por um momento,
lançando uma luz estranha e cegante.
Eles começaram a andar por um corredor escuro. No meio do
corredor, Madison parou e inclinou a cabeça. Maddox mal conseguia ouvir
o barulho da multidão, mas achava que ele ouviu a voz alta e divertida de
Aerin. Seneca avançou e olhou através de uma porta aberta. Maddox ficou
na ponta dos pés atrás dela e também olhou. Dentro havia um enorme
banheiro de mármore com três pias e uma porta separava o lavatório. O
reflexo de Marissa apareceu em um espelho redondo na parede. Ela estava
de pé sobre Aerin, com os olhos arregalados. Não estava claro o que estava
acontecendo.
Maddox pulou de volta para as sombras antes que Marissa o visse. O
grupo trocou olhares. — Merda — Seneca murmurou, suas bochechas
brilhavam vermelhas.
Madison olhou para Maddox. — Agora podemos chamar a polícia?
Até mesmo Brett, o Sr. Sem Polícia, não discutiu. Maddox pegou o
celular e discou 9-1-1. — Qual é a sua emergência? — Uma voz falou na
outra extremidade.
Maddox recuou. A voz era muito alta, e a sua ficaria cada vez mais
alta. Não havia como Marissa não ouvir. — Hum — ele sussurrou. —
Estou na festa do Coelhinho da Páscoa e preciso de ajuda.
— O quê? — a atendente gritou. — Onde?
Maddox ainda podia ouvir a atendente fazendo perguntas, mas ele não
ousou falar com ela. Ele olhou impotente para a tela. Talvez ele pudesse
enviar uma mensagem para a atendente no 9-1-1? Enviar um código
Morse?
Agora Marissa estava falando. — Realmente é um choque — ela falou
afetadamente, aproximando-se de Aerin. — Não consigo imaginar o que
você e sua mãe estão passando, querida. Eu tenho chorado, eu tenho
orado...
E então ela se inclinou para frente e abraçou Aerin apertado. Aerin
ficou lá como uma barra de metal, com os braços rígidos em seus lados,
uma veia em seu pescoço sobressaindo. Maddox olhou para Seneca e
levantou as sobrancelhas. Talvez isso não tenha sido tão ruim. Parecia que
elas apenas encontraram uma com a outra. Talvez Aerin ainda não tivesse
dito nada.
Marissa se afastou e olhou para Aerin na distância de um braço. — Eu
ouvi dizer que sua mãe está aqui esta noite, isso é verdade? — Aerin só
podia assentir catatonicamente. Marissa apertou uma mão no peito. — Eu
adoraria falar com ela, querida. Preciso dizer a ela... algumas coisas. Mas
ela não atende as minhas ligações.
Um olhar estranho e firme apareceu no rosto de Aerin. Ela ergueu a
cabeça para olhar Marissa diretamente nos olhos. — Talvez minha mãe não
queira conversar com você porque ela sabe que você é uma maldita
mentirosa.
Maddox engasgou. Madison estremeceu.
Marissa afastou a mão dela. — Como é? — As palavras saíram
estranguladas.
Aerin estreitou os olhos. Seu corpo inteiro estava tremendo. — Eu
sei o que você fez com Helena. Eu sei quem você é.
— Aerin — disse Seneca, disparando para o banheiro e agarrando o
braço dela. — Hum, temos de ir.
Aerin se afastou de Seneca. Marissa virou-se, olhando para todos
enquanto eles se aglomeravam no banheiro. Uma ruga de reconhecimento
se formou em sua testa, e antes que Maddox pudesse se mover, Marissa
atacou, enviando-o para o lado de uma pia. Ela fechou a porta e ficou na
frente dela, desligando a luz. Brett berrou, Seneca gritou e houve o som
de vidro quebrando. Maddox abriu caminho até a porta, lutando para
voltar a acender a luz. Um espelho estava espalhado no chão, pedaços
espalhados por toda parte.
Um caco na mão de Marissa acendeu a luz. Seus braços magros
estavam envolvidos em torno de Aerin em um quase abraço, um pedaço
de espelho quebrado pressionado na jugular de Aerin. Ela olhou para o
grupo congelado, um olhar furioso em seu rosto.
— Façam tudo o que eu digo — ela sussurrou com a voz rouca, mas
com firmeza. — Ou a sua amiga estará morta.
Capítulo 35
Traduzido por Napoleana

L utando contra a vaidade, seu corpo ainda doendo do ataque de dois


dias antes, Brett não pôde deixar de notar que o banheiro agora
cheirava fortemente a suor e ao perfume rosado de Marissa. Ele observou
impotente enquanto a mulher pressionava o pedaço de vidro no pescoço
de Aerin. Ele queria desesperadamente estrangular Marissa — ele apostava
que podia, sabia que podia — mas Aerin lançou um rápido olhar
desesperado a todos como se estivesse avisando para não fazerem
movimentos súbitos.
No andar de baixo, a música ainda tocava. As pessoas riam. Brett
ouviu o crepitar do microfone no leilão, seguido de aplausos. Como
alguém saberia que eles estavam aqui com todo esse caos?
A respiração de Marissa estava agitada. Ela manteve a posição do vidro
contra a garganta de Aerin. — Tudo bem, todos vocês — ela rosnou. —
Soltem seus telefones e chute-os para mim.
Brett fez o que lhe disseram, assim como os outros. Marissa pegou os
telefones e os colocou na bolsa. — Ninguém pode sair. Vocês
desobedecem, e vocês se arrependerão. Entendido?
Acenos instáveis. Seneca limpou a garganta. — Você não quer fazer
isso, Sra. Ingram. Você não quer nos machucar. Você não é esse tipo de
pessoa. Eu posso dizer.
Marissa resmungou. As linhas ao redor de sua boca eram tão
proeminentes quanto gravuras em cobre. — Estou fazendo o que eu tenho
que fazer. Eu tentei fazê-los parar. Eu os avisei tantas vezes. Vocês
deveriam ter pego a dica e percebido que isso era demais para vocês.
Brett sentiu um aperto no peito. Então, Marissa era seu perseguidor.
— Mas você não matou nenhum de nós quando nos avisou — disse
Seneca com um tom calmante que Brett ficou surpreso por ela poder
reunir. — Você não é um monstro. Você simplesmente não queria que
investigássemos, certo?
Marissa franziu os lábios. Ela parecia meio chocada, talvez não
acreditasse que ela estivesse fazendo tal coisa, ou talvez que o rastro
finalmente tivesse levado a ela. — Isso mesmo — ela disse com uma voz
resignada. — Mas, claramente, essa tática não funcionou.
— Tudo o que queremos é a verdade — disse Seneca. — Nós não
estamos aqui para machucá-la ou ir atrás de você. Nós sabemos que você
não fez isso. Queremos apenas ouvir o que aconteceu.
Brett olhou para Seneca. Nós sabemos que você não fez isso? O que ela
estava tramando?
O rosto de Marissa suavizou um pouco, como se o método de Seneca
estivesse funcionando. — Você pode nos dizer — Seneca persuadiu. —
Você pode dizer a Aerin. Você a conheceu sua vida inteira. Ela só quer
saber o que aconteceu com a irmã dela.
Marissa girou uns centímetros, depois baixou ligeiramente o pedaço
de vidro. Ela dirigiu a Aerin um sorriso pequeno e contrito. — Eu só
queria que isso nunca tivesse acontecido, querida — ela explodiu, como
se fosse algo que ela estivesse guardando por anos. — Eu simplesmente
sinto muito.
— Você matou Helena? — Aerin explodiu.
Marissa ficou chocada. — Eu nunca faria isso! — Ela soou
incrivelmente convincente. Seu rosto enrugou novamente. — Olha, senti
que estava acontecendo algo entre ela e Skip no verão. Nunca os peguei,
nunca encontrei mensagens, e-mails ou cartas, mas eu simplesmente...
sabia.
— Por que você não disse nada à minha mãe? — gritou Aerin.
Marissa cortou seu olhar para a direita. — Porque eu não tinha
nenhuma prova. É uma coisa horrível acusar a filha de alguém. Isso
arruinaria nossa amizade.
Brett sentiu-se doente. Era com isso que ela estava mais preocupada?
Com sua amizade?
— Quando Helena sumiu, Skip sumiu também. Por um fim de
semana inteiro. Fiquei frenética, mas eu disse a todos que ele estava no
trabalho — para a polícia, sua mãe, outros amigos, todos dos grupos de
busca. — Ela voltou a olhar para Aerin, com propósito. — Você tem que
entender, querida. Eu ainda estava esperando que tudo estivesse na minha
cabeça.
Brett apertou os punhos. Era enervante como Marissa continuava
chamando Aerin de querida, como se ela realmente se importasse com ela.
Ele queria rasgá-la apenas por isso.
— Os dias passaram — disse Marissa. — Semanas passaram. Helena
ainda estava desaparecida. Alguém poderia tê-la sequestrado,
absolutamente. Ou ela poderia ter fugido com outra pessoa, ou por conta
própria. Mas como cada dia passava e ela não era encontrada, e não estava
em lugar nenhum, eu tinha uma sensação de que Skip tinha algo a ver com
isso. — Ela parecia atormentada. — No dia de Natal, ele disse que
precisava ir ao escritório. Meu marido trabalha muito, mas nunca no dia de
Natal. Naquele momento, eu o rastreei com o aplicativo GPS que eu baixei
no seu celular. Ele estava realmente na cidade de Nova York, no
apartamento. Foi quando comecei a me perguntar se ele estava lá com ela.
Se ela estava viva, e bem, e se eles estavam em uma espécie de... ninho de
amor. — Ela fez uma careta.
— Então, por que você não fez nada? — perguntou Aerin.
Marissa parecia perdida. — Eu estava tentando encontrar o momento
certo. Eu estava tentando entender por que ele tinha feito isso. — Ela
suspirou. — No final, eu deixei pequenas dicas de que eu sabia. Ele negou
completamente, mas eu poderia dizer que ele estava mentindo. Então,
finalmente, fui ao apartamento. Destranquei a porta. E foi quando eu... —
Ela parou e fechou os olhos, mostrando um rosto perturbado.
O rosto de Aerin ficou pálido. — Você o quê?
Demorou alguns minutos para ela falar. — Eu a vi, no chão. Ela estava
morta.
Um arrepio frio como uma gota de chuva correu pelo corpo de Brett.
Ele observou enquanto os outros trocavam olhares confusos. Ele sabia o
que eles estavam pensando: isso não correspondia com as mensagens no
Under Wraps.
— Skip estava... lá? — perguntou Aerin. — Ela já estava morta há
algum tempo?
Marissa sacudiu a cabeça, seus cabelos pretos batendo contra suas
bochechas. — Ele estava em uma viagem de trabalho verdadeira desta vez.
E em relação a quanto tempo ela estava morta, eu realmente não conseguia
olhar para ela.
— Por que você não ligou para a polícia? — perguntou Brett.
Marissa olhou para Brett como se essa fosse a pergunta mais louca que
alguém já lhe perguntou. — Eu não poderia fazer isso.
Brett achava que ele entendia por que Marissa não havia ligado.
Provavelmente, ela viu a cena em um flash e a vergonha que viria para a
sua família uma vez que a história fosse revelada. Os negócios de Skip
acabariam, seus clientes iriam para outro lugar, e uma boa parte de sua
fortuna ficaria perdida. Isso também arruinaria o futuro de Heath — e ele
já estava desestruturado. E, acima de tudo, mudaria a vida de Marissa para
pior. Ela tinha as melhores coisas. Ela perderia tudo.
— Então você limpou tudo — disse Brett. — Você que levou o corpo
para aquele parque no norte do estado, não foi?
— Skip nunca me agradeceu. — Marissa tentou rir, mas saiu mais
como um gemido. — No entanto, foi a opção mais segura, nenhum de nós
contando o que fizemos. Se alguma vez nos interrogássemos, poderíamos
dizer legitimamente que ele nunca confessou o que ele fez a mim e nunca
confessei o que fiz por ele.
Aerin deslocou-se desconfortavelmente. — É só que Skip pareceu
pensar que Helena fugiu. Ele escreveu mensagens para ela, dizendo que ele
estava muito preocupado.
A cabeça de Marissa levantou. — Mensagens onde?
— No aplicativo que ela usava. Eles escreviam um para o outro o
tempo todo. Ele disse que queria apenas saber onde ela estava. Parecia que
ele realmente... a amava.
Uma fúria inundou o rosto de Marissa. Em um movimento rápido, ela
puxou Aerin para perto dela e apertou o fragmento em seu pescoço mais
uma vez. — Você está dizendo que você não acredita em mim?
— Eu não sei! — Aerin gritou. — Eu só...
— Pense antes de falar — Marissa rugiu, seu rosto perto do de Aerin.
— Porque eu posso te matar, Aerin. Vou matá-la aqui mesmo, bem na
frente de seus amigos.
— Não! — Seneca gritou.
— Eu vou fazer isso! — Marissa lamentou.
— Pare! — gritou Brett.
Houve um forte som de rachadura. Brett pulou quando a porta do
banheiro foi derrubada. — Parada! — gritou uma voz. Várias silhuetas
apareceram no corredor. — Polícia de Dexby! Solte-a, Sra. Ingram!
Os oficiais da polícia inundaram o banheiro, todas as armas destinadas
a Marissa. A agitação pegou Marissa desprevenida, e o vidro escorregou de
suas mãos. Brett moveu-se de seu lugar, pegou o fragmento do chão e o
depositou na pia. Quando ele se virou, um policial estava derrubando
Marissa no chão e outro estava empurrando suas pernas. Algemas
brilhantes brilhavam na luz. Todos gritavam, choravam e soluçavam de
alívio.
Ele olhou para seus amigos. Seneca tinha caído de joelhos nos azulejos.
Maddox estava comatoso perto da pia. Madison tinha as mãos pressionadas
nos lados do rosto e estava gritando algo para a polícia sobre Marissa ser
culpada. Brett girou ao redor do lugar e procurou por Aerin, mas no início
ele não conseguiu localizá-la no tumulto.
E então ele a viu. Ela estava junto à banheira. Outro policial estava
protegendo ela. Era um cara jovem, um pouco mais velho do que a própria
Aerin. Brett achou que já tinha visto o cara antes, talvez no Country Clube?
Aerin não estava falando com ele?
Ele começou a se mover em direção a Aerin, desesperado para lançar
seus braços ao redor dela, segurá-la, sussurrando para ela que ele estava
muito feliz que ela estava bem — e que ele sentia muito. Que se dane achar
o momento perfeito para beijá-la — este era o momento perfeito, e ele
não podia mais esperar. Ele iria pressioná-la nele e fazê-la sentir-se segura.
Ele a manteria segura para sempre.
Mas algo o impediu. O jovem policial estava falando com Aerin agora,
e seus olhos estavam grudados. O sorriso que Aerin lhe deu era diferente
de tudo que Brett tinha visto nela antes — era de alívio, admiração, mas
também estava cheio de outra coisa. Apreciação. E amor — amor
verdadeiro, muito mais profundo do que os olhares flertadores e luxuriantes
que ela lhe lançava.
— Puta merda — falou Brett, embora suas palavras não pudessem ser
ouvidas através de toda a agitação. De repente, ele entendeu. Algo ficou
muito frio e quieto dentro dele.
Ele não passou de uma diversão para ela. Ele nunca foi nada mais do
que uma piada.
Capítulo 36
Traduzido por Napoleana

A erin se jogou no canto do banheiro e observou enquanto os


policiais, incluindo Thomas, levantaram Marissa e leram os
direitos de Miranda. — Você tem o direito de permanecer calada —
recitou Thomas. Sua voz forte e autoritária era realmente sexy.
— Não me toque. — O vestido de Marissa estava preso aos seus
joelhos e seus braços estavam forçados para trás de suas costas algemados.
Ela torceu o pescoço e deu a Aerin um olhar penetrante. — Diga-lhe,
Aerin. Diga-lhe o que eu disse. Eu não sou a culpada! Eu não fiz nada!
Aerin sentiu um nó na garganta. Ela olhou nos olhos da amiga mais
antiga de sua mãe, tentando encontrar alguma humanidade, mas tudo o
que ela viu foram pupilas escuras, sombra escura e cílios postiços. A
história que Marissa contou a ela girou e congelou em sua mente, chocante,
doentia e provavelmente apenas meio verdadeira. Marissa não encontrou
simplesmente o cadáver da sua irmã no apartamento naquele dia. Ela a
matou. Era o único fato que realmente fazia sentido com o resto da
evidência.
Talvez Marissa tenha conseguido reescrever a história em sua cabeça,
um mecanismo de enfrentamento para ajudá-la a viver com o que ela fez.
Mas ainda assim, mesmo que ela tivesse se convencido de que a morte de
Helena não era sua culpa, ela ainda enterrou Helena sem contar a ninguém.
Fazer isso e depois encarar a mãe de Aerin, fingindo que não sabia de nada,
era positivamente monstruoso. De repente, Aerin se lembrou de Marissa
se aproximando com uma caixa de doces para a mãe de Aerin no Dia dos
Namorados. Ela vai voltar para você, eu posso sentir isso, Aerin ouviu Marissa
dizer. Ela vai ficar bem.
Enquanto isso, ela sabia! Ela cavou um buraco e colocou o corpo sem
vida de Helena nele!
Aerin olhou para a polícia. — Ela é culpada.
Thomas e outros dois oficiais levaram Marissa para fora do banheiro e
entraram no corredor. E então o banheiro estava em silêncio novamente.
Apenas um oficial permaneceu, e ele estava examinando a cena e
observando o grupo com preocupação. — Vocês estão bem?
Aerin olhou para os amigos dela. Todos estavam chocados demais para
responder. Ela se aproximou e os abraçou com força. Ela podia ouvi-los
murmurando coisas para ela, mas as palavras entraram em um ouvido e
saíram no outro. Aerin quase desejou que alguém começasse a rir para
cortar a tensão — senão ela poderia irromper em soluços que nunca
parariam.
Madison caminhou até a bolsa de Marissa e estava prestes a pegar seu
celular de dentro, mas o oficial a deteve. — Infelizmente, vamos precisar
dessa bolsa como prova.
— Mas ela está com todos os nossos celulares — Madison conseguiu
dizer depois de uma pausa.
— Não se preocupe. Vocês vão recuperá-los de volta em breve.
Houve murmúrios no corredor. Aerin saiu do banheiro e olhou sobre
a grade. No andar de baixo, os convidados da festa do Coelhinho da Páscoa
estavam boquiabertos, observando Marissa, com vestido amassado e cabelo
desgrenhado, sendo conduzida por três policiais para um carro na frente
esperando. Alguém pensou em desligar a música, mas ela foi sobreposta
pelos sussurros. Uma equipe de notícias já havia chegado, e um operador
de câmera começou a filmar o caos. Adolescentes saíram da casa,
parecendo desgrenhados e drogados. Elena Fairfield, que estava no mesmo
ano que Aerin, sorriu para a câmera, posando de um jeito e de outro com
suas orelhas de coelhinho da Páscoa, mas então o Sr. Fairfield apareceu e
pôs o blazer sobre o seu vestido escasso.
As pernas de Aerin ainda estavam bambas quando ela começou a
descer a escada e atravessar o salão de baile. Todo mundo estava olhando
para ela, incluindo todos os amigos dela, mas ela mal registrou seus olhares
e definitivamente não ouviu suas palavras. Marissa, era como um refrão na
cabeça dela. Marissa. Sua imaginação estava ficando louca. Ela viu Marissa
encontrar Helena, atacando-a, matando-a no apartamento. E, em seguida,
colocando o corpo de Helena em uma bolsa de roupas e arrastando-a para
um elevador de serviço. Enterrando-a naquele parque, depois limpando a
lama de suas botas com garrafas de água Evian.
E então... apenas vivendo o resto de sua vida. Dando festas,
comprando iates. Encomendando joias personalizadas de seu joalheiro.
Apreciando o filho dela, porque Heath ainda estava vivo, ao contrário de
Helena. Apreciando o marido, tanto quanto podia, sabendo que ele era um
bastardo maldito e enganador, tudo porque ela estava muito fodida para
dizer a verdade.
Seu estômago agitava, e ela empurrou as unhas nas palmas da mão,
esperando que a sensação passasse. A última coisa que ela queria era
vomitar no chão dos Morgenthaus. Ela olhou por cima do ombro para os
outros. Seneca e Madison estavam encolhidas perto da escada, com os
rostos pálidos. Maddox já estava perto do carro da polícia. Ela não
conseguiu encontrar Brett em lugar nenhum.
Houve um som balbuciante e os pais de Aerin atravessaram a multidão
e jogaram os braços em torno de Aerin com força. — Eu estava tão
preocupada. — A mãe de Aerin se afastou e olhou para Aerin com horror,
depois por cima do ombro onde o policial estava empurrando Marissa para
dentro de um carro. Seus diamantes brilhavam nas luzes girando. Ela teve
que pegar a bainha seu vestido para que ele não ficasse preso na porta. Uma
vez dentro, ela cruzou os tornozelos, mostrando seus saltos Jimmy Choo.
Um olhar estranho e triste cobria as feições de seu pai, e Aerin sentiu-
se tão à deriva que colocou a cabeça no ombro dele, muito cansada para se
importar que fazia anos que ela abraçava seu pai. Depois de um momento,
ela virou para sua mãe, jogando-se no peito dela. Antes que ela soubesse o
que estava fazendo, ela pressionou o polegar no centro da palma da mão da
sua mãe. Era seu velho aperto de mão, de quando elas eram próximas: um
polegar na palma da mão, depois na parte de trás da mão. Para sua surpresa,
ela sentiu que a palma da mão da sua mãe envolveu ao redor da dela. Então
vieram os três apertos, tão decifráveis como um código skip. Eu. Estou.
Com. Você.
Eles ficaram assim por um tempo, deixando a multidão, as câmeras
de notícias e a polícia fluir ao redor deles. Então outra pessoa limpou a
garganta e Aerin olhou. Thomas estava parado à sua esquerda.
— O... oi — Aerin gaguejou, endireitando-se.
Houve uma longa pausa onde eles apenas olharam um para o outro.
Sua mãe soltou sua mão e a cutucou para ir em direção a ele. Aerin
caminhou alguns passos, sentindo suas pernas instáveis. — Eu estava
bastante segura de que ninguém viria atrás de nós — ela murmurou.
Thomas encolheu os ombros. — Houve uma ligação para o 9-1-1 de
um cara sussurrando que ele estava na festa do Coelhinho da Páscoa. A
ligação não desligou, no entanto, então o atendente conseguiu escutar
enquanto Marissa ameaçava vocês. — Ele sorriu. — Nós conseguimos
gravar bastante da confissão dela. — O telefone estava dentro da bolsa de
Marissa, afinal de contas — ele captou sua voz muito bem.
Aerin olhou da janela para a entrada. — Você vai ter que voltar para
a delegacia esta noite?
— Sim. Vai ser uma longa noite de interrogatórios, formulários, e
você também precisa ser interrogada, porém, você não será acusada de
nada. Eu prometo. — Ele piscou.
Então ele se aproximou e limpou a garganta. — E eu entendo — ele
disse em voz baixa. — Sobre... você sabe. A senha. Eu não deveria ter
brigado com você na delegacia. Eu também teria feito isso, se fosse minha
irmã, Aerin. Eu teria feito a mesma coisa.
Ele estava olhando para ela tão atentamente. O coração de Aerin
inchou e ela engoliu em seco. — Oh — ela sussurrou. — Bem, obrigada.
— E então ela agarrou o seu pescoço para um abraço. Ela ansiava beijá-lo,
também, mas provavelmente não era o momento certo. Ela sentiu, no
entanto, que haveria mais oportunidades. Talvez muitas delas.
Ela só podia esperar.
Capítulo 37
Traduzido por Napoleana

N a manhã seguinte, Seneca estava na plataforma do Metro-North


em direção ao sul e olhou para os trilhos. O trem estava atrasado
há vinte minutos, e a plataforma estava entupida com os passageiros
esperando. Eu prometo que eu estou na estação, ela mandou uma mensagem
para o seu pai — seu celular graças a Deus tinha sido devolvido a ela
naquela manhã. Chego em casa em breve.
Ela desmoronou e disse-lhe que tinha estado em uma festa na noite
passada, onde uma assassina havia sido presa e que precisava ficar um pouco
mais para ser questionada. Seu pai queria dirigir para Connecticut assim
que ouviu sobre isso, mas ela assegurou-lhe que estava bem e que estaria
no primeiro trem pela manhã.
Ela não queria ir embora, mas ela devia uma conversa ao pai dela. E
talvez, se ele deixasse, ela voltaria para Dexby em breve. Aerin já havia
oferecido a Seneca seu quarto. A Sra. Kelly, com quem Seneca falou
durante bastante tempo a noite na delegacia de polícia, disse que Seneca
poderia ficar durante o verão se quisesse.
Ao lado dela, Aerin e Madison, que tinham vindo vê-la ir, estavam
examinando uma página de fofocas online da sociedade de Connecticut,
que havia publicado fotos da festa do Coelhinho da Páscoa de ontem à
noite. — Oh, meu Deus, Amanda parece horrível — murmurou Aerin,
apontando para uma garota de aparência atordoada com um vestido branco
e sujo. — E o que há de errado com os olhos de Cooper?
— Ele parece chapado — disse Madison com sabedoria.
Então Seneca lançou um sorriso apertado em direção a Maddox, que
estava sentado em um banco a alguns passos de distância, verificando o
celular dele. — Você pode ir se quiser — ela disse firmemente.
Maddox leantou-se. — De jeito nenhum.
Ela encolheu os ombros e se virou para os trilhos, mas podia sentir
seu olhar sobre ela. Ele provavelmente achava que ela iria deixar o assunto
sobre Catherine de lado apenas porque eles tiveram uma grande vitória na
noite passada, mas ela não cometia o mesmo erro duas vezes. Então, talvez
Maddox tenha ficado especialmente bonito hoje em um pólo verde-
caçador. Então, talvez ela tenha se lembrado de uma piada suja que ele
havia contado a ela no parque de diversões sobre texugos e começou a rir
esta manhã no banho. Então, talvez ele escreveu um longo e-mail dizendo
que cancelou as futuras sessões de treinamento com Catherine e lhe disse
para nunca mais contatá-lo. Ele também disse que, de acordo com o
treinador de Oregon, sua bolsa de estudos ainda estava intacta, mas ele não
tinha certeza se ele iria aceitá-la. Não parecia mais valer a pena. A única
coisa que parecia valer a pena era Seneca.
Então talvez essa fosse a coisa mais romântica que alguém já havia dito
a ela. Mas ainda assim não importava. A porta que Seneca abriu agora estava
selada. Eles poderiam ser amigos novamente, talvez, mas nada mais.
— Bem, eu diria que esta viagem foi um sucesso retumbante — ela
disse secamente, segurando seu celular. Um Alerta do Google tinha
acabado de chegar sobre Marissa; era uma recapitulação deslumbrante da
prisão de Marissa na CNN. Graças ao atendente do 9-1-1 que gravou a
confissão de Marissa, a polícia conseguiu manter Marissa sem fiança. Por
enquanto, os dois Ingram estavam na cadeia, embora a maioria estivesse
dizendo que Skip seria liberado sob fiança hoje mais tarde, com base na
dúvida razoável que a história de Marissa tinha criado de que ele realmente
a matara.
Na noite passada, Seneca e os outros haviam dado depoimentos
separados dizendo que, com a ajuda de Aerin e de hackear um aplicativo
que Helena usava antes de morrer, descobriram que Marissa poderia estar
ciente do caso de Skip e Helena. Os policiais não estavam acusando o grupo
de reter evidências. Na verdade, eles pareciam bastante impressionados
com a sua investigação. O chefe de Dexby ainda havia brincado perguntado
se eles gostariam de resolver outros mistérios na cidade, embora Seneca
tivesse certeza de que ele não estava falando sério.
E o melhor de tudo, Seneca e os outros conseguiram crédito por seu
trabalho. Pesquisas realizadas por um grupo de três adolescentes locais e uma garota
de Maryland foram a chave para a prisão da Sra. Ingram. O repórter tinha
confundido quantos deles estavam no seu grupo, e ele não havia citado
nenhum nome, mas Casos Arquivados tinha sido mencionado, o que
significava que eles iriam conseguir informações de todos no Casos
Arquivados.
Aerin olhou o celular de Seneca e as duas olharam para a foto de
Helena no artigo. — Isso é bom. — Helena estava fora do Scoops de
Dexby, usando o fedora marrom, um colete com franja e calça boca de
sino. Havia algo sobre a luz sobre suas costas e o ângulo da câmera que fazia
seu rosto parecer mais velho, o cabelo especialmente loiro.
Seneca olhou para Aerin, observando as olheiras sob seus olhos, a
languidez em seus movimentos. Ela não dormiu ontem à noite, Seneca
apostava. Aerin poderia ter conseguido a verdade sobre Helena agora, mas
a um custo: isso estava corroendo ela, a realidade talvez fosse pior do que
ela jamais imaginara. Quantas milhares de noites sem dormir Seneca
passou, afinal de contas, revivendo sua mãe deitada na maca? Quantas vezes
ela acordou de um pesadelo de ver sua mãe ser assassinada? Aerin
imaginava Helena perecendo no chão de madeira polida? Perguntando-se
quais eram suas últimas palavras e pensamentos? Perguntando-se se ela
havia sofrido? Seneca desejou que ela tivesse algumas palavras de sabedoria
para ela, ou que ela pudesse oferecer alguma garantia de que, com o
tempo, essas perguntas desapareceriam. Mas esse era o problema: elas não
tinham desaparecido para ela. Talvez nunca iriam.
Uma rajada de vento passou, sacudindo as árvores e levantando as
extremidades do lenço rosa de Madison. Uma frase no novo artigo chamou
sua atenção: A Sra. Ingram afirma que não teve nada a ver com a morte da Srta.
Kelly, que apenas achou seu corpo sem vida depois dela ter sido assassinada. Ela
apontou para os outros. — Ainda presa nisso. Se Marissa não a matou, isso
significa que Skip matou. Então, porque as mensagens no Under Wraps?
— Marissa está mentindo — disse Maddox, com a voz cheia de
certeza.
Seneca mordeu sua unha do polegar. Era apenas que Marissa inventou
a mentira tão facilmente na noite passada. Ela não mostrou nenhum dos
sinais reveladores de que ela estava inventando alguma coisa. Mas, no
entanto, talvez ela devesse seguir o conselho de Brett: eles conseguiram
pegar o cara. Ela deveria parar de se preocupar.
Então ela olhou da plataforma em direção a escada. — Alguém sabe
onde Brett está? Eu mandei mensagem dizendo que eu estava indo embora
hoje. Achei que ele já estaria aqui.
Aerin balançou a cabeça. — Não o vi desde a noite passada.
— Ele não foi para a delegacia de polícia comigo — disse Maddox.
— Esperei e esperei, mas ele não apareceu.
— Ele falou com os policiais? — Seneca perguntou. — Não o vi na
delegacia.
— Eu tenho certeza que ele falou — disse Aerin.
Seneca enfiou as mãos nos bolsos. Do outro lado da rua, um monte
de carros saía da Pousada Restful. — É louco o quão grosseiro eu pensei
que Brett era — ela disse, lembrando daquela primeira viagem de trem.
— Isso me mostra que as primeiras impressões nem sempre estão corretas.
— Então ela pensou sobre sua conversa com Brett nas quadras de tênis na
noite anterior. Se ao menos ela tivesse pensado em perguntar sobre sua avó
mais cedo. Sua conversa também foi terapêutica para ela.
Então ela se lembrou de algo. Algo sobre a noite passada não parecia
certo para ela e agora ela percebeu o que era. Ela se virou para Maddox.
— Por que você contou a Brett sobre isso? — Ela pegou o seu colar.
Ele apertou os olhos. — Hã?
— Brett me disse, Que bom que você recuperou ele dela. Ele quis dizer o
colar da minha mãe. Mas as palavras eram estranhas, como se ele soubesse
como consegui.
Maddox piscou. — Eu nunca diria a alguém algo que você me disse
em confidência.
— Mas não havia outra maneira que ele pudesse descobrir.
— Sobre o que você está falando? — perguntou Aerin.
Seneca não conseguiu responder. Uma sensação escorregadia tomou
conta de seu corpo. Ela mudou para a função telefone e discou o número
de Brett. Ela simplesmente perguntaria a ele, não era grande coisa. O
telefone tocou uma vez, e então uma mensagem gravada explodiu através
do alto falante: O número que você está tentando chamar foi desconectado.
Ela olhou para o celular como se tivesse se transformado em uma
cobra. Madison tocou o braço de Seneca. — Você está com um olhar
estranho no seu rosto.
— O que está acontecendo? — Aerin disse novamente.
Seneca afundou em um banco. Ela estava tonta. — Tenho certeza de
que não é nada.
Mas não parecia nada. Não era possível que o assunto do colar de sua
mãe pudesse ser de conhecimento público, mesmo para pessoas que tinham
informações privilegiadas. O médico legista ainda não havia tirado fotos da
mãe de Seneca quando Seneca roubou esse colar dela. Tanto quanto ela
sabia, o detetive no caso também não havia feito um relatório sobre o que
sua mãe estava usando, tampouco — o colar estava escondido sob a
camiseta Collette, a corrente e o pingente escondidos.
Ela não havia dito ao seu pai. Ela não contou a outro amigo. A única
maneira que alguém poderia ter sabido que sua mãe estava usando esse
colar quando morreu teria sido se...
Seneca teve um pensamento horrível e estranho. Não, ela disse a si
mesma. Absolutamente não. Ela estava ficando louca.
Mas talvez ela devia verificar.
Ela digitou na busca por Vera Grady em seu telefone. Uma página da
Wikipédia surgiu com uma imagem da herdeira com seu cabelo platinado
e loiro e casado de pele. A mulher não era tão velha — talvez apenas uns
cinquenta anos. E uma cinquentona sexy, com um corpo enxuto e magro.
Então Seneca clicou na foto de Helena do artigo da CNN que ela acabou
de olhar. Uma sensação doentia apareceu no seu estômago. Ela tinha o
mesmo cabelo loiro-branco. Assim como a mãe de Seneca, na verdade.
Seneca nunca fez a conexão antes. Mas, no entanto, por que ela faria?
Todo o som desapareceu. Seneca olhou para o grupo, as pontas de
seus dedos formigando. — Hum, como Brett sabia como burlar o sistema
de segurança no Dakota?
Maddox encolheu os ombros. — Ele disse que sua família tinha o
mesmo.
— Isso não parece conveniente?
Ele a olhou como se ela fosse louca. — Hã?
A mente de Seneca não conseguia parar. — E quando nós estávamos
interrogando Kevin, Brett mencionou um namorado secreto roubando
Helena para longe de Kevin e pagando vinho e jantar para ela em seu
Apartamento no Upper West Side. Mas isso foi antes de sabermos sobre o
Dakota.
Aerin enrugou o nariz. — Eu não estou conseguindo acompanhar.
— Eu também não — disse Maddox.
Mais e mais detalhes surgiam à superfície. — E a ligação de Loren no
hospital. Seu número não estava adicionado, mas o número de Loren
apareceu na identificação. E Brett atendeu, ele foi o único que falou. Como
sabemos que era Loren? E por que Brett continuou nos empurrando para
ir à Nova York? Por que Brett, do nada, apareceu com o origami quando
eu estava indo embora? Por que ele foi o único que abriu o armário onde
estava o chapéu de Helena? Por que ele não está aqui?
Madison piscou forte. — Onde você quer chegar com isso?
Maddox começou a andar de um lado para outro. — Brett é um dos
melhores detetives amadores dos Casos Arquivados. Talvez ele seja meio-
psíquico... é assim que ele soube sobre o apartamento no Upper West
Side.
— Meio-psíquico? — Seneca gritou.
— E é claro que foi Loren que ligou naquele dia — continuou
Maddox. — Quero dizer, o que você está dizendo, que Brett bloqueou
seu número e discou o número antigo de Helena e conversou com
ninguém? Que ele já sabia que Skip Ingram tinha um apartamento em
Dakota com antecedência?
— Não sei — disse Seneca estupefata. Sua garganta parecia envolta
com fita adesiva.
— Brett tem acesso. Ele é o neto de Vera Grady. Ele poderia comprar
a CIA se quisesse.
Mas Seneca já não tinha certeza sobre isso. Ela olhou novamente para
a página de Vera Grady. O site também incluiu uma árvore genealógica,
com imagens. De fato, havia um neto chamado Brett Grady. Só que...
Seneca puxou o celular mais perto de seu rosto, tentando dar sentido
à imagem minúscula. Brett Grady tinha um nariz grande e cabelo escuro.
Seus olhos eram grandes e ele tinha maçãs do rosto proeminentes. Ele tinha
a palidez de alguém que nunca trabalhou. A página dizia que ele morava
em Cupertino, Califórnia, e trabalhava para a Apple.
— Estou confusa — disse Madison, vendo também.
— Hum... — Seneca passou o celular para Maddox e Aerin. Eles
leram lentamente. A cor foi drenada do rosto de Aerin. Maddox apenas
parecia com raiva.
— Isso deve ser um erro — disse Maddox. — O Wikipédia sempre
erra muito, certo?
Mas ele não parecia tão seguro.
Seneca olhou para a plataforma, um som gritando correndo por suas
orelhas. Como ela deixou isso passar por ela? Como Brett sabia tanto? E
quem era ele? Ela o imaginou agora, o rosto largo e médio e os olhos
curiosos, os cabelos arenosos, aquele grande peitoral e os bíceps fortes...
Seu cérebro clicou nos detalhes do caso de Helena e da sua mãe. Então
ela olhou para cima, um novo frio correndo pela sua espinha. — Meu
Deus. Aerin. Os ossos da sua irmã apresentaram traumas muito agressivos
e de força contundente, certo?
Aerin piscou para ela. — Sim…
— Isso significa que alguém muito, muito forte a venceu antes dela
morrer, certo? — Sua voz tremia. — Alguém muito, muito mais forte do
que Marissa. Quero dizer, ela mal conseguiu mantê-la parada na festa, com
aquele pedaço de vidro.
— Ok, então, foi o Sr. Ingram quem a matou? — Aerin perguntou
lentamente.
Seneca balançou a cabeça. — Acho que não. Estou pensando que
talvez... talvez tenha sido um serial killer.
— Espera, o quê? — Madison gritou.
— Seneca, o que você quer dizer? — Maddox ficou horrorizado.
Seneca sentiu um nó na garganta. — Os ossos pélvicos de Helena
foram bastante espancados, não foram?
Um olhar aterrorizado atravessou o rosto de Aerin. — Co... como
você...?
Seneca entendeu o choque de Aerin — esse detalhe não estava nas
notícias. Os repórteres disseram que alguns dos ossos de Helena
apresentavam traumas muito violentos, mas não revelaram quais os ossos.
Havia algo talvez muito cruel e perverso sobre a discussão da região pélvica
de uma menina de dezessete anos de idade, o berço de todo o seu órgão
reprodutor florescente, os ossos nodosos que construíram seus quadris e
traseiro, com o público. Seneca sabia a verdade, no entanto, porque ela
havia conseguido ilegalmente um relatório do legista alguns anos atrás,
pagando dinheiro em um site questionável para consegui-lo. Na época, seus
olhos deslizaram sobre as palavras múltiplas fraturas no cóccix, no sacro, no
púbis, no ísquio, termos científicos para os ossos pélvicos, sem pensar muito
nisso. Mas talvez houvesse uma conexão hedionda. Um cartão de chamada
de um serial killer.
Talvez tenha havido uma razão cósmica para Seneca se sentir tão
atraída pelo caso de Helena. Como se o universo estivesse tentando dizer
algo a ela. Como havia uma ponte horrível entre as duas mortes.
Ela olhou para Aerin, com os olhos cheios de medo. — A pélvis da
minha mãe também foi esmagada. Da mesma maneira exata. E eu aposto
que se olharmos o relatório de Vera Grady, encontraremos o mesmo.
O trem guinchou como uma banshee, mas Seneca mal registrou sua
presença. Ela continuou olhando para Aerin, e ela olhava de volta, a
curiosidade, a estranheza e o erro absoluto disso caindo sobre eles. Só
depois que o trem parou completamente que Maddox ousou falar.
— Nós o deixamos fugir? — ele sussurrou.
Seneca só podia assentir. Talvez, horrivelmente, devastadoramente,
eles tivessem.
Depois
Traduzido por Napoleana

E ra bastante agradável ser Brett Grady, ele pensou enquanto se


sentava no restaurante em frente a Pousada Restful para uma última
xícara de café. Brett Grady tinha feito o trabalho. Brett Grady enganou a
todos, até mesmo Seneca, que agia como se não perdesse nada. Na
verdade, ele também podia continuar a se chamar Brett por mais tempo.
Por que diabos não? O nome tinha influência.
E assim, Brett Grady, nome verdadeiro não necessário, olhou seu
reflexo na janela suja. Ele já tinha cortado o cabelo mais curto no quarto
do hotel, e ele tirou o ridículo boné de beisebol que ele usou toda a semana.
Ele voltou a colocar os óculos; era bom ver bem novamente, finalmente
— as lentes de contatos nunca foram uma coisa sua. Ele tirou a berrante e
enorme camisa e as calças e os substituiu por camisa de botão e calças cáqui.
Fechou todos os botões. Colocou mocassins. Ele voltou para o estilo de
Todo Homem de Connecticut — mauricinho, sem graça, despercebido.
O tipo que se misturava muito bem. O tipo que as mulheres encaravam de
vez em quando.
Realmente, realmente o chateava quando elas começavam a olhar para
ele. E quando ele ficava chateado, ele se colocava em problemas.
Um apito de trem soou. Era o Metro-North, provavelmente. Tudo
acabou bem, pensou Brett. Ele não estava muito satisfeito porque a esposa
levou a culpa em vez disso, mas estava perto o suficiente. Era um conforto
saber que Skip Ingram ficaria atrás das grades. Todos sabiam agora que ele
era um molestador infantil. Sem mais convites para festas extravagantes
para ele.
Ainda assim. Se as pessoas não fossem tão tolas para começar. Se as
pessoas não fossem tão idiotas, esse mundo seria um lugar melhor. Coisas
ruins não teriam que acontecer.
— Quer uma recarga?
A garçonete que estava perto dele era a loira água de salsicha com os
seios flácidos que o esperava todos os dias desde que ele vinha aqui. Ela
nunca dava um sorriso para ele. Nunca ria de suas piadas. E ontem de
manhã, quando o viu entrar? Ela revirou os olhos.
— Isso seria adorável — ele disse. E então, lentamente, ele colocou
a mão sobre a dela. — O café aqui é realmente muito bom. Qual é o seu
segredo?
A mulher se encolheu. — Hum... eu não sei...
Ela tentou afastar a mão dela, mas ele a prendeu. Medo floresceu
sobre o seu rosto. Finalmente, ele levantou a mão como se nada tivesse
acontecido. Ela disparou para longe, abraçando a mão como se ele a tivesse
marcado. Quando ela olhou para ele por cima do seu ombro, ele lançou
um sorriso suave.
Brett tomou o resto no copo, largou um par de dólares na mesa e
ficou de pé. Mal sabia essa mulher que ela tinha patinado em gelo fino. Se
ela fosse um pouco mais bonita, se ela fosse mais o tipo dele, poderia acabar
muito mal para ela. Ele fechou os olhos, saboreando a maneira deliciosa
em que os tendões, tecidos e ossos cediam quando você comprimia um
pescoço. Aquele barulho satisfatório da coluna vertebral. Aquela sensação
triunfante, sabendo que suas mãos eram as únicas coisas que estavam entre
sua vida e a sua morte. Se eu mudasse de ideia sobre você, ele disse em silêncio
para a garçonete recuando, você imploraria por sua vida e eu simplesmente riria.
Mas ele pouparia a garçonete — ele tinha uma nova vítima em mente.
Uma garota que o rejeitou, apesar dele ser perfeito para ela. Uma garota
que ele conhecia muito bem, por dentro e por fora. Uma garota que queria
outra pessoa, alguém que não merecia seu amor.
Aerin Kelly, aquela vadia cruel e fria. Inferno, talvez ele fosse atrás de
seu novo namoradinho também.
Ele mal podia esperar.

Continua...
Próximo livro: Follow Me

Sinopse: Era a noite perfeita para uma festa.


Era, até Chelsea Dawson, de vinte e um anos de idade, ter desaparecido. A estrela
das redes sociais foi vista pela última vez desfrutando de uma bela noite de verão
na costa de Jersey com seus amigos. Mas depois de uma briga explosiva com seu ex-
namorado, ela desapareceu sem deixar vestígios.
Quando Seneca, Maddox, Aerin e Madison ouvem sobre o suspeito de sequestro,
eles percebem um detalhe chocante sobre a vítima: ela parece exatamente com a
irmã de Aerin, Helena, que foi morta cinco anos atrás. Seneca está convencida de
que ela sabe quem matou Helena, e ela não consegue afastar a sensação de que a
mesma pessoa levou Chelsea.
Desesperada por respostas sobre as duas garotas, e a verdade por trás do assassinato
de sua mãe, Seneca não vai parar por nada até descobrir se os casos estão
vinculados. Então, quando Maddox recebe um convite para a praia de ninguém
mais que seu principal suspeito, os Amadores começam uma intensa nova
investigação.

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