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FICHAMENTO

Simanke, R. T. (1994). A formação da teoria freudiana das psicoses. Rio de Janeiro: Ed.
34.

o arsenal teórico freudiano possui um certo potencial intrínseco para resolução de seus
impasses, de modo que não é necessário introduzir um excesso de elementos estrangeiros
na teoria para melhor definir seus conceitos (p.11).

a tese freudiana de 1924 atribui a psicose uma perturbação do vínculo com a


realidade – ‘A perda da realidade da neurose e na psicose’.

TEORIA DA ALUCINAÇÃO E PRIMEIRA VERSÃO DO APARELHO PSÍQUICO

as primeiras considerações freudianas sobre a alucinação remontam a dois


contextos gerais: a de suas relações com a memória e o funcionamento da defesa e em
relação a chamada “vivência de satisfação” e as origens do aparelho psíquico (Simanke,
1994).

neste momento da teorização freudiana – a dos estudos sobre a histeria – a


alucinação se refere àquilo que fica excluído do segundo estado de consciência, o que
Freud posteriormente denominaria retorno do reprimido.

é ainda como corpo estranho – termo empregado por Breuer – que o excluído retorna na
alucinação; como algo ainda não reconhecível pelo sujeito histérico, devido ao
rompimento dos laços associativos e causais que deveriam vinculá-lo ao restante da
consciência (p. 16).

Verificar: Novas observações sobre as neuropsicoses de defesa (1896); - “delírios que


interpretam alucinações”.

Verificar: A interpretação dos sonhos (1900); - o sonho como paradigma normal do


fenômeno alucinatório.

é ainda na última sessão dos ‘Estudos sobre a histeria’ (18XX), antes do ‘Projeto’
que se verificam os primeiros rudimentos do aparelho psíquico que viria a se constituir
teoricamente e ao qual, estaria intimamente ligada a problemática da alucinação
(Simanke, 1994, p.26).

Verificar: Nota 26 da obra de Simanke (1994) acerca do problema da espacialidade


referido a constituição do aparelho psíquico.

ALUCINAÇÃO, SONHO E SINTOMA NO PROJETO

a função primária do aparelho neuronal de manter em zero a quantidade no interior do


sistema e sua modificação secundária de, devido às exigências vitais, manter ao menos
esta quantidade constante no nível mais baixo possível irão dar margem à explicação da
origem deste mesmo aparelho e possibilitar o surgimento da noção de desejo, à qual virá
vincular-se estreitamente uma das teorias formuladas para a explicação do fenômeno
alucinatório (p. 30).

a história do conceito de desejo na teoria psicanalítica [...] se orienta para uma distinção
entre a necessidade de natureza orgânica e o desejo como movimento definidamente
psíquico em direção a um objeto, o qual se constitui a partir do registro da experiência
perceptiva do organismo [...]. Em A interpretação dos sonhos (1900), ele definirá como
desejo o esforço psíquico para investir novamente o traço mnêmico deixado pela
percepção do objeto que proporcionou a primeira experiência de satisfação (p. 33).

[...] esta animação do desejo há que produzir, inicialmente, o mesmo efeito que a
percepção, a saber, uma alucinação (Freud citado por Simanke, 1994, p. 33).

Eis, portanto, a alucinação definida como uma estratégia primária, ainda que inadequada,
para o sistema obter a satisfação do desejo (p. 34).

o fim e o sentido dos sonhos (ao menos dos normais) se podem estabelecer com certeza.
São realizações de desejo, vale dizer, processos primários seguindo as vivências de
satisfação (...); o investimento de desejo primário foi também de natureza alucinatória
(Freud citado por Simanke, 1994, p. 37).

a alucinação é, essencialmente, a reprodução imediata de uma percepção. Nesse sentido,


ela é antes o fracasso do que o resultado da repressão. Em vez de a coisa ser
completamente substituída pelo símbolo, é a coisa mesma que retorna, sem mediações,
como esteve ou poderia ter estado presente um dia. É nesse sentido que a alucinação não
se beneficia do caráter de agente infiltrante, permanecendo sempre como “corpo
estranho” (Simanke, 1994, p. 42).

No nível do Projeto..., portanto, existem três conjuntos de circunstâncias que permitem a


emergência do fenômeno alucinatório primário: 1) na proto-história do sistema, quando
inexiste ainda uma organização comparável ao ego; 2) durante o sono, quando a queda
generalizada nos níveis de excitação endopsíquica torna dispensável a função secundária
e, ao mesmo tempo, possível e inócua a revivescência alucinatória; 3) quando o processo
defensivo atinge um ponto tal que induz ao afastamento total ou parcial entre o ego e a
realidade, permitindo o retorno à estratégia primária para a realização de desejos (p. 47).

A EVOLUÇÃO DO APARELHO

Freud dirá que a consciência do pensar no pré-consciente provavelmente dependa da


reanimação alucinatória de representações de palavra. Ora, uma palavra alucinada é
uma palavra reproduzida apenas como signo perceptual auditivo. Para que ela possa fazer-
se consciente, em outras palavras, para que ela possa tornar-se um pensamento dotado de
sentido, deve experimentar ainda as outras transcrições possíveis. Neste sentido, a
alucinação estaria em uma relação muito mais imediata com a percepção pura do
que os modos normais de tomada de consciência da informação perceptiva. Forçando
sua entrada na consciência pela via regressiva, a alucinação não faria, inicialmente,
sentido algum para o sujeito que a experimenta, mesmo que seu material sensorial
fosse composto pelas imagens auditivas das palavras (alucinação verbal), devendo
ser posteriormente “interpretada” por esta outra formação sintomática que lhe está
estreitamente associada, ou seja, o delírio (p. 52).
Verificar: “Carta 52”; - das relações entre memória e consciência no novo modelo
do aparelho psíquico.

ALUCINAÇÃO, REGRESSÃO E DESEJO

a alucinação pura representaria, então, o limite absoluto do processo regressivo (p. 53).

Freud não vai mais abandonar a ideia de que a repressão visa evitar a irrupção de um afeto
desprazeroso, nem que a realização de desejo encontre-se na origem da alucinação.
Ocorre apenas que a evolução da teoria e a generalização do mecanismo da repressão
permitiram a Freud dar conta de como uma experiência de satisfação do desejo pôde vir
a tornar-se desprazerosa e, portanto, suscetível à ação da defesa. Assim, é possível
explicar a ocorrência patológica de alucinações, sem abrir mão do papel determinante da
repressão. Isto posto, o problema passa a ser: como é possível ocorrer uma regressão tão
extremada a ponto de investir as imagens perceptivas durante a vida de vigília? (p. 63).

Neste sentido, tanto o sonho quanto a alucinação podem ser considerados como
substitutos, no presente, da cena infantil reprimida no passado. Tendo em conta que
ambos os fenômenos estão intimamente ligados à satisfação do desejo, percebe-se o
alcance daquela afirmação de que o presente é o tempo em que o desejo surge como
realizado. Mais adiante, Freud afirma que “o inconsciente sabe apenas desejar”, ou seja,
este último vive exclusivamente no eterno presente da exigência de satisfação do desejo
(p. 64).

estas observações dão margem a que se distingua entre a alucinação e a simples


recordação de uma imagem sensorial. Esta última seria um caso de “regressão da vida
anímica normal”, sem um “total investimento alucinatório dos sistemas perceptivos”,
permanecendo o sujeito capaz, portanto, de continuar recebendo informação oriunda do
mundo externo e de distinguir entre a realidade e a cena recordada (p. 65).

Assim, para ocorrer uma alucinação durante a vigília, bastará que a atração exercida pela
representação reprimida tenha uma intensidade tal que lhe permita superar o obstáculo
colocado pela corrente progressiva e, ainda, conduzir o processo excitatório até a
reativação completa das imagens perceptivas (p. 65).

Um componente essencial desta vivência [de satisfação] é a aparição de uma certa


percepção [a nutrição, em nosso exemplo] cuja imagem mnêmica fica, daí em diante,
associada ao traço que deixou na memória a excitação produzida pela necessidade. A
próxima vez em que esta última sobrevenha, graças ao enlace assim estabelecido, será
suscitada uma moção psíquica que quererá investir de novo a imagem mnêmica daquela
percepção e produzir outra vez a percepção mesma, vale dizer, na verdade, restabelecer a
situação da satisfação primeira. Uma moção desta índole é o que chamamos desejo; a
reaparição da percepção é a realização do desejo, e o caminho mais curto para esta é o
que leva desde a excitação produzida pela necessidade até o investimento pleno da
percepção. Nada nos impede de supor um estado primitivo do aparelho psíquico em que
esse caminho se transitava realmente desta maneira e, portanto, o desejar terminava em
um alucinar (Freud citado por Simanke, p. 67).
Portanto, o pensar não é senão o substituto do desejo alucinatório e, no ato, torna-se
evidente que o sonho é uma realização de desejo, uma vez que somente um desejo pode
impulsionar nosso aparelho anímico ao trabalho (Freud citado por Simanke, p. 68).

Nas psicoses, voltam a impor-se estes modos de trabalho psíquico que, na vigília, estão
sufocados em qualquer outro caso, e, então, mostram à luz do dia sua incapacidade para
satisfazer nossas necessidades frente ao mundo exterior (Freud, citado por Simanke, p.
69 In A interpretação dos sonhos, C., Acerca do cumprimento dos desejos).

Nas psicoses, voltam a impor-se estes modos de trabalho do aparelho psíquico que, na
vigília, estão sufocados em qualquer outro caso, e, então, mostram à luz do dia sua
incapacidade para satisfazer nossas necessidades frente ao mundo exterior (Freud citado
por Simanke, p. 69, In Op. Cit.).

Menos inofensiva é a situação quando o deslocamento de forças não é produzido pelo


relaxamento noturno do gasto de forças da censura crítica, mas sim por um debilitamento
patológico desta ou por um reforço patológico das excitações inconscientes, enquanto o
pré-consciente está investido e as portas para a motilidade estão abertas. Em tais casos, o
guardião é subjugado, as excitações inconscientes submetem o Prcc e, desde aí, governam
nossa fala e nossa ação ou forçam a regressão alucinatória e guiam o aparelho, que não
lhes está destinado, em virtude da atração que as percepções exercem sobre a distribuição
de nossa energia psíquica. A este estado, o chamamos psicose (Freud citado por Simanke,
p. 70, In Op. Cit.).

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