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RESENHA
GILBERT, Paul. Introdução à teologia medieval. Tradução Dion Davi Macedo. São Paulo,
Loyola, 1999.
de pesquisa. Foi-se criando, assim, uma nova cultura sobre as ruínas da tradição latina abatida
pelas invasões bárbaras. Entre as novidades trazidas pelas escolas figuram, sobremaneira, a
disputatio e a suma.
Gilbert destaca que a partir do ano 1050, a Europa desperta verdadeiramente para as
joias da cultura e da reflexão, são desse período grandes autores como Anselmo de Cantuária,
Abelardo e São Bernardo. Marcando um autêntico renascimento cultural na segunda metade
do século XI que se estenderá e ganhará forças no século seguinte.
O século XIII verá surgir um grande nome com São Boaventura. De matriz filosófica
ainda totalmente platônica e agostiniana, mas já com aberturas ao “novo” filósofo que a
Europa começava a descobrir, Aristóteles. A luta pela aceitação ou rechaço ao estagirita
haveria de durar mais de um século e só seria dirimida graças à contribuição do outro nome de
peso colossal da Idade Média: Santo Tomás de Aquino.
Santo Tomás, teólogo dominicano, por sua competência extraordinária, logo haveria
de se tornar uma das maiores referências da reflexão teológica de todos os tempos,
especialmente por ter concebido um sistema muito amplo e muito unificado que acolhia com
imparcialidade as teses e os procedimentos aristotélicos que fascinavam a época. Com Tomás
surge, de fato, uma nova cultura teológica. Sua obra prima é a Suma Teológica que, com seus
doze tomos, trata de todos os temas teológicos além de questões pertinentes à ética social,
antropologia e filosofia política.
Com Tomás a cultura teológica ocidental atinge o seu clímax na Idade Média. Porém,
mais uma vez, circunstancias externas, como a guerra dos cem anos, a peste negra e as
consequentes carestias, trouxeram ao século seguinte à morte de Tomás novas fraturas e
tempo de instabilidade na produção teológica ocidental.
Com tudo isso, entretanto, o autor faz-nos ver que o pensamento medieval está longe
de ser morto ou não inventivo. Muito ao contrário, é dele que nasce a razão moderna, ele lhe
prepara seus verdadeiros arcabouços teóricos e lhe transmite os tesouros da tradição greco-
latina. Em síntese, na teologia da Idade Média, temos uma reflexão não fechada à razão livre,
mas que na liberdade desta a une ainda mais poderosamente ao contributo da fé.
A leitura da obra de Gilbert tem, assim, muito a contribuir não apenas ao estudante de
teologia, mas a qualquer pessoa que procure conhecer mais profundamente a cultura
ocidental, gestada nesse período tão rico, e paradoxalmente tão incompreendido, que foi a
Idade Média.