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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 67.476 - SP (2016/0019486-0)

RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA


RECORRENTE : ROBERTO PRESZ PALMAKA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON
LUISA MORAES ABREU FERREIRA
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
EMENTA

PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS


CORPUS . CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. TRANCAMENTO.
ATIPICIDADE DA CONDUTA. DETERMINAÇÃO DE
INTERCEPTAÇÃO DE CORREIO ELETRÔNICO. EMPRESA DE
INFORMÁTICA QUE NÃO ADIMPLIU ORDEM JUDICIAL.
IMPOSIÇÃO DE MULTA DIÁRIA. NATUREZA COERCITIVA.
POSTERIOR IMPUTAÇÃO DO DELITO DE DESOBEDIÊNCIA.
CUMULAÇÃO DE SANÇÕES. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO
LEGAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. OCORRÊNCIA. RECURSO
PROVIDO.
1. O trancamento da ação penal em sede de recurso ordinário em habeas
corpus é medida excepcional, somente se justificando se demonstrada,
inequivocamente, a ausência de autoria ou materialidade, a atipicidade da
conduta, a absoluta falta de provas, a ocorrência de causa extintiva da
punibilidade ou a violação dos requisitos legais exigidos para a exordial
acusatória.
2. Na espécie, o magistrado de primeiro grau determinou a quebra do sigilo
da correspondência eletrônica de um investigado usuário do serviço
prestado pela empresa Microsoft Informática Ltda. e, diante da não
implementação da interceptação, foi fixada multa diária pelo
descumprimento, determinando-se, ainda, a instauração de termo
circunstanciado por crime de desobediência.
3. Mostra-se indevida a cumulação de sanções sem expressa previsão legal,
pois quando o legislador intentou associar a imposição de multa juntamente
com a imputação delitiva por desobediência fê-lo explicitamente, como na
hipótese do artigo 219 do Código de Processo Penal.
4. O artigo 14, inciso V e parágrafo único, do Código de Processo Civil de
1973 c.c. o artigo 3.º do Código de Processo Penal não respalda a junção de
sanções, visto que o citado regramento refere-se à multa processual, de
natureza punitiva e compensatória, sendo a multa aqui em liça cominatória,
de natureza coercitiva, para impelir o destinatário a cumprir o decidido em
via judicial, persuadindo-o.
5. Evidenciando-se a inexistência de previsão legal para que o agente
responda também por crime de desobediência, além da anterior imposição
de multa diária pelo descumprimento da ordem emanada por juiz togado,
deve ser expurgada a indevida cumulação das sanções, dada a ausência de
adequação típica da conduta imputada.
6. Recurso provido a fim de reconhecer a atipicidade da conduta irrogada ao
recorrente e determinar o trancamento do processo criminal.
Documento: 1506690 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/05/2016 Página 1 de 19
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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da SEXTA Turma do Superior Tribunal de Justiça: A Sexta Turma,
por unanimidade, deu provimento ao recurso em habeas corpus, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Nefi
Cordeiro e Antonio Saldanha Palheiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Dr(a). ALBERTO ZACHARIAS TORON, pela parte RECORRENTE:
ROBERTO PRESZ PALMAKA

Brasília, 26 de abril de 2016(Data do Julgamento)

Ministra Maria Thereza de Assis Moura


Relatora

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RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 67.476 - SP (2016/0019486-0)
RELATORA : MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
RECORRENTE : ROBERTO PRESZ PALMAKA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON
LUISA MORAES ABREU FERREIRA
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

RELATÓRIO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora):

Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus , sem pedido liminar,


interposto por ROBERTO PRESZ PALMAKA, contra acórdão do Tribunal Regional
Federal da 3ª Região (HC n.º 0007260-84.2015.4.03.0000/SP).
Depreende-se dos autos que o recorrente, Diretor Financeiro da Microsoft
Informática Ltda., foi denunciado, em 24.7.2014, pela suposta prática do crime previsto no
art. 330 do Código Penal, pois, segundo a incoativa, "consciente e voluntariamente ao fixar
as diretrizes para cumprimento ou não de ordem judicial pela empresa, desobedeceu ordem
legal, proferida pelo Juízo da 9.ª Vara Criminal Federal, de quebra de sigilo telemático de
conta e-mail registrada no domínio Hotmail" (fl. 26) - Termo Circunstanciado n.º
0012174.49.2013.4.03.6181, da 5.ª Vara Criminal Federal da Subseção Judiciária de São
Paulo/SP.
Manejado mandamus , foi deferida a liminar suspendendo o feito. Contudo,
a ordem foi denegada pela Turma Recursal - HC n.º 0000011-49.2014.4.03.6101 (fls.
17/24).
Não se conformando, a defesa impetrou habeas corpus perante o Tribunal
Federal, que não atendeu ao intento defensivo de trancamento da ação penal. Eis a ementa
do aresto (fls. 137/138):

"HABEAS CORPUS . TURMA RECURSAL. COMPETÊNCIA.


TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL. DESOBEDIÊNCIA. ORDEM
JUDICIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, ART. 14, PARÁGRAFO
ÚNICO. MULTA. RESSALVA EXPRESSA: 'SEM PREJUÍZO DAS
SANÇÕES CRIMINAIS'. ADMISSIBILIDADE DE TIPIFICAÇÃO
PENAL.
1. Considerando que os juízes integrantes das Turmas Recursais dos
Juizados Especiais estão submetidos, nos crimes comuns e de
responsabilidade, à jurisdição do Tribunal de Justiça ou do Tribunal
Regional Federal, incumbe a cada qual o julgamento dos habeas corpus
impetrados contra atos que tenham praticado.
2. Discute-se acerca da configuração do delito de desobediência de
ordem judicial que, com fundamento no parágrafo único do art. 14 do
Código de Processo Civil tenha cominado multa. Como se sabe, a
jurisprudência é no sentido de que, na hipótese de haver previsão de sanção
civil ou administrativa, não se tipifica o delito, seguindo a doutrina de
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Nélson Hungria (HUNGRIA, Nélson, Comentários ao Código Penal. Rio de
Janeiro, Forense, 1959, vol. IX, p. 420). Embora não se configure o delito de
desobediência quando houver sanção civil ou administrativa, admite-se a
tipificação na hipótese de expressa ressalva da aplicação cumulativa do art.
330 do Código Penal. A doutrina é no sentido de que, malgrado a existência
de sanção civil ou administrativa, havendo ressalva, tipifica-se o crime de
desobediência (FRAGOSO, Heleno Cláudio, Lições de Direito Penal: Parte
Especial, 5a ed., Rio de Janeiro, Forense, 1986, 459, n. 1.139; JESUS,
Damásio, Direito Penal: Parte Especial, 16.ª ed., São Paulo, Saraiva, v. 4, p.
259, n. 7; BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, 5: Parte
Especial: dos crimes contra a Administração Pública: Dos crimes praticados
por prefeitos, 4a ed.,' São Paulo, Saraiva, 2010, p. 205, n. 4.1; NUCCI,
Guilherme de Souza, Código Penal Comentado, 4a ed., São Paulo, Revista
dos Tribunais, 2003, p. 891, n. 29; DELMANTO, Celso et al., Código Penal
Comentado, 8a ed., São Paulo, Saraiva, 2010, p. 942). Não há dúvida,
portanto, que a ressalva quanto ao crime de desobediência rende ensejo à
tipificação do fato. Poderia, sem embargo, haver ainda alguma incerteza
quanto ao caso particular do parágrafo único do art. 14 do Código de
Processo Civil, o qual não se refere, nominalmente, ao crime de
desobediência nem ao art. 330 do Código Penal, mas apenas aduz a
expressão usual 'sem prejuízo das sanções criminais', além de autorizar a
aplicação de multa. A ressalva contida no dispositivo para a aplicação das
sanções penais, escusado dizer, não exclui a incidência do art. 330 do
Código Penal. A matéria resolve-se pelos critérios gerais de aplicação da lei
penal, pelo princípio da especialidade: se houver sanção penal prevista em
lei especial, tipifica-se o respectivo delito. Caso contrário, claro está,
tipifica-se o delito de desobediência. A cominação de multa, igualmente,
não afasta a tipificação. A hipótese é análoga à do art. 219 do Código de
Processo Penal, exemplo canônico de tipificação do art. 330 do Código
Penal. Tanto o parágrafo único do art. 14 do Código de Processo Civil
quanto o art. 219 do Código de Processo Penal preveem multa para o
descumprimento de ordem judicial, sem prejuízo da sanção penal, cuja
tipificação, repita-se, depende da existência ou não de previsão típica em lei
especial.
3. O paciente é representante legal da empresa, fato constatado pelo
Parquet Federal e referido na denúncia. A ordem judicial foi parcialmente
cumprida pela empresa em 04.10.13, a indicar que o paciente tinha
atribuição para tal incumbência.
4. Observo que a Lei n. 9.296/96, aplicável à interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática, ao tratar da quebra
de sigilo telemático não comina pena para o descumprimento de ordem
judicial com essa finalidade. Não há, portanto, tipificação específica para a
conduta imputada ao paciente, a qual, todavia, é passível em tese de
subsunção àquela prevista no art. 330 do Código Penal.
5. Ordem de habeas corpus denegada."

Adveio, então, o presente recurso ordinário, no qual alega o insurgente que


"só é possível a cumulação da multa diária imposta pelo juiz para o descumprimento de
sua ordem com o crime de desobediência quando o houver, no próprio dispositivo legal,
ressalva permitindo a cumulação", caso contrário, não (fl. 143).
Enaltece que, na hipótese de descumprimento de quebra de sigilo telefônico
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e telemático, não existe qualquer previsão legal para a referida cumulação, mostrando-se,
assim, atípica a imputação do delito de desobediência.
Sustenta, ainda, a ilegitimidade passiva do acusado, pois, para a
configuração do crime de desobediência, a ordem deve ser individualizada e direta para
quem deve cumprí-la, sendo que a determinação judicial nunca foi dirigida ao increpado -
Diretor Financeiro da Microsoft - ou mesmo ao seu departamento, vez que endereçada e
encaminhada ao Diretor do Departamento Jurídico da mencionada empresa.
Ressalta que o réu não foi o destinatário das ordens, somente assinando o
último ofício recebido, o que não justifica a ação penal pelo descumprimento de
determinações judiciais que não lhe eram endereçadas.
Pugna, ao final, pelo provimento recursal, nos termos do pedido do prévio
mandamus: "para reconhecer a atipicidade da conduta imputada ao paciente, trancando-se
a ação penal n.º 0012174-49.2013.403.6181" (fl. 16).
As contrarrazões não foram apresentadas.
O Tribunal de origem remeteu o recurso para esta Corte à fl. 165.
Nos autos da MC n.º 25.495/SP, ajuizada em prol do ora recorrente, foi
deferida a liminar para suspender a ação penal até o julgamento do mérito desta
insurgência, sendo a medida cautelar apensada aos presentes autos (fls. 181/182).
Com vista dos autos, o Ministério Público Federal opinou, em parecer da
lavra do Subprocurador-Geral Francisco Rodrigues dos Santos Sobrinho, pelo parcial
provimento do recurso ordinário, apenas para "que seja considerada atípica a conduta de
desobediência imputada ao recorrente" (fls. 194/197).
É o relatório.

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EMENTA

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CORPUS . CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. TRANCAMENTO.
ATIPICIDADE DA CONDUTA. DETERMINAÇÃO DE
INTERCEPTAÇÃO DE CORREIO ELETRÔNICO. EMPRESA DE
INFORMÁTICA QUE NÃO ADIMPLIU ORDEM JUDICIAL.
IMPOSIÇÃO DE MULTA DIÁRIA. NATUREZA COERCITIVA.
POSTERIOR IMPUTAÇÃO DO DELITO DE DESOBEDIÊNCIA.
CUMULAÇÃO DE SANÇÕES. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO
LEGAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. OCORRÊNCIA. RECURSO
PROVIDO.
1. O trancamento da ação penal em sede de recurso ordinário em habeas
corpus é medida excepcional, somente se justificando se demonstrada,
inequivocamente, a ausência de autoria ou materialidade, a atipicidade da
conduta, a absoluta falta de provas, a ocorrência de causa extintiva da
punibilidade ou a violação dos requisitos legais exigidos para a exordial
acusatória.
2. Na espécie, o magistrado de primeiro grau determinou a quebra do sigilo
da correspondência eletrônica de um investigado usuário do serviço
prestado pela empresa Microsoft Informática Ltda. e, diante da não
implementação da interceptação, foi fixada multa diária pelo
descumprimento, determinando-se, ainda, a instauração de termo
circunstanciado por crime de desobediência.
3. Mostra-se indevida a cumulação de sanções sem expressa previsão legal,
pois quando o legislador intentou associar a imposição de multa juntamente
com a imputação delitiva por desobediência fê-lo explicitamente, como na
hipótese do artigo 219 do Código de Processo Penal.
4. O artigo 14, inciso V e parágrafo único, do Código de Processo Civil de
1973 c.c. o artigo 3.º do Código de Processo Penal não respalda a junção de
sanções, visto que o citado regramento refere-se à multa processual, de
natureza punitiva e compensatória, sendo a multa aqui em liça cominatória,
de natureza coercitiva, para impelir o destinatário a cumprir o decidido em
via judicial, persuadindo-o.
5. Evidenciando-se a inexistência de previsão legal para que o agente
responda também por crime de desobediência, além da anterior imposição
de multa diária pelo descumprimento da ordem emanada por juiz togado,
deve ser expurgada a indevida cumulação das sanções, dada a ausência de
adequação típica da conduta imputada.
6. Recurso provido a fim de reconhecer a atipicidade da conduta irrogada ao
recorrente e determinar o trancamento do processo criminal.

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VOTO

MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA (Relatora):

A questão trazida a deslinde neste recurso cinge-se à i) atipicidade da


conduta do insurgente, ante a impossibilidade de cumulação da multa diária imposta pelo
juiz e a imputação do crime de desobediência; ii) inexistência de previsão para a
cumulação na Lei n.º 9.296/96; iii) ilegitimidade passiva do acusado - Diretor Financeiro
da Microsoft -, pois não seria o destinatário da determinação judicial, mas sim o Diretor do
Departamento Jurídico da mencionada empresa.
Nesse contexto, confira-se o teor da decisão que determinou a apuração
criminal do descumprimento da ordem judicial, datada em 19.9.2013, no que interessa (fls.
37/38):

"(...)
Diante desse quadro, em que o acórdão proferido no Mandado de
Segurança n° 0004018-88.2013.403.0000 denegou o writ, tornando sem
efeito a liminar concedida, inexiste qualquer impedimento para que a ordem
de interceptação telemática ordenada por este Juízo e dirigida à Microsoft
Informática Ltda. seja cumprida, bem como para que incida a multa
estabelecida pelo descumprimento da determinação judicial.
Em face de todo o exposto, indefiro o pedido formulado às fls.
5297/5299 pela Microsoft Informática Ltda. e determino a intimação do
representante legal da nominada empresa para que, no prazo de 24 (vinte e
quatro) horas, implemente a interceptação do fluxo tetemático, bem como
recolha a multa fixada pelos dias de descumprimento da ordem até a
presente data e, também, pelos dias que sucederem ao presente até o efetivo
atendimento da ordem judicial.
Até o dia 03.09.2013, a multa alcançava o montante de R$ 650.000,00
(seiscentos e cinqüenta mil reais) - fls. 4625. Considerando que o
descumprimento da ordem judicial persiste até o presente momento, tendo
decorrido mais 16 (dezesseis) dias daquela data, soma-se àquele valor a
quantia de R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais), perfazendo o valor total de
1.450.000,00 (um milhão, quatrocentos e cinquenta mil reais).
Diante de todo o exposto determino, a expedição de ofício à empresa
Microsoft Informática Ltda. determinando o cumprimento imediato da
ordem judiciai de interceptação do fluxo telemático do e-mail (...), na forma
exposta no ofício 029/2013-GAB, bem como para que recolha a multa diária
decorrente do descumprimento da ordem judicial, atualmente no valor de R$
1.450.000,00 (um milhão, quatrocentos e cinquenta mil reais), ao qual
deverá ser somado R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada dia
subquente à presente data em que persistir o não atendimento da ordem
judicial.
Comunique-se à autoridade policial para que acompanhe a
implementação da interceptação do fluxo telemático, comunicando a este
Juízo as ocorrências que se verificarem.:
Por fim, considerando que o descumprimento de ordem judicial
caracteriza crime tipificado na lei penal (art. 330 do Código Penal), deverá a
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autoridade policial promover a instauração de termo circunstanciado pela
prática do crime de desobediência, nos termos do artigo 69, caput e
parágrafo único, da Lei n.° 9.099/95, em face do representante legal da
empresa Microsoft Informática Ltda., compelindo-o à sede da Polícia
Federal para assinatura do termo e assunção do compromisso de comparecer
em Juízo.
(...)"

Após o julgamento de writ pela Turma Recursal, o Colegiado Federal assim


se manifestou sobre as alegações defensivas (fls. 129/139):

"Habeas corpus . Turma Recursal. Competência. Tribunal Regional


Federal. Considerando que os juízes integrantes das Turmas Recursais dos
Juizados Especiais estão submetidos, nos crimes comuns e de
responsabilidade, à jurisdição do Tribunal de Justiça ou do Tribunal
Regional Federal, incumbe a cada qual o julgamento dos habeas corpus
impetrados contra atos que tenham praticado:
(...)
Desobediência. Ordem judicial. CPC, art. 14, parágrafo único.
Tipificação. Discute-se acerca da configuração do delito de desobediência
de ordem judicial que, com fundamento no parágrafo único do art. 14 do
Código de Processo Civil tenha cominado multa. Como se sabe, a
jurisprudência é no sentido de que, na hipótese de haver previsão de sanção
civil ou administrativa, não se tipifica o delito, seguindo a doutrina de
Nélson Hungria:
'Se, pela desobediência de tal ou qual ordem oficial, alguma lei comina
determinada penalidade administrativa ou civil, não se deverá reconhecer o
crime em exame, salvo se a dita lei ressalvar expressamente a cumulativa
aplicação do art. 330 (ex.: testemunha faltosa, segundo o art. 219 do Cód.
De Proc. Penal, está sujeita não só à prisão administrativa e pagamento
das custas da diligência da intimação, como a 'processo penal por crime de
desobediência').'
(HUNGRIA, Nélson, Comentários ao Código Penal . Rio de Janeiro,
Forense, 1959, vol. IX, p. 420)
Embora não se configure o delito de desobediência quando houver
sanção civil ou administrativa, admite-se a tipificação na hipótese de
expressa ressalva da aplicação cumulativa do art. 330 do Código Penal. A
doutrina é no sentido de que, malgrado a existência de sanção civil ou
administrativa, havendo ressalva, tipifica-se o crime de desobediência
(FRAGOSO, Heleno Cláudio, Lições de Direito Penal: Parte Especial , 5ª
ed., Rio de Janeiro, Forense, 1986, 459, n. 1.139; JESUS, Damásio, Direito
Penal : Parte Especial , 16ªed., São Paulo, Saraiva, v. 4, p. 259, n. 7;
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, 5: Parte
Especial: dos crimes contra a Administração Pública: Dos crimes
praticados por prefeitos , 4ª ed., São Paulo, Saraiva, 2010, p. 205, n. 4.1;
NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado , 4ª ed., São Paulo,
Revista dos Tribunais, 2003, p. 891, n. 29; DELMANTO, Celso et al.,
Código Penal Comentado , 8ª ed., São Paulo, Saraiva, 2010, p. 942).
Não há dúvida, portanto, que a ressalva quanto ao crime de
desobediência rende ensejo à tipificação do fato. Poderia, sem embargo,
haver ainda alguma incerteza quanto ao caso particular do parágrafo único
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do art. 14 do Código de Processo Civil, o qual não se refere, nominalmente,
ao crime de desobediência nem ao art. 330 do Código Penal, mas apenas
aduz a expressão usual "sem prejuízo das sanções criminais", além de
autorizar a aplicação de multa:
Art. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma
participam do processo:
'(...)
V - cumprir com exatidão os provimentos judiciais, de natureza
antecipatória ou final.
Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos
da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato
atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das
sanções criminais , civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável
multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e
não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo
estabelecido, contado do trânsito da decisão final da causa, a multa será
inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado.'
A ressalva contida no dispositivo para a aplicação das sanções penais,
escusado dizer, não exclui a incidência do art. 330 do Código Penal. A
matéria resolve-se pelos critérios gerais de aplicação da lei penal, pelo
princípio da especialidade: se houver sanção penal prevista em lei especial,
tipifica-se o respectivo delito. Caso contrário, claro está, tipifica-se o delito
de desobediência.
A cominação de multa, igualmente, não afasta a tipificação. A hipótese é
análoga à do art. 219 do Código de Processo Penal, exemplo canônico de
tipificação do art. 330 do Código Penal:
'Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista
no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência e
condená-la ao pagamento das custas da diligência.'
Tanto o parágrafo único do art. 14 do Código de Processo Civil quanto o
art. 219 do Código de Processo Penal preveem multa para o
descumprimento de ordem judicial, sem prejuízo da sanção penal, cuja
tipificação, repita-se, depende da existência ou não de previsão típica em lei
especial.
Do caso dos autos. A impetração se insurge contra acórdão da 1ª Turma
Recursal da 1ª Subseção Judiciária de São Paulo que denegou ordem de
habeas corpus e determinou o regular processamento da Ação Penal n.
0012174-49.2013.403.6181 que o paciente responde pelo crime de
desobediência perante o Juízo da 5ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
Alega-se, em síntese, a falta de legitimidade do paciente para cumprir
ordem judicial direcionada ao Diretor do Departamento Jurídico da empresa
Microsoft Corporation Ltda., bem como a atipicidade da conduta em razão
da cominação expressa de multa no caso de descumprimento das ordens
judiciais.
Segundo a denúncia, Roberto Presz Palmaka, na condição de
responsável legal pela empresa Microsoft informática Ltda., a partir de
21.02.13, desobedeceu ordens legais emanadas do Juízo da 9ª Vara Criminal
Federal para a quebra de sigilo telemático de conta de e-mail registrada no
domínio Hotmail .
Consta da peça acusatória que, em 07.02.13, nos autos do Procedimento
de Quebra de Sigilo n. 0006860.59.012.403.6181 em trâmite perante a 9ª
Vara Criminal Federal, determinou-se à empresa Microsoft a interceptação
de fluxo de dados telemáticos de conta de e-mail registrada no Hotmail , bem
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como a criação de conta espelho, sob pena de multa diária no valor de
R$50.000,00 (cinquenta mil reais) em caso de descumprimento (fls. 25/32).
Dessa decisão juntou-se aos autos inicialmente tão somente a primeira folha
do ofício contendo a ordem judicial dirigida ao diretor da empresa:
'Senhor Diretor
1 - A fim de instruir os autos em epígrafe e com fundamento nos artigos
234 do Código de Processo Penal e 339 do CPC e 341, inciso II, do CPC,
estes aplicáveis ao caso por força do artigo 3º do Código de Processo
Penal, e com fundamento nos artigos 1º, 2º, 3º, 4º e 5º da Lei n. 9.296/96,
determino à empresa MICROSOFT CORPORATION INC (A/C
MICROSOFT INFORMÁTICA LTDA.), sob as penas da lei penal, civil e
administrativa, que realize a interceptação do fluxo de dados telemáticos
referente à conta emailxxx@hotmail.com, pelo prazo de 15 (quinze) dias (a
contar da efetiva implementação da medida).
2 - Determino ainda à mencionada empresa a criação de 'conta
espelho', encaminhando a senha de acesso diretamente à autoridade
policial supra mencionada.
3 - A transferência do sigilo se estende ao conteúdo de todas as
mensagens enviadas e recebidas pelo endereço eletrônico sob
monitoramento.
4 - Consigno desde logo que a senha a ser fornecida não permite a
interceptação de endereços eletrônicos que entrarem em contato com o ora
interceptado.
5 - Desde já, tendo em vista que a empresa Microsoft, reiteradamente,
em casos análogos, não tem atendido as determinações judiciais de
interceptação de e-mails
1 de 2' (fl. 33)
Posteriormente, com a petição de fls. 112/113, o impetrante promoveu a
juntada aos autos da cópia da segunda folha do ofício contendo a ordem
judicial dirigida à empresa:
'por ela administrados, fixo multa diária no valor de R$ 50.000,00
(cinqüenta mil reais), em caso de não cumprimento imediato da presente
determinação.
6 - Participam da presente investigação: Delegada de Polícia Federal
CECÍLIA MACHADO MECHICA MIGUEL, matrícula 9468; e os policiais
federais FERNANDO PORTO TELES PIRES JÚNIOR, matrícula 17.515 e
YURI BIANCHINI, matrícula 18.035, só poedneo ser estendido a outros
agentes policiais por meio de autorização expressa e escrita deste Juízo.
7 - As transferências de sigilo são para fins criminais.
8 - Determino que a transferência de sigilo ora autorizada restrinja-se
apenas às autoridades e servidores diretamente afetos à condução das
presentes investigações, observando-se que todos quantos manusearem os
autos respondem pessoal e diretamente pelos danos decorrentes do uso das
informações a serem coligidas, consoantes artigos 153 e 154 do Código
Penal, 116, inciso VIII, da Lei n. 8.112/90 e 927 do Código Civil/02.
9 - A implementação da quebra de sigilo ora determinada deverá ser
cumprida dentro de 2h p/SMP e 24h p/ demais serviços, contadas do
recebimento. Caso não seja tecnicamente possível, a prestadora de serviço
deverá comunicar de forma circunstanciada a este Juízo e à autoridade
responsável, no prazo de 24h, as dificuldades encontradas e o prazo
previsto, em hora, para implementação da medida.
10 - O ofício resposta deverá indicar o número do procedimento, sob
pena de recusa de seu recebimento pela secretaria judicial.
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11 - Esta requisição não terá validade se contiver qualquer rasura ou
acréscimo de números.
Atenciosamente (...).' (fl. 114)
Contra essa decisão judicial, a empresa interpôs o Mandado de
Segurança n. 2013.03.00.004018-0 perante esta Corte. A liminar foi deferida
para suspender os efeitos do comando judicial, sendo que, em 15.08.13, a 1ª
Seção, por maioria, denegou a segurança.
Por força do acórdão, o Juízo da 9ª Vara Federal Criminal determinou,
em 03.09.13, o cumprimento da ordem judicial de interceptação de dados e
o recolhimento de multa diária pelo descumprimento já iniciado (fl. 34).
No entanto, a empresa Microsoft Ltda. interpôs embargos de declaração
contra o acórdão do mandado de segurança, procurando sobrestar o
cumprimento da decisão até o julgamento do recurso. Negada a suspensão
dos efeitos da decisão impugnada, foi determinado ao representante legal da
empresa a implementação da interceptação do fluxo telemático e o
recolhimento de multa por descumprimento de ordem judicial:
'Em face de todo o exposto, indefiro o pedido formulado às fls.
5297/5299 pela Microsoft Informática Ltda. e determino a intimação do
representante legal da nominada empresa para que, no prazo de 24 (vinte e
quatro) horas, implemente a interceptação do fluxo telemático, bem como
recolha a multa fixada pelos dias de descumprimento da ordem até a
presente data e, também, pelos dias que sucederem ao presente até o efetivo
atendimento da ordem judicial.
Até o dia 03.09.2013, a multa alcançava o montante de R$650.000,00
(seiscentos e cinquenta mil reais) - fls. 4625. Considerando que o
descumprimento da ordem judicial persiste até o presente momento, tendo
decorrido mais 16 (dezesseis) dias daquela data, soma-se àquele valor a
quantia de R$800.000,00 (oitocentos mil reais), perfazendo o valor total de
1.450.000,00 (um milhão, quatrocentos e cinquenta mil reais).
Diante de todo o exposto determino a expedição de ofício à Empresa
Microsoft Informática Ltda. determinando o cumprimento imediato da
ordem judicial de interceptação do fluxo telemático do e-mail xxxxxx, na
forma exposta no ofício 029/2013-GAB, bem como para que recolha a
multa diária diante do descumprimento da ordem judicial, atualmente no
valor de R$1.450.000,00 (um milhão, quatrocentos e cinquenta mil reais),
ao qual deverá ser somado R$50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada dia
subsequente à presente data em que persistir o não atendimento da ordem
judicial.' (fls. 35/38)
Determinou-se, outrossim, a elaboração de termo circunstanciado pela
prática do delito de desobediência contra o representante legal da empresa,
que culminou com o oferecimento da denúncia contra o paciente (fls. 25/32
e 39/43).
Instaurada a ação penal, o paciente impetrou o Habeas Corpus n.
0000011-49.2014.403.6101 perante a 1ª Turma Recursal de São Paulo,
alegando, em síntese, a inépcia da denúncia e atipicidade da conduta,
pugnando pelo trancamento do feito (fls. 44/61).
A impetração se insurge contra a denegação dessa ordem, assim
fundamentada:
'Sustenta o impetrante que a conduta imputada ao paciente refere-se a
fato atípico, pois o paciente não teria conhecimento da ordem e, ainda que
tivesse, não teria responsabilidade pelo seu cumprimento.
Pelo que se depreende dos autos, o ofício com ordem judicial de
interceptação telemática foi direcionada ao Diretor do Departamento
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Jurídico da Microsoft (fls. 64/65). Outrossim, com a denegação da ordem
do writ impetrado pela empresa, a nova ordem emanada pelo Juízo da 9ª
Vara Federal Criminal também foi direcionada ao mesmo Diretor do
Departamento Jurídico da Microsoft (fl. 30).
Contudo, a última ordem emitida, para fins de cumprimento imediato,
foi recebida e assinada pelo paciente em 20/09/2013 (fl. 307), diretor
financeiro e representante legal da pessoa jurídica e, portanto, competente
para cumprir a ordem direcionada a Microsoft e, ainda assim, a ordem
somente foi cumprida parcialmente em 04/10/2013.
A alegação de que somente a matriz sediada nos EUA poderia deliberar
sobre o cumprimento da ordem não encontra guarida, pois a empresa está
sediada no Brasil e deve se submeter às leis brasileiras.
Segundo as informações prestadas pela autoridade impetrada, a ordem
somente foi cumprida em 04/10/2013 e, com relação aos dados
compreendidos desde 21/02/1013, a empresa alegou que o conteúdo já teria
sido apagado e não estavam mais em seus servidores, devendo referidas
circunstâncias e eventual responsabilidade delas decorrentes se apurada no
curso da lide.
O paciente também sustenta que a decisão que determinou a
interceptação telemática, fixou multa cominatória diária no valor de
R$50.000,00 (cinquenta mil reais) em caso de descumprimento da ordem
(fls. 64/65) e que a fixação de sanção de natureza pecuniária acarreta a
atipicidade de eventual desobediência.
Em relação à possibilidade de cumulação de sanção pecuniária com as
penas do crime de desobediência, vale destacar que doutrina e
jurisprudência entendem inexistir o crime quando a autoridade impõe multa
pelo descumprimento da ordem. Todavia, tal posicionamento aplica-se
quando não houver previsão legal explícita de cumulação das sanções
cíveis e penais, conforme se depreende dos julgados a seguir:
PREFEITO MUNICIPAL. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA DE ORDEM
JUDICIAL PROFERIDA EM MANDADO DE SEGURANÇA COM
PREVISÃO DE MULTA DIÁRIA PELO SEU EVENTUAL
DESCUMPRIMENTO. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
ATIPICIDADE DA CONDUTA. PRECEDENTES DO STJ. ORDEM
CONCEDIDA. 1. Consoante firme jurisprudência desta Corte, para a
configuração do delito de desobediência de ordem judicial é indispensável
que inexista a previsão de sanção de natureza civil, processual civil ou
administrativa, salvo quando a norma admitir expressamente a referida
cumulação. (...).
(STJ - HC 92655 - Relator Ministro Napoleão Nunes Maia Filho - DJ
25/06/2008)
PENAL. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. DETERMINAÇÃO JUDICIAL
ASSEGURADA POR MULTA DIÁRIA DE NATUREZA CIVIL
(ASTREINTES). ATIPICIDADE DA CONDUTA. Para a configuração do
delito de desobediência, salvo se a lei ressalvar expressamente a
possibilidade de cumulação da sanção de natureza civil ou administrativa
com a de natureza penal, não basta apenas o não cumprimento de ordem
legal específica no caso de descumprimento. (Precedentes). Habeas corpus
concedido, ratificado os termos da liminar anteriormente concedida. (STJ -
HC 22721 - Relator Ministro Felix Fischer - Julgado em 30/06/2003).
No caso em tela, por se tratar de descumprimento de ordem judicial no
curso de processo penal, cabe a aplicação dos artigos 14, V, e parágrafo
único, do Código de Processo Civil, por força do art. 3º do CPP, de onde se
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extrai, nesta análise inicial, a permissão de cumulação de multa pecuniária
com a sanção criminal. Portanto, primo ictu oculli, não há que se afastar a
tipicidade da conduta pela fixação de multa pelo magistrado.' (fls. 17/24)
Não prospera a tese de atipicidade da conduta ao fundamento de que a
ordem judicial não foi dirigida ao paciente ou ao seu departamento mas ao
Diretor do Departamento Jurídico da Microsoft Informática Ltda.
Extrai-se dos autos que Roberto Presz Palmaka, Diretor Financeiro da
Microsoft Informática Ltda., é representante legal da empresa, fato
constatado pelo Parquet Federal e referido na denúncia à fl. 30 (segundo
parágrafo), sendo que, nessa condição, recebeu e assinou em 20.09.13 a
última ordem emitida pelo Juízo da 9ª Vara Criminal Federal para a
interceptação de fluxo de dados telemáticos de determinada conta de e-mail .
Anoto que essa ordem judicial foi direcionada ao representante legal da
empresa (fl. 37, penúltimo parágrafo) e parcialmente cumprida em 04.10.13,
a indicar que o paciente tinha atribuição para tal incumbência. Por essa
razão, não é possível afastar de plano a responsabilidade do paciente pelos
fatos objeto da denúncia. Trata-se, ademais, de matéria que envolve dilação
probatória, incabível em sede de habeas corpus .
Com relação à atipicidade da conduta do paciente de desobedecer a
ordem legal ao argumento de que já fixada sanção para o renitente (multa
cominatória), igualmente falece razão aos impetrantes.
Assentado que a ressalva contida no parágrafo único do art. 14 do
Código de Processo Civil para a aplicação das sanções criminais não exclui
a incidência do art. 330 do Código Penal, na medida em que se não houver
sanção penal prevista em lei especial, tipifica-se a desobediência, bem como
de que a cominação de multa igualmente não a afasta, cumpre verificar a
legislação especial que rege a matéria e a eventual existência de sanção
penal específica para o descumprimento de preceito legal.
Observo que a Lei n. 9.296/96, aplicável à interceptação do fluxo de
comunicações em sistemas de informática e telemática, ao tratar da quebra
de sigilo telemático não comina pena para o descumprimento de ordem
judicial com essa finalidade. Não há, portanto, tipificação específica para a
conduta imputada ao paciente, a qual, todavia, é passível em tese de
subsunção àquela prevista no art. 330 do Código Penal.
Ante o exposto, DENEGO a ordem de habeas corpus ."

Das teses vertidas no recurso ordinário, ater-me-ei à alegação de atipicidade


da conduta do insurgente, ante a impossibilidade de cumulação da multa diária imposta
pelo juiz e a imputação do crime de desobediência.
Como é cediço, somente se reconhece a ausência de justa causa para a ação
penal, determinando o seu trancamento, quando há flagrante constrangimento ilegal,
demonstrado por prova inequívoca e pré-constituída de não ser o denunciado o autor do
delito, não existir crime, encontrar-se a punibilidade extinta por algum motivo ou pela
ausência de suporte probatório mínimo a justificar a propositura de ação penal.
Assim a doutrina se manifesta sobre o tema:

"A justa causa passa a pressupor a existência de um suporte probatório


mínimo, consistente na prova da existência material de um crime e em

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indícios de que o acusado seja o seu autor. A ausência de qualquer um
destes dois elementos autoriza a rejeição da denúncia e, em caso de seu
recebimento, faltará justa causa para a ação penal, caracterizando
constrangimento ilegal apto a ensejar a propositura de habeas corpus para o
trancamento da ação penal.
Há ainda corrente que exige mais. Para Silva Jardim (1994, p. 42), a
ação só é viável quando a acusação não é temerária, por estar baseada em
um mínimo de prova:
Este suporte probatório mínimo se relaciona com os indícios de autoria,
existência material de uma conduta típica e alguma prova de sua
antijuridicidade e culpabilidade. Somente diante de todo esse conjunto
probatório é que, a nosso ver, se coloca o princípio da obrigatoriedade do
exercício da ação penal." (BADARÓ, Gustavo Henrique. Direito Processual
Penal, Tomo I, Elsevier Editora, São Paulo, 2008, págs.71/72)

Na espécie, conforme se depreende da leitura dos autos, o magistrado de


primeiro grau determinou a quebra do sigilo da correspondência eletrônica de um
investigado usuário do serviço prestado pela empresa Microsoft Informática Ltda.
Contudo, diante da não implementação da interceptação, foi fixada multa diária pelo
descumprimento, determinando-se, ainda, a instauração de termo circunstanciado por
crime de desobediência.
Ao que se me afigura, mostra-se indevida dada cumulação de sanções sem
expressa previsão legal. De fato, quando o legislador intentou associar a imposição de
multa juntamente com a imputação delitiva por desobediência, fê-lo explicitamente, como
na hipótese do artigo 219 do Código de Processo Penal, que se reporta a testemunha
faltante. De se notar que para a vítima que não comparece em juízo, dada a inexistência de
dispositivo próprio, não há acusação por crime de desobediência, sendo conduzida
coercitivamente ao juízo.
A instância ordinária motivou a junção das sanções nos termos do artigo 14,
inciso V e parágrafo único, do Código de Processo Civil de 1973, verbis:

"Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer
forma participam do processo: (Redação dada pela Lei nº 10.358, de
27.12.2001)
(...)
V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar
embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza
antecipatória ou final.(Incluído pela Lei nº 10.358, de 27.12.2001)
Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam
exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V
deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição,
podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais
cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de
acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do
valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito
em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como
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dívida ativa da União ou do Estado. (Incluído pela Lei nº 10.358, de
27.12.2001) "

Ao que cuido, o citado regramento refere-se à multa processual, de natureza


punitiva e compensatória, cujo patamar é limitado no próprio regramento que a estipula.
Já a multa cominatória, aplicada no caso em liça, possui natureza coercitiva,
de modo a impelir o destinatário a cumprir o decidido em via judicial, persuadindo-o, não
sendo limitado em lei o seu quantum , embora o brocardo da razoabilidade deva ser
observado pelo magistrado.
Diante disso, claro está o caráter distinto da multa destes autos com aquela
estipulada no artigo 14, inciso V e parágrafo único, do Código de Processo Civil de 1973.
Sobre o tema, trago este julgado:

"PROCESSUAL CIVIL. OBRIGAÇÃO DE ENTREGAR COISA


CERTA. MEDICAMENTOS. ASTREINTES. FAZENDA PÚBLICA.
MULTA DIÁRIA COMINATÓRIA. CABIMENTO. NATUREZA.
PROVEITO EM FAVOR DO CREDOR. VALOR DA MULTA PODE
ULTRAPASSAR O VALOR DA PRESTAÇÃO. NÃO PODE
INVIABILIZAR A PRESTAÇÃO PRINCIPAL. NÃO HÁ LIMITAÇÃO
DE PERCENTUAL FIXADO PELO LEGISLADOR.
1. A obrigação de fazer permite ao juízo da execução, de ofício ou a
requerimento da parte, a imposição de multa cominatória ao devedor, ainda
que seja a Fazenda Pública, consoante entendimento consolidado neste
Tribunal. Precedentes: AgRg no REsp 796255/RS, Rel. Min. Luiz Fux,
Primeiro Turma, 13.11.2006; REsp 831784/RS, Rel. Min. Denise Arruda,
Primeira Turma, 07.11.2006; AgRg no REsp 853990/RS, Rel. Ministro José
Delgado, Primeira Turma, DJ 16.10.2006; REsp 851760 / RS, Rel. Min.
Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, 11.09.2006.
2. A multa processual prevista no caput do artigo 14 do CPC difere
da multa cominatória prevista no Art. 461, § 4º e 5º, vez que a primeira
tem natureza punitiva, enquanto a segunda tem natureza coercitiva a
fim de compelir o devedor a realizar a prestação determinada pela
ordem judicial.
3. Os valores da multa cominatória não revertem para a Fazenda
Pública, mas para o credor, que faz jus independente do recebimento das
perdas e danos. Consequentemente, não se configura o instituto civil da
confusão previsto no art. 381 do Código Civil, vez que não se confundem na
mesma pessoa as qualidades de credor e devedor.
4. O legislador não estipulou percentuais ou patamares que
vinculasse o juiz na fixação da multa diária cominatória. Ao revés, o §
6º, do art. 461, autoriza o julgador a elevar ou diminuir o valor da
multa diária, em razão da peculiaridade do caso concreto, verificando
que se tornou insuficiente ou excessiva, sempre com o objetivo de
compelir o devedor a realizar a prestação devida.
5. O valor da multa cominatória pode ultrapassar o valor da obrigação a
ser prestada, porque a sua natureza não é compensatória, porquanto visa
persuadir o devedor a realizar a prestação devida.
6. Advirta-se, que a coerção exercida pela multa é tanto maior se não
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houver compromisso quantitativo com a obrigação principal,
obtemperando-se os rigores com a percepção lógica de que o meio executivo
deve conduzir ao cumprimento da obrigação e não inviabilizar pela
bancarrota patrimonial do devedor.
7. Recurso especial a que se nega provimento."
(REsp 770.753/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 27/02/2007, DJ 15/03/2007, p. 267)

Feita essas considerações, entendo ser incabível invocar o disposto no artigo


14, inciso V e parágrafo único, do Código de Processo Civil de 1973, c.c. o artigo 3.º do
Código de Processo Penal para justificar a cumulação de multa com a imputação pelo
crime de desobediência.
E, excluído esse supedâneo para a junção, evidencia-se a ausência de
adequação típica da conduta imputada ao ora recorrente, visto que o descumprimento da
ordem emanada por juiz togado já acarretou a imposição de multa diária para a empresa de
informática, inexistindo previsão legal para que o destinatário da determinação judicial
responda também por crime de desobediência, devendo ser expurgada a indevida
cumulação das sanções.
Em hipóteses tais, assim se pronunciou esta Corte, verbis :

"HABEAS CORPUS. PREFEITO MUNICIPAL. CRIME DE


DESOBEDIÊNCIA DE ORDEM JUDICIAL PROFERIDA EM
MANDADO DE SEGURANÇA COM PREVISÃO DE MULTA DIÁRIA
PELO SEU EVENTUAL DESCUMPRIMENTO. TRANCAMENTO DA
AÇÃO PENAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. PRECEDENTES DO
STJ. ORDEM CONCEDIDA.
1. Consoante firme jurisprudência desta Corte, para a configuração do
delito de desobediência de ordem judicial é indispensável que inexista a
previsão de sanção de natureza civil, processual civil ou administrativa,
salvo quando a norma admitir expressamente a referida cumulação.
2. Se a decisão proferida nos autos do Mandado de Segurança, cujo
descumprimento justificou o oferecimento da denúncia, previu multa diária
pelo seu descumprimento, não há que se falar em crime, merecendo ser
trancada a Ação Penal, por atipicidade da conduta.
Precedentes do STJ.
3. Parecer do MPF pela denegação da ordem.
4. Ordem concedida, para determinar o trancamento da Ação Penal
1000.6004. 2056, ajuizada contra o paciente."
(HC 92.655/ES, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO,
QUINTA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJ 25/02/2008, p. 352)

"CRIMINAL. HC. DESOBEDIÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO


PENAL. ORDEM JUDICIAL DESCUMPRIDA. PENA DE MULTA
PREVISTA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ORDEM CONCEDIDA.
I. Hipótese em que o Prefeito Municipal teria descumprido liminar que
determinou que fossem suspensos todos os atos referentes à licitação
pública, assim como a execução do respectivo contrato com a empresa

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vencedora, tendo sido fixada multa diária de R$ 50.000,00 pelo seu
descumprimento.
II. Para a configuração do delito de desobediência não basta apenas o
não cumprimento de uma ordem judicial, sendo indispensável que inexista a
previsão de sanção específica em caso de seu descumprimento. Precedentes.
III. Deve ser cassado o acórdão recorrido para determinar o trancamento
da ação penal, em razão da atipicidade da conduta imputada ao paciente.
IV. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator."
(HC 68.144/MG, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA,
julgado em 24/04/2007, DJ 04/06/2007, p. 394)

"RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS . FERTILIZANTES.


ATIVIDADE DE MANIPULAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS
TÓXICOS. FALTA DE AUTORIZAÇÃO DO ÓRGÃO DE PROTEÇÃO
AO MEIO AMBIENTE. CRIME AMBIENTAL DO ART. 56 DA LEI N.º
9.605/98. IMPLEMENTAÇÃO DE SANÇÕES ADMINISTRATIVAS.
DESRESPEITO AO EMBARGO DO IBAMA. CRIME DE
DESOBEDIÊNCIA NÃO CONFIGURADO. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA FEDERAL.
1. A mesma conduta ilícita foi objeto de duas sanções administrativas
distintas infligidas pelo IBAMA: o Termo de Embargo, que pretendeu
suspender a atividade empresarial envolvida no manuseio de produtos
químicos tóxicos, por falta de autorização legal do órgão competente; e o
Auto de Infração, que impôs multa pela conduta de 'funcionar, ter em
depósito, produtos químicos [...] sem inscrição no cadastro técnico federal e
sem licença ou autorização do órgão administrativo competente'.
2. Inexiste o crime de desobediência se para o descumprimento da
ordem legal há previsão legislativa de sanção civil ou administrativa, salvo
se há expressa admissibilidade da cumulação das sanções extrapenal e
penal. Precedentes.
3. Pelo descumprimento do embargo à atividade irregular, afora o
sancionamento administrativo, também respondem os agentes penalmente
pelo crime do art. 56 da Lei n.º 9.605/98, constituindo indevido bis in idem
a imputação cumulativa do crime de desobediência.
4. A persecução penal foi instaurada com base na constatação de que os
ora Pacientes, sem autorização do IBAMA e em desrespeito ao embargo
implementado, estavam exercendo atividades nocivas ao meio ambiente,
infringindo interesse direito da Autarquia Federal, o que atrai a competência
da Justiça Federal.
5. Recurso ordinário parcialmente provido tão-somente para afastar a
persecução penal dos ora Recorrentes pelo crime de desobediência."
(RHC 14.341/PR, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA,
julgado em 26/10/2004, DJ 29/11/2004, p. 349)

Do Supremo Tribunal Federal colho estes precedentes:

"1. AÇÃO PENAL. Crime de desobediência a decisão judicial sobre


perda ou suspensão de direito. Atipicidade. Caracterização. Suposta
desobediência a decisão de natureza civil. Proibição de atuar em nome de
sociedade. Delito preordenado a reprimir efeitos extrapenais. Inteligência do
art. 359 do Código Penal. Precedente. O crime definido no art. 359 do

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Código Penal pressupõe decisão judiciária de natureza penal, e não, civil. 2.
AÇÃO PENAL. Crime de desobediência. Atipicidade. Caracterização.
Desatendimento a ordem judicial expedida com a cominação expressa de
pena de multa. Proibição de atuar em nome de sociedade. Descumprimento
do preceito. Irrelevância penal. Falta de justa causa. Trancamento da ação
penal. HC concedido para esse fim. Inteligência do art. 330 do Código
Penal. Precedentes. Não configura crime de desobediência o comportamento
da pessoa que, suposto desatenda a ordem judicial que lhe é dirigida, se
sujeita, com isso, ao pagamento de multa cominada com a finalidade de a
compelir ao cumprimento do preceito."
(HC 88572/RS; Relator(a): Min. CEZAR PELUSO; Julgamento:
08/08/2006 Órgão Julgador: Segunda Turma; DJ 08-09-2006)

"CRIME DE DESOBEDIÊNCIA - COMINAÇÃO DE MULTA


DIÁRIA ('ASTREINTE'), SE DESRESPEITADA A OBRIGAÇÃO DE
NÃO FAZER IMPOSTA EM SEDE CAUTELAR - INOBSERVÂNCIA
DA ORDEM JUDICIAL E CONSEQÜENTE DESCUMPRIMENTO DO
PRECEITO - ATIPICIDADE PENAL DA CONDUTA - 'HABEAS
CORPUS' DEFERIDO. - Não se reveste de tipicidade penal -
descaracterizando-se, desse modo, o delito de desobediência (CP, art. 330) -
a conduta do agente, que, embora não atendendo a ordem judicial que lhe
foi dirigida, expõe-se, por efeito de tal insubmissão, ao pagamento de multa
diária ('astreinte') fixada pelo magistrado com a finalidade específica de
compelir, legitimamente, o devedor a cumprir o preceito. Doutrina e
jurisprudência."
(HC 86254/RS; Relator(a): Min. CELSO DE MELLO; Julgamento:
25/10/2005 Órgão Julgador: Segunda Turma; DJ 10-03-2006)

Portanto, de rigor o trancamento do processo criminal em liça e, diante


disso, como consectário lógico, a medida cautelar aqui apensada (MC n.º 25.495/SP) resta
por prejudicada, tornando sem efeito a liminar outrora deferida.
Ante o exposto, dou provimento ao recurso a fim de reconhecer a
atipicidade da conduta irrogada ao recorrente e determinar o trancamento do Termo
Circunstanciado n.º 0012174.49.2013.4.03.6181, da 5.ª Vara Criminal Federal da Subseção
Judiciária de São Paulo/SP.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2016/0019486-0 PROCESSO ELETRÔNICO RHC 67.476 / SP


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 00072608420154030000 00121744920134036181 121744920134036181


201503000072607 62134 72608420154030000
EM MESA JULGADO: 26/04/2016

Relatora
Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. HUMBERTO DE PAIVA ARAÚJO
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : ROBERTO PRESZ PALMAKA
ADVOGADOS : ALBERTO ZACHARIAS TORON
LUISA MORAES ABREU FERREIRA
RECORRIDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
ASSUNTO: DIREITO PENAL

SUSTENTAÇÃO ORAL
Dr(a). ALBERTO ZACHARIAS TORON, pela parte RECORRENTE: ROBERTO PRESZ
PALMAKA
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso em habeas corpus, nos
termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro e Antonio
Saldanha Palheiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Documento: 1506690 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 03/05/2016 Página 1 9 de 19

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