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jusbrasil.com.br
25 de Março de 2018
Escrito em 29-07-2014
INTRODUÇÃO
https://rcavalcanti.jusbrasil.com.br/artigos/557948140/a-vulgarizacao-do-termo-preconceito 1/10
25/3/2018 A relevância em abordar-se o temaA projeta-se
vulgarização na
do termo
forte“preconceito”
tendência política
imprimida pelos nossos governantes em se combater preconceitos de toda ordem,
inclusive com crescentes interferências na esfera criminal, ameaçando certas salva-
guardas individuais.
O QUE É PRECONCEITO?
PRECONCEITOS RAZOÁVEIS
Ora, o ser humano não é nem um computador nem um ser infalível. O ser humano
não tem a capacidade de armazenar por toda vida todo tipo de conhecimento a
ponto de comunicar somente conceitos cirurgicamente precisos. Caso as decisões
do ser humano fossem guiadas apenas por conceitos totalmente exatos, as próprias
ciências humanas e sociais seriam inviabilizadas, estaríamos numa utopia
racionalista e os seres humanos não seriam mais humanos, mas computadores ou
deuses.
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25/3/2018 Todavia, o fato de um preconceito Anão
vulgarização do termo
revestir-se “preconceito”
de certeza, não significa que eles
possam ser destituídos de razoabilidade, sendo fundamental frisar que a
Constituição Federal somente veda os preconceitos arbitrários.
Assim, caso a pessoa tenha antecedentes criminais, isso ensejará por parte do juiz
um tratamento discriminatório, implicando num pré-julgamento (preconceito)
legal em função do que esta pessoa fez no passado, mesmo que tal conduta não
tenha qualquer conexidade com o objeto de sua nova capitulação. É o chamado
“direito penal do autor”, que não deixa de ser baseado no preconceito, porém de
forma razoável, tendo em vista seu caráter pedagógico.
Afirma o dispositivo que não poderá retornar ao serviço público federal o servidor
que for demitido ou destituído do cargo em comissão por crime contra a
administração pública e corrupção. Assim, caso um servidor tenha sido punido há
15 anos por um ato de corrupção, nunca mais poderá voltar ao serviço público.
Outro exemplo está na lei falimentar (Lei nº 11.101/2005), pois, de acordo com seu
artigo 48, quem quer que exerça regularmente suas atividades há mais de 02 (dois)
anos não poderá requerer recuperação judicial caso tenha sido condenado em
qualquer dos crimes previstos na lei (inciso IV).
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25/3/2018 A vulgarizaçãocláusulas
arbitrários, ou seja, àqueles que estabeleçam do termo “preconceito”
de tratamento iníquas, cujo
fator de desequiparação “não guarda relação de pertinência lógica com a
disparidade de regimes outorgados”[4].
John Grier Hibben destaca que amamos ou detestamos alguém pelos seus
preconceitos. Extrair os preconceitos de alguém é fazê-lo um depósito de lugares-
comuns. A personalidade, segundo o Professor Hibben, é a projeção de nossos
preconceitos. Remova os preconceitos e o indivíduo é diluído na multidão. Caráter
sem um traço de preconceito é insípido e um homem assim tomado perde
intensidade de convicção[9].
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25/3/2018 A vulgarização
Criminalizá-lo é tão abusivo e arbitrário como do termo “preconceito”
criminalizar sentimentos como o
choro, a raiva, a dor e o riso.
(...)
“Silva Franco lembra que, ‘no Estado Democrático de Direito, o simples respeito
formal ao princípio da legalidade não é suficiente. Há, na realidade, ínsito nesse
princípio, uma dimensão de conteúdo que não pode ser menosprezada nem
mantida num plano secundário. O Direito Penal não pode ser destinado, numa
sociedade democrática e pluralista, nem à proteção de bens desimportantes, de
coisas de nonada, de bagatelas, nem à imposição de convicções éticas ou morais
ou de uma certa e definida moral oficial, nem à punição de atitudes
internas, de opções pessoais, de posturas diferentes.’”[14] [GRIFAMOS]
Com efeito, o preconceito não é um dado substancialmente racional, mas nem todo
dado que não seja substancialmente racional é irracional, ou seja, contrário à
razão. Basta ser ordenado para ser ideologicamente racional, embora não
substancialmente.
Exemplo disso é que sentimentos de repulsa ao mal e de satisfação com o bem são
perfeitamente ordenados, e por isso são racionais – não substancialmente – mas
ideologicamente.
Por conta disso, o artigo 1º[15] e o caput do artigo 20[16] da Lei 7.716/89 devem
ser interpretados conforme a Constituição Federal, pois são literalmente
inexeqüíveis, já que visam punir não apenas discriminações como também
preconceitos.
Assim, o preconceito não pode e nem deve ser punido em função de uma
vulgarização semântica incorporada à legislação.
“‘Essa loja não gosta de crianças, mãe?’ A pergunta, feita por um menino negro
de apenas 7 anos, comoveu os pais, Priscilla Celeste e Ronald Munk, que, atônitos,
assistiram a um vendedor expulsar seu filho de dentro de uma concessionária
BMW, na Barra. O vendedor ‘desavisado’ não sabia que a criança era o filho do
casal de cor branca, que entrara ali para comprar um carro maior para a
família. Numa reação ao que consideraram um ato de racismo, os pais lançaram
a campanha no Facebook ‘Preconceito racial não é mal entendido’, que em poucos
dias conseguiu apoio de mais de dez mil internautas. Eles querem que a
concessionária faça uma retratação pública e que se comprometa a criar
procedimentos que possam evitar os ‘impulsos’ de funcionários que ainda tenham
o preconceito racial enraizado em suas reações.” [17]
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25/3/2018 A vulgarização
A situação criada pelo vendedor, ainda do termodesconfortável
que bastante “preconceito” para todos os
envolvidos, tratou-se de um visível mal entendido.
CONCLUSÃO
Referências:
[2] HIBBEN, John Grier. A Defense of Prejudice and other essays. Charles
Scribner’s Sons. p. 02.
[5] WEAVER, Richard. Life Without Prejudice and other essays. Henry Regnery
Company. p. 02.
[6] Idem.
[8] Idem.
[9] HIBBEN, John Grier. A Defense of Prejudice and other essays. Charles
Scribner’s Sons. p. 13.
[10] ATAÍDE, Tristão de, “Política”, Editor Getúlio Costa, 3ª Ed., 1939, p. 20
[13] CAPEZ, Fernando, Direito Penal, 16ª Ed., Volume 1, Ed. Saraiva, São Paulo,
2012, pp. 44
[14] Ibidem, p. 64
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