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COLETÂNEA COLETÂNEA

ÓI A COBRA! ÓI A COBRA!

30.03.2018
OPRECÍDIO COLETÂNEA
andre felipe koopman
ÓI A COBRA!

ouço o barulho da chuva cair sobre o mármore


inundando as lembranças ali sepultadas
todas as minhas somas,
agora jazem nas terras onde tanto esperei repousar
cicatrizes foram eternizadas na lápide deste túmulo
o sono da morte me anestesiara
tornando-me insensível à história que se fundiu
se houver juízo final,
rogo que não me despertes
que não abram as portas do céu para me receber
tampouco as do inferno para queimar minh’alma
não quero contemplar o paraíso, pois minha essência se
perderia
mas também não quero a devastação de um mundo
condenado à dor
onde a maior tortura seria as lembranças de outrora
como fui um homem esquecido,
desejo ser um espírito escuso
no jazigo memorial da inexistência.
ROSAS COLETÂNEA
bella nunes
ÓI A COBRA!
colhi uma rosa para mim mesma
me presentear com espinhos e beleza
a coloquei no feixe de luz solar
que entra pela janela de manhã
sem luz não se faz fotossíntese
foi quando percebi
que já não existe mais vivacidade
só o vermelho vivo
que me lembra tinta fresca, bocas, vulvas
e sangue derramado pela natureza
de ser mulher
no terrenos baldios
que nascem as mais belas rosas
corte-a uma para seu deleite
sua crise infeliz de possuir
deixa-a na sombra da sua luz
e às vezes,
regue com um pouco da sua água
ou deixa-a sozinha no seu vaso mais fino
longe do galho que liga as outras rosas
a raiz que cresce
há milhões de anos
que sobreviveu aos trancos e barrancos
guerras e opressões
em sua volta

corte-as
só pro seu prazer
e as assista morrer
mas cuidado, as sementes resistentes
que vem de dentro dela
podem cair em terra
e vai vingar!
NESTES ARES COLETÂNEA
felipe loriaga
ÓI A COBRA!

nestes ares, onde o vento não sopra


o ar condicionado refresca o vazio que das vidas
fala
dr.! dr.! dr.! dr.! meu problema é maior!
meu labor, muitas vezes em vão, também.
santo está nos céus, com deus pai todo poderoso!
aqui existe um homem, cuja impressão fotográfica,
mal é apreciada pelas gerações passadas.
a maleta transporta algumas vidas por vez,
com o peso dos papéis impressos
cujas palavras são desconhecidas
regras mágicas da convivência em sociedade
a caneta na mão, nem sempre rápida,
foge com a mente para outro lugar
um lugar em que estou em mim
num transe entre pensamento, fome e ansiedade
os sapatos fazem “clac clac” no mármore
bonito dos corredores longos do fórum
entre os ouvidos dos oficiais de justiça
cantam os passos leves dos juízes
nos ouvidos dos que brigam em nome de justiça,
são os saltos leves dos advogados
senhores dos domínios que vão do nada a coisa
nenhuma
como as antigas palavras que antigas máquinas
de escrever registravam, os avogados”
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!

de escrever registravam, os avogados falam


e não se entendem entre si
e por isso, não fazem justiça
são sempre dois opostos com suas palavras
imprevisíveis
debatem o que o português não se atreve a discutir
o juiz, consciencioso, nada pronuncia para além de
“indefiro a pergunta” - porque assim quiz.
“indefiro sua vida!” - é como dissesse.
revogo sua certidão de nascimento!
ordeno que a serventia certifique o trânsito em
julgado
desta decisão, para que minha sentença se execute,
e você retorne ao útero materno.
mas ainda há certa beleza nesta confusão
onde os amantes do caus, prezam ordená-lo,
mas o caus possui sua própria lógica,
que os escreventes consignam nos processos
sob a fórmula consagrada:
primeiro o autor, depois o réu, ministério público e
então o juiz
a orquestra canta nos tons das intimações e citações
todas
previstas nos Códigos de Processo Civil e penal
das notas fracas às mais fortes sentenças
emocionadas
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!

de moralismo social.
nestas salas com ar condicionado estou seguro!
longe das tramas maquiavélicas dos arautos
grandiosos de interesses
mesquinhos e orgulhosos
eu que não sou nada, nem ninguém,
me dou ao luxo de não ser nada nem ninguém,
me dou ao luxo de fazer meu trabalho, sem esperar
recompensa, mesmo quando sei que ela vem,
por que meu tempo é o do processo judicial e o do
processo judicial
é as vezes não ter tempo pra terminar,
eu que me engano a procurar o que a própria parte
as vezes ignora
e que me acalenta a alma quando dá certo,
homem que, chamado a viver, não se esquivou de vir,
mas que muitas vezes deseja voltar
para sabe-se lá onde!
Talvez à infância, talvez ao centro da família, talvez
ao seio da esposa,
que pela falta, sente as palavras que devem vir,
sopesando os anseios todos em pequenas gotas
num cálice de beber os únicos venenos que matam aos
poucos
mas que dão sentido a vida.
BRIOS E PINHÕES COLETÂNEA
gabriel marcondes
ÓI A COBRA!
ando perdido em meio aos seres
cujos brios são feito pinhões
que caem aos montes
nas testas dos desavisados

são todos duros e frios


pinhões e brios

a paciência necessária
para cozê-los ao ponto
de apreciar vossas companhias
tem me saído cada vez mais cara

desvio dos desavisados


corro dos desvairados

estou sempre atrasado


para compromisso nenhum
entro nesta dança diária
sem objetivo algum

as rimas pobres são crias


minhas
e do meu adeus
às coxias

são irmãs dos dados,


variáveis e análises,
fórmulas grotescas
só nos dão resultados quadrados

mas eu bem sabia


não se faz poesia com o excel.
BRUTA FLOR DO COLETÂNEA
QUERER ÓI A COBRA!
luiza queiroz
distribuo beijos e cafunés
como quem acende
um cigarro no outro

ando viciada na entrega


despretenciosa,
nos beijos fáceis
e nas vontades próprias

“você parece cuidar tão bem dos outros,


mas você cuida bem assim de você?”
perguntou, desacreditado,
como se uma mulher não pudesse
amar desconhecidos
com a mesma força
que a si mesma

se dou e me dou com tanta convicção,


é porque conheço meu sexo,
meu tempo de sobra
e tudo que falta
em cada um dos corpos
que frequento

quartos grandes
camas pequenas
livros tão diferentes
espalhados pela casa,
pela estante
e pelo chão
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!

lêem com ardor


os poetas e os romancistas
e me pedem que declame
quando não enxergam sequer
as entrelinhas
das curvas
de minhas ancas

desconhecem meus dias férteis


e meu terreno baldio,
onde nasce tanta coisa
que sou obrigada a matar
só pra ter o prazer de ver renascer

arranco tudo pela raiz,


menos as bromélias
e as orquídeas
que trepam na árvore oca
que nasceu junto comigo

dizem que elas são


parasitas
mas na natureza
as palavras são vazias
e o ciclo da vida exige
que o sumo seja sugado
com força
para matar a fome
das flores solitárias.
DEUS ABENÇOE COLETÂNEA
ESSE SISTEMA ÓI A COBRA!
kely bemfica
Deus abençoe
A falta de alimento de hoje
A fome de ontem
Deus abençoe
A miséria
A criança morta, estrupada.
Os pobres
Famintos
As mulheres agredidas
Os escravos do sistema
Deus abençoe
Os ricos
Os milionários
As madames
E os luxos
Deus abençoe
A falta de amor
Ódio
O assassinato do vizinho
Deus abençoe
A criança no farol
Os empregados sem registro
Os pobres mais pobres
E os ricos mais ricos
Deus abençoe?
Como pode abençoar tamanha desgraça!
Deus abençoe a sua ignorância
Se é que DEUS sabe de sua existência
E se é que ele existe!
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!
V.F.P
Olhos pretos
e um sorriso cheio de ternura
em 1/4 de tempo
me fiz toda
tua

É facil, rápido e simples o que ele causa


São aqueles clichês que só fazem
sentido para adolescentes
É a paz que nunca tive
Nanã Buruque se apossou de minha vida

Ano regido por


um justiceiro
(Kaô Kabecile)
e o executor da lei
(Laroye Exú)
2018
Vem sendo único e memorável
um ano cheio de surpresas

E
em meio ao caos
com noites de sono perdidas
Nadando em xícaras de café, maços de
cigarro
A culpa me rodeando
sempre
E um barulho enorme na cabeça
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!

De repente

BOOM!

somem.

Vem aquele estalo...

Agora
tudo está
como
deveria.

O dormir
Só o fato de
dormir
Que é algo que fomos programados
biologicamente
Finalmente se deu sentido

O café passou a ser tomado com graça


A culpa resolveu tirar um cochilo
E o barulho na minha cabeça?
Se tornou canção

Literalmente
canção
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!

Quando eu o vejo
A canção toca repetidamente
Sabe,
I’ve Just seen a face
aquela dos Beatles?!
Então...

Há quem diga que tudo isso é loucura


Falta de Rivotril!
Mas, eu digo
Isso tem nome

Outro nome

(Shiiiiiu!)
Não fala, só pensa
Tu já sabe.

Que seja igual a ontem


Com aconchego, vontade, calma e
sossego
E eu não sei o que será amanhã
Não tenho ideia
Mas esse é o barato da vida
Te faz sentir vivo
mas
cá entre nós
se eu pudesse saber
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!

Respira fundo
1... 2... 3...
Solta
Devagar
Igual foi ontem
CASTANHAR
christy bemfica
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!

Braços, pernas, mãos


Calor macio
Cheiro doce de mel
Tudo entrelaçado
Em nó de marinheiro.
Suor, olhares, gestos
Toques e murmúrios
Soltos no recinto
Com as paredes observando atentas
Como a prosopopéia mais bonita
Que poderia existir.
Quase tão bonita quanto seus olhos
Que castanham no meu corpo
Esquadram meus desejos
E respondem meus pedidos.
Mãos nos meus cabelos
Recém tingidos
Nariz na clavícula,
Medindo a capacidade de concentração
Ou a falta dela
Lábios molhados nos meus
Até o despertador tocar
E a nuvem do sonho
Estourar.
COLETÂNEA
vitoria camargo O mãe natureza
Obrigado por tanta beleza ÓI A COBRA!
Tantos rios com suas grandeza
Com essa energia e pureza ...
Graças a você
Eu me divirto
Grito e repito
Você e o melhor lar que eu amo e hábito
Graças a você
Eu vivo!
Sujeito a delírio
Nesse mundo que consome
Meu espírito ...
Já não sei se consigo ...
Mas
Conversando com seu ivo
Poxa senhor sabido ,
Vivido e esperto
Me mostrou como é bom viver
E me desperto
Assim numa conversa !.

Como que pode vida


Você me surpreender
Nesse vire e versa
Mudamos de idéia ,
Tamos ae pra esclarecer !
Eu vim para ser luz
e da luz vou me fazer !
Para levar alegria ,
Sem saber o porque
Só sinto q esse e meu dever ...
Luz ! O luz ...
Que ilumina o meu ser
...
Obrigado mãe terra, q essa luz vem de você !
(sessão memória) COLETÂNEA
não há como negar: a influência da noite dos poetas malditos, organizado pelo fabio e pelo
afrodopactus, e dos saraus organizados na época entre ziggy, ana e flávia (isso remonta
SOBRE O SARAU ÓI AdeuCOBRA!
2010-2011, quem sabe antes). aquilo o gás inicial para toda uma geraçãozinha interiorana,
que envolve hoje autores que se divertem também em curitiba, são paulo e brasil à fora. eram
COMUNITÁRIO noites regadas à vinho e a poesia: amávamos ler rimbaud e, pasmem, bukowski (eram outros
tempos, desculpem…). uma cena da poesia se formava, a trancos e barrancos, marginal às artes
joaquim buhrer
‘valorizadas’ em itapeva, como a dança e a música. éramos jovens, ainda somos, alguns, e o
sarau comunitário completa praticamente quatro anos de ininterrupção. digamos que para
um sarau, em 2018 ele atinge o período jovem-adulto. é um adolescente. fase complicada.
mas isso não caiu do céu. vamos aos fatos: foi nos hiatos desses mesmos saraus que nasceu a
ideia do sarau comunitário, em edições que perduram na transferência 2015-2016, onde o épico
poema do espermatozoide do araya foi lido pela primeira vez. era um sarau realizado na praça
pedro merege (a praça da brisa) ali no jardim europa. gostávamos dos bancos em círculos e
do pequeno coliseu que se formava na praça. a defasagem de poesia se refletia nos silêncios
(cada edição menores, é verdade) entre as leituras, performances e interpretações. mas uma
coisa era comum: apesar da minha iniciativa (sempre apoiada e enfatizada pela maria, que levou
pessoas e protagonizou, junto com a gio, leituras intensas que até hoje perduram na memória
e canonizaram o nosso sarau), cultivada pelo apoio incessante do fabio à cultura e à escrita
(desde levando livros para incentivar que os ‘ouvintes’ pegassem e lessem, desde participando
das feiras de troca que aconteceram e indicando leitura, desde seus poemas cirúrgicos e
provocantes que ditaram o tom marginal e influenciaram o sarau até hoje), o sarau só deu
certo porque as decisões eram tomadas em grupo. desde horário, local, discussões sobre o
futuro do sarau, hora de começar e acabar, etc.
desde então, mesmo morando fora de itapeva desde 2011, ao contrário da dificuldade
alegada por outros estudantes que moraram fora da terrinha, tive tempo, esforço e
vontade de continuar chamando o sarau. me baseei, nessa etapa, nas histórias dos saraus da
cooperifa e do binho, exemplos de saraus que ocorrem na periferia de SP (mais dois para a
hashtagprocuresaber). descentralizei as decisões, apesar das chamadas serem centralizadas
(geralmente entre eu, a maria e o grupo de apoiadores cada vez mais crescente), e busquei o
caminho, o bushido dos saraus, que é a criação de uma cultura de sarau, de poesia, de leitura
e, o mais importante na minha opinião, de comunidade. aí as leituras começaram a migrar e
o tom “periférico” a ideia de usar a poesia como ferramente de reafirmação, de existência,
atraiu mais mulheres, LGBT’s, organizados ou não do movimento negro (seja através do hip
hop, funk e até mesmo da política): e é nítida a mudança para quem lembra. deixamos de ler
bukowski e passamos a gritar contra o racismo, a opressão, o sexismo e pautas políticas,
não menos artísticas, tomaram o nosso sarau e ele cresceu nesse momento. é claro, era
também um contexto de ebulição política no brasil..
lembro de ver a praça da brisa COLETÂNEA
lotada, porque além de sarau, após as leituras (sempre com
muito respeito dos que estavam ali apenas para a segunda parte - exceto algumas vezes
que me deixaram meio puto…) ÓIcomeçou
A COBRA!a ser frequente o tradicional ‘rolê’. aí o sarau
também adquiriu outra característica: a de ocupação dos espaços da nossa cidade. passo
essencial. ocupação no sentido de “retomada”. espaços que são nossos. mais do que nunca.
isso foi essencial para o nosso distanciamento de qualquer proposta “oficializadora” com
a prefeitura. além de polícia frequente e comum, era claro que um sarau com o objetivo
de ocupar um espaço e reafirmar uma cena que cresce cada vez mais na nossa cidade não
devia fazê-lo apenas com o “aval” da lei. o que é nosso é nosso. e nunca deixamos bagunça
e sujeira. maria e eu sempre levamos sacos de lixos e cansamos de terminar os saraus, junto
com outros apoiadores, catando o lixo para evitar qualquer conflito. não é mérito nosso.
fizemos de bom grado. tínhamos (temos) um objetivo: objetivo esse que adquire agora um
status mais sério.
foram várias edições num período até 2016. aí surgiu a ideia de criarmos uma publicação - os
primeiros rumores - antes de se quer soubéssemos o que é e como funciona um zine.

após vários saraus e várias discussões sobre a utilidade de um evento que aconteceria distante
do então consolidado rolê “na praça do green”, decidimos tentar uma mudança radical, e
mudá-lo para um lugar mais bem vigiado: a frente da prefeitura. foi um golpe de mestre. o
público que na média juntava vinte pessoas havia atraído vários setores da nossa cidade:
desde poetas mais velhos, “civis” ainda não iniciados na poesia, e a consolidação da nossa
transição de temática. antes “poetas bêbados blablabla” agora poetas da resistência (hoje a
maioria a fazer leituras e performances são mulheres, lgbt’s, com a crescente valorização
e fortalecimento das pessoas negras, trazendo desde o ritmo, as performances mais bem
trabalhadas e significativas, e os poemas mais impactantes [um beijo, lírio, você é um divisor de
águas no sarau. devíamos chamá-lo em duas fases AL/DL {antes de lírio / depois de lírio}]).
desde então, músicos (giovanni, vem fazer sua performance, saudades), o tradicional rap do
afrodopactus, tocadores de instrumentos mais variados, não-iniciados, estreantes, velhos
da casa, catadores de latinha (quem lembra quando o catador de latinha parou e começou
a curtir o sarau? se fosse num auditório aquilo aconteceria?), vem permeando as nossas
bases. a ideia do zine se consolida aí. maturamos ela em bares, edições do sarau, discussões.
maturamos ela em grupos do whatsapp (lembra aquela discussão sobre vender ou não a
arte e fortalecer o capitalismo? quem viu, viu..). publicar, o sonho de qualquer escritor,
valorizar a nossa arte. dar voz aos nossos membros. divulgar. incentivar. consolidar, então,
as bases da cultura que vinha a duras penas sendo criada..
é claro que também não foiCOLETÂNEA
um conto de fadas. até hoje é possível ouvir por aí que o
objetivo foi chamar atenção para mim, que “é apenas um rolêzinho de sarau de dois riquinhos
ÓI A
brancos” (queria eu ser rico, tinha COBRA!
comprado uma caixa de som pra gente desde o começo…),
e etc. é sempre assim. qualquer coisa que você tentar fazer cria automaticamente um teto
de vidro. lido com isso da mesma forma que sempre lidei com tudo: explodindo - brimks.
esse texto emerge também para tentar conscientizar essas pessoas. conhecer um pouco da
trajetória não faz mal a ninguém. nada nasce da pedra, a não ser a pedra. e somos ar. sempre
tem alguém que dirá isso. sempre alguém vai falar mal. e falador vai passar mal também (já
diziam os originais do samba).
mas sempre os apoiadores fizeram valer a pena. já citei alguns aqui que deixaram de ser
apenas “apoiadores” para organizadores e chamadores. e gente que nunca colou, elogiando,
divulgando, fazendo críticas construtivas. gente que sacou: criar uma cultura não é fácil.
ainda mais no nosso chão..

por isso sempre teimei com a divulgação. precisamos do boca a boca, dos eventos no face,
e da “criação do rolê”. não adianta, por enquanto, divulgar em rádio-tv-paredes-por-aí.
primeiro porque não temos estrutura para duzentas pessoas (a necessidade da caixa de som
não é tão nova, mas é frequente, precisamos urgente). segundo que antes é necessário uma
base, uma frequência, um senso de coletividade e uma comunidade, para depois expandir. se
não transformamos o sarau num “evento”, vertical, aos moldes da festa cheers ou do rock
& consciência: por isso sempre insisti. sarau não é evento. é cultura. não pode ser puxado
apenas por uma pessoa, e isso se consolidou. eu não faço esse sarau. no máximo chamei
algumas das últimas edições, mas não sou mais o responsável pela “lógica da presença”. quem
fez isso foi você, apoiador. um evento que sobrevive assim morre com o tempo. o que venho
discutindo com muitos dos “colantes” há algum tempo é que o sarau faz parte de um plano
maior: a passos de formiga. não precisamos ter pressa. só assim ele sobreviverá além de nós.
no meio disso rolaram os saraus “comunista” (da gio) e “sarau comunitário” na frente da
câmara (organizado pelo caio). o nosso bebê caminhava sozinho. era preciso apenas lapidar a
base cultural. algumas após essas.

o último paradigma foram as duas edições (de início de ano) na praça anchieta, que nos trouxe
a tona que talvez não fôssemos assim tantos já que num espaço mais aberto parecíamos
menos, a necessidade iminente da caixa de som, e a certeza de que faltava um centímetro para
que o sarau se tornasse um slam. e a edição de carnavrau na barbearia hard beard, que nos
salvou da chuva e possibilitou uma das mais intimistas, lindas e fortes edições do sarau (beijo
kibe, obrigado cara). essa é a nossa breve trajetória. tudo isso só foi possível com o senso
de comunidade, as amizades desenvolvidas, a admiração e o respeito mútuo e multilateral dos
participantes, e dos pedidos e desejos e cada vez mais pessoas:
“precisamos de sarau! quando COLETÂNEA
vai ter sarau? vamos fazer sarau?”

ÓI Aum
nos influenciamos. lendo e ouvindo COBRA!
ao outro, é inegável que temos traços da poética
de cada um traduzidas na nossa. isso é a definição de uma cena. de um contexto. de uma
cultura. isso é uma vitória. do ponto de vista prático, pense em todas as questões que
foram mobilizadas aqui, a profundidade do que nos tornamos, da nossa força, da transição
necessária e significativa do foco do sarau para as pautas mais urgentes. isso só aconteceu
porque desde o início nós não tivemos pressa. não devemos ter pressa agora.

agora temos algumas questões de necessidade: precisamos de uma página no face. minha
proposta é continuar discutindo em sarau, em público, o nome da page e sua função. bem
como seus administradores… que urgem como necessidade: quem vai chamar o sarau? como
vai chamar? para onde ele deve caminhar?

se o objetivo é poetar, acho que o fluxo do rio é um bom caminho. vamos cavocá-lo ainda
mais.

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