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PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DIREITO

PROCESSUAL CIVIL DA FACULDADE DE


DIREITO DE VITÓRIA - 2018

Juizados Especiais
João Felipe Calmon Nogueira da Gama
Mestre em Direito Processual pela UFES.
Pós-graduado em Direito Processual Civil pela FDV.
Professor de cursos de Graduação e de Pós-graduação.
Juiz Leigo do TJES.
Advogado.
PRINCÍPIOS DOS
JUIZADOS ESPECIAIS
Direito positivo e normas jurídicas: regras e princípios.
• Direito positivo: conjunto sistematizado de normas jurídicas vigentes em determinado tempo e
espaço, que se relacionam por vínculos de subordinação e coordenação.
• Normas jurídicas (gênero): regras e princípios (espécies).
• Princípios: além de comandar comportamentos (dotados de coercitividade), são mandamentos
nucleares de um sistema (ou microssistema) que servem de vetores interpretativos das demais
normas que o compõem, conferindo racionalidade e harmonia ao sistema jurídico.
• Sistema de direito positivo e microssistemas: conjunto sistematizado de normas que disciplinam
matérias específicas não tratadas nos Códigos e que se organizam e se coordenam segundo
principiologia própria.
• Papel dos Códigos em relação aos microssistemas: prescrever normas fundamentais e institutos
comuns a todas as situações (exemplo no CPC/15: coisa julgada).
O microssistema dos Juizados Especiais (CF/88, Leis nº 9.099/95, 10.259/01 e 12.153/2009) e o
papel do CPC/15.
• Microssistema dos Juizados Especiais: conjunto de normas extraídas dos diplomas normativos
citados que regulam a proteção jurisdicional de direitos subjetivos em casos de menor
complexidade e de limitada repercussão econômica e que se relacionam entre si e ainda recebem
influência do CPC/15 no tocante às normas fundamentais processuais e aos institutos processuais
comuns.
PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS
ESPECIAIS
Princípios aplicáveis no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis:
princípios fundamentais (CF/88 e CPC/15) e princípios
informadores (art. 2º da Lei nº 9.099/95).
• Direito Processual Fundamental: normas fundamentais estruturam o modelo de
processo e servem de norte interpretativo das demais normas jurídicas processuais.
Há regras e princípios fundamentais na CF/88 e no CPC/15.
• Princípios fundamentais aplicáveis aos processos cíveis de competência dos
Juizados Especiais: devido processo legal, dignidade da pessoa humana,
contraditório, ampla defesa, paridade de armas, publicidade, eficiência, adequação
(legal, jurisdicional e negocial), boa-fé processual, cooperação, respeito ao
autorregramento da vontade no processo, primazia da decisão de mérito e proteção
da confiança.
PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS
ESPECIAIS
• Princípios informadores (art. 2º da Lei nº 9.099/95):
Princípio da oralidade.
 Subprincípios ou princípios decorrentes (CHIOVENDA) e sua concretização:
 prevalência da palavra falada sobre a escrita – apresentação oral de pedido inicial e de defesa e
interposição oral de ED – arts. 14, 30 e 49. Mandato verbal a advogado – art. 9º, §3º. Perito é
inquirido pelo juiz em audiência e prova oral não é reduzida a termo – arts. 35 e 36. Apenas os
atos essenciais são registrados resumidamente – art. 13, §3º –, tal como o pedido inicial se oral -
art. 14, §3º, da Lei nº 9.099/95.
 concentração dos atos processuais em audiência – ajuizada a demanda, todo o resto deve ser
feito em audiência, sendo certo que, sempre que possível, as audiências de conciliação e de
instrução e julgamento devem ser realizadas em mesmo dia (arts. 27 e 28, L. 9.099/95).
Distanciamento entre dever-ser e ser.
 imediatidade entre o juiz e a fonte da prova oral – contato direto do juiz com partes,
testemunhas e perito – art. 36, L. 9.099/95.
 identidade física do juiz – juiz deve presidir o feito do início até o ato final de sua competência
(prolação de sentença) – arts. 38 (breve menção aos fatos relevantes ocorridos em audiência,
dispensado relatório) e 40 (juiz leigo que dirigiu instrução deve elaborar projeto de sentença).
 irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias (MS x Agravo – Art. 4º, L. 10.259/01).
PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS
ESPECIAIS
• “Princípios informadores (art. 2º da Lei nº 9.099/95):
Princípio da simplicidade ou da informalidade.
Maior preocupação deve ser a matéria de fundo, a plena realização do direito
material, viabilizando o acesso à ordem jurídica justa (acesso à justiça em
sentido material) de maneira simples e objetiva. Há uma quase total
deformalização.
Atos são válidos ainda que desrespeitada a forma sempre que preencherem
as finalidades a que se destinam, não sendo possível cominar sanção de
nulidade sem que se comprove prejuízo (art. 13, caput e §1º, L. 9.099/95).
Concretização: solicitação de prática de atos processuais em outra comarca
por qualquer meio de comunicação – art. 12, §2º; citação de PJ por entrega
do instrumento de citação ao encarregado da recepção (influenciou CPC/15 –
art. 248, §4º) – art. 18, II; citação por oficial independe de mandado ou carta
precatória – art. 18, III; pedido inicial oral – art. 14; formulação de pedido
contraposto – art. 17, p. ún.; requerimento oral de execução (cumprimento
de sentença) – art. 52, IV; etc.
PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS
ESPECIAIS
• “Princípios informadores (art. 2º da Lei nº 9.099/95):
Princípio da economia processual.
Não se viabiliza o alargamento do acesso ao Poder Judiciário
(concretizando a garantia do direito de ação) se mantidos os custos
financeiros da demanda.
Determina a obtenção do maior proveito possível com o emprego de
mínimo esforço, tempo e recursos dos sujeitos do processo.
Concretização: gratuidade da Justiça em primeiro grau (art. 54, Lei nº
9.099/95), ressalvados casos de litigância de má-fé (art. 55, Lei nº
9.099/95); realização de inspeção judicial em pessoas ou coisas no
curso da AIJ (art. 35, § único, Lei nº 9.099/95); prolação de sentença
com dispensa de relatório e com descrição sintética dos informes
trazidos com a prova oral (art. 36 e 38, ambos da L. 9.099/95);
julgamento simplificado pelas turmas recursais (art. 46, Lei nº
9.099/95); etc.
PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS
ESPECIAIS
• “Princípios informadores (art. 2º da Lei nº 9.099/95):
Princípio da celeridade.
Amplificação do princípio da duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII,
CF/88).
Se no procedimento comum regrado pelo CPC/15 não se pode falar na
aplicação do princípio da celeridade (há um balanceamento entre os valores
segurança/justiça e celeridade – art. 4º, CPC/15), aqui nos processos cíveis
dos Juizados Especiais há um valor celeridade que se concretiza pela
aceleração da entrega da prestação jurisdicional por intermédio de
procedimento desburocratizado.
Concretização: rito “sumaríssimo” (art. 98, I, CF/88); instauração imediata de
audiência de instrução e julgamento em sequência à audiência de conciliação
– art.27, Lei nº 9.099/95; vedação de intervenção de terceiros e de
assistência – art. 10, Lei nº 9.099/95; prazo diferenciado do recurso
inominado (10 dias) – art. 42, Lei nº 9.099/95; inexistência de efeito
suspensivo automático – art. 43 , Lei nº 9.099/95; etc.
PRINCÍPIOS DOS JUIZADOS
ESPECIAIS
(In)aplicabilidade do CPC/2015 ao (micros)sistema dos Juizados Especiais Cíveis: necessária
compatibilidade entre a técnica ou o instituto a ser importado e os princípios informadores
do processo judicial perante os Juizados Especiais Cíveis.
 Ressalvados os casos em que a aplicação do CPC/15 é expressamente obrigatória (incidente
de desconsideração da personalidade jurídica e aplicação de tese jurídica em IRDR – arts.
1062 e 985, I, CPC/15), os princípios informadores são verdadeiros filtros da aplicabilidade
ou não de novas técnicas e institutos positivados no bojo do Código de Processo Civil de
2015, que apenas serão empregados nos processos judiciais de competência dos Juizados
Especiais Cíveis se compatíveis forem com tal microssistema orientado pela oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade.
 Exemplos de aplicação permitida: improcedência liminar do pedido (332 – Enunciado 507,
FPPC), distribuição dinâmica do ônus da prova (373, §1º - GAJARDONI), correção de equívoco
no preparo do recurso inominado (insuficiência ou inexistência – 1.007, §§2º e 4º -
Enunciado 98, FPPC).
 Exemplo de aplicação vedada: efeito suspensivo automático da apelação (art. 1.012) que
afronta regra específica (art. 43, 9.099/95) e ainda o princípio da celeridade (art. 2º,
9.099/95).
 Exemplos de divergências: prazos em dias úteis ou corridos – 219, CPC/15 (Juizados
Especiais Federais – Resolução CJF nº 2016/00393, Enunciado 175 FONAJEF e Enunciados
415 e 416, FPPC) x 2º, 9.099/95 (Nancy Andrighi e Enunciado 165 FONAJE); fundamentação
das decisões judiciais – 489, §1º, CPC/15 (Enunciados 309, FPPC e 37, CJF) x 38, 9.099/95
(GAJARDONI e Enunciado 162 FONAJE).

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