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LUCAS MARTINS
LUCAS SALES
PAULA LAGE
TRABALHO DE ANTROPOLOGIA:
UNIDADE II
BELO HORIZONTE
2018
1. Proposta de Cliffort Geertz sobre como abordar e estudar o fenômeno humano
Em seu artigo de 1995, intitulado Humanidade e Animalidade, Tim Ingold inicia com
a análise da definição de homem como espécie animal, partindo depois para um significado
alternativo de ser humano, como condição oposta à de animal, e finaliza mostrando que a
associação popular entre essas noções de humanidade deu origem à uma concepção peculiar
da singularidade humana.
Para realizar a primeira análise (a definição de homem como espécie animal), Tim
Ingold começa com um relato de um tenente da marinha sueca que, em 1647, encontrou uma
ilha onde seus habitantes, nus, portavam caudas e tinham aparência similar à de felinos. A
discussão a seguir, então, gira em torno de se tais criaturas poderiam ser consideradas
humanas ou não, levando em conta que tais habitantes conheciam a arte da navegação,
estavam acostumados ao comércio e faziam uso do ferro. (INGOLD, 1995)
Para o Juiz escocês James Burnett, conforme relatado em sua obra Of the Origin and
Progress of Language, publicada entre 1773 e 1792, não restava dúvidas de que eram
humanos pois
“ainda não descobrimos toda a multiplicidade da natureza, nem ao menos em nossa
própria espécie; e, no meu entender, a coisa mais inacreditável que se poderia
dizer, ainda que não houvesse fatos para refutá-la, é que todos os homens, nas mais
diversas partes da Terra, são iguais em tamanho, aparência, formato e cor”
(INGOLD, 1995)
A conclusão dessa análise é que os organismos não são agrupados em uma mesma
classe por causa da semelhança de sua aparência externa, mas em virtude de seus vínculos
genealógicos relativamente estreitos. Quanto mais estreitamente relacionados são os
indivíduos, em termos de descendência, maior é a quantidade de genes que eles
provavelmente têm em comum. Comparando-se com um objeto, como um cristal, por
exemplo, é possível afirmar que todo cristal é uma réplica, enquanto que todo organismo é
uma inovação, visto que cada cristal compartilha exatamente a mesma composição molecular,
mas as moléculas de organismos vivos são muito mais complexos e únicos. (INGOLD, 1995)
Na segunda análise (oposta à de homem como um animal), o autor utiliza preceitos
filosóficos para identificar o que é ou não ser humano. Nesta abordagem, “a relação entre o
humano e o animal deixa de ser inclusiva (uma província dentro de um reino) e passa a ser
exclusiva (um estado alternativo do ser)”. O autor faz ainda uma comparação entre
orangotangos adultos e bebês humanos, relatando a semelhança entre os dois seres e, partindo
desta análise, Ingold define o desenvolvimento de um único indivíduo como um retrato do
desenvolvimento da espécie. Ou seja, no início, quando crianças, somos selvagens, sem
firmeza de propósitos e com nossas ações determinadas por instintos, como o Orangotango, e
só depois a racionalidade se instala e, simplisticamente falando, “deixamos de ser animais”
(INGOLD, 1995).
É nesta análise que Ingold aponta a cultura como um dos fatores que se opõem à
natureza, sendo este último uma realidade externa e o primeiro uma realidade criada na
cabeça de cada indivíduo, que o difere dos outros. E é justamente esta “aptidão para a cultura”
que faz do humano não apenas um organismo biológico, mas um sujeito moral. Concluindo,
para o ser humano existir, é preciso, em primeiro lugar, existir como espécie, sem conferir
qualidade à pessoa, já que o conceito de humanidade reside numa categoria biológica, e, em
segundo lugar, existir como ser humano, como pessoa, que aponta para uma condição moral
(INGOLD, 1995).
Por fim, na terceira análise, Ingold mistura as duas análises previamente estabelecidas,
reafirmando as ideias da biologia, colocando a espécie humana tão singular quanto outras
espécies, nos diferenciando das outras espécies pela capacidade de raciocinar, linguagem,
consciência moral, costumes e códigos, onde o homem é o animal que erra, que sente
vergonha, que se inquieta com verdades ou mentiras. Ingold também coloca em seu texto que
temos o hábito de ver em um chimpanzé adulto uma criança, como se o desenvolvimento não
tivesse ocorrido da forma correta, ou tivesse sido interrompido, e assim tratamos como
crianças. O autor utiliza essa comparação para afirmar que a fronteira entre a espécie humana
e outras espécies não é paralela, estável e constante, mas sim variável, cruzando os limites
entre a animalidade e a humanidade com o estado de ser (INGOLD, 1995).
Christina faz uma análise de como os seres humanos são concebidos, de que forma a
intersubjetividade juntamente com aspectos biológicos e sociais são abordados, discorrendo
sobre diversos modelos de estudo científico contrapondo-se principalmente aos modelos
cognitivistas que se mostram insuficientes ao lidar com a historicidade humana.
O primeiro modelo proposto é o modelo unificado do ser humano, que seria
autopoiético, ou seja, capaz de produzir a si próprio, além disso é um ser completamente
social, em que o aspecto de humanidade é construído historicamente, onde todas suas ações
são carregadas da história por trás desse ser. De acordo com Toren (2012, p. 22) “nossa
singularidade em cada caso individual está dada pelo fato de que cada um de nós tem uma
história pessoal que faz de nós o que somos.” Em seguida ela argumentará contra alguns
modelos cognitivistas, ressaltando aspectos que sinalizam falhas em tais modelos, sempre
retomando o argumento da historicidade humana e de como as relações sociais em que as
pessoas estão inseridas são fatos essenciais para um estudo científico de sua concepção, como
propõe Toren (2012, p. 28) “a história é um processo dinâmico que continua alimentando o
presente em transformação e que esse processo deve se encontrar no âmago do que é ser
humano”.
Em suma a proposta do artigo é uma crítica aos modelos cognitivistas utilizando de
contra argumentos que abordam aspectos biológico e sociais de forma separada e não levam
em conta a intersubjetividade juntamente com a história de cada indivíduo, das relações
sociais em que cada indivíduo está inserido e que apesar da individualidade de cada um a
história prévia desses seres tem grande influência em sua vida,que a continuidade ao longo do
tempo é igualmente um aspecto de transformação (TOREN, 2012).
Geertz foca em uma cultura, ou em algo. Para ele não é possível criar leis gerais. É
preciso estudo focado e profundo (específico). A partir de diversos estudos focados, leis
gerais. A fronteira entre necessidade cultural e biológica para Geertz é tênue. É necessária
descrição densa dos fenômenos, buscando sentido simbólico claro, sem cair em “relativismo
extremo”.
Ingold busca reconciliar a continuidade do processo evolutivo com a consciência de
vivermos uma vida que se coloca além do “meramente animal”, e, para se alcançar isso,
Ingold acredita que é necessário transcender a oposição entre as concepções de homem como
animal e homem como ser histórico-cultural. A ciência da humanidade deve, portanto, ser
formulada com mais precisão como uma ciência da relação entre uma espécie biológica
peculiar e suas condições sociais e culturais de existência.
Em resumo, podemos dizer que enquanto Christina Toren prioriza as interações
sociais e a historicidade humana através das relações estabelecidas desde o nascimento até o
presente do ser em sua concepção, Geertz enfatiza as constrições sociais, dando menos ênfase
à história, neste sentido presenciamos focos diferentes do conceito de humanidade. Já Ingold,
além dos aspectos culturais e históricos, considera também os aspectos biológicos, aspectos
criticados por Toren visto que da perspectiva científica o âmbito biológico/inato é dado como
objetivo, correto, sem levar em conta o contexto e as diferenças derivadas da história de cada
indivíduo, para ela o ser humano e autopoiético, ou seja, produz a si mesmo.
5. Referências Bibliográficas