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Uma vez que os três produtos aqui discutidos são recursos florestais, cabe dizer que de modo
geral, existe uma forte tendência no crescimento do setor florestal (silvicultura) para as próximas
décadas, movimento este que está essencialmente em função da busca pela descarbonização das
economias em variados setores tais como o energético, de transporte e de construção civil, no sentido
de ir ao encontro de acordos climáticos estabelecidos para um desenvolvimento sustentável e
mitigação da emissão de GEEs, sobretudo CO2. No entanto, essa grande demanda de produtos de
florestas plantadas para atender uma população crescente com um padrão de consumo em transição
para o modelo ocidental, torna necessária e merecida uma discussão sobre tal expansão dessas
florestas artificiais sobre as florestas nativas.
Primeiramente é necessário distinguir os papeis das florestas plantadas. Elas podem ter fins de
recuperação de uma área ou, como o mais comum, ter um fim comercial atendendo ao mercado de
papel,celulose e madeireiro. Por outro lado, temos as florestas nativas que, por sua vez quando
estabelecidas como ecossistemas maduros desempenham uma série de serviços ecossistêmicos de
importância prioritária para a humanidade bem como, esta sim, preserva em sua dinâmica a
biodiversidade local que por sua vez, também ajuda a manter os serviços ecossistêmicos de interesses
humanos.
Apesar das florestas plantadas possuírem uma justificativa coerente para sua existência -
como atuar no sentido de reduzir a pressão exploratória sobre os recursos das matas nativas por meio
do desmatamento; atuar como sumidouro de CO2 e reaproveitar terras degradadas pela agricultura -
ainda assim, o que se observa na prática é uma contínua retração das florestas nativas e expansão das
florestas plantadas. Não necessariamente a retração da primeira é diretamente causada pela expansão
da segunda, no entanto, os mecanismos regulatórios e de monitoramento sobre as florestas nativas
devem ser fortalecidos para que a indústria possa realmente utilizar-se desse argumento para se
sustentar, principalmente porque devido ao aumento populacional e o aumento do poder aquisitivo
dos países emergentes nos próximos anos haverá maior demanda nos setores energético, de
construção e mesmo no crescimento da demanda por produtos como papel de escritório e higiênico.
Além disso, com o panorama das mudanças climáticas, o mercado de carbono que por um período
havia se enfraquecido, volta a ganhar força, o que será discutido mais à frente.
● Indústria do papel e celulose no Brasil.
O Brasil é atualmente o líder mundial na tecnologia de melhoramento genético e clonagem para o
cultivo do eucalipto. Tal desenvolvimento se desdobra desde meados de 1950 quando o Plano de
Metas de Juscelino Kubitschek deu apoio à silvicultura para diferentes fins, incluindo a construção e
alimentação de usinas siderúrgicas e termelétricas. Além desses melhoramentos que permitiram a
produtividade passar de 15m³/ha para 40m³/ha, temos uma série de condições abióticas que justificam
o Brasil como segundo maior produtor de celulose a partir de eucalipto, produzindo 18.800
toneladas/ano, dentre eles: água, insolação e terras abundantes, permitindo 3 “colheitas” ao todo, 1 a
cada 7 anos com maior rendimento produtivo a menor custo no mundo.
O mercado de papel e celulose é baseado basicamente na exploração do eucalipto(72%) e da
pinus(21%)*1 isto porque enquanto a primeira fornece uma fibra mais curta (0,5mm - 2mm), mais
absorvente e menos rígida (ideal para fabricação de papel para impressão, papel higiênico,
guardanapo,dentre outros) a fibra longa (2mm-5mm) obtida, por sua vez a partir da pinus, tem
características opostas e é destinada sobretudo para a fabricação de embalagens, papelão e jornal.
Enquanto que a produção de celulose atende majoritariamente(67%) ao mercado externo, a de papel
atende ao interno e isso leva a formas de organização e distribuição desses fornecedores de forma
muito distinta no país, se concentrando em poucas empresas para a primeira, e se diluindo em
empresas de menor porte para a segunda.
Produção nacional de papel e celulose. Exportação desses mesmos produtos segue padrão semelhante.
Unidades em mil toneladas. Ibá, Bradesco.
1
Outras fontes não madeireiras de matéria prima para produção de papel e celulose são o bambu, sisal e bagaço
de cana, representando 7,2% dessa produção.
Área plantada com eucalipto no brasil (esquerda) e área plantada com Pinus no brasil(direita), Ibá,
Bradesco (2016)
● Referências Bibliográficas
1. http://iba.org/pt/noticias/9-conteudo-pt/288-bracelpa-industria-de-celulose-e-papel-brasileira-
anuncia-investimentos
2. https://www.economiaemdia.com.br/EconomiaEmDia/pdf/infset_papel_e_celulose.pdf
3. http://iba.org/pt/produtos/celulose
4. http://www.valor.com.br/empresas/5418391/producao-de-celulose-cresce-184-em-fevereiro-n
a-comparacao-anual
5. http://www.poyry.com.br/sites/www.poyry.com.br/files/media/related_material/16out27a-abt
cp.pdf
6. https://www.ecycle.com.br/component/content/article/63-meio-ambiente/4820-reflorestament
o-por-mata-nativa-ou-floresta-plantada-controversias-beneficios-importancia.html
7. https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2015/04/florestas-plantadas-
sao-uma-agricultura-com-desempenho-ambiental-extraordinario.html
8. http://www.oeco.org.br/reportagens/brasil-tenta-regular-novo-mercado-de-carbono/
9. http://www.florestal.gov.br/snif/search?ordering=&searchphrase=all&searchword=floresta+n
ativ
10. http://www.ipef.br/estatisticas/relatorios/anuario-abraf13-br.pdf
11. http://wribrasil.org.br/pt/blog/2017/06/descarbonizacao-da-economia-passa-pelo-campo
12. http://www.ccst.inpe.br/brasil-tenta-regular-novo-mercado-de-carbono/
13. https://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2017/05/o-credito-de-carbono-sera-nova-c
ommodity-do-brasil.html
14. https://oglobo.globo.com/sociedade/ciencia/meio-ambiente/o-mercado-de-carbono-precisa-ser
-detido-afirma-pesquisadora-20457220