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Guiados pela Voz de Deus

Capítulo 2

PARE DE LUTAR CONTRA


A SUA CARNE!
Este capítulo ajuda a trazer o entendimento de como Deus possibilitou que
nossa carne estivesse apta para recebermos o derramar do
Espírito para, assim, profetizarmos

Vimos que Deus compartilhou um sonho no capítulo 2 do livro de Joel e o


cumprimento ocorre em Atos capítulo 2. E nesse sonho, Deus disse que nos últimos dias
derramaria do Seu Espírito sobre toda carne, e os filhos e as filhas profetizariam. Eu gosto
de colocar da seguinte forma: todo filho e filha pode profetizar!
Quando falamos do Profético, nada mais é do que conhecer a mente, o coração e
a voz do Senhor. Cada um de nós tem essa oportunidade, como filhos e filhas Dele. E a
única qualificação é ser carne, pois Joel profetizou dizendo que o Espírito seria derramado
sobre toda carne, e os filhos e as filhas profetizariam.
E como Deus tornou possível para a nossa carne poder receber isso? Através de
seu Filho, Jesus, que se fez maldição, morrendo na cruz e dando a vida Dele por nossos
pecados, ressuscitando dos mortos para nos dar uma nova vida e nos fazer capazes de nos
tornarmos containers, recipientes, vasos, para serem cheios da plenitude de Deus e do
próprio Espírito de Deus. E, por causa disso, você pode profetizar. Todos podem
profetizar. Todos que possuem essa nova vida podem ter acesso, como filhos e filhas, ao
coração e a mente de um Pai Celestial amoroso e que em todo o tempo é bom. O profético
é para todos os salvos e nascidos de novo, que se tornam filhos e filhas de Deus. Por isso,
você também pode profetizar!
Até aí, tudo bem. Só que ao dizer que o Espírito é derramado sobre toda “carne”,
eis que muitas vezes surgem os problemas. A grande questão aqui são as associações
feitas na mente de alguns quando o assunto é “carne”.
Algumas pessoas pensam da seguinte forma: “Ah, eu até que queria poder
profetizar e liberar mais palavras proféticas. O problema é que muitas vezes eu tenho
medo de falar. Sabe por quê? Vai que seja alguma coisa da carne?”.

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Eu quero te perguntar uma coisa: por acaso tem um outro meio de se manifestar
uma palavra profética que não seja através da “carne”? Ou por acaso você não sai da
carne, pega a palavra e depois volta para dizer qual foi? Claro que não! Vai ser uma
experiência que você vai viver na carne mesmo!
Mas eu até entendo essa dificuldade que se apresenta na vida de algumas pessoas
quando falamos sobre “carne”. Isso vem de alguns conceitos e padrões de pensamento
que se tem no meio da Igreja quando o assunto é a “nossa carne”. E muito disso tem a ver
com dois fatos: 1) as pessoas não entenderem com clareza o que Deus fez para possibilitar
que nós pudéssemos profetizar; 2) muitos estarem vivendo sem saber a diferença de quem
eles eram e de quem se tornaram. Além disso, existe um pensamento no meio da Igreja
de que a carne é má e precisamos a qualquer custo enfraquecê-la, matá-la.
Existe uma história que às vezes é contada como exemplo em pregações. É a
história de dois cachorros, ou dois lobos, um branco e um preto. E os dois cachorros foram
colocados para brigar. E o dono sempre sabia qual dos dois iria ganhar. Um dia
perguntaram para o dono como é que ele sabia qual o cachorro que iria ganhar. E o dono
respondeu: aquele que eu alimento pela manhã, este é o que irá ganhar.
Essa história é muitas vezes contada como exemplo em vários lugares e em várias
igrejas como representação da vida cristã. É a história de dois cachorros, um branco e um
preto, que vivem dentro de você e aquele que você alimentar é aquele que vai ganhar.
Dizem: “Leia sua bíblia, ore todos os dias, jejue muito e você irá crescer cada vez mais,
seu cachorro branco estará bem alimentado. Não leia a sua bíblia, deixe de orar todos
os dias, deixe de jejuar e você vai minguar, encolher, diminuir, seu cachorro preto vai
ganhar”. Nós ensinamos às crianças essa teologia do cachorro preto. Você tem o cão
preto e o cão branco e aquele que você alimentar será aquele que irá vencer! E isso se
torna uma luta diária, onde algumas vezes o cão branco vence, outras vezes o cão preto
vence. E usam essa história dos dois cachorros para ilustrar a nossa luta contra a carne.
Na boa, você já não está cansado dessa “teologia” do cachorro preto? Não estou
negando a existência de um cachorro preto. E também não quero que você pense que não
é preciso orar, ler a Bíblia ou jejuar. Isso são práticas importantes (quando feitas dentro
do propósito correto e da motivação correta). O que eu estou querendo dizer é que essa
luta com esses “dois cachorros” não é cristianismo bíblico.
Você encontra essa filosofia muitas vezes na cultura oriental, nos monges, no
taoísmo, budismo, xintoísmos, confucionismo e outros “ismos”, ou até no folclore. Eu

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me refiro a essa ideia de que existe alguma coisa má em cada pessoa boa ou existe uma
coisa boa em cada pessoa má, é aquela ideia de símbolo preto e branco (Yin Yang). Só
que isso não tem a ver com o evangelho de Cristo!
No evangelho de Jesus Cristo, o cachorro preto está morto! O problema é que
muitos cristãos estão tentando ensinar ao cachorro morto novos truques. Por exemplo:
fica, senta, finja de morto, não erre mais! Se você acha que é difícil ensinar um cachorro
velho, novos truques, tente ensinar ao cachorro morto, novos truques!
E muitos cristãos estão fazendo isso: estão tentando ensinar o velho homem morto,
o cachorro preto, como se comportar. Mas as Escrituras dizem claramente que o nosso
velho homem já foi crucificado com Cristo Jesus! Todos aqueles que pertencem a Cristo,
tem crucificado a sua natureza pecaminosa com suas paixões e desejos. O cachorro preto
está morto!
Por não compreenderem essas coisas, é que existem pessoas hoje que acabam
tendo medo de profetizar, liberar uma palavra profética, com o receio de falar algo dessa
“carne” tida como má. É preciso entender melhor sobre o assunto “carne” para que não
haja mais um empecilho para o crescimento, desenvolvimento e avanço do profético. É
preciso renovar a mente em relação a esse assunto e confrontar quaisquer fortalezas
contrárias aos princípios do Reino de Deus.

O gnosticismo foi uma das heresias mais perigosas dos dois primeiros séculos da
Igreja. As mentiras que foram introduzidas pelos gnósticos causaram danos que perduram
até hoje no meio do Corpo de Cristo. E muitas dessas mentiras afetam diretamente o
conceito que temos sobre carne e também sobre outros pontos dentro da vida cristã.
A doutrina central do gnosticismo era que o espírito é inteiramente bom e a
matéria, inteiramente má. Desse dualismo antibíblico fluíram cinco erros importantes:
1. O corpo do homem, que é matéria, é mau por essa mesma razão. Deve ser
diferenciado de Deus, que é totalmente espírito e, por isso mesmo, totalmente
bom. Daqui vem, por exemplo, a ideia de que a “carne” é má.
2. A salvação é escapar do corpo, sendo obtida não mediante a fé em Cristo, mas
por meio de conhecimento especial (a palavra grega traduzida por
“conhecimento” é gnosis, de onde vem a palavra gnosticismo). A salvação é
escapar do corpo, da carne. Por isso jejuns, votos, penitências, orações e outras

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coisas para tentar “matar a carne” e ser salvo. E com base nesse erro, é gerada
uma busca pelo intelectualismo, enchendo-se de muito conhecimento, mas sem
revelação e experiência com Deus.
3. A verdadeira humanidade de Cristo era negada de duas maneiras: 1) alguns
diziam que Cristo somente parecia ter corpo, e essa teoria era chamada docetismo,
do grego dokeo (“parecer”); 2) outros diziam que o Cristo divino uniu-se ao
homem Jesus no batismo, abandonando-o antes de morrer, teoria chamada de
cerintismo, segundo o nome do seu porta-voz mais destacado, Cerinto. Essa
opinião forma, por exemplo, o contexto de boa parte de 1 João. Para sustentar que
a carne é má, o corpo é mau, é preciso negar que Cristo tinha carne, corpo, matéria.
Daí surgem as teorias errôneas. Ao negar a humanidade de Cristo, isso nos
distancia dele. Daí pensamos: “ah, Jesus fazia isso ou aquilo porque era Jesus. Eu
não posso!”. Se isso acontece, não conseguimos nos identificar com Cristo, pois
parece ser sempre um padrão inalcançável, quando na verdade não é.
4. Como o corpo era considerado mau, deveria ser tratado com rigor. Essa forma
ascética de gnosticismo forma o contexto de parte da carta aos Colossenses.
Ascetismo é uma doutrina filosófica que defende a abstenção dos prazeres físicos
e psicológicos, acreditando ser o caminho para atingir a perfeição e equilíbrio
moral e espiritual. Para os ascetas – praticantes do ascetismo – o corpo físico é
fonte de grandes males, sendo inútil a nível espiritual, e renegam todos os desejos
carnais ou mundanos. Por esta razão, é comum do ascetismo a pratica de
penitências físicas, como flagelações, dietas rigorosas e frequentes jejuns. As
desconsiderações e renegações dos impulsos naturais carnais seriam o único
caminho para atingir a real sabedoria, exercitando o autocontrole diante das
inúmeras tentações humanas. Convencionou-se associar o ascetismo à
espiritualidade. Vemos várias vertentes hoje do cristianismo em que as pessoas
possuem esse padrão de pensamento. Pessoas que “jejuam para matar a carne”
(este não é o propósito do jejum em nossos dias), se abstém de certas coisas como
ver televisão, ir ao cinema, fazer um passeio, e outras coisas que consideram
“práticas mundanas”, estão mais ligadas à realidade do gnosticismo e ascetismo
do que à realidade do Reino de Deus.
5. Paradoxalmente, esse dualismo também levava à licenciosidade. O raciocínio era
que, como a matéria – e não a violação da lei de Deus (1Jo 3:4) – era considerada

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má, a violação da sua lei não era de consequência moral. Essa heresia era libertina,
repudiando todas as restrições morais.
O gnosticismo com o qual o Novo Testamento lidava era uma forma primitiva
dessa heresia, não o sistema desenvolvido e já complexo dos séculos II e III. Além da
forma encontrada em Colossenses e nas cartas de João, alguma familiaridade com o
gnosticismo primitivo se vê refletida em 1 e 2 Timóteo, em Tito, em 2 Pedro e talvez em
1 Coríntios. E muitas influências do gnosticismo daquela época ainda estão presentes em
nossos dias no meio da Igreja.

Existe uma ideia popular equivocada de que o Novo Testamento estabelece um


dualismo entre alma e/ou espírito, considerando estes superiores ou melhores, e o corpo,
considerado como inferior e pior. Há ainda aqueles que exaltam somente o espírito, e
declaram que o corpo é mal e que a alma é má e/ou prostituta. Essa forma de pensar não
está de acordo com os princípios do Reino de Deus.
Por conta dessa maneira de pensar, existem muitos crentes hoje em dia que vivem
numa espécie de luta constante contra a carne. Mas será que temos que ficar mesmo
lutando contra a nossa carne?

“Pois a nossa luta não é contra a carne, mas contra principados e potestades,
contra dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal
nas regiões celestiais”. (Efésios 6:12)

Paulo fala nesse versículo contra quem realmente é a nossa luta. Nossa luta é
contra forças espirituais malignas, não contra carne e sangue. Infelizmente, existe uma
multidão de crentes hoje em dia lutando contra o inimigo errado.
Enquanto lutam contra “carne e sangue”, que inclui eles mesmos, a própria pessoa,
que também é “carne e sangue”, estão gastando energia contra um inimigo que já morreu,
enquanto o verdadeiro adversário fica rindo sarcasticamente deles do lado de fora da
prisão que eles mesmos estão criando para si com esse tipo de pensamento. Estão
gastando energia na luta contra a carne ao invés de investir no processo de transformação
pessoal.

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Muitos crentes têm caído em uma artimanha do inimigo. Eles são aqueles que
sepultaram o velho “eu” no batismo. Eles podem citar Gálatas 2:20 e dizer que já estão
“crucificados com Cristo”. São aqueles que leram o livro de Romanos, que diz a eles mais
de trinta vezes que eles estão mortos, que eles morreram, que o velho homem foi
crucificado, que eles devem se considerar mortos... mortos, mortos, mortos, mortos! Só
que são esses mesmos crentes que vivem como se estivessem sendo “assombrados” pelo
velho homem. Alguns desses vivem como se estivessem chutando um cadáver, lutando
contra uma carcaça e perdendo de uma outra maneira suas energias com um “suposto
inimigo” que, na verdade, já está morto.
Como isso pode acontecer a crentes? Simples, eles ainda não aprenderam ou não
entenderam ainda de fato como viver na realidade dos versículos que eles mesmo sabem
citar sobre terem sido crucificados com Cristo. Eles ainda não entenderam de fato a
diferença entre quem eles costumavam a ser e quem eles se tornaram. Uma das razões
para isso é que muitos deles não compreendem bem a maneira como o Novo Testamento
usa a palavra carne.
Praticamente, todos aqueles que acreditam que estão lutando contra a carne,
procuram embasar essa ideia naquilo que Paulo descreve em Romanos 7:18-24.

“Sei que nada de bom habita em mim, isto é, em minha carne. Porque tenho o
desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Pois o que faço não é o
bem que desejo, mas o mal que não quero fazer, esse eu continuo fazendo. Ora,
se faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, mas o pecado que habita em
mim. Assim, encontro esta lei que atua em mim: Quando quero fazer o bem, o mal
está junto a mim. Pois, no íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus; mas
vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, guerreando contra a lei da
minha mente, tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus
membros. Miserável homem eu que sou! Quem me libertará do corpo sujeito a
esta morte?” (Romanos 7:18-24)

Você pode pensar: “Se o grande apóstolo Paulo, que escreveu treze dos livros do
Novo Testamento, era escravo de sua natureza pecaminosa, quais são as chances de que
eu não venha a lutar também contra o pecado?”. Essa seria uma boa pergunta, se Paulo
estivesse descrevendo uma luta que ele estava tendo enquanto apóstolo. Mas a verdade é

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que, nesta passagem, Paulo estava contando a história de sua vida ANTES de Cristo, e
não a sua vida EM Cristo. Ele usa a linguagem no tempo presente para enfatizar a luta no
tempo passado que ele estava tendo como Fariseu.

Ao lidar com obras escritas originalmente em outros idiomas diferentes do


português, nos deparamos às vezes com algumas questões de perda de contexto e/ou
significado que o autor quis expressar. Toda tradução é, na verdade, uma reinterpretação
que o tradutor faz de um idioma para o outro. Na falta de palavras ou até mesmo estruturas
gramaticais que existem na língua para a qual está se querendo traduzir a obra do original,
o tradutor precisa tentar encontrar o equivalente mais próximo para tentar passar a ideia
que o autor estava querendo transmitir. Mas nem sempre, é possível.
Entre uma língua e outra, muitas vezes a semântica é diferente, a estrutura
gramatical é diferente, palavras tem significados diferentes e existem até algumas
palavras e expressões que só fazem sentido dentro da cultura em que o idioma está
inserido. Existem diferenças também entre os tempos verbais que podem fazer grande
diferença no entendimento do que está sendo falado. Por exemplo, em inglês existe um
tempo verbal chamado Present Perfect (Presente Perfeito) que não existe equivalente na
língua portuguesa. Usa-se em inglês o Presente Perfeito para expressar uma ação que
aconteceu em um tempo específico antes de agora. É um pouco difícil explicar para os
falantes de português, porque não existe esse tempo equivalente em nossa língua para
comparar. Mas quando falamos inglês, passamos a entender o que esse tempo representa.
E o Presente Perfeito, apesar do nome, não reflete tanto uma “ação no presente”. Está
mais relacionado ao passado, mas também não um passado em um tempo específico do
tempo. É usado para algo que aconteceu no passado, mas ainda é verdade no presente, e
não importa quando aconteceu. Entendeu? Acho que não! Rsrsrs. Você só compreende
melhor se você conhece inglês. Existe também um outro tempo verbal chamado Present
Continuous (Presente Contínuo) que, apesar de o nome dizer “Presente” e parecer que a
ação do verbo está no tempo presente, há situações que o Presente Contínuo em inglês
indica uma ação que acontecerá no futuro. Isso são só alguns exemplos para tentar te
mostrar sobre a diferença de idiomas.
Por que estou falando disso? Porque algumas confusões que temos hoje em
relação ao entendimento da Bíblia, vem por conta da tradução. Louvamos a Deus e somos

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gratos pelas pessoas que se empenharam em traduzir a Bíblia para o nosso idioma e
mesmo contendo falhas, temos em nossas mãos um tesouro inestimável! Mas também é
fato de que alguns mal-entendidos só poderão ser resolvidos se olharmos para a Bíblia
em seu contexto original, que inclui recorrer à língua original.
Por vezes, uma tradução em português da Bíblia pode parecer contrária a outras
passagens na Bíblia. Isso porque não temos todos os significados exatamente iguais ao
texto original e isso inclui os tempos verbais. Existem tempos verbais no grego, por
exemplo, que não existem em português. E os tradutores tiveram que optar por um tempo
verbal em nossa língua ao traduzir segundo o que eles entendiam ser o mais correto, só
que às vezes a escolha acabou trazendo confusões. Por isso, precisamos sempre que
possível, recorrer ao original, tendo em mente também a perspectiva do autor e o contexto
para que possamos interpretar melhor as Escrituras.
Com relação ao capítulo 7 do livro de Romanos, ao estudar em português,
podemos ficar confusos, porque o tempo verbal ali está no presente e nos dá a entender
que Paulo está falando da situação atual dele como alguém que está em uma luta contra a
carne. Parece que ele está falando ainda como Saulo quando era um fariseu religioso. Mas
ao olhar para o texto grego original, vamos descobrir que o tempo verbal ali usado por
Paulo é provavelmente o “Presente Histórico”.
Presente Histórico é um tempo verbal do grego muito utilizado em linguística e
em retóricas. Retórica é a arte de bem argumentar, a arte da palavra, a arte do bem dizer,
a arte da eloquência. No grego, o Presente Histórico é usado (especialmente em narrativas
históricas ou narrativas de fatos) para descrever um evento que ocorreu no passado (só
que em “tempo presente”) para os seguintes propósitos:
1) Adicionar vivacidade ao evento, tentando levar o leitor para dentro da história
2) Dar uma proeminência literária para algum aspecto da história (por exemplo,
mudança de cenário ou cena, introdução de um novo personagem ou uma nova
temática).
O uso do Presente Histórico tem o propósito também de dar destaque a algo na
história que está sendo transmitida. No Presente Histórico usa-se o verbo em tempo
presente para expressar ações passadas. É meio parecido com alguns realities shows,
como o MasterChef, em que os participantes falam no presente, sendo que tudo aquilo já
ocorreu no passado. Eles fazem seus pratos, e fazem comentários. Mas narram no presente
algo que eles já fizeram (pois já foi tudo gravado) para trazer uma certa vivacidade,

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tentando levar o leitor para dentro da história, dando destaque ao que está sendo
transmitido.

Paulo está descrevendo o que era ser um mestre da Lei de Deus sem conhecer a
Cristo. A Lei ensinou-o o que era certo e o que era errado, mas não deu a ele poder algum
para andar com retidão. E quanto mais ele aprendia sobre a Lei, mais culpado ele se
tornava (Romanos 5:20).
Para entender realmente a dissertação de Paulo sobre o que aconteceu com ele
quando foi de antes de Cristo para depois de Cristo, nós temos que voltar alguns capítulos
antes de Romanos 7 para conseguir compreender o contexto dos comentários dele nesse
capítulo. O que tenho a apresentar pode desafiar sua maneira de pensar por se tratar de
conceitos muitas vezes mal compreendidos. Mas me acompanhe enquanto tento construir
aqui um fundamento bíblico para que você possa perceber e entender as verdades
transformadoras que Paulo apresenta sobre o pecado, a carne e o crente.

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De


modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?
(...) Sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o
corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado. Pois quem
está morto está justificado do pecado” (Romanos 6:1,2,6,7)

Nestes versículos, Paulo deixa claro que nosso velho homem “foi crucificado”
com Cristo (verbo no tempo pretérito, no passado), o que resulta em não sermos mais
escravos do pecado, porque pessoas mortas não pecam! Além disso, nosso “corpo do
pecado” (o mesmo “corpo desta morte” que ele fala a respeito no capítulo 7) foi eliminado
junto também. Em outras palavras, aquele velho cadáver que as pessoas ficam chutando
não existe mais! Quando nós acreditamos que ele pode voltar, nós damos poder a uma
mentira e a fortalecemos, e esta mentira acaba dando poder e legalidade a satanás, o pai
das mentiras, para nos atormentar e se levantar contra nossas vidas. É por isso que Paulo
nos instrui a alinhar aquilo que cremos com a verdade.

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“Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para
Deus, em Cristo Jesus. (...)Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto
não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça. (...) e libertos do pecado, fostes
feitos servos da justiça” (Romanos 6:11,14,18)

Nós devemos nos considerar a nós mesmos mortos para o pecado. A palavra
“considerar” em Grego é um termo contábil. Significa levar em conta todos os fatos e
chegar a uma conclusão. É como se fosse levar em conta todas as parcelas e, através de
cálculo, atribuição ou análise, chegar ao resultado. No caso do texto em questão de
Romanos, seria como resolver um problema de matemática sabendo a que resposta
precisamos chegar. Se nós fizermos os cálculos e chegar a um resultado diferente, nós
precisamos, então, voltar e checar todos nossos fatos e o desenvolvimento do cálculo para
descobrir porque a resposta foi diferente. Quando Paulo diz para nos considerarmos
mortos, o resultado que precisamos chegar após levar em conta todos os fatos é este: nós
estamos mortos para o pecado. Se chegarmos a uma resposta diferente depois de fazer
“todos nos nossos cálculos” e toda nossa análise, depois de concluir através de “nossos
cálculos”, precisamos voltar e revisar tudo para ver onde está o erro.

Agora, uma vez que vimos que Paulo deixa bem claro que estamos mortos para o
pecado, vamos examinar o que Paulo diz em suas declarações iniciais em Romanos 7.

“Meus irmãos, falo a vocês como a pessoas que conhecem a lei. Acaso vocês não
sabem que a lei tem autoridade sobre alguém apenas enquanto ele vive? Por
exemplo, pela lei a mulher casada está ligada a seu marido enquanto ele estiver
vivo; mas, se o marido morrer, ela estará livre da lei do casamento. Por isso, se
ela se casar com outro homem enquanto seu marido ainda estiver vivo, será
considerada adúltera. Mas se o marido morrer, ela estará livre daquela lei, e
mesmo que venha a se casar com outro homem, não será adúltera. Assim, meus
irmãos, vocês também morreram para a lei, por meio do corpo de Cristo, para
pertencerem a outro, àquele que ressuscitou dos mortos, a fim de que venhamos
a dar fruto para Deus. Pois quando éramos controlados pela carne, as paixões
pecaminosas despertadas pela lei atuavam em nossos corpos, de forma que

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dávamos fruto para a morte. Mas agora, morrendo para aquilo que antes nos
prendia, fomos libertados da lei, para que sirvamos conforme o novo modo do
Espírito, e não segundo a velha forma da lei escrita”. (Romanos 7:1-6)

Nessa passagem, Paulo descreve nossa jornada para fora da escravidão do pecado
usando uma analogia com o casamento.
Casamento é uma aliança que só é quebrada com a morte. Se uma mulher está
casada, seu primeiro marido morre e ela se casa novamente, ela não é considerada uma
adúltera, porque a morte de seu primeiro marido dissolveu o vínculo entre eles.
E como a analogia de Paulo se aplica a nós? A Lei, a Antiga Aliança, era nosso
primeiro marido. Mas, no nosso caso, nós somos aqueles que morreram. Quando Cristo
morreu na cruz, nós morremos com Ele e nossa aliança com a Lei foi findada. Então,
quando Cristo ressuscitou, nós ressuscitamos com Ele e nós nos unimos (casamos) a Ele
em uma Nova Aliança. Cristo, que nos resgatou das garras da Lei, também se tornou
nosso novo marido! E, neste novo casamento, nós não estamos mais atados sob as
exigências do antigo casamento.
Deixe-me te contar uma história para ajudar a ilustrar também o que eu estou
querendo dizer. Uma bela jovem se casou com o homem que era sua paixão de infância.
Imediatamente após o casamento, seu marido se revelou como um tirano. Sentado na
cama na noite de sua lua-de-mel, ele entregou a ela uma lista de tarefas e
responsabilidades que ele exigia que ela cumprisse como sua esposa. Ela passou os
próximos dez anos tentando cumprir e obedecer aquelas regras, mas ela nunca conseguia
fazer isso. Então, um dia, seu marido caiu morto no chão de um ataque do coração.
Alguns anos mais tarde, esta mulher maravilhosa se casou novamente. Desta vez,
ela se casou com um príncipe de verdade! Ele a amava e esbanjava afeição por ela. Eles
tiveram um maravilhoso casamento. Muitos anos se passaram e, um dia, ela estava
limpando seu antigo baú, quando encontrou a lista de seu primeiro marido que ele tinha
dado em sua lua-de-mel. À medida que ela revisou as exigências dele, a ansiedade
começou a encher o seu coração. Então, algo memorável aconteceu. Ela de repente
percebeu que todas as exigências que ela não podia cumprir quando estava casada com o
marido tirano, se tornaram agora as coisas que ela naturalmente estava fazendo por anos
de paixão por seu príncipe!

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Isto é precisamente o que Paulo está dizendo em Romanos 7. Ele está contando
novamente o terrível senso de escravidão que ele vivenciou quando ele vivia sob um
conjunto de regras, mas sem nunca conhecer seu verdadeiro amado. Ele faz isso para nos
ajudar a entender o grande contraste entre o antigo casamento e o novo casamento.

Paulo começa Romanos 8 mostrando-nos o quanto somos completamente


diferentes agora que nos “unimos a outro homem”. Todo o nosso ser, isto é, nosso ser
triúno – corpo, alma e espírito - passou por uma transformação radical.

“Porque por meio de Cristo Jesus a lei do Espírito de vida me libertou da lei do
pecado e da morte. Porque, aquilo que a lei fora incapaz de fazer por estar
enfraquecida pela carne, Deus o fez, enviando seu próprio Filho, à semelhança
do homem pecador, como oferta pelo pecado. E assim condenou o pecado na
carne. (...)Quem vive segundo a carne tem a mente voltada para o que a carne
deseja; mas quem, de acordo com o Espírito, tem a mente voltada para o que o
Espírito deseja. A mentalidade da carne é morte, mas a mentalidade do Espírito
é vida e paz; a mentalidade da carne é inimiga de Deus porque não se submete à
lei de Deus, nem pode fazê-lo. Quem é dominado pela carne não pode agradar a
Deus. Entretanto, vocês não estão sob o domínio da carne, mas do Espírito, se de
fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo,
não pertence a Cristo. (...) E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre
os mortos habita em vocês, aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos
também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em
vocês. (...) Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de
Deus. Pois vocês não receberam um espírito que os escravize para novamente
temer, mas receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual
clamamos: "Aba, Pai"”. (Romanos 8:2-3, 5-9, 11, 14-15)

Romanos 8 mostra tanto o estado de nosso espírito, de nossa alma e de nosso corpo
ANTES de Cristo como também nosso estado EM Cristo. Quando nós estávamos casados
com a Lei, nossos espíritos estavam mortos, separados de Deus através do pecado. Esta
morte espiritual fez com que nossa mente (e toda nossa alma) ficasse sob o controle das

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exigências e paixões pecaminosas de nossos “corpos corruptíveis”. Mas Cristo deu um


fim à nossa separação de Deus, tomando sobre si a condenação pelo pecado, permitindo
assim que nossos espíritos se unissem ao Seu Espírito e revivesse. Isso, em contrapartida,
fez com que nossa mente fosse “voltada” para Seu Espírito, o que deu um fim à guerra
entre a mente e o corpo, entre a alma e o corpo, e nos trouxe vida e paz. Por fim, toda a
nossa “carne pecaminosa” participa da morte juntamente com Cristo. Isso aniquilou a
doença do pecado e, em Sua ressurreição, Ele deu vida aos nossos corpos mortais. Nossos
corpos foram de “castelos malignos”, abrigando uma natureza pecaminosa que “não
agradava a Deus”, para templos santos nos quais o Espírito Santo habita.
Deus não deixou parte alguma de nós inalterada quando Ele nos casou com Seu
Filho. Este é o motivo pelo qual Paulo em sua Segunda Carta aos Coríntios diz que nós
somos uma “nova criação”, não apenas um novo espírito, mas um ser inteiramente novo
(2 Co 5:17). Nossa própria natureza foi completamente transformada. Nós fomos
transformados daqueles que eram inimigos de Deus em santos que amam Jesus com todo
o seu ser – espírito, alma e corpo! Daí eu te pergunto: diante de toda essa maravilha que
Deus fez, como podemos dizer ainda que a nossa carne é má e que precisa ser morta e
que nossa alma não é boa, é prostituta, e que precisamos calar a alma, dar um “choque”
nela ou até mesmo menosprezá-la de alguma forma? Minha opinião é que não podemos
considerar mau aquilo que Jesus pagou um alto preço para tornar santo e bom!
Mas espere, você pode pensar: “mas Paulo não acabou de dizer que a carne é
inimiga de Deus?”. Olhe novamente. Ele disse que “a mente voltada para a carne” é
“inimiga de Deus”. O que isto significa? Ficará mais claro se você estudar como o Novo
Testamento usa a palavra grega sarx, que normalmente é traduzida como “carne”.
Quando Paulo usa a palavra grega “sarx” para falar da carne, ele não se refere
somente ao corpo físico, mas a natureza humana. E em nossa natureza humana, somos
um ser triúno, composto por espírito, alma e corpo. Ao falar de carne, então, levamos em
consideração todo o nosso ser.
Você vai perceber que a palavra em si no grego não denota algo positivo ou
negativo. Sendo assim, a palavra sarx (carne) é associada tanto à velha natureza quanto a
nova natureza, claro que sob contextos diferentes. Isto nos leva a entender que nosso
corpo não é, por si só, fonte de bom ou mal.
Nossa carne é governada pelo nosso espírito e por nossa alma. Em particular,
nossa alma é o sistema operacional do corpo, o mediador entre o espiritual e o físico. A

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“mente voltada para a carne” é a descrição de nossa alma desconectada do Espírito Santo,
rodando um “programa” ou um “software” construído em mentiras e falsos poderes
espirituais, como concupiscência e medo. Em sua carta ao Gálatas, Paulo descreve o
comportamento que esta mentalidade produz.

“Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e


libertinagem; idolatria e feitiçaria; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo,
dissensões, facções e inveja; embriaguez, orgias e coisas semelhantes. Eu os
advirto, como antes já os adverti, que os que praticam essas coisas não herdarão
o Reino de Deus” (Gálatas 5:19-21)

Nós, que estamos em Cristo, não temos mais que ficar colocando a nossa mente
na carne da velha natureza, cujas obras são estas descritas em Gálatas 5. Quando
colocamos a nossa mente nessa carne de Gálatas 5, estamos querendo na verdade tentar
ressuscitar algo que já estava morto e “consultar” esse algo morto. Isso é, no mínimo,
necromancia!
Mas quando nossos espíritos foram vivificados em Cristo, nossas almas foram
libertas da tirania desta mentalidade relacionada a Gálatas 5. Nós agora temos a liberdade
e a responsabilidade de “colocar a nossa mente” nas coisas do Espírito. Quando a nossa
mente está voltada para o Espírito, nós não somos mais “controlados pelas paixões
pecaminosas despertadas pela Lei” as quais atuavam em nosso corpo (Romanos 7:5). Ao
invés disso, nós temos o poder de dirigir nossos corpos de acordo com seus verdadeiros
valores espirituais e propósito.
Gostaria de ressaltar aqui dois pontos importantes dentro desse assunto. Primeiro,
Paulo nos ensina que nós devemos alimentar (nutrir) e cuidar da nossa “nova” carne:

“Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o alimenta e
dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois somos membros do seu
corpo”.
(Efésios 5:29,30)

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A palavra grega aqui para “cuida” é thalpō, que significa “cuidar com amor terno,
criar com cuidado terno”, e é a mesma palavra grega traduzida também como “cuida” em
1 Tessalonicenses 2:7:

“Embora, como apóstolos de Cristo, pudéssemos ter sido um peso, tornamo-nos


bondosos entre vocês, como uma mãe que cuida dos próprios filhos”.
(1 Tessalonicenses 2:7)

Se a carne do nosso novo homem fosse inimiga de Deus, a Bíblia certamente não
nos ensinaria a cuidar dela como uma mãe cuida ternamente de seu filho, não acha? Nós,
que estamos em Cristo, devemos agora colocar a nossa mente na nova carne, a qual deve
ser nutrida e cuidada.
Quando recebemos a Cristo, nós nos tornamos um crente novo em folha, nascemos
de novo, nos tornamos uma criatura nova em folha. E nessa condição, precisamos
amadurecer, como um bebê que acabou de nascer e precisa agora passar pelo processo de
amadurecimento, crescer e se desenvolver. E a Bíblia chama esse processo de
santificação, em que vamos “de glória em glória”. Até Jesus passou por um processo de
amadurecimento. A Bíblia diz que Ele aprendeu obediência através das coisas que sofreu,
daquilo que Ele passou. Claro, sem pecar. E nós temos que também passar por um
processo de amadurecimento. Por exemplo, uma criança fazer xixi nas calças é algo ainda
considerado normal para a idade dela. Mas um adolescente de 17 anos fazer isso, significa
que há algo de errado aí. Se um adolescente de 17 anos apresenta comportamentos como
os de uma criança pequena, isso não está certo. Isso ilustra o caso de algumas pessoas que
se tornam mais velhas, mas não amadurecem. Elas “crescem em idade”, mas não
“crescem em maturidade”.
Existe um processo de crescimento e amadurecimento em nossas vidas, e esse
processo não é algo para “saírmos do pecado”, mas sim crescer e amadurecer como Jesus,
aprendendo a partir de coisas pelas quais passamos ou sofremos. E nesse processo de
amadurecimento, você pode cometer erros? Claro que sim! Enquanto você estiver
crescendo, assim como uma criança comete erros em seu processo de aprendizado e
amadurecimento, você também pode cometer. Mas isso não deve ser também desculpa
para querer ficar cometendo o mesmo erro pelo resto da vida. Lembre-se que certas coisas
são até “normais” para uma criança praticar, mas supostamente para um adulto, não.

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Na fase de desenvolvimento dos filhos, muitas vezes diante de alguns erros que
cometem, os pais lhe aplicam uma disciplina. Assim nós também, em nosso processo de
amadurecimento, somos disciplinados. Mas é importante entender que disciplina não é
punição e não deve ser usada como tal! Não é esse o propósito da disciplina. As
disciplinas, de acordo com a perspectiva de Deus, são bênção para nós, e não algo para
nos matar. Disciplina está ligada ao conceito de poda em João 15:3 onde diz “vocês estão
limpos pela palavra que eu vos tenho falado”. Disciplina vem pela palavra de Deus falada
ao coração de uma pessoa. É uma poda, com o objetivo de que se dê mais frutos.
Hebreus 12:11 diz que a disciplina não é recebida com alegria no momento em
que é recebida, mas depois produz fruto pacífico de justiça. E todos aqueles que não
aceitam a disciplina, são considerados bastardos, e não filhos (Hebreus 12:8). O
verdadeiro filho aceita a disciplina, a correção que vem do pai. A disciplina aplicada
diante de um erro ajuda no processo de crescimento e amadurecimento.
Segundo ponto. Paulo diz em Romanos 6:13 para apresentar “seus membros como
instrumentos da justiça de Deus” e em Romanos 12:1, para apresentar “seus corpos como
um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Se você já leu o Antigo Testamento, você
deve ter visto que as únicas coisas que podiam ser usadas como “instrumentos” ou
“sacrifícios” para a adoração a Deus eram aquelas que haviam sido purificadas e limpas.
Seria impossível para os judeus em Roma, para os quais Paulo também estava escrevendo
esta carta, passar despercebido pela implicação desses versículos que atestam o seguinte:
nossos corpos são limpos e puros em Cristo!

Agora, vamos tornar isso prático. Talvez você esteja perguntando a si mesmo: “Se
nós realmente somos nova criação e não mais lutamos contra a carne, então como pode
crentes ainda pecarem? Isso não significa que nós ainda temos uma natureza
pecaminosa?”
Deixa eu te fazer uma pergunta: Adão e Eva tinham uma natureza pecaminosa
quando caíram? A resposta é não. Adão e Eva provaram que você não precisa de uma
natureza pecaminosa para pecar. Depois que Deus criou o ser humano lá no Éden, Ele
olhou para o que tinha criado e disse que era “muito bom” (Gênesis 1:31). Se Adão e Eva
possuíssem uma natureza pecaminosa, Deus não poderia ter chamado eles de algo “muito
bom”, não acha?

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Isto prova que tudo o que você precisa para pecar é livre-arbítrio e a capacidade
de acreditar em uma mentira. Todos os crentes possuem essas qualidades. É por isso que
o apóstolo João nos ensinou a não nos deixarmos enganar de quem nós éramos antes de
termos sido limpos do pecado e quem nós nos somos depois de sermos limpos:

“Se afirmarmos que estamos sem pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a


verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo
para perdoar os nossos pecados e nos purificar de toda injustiça. (...) Meus
filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Se, porém,
alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”.
(1 João 1:8,9; 2:1)

João deixa claro que todos nós que viemos a Cristo como pessoas que “têm
pecado”, isto é, com a propensão, com a tendência a pecar. Afinal de contas, Deus salva
pecadores! Não importa quão legal, bom, cuidadoso, generoso ou amigável alguém é, ele
é inerentemente propenso a fazer coisas erradas se ele não conhece a Jesus e se sua vida
não está em Cristo. Portanto, a primeira maneira que podemos enganar a nós mesmos é
dizendo que nós não temos pecado ao vir para Cristo.
Mas o foco da carta de João é que nós não devemos pecar, o que só é possível se
a limpeza que recebemos de Cristo remova nossa velha tendência a pecar. Isso é o que a
experiência de batismo da nova criação faz conosco. Nossa velha natureza é submergida
e nós saímos da água com um novo espírito, um que clama “Aba Pai!”. No âmago de
nossos seres, nós somos agora pessoas maravilhosas que inerentemente amam e anseiam
por nosso Pai Celestial, assim como Cristo fez. O mau não existe mais intrinsicamente
em nós. Nós temos o coração do Céu.
Na verdade, Deus fez algo tão grande para nos estabelecer em uma vida santa que
“se” (e não “quando”) pecarmos, nós na realidade precisaremos de um advogado para
ajudar a pleitear a nossa causa. Por isso, depois de ter confessado os nossos pecados, a
segunda maneira que nós podemos enganar a nós mesmos é dizendo que conhecemos a
Deus enquanto continuamos a praticar o pecado. E uma das melhores maneiras de se
fazer isso é abraçar a crença de que nós ainda somos pecadores por natureza. Se nós, que
dizemos que estamos em Cristo, acreditamos que somos pecadores, continuaremos a
pecar. Bill Johnson diz que “se alguém acredita que é apenas um pecador salvo pela

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graça, então é irá pecar por fé”. Nossas ações são muitas vezes executadas com base em
nosso sistema de crenças e valores. Se eu acredito que sou ainda um pecador, que apenas
fui salvo pela graça, a luta contra o pecado sempre será real em minha vida, pois se eu
creio que ainda sou um pecador, continuarei pecando por causa daquilo que eu creio. Não
somos mais pecadores. Nós que estamos em Cristo, somos agora filhos santos amados do
Pai Celestial!
É por isso que João nos ensina a acreditar que nós não pecaremos se aprendermos
a habitar em Cristo. Ele escreve:

“Todo aquele que nele permanece não está no pecado. Todo aquele que está no
pecado não o viu nem o conheceu. (...) Todo aquele que é nascido de Deus não
pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar
no pecado, porque é nascido de Deus”.
(1 João 3:6,9)

Uau! Estas palavras são fortes: “Todo aquele que é nascido de Deus não pratica
o pecado”! Essas passagens levam ao ponto que estou ressaltando. Aqueles de nós que
conhecem a Deus não estão em uma guerra contra a própria carne. Nós não somos mais
pecadores. Mas nós ainda temos um inimigo malvado. Ele está constantemente acusando
o Corpo de ter sua própria natureza malvada. Ele faz de tudo para que a gente venha a
crer nele, esquecendo de quem nós realmente somos e nos desqualificando de nosso
destino divino de colocá-lo debaixo de nossos pés.
Deixe-me esclarecer o seguinte: eu não estou dizendo que nós nunca escolheremos
pecar ou que nunca teremos que nos arrepender de alguma coisa uma vez que nascemos
de novo. Como eu disse antes, tudo o que é necessário para pecar é um livre-arbítrio e a
capacidade de acreditar em uma mentira do inimigo (e crentes possuem essas duas
coisas). Poderemos um dia escolher pecar e, consequentemente, nós teremos que nos
arrepender. O que eu estou querendo dizer é que nós não pecamos mais de forma natural
porque nós não temos mais uma natureza pecaminosa casada com a Lei. Nossa velha
natureza foi crucificada com Cristo. Somos nova criação, casados com Cristo em Nova
Aliança. Não é mais natural para nós pecarmos. Não condiz mais com a nossa nova
natureza!

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Em oposição a esta verdade poderosa, uma teologia enganosa se mantém


circulando pela Igreja – uma doutrina que basicamente diz que ainda é da nossa natureza
pecar mesmo depois de termos nascido de novo. Eu, particularmente, estou convencido
de que esta é uma doutrina de demônios. O diabo quer nos convencer de que pecado,
perversidade, vícios e todas as outras formas de escravidão estão enraizadas em nossa
natureza. Dessa forma, ele pode nos atormentar e, então, nos levar a culpar o velho
homem.
Minha opinião é que o diabo por diversas vezes “mascara” a velha natureza, o
velho homem, a velha carne. Ele quer que você pense que sua luta é contra o velho
homem. Funciona assim: ele te dá um pensamento mau, tipo “Por que você não tem
relações sexuais com aquela mulher?” ou “Por que você não usa drogas?” e coisas assim,
e você é levado a pensar que está lutando contra o velho homem por falta de conhecimento
da realidade, quando na verdade o inimigo é outro. Muito do que se pensa ser luta contra
a carne é, na verdade, uma batalha espiritual contra forças espirituais demoníacas. E como
vencer essa luta se ao invés de estar combatendo o real inimigo, as forças demoníacas,
estamos voltando à sepultura para tentar combater o velho homem, achando que ele é o
responsável, mas que, na verdade, já está morto?
Muitas vezes, o que parece que muitos crentes estão fazendo é ir de volta ao local
de batismo onde o velho homem foi sepultado, pegam o velho homem e ficam
contendendo com ele. É como se voltassem na sepultura e ficassem lutando com algo que
já está morto. Estão lutando contra o inimigo errado. Se você chuta um morto, não importa
quantas vezes você chuta, ele continuará morto! É mais ou menos isso que você faz
quando diz: “isso é meu velho homem, tenho que dar um jeito nele!” ou “isso é minha
carne. Minha carne não é boa. Tenho que dar um jeito de matar minha carne. Já sei! Vou
jejuar mais para matar a minha carne!”. Para que investir esforços para querer “matar”
algo que já está morto? Não faz sentido!
O inimigo nos leva a acreditar que estamos lutando contra o velho homem e contra
a carne para assim tirar o foco do verdadeiro inimigo, que é ele! Se estamos lutando contra
o inimigo errado, como iremos vencer, então? A vida cristã normal não é para ser uma
luta exaustiva contra o velho homem e contra a carne, mas uma vida abundante e cheia
de alegria em Deus, temperada às vezes por uma estação ocasional de forte resistência do
nosso verdadeiro arqui-inimigo. E não significa também que não haja possibilidade de

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pecarmos. O que deve ser entendido é que isso não é mais o nosso normal, pois não faz
mais parte de nossa nova natureza, da realidade de quem somos.
O que estou falando aqui é que, como nova criação, tendo uma nova natureza, nós
não temos mais a tendência, não somos mais propensos, a pecar. Quando recebemos a
Cristo, nós somos propensos à justiça, não ao pecado. Nós não temos a tendência a pecar
mais, só que isso não significa que não pecamos mais.
Fomos livres do pecado, não livres de pecar. Eu não estou dizendo que não mais
podemos fazer escolhas ruins, ou que não mais podemos ter pensamentos ruim, ou que
não mais podemos pecar sendo “novo homem”, nova criatura. O que eu simplesmente
estou dizendo é que não é mais da sua natureza tais coisas. Porque de acordo com 2 Pedro,
você recebeu uma natureza divina. E, por causa disso, agora, para você pecar, você vai
ter que fazer um esforço, porque não é mais da sua natureza pecar. Então, se você peca,
é porque você escolheu pecar e se esforçou para isso. E não porque há algo em você que
te faz propenso a pecar. Essa tendência em você não existe mais. Se você pecou, é porque
você escolheu isso e se esforçou para isso. Pecado, na vida de uma nova criatura, não é
mais meramente um “acidente” ou um “deslize”. É uma escolha que se faz onde um
esforço é empreendido.
Você pode escolher fazer algo errado, sendo uma nova criatura? Sim. Você pode
ter um pensamento errado? Sim. O diabo pode te dar um pensamento errado? Sim. E você
pode acabar cedendo à tentação e acabar pecando? Sim.
E se pecar? O que fazer? “Mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com
o Pai, Jesus Cristo, o justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente
pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 João 2:1,2).

Se alguém está em Cristo, nova criatura é (2 Co 5:17). A pessoa tem uma segunda
e nova natureza humana controlada pelo Espírito Santo. Uma nova carne, diferente da
carne que tinha antes quando tinha a velha natureza. E na minha opinião é esta carne que
está apta para receber o derramar do Espírito Santo, o que possibilitará alguém a se mover
no profético. Não bastando só isso, tem um outro aspecto também que fala da nova carne
que temos.
Quando Paulo usa a ilustração do casamento em Romanos 7, fica evidente que
nós, que somos nova criação, não estão mais casados com a Lei, mas casados com Cristo

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em uma Nova Aliança. Mas espera um pouco: e essa história que circula no meio da Igreja
dizendo que somos a noiva de Cristo, a noiva do Cordeiro? Afinal de contas, somos noiva
ou esposa de Cristo?
Acredito que uma ideia errônea tem sido propagada no meio do Corpo de Cristo,
mais uma teologia e/ou doutrina enganosa: a de que somos noiva de Jesus e de que ainda
estamos aguardando em um futuro incerto pelo casamento com Ele.
O fato é que precisamos ter em mente que somos, na verdade, a Esposa de Cristo,
casada e unida a Ele como uma só carne, não uma noiva aguardando se casar um dia com
seu noivo.

“Aquele que se une ao Senhor, um espírito é com Ele”


(1 Coríntios 6:17)

“Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da


igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo”
(Efésios 5:23)

“Porque nunca ninguém odiou a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta,
como também o Senhor à igreja; Porque somos membros do seu corpo, da sua
carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá
a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a
respeito de Cristo e da igreja”
(Efésios 5:29-32)

O matrimônio, no natural, é consumado quando homem e mulher se fazem uma


só carne na intimidade, quando ela se torna carne e osso de seus ossos. Quando se torna
um só com seu cônjuge. O versículo de 1Co 6:17 diz que ao nos unirmos com o Senhor,
nos tornamos um só espírito com Ele. Isso é o símbolo da nossa união com Cristo.
Em Efésios 5, Paulo faz a comparação da união entre marido e esposa e a união
entre Jesus e a Igreja, e diz que grande é este mistério, mas ele diz em relação a Cristo e
a Igreja. Paulo diz ainda que somos membros do seu corpo, da sua carne e dos seus ossos.
Isso tudo não lhe parece com o que é falado sobre a união que se dá em um casamento?

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Para sermos Corpo de Cristo, precisamos necessariamente estar unidos a Ele, ser
parte de Seu corpo. Isso é possível se entendermos que somos esposa. Mas não é possível
se acharmos que somos uma noiva aguardando se casar com o noivo. Entender isso é
muito importante, porque se pensamos que somos apenas a noiva de Cristo esperando nos
casar com Ele em um futuro, então não podemos ser seu Corpo e nem carne de sua carne.
Uma noiva não pode ter acesso legal, antes do casamento, a nada que pertence ao
varão. Mas quando se casa, tem acesso a tudo. A noiva não pode ter intimidade com seu
amado até que se casem. Se pensamos que somos noiva e que estamos esperando se casar
com o noivo em um futuro incerto, não temos, então, acesso a nada! E é aí que o diabo
nos rouba o poder, as riquezas e a entrada às câmaras do Rei.
Não tem sentido dizer que somos noiva esperando se casar. Se pensamos assim,
não podemos ter acesso ao que pertence a Jesus, não podemos nem entrar nas câmaras do
Rei para ter intimidade com Ele! Jesus nos tem como esposa. Ele não nos deixou na
condição de noiva que ainda aguarda se casar para ter intimidade com Ele. Isso seria
“fornicação”! E Jesus não é fornicador! Por isso, somos esposa, e não noiva esperando se
casar.
Mas espera um pouco: e o texto de Apocalipse 19:7 que diz “... pois chegou a
hora do casamento do Cordeiro e a sua noiva já se aprontou”? O que dizer dessa palavra
“noiva” aqui?
A palavra noiva nesse texto não está com a melhor tradução. Nesse versículo, a
palavra que está traduzida como noiva é a palavra grega gyne, que está mais relacionada
à esposa. Às vezes é traduzida em outras partes do Novo Testamento como “mulher”,
mas dá o sentido de uma mulher casada. Vejamos alguns exemplos:

“Por exemplo, pela lei a mulher casada (gyne) está ligada a seu marido enquanto
ele estiver vivo; mas, se o marido morrer, ela estará livre da lei do casamento”
(Romanos 7:2)

“Mas, por causa da imoralidade, cada um deve ter sua esposa (gyne), e cada
mulher o seu próprio marido. O marido deve cumprir os seus deveres conjugais
para com a sua mulher (gyne), e da mesma forma a mulher (gyne) para com o
seu marido”
(1 Coríntios 7:2,3)

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Em Efésios 5 citado anteriormente, a palavra grega usada também é gyne e fala da


relação marido e mulher, esposa e esposo.
Em Apocalipse 22:17, que diz “o Espírito e a noiva dizem: vem!”, a palavra grega
aqui traduzida para noiva é nymphe, que significa mulher recém-casada, jovem esposa ou
nora.
As palavras gyne e nymphe até podem ser traduzidas para noiva. Mas não é a
melhor tradução para ser feita dentro do contexto que estamos abordando aqui, pois gera
um mal entendido com relação a nossa real posição em Cristo: somos Esposa Dele, e não
noiva.
Em Romanos 7 vemos o próprio Paulo falando do nosso casamento com Cristo. E
se estamos casados com Ele, significa que somos “carne da carne Dele, e ossos dos ossos
Dele”. Sendo assim, esta é mais uma confirmação de que temos uma nova carne. Temos
em nós a carne de Cristo! E se temos a carne Dele, não combina com isso a ideia de que
temos que ficar exaustivamente lutando contra a carne ou tentando matar ela, tendo em
vista que é uma carne boa, uma carne nova. A carne de Cristo em nós, pois somos uma
só carne com Ele!

Se nós somos nova criação, e o velho homem está morto, e se devemos agora
nutrir e cuidar da nossa carne ao invés de querer “matá-la”, então agora qual é o propósito
do jejum?
Muitas pessoas foram ensinadas em sua vida cristã de que a carne é má e devemos jejuar
para enfraquecer a carne, para matar a carne, para assim nosso espírito ficar mais forte.
Mas diante de tudo o que já falei até agora, isso fica sem sentido. E então, para que serve
o jejum hoje em dia? Por que digo “hoje em dia”? Porque a conotação que jejum tem na
Nova Aliança é diferente da Antiga Aliança.

“Então os discípulos de João vieram perguntar-lhe: "Por que nós e os fariseus


jejuamos, mas os teus discípulos não?" Jesus respondeu: "Como podem os
convidados do noivo ficar de luto enquanto o noivo está com eles? Virão dias
quando o noivo lhes será tirado; então jejuarão”.
(Mateus 9:14-15)

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Jesus falou algumas poucas vezes sobre jejum. Com base nessa passagem de
Mateus 9, minha opinião é que jejum é sobre “fome por nosso amado”, “fome por Jesus”,
“fome por mais da presença de Deus”. Mas espera aí, não já temos a presença de Deus?
Sim. Mas eu creio que existem dimensões da presença de Deus.
Colossenses 1:17 diz que todas as coisas subsistem Nele. Deus mantém todas as
coisas conservadas, preservando a intensidade delas na própria essência de Jesus. Não é
uma coisa de Nova Era que estou querendo dizer, mas simplesmente que Deus está
presente em toda a criação. Ele é onipresente. A presença Dele está em todo lugar. E esta
é uma dimensão da presença Dele. E apesar Dele estar presente em todo lugar, nem todos
estão conscientes dessa presença ou tem essa presença de forma mais intensa. Se Deus
tirar sua presença da criação, tudo some, porque tudo subsisti Nele! Porque Ele mantém
tudo pelo seu poder, o poder de Sua presença. Deus está em todo lugar.
Agora, a Bíblia diz que quando recebemos Jesus, isso se torna “Jesus em nós”. E
Jesus disse que nunca nos deixaria, nunca nos abandonaria. Ele está conosco. Este é um
outro nível de sua presença. E existe mais um outro nível de Sua presença, que diz
“quando dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estou presente”. É um nível
que vem pela união de mais pessoas. Jesus também disse que não se coloca vinho novo
em odre velho. E vemos um “vinho novo” sendo derramado em Atos 2, e mais um outro
nível ou dimensão da presença. E esse nível em particular chega a ser tão intenso que
“intoxica” a tal ponto de fazer as pessoas agirem como se estivessem bêbados, parecendo
estar fora de si. O que eu estou querendo dizer é que existem níveis, dimensões da
presença. Pode parecer estranho dizer que estamos jejuando por mais da presença, porque
alguém pode dizer “mas Deus não está em todo lugar? A presença Dele não está em todo
lugar? Ele não é Onipresente? Por que querer mais da presença”. É verdade que Deus é
Onipresente, está em todo lugar. Mas estamos jejuando para ter mais sensibilidade à
presença Dele e por mais da presença manifesta Dele. Jejuamos para ter mais
sensibilidade à presença do “noivo” como diz o texto de Mateus 9. Eu acredito que o
jejum é sobre isso. É para poder experimentar uma dimensão mais profunda da presença
Dele. E isto é o que eu pessoalmente acredito.
Tem pessoas que tem um estilo de vida de jejum. Essas pessoas podem falar ainda
mais sobre a experiência do jejum. Eu, hoje em dia, não tenho tanto um estilo de vida de
jejum. Já tive (infelizmente até por motivações mais “religiosas” do que essa que descrevi

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sobre “fome por mais de Deus”), mas hoje não tenho esse estilo. Eu jejuo, e já jejuei
muitas vezes em minha vida, mas hoje não é mais uma disciplina que é muito comum em
minha vida. Seria muito interessante que você pudesse ouvir as experiências de quem tem
realmente um estilo de vida de jejum. Isso pode lhe acrescentar muito! Mas a minha visão
é essa que eu coloquei aqui. E definitivamente, eu não creio que jejum seja para
enfraquecer a carne, matar a carne, ou coisas desse tipo, pelos motivos que já descrevi
aqui nesse capítulo também.

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Exercícios
Responda as questões a seguir com base no conteúdo estudado do
capítulo 2 – Pare de Lutar Contra a Sua Carne!.

1. Em relação ao desenvolvimento e avanço do profético, na sua opinião, qual o problema em


se utilizar histórias e teologias como a do cachorro branco e do cachorro preto para ilustrar
que o crente vive em uma constante “luta contra a carne”?

2. Como que a influência do gnosticismo dos primeiros séculos da Igreja pode afetar o conceito
que temos hoje sobre “carne”?

3. O que Deus fez para possibilitar que nossa carne estivesse apta para receber o derramar do
Espírito Santo para que, assim, pudéssemos profetizar?

4. Que benefícios podemos ter a partir do momento que entendemos que somos Esposa de
Cristo, ao invés de apenas uma noiva esperando casar-se com Ele em algum dia incerto?

5. Muitos de nós foram ensinados que a nossa carne é má e que precisamos enfraquecer ou matar
a nossa carne através do jejum. Se nós somos nova criação e o velho homem está morto, e
devemos nutrir e cuidar da nossa carne, qual é então o propósito do jejum agora?

Aplicação Prática

Talvez você percebeu que o que foi tratado nesse capítulo não estava bem de
acordo com o estilo de vida que você estava vivendo. Mas você quer mudar! Você quer
experimentar algo novo! Você quer assumir de uma vez por todas a sua posição como
nova criatura e viver a realidade da nova criação! Se esse é o seu caso, gostaria, então,
que você fizesse essa oração (se condizer com aquilo que está em seu coração):
“Deus, eu percebo e reconheço que tenho vivido em esforço-próprio, em um auto
esforço, lutando e algumas vezes, sendo até envergonhado. Eu me arrependo de um
pensamento não-bíblico. Eu abro o meu coração e abro a minha mente para as verdades
de sua Palavra e para tudo aquilo que o Senhor cumpriu na cruz. Guia-me para um
entendimento de tudo aquilo que verdadeiramente o Senhor fez pra mim. E eu me dou
por completo para este propósito hoje, em Nome de Jesus. Senhor, eu creio que você
morreu por mim, eu acredito que eu fui crucificado contigo. Eu creio que você pagou,
por completo, a penalidade do meu pecado, eu creio que você crucificou a minha
natureza pecaminosa com suas paixões e desejos. Agora eu me coloco em pé com você

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na sepultura e digo adeus ao meu velho “Eu”, adeus às minhas paixões de estimação,
adeus para os meus pecados. Eu entrei na sepultura contigo para sair dela em novidade
de vida com a glória de Deus. Tu és o governante da minha vida. Estabeleça o seu
governo de liberdade e paz em mim, para a sua glória, em Nome de Jesus. Amém”.

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