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Curso De Pedagogia
ADRIANA
Diadema
2018
ADRIANA
Diadema
Maio
RESUMO
ABSTRATC
1 INTRODUÇÃO
O termo autismo tem origem grega da palavra Autos que significa “de si Mesmo”, mas
foi apenas no século XX que o psiquiatra Léo Kanner descreveu o seu estudo de observação
com onze crianças que apresentavam sintomas de prejuízo na interação social, na linguagem e
na repetição de ações. As crianças eram descritas pelos pais como indivíduos isolados que não
interagiam com as pessoas e tinham fascínio por objetos específicos. Kanner acreditava que
esse transtorno era derivado da relação entre os pais e as crianças com a falta de afetividade
entre eles, o que mais tarde, na década de 80, pesquisas revelaram que as causas poderiam ser
genéticas e ambientais, ainda não havendo causa específica comprovada.
“Devemos, então, supor que essas crianças vieram ao mundo com uma
incapacidade inata de estabelecer o contato afetivo habitual com as
pessoas, biologicamente previsto, exatamente como as outras crianças vêm
ao mundo com deficiências físicas ou intelectuais.” Kanner (1943).
Ritvo (1976) delineou o autismo como sendo uma síndrome comportamental com patologia
exclusivamente relacionada com o sistema nervoso central e esse quadro se apresentava desde
o nascimento, causando déficits cognitivos irreversíveis. (ASSUMPÇÃO, SCHWARTZMAN,
1995).
Em 1944, outro psiquiatra, Hans Asperger observou crianças com sintomas e sinais
semelhantes as crianças observadas por Kanner, mas essas tinham um ponto que os
diferenciava: tinham a linguagem preservadas e seu desenvolvimento cognitivo era superior,
mas mantinham as relações sociais prejudicadas e o isolamento era o principal fator que as
tornavam passiveis de transtorno, que foi definido como Síndrome de Asperger.
O Transtorno do Espectro do autismo manifesta geralmente antes dos três anos de
idade, com níveis de prejuízo a linguagem, a interação que vão do leve ao severo e em muitos
casos acompanhados de retardos mentais significativos.
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3 A LINGUAGEM
Para o linguístico francês Ferdinand Saussure, que assume a linguagem como ciência, define:
Um sistema linguístico é uma série de diferenças de sons combinadas com
uma série de diferenças de ideias; mas essa confrontação de um certo
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Linguagem e autismo
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Para Kanner (1943) o portador de autismo não tem entendimento dos signos que representam
a linguagem e isso seria um impedimento a aquisição completa da linguagem com suas
significações. Kanner afirma que a criança com TEA reproduz a fala do outro estereotipado,
além da escolalia, a criança pode apresentar outros problemas que se relacionam a fala como
Ao discutir sobre a ecolalia, Rodriguez (1999) propõe que tal manifestação verbal estaria
indicando, no autismo, uma posição diante da língua que se caracterizaria como um
permanecer literalmente fora, isto é, uma posição subjetiva de exclusão. Diante disso, pode-se
supor que, mesmo no sintoma, o autista estabelece uma relação singular com a língua. Vale
ressaltar que esse permanecer fora não implicaria uma ausência de língua, mas sim, estaria
significando uma determinada posição diante dela.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIVROS:
BRASIL. Lei De Diretrizes E Bases Da Educação Nacional- Lei n.º 9394/ 20.12.96.
Brasília: Saraiva 1996.
CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva com os Pingos nos Is. 2. Ed. Porto Alegre:
Mediação, 2005.
KRUG D, ARICK J, ALMOND P. Autism Behavior Checklist – ABC. In: Krug DA, Arick J,
Almond P. Autism Screening Bondy, A. S. & Frost, L. A. (1994). The picture exchange
communication system. Focus on autistic behavior, 9, 1-19
MANTOAN, M.T. E. Inclusão Escolar: O Que É? Por Que? Como Fazer. São Paulo:
Moderna, 2003.
SITES:
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CAVALCANTE. Meire, Inclusão Escolar: A Revolução De 2003 A 2016 Que Vamos Lutar
Para Defender. Portal Inclusão Já. Disponível em:
< https://inclusaoja.com.br/category/publicacoes/>. Acessado em 10 de outubro de 2017.
MEIRELLES, Elisa. Inclusão De Autistas, Um Direito Que Agora É Lei. Disponível em:
<https://novaescola.org.br/conteudo/57/legislacao-inclusao-autismo>. Acessado em 20 de
setembro de 2017.
REIS. Thiago, Moreno. Ana Carolina, A Escola Acessível ( Ou Não) .Disponível em:
<http://especiais.g1.globo.com/educacao/2015/censo-escolar-2014/a-escola-acessivel-ou-
nao.html>. Acessado em 12 de Setembro de 2017.
1. Saussure, F,”Curso de lingüística geral”. 25 ed. São Paulo, 1916. 2. Jakobson,
R.“Lingüística e Comunicação”. Cultrix, São Paulo, 1963. 3. Lacan, J,“Escritos”. Jorge Zahar
Editor,Rio de Janeiro, 1966. 4. Karmilloff-Smith, A., “From meta-processes to conscious
access: evidence from children’s metalinguistic and repair data”. Cognition, v.23, p. 95-147,
1986. 5. Ginzburg, C. Sinais: Raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, Emblemas,
Sinais: Morfologia e história. Companhia das letras, São Paulo, p.143 – 179, 1939. 6.Gouvêa,
G, Freire, R, Dunker,C. “Sanção em Fonoaudiologia: um modelo de organização dos sintomas
de linguagem.”Cad. Est.Ling., v.53, n.1, jan/jun, p. 08-25, 2011.
Contato
Regina Maria Freire E-mail: freireregina@uol.com.br
Vale advertir, de antemão, que, para uma introdução ao estudo da linguagem, como aqui
estamos a realizar, é suficiente a apresentação de uma teoria que dê conta da principal função
da linguagem: a comunicação, e que explique o funcionamento dos signos. Passaremos então
a expor as principais idéias da Linguística Saussureana ou Linguística Estrutural, que é uma
teoria básica da linguagem e têm servido como ponto de partida para o estudo da linguagem
nos meios acadêmicos. Ao final deste artigo, indicaremos livros de outras teorias que
aprofundam e transcendem esta teoria básica.
Os fundamentos do que hoje se entende por Lingüística foram lançados pelo pensador suíço
Ferdinand de Saussure no livro Curso de Linguística Geral, na verdade, uma compilação de
anotações feitas por alguns alunos seus a partir de aulas proferidas na Universidade de
Genebra entre os anos de 1907 e 1911. Estas palestras, depois de divulgadas, promoveram
uma revolução no estudo da linguagem. Até então o estudo da expressão era, sobretudo, o da
gramática, em que se propõe regrar o uso da linguagem e o da filologia, em que se busca a
origem das palavras ao se relacionar línguas atuais com as antigas. Saussure, tendo uma visão
mais ampla do fenômeno da comunicação, cria um novo paradigma para o estudo do mesmo.
Ora, se muitas pessoas sequer conhecem as regras gramaticais e se expressam bem, se há
povos que sobreviveram por séculos sem desenvolver a escrita , é sinal que a linguagem é
algo mais complexo que a mera organização gramatical e a busca do étimo das palavras. A
gramática serve apenas para prescrever o que é a norma culta e a filologia investiga a origem
das palavras no desenvolvimento histórico das línguas; as pessoas, todavia, se comunicam no
mais das vezes sem prestar atenção em tais conhecimentos. Daí que a função primordial da
linguagem é a comunicação e o uso da norma culta nem sempre é adequado para a
diversidade de situações sociais que vivemos. Por exemplo: se estamos em um ambiente
descontraído, simplesmente conversando com os amigos, provavelmente soaria mal um
linguajar formal, técnico, porquanto pareceria uma tentativa de ostentação ou algo
semelhante.
O pensador suíço, por conta disto, propõe uma mudança de paradigma no estudo da
linguagem: além de estudarmos a história e a normatividade das línguas, devemos abordá-las
sincronicamente, ou seja, observá-las num dado momento de sua história e verificar como as
pessoas realizam a comunicação, ou dito em outras palavras: em vez de abordarmos a
diacronia das línguas (descrição de uma língua ou de uma parte dela ao longo de sua história,
com as mudanças que sofre.), devemos abordá-las em sua sincronia (estado de língua
considerado num momento dado, independente da evolução histórica da mesma). Assim, o
linguísta suíço dirige seu foco principalmente para o modo como funciona a comunicação em
um certo momento da existência de um idioma ( a atualidade, por exemplo), aproximando
assim o estudo da linguagem da prática da mesma.
Saussure, ao promover esta nova abordagem no estudo das línguas, é tido por muitos como o
fundador da Linguística Moderna, que se propõe a ser a ciência da língua. Além disso, por
entender que a comunicação não se dá tão somente pelo uso das palavras, mas também por
gestos, olhares, roupas, cortes de cabelo e quaisquer elementos que possam ser usados como
signos, ele propõe que a Linguística seja incorporada futuramente por uma ciência mais
ampla: a Semiologia, também denominada Semiótica , que estuda o funcionamento dos signos
e da linguagem em geral.
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A primeira questão tratada por Saussure foi a de delimitar o seu campo de estudo e, assim,
definir o objeto da ciência à qual se propôs desenvolver. Para tanto, o autor trava inicialmente
uma diferenciação entre língua e linguagem:
“Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é somente uma parte
determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social
para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é
multiforme e heteróclita […] ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence além
disso ao domínio individual e ao domínio social: não se deixa classificar em nenhuma
categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade.
Vemos então que a linguagem é uma das “faculdades” do ser humano, a maneira que o
homem tem de se expressar através de signos; a língua (o idioma) é parte “essencial” da
mesma, ou seja, um dos modos (o principal, aliás) de o homem manifestar aquela capacidade.
Deste modo, a citação acima revela uma dificuldade em definir a linguagem e usá-la como
base para formar uma “ciência da comunicação”, por não ser facilmente delimitada pelo
pensamento. O autor justifica tal negação com três argumentos:
b) ela é “heteróclita”, não permite que a classifiquemos em regras definidas, pois está sempre
sendo recriada conforme os homens necessitem criar novas realidades (a linguagem dos
computadores é exemplo disto);
c)ela não pode ser estudada exclusivamente por uma única ciência, uma vez que pertence a
diferentes domínios: “o físico, o fisiológico, o psíquico”. Portanto, a complexidade da
linguagem e sua “instabilidade” são obstáculos para torná-la o objeto central de uma ciência
da comunicação.
A Língua, por sua vez, é “dominável” e pode ser considerada um “todo”, uma vez que possui
um código de normas que a rege e a preserva coesa, impedindo a dispersão. Dito em outras
palavras: embora os usuários de uma língua possam criar diferentes combinações de palavras
em frases e até mesmo criar novos significados para os signos linguísticos, eles sempre, em
maior ou menor grau, têm por base “um modo adequado de se expressar”, um modo de
organizar frases e de atribuir regularmente determinadas significações à certas palavras.
Assim, há uma certa padronização no uso dos idiomas, uma espécie de gramática espontânea
criada pelos usuários, pois todo falante, ao apreender uma língua, sabe que não pode inventar
palavras à revelia dos demais usuários e nem deve construir caoticamente as frases, se o
mesmo quer se comunicar de maneira satisfatória. Ao longo dos séculos a regra gramatical
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criada pela espontaneidade e pelo costume foi acolhida pelas gramáticas oficiais. Deste modo,
em maior ou menor grau, até mesmo o usuário que não frequentou o ensino formal segue um
parâmetro ao usar a língua.
Em suma, toda língua possui um regulamento ora mais, ora menos levado em conta pelos
usuários, um modo de organização dos signos que possibilita a comunicação e evita que ela se
disperse. Para Saussure, isto permite que consideremos a língua como “um todo”, algo
estável, com certa uniformidade e constância e é por conta desta perenidade que ela pode ser
tomada como objeto central da ciência da comunicação.
O pensador genebrês, com base nisto, explica a língua como um “sistema” ou “estrutura” ,
algo semelhante a um jogo de xadrez. Neste, as peças têm uma função diferente, mas ao
mesmo tempo funcionam umas em relação às outras. Assim, a torre se move de maneira
diferente do cavalo e este de maneira diferente do bispo, etc., e nenhuma peça tem valor por si
só, cada uma adquire valor no âmbito daquele jogo, na totalidade do sistema. Nas línguas,
algo semelhante ocorre: quando digo “ os meninos” não estou dizendo “o menino” nem “as
meninas” … “foram à praia”, assim a diferença das palavras, umas em relação às outras, faz
com que percebamos o significado. Assim, no uso das palavras escolho alguma em detrimento
de outras. Além do mais, nas línguas, paralelamente, os “jogadores” compõem diferentes
frases e textos, todavia o significado das palavras, as organizações sintáticas, etc., de certa
forma, se conservam; no xadrez, cada partida é diferente das demais, o jogo varia a cada
momento, mas o nome e as funções das peças se mantêm estáveis. Por fim, em ambos os
casos existe uma espécie de acordo de que as peças e as palavras funcionarão para todos de
uma determinada forma, ou seja, seguindo uma certa norma (as regras do jogo de xadrez; a
gramática e o léxico), por conta disto, o jogo e a língua são pactos sociais, isto é, uma
convenção entre as pessoas de que no sistema as palavras e as peças funcionarão de uma
maneira compactuada, pois a normatividade deve ser aceita por quem queira participar do
jogo e da comunidade linguística.
Língua, portanto, é o sistema abstrato convencionado por um grupo social, regido por um
código de funcionamento que lhe garante certa unidade e que surge em certas condições
histórico-políticas. É ela o principal objeto da Linguística saussureana. Tal teoria, todavia,
credita alguma importância também ao estudo da fala:
“O estudo da linguagem comporta, portanto, duas partes: uma, essencial, que tem por objeto
a língua, que é social em suja essência e independente do indivíduo; esse estudo é unicamente
psíquico; outra, tem por objeto a parte individual da linguagem, vale dizer, a fala, inclusive a
fonação e é psico-física.”
A fala alia o pensamento com o mecanismo físico que produz a voz, mas este último aspecto
importa secundariamente à ciência da comunicação. Nesta, a fala se define pelo fato de ela ser
o elemento a caracterizar a individualidade do ser humano. pois é no seu uso que revelamos
nossa identidade perante a coletividade. A fala é um uso individual de algo social que é a
língua. Em decorrência disto, podemos perceber no uso dela as crenças das pessoas (ou de um
grupo, ou classe social), o modo ao qual elas entendem a vida, pois ao falarmos invocamos
em nosso pensamento o nosso modo de ver realidade, a sociedade e os seres humanos em
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geral. A fala revela, portanto, a ideologia de uma pessoa ou de certos grupos de pessoas que
pensam de maneira semelhante.
O pensador suiço, nos faz notar, além disso que “língua e fala são “…dois objetos que estão
estreitamente ligados e se implicam mutuamente; a língua é necessária para que a fala seja
inteligível e produza todos os seus efeitos; mas essa é necessária para que a língua se
estabeleça” , sendo que a evolução dos idiomas se dá através da fala, uma vez que ali as
pessoas vão reinventando novos modos de expressão e abandonando outros.
Em resumo, a linguagem é a faculdade humana que possibilita a expressão, mas devido a sua
complexidade e instabilidade, ela não pode ser moldada pela cientificidade de Saussure ; já a
língua é o sistema abstrato de signos inter-relacionados, de natureza social e psíquica, com o
qual os membros de uma comunidade se comunicam e serve de campo para a investigação
saussureana, pois, no âmbito da frase, é possível criar uma conceituação estável para definir o
fenômeno da comunicação ; a fala ou discurso é o uso individual da língua, que, por isto
carrega consigo a ideologia , isto é, o modo como ele entende o mundo, suas crenças, valores
e concepções de mundo e o seu estudo, apenas quando vinculado ao sistema da língua, ganha
importância para a Linguística.
Bakhtin, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 6ª ed. Trad M. Lahud e Y Viera. São
Paulo, 1992.
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. Tradução de Antônio Chelini et al. 22. ed. São
Paulo: Cultrix, 1983.
Ao definir a língua como um sistema, Saussure fez uma abordagem intrínseca do fenômeno
linguístico, ou seja, investigou o funcionamento do principal instrumento que usamos para
nos comunicar: o signo linguístico; outros tipos de signo, contudo, foram abordados pela
Semiótica ou Semiologia, ciência a qual o pensador suiço, em sua época, sugeriu que
englobasse a Linguística.
Para ficar mais claro, exemplifiquemos: a idéia que se tem de um “pato” não está ligada
necessariamente com a seqüência de letras p-a-t-o, ou seja, o significante “p-a-t-o” só se
relaciona com o seu significado porque um grupo social, em comum acordo, resolveu que tal
seqüência de letras indicaria tal idéia de um tal animal. Se os homens quisessem, porém, que
outro grupo de letras formassem a palavra para remeter à ideia de tal ave(“duck”, “pesce”, ou
qualquer outra palavra: elefante, rosa, xyz, etc.) nada impediria que uma diferente
denominação fosse consagrada. Daí a arbitrariedade do signo, pois não há um fundamento
lógico e obrigatório que estabeleça a correspondência entre palavras e idéias, tudo poderia ser
de uma forma diferente, bastando a comunidade linguística estar de acordo.
O vínculo entre signo e idéia ou melhor entre o significado e o significante, deste modo, não é
algo natural, mas uma convenção cultural, algo que os homens criaram e combinaram que
assim seria. Tanto isto é verdade que palavras novas vão surgindo no bojo das línguas e outras
ganham novos significados que, com o passar do tempo, permanecem ou são esquecidos. As
gírias são exemplos deste último caso, por vezes perduram na comunicação de uma
comunidade linguística e são adotadas por escritores e jornalistas; os dicionaristas, com isto,
as recolhem e as tornam parte do léxico, mas quase sempre elas duram um curto espaço de
tempo.
Cabe, além disso, ressaltar que as letras unidas “pato” estabelecem relação com uma idéia e
não com um objeto, um ser concreto, com a ave. Isto se dá porque não podemos confundir
significação com referencialidade. O filósofo Frege foi quem notou tal diferença, ele
”distingue o referente de uma expressão, a saber, o objeto que ela designa, e seu sentido,a
saber, a maneira pela qual ela designa esse objeto”. Assim, no mais das vezes, quando
estamos a usar a língua fazemos referência a idéias e não a seres e objetos. Isto, como
veremos adiante, faz com que os signos sejam entidades que funcionam basicamente em um
nível acima da realidade. Vejamos.
Como funciona um signo linguístico na visão saussureana? Como ele produz significação?
Após usar o princípio da arbitrariedade como explicação para a origem dos signos, Saussure
busca explicar o seu funcionamento. Conforme o autor, a palavra é composta de duas partes,
ou melhor, dois aspectos que se entrelaçam: o significante e o significado. Durante o processo
da comunicação ao ouvirmos, lermos, enfim, pensarmos uma palavra, naturalmente surge uma
“imagem acústica” em nossa mente, um som unido a uma figura, denominada de significante,
o som que cria a idéia; a esta imagem acústica corresponde um significado, ou seja, um
conceito correspondente ao objeto ou ser no universo da língua que estamos usando. Assim, o
processo da comunicação se dá pela constante relação que mentalmente é estabelecida entre
significantes e significados. A princípio, é assim que funcionam os signos na comunicação.
A concepção da língua feita por Saussure, em virtude disto, é de cunho mentalista, pois, como
dissemos, as palavras não nos remetem diretamente às coisas, aos seres, aos sentimentos, mas
a idéias que temos deles. Além disso, é mentalmente que fazemos o discernimento entre uma
palavra e outra: quando penso em “pato” não penso em “mato” ou “gato” e também não o
faço em termos de “gata” ou “gatos”; é no plano mental igualmente que notamos a relação
entre palavras de uma mesma frase ou texto o que influencia no sentido delas: “o gato de
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botas” (desta relação tem-se uma entidade fictícia, “um gato siamês” se refere a um tipo de
gato não fictício, mas a uma raça específica.
A língua, portanto, se realiza não tanto na relação do homem com objetos reais, mas na mente
humana e entre mentes humanas, até porque, quando interpretamos as palavras ditas por
alguém, ou escritas, o fazemos a partir de outras palavras que temos em mente. Por exemplo:
para explicar o que é um gato quando algum espécime não está presente, lanço algum
conceito que faço do mesmo: “é um bicho peludo que mia”, “é um animal irracional da
família dos felinos”,etc. Tais conceituações não são um gato, são palavras que dão uma ideia
de tal animal.
Vale dizer que, num plano mais amplo que o da língua, o da semiótica, os pensadores pós-
saussureanos que se dedicaram a estudar os signos no contexto da linguagem , conceituaram-
no a partir de seu funcionamento, ou seja, pelo modo como os signos realizam o processo de
simbolização. Ora, fazemos gestos com as mãos para nos referirmos não a elas próprias, mas
para dizer tchau, adeus, paz e amor,etc.; também criamos objetos, esculturas, roupas para
simbolizar certos estados de espírito e crenças, tudo isto é também signo, pois comunica algo
a respeito do mundo ou do pensamento. Assim, no âmbito da semiótica, signo é “ a
designação comum a qualquer objeto, forma ou fenômeno que remete para algo diferente de si
mesmo e que é usado no lugar deste numa série de situações (a balança, significando a justiça;
a cruz, simbolizando o cristianismo; a suástica, simbolizando o nazismo; uma faixa oblíqua,
significando proibido [sinal de trânsito]; um conjunto de sons [palavras] designando coisas do
mundo físico ou psíquico etc.)” . Dito de maneira mais simples: signo é uma coisa que faz
referência a outra coisa que não ela mesma.
Evidentemente, tal definição inclui o tipo de signo definido por Saussure, a palavra, pois
como notamos, os grupos de letras que as formam não dizem respeito a elas mesmas, mas a
idéias de objetos, seres, sentimentos, etc