Professional Documents
Culture Documents
A FLEXÃO DE GÊNERO
MACEIÓ/AL
NOVEMBRO DE 2017
I – INTRODUÇÃO
Deste modo, a NGB considera a flexão de gênero com uma espécie de flexão em
que a concordância se dá exclusivamente pelo gênero (masculino/feminino) do referente,
entretanto a proposta apresentada pelas gramáticas normativas torna esse processo de
referenciação muito confuso, uma vez que grande parte das palavras a qual atribuímos
um gênero são, na verdade, assexuadas. Podemos facilmente apontar o gênero do
substantivo panela, mas nos referimos a um objeto assexuado.
Outro ponto obscuro proposto pela NGB é a divisão das palavras variáveis em
apenas dois gêneros: o gênero masculino e o gênero feminino. A distinção entre eles,
pode ser feita, na maioria dos casos, através da desinência de gênero da palavra, uma vez
que palavras terminadas com a desinência o, tendem a pertencer ao gênero masculino, já
as palavras terminadas com a desinência a são, em sua maioria, femininas. Entretanto,
apenas esse recurso não é suficiente para abarca todo o universo de palavras que admitem
flexão de gênero. Entretanto, nem toda palavra encerrada com tais vogais (o/a) serão
respectivamente masculina-feminina, pois como aponta Silva (2004) estes morfemas não
são exclusivamente desinências de gênero.
Além disso, segundo a NGB, as palavras podem ser classificadas como biformes,
isto é, possui uma forma especifica para cada gênero (menino/menina) ou uniformes em
que possui uma única forma para ambos gêneros. Dentre a classe das palavras ditas
uniformes ainda é possível subdividi-las em três grupos, a saber, (i) comuns de dois
gêneros que mesmo sendo uniforme podem ser distinto os gêneros pela interposição de
um determinante; (ii) epicenos que são utilizados geralmente para os animais e são
distintos pela expressão macho/fêmea; (iii) sobrecomuns que não podem ser distinguidos
os gêneros.
III- O QUE PROPÕE AS PEQUISAS LINGUÍSTICAS
Portanto, tendo em vista que a flexão de gênero é o nosso tema principal, nossas
atenções se voltarão para as desinências nominais, especificamente, as desinências de
gênero, na NGB existem apenas dois gêneros (masculino/feminino) e, por conseguinte,
duas principais desinências de gênero, são elas: desinência o para o gênero masculino e a
desinência a para o gênero feminino. Entretanto, como é possível depreender da leitura
de Rocha, tal classificação apoiada unicamente na vogal final do vocábulo, tende a ser
falaciosa, uma vez que “o gênero masculino (apresentado pela desinência - o) pode ser
empregado para denotar não apenas seres do sexo masculino, mas também seres dos dois
sexos, quando o uso é indefinido.” (ROCHA, 1982, p. 103). Outro aspecto importante é
que a classe de vocábulos passiveis de flexão de gênero é designada pelos linguistas como
a classe dos nomes (substantivos, adjetivos, pronomes, artigos e numerais).
A primeira crítica formulada pelos linguistas ao tratamento dado pelas gramaticas
tradicionais para a flexão de gênero é, justamente, a confusão entre gênero e sexo.
Segundo Margotti e Margotti (2008) existe uma distinção entre gênero e sexo, uma vez
que aquele se trata de uma noção gramatical, enquanto este se refere a configuração
biológica do aparelho reprodutor.
O gênero é muito mais amplo que o sexo e, portanto, não pode ser reduzido a este,
mas poderá ou não está relacionado com o sexo. Deste modo, o gênero passa a ser definido
como uma noção gramatical, isto é, definido como um elemento da estrutura mórfica dos
nomes em geral e, portanto, desvinculado da noção de sexualidade.
Tais constatações levou aos linguistas a proporem uma nova classificação das
palavras em relação ao gênero que esteja de acordo com o que fora analisado. Nesta nova
classificação os vocábulos pertencem a três grupos distintos, são eles: (i) os vocábulos de
dois gêneros com uma flexão abundante, neste grupo estão os vocábulos que realizam
flexão de gênero, isto é, ocorre o processo de mudança desinencial; (ii) os vocábulos de
dois gêneros sem flexão aparente, neste grupo se encontram os vocábulos que não se
flexionam, mas que admitem a flexão do artigo que o acompanha; (iii) os vocábulos de
gênero único que correspondem aos vocábulos que não se flexiona, nem permite flexão
do artigo.
Nesta nova divisão o artigo admite certa importância, pois é só através dele, ou de
outro determinante ou modificador que “palavras como artista, colega, estudante, cliente,
sem flexão, têm o gênero determinado: (o, a) artista, (o, a) colega, (o, a) estudante e (o,
a) cliente” (FERREIRA, 2015, p. 148).
As gramáticas poderiam ensinar o gênero dos substantivos a partir da
descrição proposta, baseando-se, em primeiro lugar, na forma
masculina ou feminina do artigo e considerando, em segundo lugar, a
seguinte divisão em três grupos:
1. nomes substantivos de dois gêneros com uma flexão redundante:
(o) lobo – (a)loba; (o) mestre – (a) mestra; (o) pintor – (a) pintora;
2. nomes substantivos de dois gêneros sem flexão aparente: (o, a)
camarada; (o,a) selvagem; (o,a) mártir;
3. nomes substantivos de gênero único:
- (a) pessoa; (a) testemunha; (o) algoz; (a) mosca; (o) besouro; (a)
mesa; (a) tábua; (o) disco; (o) livro;
- (o) homem; (a) mulher; (o) bode; (a) cabra; (o) príncipe; (a)
princesa; (o) sacerdote; (a) sacerdotisa. (FERREIRA, 2015, p. 149)
Sendo assim, o profissional deverá estar capacitado para lidar com essas diversas
situações em sua prática docente, para isto não basta o conhecimento da NGB, tampouco
o conhecimento das teorias linguistas, mas apenas o conhecimento destes dois âmbitos
poderá capacitar o professor para o ensino da língua materna.
Portanto, ensinar normais gramaticais não deve ser confundido com o ensino cego
da gramática tradicional, isto é, o ensino da “língua através de atividades mecânicas e
descontextualizadas, voltadas para as regras da variedade escrita padrão” (JUNQUEIRA,
2003, p. 63). Mas, professor deve conceber o ensino de normais gramaticais como o
ensino de um sistema regulador que não exclui a variedade linguística, mas que surge em
cada variedade linguísticas como elemento essencial.
V- CONCLUSÃO
II – TEXTO(S) DIDÁTICO(S):
a) substantivos biformes – são aqueles que possuem duas formas para indicar o
gênero. Abaixo, mostramos algumas formações do feminino nos substantivos biformes.
menino – menina
Na categoria dos substantivos biformes, também temos aqueles que possuem palavras
diferentes para o masculino e feminino.
Bode – cabra
boi – vaca
carneiro – ovelha
b) Substantivos uniformes: são aqueles que possuem apenas uma forma para os dois
gêneros. Eles podem ser comuns-de-dois, epicenos e sobrecomuns.
o capitalista – a capitalista
Sobrecomuns: são aqueles que possuem apenas uma forma, tanto para o masculino
quanto para o feminino.
a criança
INFOESCOLA. Flexão de Gênero no Substantivo. Disponível em: <
https://www.infoescola.com/portugues/flexao-de-genero-nos-substantivos/> data de
acesso: 03/11/2017.
1979, p. 92):
1) nomes substantivos de gênero único: (a) flor, (o) livro, (o) carro,
A determinação de gênero se faz, na maioria dos casos, pela concordância que se impõe aos
determinantes (adjetivo, pronome adjetivo, numeral ou principalmente artigo).
Secundariamente, e somente para os nomes substantivos do terceiro grupo, a determinação do
gênero se faz pela flexão, com adição da desinência [a] para o feminino. Nesses
Dito isso, cabe esclarecer que a classificação da NGB em i) comuns de dois gêneros, ii)
sobrecomuns e iii) epicenos pouco contribui para o assunto. Na verdade, não são casos de
flexão. Os primeiros pertencem ao grupo 2 anteriormente exposto; os outros incluem-se entre
os do grupo 1, com a ressalva de que os sobrecomuns referem-se a homens e mulheres, e os
epicenos a animais.
VII – REFERÊNCIAS
ROCHA, Luís Carlos de Assis, O gênero do substantivo em português: por que flexão e
por que Morfologia?. UFMG, 1982.