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Aula 04

Indigenismo (Exceto itens 12 e 13) p/ FUNAI - (Cargo: Indigenista Especializado)

Professores: Aristócrates Carvalho, Mario Machado


NOÇÕES DE INDIGENISMO P/FUNAI
Cargo: Indigenista Especializado
Prof. Aristócrates Carvalho

AULA 04

Olá, amigas e amigos alunos.

É com grande alegria que inicio mais uma aula do nosso curso.

Espero que vocês estejam gostando do nosso trabalho. Não é


nada fácil organizar um material didático e certeiro acerca de
assuntos da mais elevada complexidade e com pouquíssimas fontes
bibliográficas disponíveis.

Vocês já perceberam que o nosso curso está repleto de


citações. Isso se deve à percepção que tive observando questões
aplicadas em concursos anteriores. Os examinadores simplesmente
copiam e colam textos de livros nas questões e a ESAF é mestre
nisso. Ocorre que nem todos vocês têm acesso a essas obras e esse é
o motivo de certos exageros nas citações.

Discussões acadêmicas à parte, vamos aos trabalhos!

SUMÁRIO

1. DEMOGRAFIA INDÍGENA. ....................................................... 2


TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA. ................................................................... 8
ORGANIZAÇÃO SOCIAL. ............................................................. 10
ALDEIAS E FAMÍLIAS. ........................................................................ 10
CASAMENTOS ................................................................................. 12
O CONSELHO.................................................................................. 14
A MULHER NA VIDA POLÍTICA. .............................................................. 15
CRIME E CASTIGO. ........................................................................... 16
RELAÇÕES ENTRE ALDEIAS. ................................................................. 17
ASPECTOS DE RELIGIÕES INDÍGENAS. ....................................... 19
OS RITOS E MITOS. .......................................................................... 20
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RITOS DE GESTAÇÃO E NASCIMENTO....................................................... 22


RITOS DE INICIAÇÃO. ........................................................................ 22
RITOS FUNERÁRIOS. ......................................................................... 23
COSMOLOGIAS E MITOS INDÍGENAS.................................................... 24
A CRENÇA NUM SER SUPREMO. ............................................................. 27
A CRENÇA NA ALMA. ......................................................................... 29
MÉDICOS-FEITICEIROS E XAMÃS. .......................................................... 30

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1. DEMOGRAFIA INDÍGENA.

Em 1957, Darcy Ribeiro estimava que a verdadeira população


indígena brasileira orbitava entre 68 e 99 mil pessoas, divididas por
143 grupos tribais, dentre os quais 33 viviam em lugares pouco
acessíveis e com os quais havia pouco contato (índios isolados). Para
o etnólogo, o contato estabelecido com o a sociedade
envolvente culminaria numa progressiva redução
demográfica.

Hoje, no entanto, métodos de pesquisa mais sofisticados nos


oferecem números bem diferentes daqueles anunciados por Darcy no
século passado. As estatísticas demonstram que tanto a
população quanto o número de grupos indígenas só
cresceram.

Há várias explicações para o novo fenômeno, como:

i) Alguns dos grupos considerados extintos ressurgiram;


ii) Grupos desconhecidos à época entraram em contato
com a sociedade brasileira;
iii) Rodovias, linhas aéreas, expansão de instalações
telefônicas, permitiram levar aos índios, com mais
assiduidade, o atendimento de saúde e, também, no
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sentido inverso, permitiram que saíssem mais


rapidamente em busca de socorro nas emergências,
debelando moléstias que bloqueavam o crescimento
de vários grupos;
iv) Organização dos povos indígenas em instituições que
agem em sua própria defesa;
v) Recente processo de reivindicação da identidade
indígena (etnogênese);

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O quadro abaixo confirma a tese de crescimento (apenas uma


não se confirmou) e se baseia na comparação entre a pesquisa de
Darcy Ribeiro de 1957 e o volume Povos Indígenas no Brasil:
1996/2000, organizado por Carlos Alberto Ricardo e publicado pelo
Instituto Socioambiental (ISA, 2000):

IMAGEM: Crescimento da população indígena nas diferentes regiões do


Brasil na segunda metade do Século XX1
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Porém, é possível que o crescimento verificado no final do


século XX não esteja limitado somente a esses aspectos. Os altos
níveis de natalidade verificados nos últimos anos nos sugerem a
recuperação de comportamentos reprodutivos ancestrais,
muitas vezes associados aos anseios e necessidades estratégicas de
poder e ocupação de território.

1
MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. Editora Universidade de São Paulo, 2007.
P. 50.
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Neste sentido, o domínio sobre o tamanho das famílias e da


população de uma determinada tribo estaria relacionado com
necessidades inerentes ao funcionamento de seus diferentes e
complexos sistemas de organização sociocultural. O controle da
natalidade dá-se através de ervas anticoncepcionais de efeito
temporário ou definitivo, práticas abortivas naturais e
mecânicas, além de prescrição do infanticídio em contingências
específicas, o que lhes permitiria limitar a prole ao número
desejado.

Quanto aos recenseamentos periódicos, o primeiro censo


nacional que levantou informações sobre as populações indígenas foi
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o de 1991, que incluiu a categoria indígena na variável cor ou raça.


Na ocasião, foram recenseados somente índios moradores de missões
religiosas, postos indígenas da Funai ou áreas urbanas, ignorando um
grande contingente de indígenas que habitavam áreas onde o órgão
não mantinha, até aquele ano, postos instalados2.

2
AZEVEDO, M. Demografia dos povos indígenas do Alto Rio Negro. Revista
Brasileira de Estudos de População, 11:235-244, 1994.
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Já o censo de 2000 teve uma cobertura maior, estendendo-se


a todas as Terras Indígenas do país, bem como às demais áreas
rurais e urbanas, deixando, no entanto, de levantar a filiação étnica
específica dos indivíduos recenseados.

A pesquisa realizada no ano de 2010 novas perguntas no


questionário, como aquelas relativas às populações autodeclaradas
indígenas, incluindo etnia e línguas faladas. Ressalte-se que o último
censo identificou um tímido aumento da proporção da população
indígena se comparada à pesquisa do ano 2000 (Foi de 0,43% para
0,44% da população total), conclusão que se extrai do quadro a
seguir:

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FONTE: IBGE, Censo 2010.

Cumpre mencionar que a grande virada estatística ocorreu


entre os censos de 1991 e 2000, quando a população indígena no
Brasil passou de 0,2% para 0,43%. O quadro abaixo nos ajuda a
compreender melhor essa evolução:

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FONTE: IBGE, Censo 2010.

Com efeito, devemos analisar o comportamento demográfico


nas cinco regiões brasileiras no período compreendido entre os três
censos populacionais, conforme a planilha abaixo:

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FONTE: IBGE, Censo 2010.

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Com relação à presença indígena nos municípios brasileiros,


dos 5.565 municípios, 1.085 não têm nenhuma população
autodeclarada indígena, 4.382 têm menos do que 10% de sua
população declarada indígena e 12 municípios possuem mais
de 50% da população contabilizada como indígena, sendo estes
majoritariamente da região norte e nordeste.

O quadro abaixo nos dá o panorama dos municípios brasileiros


com predominância de população indígena:

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FONTE: IBGE, Censo 2010.

Transição demográfica.

No tocante às populações indígenas do Brasil, podemos


visualizar uma pirâmide populacional que adquire uma base larga,

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com maior número de jovens, e vai se estreitando na direção do


topo, com um número de adultos e idosos menor, tudo isso em
decorrência das altas taxas de natalidade e mortalidade.

Observa-se ainda um equilíbrio entre os sexos para o total de


indígenas (100,5 homens para cada 100 mulheres), com mais
mulheres nas áreas urbanas e mais homens nas rurais. Porém,
percebe-se um declínio no predomínio masculino nas áreas rurais
entre 1991 e 2010, especialmente no Sudeste (de 117,5 para 106,9)
Norte (de 113,2 para 108,1) e Centro-Oeste (de 107,4 para 103,4).

IMAGEM: Pirâmide etária indicando altos índices de


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natalidade e mortalidade.

Na área rural, a proporção de indígenas na faixa etária de 0 a


14 anos (45,0%) é o dobro da área urbana (22,1%), com o inverso
acontecendo na faixa de 65 anos ou mais (4,3% na rural e 7,0% na
urbana). A pirâmide etária dos indígenas residentes fora das terras
indígenas indica baixa fecundidade e mortalidade. Já para os

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indígenas residentes nas terras, a pirâmide etária ainda é


resultante de uma alta natalidade e mortalidade. Metade da
população indígena tem até 22,1 anos de idade (Nas terras indígenas,
o índice foi de 17,4 anos e, fora delas, 29,2 anos).

FORA DAS TERRAS Baixa fecundidade e


INDÍGENAS mortalidade

NAS TERRAS Alta fecundidade e


INDÍGENAS mortalidade

ORGANIZAÇÃO SOCIAL.

Aldeias e famílias.

É comum os livros didáticos afirmarem que os índios viviam


em aldeias formadas por grandes ocas, cabanas alongadas, feitas de
palha, colocadas em círculo, dispondo de um pátio no centro e
envolvidas por fortes cercas. Isso nos faz concluir que todos os índios
do Brasil constroem suas aldeias dessa maneira; o que não é o caso,
já que há diversas outras formas de estruturas no complexo de
sociedades indígenas. 33966219212

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Tanto a forma de aldeias como a das casas, em algumas


sociedades indígenas, sofreram a influência do contato com os
homens “civilizados”, modificando-se. Assim, por exemplo, as aldeias
dos índios terenas, que no passado teriam a forma circular, passaram
a ser construídas como as vilas dos “civilizados”, com ruas que se
cruzam em ângulo reto. Tais alterações devem ser objeto de olhar
antropológico, já que refletem ou provocam mudanças na
organização do grupo que as habita.

Cada aldeia tem seu chefe (popularmente conhecido como


cacique) e a chefia pode ser hereditária ou não. O pajé é o líder
espiritual (misto de sacerdote, profeta e médico-feiticeiro) e em
virtude dos seus poderes sobrenaturais é consultado nas decisões
importantes da tribo.
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Na gradação que as sociedades indígenas apresentam quanto


à proeminência de líderes políticos, há um aspecto recorrente em
todas elas: os líderes não têm poder de coerção. Sua posição é
mantida, o respeito de seus companheiros é assegurado não pelo
exercício da força ou ameaça de uso da força, mas pela persuasão.

Ademais, os grupos domésticos (pessoas que habitam a


mesma casa), também não possuem a mesma organização em todas

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as sociedades, pois variam de acordo com os costumes de cada um.


Assim, por exemplo, na sociedade não-indígena cada grupo
doméstico e constituído por uma família elementar (homem,
mulher e seus filhos), muitas vezes acrescida de um ou outro familiar
(pai, mãe, tio ou sobrinho).

Entre os indígenas, via de regra, a coisa toma outro rumo,


pois é comum a presença de mais de uma família elementar em
cada grupo doméstico. No caso dos teneteharas, por exemplo, os
chefes da família procuram fixar suas filhas e as filhas de seus irmãos
em sua casa; assim, os maridos das “sobrinhas” permaneceriam com
ele, auxiliando-o. O homem, ao seu casar, deve residir na casa da
mulher por um ou dois anos e se o chefe da família tiver bastante
prestígio, consegue convencer o novo marido a se fixar naquela casa
definitivamente.

Casamentos

O matrimônio entre os indígenas está regido por uma série de


regras, as quais, como todos os demais costumes, diferem
grandemente a cada tribo. Para citar um só exemplo, basta dizer que
a divergência entre as diversas sociedades indígenas com relação ao
matrimônio começa com o número de cônjuges que são permitidas a
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cada indivíduo. Assim, sociedades que permitem a poligamia, isto é,


o casamento de um homem com mais de uma mulher. Outras só
permitem a monogamia3.

O estabelecimento de alianças matrimoniais está, muitas


vezes, diretamente vinculado à disposição espacial dos vários grupos
locais. Os laços de casamento, por sua vez, vêm acompanhados de

3
MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. Editora Universidade de São Paulo, 2007.
P. 131..

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uma série de obrigações mútuas que transcendem a mera união


conjugal que lhes deu origem.

Visitas recíprocas, prestações de serviço vários, desde


econômicos a rituais, levam as comunidades envolvidas a se utilizar
do território comum que as contém, território esse que toma uma
importância social extraordinária. Para muitas sociedades indígenas o
território grupal está ligado a uma história cultural. Essa história,
muitas vezes revestida de uma linguagem mítico-religiosa, orienta e
define os movimentos espaciais das aldeias de um sítio ocupado para
outro novo4.

Vale observar que as sociedades indígenas repelem


veementemente o incesto, constituindo um ato visto com indignação
pelo grupo. Alguns, inclusive, punem os praticantes com a pena de
morte.

Ainda, visualiza-se o casamento indígena como uma forma de


união entre grupos sociais. Por meio do casamento, dois grupos
se unem, o que nos permite concluir que grupos rivais não
costumam permitir casamentos entre seus membros. A troca de
presentes é forma de manter a união entre grupos.

O casamento pode realizar-se entre membros, que é a


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alternativa preferida (endogamia de aldeia), ou entre pessoas de


aldeias diferentes (exogamia de aldeia). Ele pode ser o fator mais
importante no estabelecimento de alianças entre comunidades
diversas, resultando na formação de uma rede de aldeias aliadas que
se unem em caso de conflitos com outras, ou pode ser apenas uma
ligação entre famílias, sem maiores repercussões político-militares.

4
RAMOS, Alcida Rita. Sociedades Indígenas 5ª edição. Série Princípios. (São Paulo:
Ática, 1995) p. 18-19
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De qualquer maneira, tanto nas sociedades indígenas como na


nossa, o matrimônio envolve direitos e obrigações que transcendem o
interesses imediatos dos cônjuges – trocas de serviço ou bens,
obrigações rituais, promessas de outros casamentos futuros – e que
mantêm duas ou mais famílias em constate interação. A prática da
poligamia é comum, porém é bem menos frequente do que a
monogamia.

Alguns grupos exógamos (que se relacionam com pessoas de


outros grupos) realizam a troca de mulheres. Calma, não é a troca
de mulheres/homens costumeiramente praticada no nossa
sociedade. É diferente! No caso dos índios, é comum que o homem
que deseje se casar procure um outro que tenha uma irmã; pede
para casar com a irmã dele e ao mesmo tempo lhe oferece sua irmã
solteira.

O conselho.

Existem grupos indígenas em que o chefe possui assessoria


por um grupo de conselheiros composto pelos homens mais
experientes da aldeia e chefes de famílias extensas. Nas aldeias do
alto Xingu, as reuniões dos conselhos são conhecidas como “rodas
dos fumantes”. As reuniões se dão no início da noite, com os
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membros sentados em bancos de madeira e oferecendo cigarros


mutuamente. Lá se discutem vários assuntos de maneira informal,
seus membros sabem das notícias da aldeia, discutem os assuntos
mais relevantes e os conflitos são resolvidos.

Há chefes que nada praticam sem a orientação do conselho, a


exemplo do chefe da aldeia canela (ramcocamerá), no sul do
Maranhão. Este conselho é que resolve quando os meninos devem
passar pelos ritos de iniciação, decreta a morte de feiticeiros, força o

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ladrão a devolver o que furtou ou a pagar uma indenização, procura


resolver litígios etc.

A mulher na vida política.

Geralmente, apenas o homem participa efetivamente da vida


política nas sociedades indígenas do Brasil, restando à mulher um
papel secundário. O chefe da aldeia também é sempre um homem.
(Obs: Cuidado com as críticas. É a organização social deles e não a
nossa).

No entanto, algumas sociedades reconhecem alguns títulos


políticos a mulheres, apesar de, na vivência do grupo, não passarem
de meros títulos geralmente desprovidos de valor prático.

Entre os índios craôs, a mulher do chefe da aldeia recebe a


denominação de “sadon” (termo derivado da expressão, em
português, “sinhá dona”), sendo tratada com certa deferência.
Naquelas sociedades indígenas que não têm grandes aldeias
circulares com várias casas, mas cujos grupos locais se resumem
cada qual a uma só loca ocupada por um grupo doméstico, como
acontece com os marubos, costuma-se valorizar a diligência da
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esposa ou esposas do dono da casa, cujo prestígio depende,


dentre outras condições, da boa acolhida que dá aos
visitantes.

Conclui-se, dessa maneira, que as mulheres indígenas não


dispõem de poder; por outro lado, a força das mulheres não se
confirma por intermédio de instituições políticas, mas pelo prestígio
conquistado no âmbito das relações domésticas, o que possibilita,

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ainda que indiretamente, participação nas decisões referentes ao


grupo.

Crime e castigo.

A definição do que é uma infração social varia de sociedade


para sociedade, porém cada sociedade tem seu elenco de “crimes”
que são da alçada do grupo e não apenas assuntos domésticos, e tem
também um elenco de punições correspondentes a esses crimes5.

Nas sociedades indígenas podemos perceber dois tipos de


procedimentos que contribuem para o exercício do controle social:
medidas inibidoras (o ridículo e o mexerico) e medidas punitivas
(ostracismo, expulsão e morte), sendo que as primeiras parecem
muito mais comuns que as segundas; são esgotadas as inibidoras
antes que seja necessário aplicar as punitivas. Quando passa a ser
um assunto político, uma disputa pode ser motivo de ações e reações
que extravasam os interesses dos contentores para se tornarem
vínculos de luta política.

Apesar da existência de um ou mais chefes e também, às


vezes, de um conselho, nem todas as questões são resolvidas com
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facilidade. Em assuntos tais como as atividades a serem realizadas


em determinado dia, a data de início de um rito, é muito mais fácil
conseguir acordo dos membros do conselho e do chefe do que em
outros assuntos como um litígio entre dois indivíduos ou a punição de
alguém culpado de algum crime.

As sociedades indígenas têm um número reduzido de


membros; nelas, os laços de parentesco se estendem de modo a ligar

5
Idem
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entre si quase todos eles, e muitas vezes se dividem em segmentos


de certo modo rivais. Acontece frequentemente que, dando-se um
homicídio ou surgindo uma disputa na aldeia, o chefe e cada membro
do conselho se veem cada qual colocado como defensor do agressor
ou da vítima, como partidário de um ou de outro dos litigantes6.

Em resumo, em qualquer disputa, o indivíduo se vê apoiado


por seus parentes. Por isso, um homicídio, um roubo, um caso de
feitiçaria, não são problemas que envolvem apenas uns poucos
indivíduos, mas toda a comunidade e sua solução depende do
equilíbrio entre os grupos de expressão política: deixam de ser crimes
comuns para se tornarem questões políticas7.

Nas sociedades indígenas não existem, por conseguinte, juízes


que, em nome de toda a sociedade, imponham determinadas penas
aos indivíduos acusados de transgredirem suas regras ou violarem o
direito dos demais. A sociedade como um todo só pode punir um
de seus membros quando ele é abandonado pelo seu próprio
grupo de parentes ou segmento social. Busca-se, dessa maneira,
a redução de conflitos entre os grupos e a manutenção da paz na
sociedade.

Relações entre aldeias.

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Uma aldeia pode ser considerada como unidade política


independente. No entanto, possui formas de convivência pacífica
entre aldeias vizinhas da mesma sociedade ou de outras. Os índios do
alto Xingu mantém contato entre si por meio de casamentos entre
membros da tribo, transações comerciais, visitas de membros de

6
MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. Editora Universidade de São Paulo, 2007.
P. 164.
7
Idem.
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uma aldeia a outra por ocasião da festa dos mortos (Kuarúp) ou de


jogos como o Iawari.

As aldeias das várias sociedades timbiras, por exemplo,


também se unem entre si por laços matrimoniais. São comuns os
convites de visita de uma aldeia a outra por ocasião da realização de
rituais.

Os craôs, que são timbiras, enviam um mensageiro à aldeia a


ser convidada e ele deve retornar conduzindo os seus moradores à
aldeia anfitriã. Eles entram na aldeia em fila, o mensageiro à frente,
seguido do chefe da aldeia visitante e dos demais homens. São
recebidos pelos habitantes da aldeia no pátio. Vêm com os corpos
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pintados, como em festa, e sua chegada é precedida de toques de


buzina e de apitos tanto dos visitantes como dos visitados. As
mulheres visitantes vêm numa outra fila, que não vai para o pátio da
aldeia, dirigindo-se logo para a casa onde deverão arranchar.

Na aldeia visitada, os visitantes têm uma série de privilégios:


na partilha da caça, são os primeiros a escolher o seu pedaço; no fim
da cerimônia recebem dádivas, como, por exemplo, miçangas. Se há

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entre eles algum cantador, ele é chamado quase todas as noites ao


pátio da aldeia para dirigir o cântico das mulheres.

ASPECTOS DE RELIGIÕES INDÍGENAS.

As crenças religiosas dos povos indígenas afirmam uma


unidade indissolúvel entre o natural e o social, com influencias
mútuas e consequências recíprocas. Muitas vezes aquilo que
chamamos de sobrenatural não é mais do que uma característica
especial do social e do natural, como, por exemplo, atribuir poderes
extranaturais a certos animais, plantas ou outros elementos8.

Manter a ordem do mundo, com seus componentes naturais e


sobrenaturais, é obrigação dos seres humanos. Para isso existem
tabus práticas xamanísticas, ritos de purificação, regras sociais e
éticas… A quebra de um tabu alimentar implica uma ação humana
incorreta que pode pôr em perigo essa ordem, desencadeando a ira
de seres que, embora não pertençam à sociedade humana, estão
diretamente associados a ela e fazem parte de seu sistema de regras.

Uma das diferenças básicas entre a religião das sociedades


indígenas e a dos Estados-nações é que nas primeiras ela não está
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estruturada em “igrejas”, isto é, em aparato especializado,


geralmente hierárquico, com aparente autonomia institucional, que
comanda o dogma, os direitos e deveres de seus afiliados9.

Ao contrário, nas sociedades indígenas a religião está tão


intrinsecamente relacionada com as demais esferas da vida social que

8
(RAMOS, Alcida Rita. Op. Cit. P. 12)
9
Idem

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não só dispensa como provavelmente é incompatível com um


corpo eclesiástico especializado.

Os ritos e mitos.

As ações realizadas por um grupo ou indivíduos isolados


possuem ao menos duas dimensões: técnica e simbólica.

Tomando como exemplo a nossa sociedade, verificamos que o


ato de comer pode ser encarado de duas maneiras diversas. Se por
um lado o ato de ingerir alimentos tem o objetivo de saciar a nossa
fome (dimensão técnica), por outro a maneira como nos
comportamos ao comer pode mostrar muito a respeito dos nossos
costumes (dimensão simbólica).

A maneira como nos sentamos à mesa e a benção dos


alimentos por meio da oração explica, por exemplo, se aquelas
pessoas pertencem a uma ou outra religião. Vejam que esses atos
simbólicos constituem o aspecto ritual (ritos) da refeição, assim como
tantas outras manifestações mundo afora.

Conhecido o conceito de rito, passaremos a compreender a


classificação denominada “Ritos de passagem”, que são cerimonias
que marcam a passagem de um indivíduo ou de um grupo, tal
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como numa casa é preciso passar por portas para se transitar de um


cômodo para outro.

Um rito de passagem sempre se desenvolve em três fases:

a) Ritos de separação (preliminares);


b) Ritos de transição (liminares); e
c) Ritos de incorporação (pós-liminares).

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Vamos entender melhor essas fases?

Vou contar um exemplo hilário que ocorreu comigo e com


muitos de vocês. Ao ingressar na universidade, fui “maldosamente”
submetido a um trote universitário (nesse dia eu fui apresentado a
uma bebida chamada pitu. Conhecem? kkk). Percebam que iniciei um
rito de passagem.

E a “maldade” não acabou por aí. Todos os novos acadêmicos


passaram a ser chamados de “calouros”, ao passo que os mais
experientes eram intitulados de “veteranos” (Os calouros não
mandavam em nada e algumas práticas de assédio moral eram muito
evidentes nessa época. Risos).

Ou seja, temos aqui um típico rito de separação entre


calouros e veteranos.

Durante um ou dois períodos vivemos um rito de transição


entre a condição de veterano e calouro, já que logo em seguida
novos alunos ingressariam na universidade e a “roda do preconceito”
voltaria a girar (mais risos).

Por fim, no ano seguinte, quando uma nova turma sofria o


trote, ganhávamos a carta de alforria e já éramos considerados
veteranos (rito de incorporação).
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Para a cultura indígena, a gestação, o nascimento, os funerais,


a iniciação, o matrimônio, a mudança nas estações do ano, dentre
outros, constituem ritos que apresentam certas peculiaridades de
acordo com o grupo observado.

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Ritos de gestação e nascimento.

Tomando como exemplo os antigos índios Tubinambá, Melatti


(2007, p. 50) descreve pormenorizadamente todo o rito de gestação
e nascimento de uma criança.

“Ao nascer uma criança, se fosse do sexo masculino, o pai


tupinambá levantava-lhe do chão e cortava-lhe o cordão umbilical
com os dentes; se fosse do sexo feminino, a própria mãe o fazia. A
criança era então banhada no rio, após o que o pai lhe achatava o
nariz com o polegar. Em seguida, o bebê era colocado numa
pequena rede. Presas a esta rede, se fosse do sexo masculino,
punham unhas de onça ou de uma determinada ave de rapina;
punham também penas de caldas e das asas dessa ave, bem como
um pequeno arco e algumas flechas, para que a criança se tornasse
valente e disposta a guerrear os inimigos. Se fosse do sexo
feminino, punham-lhe no colo dentes de capivara, para que tivesse
dentes fortes (...)”

Observem que os rituais de gestação e nascimento não dizem


respeito somente à criança. Os pais também são submetidos a ritos
de passagem. Assim, o reconhecimento da gravidez da mulher
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obrigava os pais a dedicarem cuidados especiais, separando-os, de


certo modo, pela maneira de se comportar, dos demais habitantes da
aldeia durante todo o processo de gestação e nascimento.

Ritos de iniciação.

É prática comum a quase todas as sociedades indígenas o


ritual de passagem do jovem para a vida adulta. A esses ritos de

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passagem damos o nome de “iniciação”. Na sociedade apinajé, a


transformação dos meninos em guerreiros e realizada em duas
etapas e durante o período de um ano. Verificaremos claramente
como ocorre a divisão do rito de passagem em separação,
transição e incorporação.

No primeiro momento, os jovens que têm por volta de quinze


anos de idade são separados dos demais (rito de separação). Ato
contínuo, devem passar o dia afastados da aldeia e voltando para
casa da mãe durante a noite. Durante esses meses dispõem de um
acampamento próprio, local para banho e recebem instruções diárias
de dois homens maduros. Tal fase representa um rito de transição e
é durante esse período que os jovens têm suas orelhas e lábios
perfurados para o uso dos batoques.

Após o término desse período, os jovens são trazidos de volta


para a aldeia e recebidos com uma cerimônia constituída por ritos de
incorporação. Ao final desse período os jovens deixam de ser
considerados meninos e são considerados homens pleno, podendo,
inclusive, casar-se.

Ritos funerários.

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Os ritos funerários também constituem ritos de passagem. A


título de exemplo, cuidaremos do rito funerário realizado pelos índios
caingangues.

Quando morre um índio caingangue, três homens levam o


cadáver para o cemitério. Toda vez que põem o cadáver no chão para
descansar, fazem um sinal numa árvore próxima. E isso acontece
umas três vezes, até que cheguem ao cemitério, onde também fazem
o mesmo sinal (Rito de separação).

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Essa sociedade acredita que o morto produz morte e doença,


causando perigo ao grupo, e por isso deve ser reprimido. Para tanto,
a comunidade realiza um rito de transição para que a alma do
morto vá embora.

Ao final do rito de transição, entende-se que a alma do morto


foi incorporada ao um “outro mundo”. Temos, portanto, um rito de
incorporação.

COSMOLOGIAS E MITOS INDÍGENAS.

Professor, mas afinal de contas, o que significam os termos


mito e cosmologia?

São teorias que explicam o mundo. Para Claude Levi-Strauss,


o mito não é lenda ou fabulação, mas uma organização da realidade a
partir da experiência sensível. O pensamento mítico reúne
experiências, narrativas, relatos, até compor um mito geral, como a
origem e forma das coisas, funções e finalidades, os poderes divinos
sobre a natureza e os seres humanos).

As cosmologias indígenas representam modelos complexos


mais integrados dos quais faz parte a sociedade humana. Os mitos
são veículos de informação sobre a concepção do Universo, incluindo
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temas sobre a criação do mudo, a origem da agricultura, as relações


ecológicas entre animais, plantas e outros elementos, a metamorfose
de seres humanos em animais e vice-versa e de ambos em espíritos
de vários tipos e índoles, a razão de certas relações sociais
culturalmente importantes e até mesmo o surgimento do “homem
branco” e a avalanche de fatores desagregadores que o
acompanham.

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O sistema cosmológico de uma sociedade indígena é uma


combinação de vários tipos de conhecimento empírico e
conhecimento metafórico. Enquanto uma sociedade projeta a sua
visão cósmica na disposição de várias plantas da roça, outra
representa a sua na construção de uma casa comunal; enquanto para
uma os rios e cascatas são a manifestação cultural de uma parte da
ordem metafísica que orienta o mundo social, para outra o
simbolismo cósmico é retratado em artes como a cerâmica ou a
pintura corporal.

A visão do mundo supre o indivíduo como uma constante


âncora que o mantém seguro a uma determinada realidade social em
face a vicissitudes sobre as quais ele não tem controle: a morte, a
doença, o insucesso (RAMOS, 1995).

Na vida cotidiana, essas concepções orientam, dão sentido,


permitem interpretar acontecimentos e ponderar decisões. São
expressas através da linguagem simbólica da dramaturgia dos rituais.
Música, ornamentos corporais, entre outros recursos, permitem o
contato com outras dimensões cósmicas, com momentos outros do
mundo e do processo da vida (e da morte).

Meus diletos amigos, percebam que há uma estreita relação


entre os ritos e os mitos, mas eles não possuem o mesmo sentido.
Trazendo para a realidade dos índios, é possível afirmar que para
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cada rito há um mito que narra como os índios aprenderam a


realizá-lo. Assim, por exemplo, um determinado rito foi aprendido por
um homem levado para o céu pelos urubus; outro rito foi aprendido
dentro das águas por um homem que foi devorado por uma cobra
gigante.

O mito da Flauta de bambu vai nos ajudar a compreender


melhor a relação entre mitos e ritos. Segundo a narrativa, o índio
Uakti tinha o corpo cheio de buracos. Quando o vendo passava pelos

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buracos do seu corpo, eis que surgia um belo som, mágico e


encantado que acabava causando encantamento das mulheres da
tribo. É a partir desse mito que os índios da tribo Tucano passaram a
fazer flautas de bambu para conquistar suas amadas.

Uma antiga lenda conta que existiu na Terra um ser mágico


chamado Uakti, cujo corpo era repleto de buracos que, ao serem
penetrados pelo vento, produziam um som de grandiosa beleza. A
melodia encantava as mulheres da aldeia dos índios tucanos, as
quais por Uakti instantaneamente se enamoravam.

Os homens da aldeia, por despeito e ciúme, uniram-se para caçar e


matar Uakti. Atacaram-no e mataram-no com tal veemência, que de
seu corpo só restaram pedaços que foram enterrados próximo à
taba.

No local, primaveras mais tarde, brotaram plantas cilíndricas e


longas, curiosamente ocas e enogadas. Nascia ali um bambuzal e
quando o vento soprava entre os bambus, produzia o mesmo som
encantador de Uakti.

Foi então que os homens da aldeia se deram conta que poderiam


produzir instrumentos daqueles bambus para seduzir as mulheres.
Passaram então a fazer flautas de bambu para encantar suas
amadas com a beleza do som do instrumento.

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Após a leitura do texto acima, fica claro que o rito é a


fabricação de flautas de bambu para encantar suas amadas e o mito
é a saga de Uakti.

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A crença num ser supremo.

O ser supremo é assim compreendido pelo fato de a ele ser


atribuída a criação do universo ou da terra. Não é correto igualá-lo ao
herói mítico, já que este deve ser concebido como simples
modificador ou criador de acidentes geográficos, animais e plantas
etc. Ou seja, o herói mítico seria um enviado do ser supremo.

Entre as sociedades indígenas do Brasil, poucas acreditam


num ser supremo, dando maior atenção aos heróis míticos, sempre
retratados como heróis civilizadores; ou seja, aqueles que ensinaram
ritos, regras sociais e técnicas de determinada sociedade.

A presença de um ser supremo é notada na mitologia dos


índios Apapovucas, os quais acreditavam que Nyanderuvusú criou a
terra e que será seu destruidor; Nyanderuvusú está retirado numa
religião longínqua, dominada por trevas e iluminada apenas pela luz
que emana de seu peito; os acontecimentos de todos os dias na
superfície da terra não estão no âmbito de suas preocupações.

Mais frequentes que a presença de um ser supremo são os


heróis míticos que se apresentam como um par de irmãos. Entre os
índios do tronco linguístico Tupi, este par não raro se apresenta como
irmãos gêmeos nascidos da mesma mãe, mas oriundos de pais
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diferentes. Assim, os Apapovucas acreditam que a mulher de


Nyanderuvusú concebeu um filho deste ser supremo e outro de um
segundo que parecer ser um desdobramento daquela divindade10.

Os gêmeos míticos também podem ser encontrados nas


mitologias dos antigos índios tupinambás, teneteharas e camaiurás e
representados por SOL e LUA.

10
SCHADEN apud MELATTI, Júlio Cezar. Índios do Brasil. Editora Universidade de
São Paulo, 2007. P. 193
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Outrossim, é muito comum ouvirmos falar que Tupã é o


principal deus das crenças indígenas. No entanto, devemos
desconstruir esse conceito. Tupã é um ser sobrenatural exaltado
somente pelos povos de língua tupi-guarani. Os demais povos não
conheciam Tupã, pelo menos antes do contato com os portugueses.

Tupã é como que um demônio que controla raio e trovão,


podendo, por isso, provocar morte e destruição. Foram os primeiros
missionários que, ao ensinarem a doutrina cristã aos índios, na língua
destes, procuraram expressar o conceito que os cristãos faziam de
Deus com o termo Tupã. O termo foi mal escolhido, uma vez que são
completamente discordantes a ideia que os cristãos fazem de Deus e
a que os índios fazem de Tupã. Mas o erro dos missionários perdurou
e até hoje muitos afirmam que Tupã é a principal divindade.

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IMAGEM: Deus tupã.

Fonte: http://cerradosombrio.blogspot.com.br/2015/07/tupa-e-criacao-
lenda.html. Acesso em 28/05/16.

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A crença na alma.

De maneira geral, todas as sociedades indígenas creem que


cada indivíduo possui um espírito, algo equiparado à alma da
doutrina cristã, mesmo sendo diferente desta. A noção de alma para
os índios varia entre os grupos.

Para os índios craôs, todos os seres da natureza possuem


alma (animais, plantas, homens etc) e cada ente é revestido de uma
parte material e outra não material, denominada por eles de
Karô. O Karô de um homem pode se desvencilhar do seu corpo físico;
quando sonha com lugares distantes, crê-se que a alma afastou-se
para visitar realmente esses lugares. Em casos de doença, acreditam
que o Karô se afasta do corpo. Por fim, se o Karô se naga a retornar
ao corpo físico, este definha e morre.

Enquanto a morte para os cristãos é entendida como o


momento em que a alma deixa o corpo, para os craôs a morte é a
negação do Karô de retornar a ele.

De outra banda, índios guaranis compreendem a alma de


forma completamente diferente do exemplo acima. Para eles, a alma
é plural, é múltipla. Os guaranis estão divididos em três subgrupos:
nhandevas, mbiás e caiuás. Cada um
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deles possui conceitos
diferentes acerca da alma.

Os nhandevas admitem que cada indivíduo tem duas ou


três almas e essas almas são visíveis sob a forma de
sombras: uma cai para a frente ou para trás; outra cai
para a direita e a terceira para a esquerda. A primeira
vai para o céu, situado acima do paraíso mítico; a
segunda fica pelos ares, não faz mal a ninguém; a
terceira vagueia no chão, vai morar no cemitério e é
ruim. A primeira é responsável pelos desejos,
sentimentos e manifestações mais nobres dos
indivíduos, conferindo-lhe também o dom da

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linguagem; tem sua sede no peito. A terceira


representa o caráter animal da pessoa; sua sede é a
parte inferior do rosto, especialmente a região bucal
(...)

(SHADEN, Egon. Leituras de Etnologia Brasileira.


São Paulo, Nacional, 1976, pp. 114-118)

Médicos-feiticeiros e xamãs.

É comum que, nas aldeias indígenas, exista uma ou mais


pessoas encarregadas de curar doenças por meio de práticas
empíricas. Tais indivíduos com habilidades sobrenaturais são
chamados de médicos-feiticeiros. Tal como esse termo parece indicar,
eles não utilizam esses poderes somente para curar doenças, mas
também para provocá-las. Por isso, sempre que ocorre uma morte, a
culpa não raro é atribuída a um feiticeiro, o que gera a ira dos
parentes do morto e a perseguição do acusado.

Os poderes, o processo de cura e o modo como se relacionam


com as forças sobrenaturais varia em cada sociedade. Exercendo ou
não as atividades de médico-feiticeiros, existem outros agentes
religiosos que recebem o nome de xamãs.

Em algumas sociedades ser xamã é privilégio de poucos, em


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outras é obrigação de muitos; em algumas o xamanismo é atividade


exclusivamente masculina, em outras ele pode ser também
praticado por mulheres.

As práticas xamanísticas podem envolver a utilização de


substâncias como tabaco ou drogas alucinógenas, instrumentos
musicais como o chocalho, podem incluir transe, visões, sonhos,
experiências sensoriais especialmente induzidas. Os sonhos também
são importante fonte de conhecimento.

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Não existem xamãs de nascença; quaisquer que sejam os


dons, requisitos ou propensões necessárias à prática do xamanismo,
eles tem que se desenvolvidos e canalizados através de treinamento
especial dos noviços pelos xamãs experientes.

Além de realizar curas, xamãs são também responsáveis pelo


bem-estar geral da comunidade, protegendo-a contra espíritos
malignos, conduzindo recitativos ou cerimônias propiciatórias para
boas colheitas, boas caçadas, invocando espíritos benignos para
assistir a resolução de certos problemas, como esterilidade e outros
distúrbios que podem ser atribuídos aos efeitos de feitiçaria.

O que caracteriza o xamã é poder gozar de um estado de


êxtase, durante o qual ou sua alma se retira para longe do corpo,
percorrendo lugares distantes, ou nele se encarna em espírito
estranho. Assim, o xamã pode ser ou um viajante ou um possesso.

No caso do xamã viajante, enquanto sua alma se afasta para


visitar o mundo do além, seu corpo apresenta diminuição anormal
das funções vitais, que vai até a perda da consciência e enrijecimento
dos músculos. No caso do xamã possesso, quando o espírito estranho
se une a sua alma e entra no seu corpo, este se mostra agitado,
confuso, movimentando-se de forma esquisita, manifestando saber e
poder fora do comum.
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QUESTÕES DE CONCURSOS SEM GABARITO

1. (ESAF-MPU/2004-ANTROPÓLOGO) Em todas as culturas


humanas encontra-se uma interpretação sobre o meio em
que seus membros vivem. Analise as afirmativas abaixo
sobre o modo com que as sociedades indígenas brasileiras

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concebem a natureza.

I. As interpretações indígenas sobre o meio em que vivem


sugerem a existência de uma rígida separação entre o mundo
natural e o mundo sobrenatural.

II. Para muitas sociedades indígenas o território grupal está


ligado a uma história cultural e assim é concebido. Por
exemplo, entre os Cubeo a disposição dos grupos residenciais
ao longo dos rios é concebida a partir de um modelo
representado por uma gigantesca sucuri.

III. A natureza é concebida pelos povos indígenas como um


santuário que deve ser protegido da ação exploradora do
homem branco.

IV. Muitos povos indígenas entendem que o consumo de


certas espécies vegetais permite a alguns especialistas viajar
entre o mundo dos homens e do mundo dos espíritos.

Assinale a opção que indica apenas as afirmativas corretas.

a) I e III

b) I e IV

c) II e III

d) III e IV

e) II e IV

2. (ESAF-MPU/2004-ANTROPÓLOGO) É sabido que as


sociedades indígenas necessitam de uma base territorial para
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sua reprodução. Assinale as afirmativas corretas sobre a


terra para os povos indígenas.

I. A terra é muito mais do que simples meio de subsistência.

II. A terra é importante porque, como propriedade individual,


ela organiza a distribuição da riqueza entre os indígenas.

III. Os povos indígenas têm um sentido de exclusividade com


relação a seu território, o que se revela na existência de
fronteiras territoriais claramente marcadas que impede a
circulação de pessoas entre as comunidades.

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IV. As alianças matrimoniais e as prestações rituais estão,


muitas vezes, diretamente ligadas à disposição espacial dos
diversos grupos locais nelas envolvidas. Esse fato é sugestivo
de como considerações de ordem social e ritual devem ser
levadas em conta para a compreensão da importância que
tem o território para as populações indígenas.

Assinale a opção que identifica apenas as proposições


corretas.

a) I e II

b) I e IV

c) II e III

d) II e IV

e) I e III

3. (ESAF-MPU/2004-ANTROPÓLOGO) Assinale a opção que


melhor representa as características mais marcantes da
organização política nas sociedades indígenas brasileiras.

a) Os povos indígenas do Brasil vivem em sociedades com


estrutura de poder fortemente centralizada e especializada,
onde o chefe ou cacique detém o poder político e controla as
instituições de sanção social e o pajé ou xamã detém o poder
religioso sendo o chefe da principal seita religiosa da tribo.

b) A liderança e as posições de poder são transmitidas entre


as gerações por hereditariedade.

c) O controle social é exercido rigidamente nas sociedades


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indígenas por meio de uma única instituição responsável pelo


desenvolvimento de uma série de medidas punitivas como o
ostracismo, a expulsão e a morte do infrator.

d) A autoridade dos chefes tende a ser respaldada no


conhecimento que eles têm e que é posto a serviço da
comunidade (ser um bom caçador, agricultor ou pescador,
bom orador, bom xamã etc). O poder que tal forma de
autoridade confere é o poder de persuasão. Raramente o
poder de chefe indígena é baseado somente na coerção.

e) O poder político dos chefes indígenas está associado à

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desigualdade econômica, de modo que o cacique é em geral o


único indivíduo rico da tribo.

4. (ESAF-MPU/2004-ANTROPÓLOGO) Apesar de muito


diferenciados, os sistemas religiosos e as cosmologias dos
povos indígenas compartilham algumas características.

Julgue as proposições abaixo.

I. As crenças religiosas nas sociedades indígenas


pressupõem uma unidade indissolúvel entre o natural e o
social.

II. As religiões das sociedades indígenas estão estruturadas


em “igrejas”, com um aparato hierárquico que comanda os
assuntos da fé.

III. Os xamãs são intermediários entre o social e o


sobrenatural, sendo um cargo exclusivo dos homens idosos.

IV. Ao contrário das religiões de muitos Estados nações, há


uma ausência de seitas concorrentes nos sistemas religiosos
das sociedades indígenas.

Assinale a opção que indica apenas as proposições corretas.

a) I e II

b) I e III

c) II e III

d) I e IV
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e) III e IV

5. (FCC-MPU/2007-ANTROPOLOGIA) Compare as duas


pirâmides populacionais que representam, respectivamente,
a faixa etária dos Kaiabi do Xingu nos anos de 1970 e
de1999.

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(Pagliaro, Heloisa. A Revolução Demográfica dos Povos Indígenas, In: Demografia


dos Povos Indígenas no Brasil. Abep, Fiocruz, RJ, 2005: 84)

O contorno destas pirâmides demonstra

a) uma transição de um regime demográfico, em que altos


níveis de natalidade compensam a alta mortalidade.

b) uma diminuição do peso relativo da população de 0 - 14


anos, de 1970 para 1999.

c) uma transição de um regime demográfico em que baixos


níveis de mortalidade compensam baixos níveis de
natalidade. 33966219212

d) um envelhecimento das estruturas etárias do povo Kaiabi,


de 1970 para 1999.

e) uma transição de um regime demográfico típico das


sociedades indígenas brasileiras deste período, que
apresentam um envelhecimento.

6. (CETRO-FUNAI/2009/ INDIGENISTA ESPECIALIZADO) O


que caracteriza o ser supremo é, sobretudo, o fato de a ele
ser atribuída a criação do universo ou da terra. Dele se

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distingue o herói mítico, que é concebido apenas como


transformador ou criador de acidentes geográficos, de
animais e de plantas (In. Índios do Brasil, 2007, p.193.
Adaptado).

Acerca dessa temática no universo indígena, marque V para


verdadeiro e F para falso. Em seguida, assinale a alternativa
que apresenta a sequencia correta.

( ) Práticas de xamanismo foram abandonadas por serem


atitudes demoníacas, em virtude do processo missionário nas
comunidades indígenas do Brasil.

( ) Tupã é o principal Deus das crenças indígenas

( ) De um modo geral, em todas as sociedades indígenas,


crê-se que cada homem possui um espírito, assim como a
alma, segundo a noção cristã, entretanto, a noção de alma
difere da nossa sociedade e de sociedade indígena para
sociedade indígena.

( ) Os médicos-feiticeiros usam práticas de medicina


ocidental no tratamento de diversas doenças

a) V/ V/ F/ V/
b) F/F/ V/ V/
c) V/ F/ V/ F/
d) F/ F/ V/ F/
e) V/ V/ F/ F/

(CESPE-PREF. DE BOA VISTA/ANTROPÓLOGO) Julgue os


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seguintes itens, acerca de características das sociedades


indígenas brasileiras.

7. As interpretações que os povos indígenas elaboram sobre


a natureza indicam que suas cosmologias não fazem uma
separação radical entre o mundo natural e o mundo
sobrenatural.

8. O poder dos chefes indígenas tende a ser mais um poder

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de persuasão do que um poder de coerção e a sua autoridade


funda-se na capacidade que eles têm de colocar o seu
conhecimento a serviço da coletividade.

9. Há uma crença generalizada em muitas sociedades


indígenas de que o consumo de algumas plantas permite aos
especialistas (xamãs, pajés) fazer a viagem ao mundo dos
espíritos.

10. A hereditariedade é o atributo mais comumente utilizado


pelos povos indígenas para a transmissão do poder. Assim,
as chefias sempre passam de pai para filho. A peculiaridade
do caso brasileiro está no fato de que o sistema político
indígena sempre se baseia no princípio da ultimogenitura (a
chefia passa para o filho mais novo do chefe).

QUESTÕES COMENTADAS PELO TIO ARI

1. (ESAF-MPU/2004-ANTROPÓLOGO) Em todas as culturas


humanas encontra-se uma interpretação sobre o meio em
que seus membros vivem. Analise as afirmativas abaixo
sobre o modo com que as sociedades indígenas brasileiras
concebem a natureza.
33966219212

I. As interpretações indígenas sobre o meio em que vivem


sugerem a existência de uma rígida separação entre o mundo
natural e o mundo sobrenatural.

II. Para muitas sociedades indígenas o território grupal está


ligado a uma história cultural e assim é concebido. Por
exemplo, entre os Cubeo a disposição dos grupos residenciais
ao longo dos rios é concebida a partir de um modelo
representado por uma gigantesca sucuri.

III. A natureza é concebida pelos povos indígenas como um


santuário que deve ser protegido da ação exploradora do

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homem branco.

IV. Muitos povos indígenas entendem que o consumo de


certas espécies vegetais permite a alguns especialistas viajar
entre o mundo dos homens e do mundo dos espíritos.

Assinale a opção que indica apenas as afirmativas corretas.

a) I e III

b) I e IV

c) II e III

d) III e IV

e) II e IV

COMENTÁRIOS:

I- Incorreto. Não há que se falar em rígida separação entre o


mundo natural e o mundo sobrenatural. Pelo contrário. Os ritos, por
exemplo, são manifestações oriundas de crenças em evidências
sobrenaturais, e por aí vai.

II- Correto. Percebam como a história cultural da sociedade Cubeo


influenciou a organização territorial do seu território.

III- Incorreto? Pessoal, a banca considerou incorreta essa


assertiva. Confesso que não compreendi o porquê, já que a relação
que se estabelece entre os índios e a natureza é extremamente
sustentável e a ação exploradora do homem branco traria enormes
prejuízos. Fica o questionamento.
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IV- Correto. É o caso da ayahuasca, planta utilizada em rituais


indígenas.

GABARITO: Alternativa E (Com ressalvas)

2. (ESAF-MPU/2004-ANTROPÓLOGO) É sabido que as


sociedades indígenas necessitam de uma base territorial para
sua reprodução. Assinale as afirmativas corretas sobre a
terra para os povos indígenas.

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I. A terra é muito mais do que simples meio de subsistência.

II. A terra é importante porque, como propriedade individual,


ela organiza a distribuição da riqueza entre os indígenas.

III. Os povos indígenas têm um sentido de exclusividade com


relação a seu território, o que se revela na existência de
fronteiras territoriais claramente marcadas que impede a
circulação de pessoas entre as comunidades.

IV. As alianças matrimoniais e as prestações rituais estão,


muitas vezes, diretamente ligadas à disposição espacial dos
diversos grupos locais nelas envolvidas. Esse fato é sugestivo
de como considerações de ordem social e ritual devem ser
levadas em conta para a compreensão da importância que
tem o território para as populações indígenas.

Assinale a opção que identifica apenas as proposições


corretas.

a) I e II

b) I e IV

c) II e III

d) II e IV

e) I e III

COMENTÁRIOS:

I- Correto. A terra é realmente muito mais do que simples meio de


subsistência. É o local em que os índios escolheram viver, dar vazão
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às suas práticas culturais etc. No território estão inscritas as mais


básicas noções de autodeterminação, de articulação sociopolítica, de
vivência e crenças religiosas, para não falar na própria existência
física do grupo.

II- Incorreto. Conversamos sobre isso na aula passada, lembra? A


economia indígena destoa da nossa em vários aspectos,
principalmente no quesito coletividade, solidariedade e
sustentabilidade.

III- Incorreto.

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IV- Correto. Falávamos que as relações afetivas travadas entre o


índios envolvem não somente o homem e a mulher, mas toda a
comunidade. Sendo assim, as alianças matrimonias estão
diretamente relacionadas à disposição geográfica dos grupos
envolvidos.

GABARITO: Alternativa B

3. (ESAF-MPU/2004-ANTROPÓLOGO) Assinale a opção que


melhor representa as características mais marcantes da
organização política nas sociedades indígenas brasileiras.

a) Os povos indígenas do Brasil vivem em sociedades com


estrutura de poder fortemente centralizada e especializada,
onde o chefe ou cacique detém o poder político e controla as
instituições de sanção social e o pajé ou xamã detém o poder
religioso sendo o chefe da principal seita religiosa da tribo.

b) A liderança e as posições de poder são transmitidas entre


as gerações por hereditariedade.

c) O controle social é exercido rigidamente nas sociedades


indígenas por meio de uma única instituição responsável pelo
desenvolvimento de uma série de medidas punitivas como o
ostracismo, a expulsão e a morte do infrator.

d) A autoridade dos chefes tende a ser respaldada no


conhecimento que eles têm e que é posto a serviço da
comunidade (ser um bom caçador, agricultor ou pescador,
bom orador, bom xamã etc). O poder que tal forma de
autoridade confere é o poder de persuasão. Raramente o
poder de chefe indígena é baseado somente na coerção.
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e) O poder político dos chefes indígenas está associado à


desigualdade econômica, de modo que o cacique é em geral o
único indivíduo rico da tribo.

COMENTÁRIOS:

A autoridade dos chefes indígenas não está consubstanciada


em poder econômico ou hereditariedade. Ademais, o controle social
nas tribos pode ser exercido tanto pelo chefe quanto pelo conselho,
restando claro o caráter descentralizador do poder.

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Talvez a inexistência, entre as muitas sociedades indígenas,


de um tipo de organização política estatal fortemente centralizada
seja um dos principais fatores responsáveis pela ausência de
relações de dominação entre elas e de uma ideologia que renega a
própria existência de pluralismo cultural.

Em verdade, a autoridade dos chefes tende a ser respaldada


no conhecimento que eles têm e que é posto a serviço da
comunidade (ser um bom caçador, agricultor ou pescador, bom
orador, bom xamã etc). O poder que tal forma de autoridade
confere é o poder de persuasão. Raramente o poder de chefe
indígena é baseado somente na coerção.

GABARITO: Alternativa D

4. (ESAF-MPU/2004-ANTROPÓLOGO) Apesar de muito


diferenciados, os sistemas religiosos e as cosmologias dos
povos indígenas compartilham algumas características.

Julgue as proposições abaixo.

I. As crenças religiosas nas sociedades indígenas


pressupõem uma unidade indissolúvel entre o natural e o
social.

II. As religiões das sociedades indígenas estão estruturadas


em “igrejas”, com um aparato hierárquico que comanda os
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assuntos da fé.

III. Os xamãs são intermediários entre o social e o


sobrenatural, sendo um cargo exclusivo dos homens idosos.

IV. Ao contrário das religiões de muitos Estados nações, há


uma ausência de seitas concorrentes nos sistemas religiosos
das sociedades indígenas.

Assinale a opção que indica apenas as proposições corretas.

a) I e II

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b) I e III

c) II e III

d) I e IV

e) III e IV

COMENTÁRIOS:

A ESAF é especialista em questões com assertivas múltiplas


(I, II, III e IV). I Nesses casos, é importante que você exclua
primeiro as afirmativas “ridículas” e tente encontrar a resposta.

Dica para vocês: os textos das três questões anteriores


foram integralmente retirados da obra “Sociedades Indígenas”, de
Alcida Rita Ramos, bastante citada aqui na aula. É por esse motivo
que acabo exagerando nas citações, para que vocês saibam
exatamente por quais autores a banca tem predileção.

I- Correto. As crenças religiosas dos povos indígenas afirmam uma


unidade indissolúvel entre o natural e o social, com influencias
mútuas e consequências recíprocas. Muitas vezes aquilo que
chamamos de sobrenatural não é mais do que uma característica
especial do social e do natural, como, por exemplo, atribuir poderes
extranaturais a certos animais, plantas ou outros elementos.

II- Incorreto. Uma das diferenças básicas entre a religião das


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sociedades indígenas e a dos Estados-nações é que nas primeiras


ela não está estruturada em “igrejas”, isto é, em aparato
especializado, geralmente hierárquico, com aparente autonomia
institucional, que comanda o dogma, os direitos e deveres de seus
afiliados.

III- Incorreto. Algumas sociedades admitem xamãs mulheres e


não necessariamente idosos.

IV- Correto. Inexistem essas tais seitas concorrentes nas

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sociedades indígenas.

GABARITO: Alternativa D

5. (FCC-MPU/2007-ANTROPOLOGIA) Compare as duas


pirâmides populacionais que representam, respectivamente,
a faixa etária dos Kaiabi do Xingu nos anos de 1970 e
de1999.

(Pagliaro, Heloisa. A Revolução Demográfica dos Povos Indígenas, In: Demografia


dos Povos Indígenas no Brasil. Abep, Fiocruz, RJ, 2005: 84)

O contorno destas pirâmides demonstra

a) uma transição de um regime demográfico, em que altos


níveis de natalidade compensam a alta mortalidade.
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b) uma diminuição do peso relativo da população de 0 - 14


anos, de 1970 para 1999.

c) uma transição de um regime demográfico em que baixos


níveis de mortalidade compensam baixos níveis de
natalidade.

d) um envelhecimento das estruturas etárias do povo Kaiabi,


de 1970 para 1999.

e) uma transição de um regime demográfico típico das


sociedades indígenas brasileiras deste período, que
apresentam um envelhecimento.
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COMENTÁRIOS:

Essa questão pede apenas que interpretemos as pirâmides


etárias dos anos de 1970 e 1999 dos povos Kaiang e não da
população indígena brasileira de forma geral.

O contorno destas pirâmides ilustra o processo de transição


de um regime demográfico em que altos níveis de natalidade
compensam a alta mortalidade, provocando o descenso ou
crescimento estável da população, para um estágio em que a
mortalidade declina e a natalidade aumenta mais e se mantém
elevada, configurando uma etapa de elevado crescimento e de
rejuvenescimento da população.

GABARITO: Alternativa A

6. (CETRO-FUNAI/2009/ INDIGENISTA ESPECIALIZADO) O


que caracteriza o ser supremo é, sobretudo, o fato de a ele
ser atribuída a criação do universo ou da terra. Dele se
distingue o herói mítico, que é concebido apenas como
transformador ou criador de acidentes geográficos, de
animais e de plantas (In. Índios do Brasil, 2007, p.193.
Adaptado). 33966219212

Acerca dessa temática no universo indígena, marque V para


verdadeiro e F para falso. Em seguida, assinale a alternativa
que apresenta a sequencia correta.

( ) Práticas de xamanismo foram abandonadas por serem


atitudes demoníacas, em virtude do processo missionário nas
comunidades indígenas do Brasil.

( ) Tupã é o principal Deus das crenças indígenas

( ) De um modo geral, em todas as sociedades indígenas,

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crê-se que cada homem possui um espírito, assim como a


alma, segundo a noção cristã, entretanto, a noção de alma
difere da nossa sociedade e de sociedade indígena para
sociedade indígena.

( ) Os médicos-feiticeiros usam práticas de medicina


ocidental no tratamento de diversas doenças

a) V/ V/ F/ V/
b) F/F/ V/ V/
c) V/ F/ V/ F/
d) F/ F/ V/ F/
e) V/ V/ F/ F/

COMENTÁRIOS:

I- Falso. As práticas de xamanismo não foram abandonadas.

II- Falso. É muito comum ouvirmos falar que Tupã é o principal


deus das crenças indígenas. No entanto, devemos desconstruir esse
conceito. Tupã é um ser sobrenatural exaltado somente pelos povos
de língua tupi-guarani. Os demais povos não conheciam Tupã, pelo
menos antes do contato com os portugueses.

III- Verdadeiro. De maneira geral, todas as sociedades indígenas


creem que cada indivíduo possui um espírito, algo equiparado à
alma da doutrina cristã, mesmo sendo diferente desta. A noção de
alma para os índios varia entre os grupos.

IV- Falso. As técnicas são próprias. 33966219212

GABARITO: Alternativa D

(CESPE-PREF. DE BOA VISTA/ANTROPÓLOGO) Julgue os


seguintes itens, acerca de características das sociedades
indígenas brasileiras.

7. As interpretações que os povos indígenas elaboram sobre

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a natureza indicam que suas cosmologias não fazem uma


separação radical entre o mundo natural e o mundo
sobrenatural.

COMENTÁRIOS:

Verdade. As cosmologias não fazem uma separação radical


entre o mundo natural e o mundo sobrenatural. Isso se verifica
quando afirmamos que o sistema cosmológico de uma sociedade
indígena é uma combinação de vários tipos de conhecimento
empírico e conhecimento metafórico.

Enquanto uma sociedade projeta a sua visão cósmica na


disposição de várias plantas da roça, outra representa a sua na
construção de uma casa comunal; enquanto para uma os rios e
cascatas são a manifestação cultural de uma parte da ordem
metafísica que orienta o mundo social, para outra o simbolismo
cósmico é retratado em artes como a cerâmica ou a pintura
corporal.

GABARITO: Correto.

8. O poder dos chefes indígenas tende a ser mais um poder


de persuasão do que um poder de coerção e a sua autoridade
funda-se na capacidade que eles têm de colocar o seu
conhecimento a serviço da coletividade.
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COMENTÁRIOS:

Na gradação que as sociedades indígenas apresentam quanto


à proeminência de líderes políticos, há um aspecto recorrente em
todas elas: os líderes não têm poder de coerção. Sua posição é
mantida, o respeito de seus companheiros é assegurado não pelo
exercício da força ou ameaça de uso da força, mas pela persuasão.

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GABARITO: Correto.

9. Há uma crença generalizada em muitas sociedades


indígenas de que o consumo de algumas plantas permite aos
especialistas (xamãs, pajés) fazer a viagem ao mundo dos
espíritos.

COMENTÁRIOS:

Percebam que estas questões do CESPE possuem afirmações


IDÊNTICAS àquelas feitas pela ESAF nas primeiras questões
analisadas por nós. Acredito que a mesma pessoa elaborou as duas
provas e pode ser que também organize a sua.

GABARITO: Correto.

10. A hereditariedade é o atributo mais comumente utilizado


pelos povos indígenas para a transmissão do poder. Assim,
as chefias sempre passam de pai para filho. A peculiaridade
do caso brasileiro está no fato de que o sistema político
indígena sempre se baseia no princípio da ultimogenitura (a
chefia passa para o filho mais novo do chefe).

COMENTÁRIOS:

Em verdade, a autoridade dos chefes tende a ser respaldada


no conhecimento que eles têm e que é posto a serviço da
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comunidade (ser um bom caçador, agricultor ou pescador, bom


orador, bom xamã etc). O poder que tal forma de autoridade
confere é o poder de persuasão.

GABARITO: Errado.

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Por hoje é só.

Até a próxima aula.

Forte abraço e bons estudos.

Prof. Aristócrates Carvalho

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