A EPISTEME DO BRINCAR NA PERSPECTIVA SÓCIO-HISTÓRICA DE

VYGOTSKY
Jadson Teixeira Muritiba

Resumo

No desenvolvimento e aprendizagem infantil é sabido, pela psicologia, que há vários aspectos

importantes. A presente obra tem como foco investigar qual a relação do comportamento de
brincar neste desenvolvimento e aprendizagem e fazer uma breve analise do uso indiscriminado
da uso da tecnologia. Com base na teoria e conceituação de Lev. S. Vygotsky. O trabalho foi
produzido sobe forma de revisão literária assistemática na reunião de artigos e livro que tratam
do mesmo assunto.

Palavras- Chaves: Brincar; Desenvolvimento infantil;

Introdução 1. Conceituando o Brincar.

A psicologia de forma geral se
preocupa em estudar o comportamento
humano e os processos mentais que
levam a esse comportamento. A teoria
marxista tem grande influência na
produção da epistemologia sócio
histórica de Vygotsky. Na concepção
marxista o homem atua sobre a natureza
criando o mundo a sua volta e a si
mesmo a sua história e com os outros
homens. Essa relação produtiva entre o
homem e o meio é chamado de dialética,
onde o homem é definido pelo meio e é
definidor dele.
Para Vygotsky o ser humano
constrói a si mesmo nas relações que
estabelece na realidade, na medida é
determinado por esta, atua sobre ela e a
transforma. KAHHALE (2002 p. 267)
Em suas analises desse
desenvolvimento Vygotsky atesta a
importância do brincar neste processo. O
brincar para Vygotsky tem papel de supri
a necessidade da criança que tenta
entender o mundo simbólico existente
no mundo concreto.
Geralmente se define a
brincadeira como algo divertido
vinculada a distração, mas o brincar não
tem só características de entretenimento,
o brincar está ligado com a
aprendizagem infantil.
“Ao consultar um dicionário,
deparamo-nos com diversos
significados para a palavra
brincar, e todos eles nos passam a
ideia de diversão, distração,
agitação, faz de conta. conta. A
brincadeira é o lúdico em ação.
Brincar é importante em todas as
fases da vida, mas na infância ele
é ainda mais essencial: não é
apenas um entretenimento, mas,
também, aprendizagem. ”
ROLIM at al.(2008)
A autora ainda enfatiza que se
deve tratar a brincadeira como algo
importante, uma vez que, a brincadeira
tem um papel fundamental no
desenvolvimento infantil.
“A criança, ao brincar,
expressa sua linguagem por
meio de gestos e atitudes, as
 quais estão repletas de sentimentos de alegria,
significados, visto que ela sucesso, realizações de seu
investe sua afetividade nessa desejos, bem como o
atividade. Por isso a sentimento de frustração. [...]
brincadeira deve ser O brincar prepara para
encarada como algo sério e futuras atividades de
que é fundamental para o trabalho: evoca atenção e
desenvolvimento infantil.” concentração, estimula a
ROLIM at al.(2008) auto-estima e ajuda a
desenvolver relações de
confiança consigo e com os
Através da brincadeira a outros.” ROLIM at al.(2008)
criança tenta compreender o mundo que
a cerca de forma mais fácil sendo um No Processo de brincar a imaginação
importante aspecto na construção do ganha um papel de suma importância,
conhecimento. uma vez que a criança entra em um
mundo de faz de conta abstraindo as
“As brincadeiras são relações do mundo em uma tentativa
ferramentas que desafiam a compreender tais relações. De acordo
criança facilitando suas com Melo e Valle citados por ROLIN at
descobertas e a compreensão al. (2008. p.177):
de que o mundo está cheio de
possibilidades e “Brincar de forma livre e
oportunidades para a prazerosa permite que a
expansão da vida com criança seja conduzida a uma
alegria, emoção, prazer e esfera imaginária, um mundo
vivência grupal. Brincar é de faz de conta consciente,
fonte de lazer, mas fonte de porém capaz de reproduzir as
conhecimento que nos relações que observa em seu
possibilita a considerar o cotidiano, vivenciando
brincar parte integrante da simbolicamente diferentes
atividade educativa.” papéis, exercitando sua
(TONIETTO, M. Rafael; capacidade de generalizar e
VIEIRA. F.G. Lopes; DE abstrair”
PAULA, D.H. Lemes (MELO & VALLE, 2005, p.
“Brincar: Uma experiência da 45).
teoria de Vygotsky”
disponível em: 2. O brincar na perspectiva de
http://www.pucpr.br/eventos/ Vygotsky.
educere/educere2006/anaisE
vento/docs/CI-259-TC.pdf
Vygotsky salienta que é de
Acessado em: 31 Set. 2017. p
2914) suma importância para entendermos o
avanço do desenvolvimento cognitivo,
Na brincadeira a criança superiores e inferiores, darmos real
expressa seus sentimentos, desejos, relevância as a necessidades da criança,
medos e prepara para realização de tendências e incentivo que proporcionam
atividades futuras através de está ação.
desenvolvimento de elementos
cognitivos. “Segundo Vygostsky (1998),
para entendermos o
desenvolvimento da criança,
“A brincadeira proporciona
é necessário levar em conta
à criança um contato com
as necessidades dela e os
 incentivos que são eficazes
para colocá-las em ação. O
seu avanço está ligado a uma
mudança nas motivações e
incentivos, por exemplo:
aquilo que é de interesse para
um bebê não o é para uma
criança um pouco maior.[...]
Vygotsky (1998) conclui que
o brinquedo surge dessas
necessidades não realizáveis
de imediato.” ROLIM at
al.(2008. p 178)
Neste sentido para Vygotsky o
Brinquedo tem papel singular no
desenvolvimento infantil, sobre tudo na
fase pré-escolar, enfatizando que por
meio do brinquedo a criança tenta
satisfazer suas necessidades e desejos
que tendem a mudar e evoluir conforme
o desenvolvimento da criança.
Essas necessidades não
satisfeitas geram uma tenção e em
resposta a criança, em fase pré-escolar,
criam um mundo imaginário onde a
criança possa satisfazer suas
necessidades que denomina de
“brinquedo”. Como descreve Vygostsky
(1896-1934. p 122)
“No início da idade pré-
escolar, quando surge os
desejos que não podem ser
imediatamente satisfeitos ou
esquecidos, e permanece
ainda a característica do
estágio precedente de uma
tendência para a satisfação
imediata desses desejos, o
comportamento da criança
muda. Para resolver essa
tensão, a criança em idade
pré-escolar envolve-se num
mundo imaginário onde os
desejos não realizáveis
podem ser realizados, e esse
mundo é o que chamamos de
brinquedo.”
Estas tendências não podem ser
vistas em crianças de até 3 anos uma vez
que os incentivos do meio determinam as
necessidades, desejos da criança, e é
suprido rapidamente.
“Os objetos ditam à criança o
que ela tem que fazer, por
exemplo: uma porta solicita
que a abram ou a fechem, ou
seja, eles têm uma força
inerente que motivam a ação
de uma criança muito
pequena e acabam
determinando seu
comportamento”. ROLIM at
al.(2008. p 178)
“Uma criança muito pequena
sempre deseja algo de
imediato. Ninguém jamais
encontrou uma criança com
menos de 3 anos de idade que
planejasse fazer algo
específico em um futuro
próximo. O intervalo entre o
desejo e a satisfação é muito
curto. Entretanto crianças um
pouco maiores, em idade pré-
escolar, já estão sujeitas a
desejar algo impossível de ser
realizado imediatamente.”
ROLIM at al.(2008. p 178)
No processo de imaginação a
criança tenta reviver, de forma ativa,
situações que outrora vivenciou de forma
passiva modificando o final para
satisfazer os desejos que não podem ser
satisfeitos no momento (ROLIM at
al.2008.) . Assim a ação da origem a
imaginação. Como descreve:
“Numa situação de
brinquedo, a imaginação da
criança é, segundo Vygotsky
(1998). uma atividade
especificamente humana e
consciente, que surge da
ação. Em suas ações, a
criança representa situações
as quais já foram de alguma
forma vivenciadas por ela em
 seu meio sócio-cultural, ou
seja, a sua representação no
brinquedo está muito mais
próxima de uma lembrança
de algo que já tenha
acontecido do que da pura
imaginação.” (PEDROSO, C.
de Andrade; BARRETO, J.
Muniz; MALAQUIAS, J.S.
Santos; PINTO, L. de
Miranda. “Papel do
brinquedo na
desenvolvimento infantil.”
Disponível em :
<http://www.scelisul.com.br/
cursos/graduacao/pd/artigo2
.pdf> Acesso em: 03 set.
2017)
Vygotsky destaca que o
brinquedo é realmente a realização das
tendências não realizadas, contudo
salienta que esse brinquedo é baseado em
regras, não regras prontamente
estabelecidas, aquelas que tem origem
prontamente na ação da imaginação.
Para o autor não há brinquedo sem
regras. Em toda situação imaginaria
existem regras comportamentais,
embora não seja explicitamente
estabelecidas. Vygostsky (1896-1934. p
124). Ele dá como exemplo:
“A noção da criança pode
se comportar em uma
situação imaginária sem
regras é simplesmente
incorreta. Se a criança está
representando o papel na
mãe, então ela obedece as
regras de comportamento
materno.” Vygostsky
(1896-1934. p 125)
Ao passo em que a criança
cresce a força de motivação e os
estímulos externos deixam de ser aspecto
determinador tão grande dando lugar
para a cognição e a imaginação. Sendo
no brinquedo que a criança passa a agir
em uma esfera cognitiva. (ROLIM at
al.2008.) ROLIM at al cita Vygotsky (p.
178):
“A criança vê um objeto, mas
age de maneira diferente em
relação àquilo que vê. Assim,
é alcançada uma condição em
que a criança começa a agir
independentemente daquilo
que vê”
A partir do brinquedo a criança,
na idade pré-escolar, começa a
compreender e agir através do
pensamento, significado das palavras, e
não pelo objeto em si tendo origem das
ações nas ideias e não no objeto. A
criança realiza atividade a partir do
significado do brinquedo e não por
relação concreta do objeto, por exemplo
um pedaço de madeira pode virar um
boneco. (ROLIM at al.2008. p. 178)
“No brinquedo, o
significado torna-se o
ponto central e os objetos
são deslocados de uma
posição dominante para a
uma posição
subordinada.”. Vygostsky
(1896-1934. p 129)
Embora a criança opere por
meio da desvinculação do objeto e do
significado ela atribui o significa de
outro objeto utilizando como pivô.
Vygostsky (1896-1934. p 130)
Para Vygotsky a partir do
brincar a criança começa a subordinar as
regras existentes. ROLIM at al cita
Vygotsky (p. 178):
“[...]O primeiro paradoxo
contido no brinquedo é que a
criança opera com um
significado alienado numa
situação real. O segundo é
que, no brinquedo, a criança
segue o caminho do menor
esforço – ela faz o que mais
gosta de fazer, porque o
 brinquedo está unido ao
prazer – e ao mesmo tempo,
aprende a seguir os caminhos
mais difíceis, subordinando-
se a regras e, por conseguinte
renunciando ao que ela quer,
uma vez que a sujeição a
regras e a renúncia a ação
impulsiva constitui o caminho
para o prazer do brinquedo.”
ROLIM citando Vygotsky
(2008 p. 179) descreve a importância do
brincar como:
“Vygotsky (1998, p. 137)
afirma: ‘A essência do
brinquedo é a criação de uma
nova relação entre o campo
do significado e o campo da
percepção visual, ou seja,
entre situações no
pensamento e situações
reais’. Essas relações irão
permear toda a atividade
lúdica da criança. Será
também importante indicador
do desenvolvimento da
mesma, influenciando sua
forma de encarar o mundo e
suas ações futuras.”
O brinquedo na criança cria
uma zona de desenvolvimento proximal.
“O brinquedo cria uma zona
de desenvolvimento proximal
na criança. Oliveira (1995)
esclarece que essa zona de
desenvolvimento proximal é
um domínio psicológico em
constante transformação,
refere-se ao caminho de
amadurecimento de suas
funções, ou seja, ações que,
hoje, a criança desempenha
com a ajuda de alguém
conseguirá, amanhã, fazer
sozinha. Durante o brincar,
ela se solta e se permite mais,
vai além do comportamento
habitual para sua idade e de
suas atitudes diárias. Ela se
torna maior do que realmente
é na realidade. Assim, o
brincar vai despertar
aprendizagens que se
desenvolverão e se tornarão
parte das funções
psicológicas consolidadas do
indivíduo.”
3. Uma breve discursão sobre o
uso da tecnologia de forma
indiscriminada no
desenvolvimento infantil.
De acordo com Paiva. at al
(2015 p. 10) dados da Secretaria
Executiva da Rede Nacional Primeira
Infância o uso de aparelhos eletrônicos
usados de forma indiscriminada trazem
prejuízos para a saúde física e mental e
social para a criança, uma vez que a uso
dos aparelhos substituem as atividades
lúdicas tradicionais as quais favorecem
os aspectos interpessoais, afetividade e
disciplina.
A criança tende a satisfazer suas
necessidades por meio dos aparelhos
eletrônicos. PAIVA. at al (2015, p. 5)
citando previtale relata:
“As crianças do período
moderno não expressam
publicamente seus
sentimentos, aflições e
desejos por meio do mundo
real, com isso isolam-se
dentro de seus domicílios,
já que, a tecnologia
satisfaz suas
necessidades”
As consequências cognitivas deste fator
é o prejuízo na interação física entre
pessoas. A potencialização o isolamento
social, que é um fator causador da
ansiedade, depressão, despersonalização
e agressividade, podem vir a acontecer
pelo uso indiscriminado da tecnologia.
PAIVA. at al (2015 ).
Considerações finais.
Através da literatura produzida
sobre a teoria de Vygotsky a respeito do
desenvolvimento infantil foi possível
contatar que o brincar tem aspecto de
suma importância no desenvolvimento
cognitivo superiores e na satisfação das
necessidades da criança.
Através do brinquedo a criança
desenvolve o pensamento e a capacidade
de desvincular a ideia, o conceito, do
estimulo que o objeto oferece, onde
através do brincar a criança começar
compreender o mundo que o cerca e suas
regras.
Foi possível constatar que o uso
indiscriminado da tecnologia traz
prejuízos no desenvolvimento cognitivo,
uma vez que as necessidades da criança
são supridas pelo aparelho eletrônico
criando um isolamento social
substituindo a tradicional atividade
lúdica (o Brinquedo) que favorecem o
desenvolvimento infantil.
s/A0839.pdf> Acessado em: 31 Set.
2017.
PEDROSO, C. de Andrade;
BARRETO, J. Muniz;
MALAQUIAS, J.S. Santos;
PINTO, L. de Miranda.
“Papel do brinquedo na
desenvolvimento infantil.”
Disponível em : <
http://www.scelisul.com.br/cu
rsos/graduacao/pd/artigo2.pdf
> Acesso em: 03 set. 2017
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A
formação social da
mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
KAHHALE, Edna M.Petrs.(org.)
Diversidade da psicologia, A - uma
construção teórica. 4ª ed. São Paulo:
Editora Cortez, 2002, 304 p

Referência Bibliográfica:

ROLIM, A. Alencar; Guerra, S.Sales;

Tassigny, M. Matos. “Uma leitura de
Vygotsky sobre o brincar na
aprendizagem e no desenvolvimento
infantil”, rev. Humanidades, Fortaleza,
v. 23, n 2, p. 176/180, jul/dez.2008.
TONIETTO, M. Rafael; VIEIRA. F.G.
Lopes; DE PAULA, D.H. Lemes
“Brincar: Uma experiência da teoria de
Vygotsky” disponível em:
http://www.pucpr.br/eventos/educere/ed
ucere2006/anaisEvento/docs/CI-259-
TC.pdf Acessado em: 31 Set. 2017.

DE PAIVA, N. Nolêto; COSTA, J.da

Silva. “ A influência da tecnologia na
infância: desenvolvimento ou
ameaça?”. Disponível em
<http://www.psicologia.pt/artigos/texto