Professional Documents
Culture Documents
Intróito
40
prazo indeterminado?? Aumentaram o número de postos formais de emprego no Brasil, ou tal
medida não passou de mera precarização dos direitos trabalhistas?
É hora de checar o que se tornou, de fato, realidade entre nós.
Laureado
1
Dom Antonio Zattera pela Universidade Católica de Pelotas; Especialista em Direito Processual (PUC/RS); Mestre
Mestr em
Direito (PUC/RS); Professor convidado do PPG em Direito e Processo do Trabalho (PUC/RS); Professor do PPG em Direito de
Família (PUC/RS); Professor convidado da Fundação Escola Ministério Público RS; advogado.
41
1. Contrato a prazo e trabalho temporário:: realidades inconfundíveis?
indeterminado.
No que diz com a derradeira possibilidade (a que interessa mais de perto),
considerada a excepcionalidade de seu aceite, a Consolidação das Leis do Trabalho tratou de
conceituar e enumerar expressamente as possibilidades de sua contratação. Fez constar,
destarte, que considera a prazo os contratos de trabalho “cuja vigência dependa de termo
prefixado ou da execução
cução de serviços especificados ou ainda da realização de certo
34
acontecimento suscetível de previsão aproximada”.
Os contratos por prazo determinado são assim nominados em contraposição
aos contratos por prazo indeterminado, regra no direito brasileiro,
o, e nada obstante possuam
regramento peculiar (especialmente o rescisório), revelam a existência de vínculo laboral entre
o empregado contratado para laborar por período predeterminado e a figura clássica do
56
empregador descrita pelo artigo 2º da CLT.
O trabalho temporário, espécie de contrato por tempo determinado,
determinado não se
confunde com a noção supra esposada no que diz com a vinculação entre o prestador e
tomador da mão de obra. Regulado pela Lei 6.019/74, o epíteto revela a existência de relação
triangular entre
7
(a) uma empresa de trabalho temporário – ETT, (b) uma empresa tomadora de serviço – ETS
e,
Prevê o artigo 443 da Consolidação das Leis Trabalhistas brasileiras que o “contrato
2
42
pelo Decreto-lei
lei nº 229, de 28.2.1967)
As possibilidades de sua concretização (de acordo com a CLT) e a potencial abertura do
4
sistema mediante a publicação da Lei 9.601/98 figurarão como objeto de abordagem do item
3 destes escritos.
5
“Art. 2º -Considera-se
se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite,
serviço § 1º -Equiparam-se
assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço. se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os
profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos,
lucrativo que admitirem
trabalhadores como empregados. § 2º -Sempre
Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica própria,
estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, constituindo grupo industrial, comercial ou de qualquer outra atividade
at econômica,
serão, para os efeitos da relação de emprego, solidariamente responsáveis a empresa
empresa principal e cada uma das subordinadas.”
“(...) no contrato de trabalho a prazo o vínculo empregatício se estabelece
6
43
(c) o trabalhador temporário.
temporário
44
ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 203.
8
A respeito: MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 184-185.
9
184
Os contratos de experiência não poderão superar 90 dias.
10
“Art. 10 -O
O contrato entre a empresa de trabalho temporário e a empresa tomadora ou cliente,
11
com relação a um mesmo empregado, não poderá exceder de três meses, salvo autorização
conferida pelo órgão local do Ministério do Trabalho e Previdência Social, segundo se
instruções a serem baixadas pelo Departamento Nacional de Mão-de-Obra.”
Mão Obra.”
45
2. Os ordenamentos espanhol e italiano como exemplos de intervenção estatal na política
de criação e estimulação de empregos
46
Segundo Arion Sayão Romita parcela da doutrina brasileira, “em nome de interesses
13
obscuros” (a) realiza distorção relativa a realidade do ordenamento espanhol no que diz com
o tema contratos a prazo e, (b) ignora/omite a experiência a italiana no concernente,
concernente, visando “apedrejar”, “quase sempre por
motivos ideológicos facilmente identificáveis”, o conteúdo da Lei 9.601/98. ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas
abertos. p. 202/224.
ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 204.
14
Tal alteração, segundo Romita, representou “uma evolução legislativa digna de nota”, porque
15
Trabalhores.
ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 207.
17
47
espanhol.
O ordenamento
ordenament italiano fez-se
se valer de política assemelhada, todavia, ao que
tudo
20
indica, com melhor sorte. No início do último quartel do século passado, sob idêntico
pretexto
(combate ao desemprego), implementou inovadora tendência: expansão do aceite da
contratação a
21
termo.
No ano de 1987 surge no direito italiano algo à semelhança do disposto pela
Lei
9.601/98:
Atenuou-se
Atenuou se em conseqüência o desfavor manifestado pelo legislador
legi no tocante
ao contrato de trabalho a prazo. Este passou a ser tido por eficaz instrumento de
flexibilização a ser utilizado pelas empresas, surgindo uma tendência a conceder
crescente espaço ao contrato a termo, a ponto de se falar em uma inversão do
histórico desfavor cultivado no passado, tendência esta que culmina com a
promulgação da Lei n. 56, de 28 de fevereiro de 1987, que atribui à
negociação coletiva, promovida pelos sindicatos de trabalhadores mais
representativos, a tarefa de fixar novas hipóteses de contratações a termo,
além daquelas previstas em lei. Anteriormente a este diploma, outras leis
haviam sido editadas, sempre com o mesmo desiderato, a saber, o aumento
da possibilidade de celebração de contratos de trabalho por tempo
22
determina (...). (grifos nossos)
determinado
16 de maio, peloqual se regulam incentivos em matéria de seguridade social e de caráter fiscal para a
promoção da contratação indefinida e a estabilidade no emprego.”.
emprego.”. ROMITA, Arion Sayão. Direito do
Trabalho: Temas abertos. p. 207/208.
19
“(...) o direito espanhol não serve de paradigma para o direito brasileiro, pelo menos com o
significado que lhe vem sendo emprestado por intérpretes que hostilizam a promulgação
promulgaçã da
Lei n. 9061. Se as medidas adotadas pelo legislador espanhol em 1984 não surtiram o efeito
48
desejado – reduzir as altas taxas de desemprego – o fato deve-se se a circunstância de ordem
econômica, estruturais, que não são necessariamente as mesmas observadas observad no Brasil.”.
ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 202/224.
“A Itália apresenta uma evolução legislativa idêntica à registrada na Espanha: em nome do
20
promulagadas três leis que ampliaram as possibilidades de estipular contratos de trabalho por
tempo determinado. Além das cinco hipóteses taxativamente enumeradas enumeradas pela Lei n. 230, de
1962, este contrato tornou--se possível, também: 1º -no no setor do espetáculo e da radiotelevisão
(Lei n. 266, de 1977); 2º -setor
setor do comércio e do turismo (Lei n. 18, de 1978; 3º -no trabalho
dos jovens inscritos nas listas especiais
especiais de colocação ( Lei n. 479, de 1978).”. ROMITA,
Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 211/212.
49
3. A Lei 9.601/98 e sua repercussão no quadro do crescimento formal do emprego no
Brasil
24
“A indeterminação da duração contratual tem constituído, no Direito do Trabalho, como já
exaustivamente analisado, a regra geral aplicável aos contratos contratos de trabalho.”. DELGADO.
Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 554.
A Consolidação das Leis do Trabalho regula a matéria a partir de seu artigo 443, assim
25
50
redigido: “Art. 443 -OO contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou
expressamente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado. § 1º -
Considera-se
se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência dependa depen de
termo prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo
acontecimento suscetível de previsão aproximada. § 2º -O O contrato por prazo determinado só
será válido em se tratando: a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade
transitorie justifique a
predeterminação do prazo; b) de atividades empresariais de caráter transitório; c) de contrato
de experiência.”
ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 214.
26
27
“Foram objetivos do governo, ao enviar ao Congresso Nacional o projeto que deu origem à
Lei n. 9.601/98, diminuir o desemprego e legalizar a situação informal de certos
trabalhadores, que eram contratados sem carteira assinada.”. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito
do Trabalho. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 151.
“A Lei n. 9.601 tem o declarado propósito de contribuir para a redução da taxa de
28
desemprego, que ultimamente vem crescendo: (...) O art. 1º da lei dispõe claramente que o
contrato de trabalho porr tempo determinado ali previsto poderá ser instituído para admissões que
representem acréscimo no número de empregados. O art. 1º, parágrafo único, do Decreto n 2.490, de 4 de fevereiro de 1998, que regulamenta a
Lei 9.601, veda a contratação por tempo determinado
determinado na forma agora introduzida para substituição de pessoal regular e permanente contratado
por tempo indeterminado.” ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 216.
“A Lei n. 9.601 deve ser estuda neste contexto: combate ao desemprego,
desemprego, à luz do modelo ou
29
usa a expressão acordo ou convenção coletiva, que poderia indicar que o acordo é individual. Nesse caso, o acordo é coletivo e
não individual. Para a validade do contrato por tempo determinado, a contratação deve ser feita mediante mediante
convenção ou acordo coletivo. Não será possível a contratação individual.”. MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 21
ed. São Paulo: Atlas, 2005. p. 152.
51
Segundo doutrina de peso, dois são os requisitos exigidos para a validação
da
contratação
ação a termo previsto pela Lei 9.601/98: a) a existência de instrumento coletivo
autorizativo
31
e, b) que tais admissões representem acréscimo no número de empregados do contratante.
DELGADO. Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 556.
32
DELGADO. Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2005. p. 575.
36
sã consciência, iria criar novos postos de trabalho simplesmente pelo fato de se tratar de
postos menos onerosos (o raciocínio é outro: eleva-se
eleva se a produção apenas se o mercado
justificar
ficar tal acréscimo). A equação postos de trabalho mais onerosos versus menos onerosos apenas
justificaria a substituição de trabalhadores,
trabalhadores eliminando-se se os postos mais dispendiosos pelos menos dispendiosos e igualmente
produtivos. Para tal linha reflexiva,, a criação efetiva de empregos passaria por raciocínio distinto, de dimensão macroeconômica, não
se vinculando a práticas de apenação unilateral do trabalhador (práticas adotadas em um país cujos salários básicos já se situam
sit entre
os menores, no quadro dos os parâmetros ocidentais minimamente comparáveis). (...) mesmo considerado o cenário estritamente
trabalhista, outro tipo de política social é que se mostraria eficaz no combate ao desemprego: a redução da jornada de
53
social encontra enorme dificuldade de compatibilização com o texto constitucional de 1988.
A Lei 9.601/98, entretanto, parece querer firmar marco distinto e mais extremado
do processo flexibilizatório trabalhista no país. Pelo texto deste diploma, a linha
flexibilizatória deixa de preponderar pela simples adequação do caráter genérico
das leis trabalhistas às circunstâncias e especificidades de segmentos do mercado
de trabalho e setores produtivos e profissionais, através da negociação coletiva.
Prefere o novo diploma, ao revés, apontar na direção
direção da franca e direta redução
dos direitos laborais decorrentes da ordem jurídica. Passa-
Passa-se a perceber na norma
jurídica heterônoma estatal e na negociação coletiva instrumentos de pura e
38
simples redução de direitos.
54
que tinham. Procura incorporar ao mercado formal de trabalhadores que se
encontram fora dele, marginalizados. (...) A Lei n. 9.601 tem suportado muitas
críticas, de diversas origens e de variadas naturezas. Todas são injustas e
improcedentes. Não raro carregam em seu bojo o preconceito (jamais
trabalho, associada à penalização definitiva da prática de horas suplementares habituais, por exemplo.”. DELGADO. Maurício
Godinho. Curso de
Direito do Trabalho. p. 576.
A respeito: DELGADO. Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. p. 579/581.
38
40
Segundo Romita tal corrente “fiel à sua matriza ideológica de cunho autoritário, com raízes no
corporativismo facista-getulista
getulista do Estado Novo, não pode tolerar o avanço doutrinário, de
efeito modernizante e democrática, que a Lei 9.601 traz em seu bojo.”. ROMITA, Arion
Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 219.
Neste sentido vide: ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 203/224.
41
55
explicitado, é claro) que trai o apego doutrinário e ideológico de quem as
formula ao ideário corporativista, estatizante, autoritário, paternalista e
protecionista que está na base do Direito do Trabalho brasileiro, desde seu
43
hoje (grifos nossos)
início histórico até os dias de hoje.
Mas, e de fato, a adoção da política (12 anos atrás) surtiu quais efeitos em
solo brasileiro? O empresariado se fez valer da previsão legal para reduzir contratações por
prazo indeterminado?? Aumentaram o número de postos de emprego?
Consoante anotação do Ministério do Trabalho (vide relatórios de Relação
44
Anual de Informações Sociais – RAIS ), com derradeira atualização em 2008 (apenas dados
45
do CAGED relatam o ano de 2009 ), constata-se
se que os anos que precederam a publicação da
Leii 9.601/98 representaram período de pequena evolução no quadro do crescimento do
emprego no Brasil (em alguns casos até seu decrescimento).
De 1989 a 1992 registrou-se
registrou se queda livre no número de empregos formais no
país (1989= 24.486.568; 1990= 23.198.656; 1991= 23.010.793; 1992= 22.272.843). Ainda que
se tenha registrado alta no ano de 1993 (em relação a 1992 -1993=
1993= 23.165.027), os índices
alcançados em 1989 foram recuperados/superados tão somente no ano de 1999 (ano posterior
ao da publicação da Lei 9.601 -1999=
1999= 24.993.265), momento a partir do qual decolou o Brasil
rumo aos 39.441.566 postos de trabalho registrados em 2008. Foram registrados no âmbito
celetista,, até o mês de julho de 2009, o surgimento de mais 299,5 mil postos de trabalho.
É preciso, porém,
porém, analisar os números oficiais com a devida cautela.
Primeiro, porque a estatística oficial soma postos de emprego (formais) celetistas e
estatutários;; segundo, porque não há dados específicos referentes ao número de contratações
realizadas mediante a via ora analisada (pelo menos não há divulgação oficial); terceiro,
porque evidentemente questões outras (com destaque para o crescimento econômico do país)
obviamente contribuíram para a evolução do número de postos de emprego constatado. Assim
sendo, imperioso
oso reconhecer a impossibilidade de concluir pelo (des)acerto de qualquer das
correntes doutrinárias supra mencionadas.
Há, no entanto, uma certeza. O Brasil, desde 2000, registra considerável taxa
46
de crescimento no número de empregos formais. Desde lá,, crescemos mais de 35%, nada
obstante afigure-se
se impossível afirmar o quilate da contribuição perpetrada pela Lei 9.601/98
para tanto.
ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. p. 222. “Instituída pelo
43 44
56
“Se
45
www.mte.gov.br/rais/2008/arquivos/resultados_definitivos
www.mte.gov.br/rais/2008/arquivos/resultados_definitivos.pdf;
; acessado em 10.10.2010.
considerarmos o saldo do CAGED (que compreende apenas o mercado de
trabalho celetista), de janeiro a junho de 2009 (299,5 mil postos, cujo
resultado está fortemente influenciado pelo impacto da crise financeira), o mont
montante
ante de empregos criados
no período de janeiro de 2003 a junho de 2009 totaliza 11,056 milhões de postos de trabalho formais.”
“No
46
57
Considerações finais
58
Referências bibliográficas
AGUIAR, Leonardo Sales de. O ‘novo contrato de trabalho por prazo determinado
previsto na lei nº 9.601/98. www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=731,
www.mundojuridico.adv.br/sis_artigos/artigos.asp?codigo=731
acessado em 02.10.2010.
DINIZ, José Janguiê Bezerra. Do contrato de trabalho por prazo determinado (temporário).
Região, Recife, v. 10, n. 26, 1999.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região,
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 21 ed. São Paulo: Atlas, 2005.
ROMITA, Arion Sayão. Direito do Trabalho: Temas abertos. São Paulo: LTr, 1998.
www.mte.gov.br/rais/2008/arquivos/resultados_definitivos.pdf
59