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Escritos sobre o poder

O poder é material, o poder é arisco, corporal, é físico, um pouco teatral. O namorado diz
à namorada: “Você não vai sair com esse shortinho!”. Surge uma frase de intenção
repressiva, um ato de suposição de poder. O corpo é supostamente oprimido. Cabe ao que
recebe a frase rebatê-la, “Você não manda em mim!”. O poder perde o exercício, mas, se
ele não é exercitado, não há poder. Há intenção de dominação. Toda intenção de
dominação pressupõe a capacidade de colocar o outro como reprimido, como sujeito;
pressupõe o exercício material e substancial do poder.

O soberano que mente é um soberano impotente. Não há poder na falsidade, a menos


quando ela se esconde na verdade. Para que o falso seja objeto de poder, ele tem que se
revestir do discurso verdadeiro. Por isso, fica-nos claro que verdade e poder se inter-
relacionam. Verdade é exercício de poder e o exercício de poder pede a verdade. Seja ela
brilhante na aparência, seja ela pura. Quando a falsidade se esconde no discurso
verdadeiro e ela é mal escondida, suje o procedimento de investigação para desvela-la. O
processo político-jurídico nada mais é que escarnecer a falsidade, mostra-la como ela é,
invalidar o discurso do soberano mentiroso. Aquele que possui verdade a possui em todas
as instâncias e seu poder, quando questionado, se exacerba, pois há confiança, há puro
exercício de poder e regime de verdade.

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