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GRUPO DE PROCESSAMENTO DE ENERGIA E CONTROLE

Departamento de Engenharia Elétrica


Centro de Tecnol ogia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

HARMÔNICOS EM SISTEMAS
ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

Profa. Ruth
Email: P. S. Leão
rleao@dee.ufc.br

- 2010 -
i

Sumário

Página
Capítulo 1 Fundamentos sobre Harmô nico s 4
1.1 Introdução 4
1.2 Representação de Harmôn icos 6
1.2.1 Série de Fourier 7
1.2.2 Funções Ortogonais 9
1.2.3 Coeficientes da Série de Fourier 9
1.2.4 Série Complexa de Fourier 13
1.2.5 Transformada Direta e Inversa de Fourier 16
1.2.6 Transformada Discreta de Fourier 20
1.2.7 Transformada Rápida de Fourier 21
1.3 Característic as de Harmô nic os em Sist emas de Potência 23

1.3.1 Simetria 23
1.3.2 Sequência de Fase 25
1.3.3 Independência 41
1.4 Medidas de Distor ção Harmôni ca 43
1.4.1 Requisitos para Medição de Sinais 43
1.4.2 Valor Eficaz 51
1.4.3 Fator de Crista 56
1.4.4 Fatores de Distorções Harmônicas de Tensão e Corrente 57
1.4.5 Potência Eficaz, Aparente, Reativa e de Distorção 65
1.4.6 Fator de Potência 69
1.4.7 Fator de Desclassificação K 79

Capítulo 2 Harmô nico s: Regul amentação e Normalização 81


2.1 Introdução 81
2.2 Normas IEEE 83
2.2.1 Considerações sobre Limites de Distorção de Corrente 86
2.3 Regulamentação ANEEL 88
2.3.1 Procedimentos de Rede para Qualidade da Energia Elétrica 88

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2.3.2 Procedimentos de Distribuição para a Qualidade da Energia 90


Elétrica
2.4 Norm a Euro péia EN 91
2.5 Norma IEC 92

Capítulo 3 Harmô nico s em Sistemas de Potência 97


3.1 Introdução 97
3.1.1 Grupos de Cargas 98
3.1.2 Cargas Lineares 99
3.1.3 Cargas Não-Lineares 102
3.2 Fontes de Harmôn icos 106
3.2.1 Conversores 106
3.2.2 Transformadores 114
3.2.3 Máquinas Rotativas 115
3.2.4 Iluminação 116
3.2.5 Forno Elétrico a Arco 117
3.3 Efeito dos Harmôni cos 122
3.3.1 Motores e Geradores 124
3.3.2 Transformadores 128
3.3.3 Banco de Capacitores 130

Capítulo 4 Miti gação de H armôni cos em Sist emas de P otênci a


4.1 Introdução
4.2 Filtros harmônicos
4.3 Conversores estáticos
4.4 Transformadores
4.5 Máquinas elétricas
4.6 Bancos capacitores

Capítulo 5 Estud o de Harmô nico s – Modela gem de Componentes de


Sistema
5.1 Introdução
5.2 Banco de capacitores

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5.3 Cargas

Capítulo 6 Projeto de Filtros Harmônicos


6.1 Introdução
6.2 Filtro sintonizado série
6.3 Filtro amortecido de 2ª ordem
6.4 Filtro de sintonia múltipla

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Capítulo 3 Harmôn icos em Sistemas de Potência

3.1 Introdução

Para estudar as características dos sistemas elétricos é usual considerá-los como


resultado da interligação de diferentes componentes básicos, como fonte de
alimentação e carga elétrica.

Na avaliação da interação entre fonte e carga, as perturbações do sistema que


influenciam na operação da carga e as perturbações da carga que influenciam o
sistema podem ser agrupadas como na Tabela 1.
Carga Linear
Is
P
Vs ~ A
C

Carga Não-Linear

Figura 3.1 Diagrama simplificado de suprimento de carga linear e não-linear.

Tabela 1. Interação sistema-carga-sistema

Sistema - Carga Carga – Sistema


− Sag/Swell de tensão − Correntes harmônicas
− Desequilíbrio de tensão − Corrente reativa
− Distorção de tensão − Corrente desbalanceada
− Interrupção de tensão − Notches de tensão
− Oscilações de tensão − Flutuação de tensão - flicker
− Impulso de tensão

As cargas lineares produzem correntes não distorcidas quando energizadas por


uma fonte não distorcida (senoidal). As cargas não lineares produzem correntes
distorcidas quando energizadas por uma fonte não distorcida (senoidal).

A distorção na tensão ocorre quando correntes distorcidas fluem através da


impedância da fonte.

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3.1.1 Grupos de Cargas

As cargas de um modo geral podem ser classificadas em:

− Cargas Críticas ou Essenciais que pela sua natureza essencial não devem
sofrer interrupção de fornecimento de energia ou operação indevida
causada pelo suprimento de energia, sob pena de risco de vidas humanas
ou prejuízos vultosos. Exemplo de cargas críticas tem-se as cargas
lineares e não lineares com as características de essencialidade acima
descritas, como as cargas dos centros de controle de vôos, dos grandes
centros de processamento de dados, hospitais, etc.

− Cargas Sensíveis, não suportam variações de tensão mesmo as de curta


duração (inferior a 30 ciclos). Nesta classe de cargas estão incluídas as
cargas não lineares eletrônicas e digitais. Constituem tal grupo, aquelas
cargas utilizadas em modernas instalações industriais controladas por CLP
(Controladores Lógicos Programáveis), robôs, motores de velocidade
controlada, computadores pessoais, redes locais de computador,
impressoras, conversores de freqüência, etc.

− Cargas Perturbadoras, cuja operação pode causar perturbações, como


distorções harmônicas, desequilíbrios, flutuação de tensão, afundamentos
de tensão, etc. Exemplos de cargas perturbadoras são as cargas não
lineares. São na sua maioria cargas industriais com processos de
retificação, fornos a arco e outras.

Sensível CARGA Perturbadora

Essencial

Fig.3.2 Classificação das cargas.


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É interessante notar que uma mesma carga poderá desempenhar a condição de


crítica, sensível e perturbadora simultaneamente.

3.1.2 Cargas Lineares


As cargas lineares são geralmente constituídas por resistores, indutores não
saturáveis e capacitores de valores fixos. Produzem correntes não distorcidas
quando alimentadas por uma fonte não distorcida (senoidal).

Fig. 3.3 Circuito Elétrico com Elementos Lineares [Fonte: E.V.Kassick, 1998].
Exemplo de carga linear é um aquecedor elétrico resistivo. A tensão e a corrente
possuem a forma de onda mostrada na Figura 3.4.

Fig. 3.4 Formas de Onda de Tensão e Corrente de um Aquecedor elétrico de 1000 W, 220 V.

Se a carga é um motor elétrico, a tensão e corrente possuem a forma de onda da


Figura 3.5.

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Fig. 3.5 Formas de Onda de Tensão e Corrente de um Motor Elétrico de 1/6 de cv,
rendimento de 80% e fator de Potência 0,85 atrasado.

Em um indutor com núcleo de ar, ou núcleo magnético ideal, sem histerese e sem
saturação, o fluxo magnético varia linearmente com a corrente.

φ ()t =L i(⋅t) (3.1)

Fig. 3.6 Relação linear entre fluxo magnético e corrente em indutor


com núcleo magnético ideal: sem histerese e sem saturação.

A Fig. 3.7 mostra a relação linear entre fluxo magnético, corrente e tensão para
condição de linearidade entre variação de fluxo e variação de corrente. A relação
entre a tensão corrente é constante (real ou complexa).
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Fig. 3.7. Comportamento Linearϕ(t),


entrei(t),υ(t).

A f.e.m. induzida é definida como:

dφ(t) d (t) φ di t ()di t ()


υ (=t ) = ⋅ = L (3.2)
dt di t ( ) dt dt

Como a indutância é constante, a tensão tem a forma da variação da corrente no


tempo.

As ondas senoidais das Figuras 3.5 e 3.7, obtidas com elementos lineares, só são
rigorosamente válidas para elementos idealizados, mas é muitas vezes
empregada para análise de sistemas onde as não linearidades exercem pouca ou
moderada influência.

As cargas reativas tipificam a condição de cargas lineares não críticas, porém


perturbadoras e sensíveis. Em sistemas de freqüência constante, a tensão e
corrente variam linearmente. Sob condições de freqüências múltiplas, as cargas
reativas podem ser agentes perturbadores do sistema ao entrar em ressonância,

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tornando-se sensíveis em decorrência dos efeitos da ressonância pelo aumento


de corrente e tensão levando, em certos casos, à própria danificação da carga.

3.1.3 Cargas Não-Lineares


As cargas não lineares produzem correntes distorcidas mesmo quando
alimentadas por uma fonte não distorcida (senoidal). A relação entre tensão e
corrente não é constante. As cargas não lineares podem ser divididas em
convencionais e chaveadas.

As cargas não lineares convencionais são caracterizadas pela ausência de


interruptores estáticos e pela presença de harmônicas, conforme ilustrado na
Figura 3.8 [E.V.Kassick, 1998], em que alguns elementos têm características
lineares e outros têm características não lineares. Como exemplo de cargas não
lineares convencionais têm-se os dispositivos saturáveis, como transformadores,
máquinas elétricas, e reatores de núcleo de ferro.

Fig. 3.8. Circuito Elétrico com Elementos Não Lineares Convencionais.

A Figura 3.9 mostra o ciclo de histerese e as formas de onda de tensão e corrente

em um indutor com 2 núcleo saturável. O ciclo de histerese relaciona indução


magnética B (Wb/m ) com a intensidade do campo magnético ou excitação
magnética H (A/m). A relação também pode ser obtida entre o fluxo magnético φ
com a corrente de excitação I numa bobina com núcleo de material
ferromagnético.

Na Fig. 3.9 (a) a indução magnética e a intensidade do campo (B x H) seguem o


laço de histerese bem como o fluxo magnético e a corrente (φ x I).

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(a) (b)
Fig. 3.9. (a) Fluxo e Densidade Magnética versus Corrente no Ciclo de Histerese. (b) Não
Linearidade entre Tensão e Corrente.

A Eq. 3.2 é agora aplicada à Figura 3.9 com a condição de variação de fluxo em
relação à variação da corrente (indutância) não mais constante.

dφ()t d ()tφ di t ()
υ (t ) = = ⋅ (3.3)
dt di t( ) dt

Como exemplo de cargas não lineares tradicionais tem-se os transformadores,


máquinas rotativas e fornos a arco, os quais serão comentados na próxima seção.

A eletrônica de potência tem disponibilizado uma vasta gama de equipamentos,


como conversores de energia estáticos, a exemplo de retificadores (ca-cc),
inversores (cc-ca), choppers (cc-cc), boost (cc-cc) e ciclo-
conversores (ca-ca), acionamentos eletrônicos de velocidade variável,

compensadores reativos estáticos, fotocopiadoras, televisores, microondas,


equipamentos de tecnologia da informação, computadores pessoais, dentre
muitos outros. Essa eletrônica faz uso de diodos, transistores e tiristores, sendo
que praticamente todos eles operam em modo de interrupção.

O circuito não linear chaveado da Figura 3.10 é caracterizado pela presença de


interruptores estáticos e pela presença de harmônicos

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Fig.3.10. Circuito com Componentes de Cargas Não Lineares e Formas de Ondas Não-senoidais.

Os interruptores estáticos funcionam essencialmente em dois estados:

− Estado de condução condição que corresponde a um interruptor fechado. A


corrente pelo dispositivo pode alcançar valores elevados, porém a tensão é
praticamente nula e, portanto, a dissipação de potência no dispositivo é
muito pequena.

− Estado de bloqueio que corresponde a um interruptor aberto. A corrente


pelo dispositivo é muito pequena e a tensão é elevada e, portanto, a
dissipação de potência no dispositivo também é muito pequena nesse
estado.

Os interruptores eletrônicos são divididos em não controlados e controlados. Os


não controlados são os diodos cuja condução é natural, auto-comutado onde a
condução ocorre de acordo com a polarização da fonte: polarização direta implica
em condução, e polarização reversa implica em bloqueio.

Os interruptores controlados a condução se dá mediante circuito de controle que


determina o instante de disparo para a condução. Fazem parte deste grupo os
transistores bipolares, IGBT (Isolated Gate Bipolar Transistor), MOSFET (Metal-
Oxide Semiconductor Field-Effect Transistor), Tiristores GTO (Gate Turn-Off
Thyristor), MCT (MOS Controlled Tyristor), IGCT (Integrated Gate Commutated
Thyristor), etc.

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Transistor IGBT MOSFET Tiristor


Bipolar
Fig.3.11 Interruptores Eletrônicos Controlados.

Todos os semicondutores de potência passam rapidamente de um estado para


outro. A Figura 3.12 mostra um dispositivo para controlar a corrente em uma
carga linear constituída por uma resistência em série com uma indutância.

Figura 3.12 Dispositivo de Controle da Corrente e da Tensão na Carga.

Embora a fonte de alimentação do circuito da Figura 3.12 seja senoidal, os


interruptores eletrônicos T1 e T2 são aplicados para controlar a passagem de
corrente na carga. A corrente é interrompida em determinados intervalos de
tempo. A tensão na carga é interrompida pelos interruptores e deixa de ser
senoidal. O usuário pode controlar os instantes de condução e, portanto pode
variar a tensão e corrente no circuito, como pode ser visto na Figura 3.13.

Figura 3.13 Formas de Ondas Senoidal de Tensão da Fonte de Alimentação e


de Corrente e Tensão na .Carga
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Ao resultar na circulação de correntes não senoidais pelo circuito, fala-se então


em distorção harmônica e cargas não lineares.

Devido a grande vantagem em eficiência e controlabilidade, as cargas eletrônicas


estão proliferando e podem ser encontradas em todos os níveis de potência,
desde aparelhos em baixa tensão a conversores operando em alta tensão.

3.2 Fontes de Harmô nico s


Os setores comercial e industrial são dominados por uma variedade de cargas
com características não lineares. Como exemplo dessas cargas não lineares cita-
se:
− Conversores monofásicos e trifásicos
− Transformadores
− Máquinas rotativas
− Iluminação a arco
− Fornos elétricos a arco

3.2.1 Conversores
Os conversores eletrônicos com sua capacidade de produzir correntes
harmônicas constituem no presente a mais importante classe de cargas não
lineares nos sistemas de potência.

Em edifícios comerciais é comum a presença de cargas monofásicas com fontes


chaveadas monofásicas. Uma característica distintiva das fontes chaveadas
monofásicas é o alto conteúdo de 3ª harmônica presente na corrente. Como as
componentes triplas são aditivas no neutro de um sistema trifásico, o crescente
aumento dessas fontes causa preocupação com sobrecarga no neutro, em
especial em instalações mais antigas. Há também uma preocupação com o
sobreaquecimento de transformadores devido à combinação de conteúdo
harmônico da corrente, fluxo de dispersão, e elevada corrente no neutro.

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Fig.3.14. Forma de Onda e Espectro Harmônico de Corrente de Fonte Chaveada [Fonte: R. Dugan
et al. Electrical Power System Quality.].

Os conversores eletrônicos de potência trifásicos diferem dos conversores


monofásicos em particular porque não produzem correntes de 3ª ordem (h=kq±1,
q é o número de pulsos do conversor e k=1,2,3, …). Isto representa uma grande
vantagem porque a corrente harmônica de 3ª ordem é a maior componente
harmônica. No entanto, os conversores trifásicos constituem significantes fontes
de harmônicos como às presentes nos acionamentos de velocidade variável
(AVV) e fontes ininterruptas de energia.

Fig.3.15. Forma de Onda e Espectro Harmônico de Corrente de AVV.

Fig.3.16. Forma de Onda e Espectro Harmônico de Corrente de Fonte Ininterrupta.

A) Notches em Tensão

Quando retificadores (Silicon Controlled Rectifies - SCR) são usados em controles


elétricos, é possível ocorrer distorção na forma de onda em forma de "ranhuras"

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na tensão de linha. Notches são irregularidades na forma de onda da tensão de


linha que aparece como um entalhe conforme ilustrado na Figura 3.17.

Fig.3.17. RanhurasNotches
ou de Tensão.

Os notches de tensão estão normalmente presentes na forma de onda durante a


comutação dos interruptores (SCR). A comutação ocorre quando um interruptor
(SCR) em uma fase entra em condução (ligado) e um interruptor em outra fase
entra em bloqueio (desligado). Devido à indutância do circuito a montante do
SCR, a transferência de corrente de um tiristor em uma fase para o próximo em
outra fase não é instantânea; ao contrário, há um período de sobreposição (ou
comutação) durante o qual os dois dispositivos estão conduzindo
concomitantemente. Neste período de tempo muito pequeno, um curto-circuito é
criado entre as duas fases. Com um curto-circuito, a corrente aumenta e a tensão
diminui. A redução na tensão é definida como um notch de linha. O curto-circuito
é interrompido pela corrente reversa no dispositivo que entra em bloqueio.

A Fig.3.18 mostra uma típica ponte conversora trifásica controlada. Os tiristores


operam em pares para converter sinal ca trifásico em cc chaveando a carga entre
os vários pares de tiristores seis vezes por ciclo. Durante o processo, um breve
curto circuito produz um notch na forma de onda da tensão de linha.

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Fig.3.18. Conversor Trifásico de Onda Completa.

A corrente no conversor da Fig.3.18 estando fluindo da fase A através do tiristor 1,


quando o tiristor 3 dispara no tempo t (30º na tensão de base linha-linha), a
corrente começa a transferir da fase A para a fase B. A reatância da fonte impede
a transferência instantânea, assim o tempo de comutação (ângulo) necessário
torna o notch de largura μ.

O notch é mostrado na tensão linha-neutro, Fig.3.19 (a), e tensão linha-linha,

Fig.3.19 (b). A tensão linha-linha na Fig.3.19 (b) ilustra claramente a ação do curto
circuito quando os tiristores 1 e 3 estão conduzindo simultaneamente. Os demais
notches refletem a ação do tiristor nas outras fases do circuito.

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VN profundidade do notch
ii13 corrente
corrente da
da chave
chave 13
α ângulo de disparo
μ ângulo de comutação

Fig.3.19.Notches de Tensão

A área do notch é uma indicação do efeito que o conversor terá sobre outras
cargas e pode ser calculada como:

AN = VN ⋅ t N (3.4)

em que VN é a profundidade do notch, em volts (linha-linha), do notch mais severo


do grupo e tN a largura do notch em μs. A largura do notch é o ângulo de
comutação μ, definido como [IEEE 519-1992
]:

μ = cos −1 ⎡⎣ cos
− +α ( X−s X t ) I d ⎤⎦ α (3.5)

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em que Xs é a reatância em pu com base no conversor, Xt é a reatância do


transformador do conversor em pu com base no conversor e Id é a corrente cc
média da carga do conversor, em pu com base no conversor.

O notch de tensão pode aparecer em qualquer ponto do semi-ciclo uma vez que o
ponto de comutação varia segundo a variação do ponto de disparo do SCR. Em

SCR aplicados a motores cc, como a velocidade do motor é função da tensão


aplicada ao motor, em baixa velocidade o notch pode aparecer próximo ao final
do meio ciclo. Em altas velocidades, o notch pode aparecer próximo ao início do
meio ciclo. Nos casos mais severos, a tensão é reduzida à zero, criando um
cruzamento zero extra ou ponto onde a tensão normalmente muda a polaridade.
Este cruzamento extra de tensão zero é responsável por causar os maiores
problemas. Estes notches extras podem dizer a outros equipamentos para "ligar".
Isso significa que o equipamento pode ligar na hora errada, resultando em danos.

Alguns equipamentos eletrônicos são projetados para ser acionado no


cruzamento por zero ou quando a tensão é zero. Isso permite que os
equipamentos sejam ativados sem surto de corrente ou corrente inrush que
estaria presente em caso de chaveados com tensão presente. Alguns
equipamentos usam os cruzamentos por zero para um sinal de sincronismo
interno.

Se a impedância do sistema de distribuição é baixa, em geral os notches de


tensão não serão severos o suficiente para afetar outros equipamentos. No
entanto, se a impedância do sistema de distribuição é alta então ocorrerá notches
de tensão com possível impacto sobre outros equipamentos.

B) Redução de Notches
Para eliminar ou reduzir os notches de tensão é necessário que a fonte de
notches (comutação) seja isolada de outros equipamentos sensíveis que usam o
mesmo sistema de distribuição. Considerando os retificadores ou acionamentos
cc como uma fonte de notches e as características do sistema de distribuição, é
necessário que os equipamentos sensíveis não compartilhem a mesma fonte de
tensão. O método mais simples a ser aplicado para eliminar ou reduzir os notches
de tensão é isolar cada equipamento sensível com um transformador de entrada.

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Se a impedância do sistema de distribuição é pequena, em geral, o SRC ou


acionamento cc não criará notches severos que afete outros equipamentos.
Entretanto, se a impedância do sistema de distribuição é alta, então ocorrerão os
notches de tensão e provavelmente impactará outros equipamentos.

É importante considerar onde o equipamento sensível conecta-se à mesma fonte

de tensão. Para proteger o equipamento sensível, devem-se reduzir os notches


antes que eles alcancem o equipamento sensível.

Um método alternativo de mitigação de notches de tensão é criar um divisor de


tensão, através da inserção de reatores de linha, entre o ponto que se conecta o
equipamento sensível (B) e a fonte de notches (A). É importante notar que os
notches criados por um acionamento cc normalmente não afetará o próprio
acionamento causador dos notches.

Fig.3.20. Alternativa de Mitigação de de Tensão.


Notches

Se a reatância indutiva é colocada em série com o controlador SCR e entre o


controlador e o ponto de conexão do outro equipamento (ponto B) então o notch
de tensão se dividirá entre a nova reatância inserida e a reatância de linha
existente até a impedância da fonte. Se a reatância adicionada (L3) é um terço da
já existente (L3=L2=L1), então 1/3 de queda do notch de tensão ocorrerá sobre a
reatância inserida e 2/3 permanecerão no ponto comum de conexão (PCC) com
outro equipamento. Nestas circunstâncias, a profundidade do notch será dada
por:

L1 + L2
VN = (3.6)
L1 + L2 + L3

em que VN denota a profundidade do notch em pu.

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Se a nova impedância é igual à já existente (L3=L1+L2), então o notch se


distribuirá igualmente entre as duas impedâncias. Metade do notch srcinal é
agora presente no ponto comum de conexão (B).

Observe que se a nova reatância é adicionada em qualquer local que não seja
entre o controlador SCR e o equipamento sensível, haverá um mínimo impacto

sobre o notch de tensão. Alocar a reatância no lado oposto a B (Fig.3.20) não


causará melhoria no notch de tensão.

A experiência mostra que um reator com 3% de impedância é normalmente


suficiente para reduzir notches de tensão, no PCC com outras cargas sensíveis, a
cerca de 50% ou menos de seu valor inicial. Com isto os cruzamentos extras por
zero são eliminados e normalmente resolve os problemas de interferência com
equipamentos vizinhos. Não é recomendado o uso de reator de impedância de
5% com SCR porque o reator apesar de diminuir a profundidade do notch, no
entanto aumenta sua largura. O excesso de impedância poderá aumentar a
largura (tempo) do notch causando problemas no próprio controlador. Aumentar a
largura do notch pode ser visto por algum equipamento sensível como interrupção
de tensão. Se a impedância do sistema de distribuição é de 1%, então um reator
de impedância de 3% resultará em notches de pequena profundidade [Allen-
Bradley. http://www.ab.com/drives/techpapers/notch.htm. Acessado em 18.10.2010].

Notches de tensão podem introduzir harmônicos no sistema de distribuição. A


expressão para correntes harmônicas considerando uma corrente Icc sem ripple é
dada por:

⎡ 6 A2 + B 2 − 2 AB cos2( α + μ) ⎤
⎢ ⎥
I h = I cc ⎢ π ⋅ h ( cos α − cos (α + μ ) ) (3.7)
⎣ ⎦⎥

em que


sen ⎢(h − 1)
μ⎤
⎣ 2 ⎥⎦
A= (3.8)
h −1

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sen ⎢(h + 1)
μ⎤
⎣ 2 ⎥⎦
B= (3.9)
h +1

A forma de onda da corrente é resultado dos notches de tensão [IEEE 519-1992


].

3.2.2 Transformadores
Os transformadores de potência são fontes de harmônicos uma vez que, por
razões econômicas, os transformadores são construídos com dimensões tais que
sempre ocorre saturação magnética do material ferromagnético que constitui o
seu núcleo, quando este opera próximo das condições nominais (Wb/m2). Isso
resulta na corrente de magnetização do transformador ser não senoidal, contendo
harmônicas (em especial a de 3ª ordem) mesmo que fosse aplicada uma tensão
senoidal. O contrário também é verdadeiro, i.e., se a corrente de magnetização
fosse senoidal, a tensão não poderia o ser (ver Eq.3.3).

Transformadores de núcleo de ferro, quando operados acima de sua tensão


nominal (condição de carga leve do sistema), serão conduzidos para as regiões
saturadas de seu núcleo ferromagnético (Figura 3.21) resultando em uma
corrente de excitação muito maior do que o normal em magnitude, e
significativamente distorcida com harmônicos.

Fig.3.21. Curva de Excitação de Transformadores

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3.2.3 Máquinas Rotativas


As máquinas girantes são consideradas fontes de harmônicos. A f.e.m. em vazio
e a tensão na carga de um alternador (em carga pior do que em vazio) não são
sinusoidais, o que se deve a causas como:

− Os enrolamentos são implantados em ranhuras as quais não são distribuídas

senoidalmente tal que a FMM é distorcida. A Figura 3.22 apresenta a força


magnetomotriz (FMM) presente no entreferro de uma máquina elétrica como
conseqüência da presença de ranhuras nas máquinas.

− Afastamento das ranhuras. Com várias ranhuras por pólo tem-se uma melhor
aproximação à sinusóide.

− Tipo de ranhura (aberta). Ranhuras inclinadas em relação ao cilindro que


constitui a face interior do estator contribui para suprimir harmônicas.

− Forma dos pólos salientes inclinando as arestas das peças polares de modo

que a que a relutância do entreferro seja constante, qualquer que seja a


posição do rotor.

− A distância entre espiras de 2/3 do passo polar contribui para não deformar a
f.e.m. resultante no enrolamento do induzido – reduz componente de 3ª
ordem.

Fig.3.22. Harmônico de 9ª Ordem de Ranhura Presente na FMM de uma Máquina Elétrica.

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116

Os grandes geradores são comumente conectados à rede elétrica por


transformadores conectados em delta-estrela bloqueando o fluxo de componentes
corrente de 3ª ordem.

3.2.4 Iluminação

A iluminação tem experimentado significativa evolução tecnológica com um


aumento considerável na eficiência e consumo de energia como resultado, em
especial, da aplicação de reatores eletrônicos. A Figura 3.23 mostra a relação
linear entre tensão e corrente em uma lâmpada incandescente e de descarga com
reator eletrônico.

(a) (b)
Figura 3.23. (a) Lâmpada Incandescente Fator de Correlação VxI de 0,99935
(b) Lâmpada de Descarga de Vapor de Hg Alta Pressão HPL-N 400W/220V Phillips Fator de
Correlação VxI de 0,12636.

(a) (b)
Fig.3.24. Lâmpada fluorescente com reator eletrônico (a) forma de onda (b) espectro harmônico.

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117

3.2.5 Forno Elétrico a Arco


Os fornos a arco elétrico são equipamentos usados no processo de fundição e
refino de metais, principalmente ferro, para produção de aço. Operam pelo
aquecimento da carga metálica a ser processada levando-a ao estado de fusão.
O calor provém do arco elétrico e é transferido à carga por radiação e convecção.

Fig.3.25. Forno a arco elétrico

Os fornos a arco são equipamentos eletro-intensivos, perturbadores, com grande


impacto na qualidade da energia. As perturbações são do tipo: harmônicos de
corrente podendo causar distorções na tensão da rede, inter-harmônicos,
desequilíbrios, flutuação de tensão e cintilação luminosa – é o principal gerador
de cintilação. As flutuações de tensão são tanto mais percebidas quanto mais
elevada é a potência dos fornos em relação à potência de curto-circuito no PCC.
O consumo médio de um forno a arco é de aproximadamente 550 kWh por
tonelada de aço produzido.

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118

(a) (b)
Fig.3.26. (a) Tensão fase-neutro para as três fases no secundário do transformador de um forno. (b)
Forma de onda da tensão (fase a – neutro), no PCC. [Fonte: M.F.Alves, D.G.Gomes, Z.M.A.Peixoto,
J.P.M.Sousa, e C.P.Garcia. Um Modelo Integrado para Estudos de Compensação de Flicker devido
a Fornos Elétricos a Arco.]

(a) (b)

Fig.3.27. (a) Correntes no secundário do transformador do forno. (b) Característica não linear v-i do
arco. [Fonte: M.F.Alves, D.G.Gomes, Z.M.A.Peixoto, J.P.M.Sousa, e C.P.Garcia. Um Modelo
Integrado para Estudos de Compensação de Flicker devido a Fornos Elétricos a Arco.]

Os harmônicos produzidos por fornos a arcos usados para a produção de aço são
imprevisíveis, randômicos, por causa da variação do arco elétrico a cada ciclo,
particularmente no estágio inicial de fusão. O forno a arco gera uma gama de
freqüências harmônicas e inter-harmônicas de largo espectro contínuo, sendo
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119

predominante e de maior amplitude a 3 a, a 2 a, a 5 a e a 4a, nessa ordem, as quais


predominam sobre os inter-harmônicos. A amplitude decresce com a ordem.
Entretanto, os valores médios das amplitudes das correntes harmônicas dos
fornos são relativamente baixos, se comparados com os gerados pelos
conversores tiristorizados. Na prática, alguns semiciclos isolados da corrente
mostram percentuais elevadíssimos de distorção, mas, a média, no caso dos
fornos a arco, não passa de 5% para os principais harmônicos.

A Tabela 3.1 [IEEE 519-1992


] apresenta o conteúdo harmônico típico da corrente do
arco elétrico em dois estágios do ciclo de fusão em um forno a arco típico para a
produção de aço. Outros fornos podem exibir diferentes padrões de corrente
harmônico.

Tabela 3.1 Conteúdo Harmônico de Corrente de Forno a Arco em Dois Estágios de Operação.
Corrente Harmônica
% da Fundamental
Ordem do Harmônico
Condição do forno 2 3 4 5 7
Início da fusão (arco ativo) 7,7 5,8 2,5 4,2 3,1
Refino (arco estável) 0,0 2,0 0,0 2,1 0,0

A) Tipos de Fornos Elétricos a Arco

(a) (b) (c)

Fig.3.28. Tipos de Fornos Elétricos a Arco: (a) Forno a arco direto; (b) Forno a arco indireto;
(c) Forno a arco submerso.

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120

Os fornos a arco direto - arco entre os três eletrodos verticais e a carga de


resíduos - são os mais empregados para a produção de aço, em que a
temperatura do arco pode alcançar 3000°C e até mais.

(a)

(b)

Fig.3.29. Esquemático de Fornos a Arco Elétrico Direto.


A resistência de arco é aleatória com variações desde praticamente zero (curto-
circuito franco) até infinito (corrente interrompida).

B) Estágios de Operação dos Fornos a Arco

Com o carregamento do material, em geral sucata, iniciam-se as fases de


operação dos fornos:

− Ignição, nesta fase os três eletrodos são baixados até que se estabeleça um
curto-circuito entre pelo menos dois deles; em seguida, o regulador do forno
começa a levantar um ou mais eletrodos para estabelecer o arco elétrico. O
arco elétrico apresenta fases distintas durante o ciclo de operação do forno,
sendo as fases de fusão e refino as mais relevantes.

− Fusão, quando se inicia o processo de fusão, a sucata apresenta uma


superfície muito irregular causando grandes e rápidas flutuações de corrente.
O regulador dos eletrodos não tem velocidade suficiente para responder a
estas mudanças - esta é a fase de operação do forno que acarreta as maiores
flutuações de tensão no sistema elétrico. Ocorrem também grandes e rápidas
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121

variações de potência ativa e reativa (Figura 3.30), e grandes e rápidas


variações do fator de potência. A diminuição desta flutuação implica na
redução da potência reativa consumida pelo forno, o que permite que uma
quantidade maior de potência ativa possa ser suprida, aumentando a
eficiência do forno.

− Refino, estágio em que não se observam grandes distúrbios. No refino, a


pasta é aquecida a uma alta temperatura e a matéria espúria é retirada da
panela. Seguida a esse processo segue-se a adição de componentes em que
a pasta é mantida aquecida e adicionada quantias de Carbono, Magnésio,
Cobalto e outros materiais segundo as características desejadas para a liga
metálica.

− Extinção do arco durante a passagem por zero da corrente.

Potência Ativa

Potência Reativa

Fig.3.30. Variação da Potência Ativa e Reativa durante a Fusão.

Durante os períodos de fusão da carga metálica e posterior refino o arco se


mantém mais estável - esta estabilidade, entretanto, é função do fator de potência
de operação do forno.

Como o arco se extingue a cada passagem por zero da corrente, sua re-ignição
depende da tensão entre eletrodos neste instante. Com fator de potência elevado
(acima de 0,9), a tensão no instante da extinção do arco é insuficiente para a re-
ignição imediata, resultando em arco instável.

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122

Para fatores de potência da ordem de 0,7 a 0,8, a tensão durante a extinção do


arco é suficiente para sua re-ignição imediata, levando a um arco mais estável -
isto gera uma demanda de reativos que deve ser compensada (idealmente
através de um SVC) para que o fator de potência da planta como um todo seja
próximo da unidade.

Para cada fase de operação do forno existe um comprimento médio de arco que o
controle dos eletrodos tentará manter. Na ignição o comprimento do arco é
praticamente nulo. Na extinção o comprimento do arco é máximo e na fusão o
comprimento médio do arco deve maximizar a potência. A dispersão em torno do
valor médio é maior na fase de fusão, devido à grande mobilidade da sucata e do
material em fusão. No refino o comprimento médio do arco deve maximizar fator
de potência.

Na operação normal do forno, ocorrem curtos circuitos entre os eletrodos e a


sucata que podem provocar correntes superiores a duas vezes a nominal durante
poucos segundos.

C) Harmônicos e Filtros Harmônicos

A necessidade de filtros de harmônicos depende basicamente da necessidade de


atender normas mais ou menos exigentes no que se refere à distorção de tensão.
De um ponto de vista prático, é possível em grande parte dos casos, instalar
bancos de capacitores sem filtros, desde que se tome a precaução de afastar a
freqüência de ressonância paralela das principais freqüências harmônicas. A
necessidade de instalar filtros de harmônicos é premente quando existem
compensadores estáticos (SVC – compensador shunt usado para mitigar

flutuação de tensão com banco de capacitores fixo e reatores controlados a


tiristor), os quais por possuírem dispositivos de estado sólido, controlados por
variação do ângulo de disparo, provocam elevados níveis de harmônicos.

3.3 Efeito dos Harmô nico s

Os efeitos adversos causados pela presença de componentes harmônicos podem


ser do tipo:

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123

− Correntes no neutro em sistemas balanceados devido à presença de


componentes triplas que podem igualar ou exceder as correntes de fase.
− Estresse no isolamento devido à ação de tensões harmônicas.
− Aumento de tensões neutro-terra.
− Aumento da temperatura nos condutores.
Aumento da corrente eficaz
Aumento das perdas Joule
− Estresse térmico devido ao fluxo de correntes harmônicas.
− Vibração.
− Ruído audível ( ≈3 kHz).
− Afetam a capacidade de ruptura de disjuntores.
− Atuação de dispositivos de proteção (disjuntores, chaves seccionadoras) sem
causa detectável.
− Interferência em relés de proteção cuja operação é baseada em
tensão/corrente de pico ou tensão zero.

− Dispositivos de medição exibem diferentes respostas a sinais não lineares.


− Danificação de capacitores de correção do fator de potência.
− Queima de fusíveis sem sobrecarga aparente.
− Queima de motores de indução.
− Sobre aquecimento de transformadores.
− Perda de dados.
− Interferência nos sistemas telefônicos e de comunicação.
− Baixo fator de potência.
− Flutuação da imagem em vídeos.

Os harmônicos causam aumento de perdas (no cobre, ferro, e dielétrico) e perda


de vida útil de equipamentos. Equipamentos sensíveis podem sofrer operação
indevida ou falha em componentes.

A seguir são apresentados os impactos de harmônicos em equipamentos de


sistemas de potência e cargas.

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124

3.3.1 Motores e Geradores


Um dos grandes efeitos de tensões e correntes harmônicas em máquinas
rotativas (indução e síncrona) é o calor produzido, causando aumento de
temperatura, devido às perdas no ferro e cobre nas freqüências harmônicas. As
componentes harmônicas, portanto, afetam a eficiência da máquina, e também
podem afetar o torque desenvolvido.

Quando aos terminais de uma máquina girante (motor) é aplicada uma tensão
com componentes de ordem 5 a, 7a, 11a, etc., cada tensão harmônica induzirá uma
correspondente corrente harmônica no estator da máquina. Cada componente de
corrente no estator produzirá uma força magnetomotriz FMM no entreferro que
induzirá o fluxo de corrente no rotor da máquina. Como cada harmônica pode ser
definida como sendo de seqüência positiva ou negativa, a rotação de cada
harmônica será no mesmo sentido ou contrário à rotação do rotor. As correntes
harmônicas no estator de seqüência positiva criam cada, um fluxo magnético
girante direto, pra frente (forward), no entreferro na frequência hff1 ou ( hf -1)f1 com
relação ao campo do rotor. As correntes harmônicas de seqüência negativa no
estator por sua vez produzem, cada, um campo magnético girante inverso
(backward) de frequência hbf1 no entreferro ou de frequência ( hbf1+1)f1 em relação
ao rotor. Por exemplo, o fluxo magnético produzido pela 5a harmônica (seqüência
negativa) de corrente no estator irá girar em sentido contrário ao rotor que gira na
rotação direta da fundamental, assim uma corrente harmônica será induzida no
rotor com uma freqüência correspondente à diferença rotacional líquida entre a
freqüência da fundamental na ranhura e a 5a, i.é., a 5a mais um, ou seja, a 6a
harmônica. Uma vez que a sétima harmônica é de seqüência positiva, uma
corrente harmônica será induzida no rotor com uma freqüência correspondendo à
diferença rotacional líquida entre a 7 a e a freqüência fundamental no entreferro,
i.é., a 7a menos um, ou a 6a harmônica. Assim, do ponto de vista da produção de
calor, a 5a e a 7a harmônicas no estator combinam para produzir uma 6 a
harmônica de corrente no rotor. A 11 a e a 13a harmônicas agem da mesma
maneira para produzir a 12a harmônica de corrente no rotor, e assim por diante
com as outras harmônicas mais altas agindo em pares. Portanto, surgem novas
componentes harmônicas que dão srcem a campos pulsantes de freqüências 3 f1,
6f1, 9f1, 12f1, etc. Se a frequência natural da máquina é próxima a essas
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125

freqüências, pode ocorrer ressonância super-síncrona acompanhada por


oscilação de torção e flexão do eixo da máquina.

Tabela 3.7. Componentes Harmônicas Induzidas no Rotor.


Ordem Freqüência Harmônica Rotação da Harmônica
Seqüência
Harmônica Hz No Estator Harmônica No Rotor
1 60 + 1 Forward -
5 300 - 5 Backward 6
7 420 + 7 Forward 6
11 660 - 11 Backward 12
13 780 + 13 Forward 12
17 1020 - 17 Backward 18
19 1140 + 19 Forward 18
23 1380 - 23 Backward 24
25 1500 + 25 Forward 24

Existem duas preocupações com essas harmônicas no rotor:


− Calor resultante das perdas
− Torques pulsantes ou reduzidos
O calor que o rotor pode tolerar depende do tipo de rotor envolvido. Máquinas de
rotor bobinado são mais seriamente afetadas do que máquinas de rotor em
gaiola. As perdas nos enrolamentos são geralmente de maior preocupação do
que as perdas no ferro.

Um motor de indução, operando sob alimentação distorcida, pode apresentar um


sobre aquecimento em seus enrolamentos. Este sobre aquecimento faz com que
ocorra uma degradação do material isolante que pode levar a uma condição de
curto-circuito por falha de isolamento.

Fig. 3.17. Perdas Elétricas em um Motor de Indução Trifásico


V. x DHT

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126

A Fig.3.17 [IEEE Transactions on Industry Applications, Vol.IA22, No 6, pp.1121-1126,


] Nov.,1986
mostra uma estimativa do acréscimo das perdas elétricas num motor de indução
como função da taxa de distorção total de tensão, DHTV , presente no barramento
supridor.

Na análise de desempenho de um motor de indução submetido a tensões

harmônicas verifica-se uma perda de rendimento e qualidade do serviço devido


ao surgimento de torques pulsantes. As componentes harmônicas de corrente de
seqüência negativa produzem um campo magnético que gira em sentido contrário
ao campo magnético da seqüência positiva, ou seja, contrário ao sentido de
rotação do rotor. Assim, tem-se estabelecido uma indesejável interação entre os
dois campos magnéticos, o que resulta num conjugado pulsante no eixo da
máquina.

Os torques pulsantes podem causar fadiga do material e em casos extremos,


para altos valores de torques oscilantes, interrupção do processo produtivo,
principalmente em instalações que requerem torques constantes como é o caso
de bobinadeiras na indústria de papel-celulose, condutores elétricos, etc.

Com o uso crescente dos AVV (Acionamentos de Velocidade Variável) estes


efeitos se pronunciaram, pois os níveis de distorção impostos pelos inversores
superam os valores normalmente encontrados nas redes ca, muito embora, as
novas técnicas de chaveamento têm reduzido consideravelmente estes níveis.

Os motores de indução, de acordo com o seu porte e impedância de seqüência


negativa, possuem um grau de imunidade aos harmônicos conforme sugere a
expressão abaixo.

∞ 2

∑ ⎛⎜⎝ nn ⎞⎟⎠1,3%
V
≤ a 3,5% (3.10)
n =2

Em geral, não há necessidade de desclassificar os motores se a distorção de


tensão permanece dentro dos limites da norma IEEE 519-1992 de 5% de DHTV e
3% para qualquer harmônico individual. Problemas de aquecimento excessivo
começam quando a distorção de tensão atinge 8 a 10% ou acima. Tais distorções
devem ser corrigidas para uma maior vida útil do motor.
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127

Em um motor, as correntes harmônicas podem aumentar a emissão de ruído


audível (faixa de freqüência audível: > 40 Hz, < 10 kHz) quando comparado com
excitação senoidal. As harmônicas também produzem uma distribuição do fluxo
resultante de entreferro, o qual pode causar ou acentuar o fenômeno chamado
cogging (rejeição a uma partida suave) ou crawling (alto escorregamento) em
motores de indução.

Os geradores síncronos, responsáveis por grandes blocos de energia, pelo fato


de estarem localizadas distantes dos centros consumidores não sofrem de forma
acentuada as conseqüências dos harmônicos injetados no sistema. Entretanto,
em sistemas industriais dotados de geração própria, que operam em paralelo com
a concessionária, uma série de anomalias tem sido verificada no que se refere à
operação das máquinas síncronas. Dentre estes efeitos destacam-se:

− Sobre aquecimento das sapatas polares (forma da superfície polar), causado


pela circulação de correntes harmônicas nos enrolamentos amortecedores;

− Torques pulsantes no eixo da máquina;


− Indução de tensões harmônicas no circuito de campo que comprometem a
qualidade das tensões geradas.

Assim, é importante que uma monitoração da intensidade destas anomalias seja


efetuada, com o propósito de assegurar operação contínua das máquinas
síncronas, evitando transtornos como perda de geração. No caso de instalações
que utilizam motores síncronos, as mesmas observações se aplicam.

De forma semelhante aos motores de indução, o grau de imunidade das


máquinas síncronas aos efeitos de harmônicos é função do porte da máquina e
da impedância de seqüência negativa. Esta condição pode ser assegurada
quando obedecida a relação abaixo.

∞ 2

∑ ⎛⎜⎝ nn1,3%
V ⎞
⎟ ≤a 4% (3.11)
n =2 ⎠

Em casos em que há uma substancial inércia acoplada ao eixo do rotor (motor-


gerador, turbina-gerador), os harmônicos elétricos podem excitar uma
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128

ressonância mecânica. Se a freqüência de uma ressonância mecânica existe


próxima à freqüência elétrica de estímulo, forças mecânicas oscilantes podem ser
desenvolvidas. As oscilações mecânicas resultantes podem causar fadiga do eixo
e acelerado envelhecimento do eixo e das partes mecânicas conectadas a ele.

3.3.2 Transformadores
Para transformadores trifásicos, as harmônicas triplas ímpares (3a, 9a, 15a, 21a,...)
estão sempre em fase e é por esta razão que, em geral, o primário é conectado
em delta de modo a prover um caminho para circulação destas componentes, que
ficam retidas não sendo injetadas no sistema de alimentação.

No entanto, a 5a e 7 a harmônicas da corrente de excitação do transformador são


injetadas no sistema, causando distorção de corrente e tensão, pois têm
amplitudes situadas usualmente entre 5 e 10% do valor nominal da corrente
fundamental. O efeito destas harmônicas é mais acentuado bem no início da
manhã (final da madrugada) quando o sistema está operando com pouca carga e
a tensão é elevada.
São dois os efeitos das harmônicas nos transformadores:

− Aumento de perdas no cobre e perdas por correntes parasitas nos


enrolamentos causadas pelas correntes harmônicas. As perdas no cobre PR
devido os harmônicos, desconsiderando o efeito skin, são determinadas pela
distorção harmônica de corrente e distorção harmônica de tensão, as duas
sendo iguais para condição de resistência pura. Considere as perdas no cobre
expressas por:
2

PR 1 VI R
I1 Vh
∑ ∑= ∑
2
== =
h h h h 1 (3.12)
2 h =1 2 h =1 2 h =1 Rh

Considerando que a resistência é constante:

R I 2R
PR = ∑
I = h2
2 h=1
+1
2
(DHT
1= + ) PI2( R1) 1
DHT I
2

(3.13)
1 V12
=
2R
∑=Vh2 +
h =1 2R
(1= DHT
R )
V+ ( VP
2
1)DHT
1 2

PR , pu = +1 DHT=I2+ 1DHT V
2
(3.14)

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129

As perdas por correntes eddy nos enrolamentos são definidas como:



Pe =Pe 1 ∑hI
h =1pu
h
2 2
, (3.15)

em que Pe1 é a perda por corrente eddy no enrolamento à freqüência


fundamental. As correntes eddy são correntes induzidas causadas por fluxos
magnéticos. Essas correntes induzidas fluem nos enrolamentos, no núcleo e
nas demais partes condutoras sujeitas ao campo magnético do transformador
e causam aquecimento adicional.

− Aumento nas perdas no núcleo causadas pelos harmônicos de tensão com


aumento nas perdas por histerese e corrente eddy. Essas perdas aumentam
significativamente com a freqüência e o aumento nas perdas por corrente eddy
devido os harmônicos são maiores que as perdas por histerese. Entretanto, o
aumento de temperatura no núcleo devido o aumento das perdas no ferro é
menos critica que nos enrolamentos.

Como conseqüência do aumento de perdas tem-se um aumento no calor gerado


no transformador.

As perdas nos transformadores causadas por tensões harmônicas e correntes


harmônicas variam com a freqüência. As perdas aumentam com o aumento da
freqüência.

O aumento de perdas faz com que a vida útil dos transformadores seja reduzida,
como mostra a Fig.3.15, uma vez que a degradação do material isolante no
interior do transformador ocorrerá de forma mais acentuada.

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130

Fig. 3.15. Vida Útil de um Transformador em Função da Distorção Harmônica de Corrente.

Os transformadores possuem um nível de tensão admissível dado por:

Tabela 3.7. Nível de distorção admissível em transformadores.


PlenaCarga Vazio

∑∞ Vn2 ≤ 5% ∑∞ Vn2 ≤ 10%


n =2 n =2

A Distorção Harmônica Total da corrente ( DHTI) para valores de corrente nominal


deve ser:

< 5% DHTI (3.16)

3.3.3 Banco de Capacitores

O uso acentuado de capacitores instalados em redes elétricas para a correção de


fator de potência e regulação de tensão pode causar condições de ressonância
(série e paralela) que podem amplificar o nível dos harmônicos de tensão ou de
corrente. Este efeito impõe tensões e correntes consideravelmente maiores
quando comparadas às condições sem ressonância.

Os harmônicos afetam os bancos de capacitores da seguinte maneira:

− Sobrecarga por correntes harmônicas uma vez que a reatância dos


capacitores diminui com a frequência tornando-os como sorvedouros por
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131

harmônicos. As tensões harmônicas também produzem grandes correntes


causando a ruptura de fusíveis de proteção dos capacitores.

− Aumento das perdas dielétricas tendo como conseqüência direta o aumento


de calor e perda de vida útil.

− Os capacitores combinam com a indutância da fonte formando um circuito


ressonante paralelo. Na presença de ressonância os harmônicos são
amplificados. As tensões resultantes excedem em muito a tensão nominal e a
conseqüência é danificação do capacitor e a queima de fusíveis.

3.3.3.1 Ressonância em Capacitores

Considere um sistema de potência representado por seu equivalente de Thévenin


como mostra a Figura 3.16 [ Power Systems Harmonics, G.J. Wakileh, Springer,
]. 2001.

zs
IC

Vs=Vbc jXsIC
IC RsIC
Vs ~ Vbc
C VC

Fig. 3.16 Sistema com capacitor.

A impedância equivalente Zs é obtida a partir da capacidade de curto circuito do


sistema na barra de conexão do capacitor.

kV 2
Zs = = Rs + jω1Ls (3.17)
Scc

sendo kV a tensão de linha e Scc a potência de curto circuito trifásica em MVA.

A impedância equivalente Zs em pu é dada por:

Zs kV 2 Scc
Z s , pu = = (3.18)
Zb kVb2 Sb

Para uma tensão de base igual à tensão nominal, tem-se que:

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132

Sb 1
Z s , pu = = (3.19)
Scc Scc pu
,

XC 1
X C , pu = = (3.20)
Zb QCpu,

A frequência ressonante do sistema é dada por:

1
fr = (3.21)
2π LsC

Multiplicando numerador e denominador em (3.21) por ω1, obtém-se:

1 ω1 X C ,1,pu S
cc pu,1,
fr = = = = f1 f1 (3.22)
2π LsC 2π Xs pu,1, C pu X ,1,
X s ,1,pu Q
C pu ,1,

A harmônica ressonante de ordem hr, definida como hr=fr/f1, pode ser re-escrita
como:

fr X C ,1,pu S
cc pu
hr = = = ,1,
(3.23)
f1 X s ,1,pu Qpu,1,
C

Em que
hr é a ordem harmônica que provoca ressonância
fr é a frequência ressonante, fr = hrf1
f1 é a frequência fundamental do sistema, 60 Hz no Brasil
Xc,1,pu é a reatância do capacitor em pu na frequência fundamental
Xs,1,pu é a reatância indutiva da fonte em pu na frequência fundamental

Scc,1,pu é a potência de curto-circuito em pu ou MVA na barra do capacitor


QC,1,pu é a potência nominal do capacitor em pu ou MVA

A tensão na barra quando o banco de capacitores é chaveado é obtida como:

− jX C ,1 Vs
VC = V=′
bc ⋅ =s V (3.24)
Z s C− jX ,1 s 1− ω L C
2
s 1 + jω1CR

Na ressonância ωr2 LC = 1 , e a tensão no capacitor torna-se:

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133

Vs Vs LsC LsVs cZ
h VC , = −= j −= j −= s jV s−=fVjA (3.25)
jωs r CR s sR C s R C R

em que
Vc,h h-ésima harmônica de tensão no capacitor em ressonância
Zc impedância característica definida como Zc = s L C s=C X X
Af fator de amplificação definido como Af = Z c Rs

Em (3.25) é visto que são amplificadas as harmônicas de tensão que


correspondem ou são próximas à frequência ressonante. A tensão resultante é
bem maior que a tensão nominal o que resulta em avaria do capacitor ou queima
de fusíveis. O fator de amplificação pode ser expresso como em (3.26) uma vez
que na ressonância Xs=Xc:

Zc Ls C X s XC
Af = = =
Rs Rs Rs
(3.26)
X sfrL
2π hfL2π X
= =s ,r = r s
=⋅ s 1
hr
Rs s R s s R R 60 50 Hz

A norma ANSI/IEEE 18-1992 "Standard for Shunt Power Capacitors" especifica


que capacitores podem operar continuamente em ambiente com harmônicos
[Power Systems Harmonics, G.J. Wakileh, Springer, 2001; Electrical Power Systems Quality, R.C.
Dugan et al, McGraw Hill,
nd Ed.2] desde que:

− A potência reativa não exceda 135% do valor de placa


2 2
QC ⎛ V⎞ ⎛ ⎞1 I h
= ∑ h ⎜ ⎟h = ∑ ⎜⎟ ≤ 1,35 (3.27)
QC1 h =1V ⎝ ⎠1 hI h⎝=1⎠ 1

− A tensão rms não exceda 110% da nominal (incluindo harmônicos, mas


excluindo transitórios)
Vrms
= +1 DHT
≤ ⇒
V
2
1,1 ≤ = V
DHT 0, 21 45,8% (3.28)
V1

− A tensão de pico (incluindo harmônicos) não excede 120% do nominal


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134

Vp
=+1 VCF
≤⇒ 1, 2 ≤ VCF 0, 2 (3.29)
V1

− A corrente rms não excede 180% da corrente nominal (incluindo a


componente de corrente fundamental e os harmônicos)
I rms
= +1 DHT
≤ ⇒
I
2
1,8 ≤ = I
DHT 2, 24 149, 67% (3.30)
I
1

Problema: [Power Systems Harmonics, G.J. Wakileh, Springer,


] 2001

Em um sistema com as condições apresentas a seguir, calcule o fator de


amplificação Af. Considere a potência de base igual a 100 MVA e 110/20 kV as
tensões de base do lado de alta e baixa tensão respectivamente. Repita o
cálculo de Af para potência do banco de capacitores igual a 100, 50 e 24 Mvar.

110/20 kV
Equivalente 31,5 MVA
de Sistema
de Potencia
em 110kV 0,3+j13,997%

3,8 Mvar
Scc MVA X/R
Min 1500 6,5
Normal 3000 6
Max 4000 7

Solução:

Para a condição de carregamento máximo, tem-se para a potência de curto


circuito do sistema em pu:

Sccmax 4000
Sccmax
,pu = = = 40 [ pu ]
Sb 100

A impedância equivalente do sistema:

1 1
Z smax
, pu = ∠ tg −1 (=X∠R ) tg −1 7
Sccmax
,pu 40
= 0,0 0354
+ = 2475
j 0,0 ∠ 0,0 25 81,86 [ pu ]

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135

A impedância do transformador com mudança de base:

2
⎛ V old⎞⎛ ⎞Snew
Z t ,pu = Zt pu′, ⎜ new⎟b⎜ ⎟ old b
⎝ Vb ⎠⎝ ⎠Sb
= ( 0,0 03 + j 0,13997 )( 100 ) 31,5
= 0,0
+ 09524 j 0,4 = 44349
∠ 0,4 4445 88,7 7

[ pu ]

A impedância do sistema vista da barra de 20 kV:

Z 20, pu = Z+smax
, pu = Z t , pu + 0,0 1306
= j∠
0,4 691 0,4 6928 88,4 05 [ pu ]

A potência de curto circuito na barra de 20 kV:

1 1
S cc,20 = = = 2,131[ pu ]
Z 20, pu 0,46928

A relação X/R na barra de 20 kV:

X R20 = tg88,4 05 = 35,9 2


Para o banco de capacitores, a potência e a reatância capacitiva em pu:

3,8
Qc , pu = = 0,038 [ pu ]
100
1 1
X c , pu = = = 26,3158 [ pu ]
Qc , pu 0,038

A ordem da harmônica em que ocorre ressonância é calculada por:

fr X C ,pu Scc pu,


hr = = =
f1 X spu
,
Q
Cpu ,

26,3158
= = 7,488
0,46928
2,131
= = 7,4886
0,038

O fator de amplificação é de:

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136

⎛X ⎞
Af = ⎜ s ,60 Hz ⎟ ⋅ hr
R
⎝ s ⎠ 20
= 35,9 2 ⋅ 7,4 88 = 269

Sccmax Qc Qc,pu Xc,pu hr=√(Xc/0,46928) Af=35,92 x hr


(MVA) (Mvar)
4000 3,8 0,038 26,3158 7,488 269

Para as condições de operação mínima e normal, tem-se que a impedância


equivalente do sistema é dada por:

1 1
Z smin
, pu = ∠ tg −1 (=X∠R ) = ∠tg −1 6, 5 0,0 67 81,2 5 [ pu ] 

Sccmin,pu 15

1 1
Z sn, pu = ∠ tg −1 ( =
X ∠R ) = ∠tg −1 6 0, 034 80, 54

[ pu ]
Sccn ,pu 30

A impedância do transformador permanece a mesma:


Z t , pu = +0,0 09524 j 0,4
= 44349
∠ 0,4 4445 88,7 7 

[ pu ]

E a impedância total vista da barra em 20 kV é então:

a) Operação mínima

Z 20, pu = Z smin
, pu + Z t , pu

= ( 0, 0102
+ + ( j 0,
) 0662+ )
0, 009524 j 0,4 44349
= 0,0 19724
+ = 10549
j 0,5 ∠ 0,5 109 87,4 9 [ pu ]

b) Operação normal

Z 20, pu = Z sn, pu + Z t , pu
= ( 0,0 05588
+ ( j+0,0) 33538
+ )0,0 09524 j 0,4 44349
= 0,0 15112
+ = 77887
j 0,4 ∠ 0,4 781 88,19

[ pu ]

As potências de curto circuito na barra de 20 kV para as condições de operação


mínima e normal são:

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137

1 1
Sccmin,20 = = = 1,96 [ pu ]
Z 20, pu 0,5109

1 1
S ccn ,20 = = = 2,092 [ pu ]
Z 20, pu 0,4781

As ordens das harmônicas em que ocorre ressonância são calculadas por:

a) Operação mínima

min
fr X Cpu S
hr = = ,
= ccpu ,

f1 X spu, Q
Cpu ,
60 Hz

26,3158
= = 7,18
0,5105
1,96
= = 7,18
0,038

b) Operação normal

min
fr X Cpu S
hr = = ,
= ccpu ,

f1 X spu, Q
Cpu ,
60 Hz

26,3158
= = 7,42
0,4779
2,092
= = 7,42
0,038

O fator de amplificação para ambas condições de operação:

a) Operação mínima

⎛X ⎞
Af = ⎜ s ,60 Hz ⎟ ⋅ hr
⎝ Rs ⎠ 20
0,5105
= ⋅ 7,18 = 186,0 6
0,0197

b) Operação normal

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138

⎛X ⎞
Af = ⎜ s ,60 Hz ⎟ ⋅ hr
R
⎝ s ⎠ 20
0,4779
= ⋅ 7,4 2 = 180
0,0197

Scc Qc
(Mvar) Qc,pu Xc,pu hr=√(Xc/0,46928) Af=35,92 x hr
(MVA)
1500 3,8 0,038 26,3158 7,18 186,06
3000 3,8 0,038 26,3158 7,42 180,00
4000 3,8 0,038 26,3158 7,49 269,00

Nota-se que a ordem da harmônica e o fator de amplificação dependem da


impedância equivalente do sistema e, portanto, da condição de operação.

Para bancos com potências de 100, 50 e 24 Mvar estando o sistema operando na

condição máxima de Scc = 4000 MVA, tem-se para Af:

Qc(Mvar) Q c,pu Xc,pu hr=√(Xc/0,46928) Af=35,92 x hr


3,8 0,038 26,3158 7,488 269
24 0,04167 24 7,1514 256,878
100 1,000 1,0 1,4598 52,445
50 0,5 2,0 2,0644 74,153

Observa-se ainda que o harmônico que causa ressonância e o fator de


amplificação varia com a potência do banco de capacitores.

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