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www.projectaco.com

Curso de Extensão:
Concepção e Detalhamento de
Cobertas em Madeira
MPhil. Sandro V. S. Cabral

Organização e Apoio:
Ramos Trajano
Tamires Cabral

Apoio empresarial:

Junho - 2012
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

1.1 Objetivos

1.2 Definições básicas

1.3 Breve histórico

1.4 Fisiologia e classificação das árvores

1.5 Defeitos da madeira

1.6 Sistemas estruturais para cobertas em madeira

1.7 Relação entre engenheiros e arquitetos

2 MATERIAIS UTILIZADOS
2.1 Materiais estruturais para cobertas

2.2 A cultura da madeira e aplicabilidade em cobertas

2.3 Propriedades físicas da madeira

2.4 Tipos de madeira

2.5 Tipos de perfis de madeira

2.6 A madeira laminada colada (MLC)

2.7 Materiais de cobertura: telhas

2.8 Materiais de vedação

3 CONCEPÇÃO
3.1 Fases de concepção

3.2 Elementos de cobertas em madeira

3.3 Tipos de coberta em madeira

3.4 Escolha do sistema estrutural e tipos de ligação

3.5 Escolha dos materiais para estrutura e cobertura

3.6 Parâmetros de projeto

3.7 Sustentabilidade

3.8 Sistemas de vedação e impermeabilização


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4 DETALHAMENTO
4.1 Metodologia de detalhamento

4.2 Detalhes gerais típicos de cobertas

4.3 Detalhes de ligações

4.4 Orientações de projeto

5 BIBLIOGRAFIA
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1 INTRODUÇÃO

1.1 OBJETIVOS
O objetivo geral do curso é conceber e detalhar cobertas em
madeira a partir de conceitos tecnológicos contemporâneos.

Os objetivos específicos são:

a) Compreender as características e aplicabilidade da madeira

b) Compreender e pré-dimensionar os sistemas estruturais para


cobertas em madeira

c) Identificar e avaliar os materiais utilizados.

d) Compreender procedimentos e conceitos de concepção.

e) Detalhar cobertas em madeira.

1.2 DEFINIÇÕES BÁSICAS

Cobertas são elementos de proteção zenital. Além da óbvia


proteção contra as intempéries, as cobertas podem também
desempenhar o papel de auxiliares na iluminação natural dos
ambientes e na sua proteção termo-acústica. As bases técnicas mais
importantes para a concepção e o detalhamento de cobertas são a
sua concepção estrutural e a tecnologia dos materiais envolvidos.

A madeira, no contexto deste curso, é um material estrutural


orginado do beneficamento do tronco de árvores.

1.3 BREVE HISTÓRICO

As cobertas têm sido utilizadas na engenharia e arquitetura


desde a antiguidade. A primeira idéia de criação de um elemento de
transição entre o meio externo e interno das habitações vem dos
povos nômades da antiguidade. O desenvolvimento da construção em
madeira está estreitamente ligada ao desenvolvimento das cobertas.
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Algumas ocorrências históricas delineiam o desenvolvimento


da construção em madeira no Brasil e no mundo, como segue:

– 5000 a.c.: Aldeia Hacilar, Turquia. Madeira utilizada na


estrutura e na divisão dos ambientes.
– 3000 a.c.: egípcios utilizaram a madeira de pequenas peças
de arte a vigas retas para pequenos vãos.
– Assírios, Babilônicos e Romanos: desenvolvimento dos
laminados.
– Gregos: cobertas dos templos em madeira.
– Romanos: primeiras treliças em madeira para grandes
vãos.
– Orientais: templos e pagodas em madeira.
– Idade média: catedrais góticas com telhado em madeira.
– Século XVIII: início da produção de estruturas de madeira
a partir de conceitos da resistência dos materiais.
– Século XIX: evolução na laminação a partir do
desenvolvimento da serra circular.
– 1922: início do uso de estruturas de madeira
convenientemente dimensionadas no Brasil devido ao alto
custo do aço na época.
– Segunda guerra mundial: grande uso da madeira laminada
em aeronaves.
– 1942: construção da coberta mais longa em madeira do
mundo com 390 m, figura 1.1 (Tilamook Air Museum, EUA).
– 1943 : casa Rio Branco Paranhos de Vilanova Artigas
(figura 1.2). Uso restrito da madeira na arquitetura
moderna.
– 1974: primeira viga laminada colada (grulam) produzida
pela Holzbau na Europa.
– 1986: uso industrial da madeira no Brasil (Casa Hélio
Olga projetada por marcos Acayaba, figura 1.3).
– 2009: madeira laminada colada (MLC) em eucalipto
produzida pela Ita Construtora.
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Figura 1.1 Hangar B do Tilamook Air Museum (Oregon, EUA)

Figura 1.2 Treliça da casa Rio Branco Paranhos (Vilanova Artigas,


1943)

Figura 1.3 Casa Helio Olga (1986) projetada por Marcos Acayaba

Hoje a madeira é o material estrutural mais utilizado na


Scandinávia (cerca de 80% do total) mas é pouco utilizada no Brasil,
apesar do crescimento recente, mesmo sendo responsável por 20%
das reservas florestais mundiais. No Brasil, a maioria da madeira
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utilizada é natural, quando não ilegal, e na Europa é comum utilizar


madeira reciclada. Ainda domina em algumas regiões do Brasil, como
na região nordeste, o uso da madeira de maneira não industrializada e
artesanal, o que impede o desenvolvimento tecnológico necessário
para a disseminação do seu uso.

Uma frase dita por Hélio Olga Jr., engenheiro diretor da Ita
Construtora, ilustra o atual desenvolvimento da tecnologia da
madeira no Brasil: “Há muito mais tecnologia em qualquer ponte do
século XIX do que no nosso sistema construtivo. A minha casa, por
exemplo, é um conjunto simples de treliças que qualquer engenheiro
seria capaz de calcular”.

1.4 FISIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DAS ÁRVORES

A madeira tem um processo de formação que se inicia nas raízes. A


partir delas é recolhida a seiva bruta (água + sais minerais) que em
movimento ascendente pelo alburno atinge as folhas. Na presença
de luz, calor e absorção de gás carbônico ocorre a fotossíntese
havendo a formação da seiva elaborada. Esta em movimento
descendente (pela periferia) e horizontal para o centro vai se
depositando no lenho, tornando-o consistente como madeira (figura
1.4).

As duas grandes classes de árvores são as gimnospermas e as


angiospermas. As gimnospermas são árvores coníferas e resinosas,
não possuindo frutos. As angiospermas são divididas em
monocotiledônias (palmas e gramíneas) e dicotiledônias. O
cotiledone é a primeira folha que surge quando da germinação da
semente. As monocotiledônias produzem madeiras de pouca
durabilidade, como o bambu.

As árvores para aplicações estruturais são classificadas em dois


tipos quanto à sua anatomia: coníferas e dicotiledôneas.

As coníferas são chamadas de madeiras moles, pela sua menor


resistência, menor densidade em comparação com as dicotiledôneas.
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Têm folhas perenes com formato de escamas ou agulhas; são típicas


de regiões de clima frio. Os dois exemplos mais importantes desta
categoria de madeira são o Pinho do Paraná e os Pinus.

As dicotiledôneas são chamadas de madeiras duras (ou de lei) pela


sua maior resistência; têm maior densidade e aclimatam-se melhor em
regiões de clima quente. Como exemplo temos praticamente todas as
espécies de madeira da região amazônica. Podemos citar mais
explicitamente as seguintes espécies: Peroba Rosa, Aroeira, os
Eucaliptos (Citriodora,Tereticornis, Robusta, Saligna, Puntacta,
etc.), Garapa, Canafístula, Ipê, Maçaranduba, Mogno, Pau Marfim,
Faveiro, Angico, Jatobá, Maracatiara, Angelim Vermelho, etc.

A madeira é um material anisotrópico, ou seja, possui diferentes


propriedades em relação aos diversos planos ou direções
perpendiculares entre si. Não há simetria de propriedades em torno
de qualquer eixo.

Figura 1.4 – Processo de crescimento das árvores

1.5 DEFEITOS DA MADEIRA

As peças de madeira podem apresentar defeitos tais como:


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A) Nós - Imperfeições nos pontos onde existiam galhos. Os


galhos vivos na época do abate da árvore produzem nós firmes
e os galhos mortos produzem nós soltos, estes últimos podem
cair durante a serragem da peça produzindo furos. Nos nós, as
fibras longitudinais sofrem desvios de direção o que baixa a
resistência à tração.

B) Fendas – Aberturas nas extremidades das peças, produzidas


pela secagem mais rápida da superfície. Podem ser evitadas
mediante a secagem lenta e uniforme da madeira.

C) Gretas ou ventas – Separação entre os anéis anuais,


provocada por tensões internas devidas ao crescimento
lateral da árvore, ou por ações externas, como flexão devida
ao vento.

D) Arqueadura – Encurvamento na direção longitudinal, isto é,


do comprimento da peça.

E) Abaulamento – Encurvamento na direção da largura da peça.

F) Fibras reversas – Fibras não paralelas ao eixo da peça,


podem ser provocadas por causas naturais ou serragem. As
causas naturais devem-se a proximidade de nós ou ao
crescimento das fibras em forma de espiral. A serragem da
peça em plano inadequado pode produzir peças com fibras
inclinadas em relação ao eixo. As fibras reversas reduzem a
resistência da madeira.

G) Esmoada ou quina morta – Canto arredondado, formado


pela curvatura natural do tronco. A quina morta significa
elevada proporção de alburno.

A figura 1.5 ilustra os principais defeitos da madeira.


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Figura1.5–A)Nó; B)1/2/3 Rachadura provocada por


ressecamento; C)1. Anel de Crescimento 2.
Cerne; D) Arqueamento; E) Encurvamento; F) Fissuras de
comportamento das fibras;

1.6 SISTEMAS ESTRUTURAIS PARA COBERTAS EM MADEIRA

As cobertas não podem existir sem que exista um sistema


estrutural incorporado a sua concepção. A noção de que a
concepção estrutural vem depois é errônea porque, para qualquer
que seja a proposta, esta já contém uma complexidade e
funcionamento estrutural implícito, mesmo que esta não seja a
intenção do projetista.

Neste contexto é necessário analisar os conceitos e a


classificação dos sistemas estruturais para se ter uma biblioteca de
possibilidades estruturais que podem ser utilizadas no projeto.

Alguns conceitos estruturais são universais no sentido de que


são aplicáveis a qualquer matéria existente, desde ao próprio corpo
humano até em grandes estruturas civis. Estes conceitos, embora
geralmente não possam isoladamente inviabilizar uma determinada
concepção projetual, têm influência decisiva no seu custo e
viabilidade técnica, além de influenciar na forma e no funcionamento
da edificação. Em alguns casos, estes conceitos, quando não
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observados, podem conduzir a concepções inviáveis no sentido mais


amplo da palavra.

Os conceitos estruturais universais mais fundamentais são:

a) Caminho das forças – a solução que contenha o menor


caminho das cargas até os apoios é a melhor solução do ponto
de vista puramento físico. Isto também implica que se tivermos
soluções com muitos caminhos até o apoios como na figura
1.6, os seus elementos constituintes são menos espessos. Ex.
encontro de vigas nos apoios são mais eficientes do que
encontro de vigas fora dos apoios.

Figura 1.6 pilares árvore (fonte: Rebello, 2000)

b) Fraqueza dos gigantes (efeito escala estrutural)– os


esforços variam com o quadrado dos vãos e portanto as
soluções para pequenos vãos são geralmente diferentes do
que para grandes vãos. Ex. Uma viga em madeira não será capaz
de vencer um grande vão mas um arco em madeira vencerá um
grande vão com relativa facilidade. A figura 1.7 mostra vários
sistemas estruturais possíveis, dependendo da eficiência
requerida, que é diretamente relacionada ao vão envolvido.
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Figura 1.7 Eficiência estrutural (fonte: Macdonald, 2000)

c) Estabilidade – as condições mínimas de apoio e engastamento


entre elementos estruturais devem ser cumpridas. Ex. um
pórtico simples pode se tornar instável, e portanto inviável
fisicamente, se todas as ligações entre seus elementos são
flexíveis ou rotuladas (figura 1.8).
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Figura 1.8 Pórtico estável e instável (fonte: Dias, 2009)

d) Momento de inércia – seções transversais ou perfis


longitudinais que conduzam a um maior afastamento das
massas com relação ao(s) eixo(s) de gravidade são mais
eficientes (figuras 1.9 e 1.10). Ex. pilares ocos são muito mais
eficientes do que pilares cheios e vigas Viereendel são mais
eficientes do que vigas de alma cheia.

Figura 1.9 Folha de papel reta e dobrada (fonte: Rebello,


2000)
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Figura 1.10 Viga de alma cheia sendo transformada em viga


Vierendeel (fonte: Dias, 2009)

e) Hierarquia dos esforços – estruturas sujeitas à flexão são


menos eficientes do que estruturas sujeitas à compressão, que
por sua vez são menos eficientes do que estruturas sujeitas à
tração. Ex. cabos são muito mais eficientes do que pilares, que
por sua vez são mais eficientes do que vigas. Por este motivo as
soluções que envolvem cabos são visualmente e fisicamente
mais leves do que soluções sem cabos.

Os principais sistemas estruturas utilizados em cobertas em


madeira são:

a) Arqueados

O comportamento dos sistemas arqueados é oposto ao


comportamento dos sistemas com cabos (figura 1.11). É
importante notar que nem sempre uma forma arqueada
conduz a arcos verdadeiros, dependendo da disposição
das cargas.

Figura 1.11 Arcos verdadeiros

A figura 1.12 mostra o pré-dimensionamento de arcos.


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Figura 1.12 Pré-dimensionamento de arcos em madeira


(fonte: Rebello, 2007)

b) Treliçados

As treliças podem ser definidas sumariamente como


estruturas formadas por triângulos com cargas nos nós.
Os elementos das treliças são: banzos (inferiores e
superiores), diagonais e montantes (figura 1.12). Depois
dos banzos, as diagonais são os elementos que tem maior
magnitude de esforços.

Figura 1.12 Treliças de banzos inclinados, Bowstring e


de banzos paralelos.

Os tipos mais usuais de treliça são: a) Pratt que


apresentam as diagonais tracionadas e montantes
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comprimidos (figura 1.13), b) Howe com diagonais


comprimidas e montantes tracionados, c) Warren que não
apresentam montantes, d) Fink e e) Bowstring.

Figura 1.13 Treliças

As treliças Howe são as mais utilizadas em sistemas


treliçados em madeira porque as diagonais, sendo
comprimidas, podem ser encaixadas (sambladuras)
permitindo maior economia nas ligações, já que estas tem
esforços maiores do que os montantes.

Os tipos de treliçamento são: em diagonal, em X, em K


e em Y. O tipo de treliçamento é governado por dois
fatores: a exigência de se formar triângulos e a
diminuição dos comprimentos das barras comprimidas.
Deste modo é mais comum o uso de treliçamentos em K ou Y
em treliças mais altas onde as diagonais ou montantes tem
comprimentos maiores.

O pré-dimensionamento das treliças é dado na figura


1.14.

Figura 1.14 Pré-dimensionamento de treliças (fonte Rebello, 2007)


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c) Viga-pilar

Os sistemas viga-pilar são utilizados para vãos


pequenos e quando não é viável se ter uma ligação rígida
entre a viga e o pilar.

A figura 1.15 mostra o pré-dimensionamento das vigas em


madeira.

Figura 1.15 Pré-dimensionamento de vigas de madeira

O pilar poderá sofrer os efeitos de uma instabilidade


chamada de flambagem quando muito esbelto (menor
dimensão reduzida). A figura 1.16 mostra o pré-
dimensionamento de pilares para cobertas em madeira.

Figura 1.16 Pré-dimensionamento à flambagem de pilares


em madeira

d) Aporticados
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Os sistemas aporticados são formados de vigas e


pilares conectados rigidamente. Em princípio, a sua
execução é trabalhosa por conta da dificuldade de
garantir uma rigidez adequada aos nós, geralmente só
alcançada com parafusos, chapas metálicas e colas
especiais.

A figura 1.17 mostra o pré-dimensionamento de


pórticos em madeira.

Figura 1.17 Pré-dimensionamento de pórticos em


madeira

e) Vagonados

As vigas vagonadas são formadas por vigas principais,


montantes e tirantes (cabos). Tem sido muito utilizada em
estruturas de madeira porque podem aumentar o vão
vencido por vigas convencionais devido a sua maior
eficiência (figura 1.18).

Figura 1.18 Viga vagonada

A figura 1.19 mostra o pré-dimensionamento de vigas


vagonadas.
19

Figura 1.19 Pré-dimensionamento de vigas vagonadas em madeira


(Fonte: Rebello, 2007)

Todos sistemas estruturais citados podem ser utilizados de


modo a trabalharem em mais de uma direção, formado as estruturas
chamadas multi-direcionais. Dentro desta categoria se enquadram as
geodésias (formadas por arcos), as superfícies de dupla curvatura
(formadas por vigas ou arcos) e as grelhas (formadas por vigas).

A tabela 1.1 mostra esquemas, vãos e pré-dimensionamento de


sistemas estruturais em madeira laminada colada (MLC).

Tabela 1.1- Pré-dimensionamento de estruturas em MLC (fonte:


www.Holzbau.com)

Elemento Esquema Vãos (m) Altura (h)

Viga reta <30 l/17

Viga 10-30 H=l/16 e


angular h=l/30

Viga 10-30 l/20


contínua

Viga em <15 l/10


balanço

Treliça 30-80 l/14


reta
20

Treliça 30-80 l/8


angular

Treliça 30-80 l/12


trapeizoidal

Treliça Fink 20-100 H=l/40

Pórtico 15-25 (s1+s2)/13


angular
rotulado

Arco 20-100 l/50


rotulado

Superfície 15-60 f1=f2=l/70


de dupla
curvatura

Grelha 15-25 l/20

a2=2.4 a 7.2
m

1.7 RELAÇÃO ENTRE ENGENHEIROS E ARQUITETOS

Macdonald (2001) define três relações possíveis entre


engenharia e arquitetura quando da concepção da edificação:
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a) Arquiteto definidor da forma e engenheiro calculista.


b) Engenheiro-arquiteto.

c) Arquitetos e engenheiros co-autores do projeto.

Uma análise destas relações mostra que hoje há exemplos de


projetos elaborados seguindo as três relações. As perguntas que
surgem são diretamente relacionadas à que tipo de relação é mais
produtiva ou conveniente.

Alguns questionamentos são automáticos:

a) Onde começa e termina o trabalho do arquiteto ou


engenheiro?

b) O detalhamento de ligações e apoios é tarefa do


engenheiro ou arquiteto?

c) Quem concebe a estrutura?

d) Quem define quais são os materiais mais apropriados?

Vários arquitetos e engenheiros consagrados já deixaram


claro a importância da cooperação e entendimento mútuo para que
os melhores resultados sejam obtidos tanto com relação a
segurança, durabilidade e economia quanto com relação a estética e
funcionalidade. Na verdade, os objetivos da engenharia e
arquitetura devem convergir para suprir as necessidades do cliente
de modo a equalizar e integralizar conceitos, às vezes inicialmente
antagônicos, e não para hierarquizar princípios, podendo conduzir,
por exemplo, a soluções esteticamente desagradáveis ou
economicamente inviáveis.

Santiago Calatrava, arquiteto-engenheiro de inegável


notoriedade, em visita ao Brasil afirmou: “Para mim, é justamente o
rigor da engenharia que alça a arquitetura a um patamar mais
elevado”.

A frase dita por Ziegbert Zanettini, arquiteto autor de diversas


obras notáveis no Brasil, talvéz resuma os objetivos deste curso: "É
impossível, nos dias de hoje, conceber qualquer tipo de construção
sem que a tecnologia esteja inserida em seu contexto...E, é este
22

encontro, equilibrado e harmônico, entre o mundo racional e


sensível, que garante à construção a qualidade estética e
estrutural, que uma verdadeira obra de arte, como geralmente são
os frutos da arquitetura, deve possuir"
23

2 MATERIAIS UTILIZADOS

2.1 MATERIAIS ESTRUTURAIS PARA COBERTAS

Há diversos materiais estruturais que podem ser utilizados em


cobertas. A escolha do material mais adequado dependerá de
diversos fatores. A tabela 2.1 mostra as vantagens e desvantagens
dos principais materiais estruturais. No caso da madeira, algumas
propriedades como durabilidade e peso não são consideradas como
vantagens ou desvantagens pois são bastante dependentes das
condições de utilização e também do nível de comparação com
outros materiais.

Tabela 2.1 – Vantagens e desvantagens dos materiais estruturais

Material Vantagens Desvantagens

Aço Baixo peso Custo inicial


Facilidade de execução e reforma Corrosão
Reciclabilidade Resistência ao fogo
Racionalização de mão de obra e materiais
Resistência
Concreto Baixo custo inicial Alto peso
Facilidade de execução Dificuldades em reformas
Adaptabilidade a formas complexas Proteção térmica
Durabilidade Velocidade de execução
Vidro Baixo peso Fragilidade
Transparência Custo inicial
Durabilidade
Reciclabilidade
Alumínio Baixo peso Custo inicial
Facilidade de execução e reforma Resistência
Racionalização de mão de obra e materiais Fadiga
Reciclabilidade Deformabilidade
Madeira Reciclabilidade Custo inicial
Consumo de energia Combustibilidade
Velocidade de execução Anisotropia
Estética higroscopiscidade
Maleabilidade
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A tabela 2.2 resume as características mais importantes de


vários materiais.
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Tabela 2.2 Características dos materiais (fonte: diversas)
Eficiência: Resistência Condut.
Preço Dens. Módulo de Característica Durabili Reutiliza Facilidade de Coef. dilatação
Material Resistencia/ Reciclabilidade térmica
(R$/kg) (kg/m³) elasticidade (Mpa) dade Cão obtenção térmica (m/°C)
Densidade (10-3) (MPa) (W/m/ºC)

ALVENARIA 0.05 1485.00 0.37 300-800 1-10 (C) excelente Ruim ruim excelente 0.000006 0,46

CONCRETO 0.1 2400.00 1.35 2800 15 -50 (C) excelente Boa ruim excelente 0.000012 1,75

PLACA
CIMENTÍCIA 2.7 1700.00 0.82 6500 14 (C) excelente excelente ruim excelente 0,000014 0,65

ARGAMASSA 1.10 2100.00 0.33 980 - 8500 1.2 - 12.5 (C) excelente Boa ruim excelente 0.00001 0,70

VIDRO COMUM 0.55 2500.00 1.60 74000 4 (F) excelente Muito boa excelente muito boa 0.00001 0,80

VIDRO
TEMPERADO 1.22 2500.00 6.40 74000 12-20 (F) excelente Muito boa excelente muito boa 0.00001 0,81

VIDRO
LAMINADO 1.60 2500.00 1.60 74000 4 (C) excelente Muito boa excelente muito boa 0.00001 0,82

GALVALUME 6.24 4600.00 6.63 13600 205 - 405 (T) excelente Muito boa excelente muito boa 0.00002 64.65

MADEIRA (Ipê) 2.00 1030.00 0.78 13620 3.7 – 12.4 (C) boa Ruim péssimo muito boa 0,000045 0,20

TITÂNIO 78.00 4507.00 19.8 11600 895 (tração) excelente excelente excelente péssimo 0.000086 22

ALUMÍNIO 6.23 2600.00 5.77 7000 150 (tração) excelente Boa excelente muito boa 0,000023 240,00

AÇO COMUM 3.10 7800.00 3.33 20600 150 - 370 boa Boa excelente muito boa 0,000012 50,00

AÇO
GALVANIZADO 4.77 7800.00 3.33 20600 150 - 370 muito boa Boa excelente muito boa 0.000012 50,00

AÇO ZINCADO 4.82 7800.00 3.33 20600 150 - 370 muito boa Boa excelente muito boa 0.000012 52,00

AÇO COR420 3.15 7800.00 3.33 20600 150 - 370 muito boa Boa excelente muito boa 0.000012 50,00

AÇO INOX 23.50 7800.00 3.33 20600 150 - 370 muito boa Boa excelente muito boa 0.000015 50,00

COBRE 16.00 8900.00 1.04 10566 85 - 100 muito boa Ruim excelente boa 0.000016 398,00

OURO 73.500.00 19300.00 - 78000 - excelente excelente excelente péssimo 0.000014 0.28
26

2.2 A CULTURA DA MADEIRA E APLICABILIDADE EM COBERTAS

Apesar de ser um dos principais materiais estruturais, a madeira


não está diretamente associada com grandes edificações
desenvolvidas no Brasil. A madeira é comumente usada como
elementos horizontais de pisos e estrutura de telhados (cobertas).
Em outras palavras, não faz da nossa cultura encarar a madeira
como um material capaz de vencer grandes desafios estruturais ou,
embora com alterações significativas nos últimos anos, como um
material industrializado, capaz de conduzir a uma alta produtividade
a custos reduzidos.

Na Europa e estados unidos, além da consciência sustentável


do seu uso ser bem maior, a madeira é encarada como tendo as
mesmas potencialidades estruturais do aço e também como uma
indústria altamente produtiva capaz de atender a um grande público.

Outro aspecto ligado a nossa cultura é que estruturas em


madeira estão comumente ligadas a usos rurais ou rústicos,
incluindo os materiais para telhas. Deste modo é comum o uso de
telhas metálicas ou a associação com outros materiais ditos
modernos serem rejeitadas. A madeira junto com o aço, por exemplo,
pode ser perfeitamente utilizada em contextos contemporâneos e até
em requalificação de sítios históricos.

É importante lembrar que a melhor solução para cobertas está


intrinsicamente ligada a correta escolha do sistema estrutural.

2.3 PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA

As principais propriedades físicas da madeira são:

A) Anisotropia : A madeira apresenta 3 (três) direções principais


longitudinal, radial e tangencial. Para o dimensionamento
importam as propriedades nas direções das fibras principais e na
direção perpendicular a elas.
27

B) Umidade: A umidade da madeira tem grande importância sobre as


suas propriedades. O grau de umidade é o peso da água contida na
madeira expresso como uma percentagem do peso da madeira seca
em estufa. A quantidade de água retida nas células das madeiras
recém cortadas ou verdes varia muito com as espécies e estações
do ano. A umidade é cerca de 50% nas madeiras mais resistentes
podendo chegar a 100% nas muito macias. A umidade na madeira
verde se apresenta sob três formas: água de constituição (fixada
no protoplasma das células vivas); água de impregnação ou de
adesão (que satura a parede das células); água livre ou de
capilaridade (que enche os canais do tecido lenhoso). Exposta ao
meio ambiente, a madeira perde umidade continuamente até atingir
um ponto de equilíbrio, que depende da umidade atmosférica, assim
é chamada seca ao ar. A madeira seca ao ar apresenta teores de
umidade entre 10% e 30%. No Brasil adota-se como condição
padrão de referência para as propriedades de resistência e
rigidez a umidade de equilíbrio de12%

C)Retração da madeira : A madeiras sofrem retração ou


inchamento com a variação da umidade, o fenômeno é mais
importante na direção tangencial, sendo, na direção radial,
cerca de metade da tangencial. Na direção longitudinal a
retração é menos pronunciada. A variação volumétrica é
aproximadamente igual a soma das três retrações lineares
ortogonais.

D) Dilatação linear: O coeficiente de dilatação linear das


madeiras, na direção longitudinal, varia de 0,3.10-5 a 0,45.10-5 oC,
sendo 1/3 menor do que o coeficiente de dilatação do aço. Na
direção tangencial ou radial o coeficiente fica na ordem de
4,5.10-5 oC.

E) Deterioração da madeira : a madeira está sujeita a ação de


ataques biológicos e a ação do fogo. A vulnerabilidade da
madeira de construção ao ataque biológico depende da camada
28

do tronco onde foi extraída a madeira, da espécie da madeira,


pelas condições ambientais, contato com o solo e água.
Utilizando-se tratamento químico pode-se aumentar a capacidade
da madeira aos ataques biológicos. Por ser combustível é
frequentemente considerada um material de pequena resistência
ao fogo, porém quando corretamente projetadas e construídas,
apresentam ótimo desempenho à ação do fogo. As peças robustas
de madeira, possuem excelente resistência ao fogo, pois se oxidam
lentamente devido à baixa condutividade de calor, guardando um
núcleo de material íntegro. As peças esbeltas de madeira e as
peças metálicas das ligações requerem proteção contra a ação
do fogo.

2.4 TIPOS DE MADEIRA

Os principais tipos de madeira que podem ser utilizadas em


cobertas estão listadas na tabela 2.3. As principais madeiras
utilizadas no Brasil estão em maiúsculo. A sucupira, peroba rosa,
angelim vermelho, canafístula e andiroba são raramente utilizadas
em cobertas, especialmente na região nordeste.

O bambu não é muito utilizado em cobertas no Brasil, ficando


limitado a estruturas de pequena envergadura ou temporárias, pois a
sua durabilidade é extremamente dependente do tipo de tratamento a
que é submetido. A árvore do coqueiro, sendo classificada como
monocotiledônia, é também pouco utilizada em cobertas devido a sua
baixa durabilidade.

A principal madeira de reflorestamento do Brasil é o eucalipto


citriodora por ter um crescimento rápido e boas propriedades
físicas, embora plantações comerciais na região nordeste do Brasil
ainda sejam escassas.

A maçaranduba é a madeira mais utilizada em cobertas na região


nordeste, seguida pelo ipê e o cumaru. A maçaranduba não deve ser
utilizada quando exposta às intempéries pois aparecem fendas, que
podem prejudicar a sua resistência mecânica. Nestes casos
recomenda-se utilizar o ipê ou o cumaru.
29

Tabela 2.3 – Madeiras que podem ser utilizadas em cobertas (fontes:


Moliterno, 1981 e www.ibama.com.br)

Nome Origem Corte D E σp σm


(kg/m3) (kg/cm2) (kg/cm2) (kg/cm2)

Sucupira Pará 880 114000 113 27

MAÇARANDUBA Pará 1200 183000 130 39

Angelim vermelho Pará 1090 153000 123 21

Peroba rosa São Paulo 780 94250 85 25

EUCALIPTO São Paulo 1000 136000 100 30


CITRIODORA

Canafístula Maranhão 870 127000 99 22

Jatobá Pará 970 146000 112 20

Ipê amarelo Roraima 1030 153800 148 30

IPÊ Pará 990 121000 138 41

CUMARU Pará 910 162000 139 42

Andiroba Amazonas 720 116000 75 22

Pinho do Paraná Paraná 540 105225 51 15

Nota: D- densidade a 15% de umidade, E- módulo de elasticidade, σp – resistência admissível


à compressão paralela as fibras, σm – resistência admissível à compressão perpendicular as
fibras.
30

2.5 TIPOS DE PERFIS DE MADEIRA

Os tipos de perfis utilizados em estruturas em madeiras são:

A) Perfis serrados ou maciços. Ex. Linhas, caibros, ripas,


sarrafos, toras, etc.
B) Perfis Laminados – Ex. compensados, OSB, MDF, etc.
C) Perfis laminados e colados (MLC) – são associações de
perfis laminados colados um sobre os outros de modo a
se obter um perfil mais alto e mais longo.

As seções comerciais para perfis serrados (região nordeste) são:

 Ripas: 4x1.5 cm e 4x2 cm.


 Linhas ou vigas: 3”x4” (7x9.5 cm), 3”x5” (7x12 cm), 3”x6”
(7x14.5 cm), 3”x8” (7x19.5 cm), 3”x10” (7x24.5 cm), 3”x12”
(7x29.5 cm).
 Caibros: 5x3.5 cm e 7x4.5 cm (caibrão, 3”x2”).
 Pontaletes: 7x7 cm (3”x3”) e 10x10 cm (4”x4”).
 Mourões: 15x15 cm e 20x20 cm.
 Sarrafos: 5x2.5 cm, 10x2.5 cm e 15x2.5 cm.
 Tábuas: 20x2.5 cm e 30x2.5 cm.
 Pranchas: 40x5 cm, 50x5cm, etc.

Estas seções estão baseadas no padrão americano embora já


existam perfis em outro padrão, mais utilizados no sul do Brasil:

 Ripas: 1.5x5 cm.


 Linhas ou vigas: 6x12 cm, 6x16 cm, 6x20cm e 6x20cm.
 Caibros: 5x6 cm.
 Pontaletes: 7.5x7.5 cm e 10x10 cm.

As limitações nas dimensões dos perfis estão listadas na tabela


2.4.
31

Tabela 2.4 Dimensões mínimas de perfis segundo a nbr


7190/1997

É importante lembrar que os comprimentos das peças em


madeira são limitados. Na maioria dos casos, as linhas tem
comprimento máximo de 8m, podendo chegar a 10m em situações
especiais mas os caibros, ripas, tábuas e sarrafos têm comprimentos
máximos de 5m. Os pontaletes e mourões também têm comprimentos
máximos reduzidos.

2.6 A MADEIRA LAMINADA COLADA (MLC)

A fabricação da madeira laminada colada reúne duas técnicas


bastante antigas. Como o próprio nome indica, a mesma é concebida a
partir da técnica de colagem aliada à técnica da laminação. A junção
das duas técnicas, para dar origem à Madeira Laminada-Colada (MLC),
empregada na fabricação de elementos estruturais a serem
utilizados na construção civil, só foi possível com o surgimento de
colas de alta resistência.

A partir de 1940, com o aparecimento das colas sintéticas, a


MLC começa o seu grande progresso. A técnica, que de certa forma
surge também da necessidade de utilização da madeira de
reflorestamento, basicamente formada por pinus (coníferas)
encontrado em abundância em países do hemisfério norte, encontrou
nessa madeira de fácil beneficiamento, a sua grande aliada.

A aplicação da MLC pode ser vista sob as mais variadas formas


estruturais. O seu emprego vai desde pequenos passadiços, escadas e
abrigos até grandes estruturas concebidas sob as mais variadas
formas estéticas. São destinadas a cobrir vãos de até 100 metros
32

sem apoio intermediário. Como exemplo, pode-se citar a obra do Hall


de Tours, na França, com 98 metros de vão livre, assim como, o
Palais d’Exposition d’Avignon, também na França, que tem mais de 100
metros de vão livre.

As vantagens da MLC são:

A) Em comparação com as estruturas de madeiras feitas com


peças maciças, os elementos concebidos em MLC exigem um
número bem menor de ligações, uma vez que são previstos para
grandes dimensões.

B) A possibilidade de realizar seções de peças, não limitadas


pelas dimensões e geometria do tronco das árvores.

C) A possibilidade de fabricar peças de comprimento limitado


apenas pelas circunstâncias de transporte.

D) A possibilidade de obter peças com raio de curvatura


reduzido, variável e até mesmo em planos diferentes.

E) A possibilidade de vencer grandes vãos livres.

F) A eliminação inicial de defeitos naturais, o que permite uma


reconstituição que conduz a uma distribuição aleatória dos
defeitos residuais, no interior do produto final.

G) A possibilidade de tratamento da madeira, tábua por tábua, em


autoclave, o que confere enorme eficiência e garantia que pode
chegar até 50 anos contra o ataque de fungo e insetos
xilófagos.

H) Um ganho nas tensões médias de ruptura e uma redução na


dispersão estatística de seus valores.

I) Sob o ponto de vista a “normalização permite ainda a


atribuição aos elementos estruturais de MLC, de uma
resistência mecânica ligeiramente superior às da madeira
maciça de qualidade equivalente (cerca de 10%).

J) A vantagem da pré-fabricação, que pode ser traduzida em


racionalização da construção e ganho de tempo na montagem e
entrega da obra.
33

K) É de uma qualidade estética indiscutível, o que pode ser


largamente explorado pelos arquitetos e engenheiros, na
composição de um conjunto agradável e perfeitamente
integrado ao ambiente.

L) A leveza dessas estruturas oferece também maior facilidade


de montagem, desmontagem e possibilidade de ampliação. Além
disso, o peso próprio reduzido, se comparado com outros
materiais, pode significar economia nas fundações.

Normalmente, as espécies mais aconselhadas para o emprego em


MLC são as das coníferas e algumas dicotiledôneas, com massa
volumétrica entre 0,40 e 0,75 g/cm³. De qualquer maneira, devem ser
evitadas as madeiras com alta taxa de resina ou gordura. No Brasil
há várias aplicações de MLC em eucalipto.

A produção de elementos de MLC de alta qualidade, necessita


de uma indústria especialmente organizada para tal finalidade. Por
outro lado, desde que não sejam muitos os elementos a
serem produzidos e que não sejam de grandes dimensões, é também
possível a sua composição de forma artesanal.Três grandes etapas
devem ser observadas no processo de fabricação das estruturas em
MLC:

1ª etapa – A preparação da madeira antes da colagem


compreende a recepção, a classificação visual, a eliminação
dos grandes defeitos, o armazenamento, a secagem, a união
longitudinal entre as tábuas e o armazenamento antes da
colagem.

2ª etapa – Essa etapa compreende a aplicação da cola, a


composição do elemento, a conformação do elemento sobre um
gabarito (também chamado berço) e a aplicação da pressão de
colagem (figura 2.1).
34

3ª etapa – É a fase do acabamento que compreende o


aplainamento lateral, o recorte das extremidades do elemento
estrutural, executar certos furos e encaixes previstos nas
ligações e a aplicação final de um preservante ou simplesmente
um selador ou verniz.

Figura 2.1 – 2ª etapa: colagem (fonte:


www.portaldamadeira.blogspot.com)

Para se conseguir grandes comprimentos, é necessário


executar emendas longitudinais entre as tábuas e que sejam
extremamente eficientes. Essas emendas, que na época do surgimento
da técnica da MLC eram executadas apenas de topo, sem nenhuma
garantia de continuidade, evoluíram para as emendas em diagonal,
depois em cunha e atualmente as mais eficientes, que são realizadas
por entalhes múltiplos (finger-joints, figura 2.2).
35

Figura 2.2 Junta finger-joint intacta, com ruptura e acabada (fonte:


www.itaconstrutora.com.br)

2.7 MATERIAIS DE COBERTURA: TELHAS

Vários materiais, em sua maioria industrializados, podem ser


utilizados como telhas.

A tabela 3.2 mostra uma variedade de telhas que podem ser


utilizadas em cobertas em madeira. Esta tabela é apenas orientativa e
não substitui a consulta indispensável ao catálogo do fabricante.

Tabela 2.4: Tabela orientativa de telhas (fonte: catálogos dos


fabricantes)

TIPO MATERIAL DIM. PADRÃO Peso Esp. ripas Incl. mínima (%)
(kg/m2) ou terças
(m)
Thermocom Fibro- 1.83x1.10m 18 Até 1.69m 18 s/ vedação
fort tégula cimento 9 c/ vedação
Telhas concreto - 49-54 32 cm 30 outras
Tégula 50 p/plana
Telhas Cerâmica - 40-50 28-32 cm 25
simples
Telhas Cerâmica - 40-50 28-32cm 30
duplas
Perkus Argila - 35 36.5 cm 35
microgran
Ecológica Material larg: 0.95 m 4.2 até 60 cm 10
ou reciclável comp: 2.00 m
Onduline
Sanduíche Alumínio larg: 1.26 m 7-12 até 4m 5
(termo- ou
acústica) galvalume
36

Fibrotex Fibro- larg: 0.506 m 9 Até 1.15m 27


(Brasilit) cimento comp:1.22,
,2.13, 2.44 m
Ondulada Fibro- larg: 1.10 m 18 para até 1.69 m 9
(Brasilit) cimento comp:1.53, 6mm para 6mm e
1.83,2.13, 2.44 24 para até 1.89 m
m 8mm para 8mm
Gravicolor Galvalume 43x119cm 6.2 39.8cm 12
Colina
(Brasilit)
Colonial Fibro- 62x82cm 15 53 cm 26
(Brasilit) cimento

É importante lembrar que as telhas cerâmicas e de concreto


absorvem umidade e podem aumentar significativamente o seu peso
por conta disto.

No caso de telhas cerâmicas, a inclinação a ser utilizada na


coberta depende da projeção horizontal do telhado e do tipo de
telha utilizado (figura 2.3). Para telhas simples (colonial, paulista,
etc.) a inclinação requerida é geralmente menor do que para telhas
duplas (portuguesa, duplanatex, etc.).

Figura 2.3 inclinações para telhados em telhas cerâmicas

2.8 MATERIAIS DE VEDAÇÃO

A tabela 2.5 mostra uma variedade de materiais de vedação que


podem ser utilizados em cobertas. Para maiores detalhes sobre
cumieiras, rincões e espigões ver cap. 3 e 4.

Pode-se utilizar materiais cimentícios como vedação de


cobertas em madeira, especialmente quando as telhas são de fibro-
cimento, cerâmicas ou de concreto. É aconselhável utilizar manta
asfáltica em qualquer caso. Para casos mais localizados como
37

furos pode-se utilizar mantas aluminizadas autocolantes (como a


Brasitape da Brasilit).

Tabela 2.5: Tabela orientativa de vedações (fonte: catálogos dos


fabricantes)

TIPO MATERIAL DIMENSÕES ESPESSURAS


PADRÃO (mm)

Calhas Fibra de feitas in loco variável


vidro

Calhas Aço galv. ou Rolos com 1.0 ou 1.2 mm


galvalume larg. variável

Calhas Alumínio Rolos com 0.8 e 1.0 mm


larg. variável

Rufos e Aço galv. ou Rolos com 1.0 ou 1.2 mm


contra-rufos galvalume larg. variável

Rufos e Alumínio Rolos com 0.8 ou 1.0 mm


contra-rufos larg. variável

Cumieiras Material da Depende do tipo variável


telha de telha

Espigões Material da Depende do tipo varíavel


telha de telha

Rincões Material de Dimensões para variável


calhas calhas
38

3 CONCEPÇÃO
Algumas perguntas devem ser feitas antes de conceber uma
coberta:

 Que expressão ela deve ter?


 O que as pessoas devem sentir quando vêem a estrutura
ou a forma?
 Como vai ficar a eficiência energética?
 Os materiais são adequados ao que foi proposto?
 Como ela ficará com o passar do tempo?
 Como ela será executada?
 Quais as restrições do projeto?

Sabendo dessas respostas, a concepção será mais adequada e


poderá satisfazer as necessidades do projeto.

Para melhor compreensão, apresentamos algumas definições e


conceitos acerca da concepção de uma coberta. Existem três partes
principais que definem uma coberta (Figura 3.1):

a) estrutura primária (principal);

b) estrutura secundária (trama ou terças);

c) elementos de fechamento (telhas).


39

Figura 3.1 Partes principais de uma coberta em madeira (a


tesoura é a estrutura principal)

Pode-se explicar o funcionamento de cada parte através do


caminhamento dos esforços. Um carregamento incide diretamente
nos elementos de fechamento (vento e sobrecargas, por exemplo) e
estes transmitem os esforços para a estrutura secundária que por
sua vez transmitem os esforços para a estrutura primária que se
apóia na estrutura existente ou nas fundações.

Deve-se observar que em algumas cobertas, certas partes


podem funcionar juntas, formando um só elemento. Por exemplo, em
cobertas com elementos cruzados, em forma de abóbadas ogivais,
arco pleno ou arco abatido, onde sua estrutura é feita a partir de
laminas da madeira, as estruturas primária e secundária se
confundem (Figura 3.2).
40

Figura 3.2 Abóbada lamelar (fonte: Moliterno, 2010)

3.1 FASES DE CONCEPÇÃO

Pode-se estabelecer um procedimento ou check list a ser


seguido quando da concepção de uma coberta em madeira, como
segue:

a) Definição de possíveis apoios.


b) Definição do material estrutural e de cobertura, inclusive
inclinação mínima.
c) Definição do sistema estrutural.
d) Definição da forma geral.
e) Definição de interferências funcionais de acordo com o uso.
f) Definição de tipos de apoio e ligações.
g) Definição do sistema de vedação, impermeabilização e coleta ou
despejo de águas de chuva (calhas e tubos de queda).
h) Definição do impacto no meio ambiente ou medidas ambientais.

Alguns destes itens são comentados nos itens a seguir.

3.2 ELEMENTOS DE COBERTAS EM MADEIRA

As cobertas são constituídas dos seguintes elementos


estruturais ou auxiliares (Figura 3.3):

a) Estrutura principal – arcos, tesoura, vigas, pilares,


estruturas vagonadas, etc.
41

b) Estrutura secundária – trama (ripas, caibros e terças) ou


terças.
c) Contraventamento (ou contravento) – enrijecedores,
geralmente formados por barras ou cabos em x, para
combater primariamente a ação horizontal do vento.
d) Elementos auxiliares – calhas, beirais, cumeeira, espigão,
rincão, mãos francesas, telhas, etc. (figura 3.4, 3.5 e 3.6)

Devido a não padronização desse sistema, a nomenclatura das


peças de uma cobertura em madeira é diversificada. Há basicamente
duas terminologias utilizadas, como segue:

 Terminologia dos construtores

A terminologia dos construtores é apresentada nas figuras


3.3 a 3.6.
42

1.Ripa; 2.Caibro; 3.Terça; 4.Cumeeira; 5.Contrafrechal; 6.Frechal; 7.Chapuz, pedaço de


madeira, geralmente de forma triangular, pregado na asna da tesoura, destinado a suster ou
apoiar a terça; Conjunto de peças 8 a 12 – tesoura, viga em treliça plana vertical, formada de
barras dispostas de madeira a compor uma rede de triângulos, tornando o sistema estrutural
indeslocável; 8.Asna, perna, empena ou membrura superior; 9.Linha, rochante, tirante, tensor,
olivel ou membruna inferior; 10. Pendural ou pendural central; 11.Escora; 12.Pontalete,
montante, suspensório ou pendural; 13. Ferragens ou estribos; 14.Ferragem ou cobrejunta;
15.Testeira ou aba; 16.Mão francesa.

Figura 3.3 – Elementos de coberta em madeira – Nomenclatura


construtores (fonte: adaptado de MOLITERNO, 2010)

Figura 3.4 – Tipos de beirais (fonte: MOLITERNO, 2010)


43

Figura 3.5 – Tipos de beirais (fonte: MOLITERNO, 2010)

Figura 3.6 – Elementos de coberta em madeira com várias águas


(fonte: MOLITERNO, 2010)

 Terminologia estrutural (ou técnica)

Apesar de permanecer com alguns dos conceitos utilizados na


terminologia dos construtores, há algumas mudanças de
nomenclatura, principalmente nos elementos que compõem a
tesoura.
44

A figura 3.7 apresenta os elementos da nomenclatura técnica,


definidos como: 1.Terças; 2. Mãos-francesas; 3. Tesoura – S. banzo
superior; I. banzo inferior; V. barras verticais ou montantes; D.
barras diagonais ou simplesmente diagonais; N. nó ou junta – ponto
de interseção de barras; P. painel – distancia entre dois nós; h.
altura da tesoura; L. vão da tesoura – distância entre os apoios
externos; α. inclinação da tesoura –; 4. Contraventamento vertical;
5. Contraventamento horizontal; Oitão (última tesoura ou parede).
45

Figura 3.7 – Elementos de coberta em madeira – Nomenclatura


estrutural (fonte: MOLITERNO, 2010)

As figuras 3.8 e 3.9 apresentam os elementos principais e


definições gerais de cobertas com duas águas e quatro águas.
46

Figura 3.8 – Telhado em duas águas (fonte: rebello, 2007)


47

Figura 3.9 – Telhado em quatro águas (fonte: rebello, 2007)


48

3.3 TIPOS DE COBERTA EM MADEIRA

De modo geral, as cobertas em madeira podem ser classificadas


em (figuras 3.10 e 3.11):

a) Uma água
b) Duas águas
c) Três ou mais águas
d) Multi-direcional
e) Arqueadas
f) Tipo shed
g) Curvas
h) poligonais

A B
A B
C A
C

D E

Figura 3.10 – Tipos de coberta em madeira (fonte: Gauzin-Muller e


outros, 2005)
49

F G

Figura 3.11 – Tipos de coberta em madeira (fonte: Gauzin-Muller,


2005)

As cobertas em madeira podem ser também classificadas em


feitas in loco, pré-fabricadas ou industrializadas. As cobertas feitas
in loco são geralmente artesanais e a diferença entre as pré-
fabricadas e industrializadas está no grau improvisação na
montagem. Outra classificação possível é a estrutural, já
apresentada no cap. 1.

3.4 ESCOLHA DO SISTEMA ESTRUTURAL E TIPOS DE LIGAÇÃO

Existem numerosos sistemas estruturais disponíveis para a


concepção de uma coberta em madeira. A decisão por um sistema
específico depende de alguns fatores:

a) Tipo da estrutura primária;

b) Como se dá a transferência dos carregamentos do exterior


para os apoios;

c) Tamanho e propriedades dos elementos de cobertura


(dimensões, deflexão, peso, etc.)

e) Eficiência estrutural;

f) Custo;

g) Adequabilidade estética/funcional

De maneira geral, os tipos de ligação em madeira são: rígidas e


flexíveis (Figura 3.12). É, em geral, difícil se obter ligações rígidas
50

sem o auxílio de parafusos e chapas em aço. Por este motivo, a maioria


das ligações em madeira são flexíveis. A ligação flexível mais comum
em estruturas em treliça de madeira é a sambladura (figura 3.8),
cavilha que liga o banzo superior ao inferior nos apoios ou diagonais
e montantes com os banzos. As sambladuras só funcionam quando os
elementos estão comprimidos.

Figura 3.12 – Tipos de ligações em madeira (rígidas e flexíveis)

Quanto ao tipo de material as ligações podem ser: madeira-


madeira, madeira-concreto e madeira-aço (figura 3.13).

Figura 3.13 – Tipos de Ligações entre materiais

3.5 ESCOLHA DOS MATERIAIS PARA ESTRUTURA E COBERTURA

Dentre os fatores que influenciam na escolha do material


estrutural e de telhamento, podemos citar:

a) Custo;

b) Sustentabilidade e eficiência energética;


51

c) Conforto Térmico e Acústico;

d) Estanqueidade;

e) Estética;

f) Funcionalidade;

g) Durabilidade;

h) Facilidade de Execução

3.6 PARÂMETROS DE PROJETO

Alguns parâmetros matemáticos e físicos são essenciais para a


concepção de cobertas em madeira, dentre os quais podemos citar o
dimensionamento de calhas, inclinações requeridas para as telhas e
fechamentos e disposição e diâmetro de tubos de queda.

O dimensionamento de calhas e tubos de queda é gerido pela


NBR 10844/1989 (Instalações prediais de águas pluviais),
dependendo do local, da rugosidade do material, da área a esgotar e
também da inclinação da calha. Um regra prática, válida a nível de
arquitetura, para o pré-dimensionamento de calhas é considerar a
área da calha como sendo 15 cm2 para cada 10m2 de água a esgotar.
A inclinação mínima de uma calha deve ser de 0.5%.

Para o dimensionamento dos tubos de queda pode-se adotar a


área do tubo como sendo 1cm2 por m2 de água a esgotar. A
disposição dos tubos de queda dependerá da área disponível para a
calha, desde que se cumpra a regra de no mínimo dois tubos de queda
por calha. O diâmetro mínimo dos tubos de queda é de 75mm.

Uma consideração muito importante em cobertas é a definição


do tipo de telha e/ou fechamento e suas respectivas inclinações
mínimas. Como regra geral, podemos dizer que quanto mais atrito
(rugosidade) o material tiver maior será a inclinação requerida. A
melhor fonte de definição deste parâmetro é o catálogo do
fabricante.
52

3.7 SUSTENTABILIDADE

É dever do projetista buscar a sustentabilidade do projeto


pensando na reciclabilidade, reutilização, consumo de material e
energia. Sabendo que alguns materiais convencionais são
degradadores do meio ambiente, a decisão de determinado sistema
construtivo, deve levar em consideração as questões de redução,
reutilização e reciclagem (RRR) dos materiais envolvidos. A redução
de consumo de recursos pode incluir uma concepção estrutural
mais eficiente, um menor consumo de energia, a utilização de
produtos da região para minimizar transportes poluidores, o uso de
materiais não poluidores, etc.

A madeira é um material de construção com excelentes


respostas as questões de reutilização e reciclagem, possuindo as
seguintes características: baixa densidade; boa resistência à tração
e compressão; totalmente reciclável; fácil trabalhabilidade; alta
produtividade; conserva-se indefinidamente imensa em água; seca e
protegida, dura séculos; reduz o CO2 da atmosfera aumentando o
O2; possui boa insolação térmica; e fácil manutenção. O uso de
madeiras de demolição é uma ótima ação de sustentabilidade.

O reflorestamento é uma outra maneira de minimizar os


impactos do homem na natureza. Há muitos reflorestamentos de
eucalipto citriodora no Brasil porque esta árvore, sendo
dicotiledônea, apresenta excelentes propriedades físicas e boa
velocidade de crescimento. O uso do Paricá, árvore nativa do norte
do Brasil e praticamente sem nós, para laminados está crescendo no
estado do Pará.

3.8 SISTEMAS DE VEDAÇÃO E IMPERMEABILIZAÇÃO

A vedação ou impermeabilização é um sistema responsável por


selar, colmatar ou vedar os materiais porosos e suas falhas, sejam
elas motivadas por movimentos estruturais ou por deficiências
técnicas de preparo e de execução. Entende-se aqui que a função de
53

vedação não necessariamente compreende apenas a estanqueidade


com relação a ação da água.

É uma etapa da construção civil muito importante, muitas vezes


deixada de lado por motivos de contenção de gastos e
desinformação, resultando no acesso da umidade e no aparecimento
de patologias, resultando em ambientes insalubres e com aspecto
desagradável, apresentando manchas, bolores, diminuição da
resistência da madeira, proliferação de fungos e insetos, entre
outros.
54

4 DETALHAMENTO
Detalhamento é a representação de um elemento compositivo
de uma edificação com relação ao outro. Portanto a relação entre
os elementos fundamentais de uma estrutura de madeira é
preponderante para o detalhamento. A atitude de detalhamento se
desenvolve através da prática, de acordo com o desafio proposto.

Algumas perguntas são recorrentes em detalhamentos: quais


elementos devem ser detalhados?,quais são as suas relações com os
outros elementos?, quais são as escalas a considerar?, etc. O
desenvolvimento dos detalhes está diretamente relacionado, com a
solução adotada e a expressividade que se deseja transmitir.

O detalhamento é realizado após a especificação dos materiais


que utilizados e como se dá a ligação entre eles a partir da escolha
do sistema estrutural. Ao contrário do que se possa pensar, o
detalhamento de todos os pormenores é tarefa do arquiteto, às
vezes com o auxílio de um engenheiro estrutural. Caberá ao
engenheiro estrutural verificar se as soluções e detalhes
propostos se adequam aos critérios de segurança, conforto
estrutural e durabilidade.

4.1 METODOLOGIA DE DETALHAMENTO

Nos detalhamentos em geral faz necessário adotar alguns


procedimentos que nos ajudam a definir quais desenhos são
necessários. Uma forma prática de se saber quais são os desenhos
necessários, é estabelecendo quais são os materiais que compõem
esse elemento arquitetônico/estrutural e como são feitas as
ligações entre eles.
55

Figura 4.1 Detalhe das ligações entre os elementos da


tesoura

Na figura 4.1, deve-se levar em conta o caminho das forças,


começando pelo fechamento, que é feito pelas telhas. As forças que
atuam sobre esse elemento são distribuídas na estrutura secundária
(trama) que é composta por caibros, ripas e terças, essas forças são
então transferidas para a estrutura primária composta pelas
tesouras e pilares. O detalhamento dessa estrutura é então
formado pelas ligações da telha com a trama; entre os elementos da
trama; da terça com a tesoura; entre os elementos da tesoura; e da
tesoura com o pilar (em concreto). Em estruturas de madeira, às
vezes a telha é simplesmente apoiada na trama e a trama é formada
56

por elementos pregados, não necessitando de detalhes específicos.


Por outro lado as ligações entre os elementos da tesoura, da
tesoura com o pilar são essenciais e específicos de cada obra,
devendo ser detalhados.

4.2 DETALHES GERAIS TÍPICOS DE COBERTAS

Alguns detalhes são comuns em cobertas de madeira e por este


motivo são chamados de típicos. Muitas vezes estes detalhes são
gerais e intrínsecos do sistema construtivo escolhido, não fazendo
parte do projeto de detalhamento específico da obra, mas é
importante que o projetista tenha noção de como funcionam.

A figura 4.2 ilustra um detalhe típico de uma cumeeira.

A figura 4.3 ilustra detalhes típicos para trama com telha


cerâmica.

A figura 4.4 ilustra detalhes típicos de rufos. A figura 4.5


ilustra um detalhe típico de calhas. A figura 5.5 ilustra um detalhe
típico de água furtada (rincão).

Figura 4.2 Detalhe de uma cumeeira (fonte: catálogo TÉGULA)


57

Figura 4.3 Detalhe de trama para telha cerâmica (fonte:


BARBOSA, 2010)

Figura 4.4 Detalhes de rufos


58

Rufo com pingadeira


140 220
135 40
80 15 40 80 15
55 15 40
15 15
Figura 4.5 Detalhes
15 de calhas

Calha de água furtada


10 13 13 10 10 13 13 10

12 12 12 12
90 90 105 105

10 13 13 10 30 30
12 12 10 10
130 130 250 250

Figura 4.6 Detalhes de água furtada


59

4.3 DETALHES DE LIGAÇÕES

Fundamentais para o entendimento e detalhamento de


estruturas em madeira, as ligações são principalmente realizadas
entre três materiais:

4.3.1 Madeira com madeira

As ligações entre elementos de madeiras são exemplificadas


nas figuras 4.7 a 4.14.

Figura 4.7 Ligação pilar de madeira e viga de madeira (fonte:


Rebello, 2007)
60

Figura 4.8 Ligação pilar de madeira e viga de madeira (fonte:


Rebello, 2007)

Figura 4.9 Ligação pilar de madeira e viga de madeira (fonte:


Rebello, 2007)
61

Figura 4.10 Ligação pilar de madeira e viga de madeira (fonte:


Rebello, 2007)
62

Figura 4.11 Emendas de vigas (fonte: Rebello, 2007)

Figura 4.12 Emendas de pilares (fonte: Rebello, 2007)


63

Figura 4.13 Ligações das barras das tesouras (fonte: Rebello,


2007)
64

Figura 4.14 Ligações entre madeiras


65

4.3.2 Madeira com concreto

As ligações entre madeira e concreto são exemplificadas nas


figuras 4.15 a 4.20.

Figura 4.15 Ligações entre viga de madeira e pilar de concreto


(fonte: Rebello, 2007)

Figura 4.16 Ligações entre viga de madeira e pilar de concreto


(fonte: Rebello, 2007)
66

Figura 4.17 Ligações entre pilar de madeira e fundação de


concreto (fonte: Rebello, 2007)

Figura 4.18 Ligações entre pilar de madeira e fundação de


concreto (fonte: Rebello, 2007)
67

Figura 4.19 Ligações entre pilar de madeira e fundação de


concreto (fonte: arquivo projectaço, 2012)

Figura 4.20 Ligações entre pilar de madeira e fundação de


concreto (fonte: arquivo projectaço, 2012)

4.3.3 Madeira com aço

As ligações entre madeira e aço são exemplificadas na figura 4.21.


68

Figura 4.21 Ligações entre viga metálica e pilar de madeira

4.4 ORIENTAÇÕES DE PROJETO

Algumas orientações são necessárias para o correto


detalhamento e para a sua melhor compreensão, dentre eles
instruções de cotagem, escalas apropriadas, desenhos necessários
e detalhes específicos.

A correta cotagem dos detalhes é essencial para o


entendimento geral do projeto. Algumas regras básicas podem ser
estabelecidas:

a) As cotas devem, na medida do possível, estar fora dos


desenhos, sem interceptar nenhuma especificação ou linha.
b) Evitar cotas cruzadas.
c) As cotas não devem ser interrompidas.
d) Excesso de cotas atrapalham o entendimento do desenho e
ausência de cotas podem prejudicar a execução.
e) Cotas em diagonal devem ser substituídas por cotas
verticais e horizontais na maioria dos casos.
f) Cotagem de elementos curvos deve estar baseada em uma
linha reta localizada estrategicamente para facilitar a
leitura.
g) Informações óbvias como dimensões de perfis especificados
não devem ser cotadas.

Um detalhamento deve representar todos os pormenores em


uma escala apropriada que para projetos executivos (escalas: 1:50,
1:75 e 1:100) normalmente não se conseguiria compreender. Sendo
69

assim os detalhes devem aparecer representados em escalas


ampliadas, geralmente 1:2, 1:5, 1:10; 1:15, 1:20 e 1:25.

Os desenhos necessários incluem plantas, cortes, elevações e


detalhes de todas as ligações envolvidas.

Alguns detalhes específicos podem ser incluídos no


detalhamento, embora não obrigatórios, como detalhe de rufos e
contra-rufos, fixação de cumieiras e telhas, etc. Estes detalhes
usualmente são descritos nos manuais dos fabricantes e por isto a
não obrigatoriedade.
70

5 BIBLIOGRAFIA

DIAS, Luis de Andrade de Matos. Estruturas de Aço: conceitos,


técnicas e linguagem. Zigurate editora, 7ª edição, 2009.

MACDONALD, Angus. Structural Design for Architecture, 2001.

Macdonald, Angus. Structure and Architecture, 2000.

Mcleod, Virginia. Detail in Contemporary timber architecture, 2009.

Charleson, Andrew W. A estrutura aparente, 2005.

Gauzin-Muller, Dominique; Martins, Alberto; Wisnik, Guilherme;


Aflalo, Marcelo. Madeira como Estrutura A história da Ita, 2005.

Gutdeutsch, Gotz. Bulding in Wood. Construction and details, 1996.

Moliterno, Antonio. Caderno de projetos de telhados em estruturas


de madeira. 4ª edição revista por Reyolando M. L. R. da F. Brasil,
2010.

Moliterno, Antonio. Caderno de projetos de telhados em estruturas


de madeira. 2ª edição, 1981.

Rebello, Yopanan. A concepção estrutural e a arquitetura, 2000.

Rebello, Yopanan. Bases para a concepção estrutural na


arquitetura, 2007.

Internet

www.architizer.com
www.holzbau.com
www.archdaily.com
www.esmara.com.br
www.itaconstrutora.com.br
www.carpinteria.com.br

Normas
NBR 7190/1997- Projeto de estruturas de madeira.
NBR 10844/1989 - Instalações prediais de águas pluviais.
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Catálogos
Tégula, Telhas cerâmicas, Rotho Blaas

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