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FACULDADE

DE LETRAS / UFRJ
Disciplina: Sintaxe do Português (LEV300)
Professora: Silvia Cavalcante (silviare@letras.ufrj.br)
Rio de Janeiro, 04 de maio de 2018.

Subordinação Completiva

Matos, G. (2003) Subordinação completiva: as orações completivas. In GLP. Cap. 15. 593-651.

As orações completivas constituem um argumento de um dos núcleos lexicais da sentença matriz:
(1) a. [Os críticos disseram [que o filme ganhou o festival]].
b. [[O filme ter ganho o festival] foi surpreendente].
c. [[Que esse filme tivesse ganhado o festival] foi uma grande surpresa].

A sentença completiva é um argumento obrigatório, e sua supressão ocasiona agramaticalidade:
(2) a. O João prometeu [que telefonava mais tarde].
b. Os meninos são capazes [de escalar essa colina].
c. Os estudantes tiveram a ideia [de organizar uma feira de protótipos].

(3) a. *O João prometeu.
b. *Os meninos são capazes.
c. *Os estudantes tiveram a ideia.

As completivas podem ser verbais (1a), adjetivais (1b) ou nominais (1c): pois elas são classificadas de
acordo com o núcleo que as seleciona. ATENÇÃO: não é a função sintática, mas o núcleo que a seleciona.

As completivas podem ser finitas (4) ou não-finitas (5):

(4) a. Os críticos disseram [que esse filme ganhou o festival].
b. Os críticos desejam [que esse filme ganhe o festival].
(5) a. Os peritos islandeses lamentam [terem sido consultados tão tarde].
b. Os peritos islandeses desejam [ser consultados sobre esse assunto].
c. Os islandeses viram casas a ruírem em consequência da erupção.

Completivas finitas

Podem aparecer no modo indicativo (a) ou no subjuntivo (b):
(1) a. Os críticos disseram [que esse filme ganhou o festival].
b. Os críticos desejam [que esse filme ganhe o festival].
(2) a. É claro [que ele coleciona biombos japoneses].
b. É possível [que ele colecione biombos japonese].
(3) a. É verdade [que ele coleciona biombos japoneses].
b. Espanta-me a tua sugestão de [que ele colecione biombos japoneses].

São introduzidas pelo complementador que (1)-(3) ou se, quando são selecionadas por verbos de
inquirição, verbos dubitativos ou intrinsecamente negativos:
(4) a. Todos lhe perguntaram [se ele afinal vinha à festa].
b. Não sei [se o João vem à festa].

(5) a. O júri vai decidir [que atribui o prêmio este ano].
b. O júri vai decidir [se atribui o prêmio este ano].

Acorda de manhã, escova os dentes e faz um teste de constituintes:
(6) a. Os críticos disseram isso. Isso = [que esse filme ganhou o festival]

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b. Os críticos desejam isso. Isso = [que esse filme ganhe o festival]
c. Isso é claro. Isso = [que ele coleciona biombos japoneses]
d. Isso é verdade. Isso = [que ele coleciona biombos japoneses]

E faz outro testes de constituintes. É possível distinguir dois constituintes: o complementador e uma
sentença à sua direita:
(7) a. Os críticos disseram que sim. Sim = [esse filme ganhou o festival]
b. Os críticos desejam que não. Não = [esse filme não ganhe o festival]
c. É claro que sim. Sim = [ele coleciona biombos japoneses]
d. É verdade que sim. Sim = [ele coleciona biombos japoneses]

As completivas finitas são constituintes oracionais cujo núcleo é o complementador que seleciona uma
sentença, cujo núcleo é Flexão:

(8) a. Os críticos disseram [CP que [IP esse filme ganhou o festival]]
b. Os jornalistas perguntaram [CP se [IP esse filme ganhou o festival]]
c. É possível [CP que [IP ele colecione biombos japoneses]
d. É verdade [CP que [IP ele coleciona biombos japoneses]

Seleção de modo nas completivas finitas

O modo indicativo é selecionado por verbos inacusativos (10), epistêmicos (11), declarativos (12), de
inquirição (13), perceptivos (14) e verbos psicológicos reflexivos (15):

(10) a. Acontece [que eu não sei o seu endereço].
b. Sucede [que ninguém estava preparado para um teste deste tipo].
(11) a. João sabe [que a Maria tem razão].
b. Os estudantes pensavam [que podiam repetir a prova].
(12) a. Eles afirmam [que os resultados serão publicados hoje].
b. Os meninos prometeram [que chegavam cedo a casa].
(13) a. Perguntam-me frequentemente [se concordamos com os programas].
b. O inspetor investigou [se o álibi foi confirmado].
(14) a. O João viu [que a Maria saiu com o Pedro da festa].
b. Todos sentimos [que o João estava abalado].
(15) a. Os meninos se lembraram de [que os pais lhe prometeram uma bicicleta].
b. Eu me lembro de [que passávamos as férias em Tróia].

O modo indicativo é selecionado por núcleos adjetivais e nominais epistêmicos (certo/certeza, claro,
evidente/ evidência, fato, nítido, óbvio, realidade, verdade e visível, sem ou com preposição:

(16) a. É evidente [que ele vai te convidar para a festa].
b. É visível [que os estudantes não gostam desse professor].
(17) a. É uma certeza [que a inflação ultrapassará os 2% esse ano].
b. É um fato [que os especuladores imobiliários aproveitam da situação financeira].
(18) a. Ele está consciente de [que o problema é complexo].
b. Estamos seguros de [que ela se qualificará para os Jogos Olímpicos do Japão].
(19) a. Ninguém abala a certeza de [que ela é a pessoa indicada para esta função].
b. Concordo com a afirmação de [que o projeto foi uma desilusão].
c. A viagem de Fernão de Magalhães provou a hipótese de [que a Terra é redonda].

O modo subjuntivo ocorre em completivas verbais argumentos externos de verbos psicológicos (20) e
completivas selecionadas por verbos inacusativos como bastar e convir (21):
(20) a. Entristeceu-a [que o filho tenha tido maus resultados no exame].
b. Surpreendeu-nos [que as notas fossem tão altas].

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(21) a. Basta [que você comunique pelo telefone o seu CPF].
b. Convém [que você venha à conferência].

O modo subjuntivo ocorre nas completivas argumento interno de verbos declarativos de ordem (22a),
psicológicos factivos (22b), volitivos e optativos (22c) e causativos (22d):
(22) a. Os pais disseram aos filhos [que telefonassem para casa].
b. Todos lamentam [que tenha ocorrido uma cena dessa].
c. Os professores esperam [que o sucesso escolar aumente este ano].
d. A Faculdade deixou [que os alunos trancassem a disciplina fora do prazo].

As completivas verbais preposicionadas apresentam modo subjuntivo:
(23) a. Eles nos autorizaram a [que consultássemos os manuscritos].
b. O bibliotecário se opôs a [que consultássemos os manuscritos].
c. Os pais das crianças anseiam por [que eles recomecem as aulas].

O modo subjuntivo ocorre em completivas não preposicionadas nominais e adjetivais, selecionadas como
sujeito por núcleos adjetivais e nominais:
(24) a. É surpreendente [que o filme tenha ganho o festival].
b. É difícil [que se conclua a instrução do processo em uma semana].
c. É possível [que os meus amigos saiam logo mais].
(25) a. Foi uma surpresa [que o filme tivesse ganho o festival].
b. [Que o atendimento público melhore] é uma necessidade.
c. É um enorme problema [que os finalistas ainda não dominem conceitos gramaticais básicos].

A maioria das completivas adjetivais e nominais selecionadas como argumento interno de adjetivos e
nomes exibem o modo subjuntivo:
(26) a. O chefe está ansioso por [que acabemos as nossas férias].
b. Toda a equipe se mostrou receptiva a [que os dois candidatos fossem contratados].
c. Todos estão desejosos de [que as férias cheguem logo].
(27) a. Reconheceu-se a possibilidade de [que a taxa de desemprego não diminua no próximo ano].
b. Existe a intenção de [que seja dado maior apoio aos jovens atletas].

Completivas com a relação gramatical de sujeito

Acorda de manhã, escova os dentes e faz um teste de constituintes: as completivas com relação gramatical
de sujeito podem ser substituídas por um pronome demonstrativo invariável (isto, isso) em posição pré-
verbal (a-b), mas não por pronome átono (c):
(38) a. [Que a Maria não tenha vindo à festa] surpreendeu o João.
b. Isso surpreendeu o João.
c. *Surpreendeu-o o João.
(39) a. É possível [que o João não venha à festa].
b. Isso é possível.
c. *É-o possível.
(40) a. É verdade [que o João é alérgico a oleoginosas].
b. Isso é verdade.
c. *É-o verdade.

Completivas com a relação gramatical de objeto direto

(58) a. O João sabe [que estamos a espera dele].
O João sabe isso.
O João o sabe.
b. O conselho lamentou [que não lhe tenha sido comunicada a decisão].
O conselho lamentou isso.

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O conselho o lamentou.
c. Os pais querem [que os filhos voltem do acampamento no domingo].
Os pais querem isso.
Os pais o querem.

Completivas objeto direto introduzidas pelo complementador se

São selecionadas por verbos de inquirição; são frases interrogativas indiretas:
(68) a. O João perguntou [se fomos à festa].
b. Os meninos pediram [se lhes emprestávamos uma tenda].
(69) a. O João perguntou [se [íamos à festa ou não (íamos à festa)]].
b. Os meninos pediram [se [lhes emprestávamos uma tenda ou não (lhes emprestávamos uma
tenda)]].

Alguns verbos declarativos e epistêmicos podem selecionar completivas finitas introduzidas por se:
(70) a. Logo decidimos [se vamos convosco à festa].
b. O estudo mostrará [se a tendência de desaceleração da economia se mantém].
c. Passados três meses, os candidatos ainda ignoram [se foram aceitos].

Os verbos que admitem uma oração completiva finita introduzida por se admitem interrogativas-Q como
complemento:
(71) a. O João perguntou [onde (é que) íamos logo à noite].
b. Logo decidimos [que programa (é que) fazemos logo à noite].
c. Os investigadores vão descobrir [que gene (é que) está envolvido nesta patologia].
d. Estes jovens não sabem [a que curso superior (é que) vão concorrer].

Completivas objeto direto selecionadas por verbos de alçamento

(72) a. Parece [que vai chover].
b. Parece isso.
c. Parece-o.
(73) a. Os meninos parece [que [-] estão contentes]. (PB * / PE ok)
b. Os meninos parecem [que [-] estão contentes]. (PB ok / PE *)
c. Os meninos parecem contentes.
d. Os meninos parecem estar contentes.
(74) a. Os meninos parece [que os pais encontraram [-] no cinema]. (PB ok / PE *)
b. Os meninos parece [que os pais ofereceram bicicletas [-]]. (PB ok / PE *)

Completivas com uma relação gramatical oblíqua

(75) a. O João insistiu [em [que fôssemos à festa dele]].
b. Todos estamos conscientes [de [que a solução do problema não é fácil]].
c. Durante a Idade Média, os geógrafos não defendiam a ideia [de [que a Terra é redonda]].

Acorda de manhã, escova os dentes, e faz um teste de constituintes:
(76) a. *O João insistiu-o.
b. *Todos estamo-lo conscientes.
c. *Durante a Idade Média, os geógrafos não o defendiam a ideia.
(77) a. O João insistiu nisso.
b. Todos estamos conscientes disso.
(78) a. ?Durante a Idade Média, os geógrafos não defendiam a ideia disso.
b. Durante a Idade Média, os geógrafos não defendiam essa ideia.

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Completivas com relação gramatical oblíqua selecionadas por verbos

(79) a. Os alunos opuseram-se [a [que o teste fosse adiado]].
b. O João recorda-se [de [que a decisão foi unânime]].
c. O problema reside [em [que não há interação entre os diferentes centros de investigação]].
d. Os responsáveis velaram [por [que houvesse igualdade de oportunidades]].

Verbos de controle de objeto podem selecionar completivas finitas preposicionadas:

(80) a. Os pais autorizaram [os filhos]i [a [que Øi fossem acampar durante as férias]].
b. O júri convidou [dois candidatos]i [a [que Øi retirassem a sua candidatura]].


Completivas com relação gramatical oblíqua selecionadas por adjetivos e nomes

(82) a. Há professores [contrários [a [que a universidade evolua]]].
b. Todos estão [conscientes [de [que a situação é muito complexa]]].
c. A ONU está [confiante [em [que os Estados-Membros encontrarão uma solução para o
problema]]].
d. Tomaram-se medidas [suficientes [para [que o problema seja estudado]]].
e. Conhecem-se os políticos [responsáveis [por [que a decisão tenha sido adiada]]].

(83) a. Surpreende-me o [fato [de [que meus amigos não tenham sido convidados]]].
b. O João lamenta o [fato [de [que os colegas não tenham apoiado a proposta]]].
c. O mal-estar é atribuível ao [fato [de [que as negociações permanecem secretas]]].

(84) a. Agrada-me a [ideia [de [que o João passe férias conosco]]].
b. Aceito a [possibilidade [de [que haja vida fora do sistema solar]]].
c. Foi aprovada a [proposta [de [que haja novas eleições para a direção do clube]]].


Completivas não finitas

(1) a. O João lamenta [os pedreiros não terem concluído a obra].
b. Os pedreiros lamentam [não ter concluído a obra].
(2) a. É difícil [recebermos a informação a tempo].
b. Os contribuintes estão ansiosos por [receber a informação a tempo].
(3) a. Foi uma surpresa [elas terem chegado ontem de Budapeste].
b. Elas têm sempre medo de [perder o avião].

Apenas algumas completivas não finitas selecionadas por alguns verbos declarativos de ordem têm um
complementador lexical: para.
(4) a. Os pais disseram aos filhos [para vir(em) para casa cedo].
b. Os jornalistas pediram ao chefe de redação [para mandar um repórter ao Oriente Médio].

(5) a. *Os pais disseram aos filhos [para que viessem pra casa cedo].
b. *Os jornalistas pediram ao chefe de redação [para que mandasse um repórter ao Oriente
Médio].
(6) a. Os pais disseram-no aos filhos (no = para virem para casa cedo)
b. Os jornalistas pediram-no ao chefe de redação (no= para mandar um repórter ao Oriente Médio)

(7) a. *Os pais disseram aos filhos para isso (isso = virem para casa cedo).
b. *Os jornalistas pediram ao chefe de redação para isso (isso = mandar um repórter ao Oriente
Médio).

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Formas que precedem as completivas em (8) são preposições e não complementadores, uma vez que, nas
completivas finitas correspondentes, precedem obrigatoriamente o complementador que (9), e as
completivas que se lhe seguem são retomadas anaforicamente pelo demonstrativo isso precedido de
preposição:

(8) a. A indecisão contribui para [aumentar as dificuldades da gestão].
b. A situação convida a [não fazer nada].
c. O problema resultou de [a seção de contabilidade ter enviado o nib errado].
d. A tarefa consiste em [determinar a derivada de três funções].
e. Aquela professor se esforça por [se manter atualizado].

(9) a. A indecisão contribui para [que dificuldades da gestão aumentem].
b. A situação convida a [que os funcionários não façam nada].
c. O problema resultou de [que a seção de contabilidade enviou o nib errado].
d. A tarefa consiste em [que os alunos determinem a derivada de três funções].
e. Aquela professor se esforça por [que todos os alunos aprendam].

(10) a. A indecisão contribui para isso (isso = aumentar as dificuldades de gestão)
b. A situação convida a isso (isso = não fazer nada)
c. O problema resultou disso (isso = a seção de contabilidade ter enviado o nib errado)
d. A tarefa consiste nisso (isso = determinar a derivada de três funções)
e. Aquele professor se esforça por isso (isso = se manter atualizado).


Construções de Controle

Controle de sujeito:
(40) a. [Os professores]i pensam [Øi concluir a avaliação na próxima semana].
b. Øi Declaramos [Ø i assumir a responsabilidade pelo acidente].
c. Ø i Lamentamos [Ø i não ter assistido à conferência].
d. [Os alunos] i pretendem [Ø i realizar o teste durante as férias do semestre].
e. [Os municípios] i insistem em [Ø i consultar as atas das três últimas reuniões].

Controle de objeto:
(41) a. Os professores autorizaram [os alunos]i a [Øi realizar o teste durante as férias de semestre].
b. [Os alunos] impediram [os professores]i de [Øi dar aulas ao sábado].

(42) a. [Os filhos] pediram [aos pais] i [para Øi acampar no próximo fim de semana].
b. [Os pais] disseram [ao Pedro e à Maria]i [para Øi chegar cedo a casa].

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