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Minha iniciação foi uma explosão interna de alegrias, reflexões e surpresas. Meus cinco
sentidos trabalharam como nunca antes.
Ao ser me dada a luz fiquei ofuscado ao ver tanta gente. Fiquei assustado ao ver o local
onde estava, onde percorri tantos caminhos, onde passei tantas provas. Me senti honrado
de, enfim, poder entrar na fraternidade.
Tantos símbolos, tantas cores, tantas maravilhas. Colunas, velas, cordas, paramentos
suntuosos. O céu sobre minha cabeça; o pavimento de preto e branco; esse olho que fica
me olhando; as pedras curiosas, e tantos outros elementos!
No período em que estive na coluna do Norte aprendi e evolui. Eu mesmo não senti estar
diferente, mas meus próximos me observavam e o sentiram a mudança. Com a força da
juventude e ignorância oculta do adolescente, estudei e avancei para passar para a coluna
do Sul, indo do nível para o prumo, deixando o banco duro e frio para o banco mais
quente;
As instruções eram mais espirituais os temas mais filosóficos. Fiquei impaciente, desejo
de logo poder atingir o mestrado e acessar mistérios ainda mais profundos e elevados.
Os anos passaram, e a caminhada me trouxe muitos frutos, para o corpo e para a alma.
Não falo de benefícios financeiros, mas sim daqueles muito mais interessantes. Falo aqui
de benefícios espirituais e de como aprendi a observar, sabendo interpretar e ser mais
tolerante. Nunca poderei retribuir todo bem que me foi feito, dado e ensinado, mas
passando do banco para a cadeira senti que, apesar de uma caminhada fantástica e repleta
de todo tipo de conhecimentos que alteraram minha pessoa, eu estava estagnando.
Temos o dever de participar, de orientar e acompanhar os mais recentes iniciados e
também identificar candidatos interessantes para toda a fraternidade. Não sabemos tudo
e nunca o saberemos, e quanto mais aprendemos mais queremos saber e observamos que
o que sabemos é “um nada” frente ao universo de coisas que ainda estão para ser
descobertas. Essa sensação, essa certeza, é muito interessante.
Participei, participo e participarei de tudo que puder e do que acho justo participar. A loja
precisa da minha presença e eu preciso da loja. Tenho que ir às reuniões com alegria,
sempre buscando a verdade, conhecimento e sabedoria. Minha ausência tem de me
incomodar e se, por ventura, não posso participar das reuniões, terei de ser corajoso e
pedir para sair.
Com passar do tempo, observei que os interesses de cada um na fraternidade eram
diferentes uns dos outros. Vícios e virtudes se misturavam. Ao ver isso me veio a seguinte
reflexão:
“O que venho fazer em loja?”
E para essa pergunta, apresentam-se algumas respostas, de acordo como perfil de cada
maçom. Cito algumas:
▪ Criar um Network
Criar um network significa, montar uma rede de contatos ou conexões geralmente
profissionais.
Quando os pedreiros se reuniam no tempo da maçonaria operativa era para transmitirem
seus conhecimentos e os proteger, se ajudarem mutuamente nas dificuldades e assim
poderem crescer juntos.
Pela história escrita e conhecida as lojas inglesas iniciaram membros da realeza no século
XVIII para poderem se proteger, ganhar status e posições na hierarquia social.
Hoje em dia, e mais particularmente no Brasil, mesmo se a maioria pensa que pode criar
um network profissional eu acho que é uma verdade limitada. Conhecemos pessoas de
áreas diferentes, complementares ou idênticas às nossas e, tal como pode acontecer em
outros grupos, existe uma facilidade de comunicação que permite o auxílio, conselhos.
Mas não é para mim essa a prioridade da nossa instituição e o motivo de participar ou de
estar presente nas reuniões.
Penso ser errado trazer para a fraternidade um candidato não porque achamos que o seu
perfil está de acordo com os valores pregados pela Ordem, mas sim, porque posso tirar
partido de sua presença em benefício próprio. Os candidatos devem ser escolhidos com
pente fino, tem de ser escolhidos por suas atitudes e não por sua posição no mundo
profano.
Não entrei para a maçonaria em busca de privilégios nas relações fora das lojas. No
entanto, quando tenho uma dúvida, reconheço ter a vantagem de poder contar com
pessoas de diversos horizontes e áreas muito competentes e cheios de boa vontade (da
mesma forma que eu estou à disposição deles) para me ajudarem.
Tirar proveito de relações dentro de loja, passando dos limites do que é eticamente
aceitável, é definitivamente um vício.
▪ Cumprir um dever:
Dever de estar presente é o que todos os maçons se comprometem quando preenchem seu
questionário de ingresso na fraternidade, por isso sim devo cumprir meu dever.
Sim, vou cumprir um dever. Não um dever por obrigação, mas sim por compromisso e
prazer. Assim, mesmo se fico olhando o relógio quando a situação e ou o ambiente não
me agradam, ou se a reunião fica tardando muito, gosto de estar presente, e farei com que
outros também gostem, porque estamos todos em comunhão e todos temos o dever de
manter a harmonia. Muitas vezes deixar qualquer Irmão discursando durante muito tempo
quebra a harmonia mesmo se temos a obrigação de aceitar as diferenças e todas as
opiniões. Em várias lojas o tempo de palavra é limitado por pessoa a 2 ou 3 minutos. Essa
regra estando estabelecida é mais fácil poder deixar a reunião mais fluida.
Infelizmente com os compromissos profissionais, sociais e particulares, poucos cumprem
seu dever. A frequência é controlada e, de acordo com o regulamento, a falta é
injustificada é motivo de punição. Curiosamente é bom observar que quem tem menos
frequência também é quem menos visita outras lojas.
Se não posso cumprir meu dever, honrar minha palavra, prefiro sair da fraternidade.
▪ Procurar “Status”
Quem nunca ouviu dizer que é “ser maçom” ou “estar maçom”? Como nos explica um
grande Irmão: “Estar maçom é usar o avental e mais nada,” – “Ser maçom é fazer com
que as pessoas a sua volta vejam uma pessoa boa, justa, que respeita o próximo e é
exemplo de conduta”.
Muitas pessoas pensam, equivocadamente, que todo o maçom é poderoso e muito rico.
Alguns associam a fraternidade a uma rede de negócios e acham que ali se fazem coisas
diabólicas. Infelizmente muitos são os que se aproveitam dessa concepção distorcida do
que é a maçonaria para poderem vender livros, cooptar seguidores, etc.
Para o verdadeiro iniciado na maçonaria é um orgulho ‘ter sido escolhido”. Mas se o seu
objetivo ao ingressar na Sublime Ordem foi apenas ter status, a experiência será muito
ruim e sem amanhã. Na seleção do candidato a análise de sua motivação deve ser
profunda e se houver indícios que ele procura isso é melhor descartá-lo para evitar futuros
constrangimentos.
Em busca apenas desse suposto status é que muitos gostariam de entrar na fraternidade e,
quando entram, por terem sido mal orientados ou informados, acabam saindo insatisfeitos
com os ensinamentos que não conseguem compreender, justamente porque sua motivação
era outra apenas de ganho pessoal.
Na iniciação juramos defender e proteger nossos Irmãos em tudo que for possível,
necessário e justo, nos comprometendo a sermos cidadãos honestos, dignos e submissos
às leis. Procurar status dentro de uma loja é vaidade, não estou aqui para isso.
▪ Exibir-se
Muitos irmãos gostam de se exibir perante os profanos colocando adesivos de nosso
símbolo mais famoso no seu veículo, roupa etc. Maçonaria não é exibição. Não somos
um time de futebol. Nossos antepassados eram discretos e essa discrição fez seu sucesso.
É de bom tom manter essa discrição.
No meu caso faço questão de estar presente, a união faz a força, mas pessoalmente corro
um sério risco de perder meu emprego se meus superiores que são de outro país souberem
que entrei na fraternidade.
Presenciamos algumas vezes a exibição em loja de vaidades e vícios. Tudo aquilo que
devíamos combater! Precisamos sempre estar atentos ao que nos avilta. Devemos ser
justos e objetivos. Devemos antes pensar se o que queremos fazer, apresentar e ou opinar
vai enriquecer a loja. Se temos nada a acrescentar à loja, o silencio de é de ouro. Minha
liberdade termina onde começa a do meu próximo, em loja tudo é nivelado. Não devemos
ficar acima do nível ou fora do prumo.