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Os dois tipos de pecado: por ignorância e por atrevimento

Por Roberto Felipe da Silva em 22/11/20114

Há pecados cometidos por ignorância, ou seja, não


planejado, sem intenção deliberada da parte do
transgressor. São na verdade transgressões cometidas
inconscientemente. Por exemplo: Você tem o hábito de ler
seu jornal e seus livros seculares todas as manhãs, de
domingo a sexta-feira, e no dia de sábado repeti esse
hobby sem ter o conhecimento de que leituras irreligiosas,
do seu interesse, particular, constitui profanação do santo
sábado do Senhor. Nesse caso, todavia, você pecou. O
preceito nuclear dos Dez mandamentos, o quarto (Êx 1
20:8-11), foi transgredido; a despeito da ignorância (Lv.
5:17-19). Como sua desobediência foi ocasionada por falta
de luz, você obviamente não tinha o conhecimento que
era errado leituras profanas no santo dia pertencente ao
Senhor. Por isso que, no Antigo Testamento, esse pecado
por ignorância merecia ser expiada, de acordo com o ritual
judaico do santuário:
“Se alguma pessoa pecar por ignorância, apresentará uma cabra de um ano como oferta pelo
pecado. O sacerdote fará expiação pela pessoa que errou, quando pecar por ignorância perante
o SENHOR, fazendo expiação por ela, e lhe será perdoado.” (Nm 15:27-28).

Quanto ao pecado por atrevimento que, conforme o hebraico, literalmente, significa “com a
mão levantada”, isto é, gesto que dava a entender que se houvera soberbamente (Dt 17:12).
Noutros termos, o transgressor agia presunçosamente, com espírito de rebeldia (como foi a
conjuntura de Corá, Datã e Abirão [Nm 16]).
Foi sobre esse tipo de pecado que o salmista Davi orou da seguinte forma:
“Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e
ficarei livre de grande transgressão.” (Sl 19:13).
Na Nova Versão Internacional (NVI) “soberba” traduz “pecados intencionais”. Estes são os
pecados cometidos quando sabemos o que é errado (Tg 4:17). Eles são diferentes dos “erros”
e de “faltas” diárias. Para essa qualidade de pecado infelizmente o sistema de sacrifícios não
fornecia expiação, porque era uma oposição deliberada à vontade, uma atitude desafiadora
semelhante aquela cometida por Lúcifer perante o trono da Divindade e ante os santos anjos
no céu.
“Mas a pessoa que fizer alguma coisa atrevidamente, quer seja dos naturais quer dos
estrangeiros, injuria ao SENHOR; tal pessoa será eliminada do meio do seu povo, pois
desprezou a palavra do SENHOR e violou o seu mandamento; será eliminada essa pessoa, e a
sua iniquidade será sobre ela.” (Nm 15:30-31).
Temos como exemplo desse pecado o caso de um homem que foi flagrado apanhando lenha
no dia sagrado do sábado. Trouxeram-no a Moisés, e a Arão, e ao conselho de anciões. Detido
o infrator, aguardavam a orientação divina como deveria ser morto; embora,
inquestionavelmente, a pena era a morte para esse tipo de transgressão (Êx 31:14; 35:2). Logo
veio a sentença por apedrejamento: “Tal homem será morto; toda a congregação o apedrejará
fora do arraial”. E assim foi executado (Nm 15:32-36). Outra amostra terrífica está registrada
em Levítico 24. Um filho de uma israelita (mas filho de um egípcio) contendia com um
homem israelita no arraial. Então, o filho da mulher israelita blasfemou e amaldiçoou o nome
de Yahveh, pelo que o trouxeram a Moisés e o levaram à prisão, esperando uma decisão
divina. E a sentença veio: “Tira o que blasfemou para fora do arraial; e todos os que o
ouviram porão as mãos sobre a cabeça dele, e toda a congregação o apedrejará.” (Lv 24:10-
16).
É sobre esse tipo de pecado que o apóstolo São João se refere quando disse: “Há pecado para
morte, e por esse não digo que rogue” (1 Jo 5:16). No Novo Testamento o pecado por
atrevimento tem outra conotação. Remete ao pecado de rejeição total de Cristo e de Sua obra
redentora. A morte aqui já não é por apedrejamento, é a segunda morte, o lago de fogo do
juízo final (Ap 20:14-15). A orientação do apóstolo João aqui, de não rogar pelos que pecam
para morte, tem como motivo a impossibilidade de comunhão com Cristo e o Pai (Jo 17:9), ou
seja, a intercessão ou oração realizada por um irmão, como este rogar era uma expressão de
especial identidade com a Divindade, não teria efeito sobre uma pessoa presunçosa e atrevida.
Para melhor compreensão, isto irá fazer referência categórica ao que o apóstolo Paulo
declarou sobre a análoga impossibilidade de expiação, no santuário celestial, quando disse:
“É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e
se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes
do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento,
visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à
ignomínia.” (Hb 6:4-6). 2

Paulo ainda clarifica sobre o pecado por atrevimento ou voluntário com estas outras palavras
estarrecedoras:
“Porque, se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno
conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados; pelo contrário, certa
expectação horrível de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários.” (Hb 10:26-
27).

Por todas estas ideias apresentadas, o leitor bem experiente deve ter inferido que o pecado por
atrevimento é na verdade o pecado imperdoável, i. é., a blasfêmia contra o Espírito Santo,
assunto este que será abordado com um artigo alheio que cito logo abaixo.

O Espírito Santo e o Pecado Imperdoável


Publicado em 25/08/2011 por Blog Sétimo Dia

Deus não só nos tirou toda a desculpa para continuar no


pecado, depois de o termos reconhecido como tal, como há
grande perigo em assim proceder. Esse hábito de pecar e
arrepender-se, de adiantar-se e apostasiar, envolve o
cometimento do pecado imperdoável.

O apóstolo, depois de haver advertido aos hebreus que ainda


necessitavam que se lhes ensinasse os primeiros rudimentos
da experiência cristã, quando, visto o tempo que professavam
a Cristo, deviam já ser mestres dos outros, os incita a
caminhar para a perfeição. O motivo para esta séria
exortação, ele lhes dá nas seguintes palavras: “Porque é
impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram
participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século
futuro, se vierem a recair, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto
a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério. Porque a terra que
embebe a chuva, que muitas vezes cai sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por
quem é lavrada, recebe a benção de Deus; mas a que produz espinhos e abrolhos, é reprovada
e perto está da maldição; cujo fim é ser queimada.” Hb 6:4-8.

Deus não rejeita arbitrariamente uma alma. Quando a chuva muitas vezes repetida de sua
graça não produz fruto permanente, mas em lugar do fruto se apresentam unicamente
espinhos e abrolhos, então nada mais resta senão a rejeição e a destruição pelo fogo. Caro
leitor, já tendes sido iluminado quanto aos vossos pecados em que ainda viveis? Tendes já
provado a palavra de Deus e sua virtude purificadora? Conheceis o modo de se conseguir a
vitória pela fé na sua promessa? Tendes já alguma vez experimentado essa vitória? Então há
grande risco para vós em voltar a produzir espinhos e abrolhos. Se produzirmos espinhos,
conhecendo que são espinhos e não ignorando o meio da graça divina que nos torna capazes
de produzir os frutos do Espírito, que recurso ainda resta a Deus senão o da rejeição e da
destruição pelo fogo? Tudo que Ele tem para nos fazer frutificar são as chuvas de sua graça e
virtude, mas que será, se, depois destas “muitas vezes terem vindo sobre nós” o resultado só
for espinhos e abrolhos? O caso se resume numa única sentença: avançar para a frente ou
perecer: a apostasia deve ter um termo, o pecado cessar. Contudo há ainda esperança para
aqueles que, visto o tempo que professam a Cristo, já deviam ser mestres, mas ainda
necessitam que se lhes ensine os princípios da experiência cristã.
Foi a esta mesma classe de apostasiados que a palavra foi dirigida com o fim de incitá-los a
“avançar para a perfeição.” Ela dá esperança para aqueles que estão tão “perto” de cometer o
pecado imperdoável. “Porém, ó amados”, continua o apóstolo, “de vós esperamos coisas
melhores e coisas que acompanham a salvação (frutos do Espírito), ainda que assim falamos.”
V. 9 3

O pecado contra o Espírito Santo não consiste nalgum pecado tão torpe que Deus não possa
perdoar; “porque todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens.” Mas se nós
continuarmos a negligenciar o nosso dever, se sufocarmos a convicção que o Espírito Santo
opera em nós, recusando renunciar pecados que Ele nos tem revelado, os nossos corações se
endurecem e podemos atingir a uma condição em que será impossível “renovar-nos para
arrependimento;” colocamo-nos a nós mesmos fora do alcance do Espírito de Deus, a única
coisa que nos pode convencer de pecados e mudar o Ímpio e enganoso coração do homem.
Nenhum coração é mais endurecido que aquele que despreza o convite da graça e se obstina
contra o Espírito de Deus. O pecado mais comum contra o Espírito Santo é a negligência
persistente do seu convite para o arrependimento. Foi assim que os judeus pecaram contra o
Espírito Santo. Cada passo para a frente na rejeição de Cristo é um passo dado no sentido da
rejeição da salvação, um passo para o pecado imperdoável. Rejeitando a Cristo, o povo judeu
cometeu esse pecado, e pela negligência ou desprezo do convite da graça incorremos nele
também.”

Amados, avancemos para a frente, caminhemos para a perfeição! Temos de avançar ou


perecer. Mas como avançar? Se não estais avançando é porque tendes chegado a uma prova
em vossa vida diante da qual estacastes, em vez de vencê-la pela fé na promessa de Deus. A
sua promessa é esta: “Se confessarmos os nossos pecados, Ele (Deus) é fiel e justo para nos
perdoar os pecados, e purificar-nos de toda a injustiça.” (1 Jo 1:9).

Qual foi essa prova diante da qual tendes recuado? Qual é esse pecado que tendes deixado de
tirar do meio pela fé na graça de Deus? Ou se é mais de um, quais são esses pecados?
Confessai-os a Deus e crêde que ao mesmo tempo que Ele os perdoa, também Ele vos
purifica dos mesmos. Se são pecados que tendes cometido uns contra outros, “confessai
vossas culpas uns aos outros, para que sareis.” Fazei-o agora mesmo. Se são culpas que se
entendem com pessoas que não podeis atingir pessoalmente, escrevei-lhes a vossa confissão.
Fazei-o já. Satanás vos diz: “Deixai-o para amanhã,” o Espírito de Deus vos exorta: “Fazei-o
hoje mesmo.” Tendo confessado as vossas culpas, impetrai o perdão de Deus. Tendes a
promessa dEle de que, isto feito, Ele vos perdoa. Mas com o perdão e a purificação desses
vossos pecados suplicai-Lhe também a virtude para no futuro vencer tais tentações. “Pedi e
recebereis.” “Esta é a Vitória que venceu o mundo, a nossa fé.” “Qualquer coisa que pedirdes,
orando, crede que o recebereis, e tê-lo-eis.” Será assim se o crerdes. Não espereis sentir que
estais perdoado e purificado; mas dizei; “Eu creio, não porque o sinto, mas porque Deus o
prometeu. Tendo feito isto, dai testemunho do fato. Se crerdes que estais perdoado e
purificado desses pecados, Deus o tornará um fato e estais salvo. Assim procedei com todo o
pecado de que fordes convencido pelo Espírito Santo e avançareis para a perfeição, fugindo
do risco de cometer o pecado imperdoável.

Artigo publicado na Revista Adventista de Março de 1908.

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