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Contexto político
a)A guerra: apenas quatro anos após a instauração da república, teve início a
Primeira Guerra Mundial, A discussão politica sobre o papel de Portugal no conflito
saldou-se pela decisão de intervir, com o Corpo Expedicionário Português, desde 1916, a
fim de auxiliar a Inglaterra e de proteger as colónias cobiçadas pela Alemanha.
b)A instabilidade governativa: a Constituição de 1911 definira um modelo
político segundo o qual o poder legislativo, representado pelo Congresso, detinha a
supremacia política; daqui decorria a facilidade com que o Congresso, na falta de
maioria parlamentar, destituía os governos, impossibilitando a prossecução de qualquer
1 tipo de política governativa.
A divisão dos republicanos em numerosos partidos políticos (dos quais o mais
importante era o Partido Democrático) tornava ainda mais difícil a formação de maiorias
parlamentares.
Contexto económico
a) As consequências económicas da participação na Grande Guerra: apesar de
não se terem verificado encontros militares em solo português, os fatores de
desorganização económica fizeram-se sentir de forma aguda:
-a carência de bens essenciais (pão, carvão, gás, açúcar, batatas) fez subir os
preços dos produtos, os quais eram sujeitos ao racionamento (cada família podia adquirir
apenas uma quantidade fixa de bens de consumo);
-para compensar a falta de meios de pagamento, os governos republicanos
aumentaram a quantidade de Massa monetária em circulação: em consequência, a moeda
desvalorizou, o que provocou a inflação e a perda de poder de compra dos assalariados.
Quanto mais escudo desvalorizava, maior era o custo de vida, o qual aumentou
continuamente entre 1910 e 1926.
b) Os problemas estruturais da economia portuguesa acentuaram-se com a
guerra: a falta de investimento na indústria fez crescer o défice da balança
comercial; a dependência das finanças estrangeiras conduziu ao aumento da dívida
pública.
Contexto social
a)A perda das bases de apoio da república: a subida do custo de vida provocou
o descontentamento social, em particular das classes medias e do operariado.
b)A agitação social: em virtude dos problemas económicos e políticos,
verificaram-se vagas grevistas, atentados à bomba, propaganda antirrepublicana: o
exemplo da Revolução Russa de 1917 intensificou o movimento operário, que ganhou
nova força a partir de 1919, com a criação da Confederação Geral do Trabalho. Só no
ano de 1920 registaram-se 39 greves. Em resposta, a classe capitalista criou, em
1922, a Confederação Patronal (União dos Interesses Económicos).
c)A oposição da Igreja: num país maioritariamente católico, as medidas
anticlericais promulgadas pelo ministro Afonso Costa tiveram efeitos catastróficos
sobre a opinião pública, pelo que a República perdeu grande parte do suporte popular.
Em 1915, foi criado o Centro Católico Português, que reuniu apoios contra a
República, fazendo eleger deputados ao Parlamento.
A progressiva desagregação da República fez-se sentir em diversas investidas
políticas de cariz autoritário, nas seguintes datas:
-de 1911 a 1913, Paiva Couceiro tentou, por diversas vezes, restaurar a monarquia
portuguesa;
-1915, com a ditadura militar do general Pimenta de Castro;
-1917-1918, sob a ditadura do major Sidónio Pais (a chamada "República Nova");
-1919, proclamação da “Monarquia do Norte”, na sequência da guerra civil de
Janeiro e Fevereiro do mesmo ano.
2 Em 1926, o golpe de Estado do general Games da Costa pôs fim a Primeira
Republica e iniciou um longo período de 48 anos de autoritarismo em Portugal (ate à
Revolução de 25 de Abril 1974).
Objetivo 17. Justificar a permanência da estética naturalista, em Portugal, nas primeiras
décadas do século XX
Nas primeiras décadas do século XX, enquanto, em França, desabrochavam as
vanguardas artísticas (0 Fauvismo, o Expressionismo. „), Portugal permanecia fiel a
corrente naturalista que percorrera a Europa desde a segunda metade do século
XIX. Na pintura (em que se destacavam Malhoa, Columbano e os mais jovens Carlos Reis
e Alberto de Sousa), seguia-se à risca os preceitos do Naturalismo, praticando -se a
pintura de ar livre e as descrições da vida popular. Na literatura, vingava uma
corrente nacionalista dedicada ao louvor das quali dades supostamente nacionais o
escritor Teixeira de Pascoaes, nomeadamente, cultivava o “saudosismo”.
A insistência no Naturalismo pode ter -se prendido com o contexto político
da época; a mudança de um regime com cerca de 800 anos de idade (a monarquia)
para um novo regime (a República) parecia exigir, da parte dos novos poderes, uma
fundamentação teórica e Uma justificação a todos os níveis, entre os quais, o da
arte.
Os republicanos adotaram, para se afirmarem, uma postura patriótica, que se refletiu no
apoio às correntes nacionalistas.
Por outro lado, o atraso da revolução industrial e da expansão urbana, em Portugal,
relativamente aos países desenvolvidos da Europa (França, Inglaterra, Alemanha), pode
explicar a insistência na descrição de um mundo rural, idealizado mas que, de facto, era
predominante.
Objetivo 18. Caracterizar o primeiro e o segundo modernismos
Os primeiros sinais do Modernismo português surgiram no contexto de
exposições de caricaturas e desenhos de humor, nas quais os artistas (por exemplo,
Manuel Bentes), dada a "menoridade" do tema, se permitiam usar uma técnica mais
livre; alias, a primeira utilização da palavra modernismo data de 1915, aquando da
Exposição de Humoristas e Modernistas.
Cronologicamente, os estudiosos da literatura distinguem duas etapas no
movimento modernista em Portugal:
1. Primeiro Modernismo: designa o movimento que se afirma na segunda década
do século XX (1911-1918).
O Primeiro Modernismo, apesar de efémero, foi mais arrojado do que o
Segundo Modernismo. Duas fontes históricas revelam-se fundamentais para a
compreensão das novas propostas artísticas:
a) A revista Orpheu - dirigida por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro
em 1915, a publicação dos números 1 e 2 da revista (chegou a imprimir-se o número 3,
que não foi, então, editado) deu a conhecer um estilo literário completamente
diferente de tudo o que se fizera ate então.
A revista inclui textos e pinturas fundamentais da literatura portuguesa. No
número 1, a Ode Triunfal de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa) é o
poema que inaugura o Futurismo português, patente, desde o belíssimo inicio, em:
"A dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
3 Tenho febre e escrevo"
O poema 16 de Mário de Sá-Carneiro escandalizou a sociedade da época com versos
como:
“As rãs hão de coaxar-me em roucos tons humanos
Vomitando a minha came que comeram entre estrumes"
O número 2 de Orfeu também inclui obras-chave da revolução artística, em especial:
-as pinturas de um artista assumidamente excêntrico, Santa-Rita Pintor
-o poema de Fernando Pessoa Chuva Oblique;
-a Ode Marítima de Álvaro de Campos.
A revista Orpheu causou aceso escândalo. Em resposta, a geração de Orfeu, orgulhosa das
suas opções, ripostava. O Manifesto Anti Dantas, de José de Almada Negreiros, reagia a um
artigo do escritor (e médico) Júlio Dantas e reforçava ainda mais o escândalo pelo estilo
do ("Morra o Dantas, morra! Fim!”).
b) A revista Portugal Futurista - após a 1a Conferência Futurista de José de Almada
Negreiros no Teatro República, em 1917, saiu o único número da revista Portugal Futurista, com
colaborações, nomeadamente, de Santa-Rita Pintor (que aparece com a legenda "O grande
iniciador do movimento futurista em Portugal"), Fernando Pessoa, Apollinaire, Mário de S6-
Carneiro. Álvaro de Campos publicava, aqui, um Ultimatum, onde se poderia ler:
"E tu, Portugal-centavos, resto de Monarquia a apodrecer República,
extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com
vergonhas naturais em Africa!".
Por seu turno. Almada Negreiros, depois de um longo elogio ao valor da guerra,
terminava o seu Ultimatum futurista as gerações portuguesas século XX com a frase:
"O povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo
todas as qualidades e todos os defeitos.
Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades”
A revista foi apreendida pela polícia antes de poder chegar ao público: a
república deixava de tolerar a vanguarda artística.
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