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Equipe Missionária, SDN
Livro da Sabedoria:
Para que n’Ele nossos
povos tenham vida
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Ficha Técnica:
Texto: Denilson Mariano
Diagramação: Denilson Mariano
Imagens: reprodução
Revisão: João Resende e Mariano
Capa: Imagem reprodução
Impressão: Editora O Lutador - MG
Você Sabia?!
Apesar de toda sua riqueza, o livro da Sabedoria não faz
parte da lista dos livros da Bíblia Hebraica. O motivo disto
é que ele não foi escrito em hebraico, mas em grego, e foi
escrito na Alexandria, ou seja, fora da Terra Santa. Numa
situação de migrantes desafiados a conservar a fé em uma
terra estrangeira em meio a outros costumes e religiões dife-
rentes. Por esse motivo ele não foi inserido na lista da Bíblia
Hebraica. Eis também o motivo pelo qual ele não aparece nas
Bíblias evangélicas que desde a primeira tradução segue a lista
Hebraica. No entanto, o livro da Sabedoria influencia diversos
livros do Novo (Segundo) Testamento, como o Evangelho de
João e a Carta de Tiago.
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Apresentação
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Introdução:
O mês da Bíblia é uma oportunidade para aprofun-
darmos o conhecimento e a prática da Palavra de Deus.
Seguindo a proposta da CNBB, nós e toda a Igreja do Brasil,
vamos refletir sobre a 1ª parte do livro da Sabedoria (Sb
1-6). Ele foi escrito entre os anos 100 e 50 antes de Cristo.
É o último livro do Antigo (Primeiro) Testamento a ser es-
crito. Não se sabe o nome do seu autor, mas o texto revela
que ele era um membro ativo da comunidade judaica da
Alexandria, no Egito. Ele não foi um teólogo, nem um filó-
sofo, mas uma pessoa de fé, com profunda visão da Lei de
Deus, dos conhecimentos da época e da situação do povo.
Um fiel que lê os acontecimentos com os “olhos de Deus”
e assume a sua missão profética. Ele busca a Sabedoria,
medita sobre os acontecimentos e denuncia os abusos
dos governantes injustos sobre o povo. Eles vão passar
pelo julgamento de Deus (6,1-11). Ele também anuncia a
vitória definitiva da Justiça e da Vida (5,1-20).
O livro da Sabedoria foi todo escrito em grego, língua
mais difundida na época, usada pelos grandes pensadores,
os filósofos. Em algumas partes, o autor faz uso de um
recurso muito comum na antiguidade. Ele escreve como
se fosse uma pessoa mais importante, para dar maior
valor e autoridade ao seu escrito. O autor fala como se
fosse o rei Salomão (cap. 6 a 9; cf. 1Rs 3,3-12), colocando
seus ensinamentos nos lábios dele. Eis o motivo pelo qual
esse livro ficou conhecido como: “Sabedoria de Salomão”.
No entanto, o livro da Sabedoria surge, aproximadamente,
900 anos depois da morte de Salomão.
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Este livro nasceu para ajudar o povo a superar o so-
frimento, a opressão e a perseguição (2,12). Seu autor
conhece muito bem os escritos do Antigo Testamento, ele
faz uso deles em todo o texto. Ele cita os acontecimentos
do Egito (cap. 10 a 19) para iluminar a situação vivida
pelo povo. Mas aqui, o Egito não diz respeito ao tempo
do Êxodo, refere-se antes às perseguições sob os reinados
de Ptolomeu VII e VIII (nos anos 140 a 80 a.C.).
Sabedoria é um texto dirigido primeiramente aos
judeus que tinham entrado em contato com as novas
correntes de pensamento da Alexandria, a grande capital
do Egito, e começavam a se deixar seduzir por elas. Mas
também queria atingir os pagãos, pessoas vindas de outras
religiões, mas que demonstravam interesse pelo Deus de
Israel, pelo jeito dos judeus viverem a sua fé.
O livro nasceu para ajudar a vencer a alienação im-
posta como idolatria oficial. Era tão atrativa a cultura dos
opressores que ameaçava esmagar os costumes, os bons
princípios e os ensinamentos que o povo recebera de Deus.
Os membros do povo mais estudados começaram a pensar
que a sabedoria dos gregos era superior à sabedoria do
Deus de Israel.
Nosso estudo está organizado em sete encontros que
nascem a partir da Palavra de Deus. No desenvolvimento,
além de um aprofundamento sobre o livro da Sabedoria
tem sempre uma referência a Jesus Cristo que é a luz que
ilumina toda a Escritura. Cada encontro termina com uma
palavra do Papa Francisco, vinda de sua última Exortação:
“Alegrai-vos e Exultai!” (GE). Ele nos convida a trilhar o
caminho da santidade. Será uma forma de nos aproximar
da Sabedoria de Deus nas Escrituras e na palavra da Igreja.
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1º Encontro:
A Justiça é imortal
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favorece o discernimento. O injusto é aquele que não
escuta e não confia em Deus. Ele se fecha na injustiça e
trilha o caminho da morte: uma vida vazia, sem sentido.
Jesus vem ao mundo para nos revelar a Sabedoria
de Deus a favor do seu povo. Logo ao ser batizado Ele
declara que veio para cumprir toda a justiça (Mt 3,15).
Em sua última Encíclica: “Alegrai-vos e Exultai!” o Papa
Francisco nos recorda: “Mas a justiça, que Jesus propõe,
não é como a que o mundo procura, uma justiça muitas
vezes manchada por interesses mesquinhos, manipulada
para um lado ou para outro. A realidade mostra-nos
como é fácil entrar nas súcias (grupos) da corrupção,
fazer parte dessa política diária do ‘dou para que me
deem’, onde tudo é negócio. E quantas pessoas sofrem
por causa das injustiças, quantos ficam assistindo, impo-
tentes, como outros se revezam para repartir o bolo da
vida. Alguns desistem de lutar pela verdadeira justiça, e
optam por subir para o carro do vencedor. Isto não tem
nada a ver com a fome e sede de justiça que Jesus louva.
[...] ‘procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei
justiça aos órfãos, defendei as viúvas’ (Is 1, 17). Buscar a
justiça com fome e sede: isto é santidade.” (GE 78 e 79)
Para aprofundamento: O que fazer, concreta-
mente, para não sermos levados pela onda de corrup-
ção presente na sociedade hoje? Dê exemplos.
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2º Encontro:
O mundo dos injustos
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prova de amor a Deus. Sua morte acontece por causa da
opressão, tortura, perseguição e opressão da parte dos
injustos (2,10-20). Deus não deseja a morte dos justos,
mas a sua resistência às forças do mal os arrastam para a
morte. Mas essa morte não é em vão, ela será um teste-
munho contra os injustos (4,16).
Também contrariando a visão bíblica de vida longa
como bênção de Deus, o livro da Sabedoria aponta que a
verdadeira idade não se mede pelo número de anos, mas
pela qualidade da justiça praticada na vida. Ele toma a vida
de Henoc (Gn 5,24) como exemplo e faz um paralelo entre
a vida do justo que morre ainda jovem com a velhice do
injusto que nada de bom produziu em sua vida (4,13-16).
Não basta ver as aparências, é preciso discernimento
para olhar com maior profundidade e, humildemente,
penetrar nos mistérios de Deus a respeito do sábio,
daquele que é justo (4,17-19). Neste sentido, o uso do
bom senso revela a prudência do ser humano ao fazer a
escolha certa: fazer bem e evitar o mal. Esta é a verdadeira
astúcia e perspicácia que transparece no discernimento. O
sentido da vida e da existência humana é agradar a Deus,
isto é, crescer e aprender a ser obediente à Sua vontade.
Mas o que fica claro no livro da Sabedoria é que a
morte prematura do justo, causada pela injustiça e vio-
lência dos ímpios, servirá de condenação para os injustos
que a provocaram. Mesmo que indiretamente, pois, bem
sabemos que os injustos criam leis, artimanhas, situações
que levam os pobres e pequenos ao sofrimento e à morte.
Situações em que um povo inteiro é escravizado ou cruci-
ficado nas novas cruzes da história: como o desemprego,
a exclusão, a falta de condições mínimas de saúde, de
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assistência social, de educação... Também por meio de
guerras, dominações, migrações forçadas... Cada morte
de um inocente, cada morte de uma pessoa anônima
vitimada pela injustiça social, é uma denúncia, um teste-
munho contra o sistema inteiro que produz a morte do
povo a fim de garantir os privilégios de alguns poderosos.
Os opressores caem na cova que eles mesmos abriram...
Jesus advertiu sobre o que devemos temer de fato:
“Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas
são incapazes de matar a alma! Pelo contrário, temei
Aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno.”
(Mt 10,28). Não se trata de um desprezo do corpo, mas
de conservar os princípios da justiça que dão sentido à
vida. Fazer a vontade do Pai é o que possibilita entrar no
Reino dos Céus (cf. Mt 8,21), e é a condição para se tornar
membro de Sua família (cf. Mt 12,50). A postura assumida
por Jesus diante da possibilidade da sua condenação à
morte não foi irrefletida. Os anúncios da paixão mostram
essa consciência de Jesus frente à maldade humana su-
perada pela bondade divina (cf. Mt 16,21-23; 17,22-23).
Por isso: “Os injustos, quando forem prestar conta de
seus pecados, chegarão cheios de terror, e seus crimes os
acusarão cara a cara” (4,20). O Evangelho de Mateus vai
retomar esse tema no julgamento dos últimos dias, onde
os pobres, indefesos e injustiçados serão os juízes das
nações. Enfim, o que fizermos ou deixamos de fazer a fa-
vor dos últimos da sociedade é que testemunhará a favor
ou contra nós neste julgamento final. (Cf. Mt 25, 31-46).
O Papa Francisco nos recorda que “Para viver Evan-
gelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja
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favorável, porque muitas vezes as ambições de poder e
os interesses mundanos jogam contra nós. [...] Numa
tal sociedade alienada, enredada numa trama política,
mediática, econômica, cultural e mesmo religiosa, que
estorva o autêntico desenvolvimento humano e social,
torna-se difícil viver as bem-aventuranças, podendo até a
sua vivência ser mal vista, suspeita, ridicularizada. A cruz,
especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos
para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça,
é fonte de amadurecimento e santificação. [...] Abraçar
diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos
acarrete problemas: isto é santidade.” (GE 91-94).
Para aprofundamento: Que tipo de perseguição en-
frentamos no nosso dia a dia? Como reagimos a ela?
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6º Encontro:
O julgamento dos injustos
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Quem a ela corresponde, revela responsabilidade e está
pronto para administrar.
A Sabedoria permite enxergar mais longe, de forma
mais profunda, para além das aparências. Ela permite o
discernimento que é olhar a realidade, os acontecimentos,
com os “olhos” de Deus. Quem busca a Sabedoria, e se
deixa instruir por ela, percorre um caminho reto e não se
desvia da justiça. Assim, a busca da Sabedoria equivale
à busca de aprender a amar a justiça, que por sua vez,
conduz à imortalidade. É buscar aquilo que favorece ao
reinado da justiça no mundo. Essa é a proposta de Jesus
apresentada por Mateus: “Buscai primeiro o Reino de
Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será acrescentado”
(Mt 6,33).
Vivemos um momento de crise aguda na história e na
política de nosso país. A corrupção alastrou-se em todas
as esferas de poder, uma grande maioria deixou-se levar
por privilégios e ganhos ilegítimos. A grande vítima são
os pobres, os mais fracos e desprezados. É preciso que se
levantem as vozes proféticas e façam ecoar o clamor pela
ética e pela justiça. Que derrube a corrupção e levante a
moralidade. Eis um clamor pela santidade...
Jesus não apenas concretizou Lv 19,2 “Sede santos,
porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”, mas ensi-
nou o caminho aos discípulos apontando para o amor os
inimigos (cf. Mt 5,43-47; Lc 6,32-35). É neste contexto,
de amor aos inimigos que se concretiza a releitura e rein-
terpretação de Lv 19,2: “Sede perfeitos como o vosso Pai
celeste é perfeito” (Mt 5,48); Ou, “Sede misericordiosos
como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).
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Assim nos aponta o Papa Francisco: “Poder-se-ia pen-
sar que damos glória a Deus só com o culto e a oração, ou
apenas observando algumas normas éticas (é verdade que
o primado pertence à relação com Deus), mas esquecemos
que o critério de avaliação da nossa vida é, antes de mais
nada, o que fizemos pelos outros. A oração é preciosa, se
alimenta uma doação diária de amor. O nosso culto agra-
da a Deus, quando levamos lá os propósitos de viver com
generosidade e quando deixamos que o dom lá recebido se
manifeste na dedicação aos irmãos.Pela mesma razão, o
melhor modo para discernir se o nosso caminho de oração
é autêntico será ver em que medida a nossa vida se vai
transformando à luz da misericórdia. [...] ‘antes de tudo,
temos de dizer que a misericórdia é a plenitude da justiça
e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus’. A
misericórdia é a chave do Céu”.(GE 104-105).
Para aprofundamento: Nossos cultos e celebração
estão nos fazendo agir com maior misericórdia e justiça?
O que precisa ser melhorado?
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Cânticos para animar o Estudo
01. Cantai ao Senhor Deus - Abertura (Crisógono)
Cantai, ao Senhor Deus, um canto novo, / celebrai os seus
prodígios entre os povos. (bis)
1. Cantai, ao Senhor Deus, um canto novo! / Cantai, ao Se-
nhor Deus, ó Terra inteira! / Cantai e bendizei seu Santo
Nome, / dai-lhe a glória que é devida e verdadeira!
2. Todo dia anunciai a Salvação, / proclamai a Sua glória com
alegria. / Adorai-O no esplendor da santidade, / publicai
as Suas grandes maravilhas.
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Oração para pedir a Sabedoria de Deus
“Senhor, manda a Sabedoria
desde o céu santo
e a envia desde o teu trono glorioso,
para que ela nos acompanhe
e participe dos nossos trabalhos,
e nos ensine o que é agradável a Ti.
Porque ela tudo sabe e tudo compreende.
Ela nos guiará prudentemente em nossas ações
e nos protegerá com a glória dela.
Assim, as nossas obras serão agradáveis a ti.
(...) Quem poderá conhecer o teu projeto,
se tu não lhe deres sabedoria,
enviando do alto o teu Espírito Santo?
Somente assim foram endireitados
todos os caminhos de quem vive sobre a terra.
Somente assim os homens aprenderam
aquilo que te agrada.
Eles foram salvos por meio da sabedoria”.
Dá-nos sempre a Tua Sabedoria, Senhor!
Amém!
(Sb 9, 10-11;17-18 - adaptada)
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