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Livro da Sabedoria

“A Sabedoria é um espírito amigo do ser humano”


(Sb 1,6)

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Equipe Missionária, SDN

Livro da Sabedoria:
Para que n’Ele nossos
povos tenham vida

“A Sabedoria é um espírito amigo


do ser humano”
(Sb 1,6)

Mês da Bíblia 2018

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Ficha Técnica:
Texto: Denilson Mariano
Diagramação: Denilson Mariano
Imagens: reprodução
Revisão: João Resende e Mariano
Capa: Imagem reprodução
Impressão: Editora O Lutador - MG

Você Sabia?!
Apesar de toda sua riqueza, o livro da Sabedoria não faz
parte da lista dos livros da Bíblia Hebraica. O motivo disto
é que ele não foi escrito em hebraico, mas em grego, e foi
escrito na Alexandria, ou seja, fora da Terra Santa. Numa
situação de migrantes desafiados a conservar a fé em uma
terra estrangeira em meio a outros costumes e religiões dife-
rentes. Por esse motivo ele não foi inserido na lista da Bíblia
Hebraica. Eis também o motivo pelo qual ele não aparece nas
Bíblias evangélicas que desde a primeira tradução segue a lista
Hebraica. No entanto, o livro da Sabedoria influencia diversos
livros do Novo (Segundo) Testamento, como o Evangelho de
João e a Carta de Tiago.

Pedidos: Casa do Mobon


Rua Santa Maria, 346 - Serapião II
Dom Cavati - MG
Fone: (33) 3357-1348
Visite nossso site: www.mobon.org.br

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Apresentação

Temos a alegria de apresentar este curso sobre o


Mês da Bíblia em 2018, que vai dedicar-se ao estudo do
Livro da Sabedoria. São sete temas de aprofundamento.
O autor, nosso querido Irmão Denílson Mariano,
SDN, com muita “sabedoria”, colocou nestas lições os
principais ensinamentos desse último livro do Primeiro
Testamento. Por exemplo: a Justiça é imortal, ela vem de
Deus e é o próprio Deus. A ação infeliz do “injusto”. E a
verdadeira face do “justo”, aquele que realiza o projeto
de Deus, mesmo com lutas, sofrimentos, perseguições
e até morte.
Didaticamente, usa comparações esclarecedo-
ras, que ajudam todos, pessoas cultas e mais simples,
a compreenderem o conteúdo deste livro. O livro da
Sabedoria, diz ele, é como uma seta à beira da estrada,
que nos ajuda descobrir a direção para onde deseja-
mos caminhar. É como um binóculo, que nos possibilita
enxergar com perfeição pessoas e objetos distantes. O
sofrimento do justo é como o ouro derretido pelo fogo
e que assim fica purificado. O livro da Sabedoria é como
um retrovisor, que nos faz também enxergar novos sen-
tidos da Palavra de Deus.
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Após o desenvolvimento de cada um dos sete
temas, nos é apresentada a Palavra do Papa Francisco,
na sua última encíclica: “Alegrai-vos e Exultai”. Com sua
sabedoria e simplicidade, o nosso querido Papa nos
passa a Palavra de Deus, sempre antiga e sempre nova,
nos entusiasmando para vivermos nossa Fé, em Família
e em Comunidade.
Desejo que os “cursos” do Mês da Bíblia 2018,
com a ajuda deste livro, possam atingir todas e todos
os nossos líderes leigos e leigas e, através deles e delas,
todo o nosso bom Povo de Deus, em todas as nossas
Paróquias e em todas as nossas Comunidades.
Para vocês, caros filhos e filhas, minha bênção
episcopal: Em nome do † Pai, e do † Filho, e do † Espírito
Santo. Amém.

Caratinga, 01 de maio de 2018

+ Dom Emanuel Messias de Oliveira


Bispo Diocesano de Caratinga

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Introdução:
O mês da Bíblia é uma oportunidade para aprofun-
darmos o conhecimento e a prática da Palavra de Deus.
Seguindo a proposta da CNBB, nós e toda a Igreja do Brasil,
vamos refletir sobre a 1ª parte do livro da Sabedoria (Sb
1-6). Ele foi escrito entre os anos 100 e 50 antes de Cristo.
É o último livro do Antigo (Primeiro) Testamento a ser es-
crito. Não se sabe o nome do seu autor, mas o texto revela
que ele era um membro ativo da comunidade judaica da
Alexandria, no Egito. Ele não foi um teólogo, nem um filó-
sofo, mas uma pessoa de fé, com profunda visão da Lei de
Deus, dos conhecimentos da época e da situação do povo.
Um fiel que lê os acontecimentos com os “olhos de Deus”
e assume a sua missão profética. Ele busca a Sabedoria,
medita sobre os acontecimentos e denuncia os abusos
dos governantes injustos sobre o povo. Eles vão passar
pelo julgamento de Deus (6,1-11). Ele também anuncia a
vitória definitiva da Justiça e da Vida (5,1-20).
O livro da Sabedoria foi todo escrito em grego, língua
mais difundida na época, usada pelos grandes pensadores,
os filósofos. Em algumas partes, o autor faz uso de um
recurso muito comum na antiguidade. Ele escreve como
se fosse uma pessoa mais importante, para dar maior
valor e autoridade ao seu escrito. O autor fala como se
fosse o rei Salomão (cap. 6 a 9; cf. 1Rs 3,3-12), colocando
seus ensinamentos nos lábios dele. Eis o motivo pelo qual
esse livro ficou conhecido como: “Sabedoria de Salomão”.
No entanto, o livro da Sabedoria surge, aproximadamente,
900 anos depois da morte de Salomão.
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Este livro nasceu para ajudar o povo a superar o so-
frimento, a opressão e a perseguição (2,12). Seu autor
conhece muito bem os escritos do Antigo Testamento, ele
faz uso deles em todo o texto. Ele cita os acontecimentos
do Egito (cap. 10 a 19) para iluminar a situação vivida
pelo povo. Mas aqui, o Egito não diz respeito ao tempo
do Êxodo, refere-se antes às perseguições sob os reinados
de Ptolomeu VII e VIII (nos anos 140 a 80 a.C.).
Sabedoria é um texto dirigido primeiramente aos
judeus que tinham entrado em contato com as novas
correntes de pensamento da Alexandria, a grande capital
do Egito, e começavam a se deixar seduzir por elas. Mas
também queria atingir os pagãos, pessoas vindas de outras
religiões, mas que demonstravam interesse pelo Deus de
Israel, pelo jeito dos judeus viverem a sua fé.
O livro nasceu para ajudar a vencer a alienação im-
posta como idolatria oficial. Era tão atrativa a cultura dos
opressores que ameaçava esmagar os costumes, os bons
princípios e os ensinamentos que o povo recebera de Deus.
Os membros do povo mais estudados começaram a pensar
que a sabedoria dos gregos era superior à sabedoria do
Deus de Israel.
Nosso estudo está organizado em sete encontros que
nascem a partir da Palavra de Deus. No desenvolvimento,
além de um aprofundamento sobre o livro da Sabedoria
tem sempre uma referência a Jesus Cristo que é a luz que
ilumina toda a Escritura. Cada encontro termina com uma
palavra do Papa Francisco, vinda de sua última Exortação:
“Alegrai-vos e Exultai!” (GE). Ele nos convida a trilhar o
caminho da santidade. Será uma forma de nos aproximar
da Sabedoria de Deus nas Escrituras e na palavra da Igreja.
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1º Encontro:
A Justiça é imortal

Chave de leitura: Sabedoria 1,1-15.


1. Qual o primeiro apelo de Deus?
2. Porque a Sabedoria não entra numa alma maligna?
3. O que o texto nos revela como imortal?
4. O que podemos fazer para crescermos na prática
da justiça?
A Alexandria, então capital do Egito, era um dos mais
importantes centros culturais da época. Era dominada
por Roma que vivia o período de sua maior expansão.
Ela chegou a ter cerca de 600 mil habitantes dos quais,
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200 mil eram judeus. Os membros do povo de Deus,
vivendo nesta terra estrangeira, para poderem participar
ativamente da vida política, social e cultural, tinham de
abrir mão de sua fé e de sua identidade judaica. Tinham
que abandonar o Deus de Israel para abraçar a filosofia,
os costumes e os cultos gregos. Em outras palavras, a
cultura grega representava uma ameaça à fé do povo
de Deus.
Uma parte do povo acabava se deixando seduzir
pelos costumes gregos, abandonavam sua fé em Deus
e deixavam de lado sua identidade para abraçar os cos-
tumes daquela sociedade idólatra e injusta. O autor do
livro da Sabedoria procura ajudar o povo de Deus a abrir
os olhos para redescobrir a beleza de sua fé e a riqueza
da Sabedoria que ela contém. Ele ajuda o povo a reler
as Escrituras de frente para a realidade, como uma luz
para iluminar os acontecimentos da vida. O livro da
Sabedoria é como uma seta na estrada, ajuda a pessoa
a descobrir a direção a ser seguida, mas a decisão é de
quem caminha. A Sabedoria que vem de Deus ilumina a
vida, a história e revela que somente a justiça que vem
de Deus é capaz de libertar verdadeiramente o povo.
O livro é aberto com um apelo feito aos governantes:
“Amem a justiça vocês que governam a terra” (1,1).
Aponta que o bom governo não vem apenas da boa von-
tade de cada um ou da própria sabedoria. Mas somente
voltando-se para Deus com o coração sincero, é que
se alcança a Sabedoria que vem de Deus e é por meio
dela que vem a justiça e a moralidade de um povo. O
projeto de Deus é vida para todos. Por isso a Sabedoria
é apresentada como um espírito amigo dos homens
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(1,6), um espírito que ama o ser humano. A Sabedoria
apresenta-se como uma característica de quem é justo
(12,19). Quem é justo se faz também amigo do ser hu-
mano, aprende a compadecer-se, aprende a respeitar
o outro em suas necessidades.
O espírito da Sabedoria se identifica com o espírito
criador, como no Gênesis que enche o universo, o espíri-
to que pairava sobre as águas (Gn 1,2), que dá consistên-
cia às coisas e tudo conhece (1,7). Ao mesmo tempo em
que se eleva a Sabedoria que conduz à justiça, também
pré anuncia a condenação dos que praticam a injustiça:
“quem fala coisas injustas, não escapará e a justiça vin-
gadora não o poupará” (1,8). Isto indica que Deus não
fica imparcial diante da injustiça ou da desigualdade.
Ele é o Justo que se levanta contra os injustos (1,8b). O
Livro da Sabedoria trata com seriedade a questão das
injustiças. Os injustos serão investigados e seus crimes
serão desmascarados (1,9). Deus cria o homem para
a vida e não se alegra com morte dos seres humanos.
O desejo de Deus é a justiça e ela é imortal (1,15).
A imortalidade da justiça é o núcleo de todo o livro da
Sabedoria. Nela está o projeto de vida que Deus tem para
a humanidade. A justiça é que conduz à vida eterna. O
SENHOR é justo e ama a justiça, assim, quem se aproxi-
ma do Senhor, o escuta e caminha na Sua justiça, pode
ver a face daquele que é Justo por excelência (Sl 10,7).
Por outro lado a injustiça leva à morte e todos temos de
tomar uma decisão, fazer uma escolha decisiva: justiça
ou injustiça, vida ou morte (cf. Dt 30,19). Assim, quem
decide por Deus, caminha na justiça, tem o espírito que

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favorece o discernimento. O injusto é aquele que não
escuta e não confia em Deus. Ele se fecha na injustiça e
trilha o caminho da morte: uma vida vazia, sem sentido.
Jesus vem ao mundo para nos revelar a Sabedoria
de Deus a favor do seu povo. Logo ao ser batizado Ele
declara que veio para cumprir toda a justiça (Mt 3,15).
Em sua última Encíclica: “Alegrai-vos e Exultai!” o Papa
Francisco nos recorda: “Mas a justiça, que Jesus propõe,
não é como a que o mundo procura, uma justiça muitas
vezes manchada por interesses mesquinhos, manipulada
para um lado ou para outro. A realidade mostra-nos
como é fácil entrar nas súcias (grupos) da corrupção,
fazer parte dessa política diária do ‘dou para que me
deem’, onde tudo é negócio. E quantas pessoas sofrem
por causa das injustiças, quantos ficam assistindo, impo-
tentes, como outros se revezam para repartir o bolo da
vida. Alguns desistem de lutar pela verdadeira justiça, e
optam por subir para o carro do vencedor. Isto não tem
nada a ver com a fome e sede de justiça que Jesus louva.
[...] ‘procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei
justiça aos órfãos, defendei as viúvas’ (Is 1, 17). Buscar a
justiça com fome e sede: isto é santidade.” (GE 78 e 79)
Para aprofundamento: O que fazer, concreta-
mente, para não sermos levados pela onda de corrup-
ção presente na sociedade hoje? Dê exemplos.

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2º Encontro:
O mundo dos injustos

Chave de leitura: Sabedoria 2,1-24.


1. Como o injusto enxerga a vida?
2. Para o injusto, o que é aproveitar a vida?
3. Como o injusto trata os justos?
4. O que Jesus nos diz diante desta realidade, hoje?
O livro da Sabedoria contempla apenas duas catego-
rias de pessoas: os justos que caminham com Deus e os
injustos que não conhecem a Deus ou que não são fiéis
a Ele. O traço mais importante é a fidelidade a Deus que
se dá através da prática da justiça. É como um binóculo
que o autor entrega ao leitor para que ele possa enxergar
mais longe e melhor.
Logo no início, o autor deixa claro que os injustos
vivem de aparências e por isso se enganam. Eles não
conhecem o Deus da vida e o seu projeto libertador. Para
os injustos, a vida é breve, triste, sem sentido, como uma
nuvem ou fumaça (2,1-5). Por isso a ânsia de aproveitar
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o máximo possível tudo o que puder: alegria, comida,
bebida, prazeres, uma vida afogada em futilidades. Para
sustentar esse tipo de vida, nascem as desigualdades e
o esquema de exploração sobre os mais pobres e neces-
sitados. Daí o ódio contra os justos que os incomodam
e atrapalham os esquemas que sustentam essa vida.
Assim, a exploração dos pobres não é algo acidental,
mas algo planejado para alimentar o sistema que domi-
na: “Vamos oprimir o justo pobre e não vamos poupar
as viúvas, nem respeitar os cabelos brancos do ancião.
(...) porque o fraco é claramente coisa inútil” (2,10-11).
Neste esquema dominador, não entra Deus, não entra a
Justiça, não entra a Sabedoria. Os ímpios, os maus, por
si mesmos, se excluem das promessas da vida, não tanto
por “aproveitar a vida” (cf. Ecl 9,7-9), mas pela violência,
injustiça, maus tratos e exploração usados contra os
pobres para sustentar sua boa vida. Além da exploração
aos mais fracos, aparece claramente o controle que os
dominantes têm sobre o exercício da justiça e do direito.
Ou seja, os pobres e os pequenos, os excluídos não têm
a quem recorrer neste mundo.
E o justo ainda incomoda os injustos porque ele
orienta sua vida pelo conhecimento de Deus, busca
o Seu projeto de Vida que é a prática da justiça e que
garante a imortalidade. Isto faz com que o justo seja
solidário, renuncie a violência e lute contra as injustiças,
denunciando a falsidade dos ímpios. Este foi o caminho
seguido mais tarde por Jesus. Seu projeto de ‘vida para
todos’ fez com que Ele se tornasse um incômodo para
as autoridades religiosas e políticas. Por isso Ele foi per-
seguido, julgado e condenado à morte, injustamente.
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Incomodados com a atuação dos justos, os injustos
avançam ainda mais contra eles. Os torturam para ver
até quando aguentam ou se Deus vem em seu auxílio. E
vão até à sua condenação e morte (2,17-20). Eles estão
cegos, a maldade em seus corações não lhes permite
enxergar o projeto de Deus, nem a recompensa que ele
reserva aos justos (2,22).
Deus criou o ser humano para a imortalidade. Ima-
gem e semelhança de um Deus imortal, o justo caminha
para a imortalidade (1,13. Gn 1,26-27). Esta é a grande
boa nova anunciada pela Sabedoria. Após a morte, a vida
continua para os justos junto de Deus. O mais importan-
te e decisivo é praticar a vontade de Deus, agir em Sua
Justiça e viver em Seu amor. Quem é fiel a Deus possui a
vida que não tem fim. Aos infiéis restará a morte sem fim.
Deus é soberanamente bom, ama a humanidade e todos
os seres vivos e quer que todos vivam (12,18; Jo 10,10).
Neste sentido nos recorda o Papa Francisco: “Deixa
que a graça do teu Batismo frutifique num caminho
de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e,
para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não
desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para
tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do
Espírito Santo na tua vida. Quando sentires a tentação
de te enredares na tua fragilidade, levanta os olhos para
o Crucificado e diz-Lhe: ‘Senhor, sou um miserável! Mas
Vós podeis realizar o milagre de me tornar um pouco
melhor’. [...] Esta santidade, a que o Senhor te chama,
irá crescendo com pequenos gestos.” (GE nº 15-16)
Para aprofundamento: A desigualdade social hoje é
algo acidental e casual ou algo provocado? Dê exemplos?
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3º Encontro:
Vale a pena ser justo

Chave de leitura: Sabedoria 3,1-12.


1. Por que o tormento não atinge o justo?
2. Como será o julgamento do justo?
3. Qual será a sorte dos injustos?
4. Em que este texto nos ilumina e encoraja, hoje?
O autor relê as Escrituras de um jeito novo, para além
da interpretação comum entre o povo de Israel. Para isso
é preciso lembrar que a doutrina da retribuição – muito
em alta hoje, em algumas igrejas – apresentava o suces-
so e a riqueza como o sinal da bênção de Deus. Como
então, entender o sofrimento do justo? Como olhar para
a morte dos inocentes? O sofrimento é visto de um jeito
novo (3,1-12).
Ele mostra, com clareza, que a vida dos justos está nas
mãos de Deus. É Ele que os acolhe, defende e os sustenta
diante dos tormentos e da morte. Eles não perdem a paz,
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porque estão em Deus (3,3; Is 57,1-2). Os justos, que
aparentemente tinham caído nas mãos dos ímpios, na
verdade encontram-se nas mãos de Deus e por Ele são
amparados. Eles são aliados de Deus, obedientes à Lei e
praticantes da justiça. É em Deus que se apoia a esperança
dos justos e é uma esperança cheia de imortalidade (3,4)
porque se apoia na Justiça imortal (1,15). Mais tarde,
Paulo sacramenta: “Os sofrimentos do tempo presente
não têm comparação com a glória futura, que deverá
revelar-se em nós.” (Rm 8,18).
O sofrimento e a morte dos justos são vistos como
“provação”. É o ouro purificado no fogo. Assim, Deus
aceita a morte do justo como sacrifício perfeito. Mas,
sem esquecer que se trata de uma injustiça da parte dos
ímpios. Os justos são vítimas inocentes de um esquema
de injustiça e exploração que favorece aos que tiram
proveito desta situação. Deus, no entanto, reserva aos
justos o viver com Ele e participar do julgamento: “Eles
governarão as nações [...] compreenderão a verdade [...]
viverão junto dele no amor, pois a graça e a misericórdia
estão reservadas para os seus escolhidos” (3,8-9). Vale a
pena ser justo e até sofrer, pois não há apenas vida após a
morte, mas uma justa retribuição para quem vive na justiça,
não renega a sua fé e persevera até o fim (cf. Mt 10,22).
Os justos se tornarão juízes dos ímpios (cf. Mt 19,28-
30). Mas, não devemos entender que esse julgamento
venha a acontecer apenas na vida eterna, mas, já na
história. É através dos justos que Deus vai realizando
esse julgamento e instaurando, aos poucos o Seu Reino
de Justiça e Paz. Por isso o cuidado que devemos ter para
não desprezarmos a Sabedoria e a disciplina (3,11), sem
15
ela é vazia a nossa esperança. Esta é a condenação para
os ímpios e para seus familiares que desprezam a Deus
e seus mandamentos. Mas, no conjunto das Escrituras,
a culpa não é generalizada, ou seja, cada um é que res-
ponde por seus próprios atos: “A pessoa que peca é que
morre! O filho não sofre o castigo da iniquidade do pai...
e se o ímpio se converter de seus pecados... certamente
viverá!” (Ez 18,20-21).
Jesus é o justo por excelência; Ele colocou toda a sua
vida e todo seu ministério nas mãos de Deus. Jesus fez da
vontade do Pai o seu alimento (cf. Jo 4,34). Entregou o seu
espírito nas mãos do Pai (cf. Lc 24,46). Esta confiança ina-
balável em Deus vem de sua íntima e filial relação com o
Pai: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30;). Por esta razão, Jesus
enfrentou e não temeu as dificuldades e os sofrimentos.
Ele assumiu a condição de Servo Sofredor (cf. Mt 12,15-
21; Is 42,1-4). Jesus mantém até o fim a sua fidelidade a
Deus (cf. Mt 20,28). Certo de que Deus não o abandona
no sofrimento e que sua perseverança vai desmascarar a
injustiça do sistema de morte que condena os inocentes.
O Papa Francisco nos recorda que “As riquezas não te
dão segurança alguma. Mais ainda: quando o coração
se sente rico, fica tão satisfeito de si mesmo que não tem
espaço para a Palavra de Deus, para amar os irmãos,nem
para gozar das coisas mais importantes da vida. Deste
modo priva-se dos bens maiores. Por isso, Jesus chama
felizes os pobres em espírito, que têm o coração pobre,
onde pode entrar o Senhor com a sua incessante novidade.
[...] Ser pobre no coração: isto é santidade.” (GE nº 68 e 70)
Para aprofundamento: Nosso seguimento a Jesus
tem seguido a baliza da prática da justiça? Dê exemplos.
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4º Encontro:
Fecundidade é agir na justiça

Chave de leitura: Sabedoria 3,13–4,6.


1. Por que é chamado de feliz quem não pode ter filhos?
2. Qual a sorte da descendência dos injustos?
3. Como os filhos dos ímpios aparecerão no julgamento?
4. Como devemos reler este texto à luz de Jesus?
Algo fundamental nesta obra é a personificação da
Sabedoria divina. Enquanto, para os gregos, a sabedoria
era um meio para chegar ao conhecimento, para o autor,
a Sabedoria é uma proposta de vida. A sabedoria é um
alguém que está presente em toda a vida: que fala, incen-
tiva e argumenta. A sabedoria é o reflexo da vontade e
dos desígnios de Deus (9,13.17); A Sabedoria é que torna
a religião judaica muito superior às religiões idólatras
(cap. 13-15). A sabedoria é o próprio Deus atuando na
História de Israel (cap. 11-12; 16-19). Ela prefigura o amor
e a sabedoria de Deus que culmina em Jesus: Cristo é a
“Sabedoria de Deus” (cf.1Cor 1,24.30).
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Nesta parte do texto o autor apresenta dois contras-
tes: a) é melhor a esterilidade sem o pecado (3,13-19); b) é
melhor a falta de filhos com a virtude da honradez (4,1-6).
Para bem entendermos esta passagem é preciso lembrar
que na bíblia a fecundidade é uma das maiores bênçãos
de Deus. Os filhos são bênçãos de Deus (Cf. Sl 128). Não
ter filhos equivalia a não ter a bênção de Deus. Mais ainda,
os filhos eram a garantia para perpetuar o nome do pai e
para conservar a propriedade da família. O autor trabalha
a falta dos filhos (3,13-4,6); a morte prematura (4,7-19) de
um jeito novo. Ele olha pelo retrovisor da Palavra de Deus
e dá uma leitura nova aos acontecimentos à sua frente.
De uma forma totalmente nova, o autor chega a
elogiar a mulher que não tem filhos. Isto se dá porque
ela não se uniu aos estrangeiros, ela permaneceu fiel à
Aliança com Deus, por isso, mesmo sem gerar filhos, a
mulher é elogiada e sua recompensa virá no encontro
definitivo com Deus. Por sua vez o eunuco – o homem
estéril – que pela Lei era excluído de participar do culto e
do serviço ao altar (Lv 21,10 e Dt 23,2) é visto como digno
da recompensa de Deus por sua fidelidade (cf. Is 56,3-
5). Fica evidente que mais importante que deixar uma
geração de filhos corrompidos, é importante deixar um
testemunho de vida justa e honesta. “A memória do justo
é para sempre!” (Sl 112,6). A justiça deixa rastros que não
se apagam e que permanecem para sempre na história.
Na sequência o autor apresenta uma condenação aos
filhos dos injustos (3,16-19). No pano de fundo está a ima-
gem de que uma árvore má, que não pode produzir bons
frutos. Se as sementes não são boas, é melhor que não
vinguem. Elas não terão forças para se desenvolverem. E
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logo serão arrancadas (4,4). Importante é preservar a vir-
tude, que aqui é sinônimo de justiça, de fidelidade a Deus.
As uniões ilegítimas dizem respeito ao casamento en-
tre judeus e estrangeiros (no caso, os gregos) que podia
levar a um esquecimento da Aliança com Deus. Assim, no
julgamento, os filhos dos injustos serão testemunhas da
maldade praticada por seus pais (4,6). Vale lembrar que
Jesus também elogia quem sacrifica desejos naturais em
função da construção do Reino: “Há homens que se castra-
ram por causa do Reino” (Mt 19,12). O verdadeiro santo
é o que anda na justiça e estimula outros a praticá-la.
Assim nos recorda o Papa Francisco: “Na Bíblia, o
coração significa as nossas verdadeiras intenções, o
que realmente buscamos e desejamos, para além do
que aparentamos: ‘O homem vê as aparências, mas o
Senhor olha o coração’ (1 Sm 16, 7). [...] ‘Vela com todo
o cuidado sobre o teu coração’ (Pv 4, 23). Nada de man-
chado pela falsidade tem valor real para o Senhor. [...]
Também vemos, no Evangelho de Mateus, que é ‘o que
provém do coração (…) que torna o homem impuro’ (15,
18), porque de lá procedem os homicídios, os roubos, os
falsos testemunhos (cf. 15, 19). [...] Quando o coração
ama a Deus e ao próximo (cf. Mt 22, 36-40), quando isto
é a sua verdadeira intenção e não palavras vazias, então
esse coração é puro e pode ver a Deus. [...] Jesus promete
que as pessoas de coração puro ‘verão a Deus’. Manter
o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é
santidade.” (GE 83-86).
Para aprofundamento: Nas atitudes cotidianas,
agimos corretamente ou nos deixamos corromper? Dê
exemplos.
19
5º Encontro:
A morte do justo condena o injusto

Chave de leitura: Sabedoria 4,7-20


1. Porque o justo terá repouso?
2. Porque a morte do justo condena o injusto?
3. Como será a prestação de contas dos injustos?
4. Em que a morte de Jesus iluminou os acontecimen
tos da época?
Até agora vimos que Deus está com os justos e caminha
a seu lado. Mas, como entender a morte prematura dos
justos já que para o povo de Israel a vida longa era um
sinal da bênção de Deus e a vida curta um castigo pelos
pecados. O livro da Sabedoria vai responder a esta ques-
tão mostrando que a morte do justo por sua fidelidade é

20
prova de amor a Deus. Sua morte acontece por causa da
opressão, tortura, perseguição e opressão da parte dos
injustos (2,10-20). Deus não deseja a morte dos justos,
mas a sua resistência às forças do mal os arrastam para a
morte. Mas essa morte não é em vão, ela será um teste-
munho contra os injustos (4,16).
Também contrariando a visão bíblica de vida longa
como bênção de Deus, o livro da Sabedoria aponta que a
verdadeira idade não se mede pelo número de anos, mas
pela qualidade da justiça praticada na vida. Ele toma a vida
de Henoc (Gn 5,24) como exemplo e faz um paralelo entre
a vida do justo que morre ainda jovem com a velhice do
injusto que nada de bom produziu em sua vida (4,13-16).
Não basta ver as aparências, é preciso discernimento
para olhar com maior profundidade e, humildemente,
penetrar nos mistérios de Deus a respeito do sábio,
daquele que é justo (4,17-19). Neste sentido, o uso do
bom senso revela a prudência do ser humano ao fazer a
escolha certa: fazer bem e evitar o mal. Esta é a verdadeira
astúcia e perspicácia que transparece no discernimento. O
sentido da vida e da existência humana é agradar a Deus,
isto é, crescer e aprender a ser obediente à Sua vontade.
Mas o que fica claro no livro da Sabedoria é que a
morte prematura do justo, causada pela injustiça e vio-
lência dos ímpios, servirá de condenação para os injustos
que a provocaram. Mesmo que indiretamente, pois, bem
sabemos que os injustos criam leis, artimanhas, situações
que levam os pobres e pequenos ao sofrimento e à morte.
Situações em que um povo inteiro é escravizado ou cruci-
ficado nas novas cruzes da história: como o desemprego,
a exclusão, a falta de condições mínimas de saúde, de
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assistência social, de educação... Também por meio de
guerras, dominações, migrações forçadas... Cada morte
de um inocente, cada morte de uma pessoa anônima
vitimada pela injustiça social, é uma denúncia, um teste-
munho contra o sistema inteiro que produz a morte do
povo a fim de garantir os privilégios de alguns poderosos.
Os opressores caem na cova que eles mesmos abriram...
Jesus advertiu sobre o que devemos temer de fato:
“Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas
são incapazes de matar a alma! Pelo contrário, temei
Aquele que pode destruir a alma e o corpo no inferno.”
(Mt 10,28). Não se trata de um desprezo do corpo, mas
de conservar os princípios da justiça que dão sentido à
vida. Fazer a vontade do Pai é o que possibilita entrar no
Reino dos Céus (cf. Mt 8,21), e é a condição para se tornar
membro de Sua família (cf. Mt 12,50). A postura assumida
por Jesus diante da possibilidade da sua condenação à
morte não foi irrefletida. Os anúncios da paixão mostram
essa consciência de Jesus frente à maldade humana su-
perada pela bondade divina (cf. Mt 16,21-23; 17,22-23).
Por isso: “Os injustos, quando forem prestar conta de
seus pecados, chegarão cheios de terror, e seus crimes os
acusarão cara a cara” (4,20). O Evangelho de Mateus vai
retomar esse tema no julgamento dos últimos dias, onde
os pobres, indefesos e injustiçados serão os juízes das
nações. Enfim, o que fizermos ou deixamos de fazer a fa-
vor dos últimos da sociedade é que testemunhará a favor
ou contra nós neste julgamento final. (Cf. Mt 25, 31-46).
O Papa Francisco nos recorda que “Para viver Evan-
gelho, não podemos esperar que tudo à nossa volta seja

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favorável, porque muitas vezes as ambições de poder e
os interesses mundanos jogam contra nós. [...] Numa
tal sociedade alienada, enredada numa trama política,
mediática, econômica, cultural e mesmo religiosa, que
estorva o autêntico desenvolvimento humano e social,
torna-se difícil viver as bem-aventuranças, podendo até a
sua vivência ser mal vista, suspeita, ridicularizada. A cruz,
especialmente as fadigas e os sofrimentos que suportamos
para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça,
é fonte de amadurecimento e santificação. [...] Abraçar
diariamente o caminho do Evangelho mesmo que nos
acarrete problemas: isto é santidade.” (GE 91-94).
Para aprofundamento: Que tipo de perseguição en-
frentamos no nosso dia a dia? Como reagimos a ela?

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6º Encontro:
O julgamento dos injustos

Chave de leitura: Sabedoria 5,1-14


1. Como será o julgamento dos injustos?
2. Que imagens são usadas para falar da brevidade
da vida?
3. A que é comparada a esperança do injusto?
4. Que esperança esse texto traz para nós, hoje?
O mar devolve o que não é dele. Quer nas areias da
praia depois que a maré abaixa, quer na barriga de peixes,
ou nas excursões submarinas, o mar sempre devolve ou
faz vir à tona o que não é dele. Talvez possamos dizer algo
semelhante no tocante ao tempo, em relação às injustiças.
O tempo sempre faz vir à tona as injustiças cometidas.
O livro da Sabedoria deixa claro que o desfecho do
julgamento dos injustos se dá a partir do confronto com
justo. Embora o destaque seja o julgamento no pós-
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-morte, o confronto entre justo e injusto se dá de forma
contínua também na história. “O justo ficará de pé, sem
temor, diante dos que o oprimiram e desprezaram seus
sofrimentos” (5,1). É preciso ter presente que “ficar de
pé” é posição do acusado que, no tribunal, foi declarado
inocente. Há uma inversão da situação em favor do justo.
Deus o declara inocente e aponta os verdadeiros culpados,
aqueles que praticaram injustiças (5,2).
A verdade sempre vem à tona, a mentira é sempre
desmascarada. Na sabedoria popular: “Mentira tem perna
curta!” O julgamento de Deus expressa a manifestação da
verdade. É o momento em que o tempo faz cair as más-
caras e os injustos se dão conta de que sua vida é vazia e
sem sentido. Desviaram-se do caminho do Senhor, cegos
por seu orgulho e ganância. Afundaram-se na injustiça e
na perdição, nenhuma vantagem tiram de sua riqueza e
arrogância (5,6-8). Ainda que tarde, vem o arrependimen-
to, o reconhecimento da falsidade que permite identificar
as raízes da injustiça: o orgulho do poder e a arrogância da
riqueza. Vem à tona a perversidade do poder que oprime,
explora e mata os pobres e inocentes.
Se a justiça tem como prêmio a imortalidade, a injus-
tiça leva ao vazio, à morte: “Mal nascemos e já desapa-
recemos, sem mostrar nenhum sinal de virtude (= justiça)
porque nos consumamos em nossa maldade!” (5,13). Já
os justos aparecem transfigurados, felizes. Eles recebem
do Senhor sua recompensa, a coroa real, daquele que os
protegeu com sua mão direita (5,15-16). A herança dos
justos é a imortalidade, porque a justiça é imortal. Eles
estão junto de Deus e participam do julgamento, não di-
tando sentenças, mas como espelho da realidade que faz
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vir à tona a verdade e desnuda toda injustiça e falsidade.
“O justo é instrumento de Deus para o julgamento.”
De forma semelhante, é no confronto entre oprimido
e opressor que vem à tona as situações de injustiças,
desigualdades sociais e violência de uns sobre os outros.
É através deste confronto que se pode identificar as ver-
dadeiras raízes das injustiças que marginalizam e oprimem
a grande maioria da população. O justo, empobrecido e
desprezado, é o espelho que nos faz enxergar melhor a
realidade. Se ao contemplarmos os cacos de vidro na
calçada concluímos que quebraram a vidraça, ao con-
templarmos os “cacos de gente”, temos de nos dar conta
que a Aliança com Deus foi quebrada... Afinal, Jesus veio
para que todos tenham vida em abundância (Jo 10,10).
Assim nos recorda o Papa Francisco: “Quando encontro
uma pessoa a dormir ao relento, numa noite fria, posso
sentir que este vulto seja um imprevisto [...], um problema
que os políticos devem resolver e talvez até um monte
de lixo que suja o espaço público. Ou então posso reagir
a partir da fé e da caridade e reconhecer nele um ser
humano com a mesma dignidade que eu, uma criatura
infinitamente amada pelo Pai, uma imagem de Deus, [...],
não se trata apenas de fazer algumas ações boas, mas
de procurar uma mudança social: ‘para que fossem liber-
tadas também as gerações futuras, o objetivo proposto
era claramente o restabelecimento de sistemas sociais e
econômicos justos, a fim de que não pudesse haver mais
exclusão’”. (GE 98-99)
Para aprofundamento: Ao apoiar ações violentas, a
pessoa se coloca do lado dos justos ou dos injustos? Do
lado de Deus ou contra Ele? Por quê? 
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7º Encontro:
A sabedoria e o exercício do poder

Chave de leitura: Sabedoria 6,1-21


1. O que acontece quando os reis não governam
retamente?
2. O que Deus pede dos governantes?
3. Por que é importante buscar a Sabedoria?
4. Em que este texto ilumina nossa ação social, hoje?
Nesta parte o autor se apresenta como Salomão, o
rei sábio, e suas palavras se dirigem aos governantes: “O
poder de vocês vem do Senhor, e o domínio vem do Altíssi-
mo” (6,3). O autor mostra que o verdadeiro poder está em
Deus e não na mão dos governantes ou das autoridades.
E se estes exercem cargos de governo, ou posições que
os colocam sobre outros, devem exercer sua função em
nome de Deus e de acordo com o projeto d´Ele. A função
da autoridade é promover a justiça, julgar com retidão,
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observar a lei e defender os empobrecidos, os últimos,
os esquecidos.
Neste tribunal, o julgamento sobre os poderosos,
sobre os governantes é rigoroso (6,5-8). Todos serão
julgados mediante a prática da justiça ou mediante o
descumprimento dela. No entanto, o peso é maior sobre
as autoridades porque têm conhecimento da Lei, sabem
o que deve ser feito, não podem apresentar desculpas.
De suas decisões depende a vida, a liberdade, o futuro e
a esperança de muitas pessoas. E, quando as autoridades
são injustas, o povo tende também a praticar injustiças,
seguindo o mau exemplo de seus governantes e supe-
riores: “a moralidade do povo espelha a moralidade de
seus governantes”.
Eis o juízo às autoridades: a) não julgastes com reti-
dão, desviaram-se do bem, da justiça e da verdade. b)
não observastes a lei. Vale uma máxima: “guarda a lei e
a lei te guardará”. Critérios justos e válidos para regular
as ações na sociedade, principalmente para garantir o
direito à vida dos mais fracos, pobres e pequenos (6,6).
c) não procedestes conforme a vontade de Deus, o
caminho apontado nos Dez Mandamentos (cf. Ex 20,1-
17; Dt 5,6-23).
Os reis, governadores e dominadores são criticados
por não caminharem segundo a vontade de Deus. Para
perseverar na prática da justiça é preciso amar a Sabe-
doria: “O princípio da sabedoria é o desejo autêntico de
instrução e a preocupação com a instrução é o amor.”
(6,17). A Sabedoria dada e recebida tem jeito prático e
confere habilidade para governar com justiça e retidão.

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Quem a ela corresponde, revela responsabilidade e está
pronto para administrar.
A Sabedoria permite enxergar mais longe, de forma
mais profunda, para além das aparências. Ela permite o
discernimento que é olhar a realidade, os acontecimentos,
com os “olhos” de Deus. Quem busca a Sabedoria, e se
deixa instruir por ela, percorre um caminho reto e não se
desvia da justiça. Assim, a busca da Sabedoria equivale
à busca de aprender a amar a justiça, que por sua vez,
conduz à imortalidade. É buscar aquilo que favorece ao
reinado da justiça no mundo. Essa é a proposta de Jesus
apresentada por Mateus: “Buscai primeiro o Reino de
Deus e a sua justiça e tudo o mais vos será acrescentado”
(Mt 6,33).
Vivemos um momento de crise aguda na história e na
política de nosso país. A corrupção alastrou-se em todas
as esferas de poder, uma grande maioria deixou-se levar
por privilégios e ganhos ilegítimos. A grande vítima são
os pobres, os mais fracos e desprezados. É preciso que se
levantem as vozes proféticas e façam ecoar o clamor pela
ética e pela justiça. Que derrube a corrupção e levante a
moralidade. Eis um clamor pela santidade...
Jesus não apenas concretizou Lv 19,2 “Sede santos,
porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”, mas ensi-
nou o caminho aos discípulos apontando para o amor os
inimigos (cf. Mt 5,43-47; Lc 6,32-35). É neste contexto,
de amor aos inimigos que se concretiza a releitura e rein-
terpretação de Lv 19,2: “Sede perfeitos como o vosso Pai
celeste é perfeito” (Mt 5,48); Ou, “Sede misericordiosos
como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).

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Assim nos aponta o Papa Francisco: “Poder-se-ia pen-
sar que damos glória a Deus só com o culto e a oração, ou
apenas observando algumas normas éticas (é verdade que
o primado pertence à relação com Deus), mas esquecemos
que o critério de avaliação da nossa vida é, antes de mais
nada, o que fizemos pelos outros. A oração é preciosa, se
alimenta uma doação diária de amor. O nosso culto agra-
da a Deus, quando levamos lá os propósitos de viver com
generosidade e quando deixamos que o dom lá recebido se
manifeste na dedicação aos irmãos.Pela mesma razão, o
melhor modo para discernir se o nosso caminho de oração
é autêntico será ver em que medida a nossa vida se vai
transformando à luz da misericórdia. [...] ‘antes de tudo,
temos de dizer que a misericórdia é a plenitude da justiça
e a manifestação mais luminosa da verdade de Deus’. A
misericórdia é a chave do Céu”.(GE 104-105).
Para aprofundamento: Nossos cultos e celebração
estão nos fazendo agir com maior misericórdia e justiça?
O que precisa ser melhorado?

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Cânticos para animar o Estudo
01. Cantai ao Senhor Deus - Abertura (Crisógono)
Cantai, ao Senhor Deus, um canto novo, / celebrai os seus
prodígios entre os povos. (bis)
1. Cantai, ao Senhor Deus, um canto novo! / Cantai, ao Se-
nhor Deus, ó Terra inteira! / Cantai e bendizei seu Santo
Nome, / dai-lhe a glória que é devida e verdadeira!
2. Todo dia anunciai a Salvação, / proclamai a Sua glória com
alegria. / Adorai-O no esplendor da santidade, / publicai
as Suas grandes maravilhas.

02.Toda Palavra - Aclamação (João Lourenço)


Aleluia, aleluia, aleluia! / Aleluia, aleluia, aleluia! (bis)
Toda Palavra de Deus, que cai no coração //: É luz, é vida, é
também missão. (bis).

03.Recebe, Senhor - Oferendas (Crisógono)


1. Qual rebento de uma flor, surgirá o Salvador, / sobre Ele
pousará o Espírito do Senhor. / Como a terra faz brotar
a semente que germina, / a justiça florirá, ó Senhor, em
nossa vida.
Recebe, Senhor, nossos dons e nossa lida, :// vem depressa,
não demores / vem salvar a nossa vida. (bis)
2. Ó Senhor, vem nos mostrar tudo aquilo que é bom, /
visitar a nossa vinha, como a chuva no verão. / Que do
céu derrama água, que fecunde o nosso trigo, que a paz
possa reinar em teu povo, em teus amigos.
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04. Fazei chover o pão - Comunhão (Crisógono)
1. Voltai seu rosto para nós, Deus do Universo! / Dos
altos céus olhai por nós e observai. / Visitai a vossa
vinha e protegei-a! / Vós que sobre os querubins vos
assentais.
Fazei chover o Pão do céu. / É Jesus o Pão de Deus, novo
maná. / Vinde logo, Senhor Deus, em nosso auxílio,
/ saciar-nos deste Pão, que vem do altar. (bis)
2. Libertai o indigente que suplica / e o pobre, o qual
ninguém quer ajudar. / Acolhei o indigente e o infeliz
/ e a vida dos humildes salvará.
3. Iluminai a Vossa face sobre nós / e convertei-nos, ó
Senhor, o coração. / Despertai vosso poder, ó Deus
bendito, / e vinde, logo, nos trazer a salvação.
4. Pousai a mão por sobre o vosso protegido, / que
escolhestes para vós, Filho do homem, / e nunca
mais vos deixaremos, Senhor Deus! / Dai-nos a vida
e louvaremos vosso nome!

05. Missionário do Senhor - Envio (Crisógono)


Vai, vai, vai missionário do Senhor, / anunciar, a boa
nova, que Jesus ressuscitou.
1. Cantai louvores ao Senhor, que habita em Sião; /
Anunciai-o entre os povos e em Deus se alegrarão.
2. Viva o Senhor; bendito seja, nosso rochedo e proteção;
/ E exaltado seja Deus, o Deus da nossa Salvação.
3. Farei lembrado o teu nome de geração em geração,
/ pelo que os povos, para sempre, os teus feitos lou-
varão. (Sl 44,18)

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Oração para pedir a Sabedoria de Deus
“Senhor, manda a Sabedoria
desde o céu santo
e a envia desde o teu trono glorioso,
para que ela nos acompanhe
e participe dos nossos trabalhos,
e nos ensine o que é agradável a Ti.
Porque ela tudo sabe e tudo compreende.
Ela nos guiará prudentemente em nossas ações
e nos protegerá com a glória dela.
Assim, as nossas obras serão agradáveis a ti.
(...) Quem poderá conhecer o teu projeto,
se tu não lhe deres sabedoria,
enviando do alto o teu Espírito Santo?
Somente assim foram endireitados
todos os caminhos de quem vive sobre a terra.
Somente assim os homens aprenderam
aquilo que te agrada.
Eles foram salvos por meio da sabedoria”.
Dá-nos sempre a Tua Sabedoria, Senhor!
Amém!
(Sb 9, 10-11;17-18 - adaptada)

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