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ENSAIO SOBRE

A HISTÓRIA DO VOTO

LOURIMAR RABELO DOS SANTOS

SUMÁRIO: 1 – Introdução; 2 – Democracia;


3 – O voto: da antigüidade à era moderna;
4 – O voto feminino; 5 – Síntese sobre as
eleições e voto no Brasil; 6 – Considerações
Finais; 7 – Bibliografia.

1 – INTRODUÇÃO

Não é possível estabelecer com precisão quando e onde ocorreu a


primeira eleição do mundo. Sabe-se que, na Grécia Antiga, nos séculos V a VI aC., Atenas
implantou um sistema no qual todos os cidadãos livres podiam participar diretamente do
governo da cidade, da pólis. Entre as decisões tomadas em conjunto, que incluíam a
aprovação de leis e o julgamento de crimes, estava a escolha de representantes para
certos cargos. Na maioria das vezes, porém, eles eram definidos por meio de sorteios. Em
Roma, cujo mecanismo deliberativo aproximava-se muito do grego, havia todos os anos
uma eleição para apontar as duas pessoas responsáveis por administrar a cidade
(magistrados).

As eleições em seu caráter moderno remontam ao Século XVII, com o aparecimento de


governos representativos na Europa e América do Norte. O governo inglês foi o primeiro,
em 1668, a ter representantes não nobres, escolhidos para a Câmara dos Comuns, a
participar do governo. A França instituiu o sufrágio universal em 1789, após a Revolução
Francesa. O direito, na época, era restrito aos homens. Já os Estados Unidos
consolidaram-se como uma república representativa em 1787 por meio da Constituição e
da Declaração dos Direitos Universais.

O objetivo deste ensaio é percorrer um pouco da história do maior


instrumento de liberdade, pelo menos em tese, criado pela inteligência humana – o voto.
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Antes, contudo, façamos uma breve reflexão sobre democracia.

2 – DEMOCRACIA

Democracia é um sistema político no qual os poderes do Estado são


limitados e o povo é soberano. Ele também deve garantir os direitos fundamentais do ser
humano, a prevalência da vontade da maioria e o respeito aos direitos de manifestação da
minoria. A palavra democracia surgiu por volta do século V. De origem grega, ela é
formada por demo (povo) e krat (força ou soberania). Democracia é, portanto, o
“governo do povo”, pelo povo e para o povo.
Democracia foi um termo usado primeiramente por Aristóteles ao
estabelecer as três possíveis formas de governo: democracia (o governo de todos os
cidadãos); monarquia (governo de um só) e oligarquia (quando apenas alguns cidadãos
estão no governo). Posteriormente tivemos a contribuição de Platão na sua obra ‘ A
República’, ao definir a democracia como a ''menos boa das formas boas de governo
e a menos má das formas más ''. Suas afirmações foram concebidas após a análise da
instauração das democracias diretas nas antigas cidades gregas.

A idéia de democracia, gestada na Grécia, ficou esquecida durante muito


tempo e foi retomada tão somente no século XVIII, associando-se à divisão de poderes do
Estado, proposta por Montesquieu, e a noção de soberania popular, segundo a qual ''todo
poder emana do povo''. Dessa feliz combinação de intenções, surgiu então o conceito de
República enquanto res publica, ou seja, coisa pública. Diante dessa acepção, a
importância do processo eleitoral ganha vigor, pois os cargos de governo devem ser
preenchidos por homens escolhidos através de eleição, das quais devem participar todos
os cidadãos.
Convém acrescentar que só pode ser considerado governo democrático
aquele em que os homens são chamados a votar e decidir coletivamente, tendo seus
direitos e liberdades garantidos constitucionalmente. Portanto, a eleição, palavra de
origem latina, electione, escolha, é o processo que coloca o cidadão diante do prisma de
ser responsável pelos destinos políticos de seu país.

Na Constituição Brasileira, de 1988, o direito ao procedimento de


materialização da eleição através do voto, foi conferido a todos os brasileiros maiores de
16 anos, alfabetizados ou não; sendo, além de um direito, um dever de cidadania, já que
é obrigatório dos 18 aos 70 anos.

Ao ser instituído um processo eleitoral numa sociedade democrática, os


homens e mulheres interessados na vivência plena do bem-comum, recebem a
terminologia de candidatos, ou seja, candidatus (vestido de branco). Tal denominação é
recorrente da antiga Roma, pois os homens que se apresentavam a cargos públicos
vestiam-se de branco, assemelhando-se à toga dos sacerdotes, para demonstrar que eram
puros e honrados em suas intenções.

Sobre a democracia brasileira, importa ainda ressaltar a relevância do


município e a responsabilidade dos prefeitos e vereadores, na administração municipal,
pela proximidade dos agentes das populações locais e de seus interesses imediatos.

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Assim, o vereador, ou edil, vem do português arcaico verea, vereda, caminho, cuja
principal atuação era verificar e tomar providências para a conservação dos edifícios. Na
atualidade, o papel do vereador é o de percorrer avenidas, ruas, bairros, subúrbios,
observando as lacunas do poder público e ouvindo a população em suas necessidades e
aspirações e elaborando projetos que possam solucionar os problemas diagnosticados.

A Câmara Municipal é o espaço de apresentação, defesa e


encaminhamento dos projetos dos vereadores que atuam coletivamente em prol da
administração pública, ao lado do prefeito da cidade.

Sabe-se que os romanos denominavam praefectus a autoridade posta à


frente das fortificações que cercavam o município. O praefectus, prefeito, era o chefe do
municipium, município, o local onde as pessoas moravam e exerciam seus ofícios, tendo
direito e deveres.
Ao falarmos em democracia, não devemos nos contentar com o termo
demos, que sempre ativamos de imediato; é preciso lembrar que para os gregos o demos
era o domínio de oi polloi, os muitos, de onde vem nosso termo poli. O grego diz, da
democracia, que ela é o regime dos muitos. Curiosamente, hoje oi polloi é um termo
muito utilizado na crítica cultural inglesa, mais, aliás, do que na norte-americana. Quando
alguma obra é dirigida ao grande público, diz-se que vai para oi polloi. Seria uma arte de
recepção popular. Ora, entre os gregos um traço importante dos polloi é que essa
multidão seja pobre. A democracia, sendo o domínio dos polloi, é o regime em que os
pobres têm o poder.
Daí que vários teóricos gregos da política temam a democracia. Mesmo
um simpatizante dela, como Aristóteles, receia que os pobres usem de seu poder para
expropriar os ricos, o que seria tão errado, a seu ver, quanto se um único rico
expropriasse os pobres. É tão condenável a tirania de um quanto a da massa. Muito mais
tarde, no século XIX, esse mesmo medo reaparecerá diante do sufrágio universal. Este
levaria o povão a confiscar os bens dos ricos e o que explica, por exemplo, a direita
francesa editar uma célebre lei celerada, em 1850 (a Lei Falloux), cortando o eleitorado
pela metade.

Na época de Péricles (461-429 aC.), a democracia atingiu sua mais alta


perfeição. Só que excluía inteiramente as mulheres e não se estendia a toda a população,
mas somente à classe dos cidadãos. Ela era direta e não representativa. Os atenienses
não estavam interessados em ser governados por uns poucos homens de reputação e
capacidade; o que os preocupava fundamentalmente era assegurar a cada cidadão a
participação ativa no controle de todos os negócios públicos.
O seu conceito atual deve-se a Abraham Lincoln (1809-1865). No seu
discurso de 19/11/1863, em Gettysburg, afirmou que democracia é o governo do povo,
pelo povo e para o povo ( Democracy, government of the people, by the people, for the
people, shall not perish from the Earth).
Governo do povo (government of the people) significa que ele é fonte e
titular do poder (todo o poder emana do povo), de conformidade com o princípio da
soberania popular, que é o princípio de todo o regime democrático. Governo pelo povo
(government by the people) quer dizer governo que se fundamente na vontade popular,

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que se apóia no consentimento popular; governo democrático é o que se baseia na
adesão livre e voluntária do povo à autoridade, como base da legitimidade do exercício do
poder, que se efetiva pela técnica da representação política (o poder é exercido em nome
do povo). Governo para o povo ( government for the people ) há de ser aquele que procura
liberar o homem de toda a imposição autoritária e garantir o máximo de segurança e bem-
estar.
O regime brasileiro da Constituição de 1988 funda-se, portanto, no
princípio democrático, baseado no postulado da soberania popular, de maneira
insofismável.
A democracia da antigüidade grega não é a mesma dos tempos
modernos. Hoje aceitamos a concepção de Lincoln de que a democracia, como regime
político, é governo do povo, pelo povo e para o povo ( government of the people, by the
people, for the people).
E o povo participa do poder, através das democracias direta, indireta ou
representativa e semidireta.
A direta, reminiscência histórica, é inviabilizada pela complexidade e dimensão da
sociedade moderna, de extensão territorial e de densidade demográfica.
A indireta ou representativa é aquela na qual o povo, fonte primária do
poder, outorga as funções de governo aos seus representantes, eleitos periodicamente.
Essa democracia representativa pressupõe as eleições, o sistema eleitoral, os partidos
políticos etc. Ela é o modo pelo qual o povo, nas democracias representativas, participa
na formação da vontade do governo e no processo político.
A semidireta é a própria democracia representativa com alguns institutos
de participação direta do povo nas funções de governo, institutos que, entre outros,
integram a democracia participativa.
A democracia se caracteriza justamente por não exigir excelência de seus
cidadãos. Sendo o regime dos iguais, a democracia nivela por baixo: não quer excelência,
nem heroísmo. E assim os gregos, na democracia, preenchiam as funções por sorteio e
não por eleição. Eleger é escolher pela qualidade, e, portanto, constitui um método
aristocrático. Sortear abre a função para qualquer um, e valoriza, pois, a igualdade. Aliás,
a rigor não se pode falar, na democracia grega, em cargos, mas em encargos, em papéis
temporários. E a ineficácia de um encarregado para a grande tarefa da democracia, que
eram provavelmente as festas, para Dionísio ou outros deuses, não seria tão grave
quanto seria, hoje, sortear cargos dos quais depende a economia, a justiça, a
independência. E para a tarefa realmente relevante, o generalato, não se usava o sorteio,
mas a eleição, que procurava selecionar o melhor.
A primeira manifestação concreta de um governo democrático remonta à
Polis grega, dentre as quais se destaca o Estado Ateniense, como o tipo clássico, há vinte
e cinco séculos atrás. A experiência grega foi a semente da democracia que veio germinar
na República romana e floresceu com o advento dos tempos modernos.
Nos Estados gregos e romanos, a democracia foi idealizada e praticada
sob a forma direta, ou seja, o povo governava-se por si mesmo e em assembléias gerais
através do voto/por intermédio do sufrágio, realizadas em praças públicas.

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No mundo moderno, a democracia surgiu sob a forma indireta ou
representativa, mantendo-se o princípio da soberania popular, no qual todo o poder
emana do povo e em seu nome será exercido. Este poder soberano do povo – legitimação
– é exercido através do voto, transferindo o exercício das funções legislativas,
governamentais e executivas aos representantes do povo. Democracia e representação
política tornam-se idéias equivalentes. Fala-se em democracia e subentende-se o sistema
representativo de governo nas nações modernas sob o regime republicano e democrático.
O Estado Democrático nasceu das lutas contra o absolutismo,
principalmente através da afirmação dos direitos naturais da pessoa humana, por isso a
grande influência de jusnaturalistas como Locke e Rousseau.
Devemos salientar, ainda, três grandes movimentos político-sociais que
transpuseram do plano teórico para o prático os princípios que iriam conduzir ao Estado
Democrático: a Revolução Inglesa, a Revolução Americana e a Revolução Francesa. Locke
foi o pai intelectual da Revolução Inglesa que teve no " Bill of Rights", de 1689, sua
expressão mais significativa. A Revolução Americana expressou a sua busca por um
governo popular e antiabsolutista na Declaração de Independência das treze colônias
americanas. E, finalmente, a Revolução Francesa que, sob evidente influência dos
pensamentos de Jean Jacques Rousseau, universalizou os seus princípios quando
expressou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
As chamadas democracias gregas eram classificadas como democracias
diretas, ou seja, os cidadãos se reuniam, freqüentemente, em assembléias para resolver
os assuntos mais importantes do governo da cidade. Em Atenas, berço da democracia
direta, o povo reunia-se na Ágora (praça das antigas cidades gregas, na qual se fazia o
mercado e onde se reuniam, muitas vezes, as assembléias do povo) para o exercício
direto e imediato do poder político; o papel da Ágora seria o do parlamento, nos tempos
modernos.

Para a existência de uma democracia direta, o homem precisava ocupar-


se tão-somente dos negócios públicos, conservando sempre aceso o interesse pela
cidadania e pela causa da democracia. O Estado para exercer democracia direta deve ser
muito pequeno quanto ao número de cidadãos e extensão territorial. O próprio Rousseau
estava convencido de que uma verdadeira democracia jamais existiria, pois exigia entre
outras condições um Estado muito pequeno, no qual ao povo seja fácil reunir-se e cada
cidadão possa facilmente conhecer todos os demais.

Entretanto, o que Rousseau chama de democracia, seguindo a tradição


dos clássicos, é a democracia direta, e não a democracia como forma de governo hoje
praticada. Para solucionar o problema da forma de governo nos grandes Estados, realizou-
se a transição para a democracia representativa e para a democracia semidireta.
Com a impossibilidade prática, na democracia indireta, de utilização dos
processos da democracia direta, bem como as limitações inerentes aos institutos de
democracia semidireta, tornaram inevitável o recurso à democracia representativa. Este é
o regime comum de governo nos Estados modernos.

Dizia Montesquieu, um dos primeiros teóricos da democracia moderna,


que o povo era excelente para escolher, mas péssimo para governar. Precisava o povo,

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portanto, de representantes, que iriam decidir e querer em nome do povo.

Ressaltando a fina ironia de Montesquieu, física e quantitativamente,


havia a impossibilidade do retorno à democracia direta, tinha de haver uma forma de o
povo ser soberano, decidir e ter poder, mesmo sendo numeroso e espalhada em um
grande território. Optou-se por uma forma representativa de democracia, na qual a
vontade do povo seria expressa nos órgão competentes pelos seus representantes. Assim,
o remédio para a democracia, fundada e legitimada no consentimento dos cidadãos, tinha
que ser através de um regime representativo.

As principais características da democracia indireta ou representativa são,


dentre outras: a soberania popular, como fonte de poder legítimo do povo; a vontade
geral; o sufrágio universal, com pluralidade partidária e de candidatos; a distinção e a
separação dos poderes; o regime presidencialista; a limitação das prerrogativas do Estado;
e a igualdade de todos perante a lei.

A democracia semidireta trata-se de uma modalidade em que se alternam


as formas clássicas da democracia representativa para aproximá-la cada vez mais da
democracia direta, uma vez havendo no Estado moderno a impossibilidade de alcançar-se
a democracia direta idealizada e praticada pelos gregos. O berço da democracia semidireta
fora na Suíça, onde se realizavam assembléias abertas a todos os cidadãos que tinham o
direito de votar, impondo-se a estes o comparecimento como um dever. A experiência
suíça irradiou-se, então, para todo o continente europeu.

Nesta forma de democracia, a soberania está com o povo, e o governo,


mediante o qual esta soberania é exercitada, pertence por igual ao elemento popular no
que diz respeito às matérias mais importantes da vida pública. Existem alguns institutos
representativos da democracia semidireta que até hoje são conhecidos e praticados: o
referendum; o plebiscito; a iniciativa; o veto popular e o recall (a possibilidade de
cassação do eleito por seus eleitores), garantindo ao povo efetiva intervenção e poder de
decisão de última instância.

3 – O VOTO: DA ANTIGÜIDADE À ERA MODERNA

Na sociedade ocidental primitiva, assim como em algumas comunidades


não-industriais de hoje, o sufrágio restringia-se a indivíduos de poucas famílias ou clãs.
Apenas os líderes tinham o privilégio de discutir e decidir sobre questões importantes, ou
serem consultados pelos chefes tribais. Para ter direito ao voto o indivíduo devia pertencer
a famílias tradicionais e ter propriedades.

Grécia (Atenas) e Itália (Roma). A literatura aponta a Grécia - em


particular Atenas - como o berço da democracia. As assembléias/reuniões aconteciam na
Ágora.

Na Grécia antiga, o território das cidades-estado era tão pequeno que a


questão do sufrágio não representava um grande problema. Por um longo tempo, Atenas,
a mais avançada das cidades-estado, se antecipou na busca da democratização do

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sufrágio. No início do século VI aC, o pré-requisito do nascimento (linhagem) deu lugar ao
da propriedade. Essa mudança significou a transformação do sistema social ateniense
fundado na hereditariedade aristocrática para o de uma civilização baseada no comércio.
O desenvolvimento da crítica política, sobretudo no período de Péricles, na Atenas do
século V aC, conduziu ao estabelecimento do sufrágio levando-se em conta não mais os
critérios de linhagem e de propriedade mas o de cidadania. Entretanto, mulheres e
escravos não se incluíam entre os cidadãos na Grécia daquela época.

Na Roma antiga, somente as famílias nobres, que tinham posses e


prestígio, podiam votar. As classes mais baixas não tinham esse direito. Depois de séculos
de vários e ferrenhos embates esses menos afortunados conseguiram o direito do
sufrágio. Com a expansão do Império Romano, atingindo a península italiana e a bacia
mediterrânea, a cidadania romana, por volta do ano 212 dC, foi plenamente concedida a
todos os habitantes livres desse império. Nessa época, o governo do Império Romano
tinha-se transformado numa monarquia absolutista, de modo que o sufrágio era mais
importante em eleições de interesses locais, ou nas guildas 1, do que sobre questões afetas
às políticas do império.

Na Grécia antiga e Itália a instituição sufrágio já existia de forma


rudimentar. Nas monarquias primitivas era costume por parte do Rei convidar alguns
súditos para se pronunciarem sobre determinadas questões como forma de assegurar
previamente o consentimento popular. Nessas ocasiões, as pessoas registravam suas
opiniões proclamando-as (método utilizado em Esparta até o século 4 aC), ou com o
ressoar de lanças e escudos.

Por não ser uma rotina nas primeiras monarquias, nas aristocracias da
Grécia e Itália, o voto não tinha muita importância como instrumento de governo. Mas
com o desenvolver das comunidades desses países, incutiu-se no povo o princípio de
governo de acordo com a vontade da maioria expressa pelo voto. Regra essa aplicada nas
decisões das assembléias gerais, conselhos administrativos e tribunais. O que ocorria na
forma de eleição.

Em Atenas, bem como em outros estados gregos, a forma de votar era


ostensiva, levantando-se as mãos. A votação era secreta quando se tratava de questões
individuais – julgamentos e propostas de ostracismo/banimento. Em Roma, o método que
subsistiu até o século 2 dC foi a da divisão de classes. Todavia, a dependência sócio-
econômica de muitos eleitores na nobreza viciou o voto aberto em face da intimidação e
da corrupção.

Por volta dos anos 139 e 107 aC, um série de leis estabeleceram o uso de
eleições nas quais a maioria simples era considerada suficiente nas resoluções das
assembléias. Não havia normas específicas quanto a quorum, a não ser uma interessante
exceção no caso de moções de ostracismo em Atenas. Como regra geral, cada voto tinha
o mesmo valor. Entretanto, nas assembléias popular em Roma até meados do século 3 aC
as classes abastadas detinham privilégio de sufrágio – o chamado voto de qualidade,
portanto, preponderante em todas as votações.

1
Associação de mutualidade constituída na Idade Média entre as corporações de operários, artesãos, negociantes ou
artistas.

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Na antiguidade, o voto obedecia a determinadas condições. Em Atenas o
voto era limitado à escolha de magistrados. O voto só podia ser exercido na capital. A
única exceção conhecida sob governos centralizadores foi a breve experiência à época do
Imperador Augusto, que providenciou a abertura de seções eleitorais nas cidades
campesinas italianas.

Na Assembléia Popular de Roma, votavam todos os cidadãos, mas não


por cabeça, e sim por centúrias. Como porém as centúrias dos ricos eram menores em
número de pessoas do que as centúrias dos pobres, havia mais centúrias de ricos do que
centúrias de pobres e, portanto, eram eleitos cônsules sempre pessoas da classe rica.
Depois de um ano de mandato, os cônsules passavam a fazer parte automaticamente do
Senado pelo restante de suas vidas.
O senado romano não tinha teoricamente poder algum. Este nome, isto é,
senado, vem da palavra latina `senex', que significa velho. O senado, como o próprio
nome indicava, deveria ter sido, teoricamente, apenas um conselho de homens vividos e
experientes. Sua função deveria ter sido apenas a de dar conselhos aos cônsules. Quem
tomava as decisões na república eram os cônsules, mas tinham que submeter todas as
decisões mais importantes para serem votadas na assembléia popular. Assim, pelo menos
na teoria, quem mandava na república era a assembléia popular.
Na prática, porém, nenhum cônsul jamais se atreveria a submeter à
assembléia popular nenhum assunto sem antes consultar o senado, e muito menos se
atreveria a não seguir o conselho dos senadores. Portanto, quem governava de fato na
política romana não eram nem os cônsules nem a assembléia popular, mas o senado
constituído de aproximadamente 300 pessoas por mandato vitalício. Esta forma de
governo é conhecida como aristocracia; não é a monarquia, que é o governo de um só,
nem a democracia, que é o governo de todo o povo, mas um governo de poucos e,
teoricamente, escolhidos entre os melhores e mais sábios dos cidadãos.
O voto dos cidadãos na assembléia popular, conforme dissemos, era dado
não por cabeça, mas por grupos de homens denominados centúrias, as quais eram as
unidades do exército romano. Os cidadãos mais pobres só podiam custear equipamentos
de guerra mais baratos, daí que geralmente lutavam como soldados de infantaria; já os
cidadãos ricos iam armados a cavalo, com equipamentos mais sofisticados. Por causa
disso, uma centúria de cidadãos ricos de menos homens era considerada equivalente a
uma centúria de cidadãos pobres com maior número de soldados e é por este motivo que
nas votações da assembléia popular, apesar de haver mais pobres do que ricos, o número
de centúrias de ricos era maior do que o número de centúrias de pobres. Com este
exército os romanos conquistaram toda a Itália e depois toda a região ocidental do
Mediterrâneo, isto é, a África do Norte, o sul da França, na época chamada Gália, a
Espanha e Portugal, na época chamadas Ibéria e Lusitânia.
Na Idade Média, os direitos e deveres das pessoas eram determinados
pelo status social. A propriedade, ou até mesmo a mera posse, de terra estabelecia o tipo
de sufrágio a que o indivíduo tinha direito. Mais tarde, com a fusão da economia agrária
com a comercial e industrial, os critérios de propriedade e posse de terra foram
substituídos por outros pré-requisitos, como o pagamento de tributos.

Inglaterra. Até mesmo na Inglaterra, berço do sistema representativo de


governo, a passagem do direito limitado do sufrágio para o direito universal ocorreu de
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forma muito lenta. Até 1832, o parlamento era formado em sua grande maioria por
latifundiários, enquanto inúmeras localidades urbanas não se faziam representar no
parlamento. O fenômeno dos “rotten boroughs”2 (“pocket boroughs”, porque cabiam no
bolso dos poderosos locais), provocou agitação e descontentamento político, uma vez que
cidades maiores eram sub-representadas no parlamento enquanto os “rotten boroughs”
(burgos podres) eram sobre-representados. Como resultado dessas sublevações, o Reform
Act de 1832 ampliou a representatividade das cidades maiores e o direito de sufrágio da
classe média inglesa. Os trabalhadores urbanos lograram o direito ao voto em 1867, e os
rurais em 1884. Em 1918 os homens a partir de 21 anos de idade podiam votar. As
mulheres também, mas a idade mínima era 30 anos, que passou a ser 21 em 1928.

Estados Unidos. Nos Estados Unidos, o direito ao sufrágio ocorreu


lentamente, muito embora tenha sido sobremaneira mais rápido do que em outras
democracias. As promessas de igualdade contidas na Declaração de Independência e na
Constituição não materializaram o direito ao voto imediatamente. O pré-requisito
relacionado ao credo/religião, geralmente exigido durante o período colonial, desapareceu
logo após a Revolução Americana. Entretanto, os critérios de propriedade e de
alfabetização permaneceram por um longo tempo. Por volta de 1860, o direito pleno de
sufrágio aos homens brancos tornou-se um fato. As emendas 14 e 15 da Constituição
americana buscou garantir esse direito aos negros, mas esses dispositivos não foram
totalmente aplicados em alguns estados, uma vez que se exigiam impostos e testes de
alfabetização como condição à capacidade eleitoral ativa, ou seja, direito ao voto. Já a
emenda 19 (1920), garantiu às mulheres o aludido direito, o que há muito era praticado
por alguns estados americanos. Em 1964, a emenda 24 proibiu a cobrança do imposto
sufragista nas eleições federais. A partir da emenda 26 (1971) e legislação subseqüente,
as pessoas com idade igual ou superior a 18 anos conquistaram o direito ao voto.

Estados Totalitários. Nos sistemas políticos facista e comunista o direito


ao sufrágio era limitado. O facismo hitleriano e o regime comunista stalinista soviético
rechaçavam os partidos oposicionistas e não permitiam campanhas eleitorais livres. Como
o voto era geralmente aberto, o sufrágio nesses países transformou-se numa expressão
de força do Estado em detrimento da liberdade de escolha dos cidadãos, uma vez que o
ato de abstenção do direito de votar poderia ser interpretado como um ato de hostilidade
ao governo, e por não haver voto secreto, o resultado das eleições nos países totalitários
era quase sempre 99% em favor do governo. A exemplo do que ocorreu na última eleição
no Iraque antes de sua invasão pelo Estados Unidos.

Era moderna. O poder é exercido por representantes do povo. Com


efeito, o sufrágio expressa a noção de que não pode haver nação e cidadãos livres sem a
escolha direta dos mandatários em todos os níveis – municipal, estadual e federal. Essa
acepção moderna do sufrágio – que envolve tanto direitos e deveres – é o resgate do
clássico conceito grego de cidadania, que se traduz na participação ativa e efetiva nas

2
Rotten: esse termo significa podre, corrompido, putrefeito; borough: burgo, origina do inglês medieval/antigo
burgh = cidade ou burg = cidade fortificada. Burgo Podre: nome dado a qualquer localidade que, à época da
aprovação da Reform/Bill/Act de 1832, possuía pouquíssimos eleitores, mas que tinha o privilégio de se fazer
representar no parlamento. Em razão do tamanho e do reduzido número de eleitores, estes eram facilmente
manipulados por pessoas ricas e influentes (semelhantes aos “coronéis” brasileiros) e tinham os votos comprados.
Na Inglaterra, até 1832, burgo cujos eleitores vendiam facilmente os seus votos ao candidato do Parlamento. P. ext.
Reduto de um partido político onde este exerce domínio discricionário. (Dicionário Aurélio Eletrônico)

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decisões governamentais – e ela começa com o voto.

4 – O VOTO FEMININO

O voto feminino representa a gênese das demandas pelos direitos de


igualdade política. Luta que remonta as décadas de 1600. Considera-se que a luta das
mulheres para alcançar direitos iguais teve início em países de língua inglesa com a
publicação da obra de Mary Wollstonecraft (1792) – Defesa dos Direitos da Mulher
(Vindication of the Rights of Woman).

Durante o século 19, enquanto o direito de sufrágio masculino se


expandia, as mulheres cada vez mais lutavam pela conquista do direito de votar. Um
movimento organizado em prol do voto feminino, mas aberto aos homens, emergiu
primeiramente nos Estados Unidos em 1848. A Nova Zelândia foi o primeiro país que
garantiu às mulheres o pleno direito ao voto em nível nacional, seguida pela Austrália em
1902. Em países como o Canadá, a Inglaterra e os Estados Unidos, o voto feminino pleno
veio a lume no final da Primeira Guerra mundial. No Brasil, o Código Eleitoral de 1932
estendeu a cidadania eleitoral às brasileiras.

América do Norte. No que respeita ao direito de votar, as mulheres no


Canadá e nos Estados Unidos foram relativamente emancipadas em 1918 e 1920,
respectivamente. No México, que dividia com a maior parte da América Latina a herança
católica romana que dissuadia a emancipação feminina, outorgou às mulheres o direito ao
voto muito mais tarde, em 1947.

Estados Unidos. A batalha pelos direitos políticos das mulheres –


sobretudo o direito ao voto – durou muitos anos. Essa luta começou logo após a fundação
da Nova Inglaterra, quando Anne Hutchinson desafiou a teocracia Puritana de Boston em
relação à participação das mulheres nos assuntos da igreja, mas foi julgada e condenada
por heresia.

Critérios como raça, residência e propriedade limitavam o direito ao voto.


Todavia, mesmo tendo propriedades, as constituições estaduais e federais dispunham que
somente os homens podiam votar.

A primeira mulher nas então colônias norte-americanas a demandar o


direito ao voto feminino foi Margaret Brent, proprietária de muitas terras no estado de
Maryland. Em Nova Jersey, as mulheres chegaram a ter o direito ao voto por um certo
período, pois a constituição estadual de 1790 previa que “todos habitantes” que
satisfizessem os critérios de propriedade e residência podiam votar. A assembléia desse
estado, entretanto, aprovou uma lei para retirar das mulheres, bem como os negros em
1807, a possibilidade de votar.

As mulheres americanas foram as precursoras em nível mundial na luta


organizada pelo direito de sufrágio. As abolicionistas e ativistas Lucretia Mott e Elizabeth
Cady Stanton, juntamente com muitas outras amigas, organizaram uma reunião na cidade
de Stanton, Seneca Falls, N.Y., “para debater as condições sociais, civis, religiosa e os
direitos das mulheres”. Nessa oportunidade (1848), Stanton leu sua “ Declaração de

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
Sentimentos e Resoluções” (Declaration of Sentiments and Resolutions ). A convenção
deliberou sobre uma série de resoluções para a consecução de direitos iguais. A resolução
mais controversa, incluída por insistência de Stanton, espunha que “é dever das mulheres
nesse país assegurar a elas mesmas o direito sagrado de emancipação política”.

Durante a Guerra Civil, a luta pelo direito ao sufrágio universal foi adiada
pelos seus defensores, com a esperança de que ao final da guerra, as mulheres bem como
os escravos alforriados lograriam a concessão dos direitos políticos. Ao temo da guerra,
entretanto, os Republicanos acreditavam que o direito ao voto a ex-escravos seria
derrotado se atrelado ao muito mais impopular voto feminino. Apesar desse receio, eles
foram bem-sucedidos ao aprovarem as emendas 14 e 15 à Constituição, as quais
garantiram o direito de sufrágio aos negros mas não às mulheres.

Logo após a aprovação dessas emendas, os sufragistas se dividiram em


duas facções. Stanton e Susan B. Anthony, sua amiga de longa data, recusaram a apoiar a
emenda 15, vez que ela não outorgava às mulheres o direito ao voto. Elas defendiam
veementemente a aprovação de outra emenda que o fizesse. Com efeito, Stanton e Susan
fundaram, em 1869, “A Associação Nacional para o Sufrágio Feminino” (National Woman's
Suffrage Association – NWSA).

As feministas conservadoras, lideradas por Lucy Stone e esposo, Henry


Blackwell e Julia Ward Howe apoiaram a emenda 15, mas fizeram parte de uma campanha
para a aprovação de leis estaduais no sentido de garantir o voto às mulheres. Estes
também fundaram uma associação chamada Associação para o Sufrágio da Mulher
Americana (American Woman's Suffrage Association – AWSA) no mesmo ano. A Suprema
Corte, porém, desfez qualquer esperança de que as cortes estaduais pudessem conceder
emancipação política às mulheres sem que houvesse a devida previsão legal ou
constitucional.

As duas facções sufragistas - a NWSA e a AWSA - se reconciliaram, e, em


1890, esses dois grupos feministas se uniram e formaram a “ Associação Nacional para o
Sufrágio da Mulher Americana” (National American Woman Suffrage Association –
NAWSA). Susan B. Anthony aposentou-se da presidência da NAWSA em 1900. Carrie
Chapman Catt, uma ferrenha e perspicaz ativista dos direitos das mulheres, sucessora de
Susan, organizou um movimento abrangendo cada estado americano no sentido de
granjear a simpatia ao movimento de conquista do voto feminino. Por volta do ano de
1910, os estados de Wyoming, Utah, Idaho, Colorado e Washington obsequiaram as
mulheres com o direito ao sufrágio pleno.

O movimento sufragista ressurgiu no início do século 20. Mulheres


instruídas pertencentes à classe média questionaram as razões por que lhes era negado o
direito ao voto, ao passo que imigrantes do sexo masculino, muitos dos quais eram
totalmente ou quase analfabetos, podiam escolher o líder máximo dos Estados Unidos. Os
que defendiam as reformas sociais tinham esperança de que as mulheres defensoras do
voto feminino conseguissem outros direitos, como saúde e segurança no trabalho e a
abolição do trabalho infantil. Todavia, o movimento sufragista feminino continuou a sofrer
grande resistência.

Uma ativista chamada Alice Paul levou para os Estados Unidos as táticas

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
britânicas para chamar a atenção da sociedade. Em 1916, ela e outras militantes do
movimento sufragista feminino, inspiradas no modelo britânico, deixaram a NAWSA para
fundar outra o “Partido Nacional Feminino” (National Woman's Party). Para pressionar o
presidente Woodrow Wilson a apoiar a aprovação de uma emenda constitucional, fizeram
piquete à porta da Casa Branca formando uma corrente humana em torno da casa
presidencial.

Grato pela participação ativa das mulheres americanas na Primeira


Guerra Mundial, o Congresso aprovou, por uma margem muito pequena, a emenda
constitucional 19 conferindo às mulheres o direito ao voto em 1919.

Canadá. Embora influenciadas pelas militantes sufragistas britânicas e


americanas, o movimento canadense não conseguiu uma forte mobilização nacional.
Mulheres em Alberta, Manitoba e Saskatchewan conquistaram o direito de votar nas
eleições provinciais de 1916 e nas nacionais em 1918. Já as mulheres de Quebec somente
conseguiram esse direito a partir de 1940 [demasiadamente tarde, talvez, em razão da
herança latina, enraizada no sanque dos que colonizaram essa parte do Canadá, a
exemplo do Brasil (1932), Itália (1945) e México (1947)].

México. Geograficamente parte da América do Norte mas culturalmente


próxima dos países do sul, com os quais compartilha a herança colonial espanhola. O
movimento em defesa do sufrágio feminino surgiu após a Revolução de 1910. Apesar de
algum sucesso em nível estadual, no estado de Yucatán, não era permitido às mulheres
votar nem assumir cargo político no município, o que aconteceu apenas em 1947. As
mulheres mexicanas finalmente alcançaram o direito pleno do voto em 1953.

Europa. Neste continente, o movimento britânico pela emancipação


política das mulheres serviu de modelo para outras partes da Europa.

Grã-Bretanha. Movimentos sufragistas advogando a causa da liberação


do voto feminino já ocorriam na Grã-Bretanha muito antes da reunião em Seneca Falls nos
Estados Unidos, protagonizados por Lucretia Mott e Elizabeth Cady Stanton. O primeiro
comitê organizado em defesa do direito ao sufrágio às mulheres foi fundado em
Manchester em 1865. No ano seguinte, a médica Elizabeth Garret colheu mais 1,5 mil
assinaturas pleiteando a emancipação política da mulher. O jornalista e filósofo John
Stuart Mill, eleito em 1865 para o parlamento britânico sob a plataforma eleitoral do
sufrágio feminino, apresentou proposta para liberar o voto da mulher mas foi amplamente
derrotado. No nível municipal, entretanto, a luta por esse direito progrediu ao cabo do
século 19. Assim, as solteiras puderam votar em eleições municipais/locais a partir de
1869.

O movimento no âmbito nacional tornou-se mais forte e intenso por volta


de 1905 com manifestações públicas maciças. O que chamou a atenção da mídia e
despertou o interesse das mulheres instruídas da classe média, as tecelãs e as mulheres
pobres. Após protestos contundentes (e.g. destruição de propriedades, de redes
telegráficas e caixas de correios, incêndios, greve de fome) e prestação de relevantes
serviços ao país durante a Primeira Guerra mundial, às mulheres com idade mínima de 30
anos passaram a ter o direito ao voto. Isso ocorreu em 1918. Dez anos mais tarde, 1928,
as mulheres conquistaram os mesmos direitos sufragistas dos homens.

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
Escandinávia (Dinamarca, Finlândia, Islândia, Suécia Noruega). A luta
pelo sufrágio feminino das mulheres escandinavas foi mais amena do que as enfrentadas
pelas britânicas. Da mesma forma que estas, as escandinavas conquistaram o direito ao
voto primeiramente em nível local. Entre as mulheres européias, foram as finlandesas as
primeiras a obter a emancipação política (1906). Antes da Primeira Guerra mundial, as
norueguesas e dinamarquesas também gozaram do direito de votar. As suecas,
entretanto, só obtiveram esse direito a partir de 1921, muito embora elas já tivessem
granjeado o sufrágio em eleições municipais em 1863.

Alemanha. Na Alemanha, o voto feminino sofreu muita resistência. Uma


lei prussiana de 1851 proibiu as mulheres, os deficientes mentais, estudantes e aprendizes
de se filiarem a partidos políticos e de participarem de qualquer manifestação pública com
conteúdo político. A primeira associação feminina pela luta do direito ao voto foi fundada
em 1902. Alguns defendiam o sufrágio universal para homens e mulheres enquanto outros
apoiavam o sufrágio limitado para ambos. Depois da Primeira Guerra mundial, em 1918, a
república liberal de Weimar, permitiu o voto a homens e mulheres maiores de 20 anos de
idade. As mulheres o fizeram pela primeira vez em em 1919. Quando o partido nazista
assumiu o poder, as mulheres não perderam o direito de votar, mas retirou-se-lhes a
possibilidade de concorrerem a cargos eletivos.

Itália. O movimento pelo sufrágio da mulher na Itália se iniciou muito


mais tarde do que na Grã-Bretanha e a Alemanha. O primeiro projeto para emancipação
política da mulher foi apresentado ao parlamento em 1919. Em 1925, as mulheres
italianas conquistaram o sufrágio limitado. O regime de Benito Mussolini, contudo,
aprovou leis proibindo o voto feminino da mulher italiana. A isonomia com os homens só
veio a ocorrer a partir do final da Segunda Guerra mundial (1945).

Outros Países. As mulheres de grande parte do mundo só alcançaram o


direito ao voto tão-somente após a Segunda Guerra mundial. A seguir, faz-se uma síntese
da luta feminina pela emancipação política das mulheres em outras partes do mundo.

América Latina. Não era uma causa muito popular a luta pelo direito do
sufrágio feminino na América Latina. A Igreja Católica Romana se opôs a essa luta nesse
continente como em outras partes do mundo. Inobstante as adversidades, as mulheres
latino-americanas organizaram movimentos pelo direito ao voto no México, Chile,
Argentina e Brasil. Mesmo sem tem qualquer movimento sufragista feminino, Equador foi
o primeiro país na América Latina a conferir o direito ao voto às mulheres. Neste país, o
voto feminino era facultativo enquanto o masculino era obrigatório. As ativistas Maria de
Jesus Alvarado Riviera, do Peru, e Drª. Zea Hernandez, da Colômbia, foram presas
políticas em seus respectivos países.

Asia. Quase não havia campanhas pelo direito do voto feminino na


maioria dos países asiáticos, com exceção da Índia e Japão. Na Índia, Sarojini Naidu
liderou a “Associação Feminina da Índia” (Women's India Association) nas lutas pelo
direito ao voto em 1919. Logo após a independência, em 1950, as mulheres indianas
conquistaram o direito de votar.

No Japão, Ichwaka Fusae e outras ativistas fundaram a “ Liga pelo


Sufrágio Feminino” (Women's Suffrage League) em 1924. Inicialmente, elas conseguiram

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
o direito de organizar e participar de manifestações de cunho político, o que antes era
proibido. Em 1920, um dos maiores partidos políticos advogou a causa pela liberação do
voto da mulher japonesa. No ano de 1930, os militares tomaram o poder. Em
conseqüência, o governo militar suprimiu todos os movimentos democráticos populares.
Em 1946, portanto após a Segunda Guerra mundial, as mulheres japonesas adquiriram as
legitimidades ativa e passiva. Nas eleições desse ano, de 79 candidatas ao parlamento, 39
foram eleitas.

Na China, o voto feminino foi conferido às mulheres somente em 1949,


após o estabelecimento da República Popular da China.

África. A maioria das mulheres africana granjeou o direito ao voto


quando seus países se tornaram independentes. Na África do Sul, as mulheres brancas
conquistaram o direito de votar em 1930; já as mulheres negras (e os homens negros),
apenas em 1994.

Países em que as mulheres são proibidas de votar. Em 1952, as


Nações Unidas aprovou a “Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher” (Covenant on
Political Rights of Women). Esse foi o primeiro instrumento legal do mundo a estabelecer
que em todas as nações as mulheres deveriam ter o direito tanto de votar como de serem
votadas. Entretanto, nos países do Golfo Pérsico – Kuwait, Arábia Saudita, Catar, Omã,
Emirados Árabes – as mulheres ainda não obtiveram o direito do sufrágio.

Depois da luta pelo voto. A população mundial de hoje conta com um


número superior de mulheres, o que significa um percentual maior de eleitoras.
Entretanto, seu potencial de deliberar questões importantes que lhes são afetas está
aquém do que elas efetivamente representam. Em muitos países, logo após a conquista
do direito de votar, as mulheres foram às urnas em menor quantidade que os homens.
Essa relação foi relativamente igual no Japão, Grã-Bretanha e Finlândia na década de
sessenta, Suécia e Canadá na de setenta e nos Estados Unidos na de oitenta.

A participação feminina nos parlamentos ainda é ínfima vis-à-vis a dos


homens. Em média, as mulheres estão mais presentes em corpos legislativos dos países
desenvolvidos. A Dinamarca foi o primeiro país a designar uma mulher para compor o
Gabinete do chefe de governo (1924). Em 1960, Sirimavo Bandaranaike do Sri Lanka
tornou-se a primeira mulher a ser eleita presidente. Indira Gandhi foi primeira-ministra da
Índia entre 1966-1977 e 1980-1984. Maria de Lourdes Pintasilgo foi a primeira e única
mulher a ocupar o cargo de chefe do Governo português, entre 1979 e 1980, e a segunda
a fazê-lo num país europeu. Na Grã-Bretanha, foi Margaret Thatcher, entre 1979 e 1990, a
primeira mulher a ocupar o cargo de primeiro-ministro. Em 1988, Benazir Bhutto tornou-se
a primeira mulher a assumir funções governativas num Estado islâmico: o Paquistão.

5 – SÍNTESE SOBRE AS ELEIÇÕES E VOTO NO BRASIL

500 anos de eleições


As eleições não são uma experiência recente no País. O livre exercício do
voto surgiu em terras brasileiras com os primeiros núcleos de povoadores, logo depois da
chegada dos colonizadores. Foi o resultado da tradição portuguesa de eleger os

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
administradores dos povoados sob domínio luso. Os colonizadores portugueses, mal
pisavam a nova terra descoberta, passavam logo a realizar votações para eleger os que
iriam governar as vilas e cidades que fundavam. Os bandeirantes paulistas, por exemplo,
em suas missões, estavam imbuídos da idéia de votar e de serem votados. Quando
chegavam ao local em que deveriam se estabelecer, seu primeiro ato era realizar a eleição
do guarda-mor regente. Somente após esse ato eram fundadas as cidades, já sob a égide
da lei e da ordem. Eram estas eleições realizadas para governos locais.
As primeiras eleições
As eleições para governanças locais foram realizadas até a Independência.
A primeira de que se tem notícia aconteceu em 1532, para eleger o Conselho Municipal da
Vila de São Vicente-SP. As pressões populares e o crescimento econômico do país,
contudo, passaram a exigir a efetiva participação de representantes brasileiros nas
decisões da corte. Assim, em 1821, foram realizadas eleições gerais para escolher os
deputados que iriam representar o Brasil nas Cortes de Lisboa. Essas eleições duraram
vários meses, devido a suas inúmeras formalidades, e algumas províncias sequer
chegaram a eleger seus deputados.
Influência religiosa
A relação entre Estado e Religião, até fins do Império, era tamanha que
algumas eleições vieram a ser realizadas dentro das igrejas. E durante algum tempo foi
condição para ser eleito deputado a profissão da fé católica. As cerimônias religiosas
obrigatórias que precediam os trabalhos eleitorais só foram dispensadas em 1881, com a
edição da Lei Saraiva. Essa ligação entre política e religião somente cessou com a vigência
da Constituição de 1891, que determinou a separação entre a Igreja e o Estado.
Eleições em quatro graus
As votações no Brasil chegaram a ocorrer em até quatro graus: os
cidadãos das províncias votavam em outros eleitores, os compromissários, que elegiam os
eleitores de paróquia, que por sua vez escolhiam os eleitores de comarca. Estes,
finalmente, elegiam os deputados. Os pleitos passaram depois a ser feitos em dois graus.
Isso durou até 1881, quando a Lei Saraiva introduziu as eleições diretas.
Das bolas de cera à urna eletrônica
Os votos eram a princípio depositados em bolas de cera chamadas de
pelouros; depois vieram as urnas de madeira, as de ferro e as de lona, até que se
implementou em todo o País, no ano 2000, o voto informatizado, realizado em urnas
eletrônicas que possibilitam a apuração das eleições quase que de forma imediata.
Eleições livres
Até 1828, as eleições para os governos municipais obedeceram às
chamadas Ordenações do Reino, que eram as determinações legais emanadas do rei e
adotadas em todas as regiões sob o domínio de Portugal. No princípio, o voto era livre,
todo o povo votava. Com o tempo, porém, ele passou a ser direito exclusivo dos que
detinham maior poder aquisitivo, entre outras prerrogativas. A idade mínima para votar
era 25 anos. Escravos, mulheres, índios e assalariados não podiam escolher
representantes nem governantes.

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
A primeira mulher eleita no Brasil
A primeira mulher eleita para uma prefeitura no Brasil foi a fazendeira
Alzira Soriano em 1929, na cidade de Lages, Rio Grande do Norte. Carlota Pereira de
Queiroz, médica paulista, foi a primeira mulher eleita deputada federal, em 1933, tendo
sido constituinte pelo Estado de São Paulo. A primeira senadora brasileira foi Eunice
Michilis, do Amazonas. Ela era suplente e assumiu o cargo em 1979, com a morte do
senador José Esteves. E em 1998, no Maranhão, Roseana Sarney foi a primeira mulher a
ser eleita governadora no Brasil.
OS PARTIDOS POLÍTICOS

Os partidos políticos no Brasil têm suas origens nas disputas entre duas
famílias paulistas, a dos Pires e a dos Camargos. Verdadeiros bandos, com o uso da força
e da violência, eles formaram os primeiros grupos políticos rivais.
A expressão "partido político" só passou a constar nos textos legais a
partir da Segunda República. Até então, só se falava em "grupos".
Admitiram-se, durante muito tempo, candidaturas avulsas, porque os
partidos não detinham a exclusividade da indicação daqueles que iriam concorrer às
eleições, o que só ocorreu após a edição do Decreto-Lei n.º 7.586, que deu aos partidos o
monopólio da indicação dos candidatos.
Sete fases partidárias
O Brasil teve sete fases partidárias. A primeira foi a monárquica, que
começou em 1837. As rebeliões provinciais da regência possibilitaram a formação de dois
grandes partidos - o Conservador e o Liberal -, que dominaram a vida política até o final
do Império. O aparecimento de um Partido Progressista e a fundação, em 1870, do
Partido Republicano, completaram o quadro partidário do Império. A segunda fase
partidária, na Primeira República, de 1889 a 1930, conheceu partidos estaduais. Foram
frustradas as tentativas de organização de partidos nacionais, entre estas a de Francisco
Glicério, com o partido Republicano Federal, e a de Pinheiro Machado, com o Partido
Republicano Conservador.
Partidos ideológicos
A terceira formação partidária se deu na Segunda República, com
agremiações nacionais de profunda conotação ideológica: a Aliança Nacional Libertadora e
o Integralismo. A legislação eleitoral, pela primeira vez, fez referência à possibilidade de
apresentação de candidatos por partidos ou por alianças de partidos.

Com o golpe de 1937 e a instalação da Terceira República, houve o único hiato em nossa
trajetória partidária. Com a Quarta República, a redemocratização trouxe, em 1945, a
exclusividade da apresentação dos candidatos pelos partidos políticos. Nessa, que seria a
quarta formação partidária do País, ocorreu a explosão de um multipartidarismo com 13
legendas.
Bipartidarismo
O golpe militar de 1964 iniciou a quinta fase partidária, com o
bipartidarismo, que segundo alguns teria sido "uma admiração ingênua do presidente

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
Castello Branco pelo modelo britânico" e segundo outros teria sido uma "mexicanização".
A Arena seria assim o projeto brasileiro de um futuro PRI (Partido Revolucionário
Institucional). As sublegendas - mecanismo utilizado para acomodar as diferenças internas
nos dois partidos de então, Arena e MDB - foram copiadas do modelo uruguaio.
Imitação do sistema alemão
A sexta formação partidária se deu pela reforma de 1979. Buscou-se
imitar o sistema alemão de condicionar a atuação dos partidos ao alcance de um mínimo
de base eleitoral. A sétima e atual fase começou em 1985, com a Emenda Constitucional
n.º 25, com o alargamento do pluripartidarismo.
AS PRIMEIRAS ELEIÇÕES REGULARES

A eleição às Cortes de Lisboa seguiu as determinações da Constituição


espanhola de 1812, adotada para o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, e realizou-
se em quatro graus: os cidadãos de cada freguesia, sem restrições de votos, nomearam
compromissários, que escolheram eleitores de paróquia. Estes designaram os eleitores da
comarca, que, finalmente, elegeram os deputados.
Devido a inúmeras formalidades, essas eleições duraram vários meses.
Algumas províncias não chegaram sequer a eleger seus representantes. Era nomeado um
eleitor paroquial para cada 200 fogos. Por fogo entendia-se a casa, ou parte dela, em que
habitasse independentemente uma pessoa ou família, de maneira que um mesmo edifício
poderia ter dois ou mais fogos.
O sistema de eleições foi depois simplificado. Em 1822, estabeleceram-se
eleições em dois graus - os cidadãos das freguesias escolhiam os eleitores de paróquias e
estes nomeavam os deputados. Em 1881, a Lei Saraiva estabeleceu pela primeira vez
eleições diretas. Ruy Barbosa redigiu o projeto dessa lei, que ainda confiou o alistamento
eleitoral à magistratura, abolindo as Juntas Paroquiais de Qualificação.
As eleições durante o Império eram controladas pelo Imperador, por meio
da Secretaria do Estado dos Negócios do Brasil, dos presidentes das províncias e da
oligarquia rural. As reformas eleitorais eram feitas às vésperas das eleições, para garantir
maioria ao governo. Tudo isso gerava um sem-número de possibilidades de fraudes.
Durante a República Velha, prevaleceu a chamada "política dos
governadores": o presidente da República apoiava os candidatos indicados pelos
governadores nas eleições estaduais e estes davam suporte ao indicado pelo presidente
nas eleições presidenciais. O plano dependia da ação dos coronéis, que controlavam o
eleitorado regional, faziam a propaganda dos candidatos oficiais, fiscalizavam o voto não
secreto dos eleitores e a apuração. Chegava-se assim, quase sempre, a um resultado
previsível.
Era grande o poder de intervenção do governo nas eleições. A Comissão
de Verificação de Poderes do Congresso (CVP), responsável pelo resultado definitivo das
eleições, costumava excluir, na fase final, alguns dos eleitos. Eram as chamadas
"degolas".
Em 1821, realizaram-se as primeiras eleições gerais no Brasil, destinadas a
eleger os deputados às Cortes de Lisboa. Os eleitos iriam redigir e aprovar a primeira

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
Constituição da Monarquia Portuguesa

EVOLUÇÃO DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO

A Independência do Brasil obrigou o País a buscar o aperfeiçoamento de


sua legislação eleitoral, embora durante todo o Império as normas vigentes para as
eleições tenham sido copiadas do modelo francês.

A primeira lei eleitoral, de 3 de janeiro de 1822, assinada pelo príncipe regente, convocou
eleições para a Assembléia Geral Constituinte e Legislativa, formada pelos deputados das
províncias do Brasil. O pleito deu-se em dois graus. Não votavam em primeiro grau os que
recebessem salários e soldos e para a eleição de segundo grau exigia-se "decente
subsistência por emprego, indústria ou bens". O cálculo do número de eleitores
continuava a ser feito a partir do número de fogos (casas) da freguesia.
Em 25 de março de 1824, D. Pedro I outorgou a primeira Constituição
brasileira, estabelecendo que o Poder Legislativo seria exercido pela Assembléia Geral,
formada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, determinou eleições indiretas e em
dois graus e estabeleceu o voto censitário e a verificação dos poderes.
Era condição de elegibilidade para deputados professar a religião católica.
Os príncipes da Casa Imperial tinham assento no Senado ao completar 25 anos.
Primeira lei eleitoral do Império
A primeira lei eleitoral do Império, de 1824, manda proceder à eleição dos
deputados e senadores da Assembléia Geral Legislativa e dos membros dos Conselhos
Gerais das Províncias. A votação foi feita por lista assinada pelos votantes, que continha
tantos nomes quantos fossem os eleitores que a paróquia deveria dar. Antes desta lei, o
primeiro código eleitoral aplicado no Brasil foi o chamado Ordenações do Reino, elaborado
em Portugal no fim da Idade Média e utilizado até o ano de 1828. Esse "código" foi
empregado apenas uma vez, em 1821, para eleger os representantes brasileiros junto à
Corte portuguesa.
O voto era obrigatório. No caso de impedimento, o eleitor comparecia por
intermédio de seu procurador, enviando sua lista assinada e reconhecida por tabelião. O
voto por procuração só deixou de existir em 1842, época em que se estabeleceram as
juntas de alistamento, formadas por um juiz de paz do distrito, que era o presidente, um
pároco e um fiscal.
Lei dos Círculos e Lei do Terço
Em 1855, foi instituído o voto distrital, por meio da chamada Lei dos
Círculos. A Lei do Terço, de 1875 (que tem seu nome derivado do fato de que o eleitor
votava em dois terços do número total dos que deveriam ser eleitos), destacou-se do
conjunto das leis imperiais por ter introduzido a participação da justiça comum no
processo eleitoral e pela instituição do título eleitoral.
A legislação vigente durante o Império possibilitou à opinião pública exigir
eleições diretas e criticar os abusos e as fraudes. O novo quadro eleitoral levou o
Conselheiro Saraiva a reformá-la, encarregando Ruy Barbosa de redigir o projeto da nova
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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
lei, de nº 3.029/1881, que ficou conhecida como Lei Saraiva. Ela aboliu as eleições
indiretas e confiou o alistamento à magistratura, extinguindo as juntas paroquiais de
qualificação.
A VELHA REPÚBLICA (1889 – 1930)

A Proclamação da República inaugurou um novo período da nossa


legislação eleitoral, que passou a inspirar-se em modelos norte-americanos. A primeira
inovação eleitoral trazida pela República foi a eliminação do "censo pecuniário" ou "voto
censitário".
Em 1890, o chefe do governo provisório, marechal Deodoro da Fonseca,
promulgou o regulamento eleitoral organizado por Aristides Lobo, o Decreto 200-A,
considerado a primeira lei eleitoral da República e que tratava unicamente da qualificação
dos eleitores.
Regulamento Alvim
Faltava ainda uma lei que presidisse a eleição dos constituintes, marcada
para setembro. Em 23 de junho de 1890, ela foi publicada. Ficou conhecida como
"Regulamento Alvim", em referência ao ministro e secretário do Estado dos Negócios do
Interior, José Cesário de Faria Alvim, que a assinou.
O art. 62 dessa lei dispunha: "Aos cidadãos eleitos para o primeiro
Congresso, entendem-se conferidos poderes especiais para exprimir a vontade nacional
acerca da Constituição publicada pelo Decreto nº 510, de 22 de junho do corrente, bem
como para eleger o primeiro presidente e o vice-presidente da República".
Eleição de Deodoro
Eleita em 15 de setembro de 1890, uma das primeiras tarefas da Constituinte foi dar
respaldo ao governo provisório, promulgando a Constituição de 1891 e elegendo Deodoro
da Fonseca no dia seguinte. A primeira Constituição Republicana criou o sistema
presidencialista, em que o presidente e o vice-presidente deveriam ser eleitos pelo
sufrágio direto da nação, por maioria absoluta de votos.
A primeira Constituição Republicana criou o sistema presidencialista, em
que o presidente e o vice-presidente deveriam ser eleitos pelo sufrágio direto da nação,
por maioria absoluta de votos; atribuiu ao Congresso Nacional a regulamentação do
processo eleitoral para os cargos federais em todo o País e aos estados a legislação sobre
eleições estaduais e municipais.
A "política dos governadores"
Durante a Velha República, também chamada de Primeira República,
prevaleceu um esquema de poder que ficou conhecido como "política dos governadores",
montado por Prudente de Morais, eleito em 1894: o presidente da República apoiava os
candidatos indicados pelos governadores nas eleições estaduais e estes davam suporte ao
indicado pelo presidente nas eleições presidenciais.
Coronelismo
O plano dependia da ação dos coronéis, grandes proprietários de terras

19
História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
cujo título derivava de sua participação na Guarda Nacional (instituição que durante o
Império assegurava a ordem interna). Eles controlavam o eleitorado regional, faziam a
propaganda dos candidatos oficiais, fiscalizavam o voto não secreto dos eleitores e a
apuração.
O governo central também controlava a Comissão de Verificação de
Poderes do Congresso, que era responsável pelos resultados eleitorais finais e pela
diplomação dos eleitos.
"Degolas"
O trabalho da Comissão de Verificação de Poderes do Congresso consistia,
na realidade, em negação da verdade eleitoral, pois representava a etapa final de um
processo de aniquilamento da oposição, chamado de "degola", executado durante toda a
República Velha.
Justiça Eleitoral
Em 1916, o presidente Wenceslau Brás, preocupado com a seriedade do
processo eleitoral, sancionou a Lei 3.139, que entregou ao Poder Judiciário o preparo do
alistamento eleitoral.
Por confiar ao Judiciário o papel de principal executor das leis eleitorais,
muitos percebem nessa atitude o ponto de partida para a criação da Justiça Eleitoral, que
só viria a acontecer em 1932.
A CRIAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL

A Revolução de 1930 tinha como um dos princípios a moralização do


sistema eleitoral. Um dos primeiros atos do governo provisório foi a criação de uma
comissão de reforma da legislação eleitoral, cujo trabalho resultou no primeiro Código
Eleitoral do Brasil.
O Código Eleitoral de 1932 criou a Justiça Eleitoral, que passou a ser
responsável por todos os trabalhos eleitorais - alistamento, organização das mesas de
votação, apuração dos votos, reconhecimento e proclamação dos eleitos. Além disso,
regulou em todo o País as eleições federais, estaduais e municipais.
A Revolução Constitucionalista de 1932 exige a convocação de uma
Assembléia Nacional Constituinte, feita pelo Decreto nº 22.621/1933, estabelecendo que,
além dos deputados eleitos na forma prescrita pelo Código Eleitoral, outros 40 seriam
eleitos pelos sindicatos legalmente reconhecidos, pelas associações de profissionais
liberais e de funcionários públicos. Era a chamada representação classista.
Os avanços na legislação eleitoral foram contemplados na Constituição de
1934, inclusive o sufrágio profissional, que a própria Justiça Eleitoral recusaria. Na mesma
época, procedeu-se, indiretamente, conforme a Constituição regulava, à eleição do
Presidente da República, Getúlio Vargas.
As críticas ao Código Eleitoral de 1932 levaram, em 1935, à promulgação
de nosso segundo Código, a Lei nº 48, que substituiu o primeiro sem alterar as conquistas
de até então. A Revolução de 1930 tinha como um dos princípios a moralização do
sistema eleitoral. Um dos primeiros atos do governo provisório foi a criação de uma

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comissão de reforma da legislação eleitoral, cujo trabalho resultou no primeiro Código
Eleitoral do Brasil.

Voto secreto
O Código introduziu o voto secreto, o voto feminino e o sistema de
representação proporcional, em dois turnos simultâneos. Pela primeira vez, a legislação
eleitoral fez referência aos partidos políticos, mas ainda era admitida a candidatura avulsa.
Esse código já previa o uso de máquina de votar, o que só veio a se efetivar na década de
90.
ESTADO NOVO

Em 10 de novembro de 1937, sustentado por setores sociais


conservadores, Getúlio anuncia, pelo rádio, a "nova ordem" do País. Outorgada nesse
mesmo dia, a "polaca", como ficou conhecida a Constituição de 1937, extinguiu a Justiça
Eleitoral, aboliu os partidos políticos existentes, suspendeu as eleições livres e estabeleceu
eleição indireta para presidente da República, com mandato de seis anos.

Essa "nova ordem", historicamente conhecida por Estado Novo, sofre a oposição dos
intelectuais, estudantes, religiosos e empresários. Em 1945, Getúlio anuncia eleições
gerais e lança Eurico Gaspar Dutra, seu ministro da Guerra, como seu candidato. Oposição
e cúpula militar se articulam e dão o golpe de 29 de outubro de 1945. Os ministros
militares destituem Getúlio e passam o governo ao presidente do Supremo Tribunal
Federal, José Linhares, à época também presidente do TSE, até a eleição e posse do novo
presidente da República, o general Dutra, em janeiro de 1946. Era o fim do Estado Novo.
A JUSTIÇA ELEITORAL E A DEMOCRACIA

O processo de restabelecimento do sistema democrático no Brasil inicia-se


ainda no final do Estado Novo e é consolidado durante o governo Dutra. Apesar da
repressão, intensifica-se a luta pela redemocratização no início de 1945, notadamente
após o lançamento, por um grupo de intelectuais, do "Manifesto Mineiro".
Pressionado, Getúlio Vargas faz editar a Lei Constitucional nº 9/45, que
alterou vários artigos da Constituição, inclusive os que tratavam dos pleitos. Foram então
convocadas eleições e determinado o prazo de 90 dias para fixar as datas da realização
destas para presidente e governadores de estado, bem como para o parlamento e
assembléias.
O Decreto-Lei 7.586/1945, conhecido como Lei Agamenon, em
homenagem ao ministro da Justiça Agamenon Magalhães, responsável por sua
elaboração, restabelece a Justiça Eleitoral, regulando em todo o País o alistamento
eleitoral e as eleições.
Na esteira da redemocratização, já com a Justiça Eleitoral reinstalada,
foram empossados o presidente Eurico Gaspar Dutra e a Assembléia Nacional Constituinte
de 1945.
Promulgada a Constituição, em 18 de setembro de 1946, a Câmara dos

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Deputados e o Senado Federal passaram a funcionar como Poder Legislativo ordinário.
A Constituição, a exemplo da de 1934, consagra a Justiça Eleitoral entre
os órgãos do Poder Judiciário e proíbe a inscrição de um mesmo candidato por mais de
um estado.
O Código Eleitoral de 1945, que trouxe como grande novidade a
exclusividade dos partidos políticos na apresentação dos candidatos, vigorou, com poucas
alterações, até o advento do Código Eleitoral de 1950.
A Justiça Eleitoral é formada pelo Tribunal Superior Eleitoral; por um
Tribunal Regional em cada estado, no Distrito Federal e nos territórios; pelos juízes e
pelas juntas eleitorais. Esses órgãos têm sua composição e competência estabelecidas
pelo Código Eleitoral.
O TSE está sediado na capital da República e os TREs nas capitais dos
estados, no DF e territórios. Composto por sete ministros, o TSE já funcionou em quatro
sedes, além da atual. Em sua primeira fase (1932-1937), funcionou na avenida Rio
Branco, no Rio de Janeiro. O Palácio Monroe (hoje demolido) foi sua primeira sede na
chamada segunda fase da Justiça Eleitoral (1942-1946), até que o órgão foi transferido
para a rua 14 de Março, também no Rio de Janeiro.
Em 22 de abril de 1960, um dia após sua transferência para a capital
federal, o TSE instalou-se na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, onde funcionou até
1971, quando passou a ocupar sede própria na mesma cidade, na Praça dos Tribunais
Superiores, onde permanece até hoje.
Em 1955, a Lei 2.250 cria a folha individual de votação, que fixou o eleitor
na mesma seção eleitoral e aboliu, entre outras fraudes, a do uso de título falso ou de
segunda via obtida de modo doloso. Outra alteração significativa do Código Eleitoral de
1950 foi a adoção da "cédula única de votação". Ambas foram sugestões do ministro
Edgard Costa.
A cédula oficial guardou a liberdade e o sigilo do voto, facilitou a apuração
dos pleitos e contribuiu para combater o poder econômico, liberando os candidatos de
vultosos gastos com a impressão e a distribuição de cédulas.

O REGIME MILITAR (1964 – 1985)

A legislação eleitoral, no período compreendido entre a deposição de João


Goulart (1964) e a eleição de Tancredo Neves (1985) foi marcada por uma sucessão de
atos institucionais e emendas constitucionais, leis e decretos-leis com os quais o Regime
Militar conduziu o processo eleitoral de maneira a adequá-lo aos seus interesses, visando
ao estabelecimento da ordem preconizada pelo Movimento de 64 e à obtenção de uma
maioria favorável ao governo.
Com esse objetivo, o Regime alterou a duração de mandatos, cassou
direitos políticos, decretou eleições indiretas para presidente da República, governadores
dos estados e dos territórios e para prefeitos dos municípios considerados de interesse da
segurança nacional e das estâncias hidrominerais, instituiu as candidaturas natas, o voto
vinculado, as sublegendas e alterou o cálculo para o número de deputados na Câmara,
com base ora na população, ora no eleitorado, privilegiando estados politicamente

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incipientes, em detrimento daqueles tradicionalmente mais expressivos, reforçando assim
o poder discricionário do governo.
Foram eleitos indiretamente cinco presidentes militares. A sociedade,
principalmente nas grandes cidades, mobilizou-se por mudanças políticas que levassem à
redemocratização do País. A primeira eleição de um presidente da República civil durante
esse regime de exceção foi ainda indireta, por meio de um colégio eleitoral. E levou à
presidência Tancredo Neves, que faleceu antes de tomar posse, vindo a assumir o cargo
seu vice, José Sarney, em 1985.
Lei Orgânica dos Partidos Políticos
Em 15 de julho de 1965, é aprovada a Lei Orgânica dos Partidos Políticos
(Lei nº 4.740). Logo depois, a 27 de outubro, o AI-2 extingue os partidos políticos. Ainda
no mesmo ano, o Ato Complementar nº 4 determinou ao Congresso Nacional a criação de
organizações com atribuições de partidos políticos, o que deu origem à ARENA e ao MDB.
AI-5
O AI-5, de 13 de dezembro de1968, suspendeu as garantias da
Constituição de 67 e ampliou os poderes ditatoriais do presidente da República,
permitindo-lhe, em 1968, decretar o recesso do Congresso Nacional.
Visando ao controle sobre o eleitorado e sobre o Congresso Nacional, a
Lei Falcão (Lei nº 6.339/76) restringiu a propaganda eleitoral, impedindo o debate político
nos meios de comunicação. Em 1977, a Emenda Constitucional nº 8 instituiu a figura do
senador biônico.
A Emenda Constitucional nº 11/78 revogou os atos institucionais e
complementares impostos pelos militares e modificou as exigências para a organização
dos partidos políticos. Em 19 de novembro de 1980, a EC nº 15 restabeleceu as eleições
diretas para governador e senador e eliminou a figura do senador biônico. A Lei nº 6.767,
de 20 de dezembro de 1979, extinguiu a ARENA e o MDB e restabeleceu o
pluripartidarismo, sinalizando para o início da abertura política.

A NOVA REPÚBLICA

A Emenda Dante de Oliveira, que previa eleição direta para presidente e


vice-presidente da República, foi rejeitada em abril de 1984. Assim, a eleição do primeiro
civil após o período de exceção se deu, em 1985, ainda indiretamente, por meio de um
colégio eleitoral.

Em 15 de maio desse ano, a Emenda Constitucional nº 25 alterou dispositivos da


Constituição Federal e restabeleceu eleições diretas para presidente e vice-presidente da
República, em dois turnos; eleições para deputado federal e para senador, para o Distrito
Federal; eleições diretas para prefeito e vice-prefeito das capitais dos estados, dos
municípios considerados de interesse da segurança nacional e das estâncias
hidrominerais; aboliu a fidelidade partidária e revogou o artigo que previa a adoção do
sistema distrital misto.
Processamento eletrônico

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
Em 1982, ano em que foi eliminado da legislação eleitoral o voto
vinculado, a Lei nº 6.996/82 dispôs sobre a utilização do processamento eletrônico de
dados nos serviços eleitorais. Três anos depois, a Lei nº 7.444/85 disciplinou a
implantação do processamento eletrônico de dados no alistamento eleitoral e na revisão
do eleitorado, possibilitando, em 1996, o recadastramento, em todo o território nacional,
de 69,3 milhões de eleitores, sob a supervisão e orientação do Tribunal Superior Eleitoral.
Plebiscito
A Constituição de 1988 determinou a realização de plebiscito para definir a
forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo
ou presidencialismo) e prescreveu que o presidente e os governadores, bem como os
prefeitos dos municípios com mais de 200 mil eleitores, fossem eleitos por maioria
absoluta ou em dois turnos, se nenhum candidato alcançasse a maioria absoluta na
primeira votação.
Nos municípios com menos de 200 mil eleitores, os chefes do Executivo
seriam eleitos, em turno único, por maioria simples. Estabeleceu, ainda, que o período de
mandato do presidente seria de cinco anos, vedando-lhe a reeleição para o período
subseqüente, e fixou a desincompatibilização até seis meses antes do pleito para os
chefes do Executivo (federal, estadual ou municipal) que quisesse concorrer a outros
cargos.
Para evitar casuísmos, a Emenda Constitucional nº 4/93 estabeleceu que a
lei que alterasse o processo eleitoral somente seria aplicada um ano após sua vigência.
A Emenda Constitucional de Revisão nº 5/94 reduziu para quatro anos o
mandato presidencial e a Emenda Constitucional nº 16/97 permitiu a reeleição dos chefes
do Executivo para um único período subseqüente. Com a aprovação da Lei nº 9.504/97,
pretendeu-se dar início a uma fase em que as normas das eleições sejam duradouras.

A INFORMATIZAÇÃO

A Justiça Eleitoral, instituída em 1930, sempre teve como princípio a


moralização das eleições. O primeiro Código Eleitoral brasileiro, criado na mesma época,
estabeleceu uma série de medidas para sanar os "vícios eleitorais". E já previa o uso da
máquina de votar. A Justiça Eleitoral, agora responsável por todos os trabalhos eleitorais
(alistamento, organização das mesas de votação, apuração dos votos, proclamação e
diplomação dos eleitos), buscava mecanismos para garantir a lisura dos pleitos.
Máquina de votar
Na década de 60, Ricardo Puntel inventou e apresentou ao TSE um
modelo de máquina de votar que nunca chegou a ser usado. Imaginava-se que a
neutralidade das máquinas, que não têm emoções nem ambições, não só tornaria as
apurações quase que instantâneas, mas também diminuiria o volume de fraudes.
Em 1978, pioneiramente, o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais
apresentou ao TSE um protótipo para a mecanização do processo eleitoral.
Após iniciativas isoladas de alguns TREs, que desenvolveram novas idéias
de automação das eleições, o TRE-RS desenvolveu um projeto-piloto para a

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
informatização do cadastro de eleitores do Rio Grande do Sul.
Em 1981, o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro
Moreira Alves, encaminhou ao presidente da República, João Baptista Figueiredo,
anteprojeto que dispunha sobre a utilização de processamento eletrônico de dados nos
serviços eleitorais.
Em 1982, a Lei nº 6.996/82 dispôs sobre a utilização do processamento
eletrônico de dados nos serviços eleitorais. Três anos depois, em 1985, a Lei n 7.444
tratou da implantação do processamento eletrônico de dados no alistamento eleitoral e da
revisão do eleitorado, que resultou no recadastramento de 69,3 milhões de eleitores, a
quem foram conferidos novos títulos eleitorais, agora com número único nacional.
Totalização eletrônica
Na eleição presidencial de 1989, foi possível a totalização eletrônica dos
resultados das eleições nos Estados do Acre, Alagoas, Mato Grosso, Paraíba, Piauí e
Rondônia.
O sucesso desse empreendimento levou à informatização do TRE de
Minas Gerais, em 1991; à totalização eletrônica dos resultados das eleições municipais de
1992 em aproximadamente 1800 municípios; e à apuração eletrônica do plebiscito de
1993 em todos os municípios brasileiros. A eleição geral de 1994 também contou com
totalização de votos inteiramente informatizada.
Eleições informatizadas
Somente nas eleições municipais de 1996, no entanto, é que a Justiça
Eleitoral deu início ao processo de informatização do voto. Usaram a "máquina de votar",
nesse ano, cerca de 33 milhões de eleitores. Na eleição geral de 1998, o voto
informatizado alcançou cerca de 75 milhões de eleitores. E no ano 2000, todos os eleitores
puderam utilizar as urnas eletrônicas para eleger prefeitos e vereadores.

O ELEITOR

Um dos pressupostos da democracia é a participação política do povo, que


tem no voto a sua principal forma de expressão política. No Brasil, o direito ao exercício
do voto foi excludente em diferentes períodos de sua história e a legislação eleitoral foi
progressivamente alterando o perfil do eleitor. Durante o período colonial, as únicas
condições exigidas ao eleitor eram a idade-limite de 25 anos e residência e domicílio na
circunscrição.
No Império (1822-1889), a idade mínima permaneceu em 25 anos, à
exceção dos casados e oficiais militares, que podiam votar aos 21 anos. O voto, porém,
passou a ser censitário e excluiu, ainda, os religiosos e quaisquer outros que vivessem em
comunidade claustral, além de libertos, criados de servir e serventes das repartições e
estabelecimentos públicos.
Na República Velha (1889-1930), a idade mínima passou a ser de 21 anos
e foi abolido o voto censitário. Em 1882, o analfabeto perde o direito de votar, cassado
pela Lei Saraiva, que estabeleceu o chamado "censo literário".

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História do Voto/Rabelo/ATEC/LidPTB
Voto feminino
O Código Eleitoral de 1932 estendeu a cidadania eleitoral às mulheres. A
potiguar Celina Guimarães Vianna, da cidade de Mossoró, foi a primeira eleitora do Brasil.
A Constituição de 1934 estabeleceu a idade mínima obrigatória de 18 anos para o
exercício do voto. Durante o regime militar, iniciado em 1964, não houve, na legislação
eleitoral, qualquer progresso quanto ao direito de voto.
A Emenda Constitucional nº 25/85 devolve ao analfabeto o direito de
votar, agora em caráter facultativo. A Constituição de 1988 estabelece que o alistamento
eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de 18 anos e facultativos para os
maiores de 70 anos e para os jovens entre 16 e 18 anos. Renata Cristina Rabelo Gomes
foi alistada como o primeiro eleitor maior de 16 e menor de 18 anos.

6– CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo da história humana, desde as mais primitivas formas de


organização, o direito de escolha quase sempre foi um privilégio de poucos, dos mais
fortes. Os desafortunados e as mulheres (estas principalmente) tiveram que lutar
bravamente para conquistar a liberdade política, sobretudo o direito de votar em seus
representantes.

Também é insofismável a renitente presença de manobras nas eleições –


ontem (no Brasil, os cabalistas, os fósforos, os coronéis etc) e hoje (a exemplo da eleição
que elegeu o presidente dos Estados Unidos, George Bush) – que deturparam, deturpam
e poderão deturpar, infelizmente, a essência do voto, qual seja, a de dar a liberdade ao
homem.

Escolher, portanto, é ser livre. Mas depois de escolhermos, votarmos,


será mesmo que conquistamos a liberdade, ou caímos prisioneiros daqueles que nos
subtraem a confiança?...

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