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A água é um dos recursos naturais mais valiosos para a existência da humanidade. Cerca de
70% do nosso planeta é formado por água, entretanto, apesar de toda essa imensidão, a água
disponível apropriada para o consumo humano é de aproximadamente 2,5%. A água está
presente em toda atividade humana, higiene, agricultura, agropecuária, produção de energia,
transporte, turismo, entre outras, essa vasta gama de aplicações traz consigo uma grande
preocupação, o uso consciente deste recurso natural.
Nas universidades a água possui diversas aplicações, mas é nos laboratórios que o uso do
“solvente universal” torna-se preocupante, a necessidade do seu uso na forma destilada tem
aumentado significantemente os índices de desperdício, grande parte dos destiladores
desperdiçam em média de 20 a 40 litros de água potável para produzir 1 litro de água pura, na
maioria dos laboratórios das universidades não existe um sistema de reuso implantado para
funcionar juntamente com o sistema de destilação, desta forma diversos litros de água potável
são lançados diretamente na rede de esgoto todos os dias.
2. METODOLOGIA
Nesta etapa do estudo aplicou-se uma entrevista estruturada a um técnico e sete professores
que fazem uso dos laboratórios do DACC para ensino e pesquisa. Apesar da entrevista
abranger os usuários dos três laboratórios do DACC, ressalta-se que atualmente somente os
laboratórios de solos e asfalto fazem uso regular da água destilada em ensaios. A entrevista
teve como finalidade determinar o volume de água destilada necessária para atender a atual
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Implantação de um sistema de reuso da água residual do aparelho
destilador para laboratório de solos do IFMT.
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demanda dos laboratórios, e consequentemente estimar o volume de efluente gerado para
produção desta água destilada.
Para produzir a água pura o equipamento destilador necessita que haja fluxo constante de
água, essa é a parte preocupa boa parte dos pesquisadores que fazem uso deste tipo de
equipamento, pois alguns equipamentos chegam a desperdiçar 40 litros de água potável para
cada litro de água pura produzido. Para iniciar-se o funcionamento do equipamento
primeiramente abre-se o registro de água e aguarda-se o preenchimento do volume da
caldeira, após observar-se a saída de água através do tubo de saída de excesso, liga-se o
equipamento, nesta fase a água começa a ser aquecida na caldeira, logo depois, inicia-se o
processo de ebulição, então o vapor é coletado e condensado no seletor de vapores resultando
em uma água quimicamente pura.
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Em seguida, verificou-se o volume de água desperdiçado pelo equipamento para produção de
1 litro de água destilada. Para esta análise utilizou-se duas provetas graduadas com
capacidade para 1 L e um tambor plástico com capacidade para 200 L. Primeiramente, de
forma empírica regulou-se a vazão de saída de água, em seguida, colocou-se a proveta 1
abaixo do funil coletor a fim de captar a água destilada, e com a proveta 2 coletava-se a água
de descarte onde após ser preenchida transferia-se a água para o tambor e registrava-se o
volume de efluente gerado pelo equipamento.
Inicialmente, colocou-se a proveta 1 abaixo do funil coletor a fim de captar a água destilada,
em seguida, abriu-se o registro de água, e após verificar-se a saída de água no tubo de saída de
excesso ligou-se o equipamento e simultaneamente acionou-se o cronometro, imediatamente,
com a proveta 2 começou-se a realizar a coleta da água residual, após preencher o seu volume
transferia-se a água para o tambor e anotava-se o volume de efluente gerado, repetiu-se este
processo até completar-se o volume de 0,5 L na proveta 1. Posteriormente, reduziu-se a vazão
de entrada e repetiu-se o processo supracitado, repetiu-se o procedimento até completar-se os
cinco pontos. Em seguida, aplicou-se os dados obtidos na Equação 1 e determinou-se as
vazões da água destilada e água residual.
V
QV (1)
t
Conforme fora explicado na terceira etapa do estudo, o processo de destilação da água faz
com que seu estado seja alterado duas vezes. A primeira alteração é conhecida como ebulição,
que faz com que seu estado mude de líquido para gasoso, já a segunda alteração é definida
como condensação, que é caracterizada pela passagem do estado gasoso para o líquido. Como
o intuito desta pesquisa é de reutilizar a água de descarte, fora necessário realizar-se uma
análise físico-química da água do sistema de destilação a fim de verificar-se a ocorrência de
alterações na sua composição após a entrada no aparelho destilador, somente esta análise
possibilita constatar se existe a necessidade de haver tratamento prévio ou não antes da
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reutilização da água. Para o presente estudo realizou-se análise dos seguintes parâmetros: pH,
condutividade elétrica, sólidos totais dissolvidos (TDS), temperatura, dureza total, cor, acidez,
turbidez, alcalinidade e cloretos. Para realização das análises supracitadas fora coletado
amostras de dois pontos distintos, a água do sistema de abastecimento do IFMT – Campus
Octayde (água de entrada) e a água que seria descartada (água residual). As análises das
amostras foram realizadas no Laboratório de Análises de Águas e Efluentes do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso – Campus Bela Vista com
supervisão do Professor Dr. Josias do Espírito Santo Coringa.
Posteriormente, com auxílio do colorímetro de bancada modelo Nessler Quanti 200 realizou-
se a análise da cor da água. Primeiramente, colocou-se o disco colorimétrico para análise de
cor no porta-disco do colorímetro, em seguida, adicionou-se água destilada ao tubo A e
tampou-se, então, adaptou-o no colorímetro, logo após, preencheu-se com a amostra do
primeiro ponto o tubo B, então, colocou-se o tubo no colorímetro. Em seguida, ligou-se o
equipamento e girou-se o disco colorimétrico até observar-se proximidade da tonalidade das
amostras, então, anotou-se o número no visor da escala.
DT Va 20 (2)
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Logo após, fora determinado a acidez das amostras. Inicialmente, pipetou-se 100 mL da
amostra em um Erlenmyer de 250 mL, em seguida, adicionou-se a referida amostra quatro
gotas de fenolftaleína, logo depois, encheu-se uma bureta com hidróxido de sódio 0,02 mol/L,
então, adicionou-se vagarosamente o hidróxido de sódio na amostra, até esta apresentar uma
cor rosa. Imediatamente, registou-se o volume gasto de hidróxido de sódio necessário para
ocorrer a variação da coloração. Posteriormente, aplicou-se os dados obtidos na Equação 3 e
desta forma determinou-se a acidez das amostras analisadas.
V FC 1, 0 1000
AC (3)
Va
( A B ) 0, 0141 35.450
Cl (4)
Va
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Imediatamente, encheu-se a bureta graduada com ácido sulfúrico 0,02N, então, adicionou-se
vagarosamente o ácido sulfúrico na prova em branco até que esta apresenta-se uma coloração
vermelho-laranja. Na sequência, realizou-se a titulação para as amostras, utilizando-se como
base a coloração da prova em branco.
Al (CO3 ) 10 (2 ff ) (5)
Al ( HCO3 ) 10 (T 2 ff ) (6)
Devido a água a ser reutilizada (água residual) sofrer duas alterações de seu estado físico,
houve a preocupação com a alteração de sua composição físico-química durante o processo de
destilação, somente após observar-se os resultados obtidos nas análises físico-químicas
realizadas, fora definido onde a água de residuária poderia ser reutilizada.
3. RESULTADOS
3.1 Entrevista sobre utilização do equipamento
A entrevista fora aplicada apenas aqueles que fazem uso dos laboratórios com a finalidade de
executar aulas práticas ou projetos de pesquisa, portanto, nesta fase do estudo foram
entrevistados um técnico e sete docentes. De acordo com a pesquisa aplicada, os laboratórios
do DACC atendem dez disciplinas: asfalto, agregados e aglomerantes, concreto e argamassa,
cerâmica vermelha, mecânica dos solos, ensaios geotécnicos de laboratório, ensaios
geotécnicos de campo, materiais da construção I, materiais da construção II e materiais da
construção III, dessas, apenas agregados e aglomerantes não possuem turma no semestre
atual.
A Figura 2 demonstra que ao todo são realizados a cada semestre letivo aproximadamente 65
ensaios práticos, destes 21 utilizam a água destilada em sua execução, ou seja,
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aproximadamente 32% de todos os ensaios realizados durante o semestre utilizam a água
destilada.
A Figura 3 apresenta a opinião dos docentes quanto a relevância de utilizar-se água destilada
na execução de ensaios de suas disciplinas. Como pode-se notar, maior parte dos docentes
entrevistados (75%) consideram importante o uso da água destilada na execução de ensaios
que exigem sua aplicação.
A Figura 4 demonstra o ponto de vista dos docentes entrevistados sobre a influência que o uso
da água destilada exerce sobre os resultados obtidos em ensaios. Apesar da maioria dos
entrevistados terem considerado o uso da água destilada como importante, 67% dos
professores consideram que o uso da água destilada não afeta os resultados encontrados em
ensaios.
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Figura 4 – Consideração dos docentes quanto a influência da água destilada nos resultados dos ensaios
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Nota-se que para fabricar 1 L de água destilada fora produzido em média 23 L de efluente.
Ressalta-se que este é um valor estimado, pois o volume de efluente gerado depende
principalmente do volume de água de entrada no sistema e também das condições de
funcionamento do equipamento destilador.
A Tabela 2 apresenta uma estimativa de consumo de água pelo aparelho destilador, baseando
nas respostas fornecidas pelos docentes.
Conforme informado no item anterior, em média são realizados durante o semestre letivo
aproximadamente 21 ensaios que necessitam de água destilada em sua execução. Conforme
levantamento desta pesquisa, verificou-se que para produzir-se 1 L de água destilada fora
descartado em média 23 L de água potável, considerando-se o número de ensaios executados
durante o período letivo, estimasse que ocorra o desperdício de aproximadamente 483 L
semestralmente. Destaca-se que existem diversas variantes que podem influenciar no aumento
de água residual produzida, dentre elas pode-se citar: metodologia adotada pelo docente,
número de alunos, exigências das normas regulamentadoras, número de vezes que são
repetidos os ensaios, volume da água de entrada no aparelho, dentre outras.
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se também que a água residual apresentava temperatura bastante elevada o que caracteriza
risco aos usuários e possibilidade de danos ao equipamento.
O ponto ótimo de funcionamento do sistema é caracterizado pelo menor tempo gasto para
produzir um determinado volume de água destilada e menor volume de água residual
produzida, sem oferecer riscos ao equipamento e usuários. Desta forma, no presente estudo
podemos definir o ponto 4 como o ponto ótimo de funcionamento do sistema, neste ponto
observou-se uma vazão de água residual de 62,0 L/h, isso deu-se devido o volume de água
residual produzido ser menor neste ponto (7,2 L), quanto a vazão de água destilada, neste
ponto verificou-se uma vazão de 4,3 L/h, a alta vazão da água destilada é um ponto positivo,
pois caracteriza um menor tempo necessário para funcionamento do aparelho, ocasionando
redução do uso de energia.
Apesar do ponto 5 apresentar uma vazão de água residual inferior ao ponto 4 (55,3 L/h), o
mesmo não pudera ser considerado como ponto ótimo. Devido ao cálculo da vazão ser a razão
entre um determinado volume por um determinado intervalo de tempo, o maior tempo gasto
para produzir a água destilada no ponto 5 ocasionou a redução do valor da vazão.
A Tabela 4 abaixo apresentam os resultados obtidos através das análises realizadas nas
amostras coletadas antes da entrada no equipamento destilador e após sua passagem pelo
aparelho.
Resultado da amostra
Parâmetros Físico-químicos Unidade V.M.P
Nº 1 Nº 2
Acidez mg/L CaCO3 0,043 0,032 -
Alcalinidade Bicarbonato mg/L CaCO3 11,7 28,2 -
Alcalinidade Hidróxido mg/L CaCO3 0 0 -
Alcalinidade Carbonato mg/L CaCO3 24 24 -
Cloretos mg/L Cl 2 1 250
Condutividade Elétrica µS/cm 57,3 81,6 -
Cor uH 0 0 15
Dureza Total mg/L CaCO3 30,4 45 500
pH - 7,3 7,6 6,0 a 9,5
TDS mg/L 28 40 1000
Temperatura °C 28,1 27,9 -
Turbidez UT 0,25 0,25 5
Observa-se nos resultados obtidos, que a água residuária apresentou um aumento de 16,5
mg/L CaCO3 na alcalinidade bicarbonato, este aumento deve-se ao processo de oxidação que
a resistência que realiza o aquecimento da água (Figura 6) fora submetida. Quando ocorre a
combinação de dióxido de carbono do ar com a água em contato com o ferro, resulta-se em
um ácido carbônico fraco, os bicarbonatos são considerados sais de ácido carbônico, portanto,
este aumento fora ocasionado pelo contato da água com a resistência oxidada,
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consequentemente, devido ao aumento da alcalinidade da água residuária percebe-se a
redução da acidez da amostra nº 2.
De acordo com a Portaria nº 518 (2004) do Ministério da Saúde o valor máximo permitido da
concentração de cloretos em águas caracterizadas como potável é de 250 mg/L, ambas as
amostras analisadas apresentaram valores inferiores a este. Segundo o Manual Prático de
Análises de Água (2006) os métodos tradicionais de tratamento de água não eliminam os
cloretos de sua composição, sua remoção só pode ser realizada através do processo de
deionização ou evaporação, desta forma, justifica-se a redução de 50% no valor da
concentração de cloretos na água residuária.
A cor de uma amostra de água está associada ao grau de redução de intensidade que a luz
sofre ao atravessá-la, devido à presença de sólidos dissolvidos, principalmente material em
estado coloidal orgânico e inorgânico, os íons dissolvidos pouco interferem na passagem da
luz. Conforme requisito da Portaria nº 518 (2004) o valor máximo permitido para este
parâmetro é de 15 uH, todas as amostras analisadas apresentaram o valor de 0 uH.
Conforme mostra a Figura 7, as águas podem ser classificadas em: mole, levemente dura,
moderadamente dura e muito dura, ambas as amostras apresentaram resultados dentro do
intervalo de 0 a 55 mg/L, portanto, as amostras foram caracterizadas como mole.
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Figura 7 – Classificação dureza da água
Da análise realizada verifica-se que que a água residuária atende aos padrões de água potável
estabelecidos pela Portaria nº 518 (2004), portanto, essa água pode ser reutilizada sem
necessidade de tratamento prévio. A princípio pensou-se no reuso da água residuária para:
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para bombear a água até o destilador, possibilitando-se assim o reuso da água residuária para
novas destilações.
Figura 8 – Equipamento para bombear água residuária para o destilador
4. CONCLUSÕES E PROPOSTAS
Com base na entrevista aplicada aos docentes que fazem uso dos laboratórios do DACC, o
volume estimado necessário de água destilada para a execução de ensaios durante o semestre
letivo é relativamente pequeno quando comparado ao número total de ensaios realizados,
entretanto, não pode-se afirmar que o volume de água residuária produzida será menor devido
serem executados poucos ensaios com água destilada, pois existem uma série de variantes que
afetam o volume de água residuária produzida, podendo-se citar como principal o correto
manuseio do equipamento, ou seja, utilização do ponto ótimo de funcionamento do aparelho
destilador.
Apesar do presente estudo apontar apenas três opções para reuso do efluente gerado no
processo de destilação, destaca-se que devido a água apresentar resultados dentro dos limites
estabelecidos pela Portaria nº 518 (2004), essa água residuária pode ser aplicada em inúmeros
processos. Ressalta-se que deve ser realizado regularmente a manutenção e limpeza dos
equipamentos destiladores de acordo com orientação dos fabricantes, a fim de evitar redução
da qualidade da água residuária, o que ocasionaria a necessidade tratamento desta água antes
de sua reutilização ou até mesmo a sua contaminação.
Ao contrário do que muitos pensam a água é um recurso natural finito, portanto, a adoção de
programas de redução de consumo e reuso deste recurso é de grande valia em todo o planeta.
O presente estudo propõe que seja adotado primeiramente a redução do efluente gerado no
processo de destilação, através da adoção do ponto ótimo de funcionamento do equipamento
destilador, bem como, reutilização da água residuária nas atividades dos laboratórios a fim de
minimizar o desperdício de água potável.
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