1. O que é um ensaio e o que se espera que os alunos mostrem ao
produzir um ensaio?
Um ensaio é um texto argumentativo em que se defende uma posição sobre um
determinado problema filosófico. O ensaio deve mostrar que o seu autor sabe relacionar clara e correctamente os problemas, teorias e argumentos em causa. Por isso deve ter a forma de resposta a uma pergunta. Pergunta essa à qual se deve poder responder com um "sim" ou com um "não", procurando o aluno avaliar criticamente os principais argumentos em confronto, de modo a tomar uma posição pessoal na disputa. Num ensaio, o aluno não se pode limitar a dar a sua opinião. Tem também de avançar com argumentos e de responder aos argumentos contrários. Caso não lhe pareça possível defender uma das partes, deverá dizer, de forma argumentada, porquê.
2. Como se deve preparar um ensaio?
Lendo criticamente o pequeno conjunto de leituras indicadas acerca do tema
proposto. Nessas leituras devem procurar-se as teses em confronto e os argumentos que as sustentam, bem como a correcta compreensão do que está em causa. O aluno deverá guiar as suas leituras tendo em conta a pergunta a responder, pois o objectivo não é fazer um relatório de todos os argumentos e posições apresentadas nas leituras, mas que seja capaz de isolar aqueles que acha mais pertinentes de modo a responder à questão.
4. Como se deve estruturar o ensaio?
O ensaio deve ser estruturado de acordo com as seguintes seis fases.
1. Formular o problema e esclarecer de forma rigorosa o que está em causa.
2. Mostrar a importância do problema. 3. Apresentar o mais claramente possível a tese que se quer defender. 4. Apresentar os argumentos a favor dessa proposição. 5. Apresentar as principais objecções ao que acabou de ser defendido. 6. Responder às objecções e tirar as suas conclusões. Em 1 muitas vezes não basta formular o mais claramente possível o problema para as coisas ficarem completamente claras e não haver margem para dúvidas ou ambiguidades. Temos também de explicar as noções principais envolvidas. Quando, por exemplo, se pergunta se os animais têm direitos, é preciso saber exactamente que direitos são esses e dar exemplos concretos; assim como devemos deixar bem claro se nos estamos a referir a todos os animais (incluindo os piolhos e as baratas) ou só a alguns. Do mesmo modo, quando discutimos se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, temos de esclarecer que concepção de Deus temos em mente (se é o Deus dos teístas, dos panteístas, etc., e o que isso significa), pois há diferentes concepções acerca da natureza de Deus; assim como devemos esclarecer de que tipo de mal se está a falar. Em 2 devemos procurar mostrar por que razão, ou razões, é importante que nos ocupemos do problema de que nos ocupamos. Uma maneira de fazer isso é mostrar o que estaríamos a perder se não o fizéssemos. Se, por exemplo, nos perguntamos se é imprescindível estudar lógica formal em filosofia e a nossa resposta à questão for afirmativa, então devemos mostrar que, se não o fizermos, não só nos arriscamos a cometer erros de raciocínio, mas também a não compreender os raciocínios dos outros. Em 3 devemos apresentar a nossa posição. Isso deve ser feito mostrando qual é a proposição que irá ser defendida. Por exemplo, em relação ao problema de saber se a existência do mal é compatível com a existência de Deus, e caso a nossa resposta seja afirmativa, podemos tornar clara a nossa posição começando por dizer que defendemos a proposição "Deus existe, apesar de existir o mal no mundo" e explicar sucintamente o que isso significa. Em certos casos é possível e desejável apresentar exemplos do tipo de ideias que queremos defender. Em 4 devemos apresentar cuidadosamente os argumentos a favor da proposição que queremos defender. Pode haver vários argumentos. Alguns deles podem até ser argumentos tradicionais, discutidos por alguns dos mais destacados filósofos. Nesse caso devemos concentrar-nos apenas nos dois ou três que nos parecem ser os mais fortes e expô-los por palavras nossas, tentando mostrar que são válidos e que as suas premissas são verdadeiras ou, pelo menos, que são bastante plausíveis. Em 5 devemos enfrentar as principais objecções aos nossos argumentos (quer indicando possíveis contra- exemplos ao que é afirmado em alguma das premissas, quer disputando a sua plausibilidade ou até a validade dos próprios argumentos). Devemos procurar as objecções que nos parecem mais fortes e não escolher apenas as mais fracas e fáceis de responder. Nesta parte devemos apoiar-nos nas leituras que nos foram previamente recomendadas. Devemos também aqui apresentar as objecções por palavras nossas e não limitar-nos a citar os autores consultados, pois só assim mostramos compreender o que escrevemos. Em 6 devemos dizer o que há de errado com as objecções avançadas anteriormente ou como lhes responder. Um aluno que defenda num ensaio o direito ao aborto, por exemplo, sem responder aos argumentos contrários ao aborto presentes nas leituras dadas pelo professor, exibe um deficiente domínio da dialéctica filosófica; é preciso que o aluno compreenda que tem de entrar em diálogo com as ideias e argumentos que leu. Devemos terminar resumindo muito brevemente o nosso argumento principal e expor as nossas dúvidas, caso existam (mesmo que nos inclinemos mais para um dos lados).
In http://filosofia.esmtg.pt/escrever_ensaios.html