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Aversão do Montador
ocura da invisibilidade
Aversão do Montador
FACULDADE DE ARTES DO PARANÁ
ESCOLA SUPERIOR SUL AMERICANA DE CINEMA E TV
TRABALHO DE MONTAGEM I:
CURITBA
2009
RESUMO
O presente trabalho busca explorar as concepções de diversos autores no que diz respeito
ao raccord. Deseja-se revelar a importância de seu papel em uma obra cinematográfica e
as suas características formais como elemento da montagem fílmica. Como também,
expressar de que maneira se deu e o porquê do seu surgimento dentro da história do
cinema.
1. INTRODUÇÃO
Esse artigo procura discorrer acerca do raccord, elemento da montagem fílmica que busca
produzir um efeito de continuação entre dois planos, simulando através de técnicas
específicas a sequencialidade de uma ação. Utilizar-se-á no desenvolvimento deste texto
ideias propostas por literatos do cinema quanto à elaboração de um raccord, seus
objetivos e suas desconstruções. Finalmente, apresenta-se como seu deu o surgimento do
raccord na história do cinema, e o seu valor para o desenvolvimento da linguagem clássica
como também das novas possibilidades de articulação de ideias utilizando a mesma
expressão artística.
até mesmo de disjunção. Esse último seria um caso particular, o falso raccord,
caracterizado quando essa ligação não transmite a noção de continuidade de uma ação
ou fato apresentado, e sim uma ruptura no tempo/espaço.
Jacques Aumont (1995), ao abordar o que chama de figuras concretas da montagem –
tomando o raccord como uma delas –, lembra que a busca por organizar regras estruturais
para a montagem fílmica é bastante antiga. Diz que essa organização tem base empírica,
e que encontra seus dados nas experiências de diversos realizadores ao longo da história
do cinema.
Cada escolha feita, ou seja, o modo como as figuras da montagem são postas no filme,
causará diversos efeitos distintos, como proposto em um de seus exemplos. Ele sugere “o
raccord sobre um gesto”, que se definiria como a articulação em dois planos de uma
mesma ação, estando o início dela em um quadro e o seu fechamento no quadro seguinte.
Esses dois deveriam apresentar ângulos diferentes dentro de um mesmo espaço, e
exatamente o ponto em que a ação estivesse no fim do primeiro plano teria sua
continuação no plano seguinte, como que compondo exatamente um mesmo movimento,
que escapasse de um quadro e entrasse no outro.
Aumont propõe, através desse exemplo, quatro possibilidades de efeito causado a partir
de sua elaboração. Seriam: o efeito sintático de ligação – definido por ele como o que
formalmente seria o raccord –, pela ilusão de continuidade de movimento; o efeito
semântico (narrativo), por produzir uma noção convincente de tempo dentro do filme, essa
que, por outro lado, é alheia à realidade temporal; a possibilidade de efeito conotativo, ou
seja, de constituição de um terceiro sentido além dos postos nos planos, a depender da
distância entre os enquadramentos ou da natureza do gesto; ou mesmo um possível efeito
rítmico correlacionado ao corte e o modo como esse se põe entre os planos.
Esse exemplo citado anteriormente enquadra-se em um tipo específico de raccord, que
seria o de movimento. A ideia de subdividir as possibilidades de raccords, através de
seções baseadas em características originou-se no que se chama de linguagem clássica
cinematográfica. Essa ordem objetivava formalizar as diversas possibilidades de se
conseguir efeito de continuidade e homogeneidade no discurso fílmico, alguns dos
objetivos primários desse perfil de cinema, e é por isso que a noção de raccord é uma das
figuras que mais o representa.
Além do raccord em um gesto, Aumont discorre sobre outros dos principais tipos,
propostos pelo cinema de linguagem clássica. Eles são:
O raccord no eixo, que põe dois momentos que se sucedem – que podem ter entre si
uma leve elipse temporal – em dois planos distintos, diferenciados somente pelo
distanciamento entre a câmera e o objeto. Lembrando-se que é essencial para a
manutenção da ilusão de continuidade e ocultamento do corte, a utilização da regra
dos 30°, que obriga que essa distância angular mínima se ponha entre o primeiro e o
segundo posicionamento de câmera, evitando-se, assim, o efeito conhecido como
“salto”.
princípio definindo-o como uma articulação entre planos, mal realizada no que diz respeito
à lógica da transparência. Utilizam exemplos como Roberto Rossellini, Eisenstein e
Godard, como realizadores que fizeram, destacadamente, o uso de falsos-raccords.
Afirmam também que, mesmo sendo uma escolha de ruptura, o falso-raccord é um tipo de
raccord, pois em nada impede a compreensão da estória narrada, somente se faz visível,
em contrapartida ao raccord tradicional, clássico.
Quanto ao desenvolvimento e aperfeiçoamento do uso do raccord na história do cinema,
contam que até 1910, a montagem de um filme se dava basicamente com a colagem de
um plano a outro, esses postos como quadros praticamente independentes entre si e com
valor individual completo. Posteriormente, com o aperfeiçoamento da linguagem
cinematográfica e a busca pela fluidez do discurso, começaram a ser explorados os
efeitos de continuidade entre planos, trabalhando-se o raccord, como também explorando
os princípios de alternância, e a montagem em paralelo.
Foi em Hollywood, com a produção em escala industrial e o desenvolvimento da
linguagem chamada atualmente de clássica, que isso se deu, e de modo bastante
empírico. O objetivo era remover os anteparos de descontinuidade entre os planos que
pudessem impedir o espectador de se envolver com a estória contada, permitindo que ele
concentrasse sua atenção totalmente na continuidade da narrativa visual, abstraindo o
universo exterior àquele discurso, como também a própria construção desse.
3. CONCLUSÃO
expectativas do público, porém procuram uma linguagem mais original, influenciada pela
clássica, mas a trabalhando e não simplesmente a deglutindo. Em se tratando de arte, o
estudo e a busca pela superação do passado se fazem necessárias à evolução de todo e
qualquer processo artístico.
Finalmente, e acima de qualquer concepção individual – e até mesmo da análise de
teóricos dos mais diversos –, no cinema, antes mesmo de se definir que tipo de escola
seguir, referenciar ou desconstruir, é importante se saber os objetivos finais, qual o
argumento da realização e qual o público que se deseja alcançar. A partir dessas
definições, o passo seguinte é saber em qual estética a abordagem escolhida se
enquadra. Não existe regra, a homogeneidade é o objetivo final, porém, ainda como no
período do desenvolvimento da linguagem clássica, dá-se estritamente de maneira
intuitiva e empírica.
BIBLIOGRAFIA:
http://aversaodomontador.blogspot.com.br/2009/12/o-raccord-no-cinema-julia-marques.html 5/7
03/04/2018 O Raccord no Cinema (Julia Marques)
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