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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

Victor Lima Caribé

FICHAMENTO DO LIVRO:
POR UMA SOBRIEDADE FELIZ

Fichamento do livro: Por uma sobriedade feliz de Patrick Viveret,


apresentado à disciplina de Elem. de Economia Brasileira para
obtenção de avaliação, sob orientação do Professor Silvio
Humberto dos P. Cunha.

FEIRA DE SANTANA – BA
2018
Sumário
Capitulo I ................................................................................................................... 1
1. A crise financeira atual: a parte visível de uma crise global subjacente ....... 1
2. O impasse do ultra-capitalismo ......................................................................... 2
3. Um sistema que produz desmesura e mal viver .............................................. 3
Capitulo II .................................................................................................................. 4
4. Sair da salvação pela economia ........................................................................ 4
5. Saber escolher o melhor da modernidade ....................................................... 5
6. Guardar o melhor das sociedades de tradição ................................................ 6
7. Conclusão ........................................................................................................... 7
VIVERET, P. Por uma sobriedade feliz. Tradução de Débora Nunes. 1. ed.
Salvador: Quarteto Editora, 2012.

Capitulo I
1. A crise financeira atual: a parte visível de uma crise global subjacente

O autor Patrick Viveret tenta deixar claro como a crise não pode ser vista de
forma superficial, tal fenômeno tem raízes muito mais extensas. Para entender a
crise econômica é preciso sistematiza-la, deixar de focar apenas no que tange à
parte financeira e passar a observar o aspecto sociológico, ecológico e geopolítico
da crise. Em relação ao “ultra-capitalismo”, concordo com o autor, e ainda me arrisco
a dizer que os mesmos bancos que enriqueceram o EUA 30 anos atrás, também
foram os responsáveis pela crise da bolha imobiliária de 2008. Talvez isso aconteça
porque o próprio capitalismo ainda possui um futuro bastante incerto, isso se torna
mais preocupante quando se tem uma evolução tão rápida da tecnologia e não se
pode prever o impacto de transformações tão abruptas nas relações econômicas.
(p.12)

Voltando à questão da sistematização das crises, o autor deixa claro que a


intervenção apenas na situação financeira e econômica não é o caminho para a
solução da crise. Realmente o “buraco é mais embaixo”, a economia de um país não
está ligada somente a questão financeira, o fato social também interfere na situação
econômica. Assim como a questão do gerenciamento dos recursos naturais e
diversos outros fatores. O ato de intervenção apenas na situação econômica gera o
que o autor chama de “fuga para frente”, é como se você simplesmente ignorasse
todos os outros aspectos e os deixasse para resolver em outro tempo. Resultado
dessa “fuga para frente”, é acharmos que o puro fato da inflação cair ou o valor do
dólar diminuir, já estaria resolvendo a crise. (p.13-14)

Segundo Patrick Viveret, toda crise financeira é uma crise de confiança e a


crise de 2008 teria sido marcada por uma crise de confiança em relação ao sistema
interbancário (VIVERET, 2012). Isso me faz pensar na ideia de crença dentro do
modelo monetário, podemos perceber que o dinheiro, ou a moeda, nada mais é do
que uma ficção jurídica, o dinheiro não "existe", ele é um acordo tácito entre as
partes, das quais aceitam que um determinado item possui um valor venal a ser

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acordado entre as partes que pode ser ou não trocados por bens e serviços.
Portanto, todo mercado de capital depende da fé das pessoas, da fé pública, para se
manter. Exemplo disso é que se todas as pessoas resolvessem tirar suas economias
de um determinado banco hoje, isso o levaria à falência. (p.15-16)

2. O impasse do ultra-capitalismo

A desmesura é um aspecto das crises sociais e ecológicas que só vem


aumentando conforme a evolução do capitalismo desenfreado. O abismo existente
entre a camada mais pobre e mais rica do mundo é gigantesco, a última sendo uma
porcentagem mínima da humanidade. Viveret cita Henry Ford que já dizia que a
partir do momento em que o salário mais alto da empresa significava 10 vezes mais
do que o salário mais baixo, a empresa estava em perigo. Essa linha de raciocínio
está longe de ser um princípio válido para as empresas capitalistas, isso acontece
porque uma das maiores armas do capitalismo é o poder de dar esperanças a quem
sonha com uma ascensão social, fazendo isso, o capitalismo cria uma hierarquia e,
dentro dessa hierarquia, quem não tem poder aquisitivo e um baixo nível de
escolaridade e ainda mais em um país que não oferece quase nenhuma chance
para a camada mais pobre dessa cadeia, ela nunca irá ter sua sonhada ascensão
social. Esse é um dos motivos da desmesura do nosso sistema social. (p.17-18)

A evolução da tecnologia trouxe outro fenômeno que potencializou o


capitalismo, a globalização. Tal fenômeno deu espaço para o mercado especulativo
internacional, onde, obviamente, o controle é total das grandes corporações. A
porcentagem de transações reais, ou seja, de serviços e bens, é bastante pequena
em comparação ao que Patrick Viveret chama de “economia emocional” e ainda
completa: “Quando o coração da nossa sociedade e até mesmo de nossa
civilização, está tão concentrado no econômico – algo que jamais se produziu na
história de nenhuma civilização que nos precedeu – este aspecto obsessivo do
financeiro acabou por explodir e projetar nossa sociedade na crise”. Esse tipo de
economia é o que leva as pessoas a ter um aspecto obsessivo, o real sentido das
relações econômicas já se perdeu há bastante tempo, já não fazemos negócios
pensando na nossa sobrevivência e bem-estar, pensamos em enriquecer, ter a tão
sonhada ascensão social, nos dar os luxos que o capitalismo oferece, para isso,
acabamos virando escravos de certas organizações financeiras e, quando não

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conseguimos obter uma boa condição financeira, levamos uma vida amarga e
mesquinha. (p.18-19)

Outro ponto importante para definir as causas das crises atuais são as
fórmulas de representação e de cálculo da riqueza. A contabilidade nacional ou
pública e o cálculo de Produto Interno Bruto (PIB), não nos mostra a real situação
econômica do país, apenas contabiliza o fluxo monetário do país. Um exemplo de
como o cálculo de PIB é falho é que o Brasil possui um dos maiores PIBs do mundo,
mas se encontra muito mais abaixo na lista de Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH). Além disso, há também toda uma estratégia para induzir o crescimento do PIB
com intuito, talvez, de realizar um marketing positivo para o país para tentar trazer
investimentos. Portanto, é preciso que haja uma melhor aplicação desse cálculo,
para realmente saber se o país tem regredido ou progredido, é preciso que os
indicadores passem a contabilizar alguns fatores sociais, como o de bem-estar. Isso
conclui que algumas desmesuras só existem em razão da nossa forma de ver e de
contabilizar. (p.22-23)

3. Um sistema que produz desmesura e mal viver

Se tratando das condições de vida, Viveret traz uma questão bastante


profunda: nosso sistema atual produz bem-estar? Em resposta a isso, devemos
analisar todo o contexto histórico em que vivemos. No atual contexto histórico,
podemos perceber que há várias campanhas, políticas, organizações que visam
combater os males vitais da humanidade, porém, nenhuma delas possui total apoio
dos governantes de suas respectivas nações. Seria má-fé? Bem provável. Mas o
fato é que para alguns governantes, não há justificativa para investir no bem-estar
social, não traz lucro, a não ser em casos que são criados para fazer propaganda
eleitoral ou para beneficiar a si próprio. A obra demonstra como as políticas de apoio
social não possuem investimentos, os investimentos feitos para outras áreas, como
a militar, a publicidade, o combate as drogas, são muito superiores aos
investimentos que deveriam ser feitos para o vem viver da sociedade. Aliás, a
própria questão do uso de drogas ilícitas é um resultado de pouco investimento no
bem-estar da sociedade. A questão armamentista movimenta bilhões de dólares,
seria cômico se não fosse trágico pensar que o investimento em guerra é maior do
que o investimento na vida humana. Esse próprio investimento em guerra já gera

3
tensão militar entre os países, gerando desconforto da população e resultando em
várias discussões internas, gerando ainda mais mal-estar. (p.26-27-28)

Vivemos em uma sociedade onde o conteúdo midiático possui uma influência


gigantesca na vida das pessoas e nas relações socioeconômicas. Tudo,
hodiernamente, gira em torno da propaganda, seja ela militar, política, empresarial,
religiosa etc., e são justamente essas propagandas que acabam gerando um mal
que assola toda a sociedade do século XXI, o consumismo. Tal fenômeno,
associado ao capitalismo, fomenta a vontade do ser humano de ter determinado
produto ou serviço e o faz achar que realmente precisa daquilo. As propagandas
prometem um produto maravilhoso, que vai mudar a sua vida, mas no final das
contas, o indivíduo não se contenta porque a sua necessidade de suprir o vazio
causado pelo mal-estar social, pela monotonia, pela excessiva carga horária no
trabalho etc. são problemas irremediáveis. A publicidade desempenha esse papel de
tentar trazer o que o governo traz, que é o bem-estar, mas esse bem-estar oferecido
é passageiro, é algo que acaba se tornando um vício, porque não resolve o
problema como um todo, é apenas uma solução temporária. (p.29-30-31)

É preciso encontrar um ponto de equilíbrio entre o excesso e a insuficiência.


Se parte dos investimentos exacerbados que são destinados às propagandas,
campanhas políticas, poder militar etc., fossem destinados às políticas de combate à
pobreza e suprimento dos recursos essenciais à existência humana e
sustentabilidade teríamos uma sociedade mais estável, mais equilibrada em relação
ao bem-estar. A possibilidade de obter um bem viver para todos não pode se tornar
uma utopia. (p.32-33)

Capitulo II
4. Sair da salvação pela economia

A segunda grande onda que pode ter sido a causa das crises, segundo
Viveret, é o que corresponderia ao fim do ciclo histórico dos tempos modernos. Para
entender melhor esse conceito, foi usado os pensamentos do sociólogo Max Weber
em sua obra “A ética protestante e o espirito do capitalismo” onde se inicia a entrada
para a modernidade pela “passagem da economia da salvação para a salvação pela
economia”. Para Viveret, o clico histórico que estaria se encerrando é o da “salvação

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pela economia”, por conta de vários fenômenos e falhas surgidos após a ascensão
do capitalismo, ainda completa:

Esta lógica mostra bem que a salvação pela economia, com


os automatismos que estavam vinculados principalmente ao
progresso técnico, ao progresso social, que se previa evidenciar
também um progresso moral, não se mostraram portadores dessas
consequências no longo termo. (VIVERET, Patrick. 2012, p.37)

5. Saber escolher o melhor da modernidade

Nas últimas décadas a preocupação com a situação do nosso planeta se tornou


constante, sempre dizemos que “precisamos salvar o planeta”, porém, muitas vezes
deixamos que a nossa buscar por saciar nossos próprios interesses interfira nessa
necessidade. Entretanto, tal preocupação com a Terra não é uma questão relacionada
diretamente à sua extinção, o que nos preocupa é a extinção da humanidade. Isso porque o
planeta Terra já passou por eventos de extinção em massa, porém, se “reconstruiu” ao
longo do tempo. A real questão que devemos nos preocupar é de como devemos sair
positivamente, sem comprometer o futuro dos nossos sucessores, dos tempos modernos?
Patrick Viveret afirma que devemos tirar o que temos de melhor dos tempos modernos, não
só dos avanços em relação às políticas ecológicas, mas também as que dizem respeitos
aos direitos humanos, temos que fazer com que esse aspecto mais humanizado da
modernidade seja um legado. (p.37-38-39)

Segundo Viveret, além da questão ecológica, um dos fatores que formam um


risco para a sociedade é a própria humanidade, por mais que os avanços dos
direitos humanos sejam consideráveis, a barbárie existente no interior do ser
humano pode ser sua própria ruína, exemplo claro são as guerras que existiram no
passado e que ainda resultam em tensão internacional. (p.39-40)

A razão, nos tempos atuais, também deve ser analisada. Para Viveret, a
razão é o resultado de um conjunto de aspectos humanos e sem dois aspectos
principais, a razão pode ser a pior das barbáries. Para termos uma razão positiva,
precisamos ter inteligência corporal e inteligência do coração, que resultaria em uma
“inteligência emocional”. Trazendo isso para uma definição mais prática, seria como
se um indivíduo agisse com empatia, pois quando se tem a “inteligência emocional”,
conseguiríamos pensar mais no coletivo e isso resultaria em uma ciência mais

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humana, mais consciente, menos destrutiva, se voltando mais para as tecnologias
de sabedoria, porque são essas que valerão por milhares de anos. (p.40-41-42)

Para conseguirmos retirar o melhor da modernidade, o que existe de


essencialmente positivo, precisamos olhar para nós mesmos e pensarmos o que
queremos preservar, deixando de lado os aspectos inúteis da sociedade moderna.
(p.44)

6. Guardar o melhor das sociedades de tradição

Falar de tradição, hodiernamente, pode ser confundido com conservadorismo


por alguma má interpretação, porém, a tradição é uma forte fonte de conhecimento,
o chamado conhecimento popular. Entretanto, realmente existe uma corrente
conservadora relacionada às tradições mais antigas – principalmente com relação
aos dogmas religiosos – e, por conta disso, é preciso fazer uma triagem do que
devemos nos apropriar e do que devemos descartar para termos um futuro com um
maior bem-estar. O que podemos nos apropriar do conhecimento tradicional é a
relação com a natureza – sem que deixemos de associá-la com as novas
tecnologias – e as relações interpessoais que eram muito mais fortes antigamente.
(p.45)

As relações internacionais também devem seguir um modelo distante do que


tínhamos no passado, devemos demonstrar abertura, acolhimento e debate com
outras culturas e civilizações, obviamente, não deixando de sempre estarmos
vigilantes aos acontecimentos e compromissos, pois não devemos deixar que a
abertura e boa vontade seja desculpa para sermos compreensivos ao extremo. A
universalidade humana, os aspectos mais universais do ser humano é que devem
desempenhar o papel de mediadores para a busca da paz mundial. (p.46-47)

Voltando à questão dos saberes populares, não devemos deixar que a


evolução da tecnologia desvalorize conhecimentos como os da agricultura. A
valorização de produção não deve ser limitada às atividades industriais, ainda mais
quando as indústrias não possuem uma “conexão” com a Terra, coisa que os
agricultores familiares possuem e os ajudam a perceber quando é preciso cuidar de
determinados bens naturais. A forma de contabilidade é um dos motivos que
permeiam a destruição ecológica, pois as profissões que implicam em funções

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ecológicas são esquecidas enquanto as grandes corporações, que não se
preocupam com a sua função ecológica, ganham, cada vez mais, o apoio do
governo. Viveret completa:

É preciso ser capaz, portanto, de utilizar o que há de


fundamentalmente positivo na modernidade, mas guardando a
capacidade de escutar. Escutar ao mesmo tempo os humanos e,
principalmente, aqueles que não são apenas agricultores, mas
camponeses, plenamente investidos nos ofícios locais, e escutar
também a Natureza. (VIVERET, Patrick. 2012, p.49-50)

7. Conclusão

Ao longo dos dois capítulos que li, percebo que Patrick Viveret é um grande
defensor das políticas ecológicas, porém, não encontrei o típico pensamento
radicalista que é costumeiro nos discursos encontrados na atualidade. O autor passa
uma perspectiva socioeconômica dos prejuízos que a modernidade e seus
descuidos com o nosso planeta pode causar, não se limitando às questões
ecológicas, mas tratando de questões humanas, questões interpessoais. Assim
como também não descarta ou demoniza as técnicas e novas tecnologias, que
podem ser usadas a favor da Terra.

No geral, a obra parece ser panorâmica, apresenta vários pontos de vista


para problemas comuns e inerentes à sociedade moderna, mas pondo foco nas
crises ambientais e socioeconômicas. Outro ponto importante é que o autor
consegue não só expor os diversos problemas da atual sociedade, como também
apresenta possíveis causas e soluções.

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