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Metodologia
do ensino
de lutas
Unidade 4
LUTAS OCIDENTAIS E
ORIENTAIS NO CONTEXTO
DOS PROJETOS NA ESCOLA
Mário Molari
Introdução à unidade
Para que essa proposta se concretize, ações efetivas precisam ser realizadas e
o esporte – especificamente as modalidades de luta – podem contribuir. A partir
disso, esta unidade se propõe a apresentar dois modelos de lutas e fazer um relato
de experiência de projetos no contexto da escola, levando o leitor a compreender
que as lutas têm como meta desenvolver não só as habilidades motoras essenciais
a todo ser humano, mas, também, as questões sociais pautadas no conhecimento
por meio das relações sociais.
Seção 1
Capoeira e musicalidade
Introdução à Seção
A capoeira é a principal luta brasileira pelo fato de estar relacionada com a
nossa cultura e a história do povo negro em nosso país. Além disso, a característica
da capoeira se distingue de outras lutas por apresentar uma diversidade em sua
movimentação sendo em muitos casos um jogo, uma luta, uma dança ou uma
arte, ou seja, a capoeira é uma representação social que mais se identifica com a
nossa população e, principalmente, no contexto da escola.
A capoeira de Angola foi criada pelo mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha).
É a mais antiga de todas e recebe este nome, pois os escravos angolanos na
Bahia eram os que mais se destacavam em sua prática. Este estilo de capoeira é
caracterizado pelo uso de todos os instrumentos musicais e do jogo mais lento e
mais baixo (CRUZ, 2003).
Fonte: Capoeira na Angola. Disponível em: <http:// Fonte: Fica Bahia. Disponível em: <http://www.
caracteristicasdacapoeiraangola.blogspot.com.br/>. ficabahia.com.br/html/pastinha.html>. Acesso
Acesso em: 16 maio 2016. em: 16 maio 2016.
A capoeira regional foi criada por mestre Bimba (Manoel dos Reis Machado) e
se destaca por ser mais traumatizante, com menos elementos acrobáticos, luta
mais rápida, alta e com golpes mais fortes.
A capoeira contemporânea surge a partir da década de 70, pela junção dos estilos
angola e regional. Ela se assemelha mais com a capoeira regional, pois é rápida e
com muitos golpes, porém, com os elementos acrobáticos da capoeira angola.
Fonte: <http://www.istockphoto.com/br/vetor/conjunto-de-capoeira-gm465092308-
59245090?st=0412135>. Acesso em: 24 maio 2016.
Figura 4.12 | Au
Seção 2
Introdução à Seção
As lutas conhecidas como artes marciais mistas (MMA) tornaram-se um
fenômeno na última década. O lutador deve dominar inúmeras modalidades de
lutas para ter condições de superar os seus oponentes e, portanto, esta torna-se
uma modalidade de luta que exige características físicas e técnicas mais completas.
Segundo Nunes (2006), as artes marciais mistas podem ser definidas como
um esporte de contato em que são combinadas diversas técnicas e golpes de
diferentes artes marciais e lutas existentes no mundo, como boxe, jiu-jitsu brasileiro,
muay thai, entre outras em um único combate.
Tal combinação pode se dar da seguinte forma: pela junção dos socos,
chutes, cotoveladas e joelhadas do muay thai, a fim de conseguir um nocaute ou
uma interrupção por parte do juiz, ou pela luta de chão, agarrada, desenvolvida
por meio da prática do jiu-jitsu brasileiro, que trabalha as torções de membros,
estrangulamentos e alavancas para conseguir uma finalização com o intuito de
vencer o combate, utilizando golpes não traumáticos.
Para Pellanda (2009), as artes marciais mistas é um dos esportes de contato que
mais cresce atualmente no mundo inteiro. Isso acontece devido a muitos fatores,
como a criação de sites profissionais voltados à área, lojas virtuais e não virtuais,
voltadas à venda de produtos específicos para o mundo das lutas – em especial
as artes marciais mistas (MMA) –, e aos fóruns dentro desses sites, cujos usuários
discutem e trocam informações sobre o esporte.
No entanto, sem sombra de dúvidas, o que mais fez e faz com que o esporte se
difunda para o mundo inteiro é a compra de pay-per-view para assistir aos grandes
eventos de MMA pela TV a cabo, em especial o UFC e a venda dos ingressos.
As artes marciais mistas ainda não têm uma organização reguladora unificada
em nível internacional, como, por exemplo, a FIFA para o futebol. Existem
organizações parecidas, como a de boxe profissional, sendo que cada uma tem
suas regras, seu ranking, seus campeões e suas categorias.
De acordo com Freitas (2002), esta modalidade de luta vem evoluindo cada
vez mais, não apenas com o intuito de preservar a integridade física do atleta,
mas, também, de adotar regras cada vez mais rígidas. Isso se dá para mostrar à
sociedade que as artes marciais mistas se tratam de um esporte de contato como
qualquer outro e merecem o devido respeito, para se tornar cada vez mais atrativa
a sua prática.
6. Fica determinado que não são permitidos golpes baixos, cabeçadas, mordidas,
nem golpes que tenham a intenção de furar os olhos do adversário. É
proibido acertar golpes na nuca, agarrar as cordas do ringue ou as grades da
jaula, jogar o oponente para fora do ringue ou da jaula. Se os dois lutadores
estiverem no solo, a ponto de sair do ringue, o juiz deve parar a luta e colocar
os dois na mesma posição no centro do ringue.
2. Quando o lutador bate no solo do ringue ou jaula, indicando que não suporta
mais o golpe (finalização).
6. O tempo da luta se esgota havendo assim uma decisão por parte dos juízes.
Seção 3
Introdução à Seção
Atualmente, as políticas públicas têm sugerido o desenvolvido de projetos,
entre eles o esporte, para a inclusão social de crianças e adolescentes de regiões
comprometidas pela carência de inúmeros fatores, como: alimentação, afeto,
autoestima, entre outros pontos.
Um dos desafios encontrados é o fato das crianças não serem motivadas pelos
familiares para o estudo e, quando chegam para participar de projetos de lutas,
exigem uma atenção especial, diferenciada, porque nem todos os participantes vão
para aprender alguma coisa; muitos vão apenas para fazer a única refeição do dia.
No entanto, Cury (2003, p. 11) diz: “há um mundo a ser descoberto dentro
de cada criança e de cada jovem, só não consegue descobri-lo quem está
encarcerado no seu próprio mundo”. Sendo assim, todos os envolvidos devem
trabalhar com muito cuidado para que essas crianças não abandonem o projeto.
Caso isso aconteça, elas devem ser incentivadas a levar consigo não só valores
escolares, mas, também, valores bem mais profundos, da vida fora da escola, ou
seja, as formas saudáveis de convivência social, como também uma visão melhor
de mundo e das pessoas em sua volta.
Todas as crianças são iguais, porém umas precisam de uma metodologia mais
apropriada e segura. Assim, o que deve ser ressaltado é que o professor deve
ter paciência e boa vontade para trabalhar com crianças com histórias de vida
diferenciadas, embora com vivências bem parecidas.
3.2.1 Resultados
Foi desenvolvido um projeto pedagógico para ensinar os esportes de lutas,
considerando que seus fundamentos e suas filosofias são compreendidos a partir
do respeito mútuo, trabalhando a valorização das pessoas, independentemente
de sua origem social, etnia, religião, sexo e opinião. Foi incentivado o desejo de
aprender a ser e a viver em conjunto, diminuindo, assim, as limitações pessoais de
cada um que poderiam interferir na dinâmica do grupo.
Segundo Almeida (2006, p. 24), “[...] a Educação Física, como parte da educação
integral, está voltada para o desenvolvimento da capacidade e saúde física, como
também para o equilíbrio da personalidade. Ela move o mundo e realiza o ser humano”.
Outro ponto importante das lutas é que elas podem ser uma ferramenta
para auxiliar os professores na relação entre a teoria e a prática. Muitas são as
reclamações e pouco se faz para tentar diminuí-las. As aulas em sala não são as
preferidas e, sim, as aulas de Educação Física. No entanto, ainda hoje é comum
observar e encontrar relatos de professores que simplesmente desistiram de
buscar meios para que as aulas sejam prazerosas e bem aproveitadas, em geral,
eles sustentam seu desânimo na falta de estrutura física ou de apoios dos gestores
das instituições.
Muitos pensam que o único objetivo das aulas de Educação Física é formar
corpos fortes e saudáveis, mas esta disciplina na perspectiva das lutas vai além, pois
forma cidadãos dignos, conscientes de seus direitos e deveres e que conseguem
viver em um ambiente saudável, podendo aprender a viver em sociedade.
Os educadores físicos devem transmitir aos seus alunos que, além de praticar
os esportes de lutas, necessitam conhecer a sua história, discutindo suas regras e
princípios, analisando suas atitudes cotidianas na escola e na família, para obter um
aprendizado que se estende às dimensões afetivas e socioculturais da Educação Física.
Para isso, este professor precisa estar aberto a mudanças, ter conhecimento do ser
humano, considerando em todos seus aspectos, biológicos, psicológicos e sociais,
criando oportunidades para que os alunos se adaptem ao mundo em que vivem.
As aulas tiveram a duração de 45 minutos, uma vez por semana. As sessões foram
constituídas por três partes: a parte inicial, a parte principal e a parte final. A parte
inicial teve duração de 15 minutos, sendo composta por atividades neuromotoras.
A parte principal foi realizada em 25 minutos, sendo que nela desenvolveram-
se as técnicas do karatê, mais especificamente o kihon e o kata. A parte final
teve a duração de 5 minutos, sendo que os exercícios tiveram como objetivo o
resfriamento e relaxamento. Em algumas ocasiões as aulas foram realizadas com
músicas apropriadas.
Para que este trabalho tivesse êxito, Molari (2009) seguiu algumas orientações
de Bonfim (1996), que sugere algumas atitudes, como:
Além dos procedimentos citados anteriormente, foi pedido para que as crianças
com Síndrome de Down (as que participam do projeto) fizessem exames de saúde
gerais e com ênfase na Instabilidade Atlânto Axial.
Também foi pedido aos pais para que as crianças fossem com roupas
confortáveis e compatíveis com as atividades que seriam desenvolvidas. Por fim,
pediu-se também que as crianças participassem com tênis adequado, com a
intenção de facilitar a aprendizagem.
Mosston (1986) sugere alguns estilos de ensino, são eles: estilo comando, estilo
prático, estilo recíproco, estilo autocontrole, estilo inclusão, estilo descoberta
orientada, estilo divergente, estilo programa individual, estilo iniciativa pelo aluno
e estilo autoensino.
3.3.1 Resultados
Todo indivíduo necessita movimentar o corpo para que, com isso, explore
o ambiente que o rodeia. E, além disso, a compreensão do ser humano diante
da comunidade requer um corpo saudável e com mais disponibilidade de ações
diante dos obstáculos encontrados nesta busca pela evolução.
Além disso, a prática desse esporte para as pessoas com Síndrome de Down
ajuda a melhorar a coordenação fina ao executar os exercícios dos katas avançados.
Também desenvolve uma maior concentração diante das técnicas que exigem
entradas e saídas rápidas.
Segundo Pacheco (2006), nesta esteira tem-se a escola como padrão de ensino
e inclusão, mas essa mesma escola coloca falsas barreiras, impossibilitando uma
mudança brusca desse paradigma social, onde vê-se o ser e o classifica por classe
social, cor e defeito. Para o mesmo autor:
Segundo Pedrinelli (1994, p. 69), "todo o programa deve conter desafios a todos
os alunos, permitir a participação de todos, respeitar suas limitações, promover
autonomia e enfatizar o potencial no domínio motor".
Nesse projeto que teve como proposta a prática do judô junto a pessoas com
deficiência visual, observou-se que 38% dos alunos consideram o judô importante,
37% consideram muito importante e 25% extremamente importante. Em ambos os
casos os deficientes sentem a grande importância do judô, pelo fato desse esporte
de luta começar a fazer parte da vida dos mesmos.
a) V, V, V, V, V.
b) F, F, F, F, F.
c) V, V, F, V, V.
d) F, F, V, F, F.
e) V, V, V, V, F.
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