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1. Introdução
O ramo marmoreiro, que tem sua cadeia de produção composta pela mineração ou lavra de
pedras ornamentais, pelo processamento e pela distribuição dessas pedras, é uma atividade
amplamente difundida por todo país e com vários riscos para a saúde dos trabalhadores desse
ramo. A elevada exposição a poeiras está entre os principais e mais perigosos riscos do
trabalho em marmorarias, provocando e favorecendo o aparecimento de doenças do sistema
respiratório, principalmente a silicose (SANTOS, et al, 2007; FUNDACENTRO, 2008).
Apesar de diversos autores destacarem a silicose como um grave problema nesse setor e este
ser amplamente estudado, sabe-se que o ramo marmoreiro é um setor que apresenta grande
precariedade de instalações, além de sobrecarga de trabalho, por se tratarem de tarefas
extremamente manuais e artesanais, que exigem grande habilidade, destreza e elevado esforço
físico por parte dos funcionários para a fabricação dos produtos (SILVA, 2011).
Algo de muito relevante a respeito desta atividade é destacar o quão pouco, os métodos de
trabalho evoluíram ao passar dos anos, ou seja, as continuidades e rupturas no processo de
trabalho dos marmoristas. Esta é uma realidade nas organizações deste ramo, em todo o país,
e isso em parte é consequência de uma baixa automatização dos processos, causada
principalmente pela indisponibilidade de capital de investimento pelos empreendedores do
ramo (MORONI, 2005).
Ou seja, para além do risco de silicose, existem outros riscos para a saúde e segurança dos
marmoristas que também merecem destaque, dentre eles, chama-se a atenção para os riscos
biomecânicos, item da ergonomia que se preocupa com as interações entre o trabalho e o
homem, do ponto de vista dos movimentos musculoesqueléticos envolvidos e das suas
consequências (EVANGELISTA; COSTA, 2013; FUNDACENTRO, 2008). Segundo
Oliveira, Bakke e Alencar (2009) pode ser considerado como um risco biomecânico as
atividades como levantamento de cargas, atividades repetitivas, uso excessivo de força e
intensidade de execução das tarefas, vibrações e compressões mecânicas, geralmente
associadas com posturas inadequadas.
Ainda de acordo com Oliveira, Bakke e Alencar (2009), ao avaliar uma atividade é importante
uma investigação relacionada a postura adotada pelos trabalhadores, pois estas podem
ocasionar desde uma simples dor ou desconforto, até disfunções incapacitantes e afastamentos
prolongados do trabalho. Complementando essa ideia, Lima (2000) ressalta que a postura
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Tratando-se de marmorarias essa questão torna-se ainda mais importante, pois esses
ambientes são rústicos e pouco salubres, exigindo robustez e força física; há atividades de
levantamento, transporte e movimentação de chapas, peças e ferramentas pesadas, além de
posturas inadequadas durante a jornada de trabalho (CHIRZÓSTOMO, 2014).
Neste sentido, este artigo tem como objetivo identificar e avaliar as posturas exigidas no
trabalho de marmorarias artesanais, do município de Betim/MG, e sugerir melhorias no local
de trabalho.
2. Método
O projeto foi intitulado "Produtividade e Cultura Lean em Arranjos Produtivos Locais" e teve
como objetivo geral, desenvolver a competitividade de Arranjos Produtivos Locais - APL's,
por intermédio da extensão universitária, e dentre os objetivos específicos estava o
mapeamento de riscos ergonômicos. Foi a partir dos registros dessa experiência que esse
estudo de caso foi desenvolvido.
Participaram da pesquisa 6 (seis) marmorarias que estavam sendo assistidas pelo projeto de
extensão no período de fevereiro a março, de 2015.
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Diante das várias funções presentes no processo produtivo dessas empresas, foram
selecionadas para análise as funções de corte e acabamento, que são comuns em todas as 6
(seis) marmorarias visitadas e se destacam como as principais atividades de transformação e
agregação de valor da matéria prima, além de serem causas frequentes de queixas dos
funcionários, que destacavam o “acabamento” como a função mais cansativa e difícil, e o
"corte" das chapas como as mais perigosas.
Para a avaliação dos riscos biomecânicos relacionados à postura exigida nos postos de
trabalho de corte e acabamento, foi utilizado o Sistema de Análise de Posturas Ocupacionais
(Ovako Working Posture Analysing System, OWAS).
Esse instrumento de avaliação postural tem como objetivo identificar quais são as posturas de
trabalho inadequadas, nocivas, analisando-as com as regiões mais atingidas. Sendo assim, tal
ferramenta pode ser usada não apenas para estudos ergonômicos e de saúde ocupacional, mas
também como base para o planejamento e desenvolvimento de novos métodos de trabalho
(SILVA; KRUGER; PAULA XAVIER, 2010; LI; LEE, 1999).
Segundo Martinez (2005), as atividades cíclicas devem ser observadas durante todo o ciclo, e
as atividades não-cíclicas por um período de no mínimo 30 segundos, sendo recomendado
observá-las também através de vídeos, com intervalos variáveis ou constantes, a fim de se
obter a frequência dos movimentos e a postura adotada pelo operador.
Segundo Junior (2006), é possível produzir oitenta e quatro (84) combinações distintas das
posturas dos braços, pernas e tronco, que usualmente são as posturas mais comuns no
trabalho, onde cada postura classificada pelo método OWAS é descrita por um código de
quatro dígitos que designa a postura do tronco, braços, pernas e esforço requerido, e para cada
tarefa, são calculados os tempos de permanência em cada um dos quatro fatores em relação ao
tempo total da tarefa, e o resultado do instrumento indica a prioridade de ação e a urgência
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para adoção de medidas corretivas. Esse resultado pode ser classificado nas seguintes
categorias:
Classe 1 – postura normal, que dispensa cuidados, a não ser em casos excepcionais;
Classe 2 – postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos métodos de
trabalho;
3. Resultados e Discussão
Existiam 34 funcionários trabalhando nas empresas, nas duas funções avaliadas, no momento
das análises. Destes, 100% eram homens, sendo que 12 trabalhavam no setor de corte e 22 no
setor de acabamento. O tempo na função variou de poucos meses até aqueles com mais de 28
anos de experiência. A faixa etária também foi bastante diversificada, entre 18 e 60 anos, e
61,7% possuíam escolaridade inferior ao ensino médio completo.
Os processos analisados neste estudo foram o de corte ou serragem das chapas e lixamento em
uma produção de bancadas, um dos produtos de maior demanda das marmorarias visitadas.
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Os processos de corte analisados eram todos realizados em máquinas de corte à úmido, com
um ciclo médio de duração de 10 (dez) minutos, ocorrendo da seguinte forma:
A chapa a ser cortada era posicionada na mesa da maquina de corte, de altura entre 0,90 m e
1,0 m, por um operador com ambos os braços abaixo da linha do ombro, pernas estendidas e
tronco flexionado, devido à necessidade de ajuste e conferência das dimensões do pedido,
para garantir uma serragem precisa, permanecendo nesta posição por 21% do tempo total,
durante um ciclo completo.
Após conferir as dimensões do pedido e ajustar a chapa, o operador com as pernas ainda
estendidas, tronco flexionado e rodado para a esquerda, elevava sua mão esquerda acima do
nível do ombro para rodar um volante de regulagem da altura do disco de corte, localizado a
uma altura entre 1,60 m e 1,80 m, e em seguida ligar a válvula de acionamento de água,
localizada a uma altura entre 1,60 m e 1,65 m, permanecendo nesta posição por
aproximadamente 5% do tempo total do ciclo, que corresponde a quatro acionamentos e um
ajuste de altura, e somente aí, efetivamente, começar a serragem do material.
Novamente com o tronco flexionado e rodado para a direita, ambos os braços abaixo da linha
do ombro, o operador alcançava e girava uma manivela no sentido anti-horário, localizada a
uma altura entre 0,60 m e 0,84 m, com sua mão direita, e fazia a mesa de serragem mover-se
em direção ao disco de corte, e a acompanhava andando, como se observa na Figura 2.
Volante de Regulagem
Mesa de Corte
Manivela
Depois que a chapa era cortada, com o tronco flexionado para frente e rodado para a direita,
braços abaixo da linha do ombro e fazendo girar a manivela com a mão direita, agora no
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Neste sentido, o processo de lixamento, observado durante um ciclo médio de dez minutos,
ocorria em pé, com joelhos retos e o peso distribuído uniformemente entre as pernas e com o
tronco flexionado. Nessa posição, o operador manuseava a peça com ambas as mãos abaixo
do nível do ombro a fim de posicioná-la na bancada de acabamento, com altura entre 0,90 m e
0,95 m, levando cerca de 6% do tempo total do ciclo para essa atividade.
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De acordo com a necessidade de lixamento da peça, para obter um melhor acabamento nas
partes inferiores e laterais da mesma, era necessário que o operador ficasse com uma maior
angulação de flexão do tronco e rodado para um dos lados, alternando a posição de suas
pernas entre de pé estático, com o peso maior em uma delas (30% do tempo total do
processo), e se movimentando (10% do tempo).
Para a avaliação das posturas adotadas pelo trabalhador durante a atividade, foram feitas
diversas observações, além de filmagens em diferentes ângulos. Em seguida, as imagens
foram reproduzidas e congeladas para análise das articulações das pernas, dos braços e das
costas dos trabalhadores.
Vale ressaltar que a jornada de trabalho em marmorarias é de oito horas diárias, contando com
uma hora para almoço e meia hora para descanso e café da tarde, ou seja, durante sete horas e
trinta minutos, as tarefas são efetivamente executas. Considerando o ciclo de 10 minutos para
a realização da atividade de corte ou acabamento de uma bancada, os funcionários podem
repetir tais atividades até 45 vezes por dia, aproximadamente.
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1 Tronco reto; 5 -
2 Tronco flexionado; 29 59
Continua
Continuação
3 Tronco rotacionado para um dos lados; - -
Tronco flexionado para frente e
4 66 41
rotacionado para um dos lados.
Posição Braços
Ambos os braços abaixo do nível do
1 92 100
ombro;
2 Um dos braços acima da linha do ombro; 8 -
Ambos os braços acima da linha do
3 0 -
ombro.
Posição Pernas
1 Sentado; - -
2 De pé com ambas pernas estendidas; 29 60
De pé com o peso em uma das pernas
3 - 30
esticadas;
De pé ou agachado com ambos joelhos
4 - -
dobrados;
De pé ou agachado com um dos joelhos
5 - -
dobrados;
6 Ajoelhado em um ou ambos joelhos; - -
7 Andando ou se movendo. 71 10
Levantamento
de Cargas
Peso ou força necessária é 10 kg ou
1 100 100
menos;
Peso ou força necessária excede 10 kg
2 - -
mas é menor que 20 kg;
3 Peso ou força necessária excede 20 kg. - -
Para cada variável analisada nos processos, foi gerado um código de 4 dígitos, referente a
posição do tronco, dos braços, das pernas e a carga manipulada.
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Dessa forma, com o auxilio do software Ergolândia 5.0 (FBF Sistemas, 2008), utilizando a
ferramenta do OWAS, tabulou-se os códigos e classificou uma categoria de ação, como
consta nas Tabelas 2 e 3.
Apesar dos funcionários queixarem cansaço e permanecerem toda a jornada na posição de pé,
por exigência das suas atividades e pela ausência de assentos, cadeiras ou bancos, no local de
trabalho, o nível de ação definido a partir do OWAS indica uma prioridade para adoção de
medidas corretivas somente em um futuro próximo. No entanto, ao se avaliar separadamente
os códigos para as partes do corpo, percebe-se uma necessidade de ação imediata, por causa
das exigências posturais em relação ao tronco (classe 04). A maior parte do tempo, os
funcionários permanecem de pé, com o tronco fletido e em contração estática da musculatura,
que, segundo Iguti e Hoehne (2003), são fatores ocupacionais fortemente relacionados ao
aparecimento de dor lombar, ou lombalgias. Outros autores também relataram algumas
deficiências do Método OWAS em relação a superficialidade com que a frequência ou a
permanência em uma mesma postura são consideradas (JIN et al., 2005; KEYSERLING,
2004). Para esses autores torna-se necessário a implementação de informações a cerca da
duração da postura e de métodos estatísticos, visando uma maior precisão dos resultados.
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Outra sugestão de melhoria que pode ser implantada imediatamente é a aquisição de assentos
para os funcionários poderem utilizar durante a sua jornada de trabalho, nas pausas pré-
estabelecidas ou não. Inclusive essa sugestão segue os parâmetros exigidos no item 17.3.5 da
Norma Regulamentadora 17 - Ergonomia (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO,
2007), que recomenda que para as atividades em que os trabalhos devam ser realizados de pé,
“devem ser colocados assentos para descanso em locais em que possam ser utilizados por
todos os trabalhadores durante as pausas.”
Com relação as medidas que podem ser tomadas ha médio prazo, ou em um futuro próximo,
sugere-se uma alteração nas alturas das bancadas, da manivela da máquina de corte e do
volante de regulagem, de maneira que todos fiquem dentro da área de alcance máxima e/ou
ótima dos operadores. Segundo Iida (2005), todos os comandos de uso frequente devem estar
na distância do comprimento do antebraço do operador, considerando o cotovelo fletido
(alcance ótimo), todos aqueles comandos de uso menos habitual devem estar numa área que
corresponda ao comprimento do membro superior estendido (alcance máximo), e nada
deveria estar fora do alcance dessas duas áreas, exigindo um deslocamento do tronco do seu
eixo. Essa sugestão de melhoria do equipamento atende também o item 17.3.2 da Norma
Regulamentadora 17 - Ergonomia (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007),
que afirma que os postos de trabalho devem proporcionar ao trabalhador condições de boa
postura, visualização e operação, por meio do fácil alcance e de características dimensionais
que possibilitem o posicionamento e a movimentação adequados dos segmentos corporais.
Embora o objetivo deste trabalho tenha sido cumprido, reconhecem-se algumas limitações. A
principal está relacionada à ausência de uma avaliação das condições ambientais
(temperatura, ruído e iluminância), que também podem influenciar a sensação de cansaço e
desconforto dos funcionários. Outra diz respeito à limitação da pesquisa ao relato de
desconforto dos funcionários, não investigando seu grau de intensidade, frequência e fatores
que agravam ou melhoram. Estudos por meio de medidas diretas são necessários para
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4. Considerações Finais
De acordo com o método OWAS, a análise das posturas exigidas no trabalho em marmorarias
demonstrou uma necessidade de intervenção no local de trabalho somente em um futuro
próximo. No entanto, ao se avaliar os segmentos corporais separadamente, pode-se perceber a
grande exigência das posturas estáticas, com maior comprometimento em nível do tronco.
Nesse sentido, ações de melhoria a curto e médio prazo deverão ser implementadas a fim de
prevenir possíveis agravos a saúde dos trabalhadores dessas marmorarias.
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REFERÊNCIAS
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AMARAL, Norma Conceição do; LIMA, Leila Cristina Alves. Características da exposição ocupacional a
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