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Nosso modelo educativo educa para o que ou para quem?

Ésio Francisco Salvetti1

Muitas propostas metodológicas e referenciais teóricos estão em debate no campo


educacional orientando as escolas e os/as educadores/as em suas práticas educacionais,
mas poucas estão articuladas com as necessidades e demandas urgentes da nossa
sociedade. Cabe a pergunta: a educação, nos moldes atuais, educa para o que ou para
quem? Como pensar um método educacional que ultrapasse os limites da dimensão
mecânica de transmissão de conteúdos, presente durante décadas no Brasil, para uma
educação preocupada com os temas emergentes, como a crise ambiental, ética, direitos
humanos, etc. É pertinente a necessidade de pensar novos fundamentos a essa área
fundamentalmente estratégica para o país, uma vez que os fundamentos atuais indicam a
falta de correspondência com as demandas e as necessidades da nossa sociedade, pois,
não educam para a humanização e emancipação, mas para a técnica e a
instrumentalização.
No final do século XX aos poucos o campo educacional foi sendo marcado pela
emergência dos chamados “temas transversais”. Eles entendem a prática pedagógica
como um conjunto de conteúdos educativos que possibilitam construir conhecimento da
realidade. Neste contexto é que surge a preocupação com uma educação comprometida
com a cidadania e baseada em fundamentos críticos e reflexivos. Entendemos que esses
fundamentos devem estar sob horizontes de uma teoria crítica, com a finalidade de
formação cultural, baseados na democratização do processo do saber, olhando para o ser
humano como um sujeito de direitos. Somente assim estabelecemos as diretrizes para
uma formação humana e solidária, bem como garantindo e contribuindo para a reflexão
daqueles temas que de fato se faz necessário pensar no processo quotidiano. É a
educação crítica e reflexiva capaz de promover a justiça social, o desenvolvimento
sustentável, a efetivação dos direitos humanos e garantir também o processo dinâmico
de participação na construção dos valores humanitários.
Essa dinâmica educacional deve desenvolver a capacidade de reconhecer e aceitar
os valores que existem na diversidade dos indivíduos, dos sexos, dos povos e das
culturas e desenvolver a capacidade de comunicar, compartilhar e cooperar com os
demais. Assim a educação terá a tarefa e a devida capacidade de desenvolver uma
aptidão para resolver os conflitos com métodos não violentos, respeitando a diversidade
cultural, os valores individuais e coletivos, enaltecendo cada vez mais a pessoa humana.
Para a educação ser plena deve despertar nos indivíduos o senso de solidariedade e
de cooperação. Para isso, como nos ensina o grande pensador Paulo Freire: “é
importante levar em conta o contexto”, ou seja, construir o saber a partir da própria
realidade, dessa forma os educandos/as serão os protagonistas da própria história, pois
se identificarão com o ambiente e o desenvolverão sob a sua necessidade e o seu olhar.
Porém eles precisam ter noções de conceitos e teorias universais, somente com esses
conceitos eles poderão respeitar e aceitar a alteridade.
Acreditamos na pertinência de apostarmos no método crítico-dialógico. Sob esse
prisma a sociedade efetivamente poderá promover um desenvolvimento sustentável de
inclusão e de humanização, respeitando e cumprindo os direitos humanos. Necessitamos
de uma educação articulada com uma base reflexiva, solidária e com determinação para
trabalhar com temas emergentes.

1
Mestre e Doutor em Filosofia pela UFSM; Doutor pela UNIPD; Bacharel em Filosofia; Graduando em
Direito e professor do IFIBE.

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