You are on page 1of 8

As ciências sociais

e o significado do pensar sociologicamente a realidade


Alexandre Carneiro de Souza

O pensar sociologicamente a realidade difere de um pensar socialmente a realidade. Todo o


indivíduo inserido socialmente, sendo participante de uma mesma geografia, falando a mesma
língua e sofrendo as influências sociais, econômicas e políticas em decorrência do modo da
organização social, está capacitado a pensar socialmente. O pensar social ocorre em todos os
lugares da sociedade, segundo os mais diversos interesses. Desde um grupo de adolescentes que
discutem temas esportivos até aos espaços de discussão política as pessoas pensam socialmente. O
pensar social consiste a representação das idéias e discursos emitidos coletivamente em função da
cultura social experimentada pelos indivíduos que habitam um espaço social comum ou partilham
dos mesmos interesses.
Já o pensar sociológico refere-se a um tipo de aquisição de conhecimento que possibilita um
discurso específico diferente do pensar socialmente. Este, pode-se dizer, é acessível a todos os
indivíduos desde que estejam inseridos numa determinada comunidade. O pensar sociologicamente
a realidade é uma modalidade de saber que requer pré-requisitos indispensáveis tais como
conhecimento das teorias sociais, metodologia científica e pesquisa. Como se pode ver, o que difere
o pensar socialmente a realidade do pensar sociologicamente a realidade consiste no fato de que
um se apoia em categoria de análises científicas e outro não.

Quando se questiona o significado do pensar socialmente a realidade impõe-se que as


explicações decorrentes contemplem duas questões:
1- O que é pensar sociologicamente?
2- O que é a realidade?

O mundo da ciência está dividido em três vastos campos:


a) as ciências lógico-matemáticas,
b) as ciências naturais e
c) as ciências sociais ou humanas.

Cada um destes campos está sub-dividido em inúmeras especializações.

O objeto das ciências sociais ou humanas é o homem, suas práticas e relações sociais.
A distinção fundamental entre as ciências humanas e as demais reside em que nestas, o
homem é apenas sujeito do conhecimento, naquelas ele é simultaneamente sujeito e objeto.

Ora, o que está posto nos termos acima procura deixar claro que o pensamento sociológico
não é nem tem a pretensão de ser um pensamento exato; e mesmo que levantasse tal pretensão
jamais poderia alcança-la. Por outro lado, o pensar sociologicamente a realidade não é um modo de
pensamento natural, segundo as regras de estudo dos fenômenos naturais. O pensamento
sociológico se insere numa tradição, cujo início remonta ao discurso da filosofia clássica da Grécia, e
que consiste no propósito de elucidar questões relacionadas ao mundo humanamente criado. Este
mundo possui características próprias: é convencional e dinâmico.

A despeito de todos os setores das ciências humanas possuírem o mesmo objeto diferem,
porém no modo como o investigam. Exemplificando, a história e a sociologia poderão estudar o
mesmo objeto, mas o farão segundo sua própria metodologia; enquanto que a história procede uma
análise individualizada dos acontecimentos, a sociologia procede uma análise generalizadora.
Tomemos como exemplo um acontecimento social do tipo: A violação do painel eletrônico de
votação do Senado. A abordagem histórica situaria o acontecimento no tempo, descreveria seus
atores e reconstruiria os procedimentos que deram ocasião ao fato e tudo o que neles estivesse
envolvido. A abordagem sociológica, embora não abrindo mão de uma necessária descrição, poderia
analisar o fato sob a ótica dos interesses políticos e o abuso de poder no âmbito legislativo do Brasil.

A sociologia, em seu surgimento, tinha o seu objeto de análise definido (a sociedade


humana), ao passo que não dispunham de uma metodologia própria de análise. Deste modo, os
primeiros teóricos sociais utilizaram as categorias de investigação das ciências naturais, no caso da
física, em seus estudos pioneiros sobre o comportamento social humano. Em vista disto, a sociologia
foi denominada de física social, no que estabelece harmonia com a sua paternidade positivista.

O campo de análise da sociologia

Não é necessário reunir maiores argumentos para afirmar que o campo da sociologia é vasto
e diversificado. Daí, com o passar do tempo foram se configurando as especializações do estudo
sociológico: político, econômico, urbano, rural, do conhecimento, jurídica, da moral, das
organizações, do desenvolvimento, da religião, do trabalho, das relações de gênero, dos
movimentos sociais, da educação, etc (Florestan Fernandes).

Refletir sociologicamente a sociedade levanta a proposta de elaboração de um saber social,


considerando dois aspectos:
1- Primeiramente, pretende a formulação de análises científicas;
2- Depois, pretende um conhecimento científico específico (especializado).

Uma análise científica da sociedade

O pensamento humano é uma característica universal – todos os seres humanos são


racionais. No entanto o pensar humano não é uno, mas múltiplo. Embora todos os indivíduos
dominem a (mesma) capacidade de pensar; não pensam do mesmo modo. Os pensamentos não são
homogêneos. Em vista disto, a sociedade pode ser pensada por outros canais diferentes daquele
que a analisa cientificamente.

Os estudiosos aceitam a idéia de que existem pelo menos três vias principais do pensamento
humano:
O senso-comum,
O pensamento ideológico e
O pensamento científico.

Essas classificações consistem modos específicos de pensamento; não podem ser


interpretadas segundo critérios valorativos de certo ou errado. O senso-comum e as ideologias não
podem ser considerados, em relação ao saber científico, meios errados de interpretação da
realidade. Tratam-se de saberes específicos que possuem validade, enquanto modos de saber,
adequados dentro de contextos específicos.

Não seria coerente analisar os três modos de conhecimento segundo uma lógica hierárquica.
Isto levaria a questões insolúveis. Se, por exemplo, considerássemos o senso comum inferior às
formas científicas de análise, como se poderia justificar o fato de que historicamente estas são
oriundas daquele?
Senso-comum

O senso comum acerca da sociedade consiste num tipo de conhecimento popular diretamente
ligado a uma tradição alimentada pelas crenças e pela rotina da vida cotidiana. Esse tipo de
conhecimento, ao qual Gramsci denominava de “mentalidade popular 1”, baseia-se na observação
direta da realidade, através de cujas observações se emitem juízos mediante os quais as causas
simples e imediatas dos fatos são identificadas. As formulações do senso-comum afastam-se das
fantasmagorias e obscuridades metafísicas, pseudo-profundas, pseudo-científicas. A natureza do
senso-comum é a experimentação empírica e limitada 2.

Ideologia

Embora esse conceito seja freqüentemente relacionado a Karl Marx, sua origem são os
enciclopedistas do século XVII3. No entanto é com Marx que o termo adquire novo sentido e
conquista publicidade.
Segundo Marx, a ideologia representava uma “inversão dos objetos na retina”, ou seja a
ideologia consiste em construções mentais ilusórias mediante as quais a realidade é pensada de
forma deturpada4. Noutros termos, a ideologia seria uma maneira falsa interpretar a realidade.

Karl Mannheim entende que o termo ideologia é inerente ao campo das lutas políticas, no qual
os grupos dominantes procuram obscurecer a condição real da sociedade tanto para si como para os
demais estabilizando-a, com o propósito de manter a ordem estabelecida 5.

Para Louis Dumont, a ideologia é um sistema de idéias e valores que tem curso num dado
meio social6.

Diferentemente do senso-comum, que é um produto popular, a ideologia é um produto


especializado, não podendo ser dissociada de um corpo de produtores especializados que operam a
lógica específica dos grupos que dominam a produção social 7.

O que significa analisar cientificamente a sociedade?

Significa empreender um esforço acadêmico para encontrar a realidade total e concreta, ainda
que tal não seja plenamente possível a não ser duma maneira parcial e limitada, integrando ao
estudo dos fatos sociais a história das teorias desses fatos, ligando o estudo destes à sua localização
histórica e à sua infraestrutura econômica e social. O estudo científico da sociedade requer a busca
da significação objetiva dos fatos sociais e da compreensão das ações dos homens, os móveis que
os moveram, os fins que perseguiram e a significação que para eles tinham seus comportamentos e
suas ações8.

Uma questão complexa que ainda requer elucidação, a despeito de vir sendo tratada desde a
emergência da modernidade, e que é brilhantemente recolocada por Gramsci é: “A ciência pode

1
GRAMSCI, Antônio. Concepção dialética da história, 1986, p.36.
2
GRAMSCI, ibid, p.35
3
LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social, 1985, 11.
4
MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã, 1989, p.21.
5
MANNHEIM, Karl. Ideologia e utopia, 1986, p.66.
6
DUMONT, Louis, O individualismo, uma perspectiva antropológica da ideologia moderna, 1993, p.20.
7
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico, 1989, p.13.
8
GOLDMANN, Lucien. Ciências humanas e filosofia, 1979, pp.25,28.
dar, e de que maneira, a certeza da existência objetiva da chamada realidade exterior? ” 9 A este
dilema o próprio autor busca dar uma resposta ao afirmar que nem tudo aquilo que a ciência afirma
é objetivamente verdadeiro e que não existe uma ciência definitiva:

Se as verdades científicas fossem definitivas, a ciência teria deixado de existir como tal,
como investigação, como novas experiências, reduzindo-se a atividade científica à
repetição do que já foi descoberto. O que não é verdadeiro para a felicidade da
ciência.10

Uma ciência específica para o estudo da sociedade

O pressuposto do qual se defende a necessidade de uma disciplina específica da ciência para


o estudo da sociedade (a investigação sociológica) defende a tese de que a realidade humana é
socialmente construída e de que o social deve ser explicado pelo social. Nesse sentido entende-se,
sociologicamente falando, que todo fenômeno social é construído socialmente e que só mediante
um ponto de vista social pode ser elucidado.

A sociologia consiste um método específico de compreender os fenômenos sociais. Outras


disciplinas no campo das ciências humanas estudam determinados acontecimentos no interior da
sociedade com a ênfase dirigida para aspectos matemáticos, contábeis, biológicos, históricos,
geográficos, etc.

A construção da realidade social - Peter Berger

A qual tipo de construção poder-se-ia atribuir o status de social?

...nenhuma construção humana pode, a rigor, ser chamada de fenômeno a não ser que
tenha atingido aquele grau de objetividade que obriga o indivíduo a reconhecê-lo como real 11.

A realidade social é uma construção humana que se apresenta dentro de um movimento


dialético através do qual não se poderia conceber uma realidade social sem o homem nem se
conceberia um homem que não seja produto da sociedade 12.

O pensamento de Berger se insere na tradição fenomenológica, segundo a qual os fenômenos


sociais são construídos. O autor parte de uma lógica tríade através da qual elabora o seu
pensamento acerca da construção da realidade social.

Os três momentos que compõem o processo dialético social são: a exteriorização, a


objetivação e a interiorização13.
A exteriorização

A exteriorização pode ser definida com o ato antropológico contínuo por meio do qual os seres
humanos buscam imprimir no mundo natural que os rodeia novos sentidos humanamente

9
GRAMSCI, Antônio. ibid, p.68.
10
GRAMSCI, Antônio. ibid, p.70.
11
BERGER, Peter ibid p.25
12
BERGER, Peter. L. O dossel sagrado, 1985, p.15.
13
Convém lembrar a influência que o pensamento tríade da dialética hegeliana exerce sobre esses
conceitos de Berger. Hegel buscava o conhecimento total da realidade por meio da interação entre a
tese, a antítese e a síntese, onde a tese era o ser humano, a antítese, a natureza e a síntese, o espírito
(o pensamento)
atribuídos – uma contínua efusão de si mesmo sobre o mundo em que ele se encontra 14. Essa ação
do seres humanos na construção de um mundo social se manifesta na criatividade, mediante a qual
eles se criam e ao criarem instituem mudanças no mundo apontam para a natureza peculiar da
humanidade. O resultado dos atos criativos da humanidade denominamos cultura, cujo pressuposto
seria fornecer à vida humana as estruturas firmes que lhe faltam biologicamente 15

O primeiro conceito de cultura foi formulado por Edward Tylor (1871:5): “é o complexo
unitário que inclui o conhecimento, a crença, a arte, a moral, as leis e todas as outras capacidades e
hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” . Como se pode ver trata-se de
um conceito amplo que inclui todo o comportamento humano, considerando-o segundo as
categorias: unitário e integralidade, ou seja, pressupondo sua complexidade harmônica.

O ser humano é a mais avançada forma de vida que existe no planeta; transcende a tudo o
que tem vida, porque só aos humanos foi dada a vida inteligente. Isto distingue as criaturas
humanas das demais. A capacidade de raciocínio as torna ao mesmo tempo dependentes e
autônomas em relação a natureza. Enquanto os demais seres já surgem no mundo, determinados
por leis naturais inalteráveis (de modo que um macaco e um girassol já nascem sendo o que
deverão ser), o ser humano não nasce humano, faz-se humano através de conquistas graduais e
sucessivas no nível do pensamento e da prática. Os seres humanos desfrutam o privilégio de lhes
ser dado, segundo as leis da criação, o poder de decidir o que serão.
O homem surge no mundo como uma criação incompleta. As outras criaturas foram
concluídas pela inteligência da natureza – por isso nem os vegetais nem os animais possuem
consciência de si. Ao passo que o homem e a mulher foram providos de consciência e com ela a
capacidade de determinarem o destino de suas vidas.

Quando tocamos na questão da busca por um sentido para a vida das pessoas estamos,
noutros termos, reconhecendo que nós humanos nascemos sem este sentido – nos falta um
significado pleno para a existência, uma razão maior pela qual viver.

Essa questão (o sentido da vida humana) tem sido abordada amplamente pela filosofia, pela
teologia e pelas ciências humanas. Estas formas de saberes parecem apontar para uma mesma
origem: que o ponto de partida da vida humana é o nada.
A filosofia e as ciências dizem que a criatura humana veio do caos e a revelação bíblica afirma
que ela veio do pó. Duas maneiras semelhantes de exprimir a ausência de sentido.

A natureza humana é singular e sua singularidade explica nossa consciência, nossos conflitos,
nossas insatisfações, nossas ansiedades, nossas rejeições e nossas buscas.
O ser humano não é um ser acabado: é um ente em permanente construção de si; não pode
ser definido em termos do que foi e nem do que é. Ninguém pode afirmar absolutamente o que o
ser humano é, porque é uma transição, é um “sendo” (ser em movimento)
Poder-se-ia dizer que à vida humana foi atribuído o privilégio da sensação de infinito. A
medida da satisfação humana nunca é plenamente preenchida (embora que no homem se efetive a
possibilidade de plenitude do ser). Por isto o gênero humano é criativo em duplo sentido: as
pessoas criam coisas, instituições e realidades materiais e imateriais e simultaneamente encetam
ininterruptamente a criação de si mesmas.

Ora, essa criação incessante exposta aos olhos, evidente na cultura, nas relações, nos ciclos
históricos, nas ideologias, na ciência, nos conceitos, na moda, na arte, na produção, no lazer, nada

14
BERGER, Peter ibid p.17
15
BERGER, Peter ibid p.19
mais representam senão a busca de um sentido. A criatividade que é uma prerrogativa da própria
natureza humana é, na verdade, o debater-se humano com vistas a dar uma ordem a existência. A
busca de significado para a vida e nada mais justifica o empenho criativo e o intenso exercício de
produtividade. As pessoas e as sociedades se movimentam incessantemente em busca de um
sentido total – pleno.

Tomando como apoio as reflexões existentes sobre a busca de sentido da vida, há uma certa
compreensão de modo mais ou menos unânime acerca de que essa procura continuada por sentido
desvenda uma realidade insofismável do caos como realidade inata a existência. Entendendo-se por
caos a ausência de um sentido pleno – ou seja, uma satisfação não plenificada ao mais elevado grau
possível.
A objetivação

Por objetivação se entende um certo grau de autonomização alcançado pelos produtos da


atividades física, mental e coletiva empreendida pela sociedade na construção de uma realidade
social.

Para Gramsci a objetividade se exprime no fato de que aquilo que se reconhece como objeto,
realidade objetiva é uma dada realidade que é verificada por todos os homens, que é independente
de todo ponto de vista que seja puramente particular ou de grupo 16.

Se partirmos do conceito de exteriorização, perceberemos sem muito esforço que ao colocar


no mundo os produtos do seu trabalho social os seres humanos instituem coisas que, a despeito de
derivadas deles, tornam-se dele distintas e contrapostas na condição de facticidade exterior 17.
Doutro modo, podemos dizer que a cultura social enquanto objetivação consiste uma realidade
simultaneamente imanente e distinta em relação ao homem.

A objetividade como característica das instituições sociais adquirem dois formatos: o de uma
cultura material e o de uma cultura imaterial. Os exemplos citados por Berger são bem ilustrativos:
a ferramenta, como integrante do conjunto dos produtos materiais da cultura , possui um ser
próprio que impõe uma lógica de uso que não pode ser modificada de imediato pelos que dela se
utilizam. A mesma objetividade pode ser atribuída aos os produtos imateriais da cultura, como pôr
exemplo a língua falada pôr um povo e os seus valores éticos e morais.

Podemos dizer que a instituição da sociedade reúne em si os produtos materiais e imateriais


da cultura; e, ainda, que não há objetividade fora de uma realidade social. Os produtos culturais só
conquistam relevância social na medida em que saem do confinamento mental particular de um
indivíduo e passam a ser reconhecidos por outros como realidades empíricas 18.

A sociedade seria o mais acabado, o mais amplo e complexo produto social,


resultado do empreendimento humano na construção de um mundo que lhe atribua
sentido existencial.

Como produto da atividade humana que alcançou o grau de realidade objetiva ela é exterior
e coercitiva. A sociedade não está apenas lá fora, como algo dado, mas exerce função controladora,
na medida em que impõe padrões pré-estabelecidos em nível individual e coletivo.

16
GRAMSCI, Antônio. ibid, p.69.
17
BERGER, Peter ibid p.22.
18
BERGER, Peter ibid p.23
A interiorização

Nada mais poderia ser tão ilustrativo acerca da interiorização do que a metáfora do cão que
entorna o seu próprio vômito. A ilustração pode parecer grosseira, mas desenha apropriadamente o
percurso de retorno por meio do qual a cultura exteriorizada retorna aos próprios indivíduos, em
forma de matéria de consumo, por meio do processo de enculturação.

Através deste processo de reabsorção exercido pela sociedade sobre os indivíduos que a
integram se pretende a formação das conciências individuais. Ou seja, a realidade objetiva do
mundo torna-se realidade subjetivada19.

Nas palavras de Berger,

na medida em que ocorreu a interiorização, o indivíduoapreende agora vários elementos do


mundo objetivado como fenômenos internos de sua consciência ao mesmo tempo que os apreende
como fenômenos da realidade exterior20.

O processo de interiorização se exerce sob vários procedimentos:


Mediante a pedagogia dos sistemas simbólicos inculcados e gerenciados por meio das leis,
mediante as quais os indivíduos adultos perseveram em suas atitudes simétricas em relação as
instituições sociais.

Mediante a ação que a geração anterior exerce sobre a nova, segundo procedimentos
institucionais, através dos quais os padrões da vida social são ensinados.

Por meio da socialização,


A nova geração é iniciada nos sentidos da cultura, aprende a participar das suas tarefas
estabelecidas e a aceitar os papéis bem como as identidades que constituem a estrutura social 21.

Berger assinala para a complexidade do empreendimento de socialização destacando os


seguintes aspectos:
1- A interiorização imposta pela socialização não é exclusivamente imposta; o indivíduo,
também, sente-se atraído pela vida social e ao mesmo tempo a atrai a si, possuindo os padrões
sociais e representando-os; Ou seja, o mundo social não é passivamente absorvido, antes
ativamente apropriado (dialeticamente);
2- A socialização total é impossível em relação ao carácter sempre provisório da sociedade;

Bibliografia
BERGER, Peter. L. O dossel sagrado, SP, Paulinas, 1985.
BOURDIEU, Pierre, O Poder Simbólico, Lisboa, Difel, RJ, Ed. Bertrand, 1989.
DURKHEIM, Émile, As Regras do Método Sociológico, São Paulo, Ed. Nacional, 1990.
GRAMSCI, Antônio. Concepção dialética da história, RJ, Civilização Brasileira, 1986.
FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber, RJ, Forense Universitária, 1980.

19
BERGER, Peter ibid p.30.
20
BERGER, Peter ibid p.28.
21
BERGER, Peter ibid p.28.
FERNANDES, Florestan. Sociologia da educação como sociologia especial, in: Educação
e sociedade, Luiz Pereira e marialice Foracchi (org.), SP, Cia Editora Nacional, 1976.
GOLDMANN, Lucien. Ciências humanas e filosofia, SP / RJ, Difel, 1979.
LÖWY, Michael. Ideologias e ciência social, SP, Cortez, 1985.
MACHADO NETO, A.L. Sociologia básica, SP, Saraiva, 1975.
MANNHEIM, Karl. Ideologia e utopia, RJ, Guanabara S/A, 1986.
MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã, SP, martins Fontes, 1989.
TYLOR, Edward B. Primitive culture, London, 1871.
WEBER, Max. Conceitos básicos de sociologia. SP, Editora Moraes, 1987.

You might also like