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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC

BÁRBARA GABRIELE RODRIGUES BRITO

O ÊXITO DO PLANO DE METAS E O APROFUNDAMENTO DAS


DESIGUALDADES REGIONAIS, COM ÊNFASE NO CASO NORDESTINO

ILHÉUS – BAHIA

2017
BÁRBARA GABRIELE RODRIGUES BRITO

O ÊXITO DO PLANO DE METAS E O APROFUNDAMENTO DAS


DESIGUALDADES REGIONAIS, COM ÊNFASE NO CASO NORDESTINO

Trabalho apresentado ao Curso de Ciências


Econômicas da Universidade Estadual de Santa
Cruz, como requisito para a obtenção de nota na
disciplina Economia Brasileira e Contemporânea
I.

Docente: Prof.ª Elisabete Bezerra.

ILHÉUS – BAHIA
2017
O ÊXITO DO PLANO DE METAS E O APROFUNDAMENTO DAS
DESIGUALDADES REGIONAIS, COM ÊNFASE NO CASO NORDESTINO

RESUMO

O trabalho tem por objetivo descrever o período do governo de Juscelino


Kubitscheck, enfatizando o Plano de Metas mas não só, será abordada também
outra realização interessante do período, a SUDENE, bem como descreverá dados
históricos que descrevem a necessidade da atenção estatal.

Palavras-chave: PLANO DE METAS. SUDENE. DESIGUALDADE.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 5
2 CONTEXTO HISTÓRICO DO PLANO DE METAS DE JK ........................................................ 6
3 O PLANO DE METAS ...................................................................................................................... 8
3.1 O PLANO DE METAS PROPRIAMENTE DITO ................................................................... 9
3.2 A IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE METAS......................................................................... 12
4 O ÊXITO DO PLANO DE METAS E O APROFUNDAMENTO DAS DESIGUALDADES
REGIONAIS......................................................................................................................................... 13
4.1 A CRIAÇÃO DA SUDENE ...................................................................................................... 15
5 O NORDESTE EM NÚMEROS .................................................................................................... 16
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 18
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 19
1 INTRODUÇÃO
O período que precedeu o governo de Juscelino Kubitschek, popularmente
conhecido como JK, bem como a criação e implantação do Plano de Metas foi
marcado por agitações político-sociais que propiciaram ao Brasil mudanças
importantes que por vezes tornaram-se perenes, como é caso das desigualdades
regionais, que pouco foram lembradas durante os governos de Vargas. Apesar de
sua preocupação e esforços para o desenvolvimento nacional – como a criação de
uma Assessoria Econômica – somente em seu último governo (1951-1954)
preocupou-se com esta pauta, projetando assim, em 1953, a Superintendência do
Plano de Valorização da Amazônia (SPVEA), desde 1966 denominada
Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

A existência de esforços para a melhor distribuição do crescimento e


desenvolvimento econômico no Brasil evidencia o fato de que o Estado tem
conhecimento do que ocorre no território nacional e busca maneiras de minimizar os
efeitos colaterais. Por isso JK tinha a preocupação em desenvolver o país de forma
a abranger o máximo de regiões possíveis. A perspectiva do Plano de Metas, de
desenvolver setores chaves da economia como um todo, emergia para descortinar:
problemas com a desigualdade, em qualquer esfera, não se resolvem
espontaneamente.

Os problemas com o desigual desenvolvimento econômico brasileiro não se


restringiram ao passado, em nosso tempo basta que leiamos algumas notícias da
mídia para percebermos que ele ainda existe e em proporções que ainda
preocupam. A região mais citada quando toca-se no assunto é o nordeste, esta
portanto será evidenciada no decorrer do trabalho, de forma a clarear a necessidade
ainda eminente de intervenções estatais.
2 CONTEXTO HISTÓRICO DO PLANO DE METAS DE JK

Juntamente com a industrialização espontânea coincidente com o governo


Eurico Dutra surgiu à preocupação com os problemas no desenvolvimento, que
parecia afunilar-se diante dos pontos de estrangulamento (SKIDMORE, 1992).
Reflexos nítidos desta inquietação são as missões Cooke (1942-1943) e Abbink
(1943), as quais resultaram em relatórios regados a sugestões, patrocinadas pelos
Estados Unidos conjuntamente com o governo brasileiro (LAFER, CPDOC| FGV),
importantíssimos para a confecção do Plano de Metas.

Lafer, em um texto para o Centro de Pesquisa e Documentação de História


Contemporânea do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC| FGV), lembra-nos
de outras importantes influências para que a concepção do Plano de Metas fosse
possível: Relatório Simonsen e ao Plano Salte, tendo sido este último elaborado
durante pelo Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), criado por
Dutra em 1948. Mas ressalta que: “[o plano Salte] não era, na realidade, um plano,
mas somente uma tentativa de racionalização da tomada de decisão sobre o
processo orçamentário, [...]”.

Embora não tenham tido efeitos conclusivos imediatos à criação, todos esses
feitos contribuíram vastamente para que se criasse uma mentalidade de aceitação à
necessária intervenção estatal e também à abertura ao capital transnacional para o
desenvolvimento nacional que viria a acontecer na década de 1950.

No segundo governo de Vargas (1951-1954) surge uma política de


desenvolvimento nacional, representada pela criação da Assessoria Econômica, a
qual objetivava nortear a industrialização suplementar tornada possível pela política
cambial e pela oportunidade favorável em relações de trocas depois de 1949
(SKIDMORE, 1992). A Assessoria promoveu programas e sugestões de
intervenção, entre as quais destaca-se o plano que levou a criação da Petrobrás.
Concomitantemente, Horário Lafer – o até então primeiro ministro da Fazenda –
propôs, impulsionou e presidiu a Comissão Mista Brasil-EUA.
Sobre a Comissão Mista, Lafer (CPDOC| FGV) salienta que:

A Comissão Mista Brasil-EUA foi uma experiência relevante no


desenvolvimento do planejamento no Brasil. Na realidade, as missões
Cooke e Abbink haviam restringido suas atividades ao que poderia ser
chamado mais rigorosamente de atividades de pesquisa e análise. A
Comissão Mista deu um passo à frente, pois, além disso, elaborou, dentro
do contexto da análise, 41 projetos específicos.

Em 1956 quando JK assume o poder, o sistema político encontrava-se


maduro o suficiente para um planejamento estatal que interferisse no livre mercado,
sem o risco de uma rejeição imediata por parte dos atores econômicos.

O período que antecessor ao juscelinista foram hostis para o candidato, a


rivalidade ferrenha entre o partido União Democrática Nacional (UDN) – extinta em
1965 – e a aliança PSD-PTB, Partido Social Democrata e Partido do Trabalhador
Brasileiro, respectivamente, evidenciava que JK sofreria retaliações, pois para
muitos ele representava a continuação de políticas varguistas. (MOTA, 2000)

Após sua posse, a única forma de manter-se no poder é através do apoio das
massas populares, e assim o fez. Em seu primeiro dia de mandato, anunciou o
Plano de Metas, projeto este que mexeria com toda a estrutura social, fazendo com
que todos os atores sociais adaptassem aos novos tempos de “Ordem e Progresso”
com pleno respeito as instituições democráticas (LAFER, CPDOC| FGV).
3 O PLANO DE METAS

Com a compreensão linear do antagonismo desenvolvimento-


subdesenvolvimento, de quem acredita que este fenômeno está relacionado íntima e
simploriamente à crença de que “[...] os países atrasados, para atingirem
desenvolvimento, devem percorrer as mesmas etapas por que passaram os atuais
países desenvolvidos.” (BRUM, 1996,94), JK tinha como primordial objetivo o
desenvolvimento industrial do Brasil, mesmo que isto custasse os setores agrícola e
social. Evidencia-se, assim, que o desenvolvimento diferentemente do que vemos
hoje, era considerado como mero crescimento econômico. Skidmore (1992, 205)
sobre esse momento histórico diz-nos:

O papel dinâmico do governo serviu para impulsionar e centralizar as forças


do crescimento econômico. Seguiu uma política de nacionalismo
desenvolvimentista Foi uma aproximação pragmática a uma economia já
mista, dirigida no sentido de conseguir a mais rápida taxa de crescimento
possível, encorajando a expansão nos setores tanto privados como
públicos. A ênfase maior foi dada as indústrias básicas.

Em sua campanha eleitoral, JK defendia orgulhosamente o slogan “50 anos


em 5”, no qual pretendia-se encurtar o tempo gasto para desenvolver o país
economicamente. Assim, “A política de desenvolvimento econômico do Presidente
Juscelino Kubitschek consubstancia-se em seu programa de metas, que abrange
projetos a serem executados com recursos públicos e privados.” (PRESIDÊNCIA DA
REPÚBLICA, 1958, 9).

O Programa de Metas rompe com tudo o que tinha ocorrido no país até o
momento em relação à industrialização. Se antes, esse processo ocorria de maneira
desordenada e primordialmente com capital nacional, agora, será estratégico e
planejado por entidades competentes e abrirá as portas para a entrada de grupos
econômicos estrangeiros. Marca-se assim o nascimento de um desenvolvimentismo
fascinante e palpável, em detrimento do nacionalismo getulista.
3.1 O PLANO DE METAS PROPRIAMENTE DITO

Sumariamente, o Programa de Metas, de acordo com o documento oficial da


Presidência da República, 1958, pode ser exposto da seguinte forma:
1 – SETOR DE ENERGIA (43,4% do investimento inicialmente planejado)
Meta 1 – Energia Elétrica – elevação da potência instalada de 3.000.000 kw para
5.000.000 kw até 1960 e ataque de obras que possibilitarão o
aumento para 8.000.000 kw em 1965;

Meta 2 – Energia Nuclear – instalação de uma central atômica pioneira de 10.000 kw


e expansão da metalurgia dos minerais atômicos;

Meta 3 – Carvão Mineral – aumento da produção de carvão de 2.000.000 para


3.000.000 de toneladas/ano, de 1955 a 1960 com ampliação da utilização “in loco”
para fins termelétricos dos rejeitos e tipos inferiores;

Meta 4 – Petróleo (produção) – aumento da produção de petróleo de 6.800 barris em


fins de 1955 para 100.000 barris de média de produção diária em fins de 1960;

Meta 5 – Petróleo (refinação) – aumento da capacidade de refinação de 130.000


barris diários em 1955 para 330.000 barris diários em fins de 1960;

2 – SETOR TRANSPORTES (29,6% do investimento planejado)


Meta 6 – Ferrovias (reaparelhamento) – com investimentos de US$ 239 milhões e
Cr$ 39,8 bilhões;

Meta 7 – Ferrovias (construção) – construção de 2.100 km de novas ferrovias, 280


km de variantes a 320 km de alargamento de bitola;

Meta 8 – Rodovias (pavimentação) – pavimentação asfáltica de 5.000 km de


rodovias até 1960;

Meta 9 – Rodovias (construção) – construção de 12.000 km de rodovias de 1ª.


Classe até 1960;

Meta 10 – Portos e Dragagem – reaparelhamento e ampliação de portos e aquisição


de uma frota de dragagem com investimento de US$ 32,5 milhões e Cr$ 5,9 bilhões;

Meta 11 – Marinha Mercante – ampliação da frota de cabotagem e longo curso de


300.000 toneladas e da frota de petroleiros de 330.000 toneladas (deadweight) dwt;

Meta 12 – Transporte Aeroviário – renovação da frota aérea comercial com a


compra de 42 aviões;

3 – SETOR ALIMENTAÇÃO (3,2% do investimento planejado)


Meta 13 – Produção Agrícola (trigo) – aumento da produção de trigo de 700.00 para
1.500.000 toneladas;
Meta 14 – Armazéns e Silos – construção de armazéns e silos para uma capacidade
estática de 742.000 toneladas;

Meta 15 – Armazéns Frigoríficos – construção e aparelhagem de armazéns


frigoríficos para uma capacidade estática de 45.000 toneladas;

Meta 16 – Matadouros Industriais – construção de matadouros com capacidade de


abate diário de 3.550 bovinos e 1.300 suínos;

Meta 17 – Mecanização da Agricultura – aumento do número de tratores em uso na


agricultura de 45.000 para 72.000 unidades;

Meta 18 – Fertilizantes – aumento da produção de adubos químicos de 18.000


toneladas para 120.000 toneladas de conteúdo de nitrogênio e anidrido fosfórico;

4 – SETOR INDÚSTRIAS DE BASE (20,4% do investimento planejado)


Meta 19 – Siderurgia – aumento da capacidade de produção de aço em lingotes de
1.000.000 para 2.000.000 toneladas por ano em 1960 e para 3.500.000 toneladas
em 1965;

Meta 20 – Alumínio – meta revista: aumento da capacidade nacional de produção de


alumínio para 25.000 toneladas em 1960. Em 1960 a produção de alumínio foi
16.573 toneladas;

Meta 21 – Metais não-ferrosos – expansão da produção e refino de metais não-


ferrosos (cobre, chumbo, estanho, níquel, etc.);

Meta 22 – Cimento – aumento da capacidade de produção de cimento de 2.700.000


para 5.000.000 toneladas anuais, em 1960;

Meta 23 – Álcalis – aumento da capacidade de produção de álcalis de


20.000 em 1955 para 152.000 toneladas anuais, em 1960. (produção de soda
cáustica);

Meta 24 – Celulose e Papel – aumento da produção de celulose de 90.000 para


200.000 toneladas e de papel de jornal de 40.000 para 130.000 toneladas, entre
1955 e 1960;

Meta 25 – Borracha – aumento da produção de borracha de 22.000 para 65.000


toneladas, com início da fabricação da borracha sintética;

Meta 26 – Exportação de Minério – aumento da exportação de minério de ferro de


2.500.000 para 8.000.000 toneladas e preparação para exportação de 30.000.000
toneladas do próximo quinquênio;

Meta 27 – Indústria de Automóvel – implantação da indústria para produzir 170.000


veículos nacionalizados em 1960;

Meta 28 – Construção Naval – implantação da indústria de construção naval;


Meta 29 – Indústria Mecânica e de Material Elétrico Pesado – Implantação e
expansão da indústria mecânica e de material elétrico pesado;

5 – EDUCAÇÃO (3,4% do investimento planejado)


Meta 30 – Pessoal Técnico – intensificação da formação de pessoal técnico e
orientação da Educação para o Desenvolvimento;

Meta Síntese – Brasília – a cidade foi construída num tempo recorde e estima-se
que as despesas com a construção da cidade tenham sido da ordem de 250 a 300
bilhões de cruzeiros, em preços de 1961, ou seja, Brasília mobilizou 2,3% do
Produto Nacional Bruto.

A figura 1 mostra-nos graficamente as proporções aproximadas de


investimento em cada um dos setores que foram contemplados pelo Plano. É
perceptível que a maioria dos investimentos foram direcionados para os setores de
energia e transportes, com 43% e 30% respectivamente, isso se deu devido a dois
conceitos que surgem no cenário brasileiro: pontos de estrangulamento e pontos de
geminação (LAFER, CPDOC| FGV).

Figura 1 – Proporções aproximadas do investimento previsto no Plano de Metas de


JK, no período de 1951 – 1961.

Setor de Energia Setor de Transportes Setor de Alimentação


Setor Indústria de Base Setor de Educação

4%

20%
43%
3%

30%

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Presidência da República (1958)

Sabiamente, Benevides (1976) apud Brum (1996), afirma que o Plano de


Metas pode ser resumido em um conjunto de 6 grupos de metas prioritárias,
sumarizada no quadro que se segue:
Quadro 1 - O Plano de Metas de JK
Energia (metas de 1 a 5): energia elétrica, nuclear, carvão, produção e refino de
petróleo.
Transportes (metas de 6 a 12): reequipamento e construção de estradas de ferro,
pavimentação e construção de rodovias, portos e barragens, marinha mercante,
transportes aéreos.
Alimentação (metas de 13 a 18): trigo, armazéns e silos, frigoríficos, matadouros,
mecanização da agricultura, fertilizantes.
Indústrias de Base (metas de 19 a 29): aço, alumínio, metais não ferrosos,
cimento, álcalis, papel e celulose, borracha, exportação de ferro, indústria de
automóveis, construção naval, maquinaria pesada e equipamentos elétricos.
Educação (meta 30): Propagação de conhecimento técnico para a qualificação da
mão-de-obra.
Meta-síntese (meta 31): construção de Brasília.
Fonte: adaptado de Benevides (1976) apud Brum (1996).

3.2 A IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE METAS

Quanto à execução, JK lançou mão da chamada administração paralela, isto


é, instrumentos extra constitucionais criados por decreto, formado por órgãos já
existentes (Carteira de Comércio Exterior – CACEX; Superintendência da Moeda e
do Crédito – SUMOC e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE)
juntamente com órgãos executivos, entre os quais estão o Grupo Executivo da
Indústria Automobilística (GEIA), da Construção Naval (GEICON), de Máquinas
Agrícolas e Rodoviárias (GEIMAR), de Exportação de Minério de Ferro (GEMF), de
Armazenagem (Comissão Consultiva de Armazéns e Silos) e de Material Ferroviário
(GEIMF).
Brum (1996, p.99), destaca sobre a execução do plano:
Como o governo tem segura maioria parlamentar, a tática usada foi a
apresentação ao Congresso de propostas orçamentárias com destinação a
verbas globais (sem muita especificação, para evitar ementas de caráter
clientelístico), o que dava ampla liberdade aos órgãos do Executivo e às
empresas públicas para sua aplicação.
4 O ÊXITO DO PLANO DE METAS E O APROFUNDAMENTO DAS
DESIGUALDADES REGIONAIS

Evidencia-se assim o quão audacioso foi o Plano de Metas, principalmente


para um país subdesenvolvido e sem grande acúmulo de capital interno como o
Brasil. Apesar disso, a maior parte das metas foram executadas com êxito, embora
isso tenha custado altas na inflação e principalmente a internacionalização da
indústria brasileira, que acabou por ser tomada por multinacionais em detrimento da
indústria nacional, que em muitos momentos viu-se de mãos atadas diante das
vantagens comparativas dadas ao capital estrangeiro. Exemplo disso é a Instrução
113 da SUMOC, que proporcionava apenas às empresas estrangeiras a
possibilidade de importação sem cobertura cambial.
A Tabela 1, de Abreu at al (1990) mostra-nos os resultados referentes as
metas específicas, notadamente, a maior parte dos setores que não atingiram pelo
menos 60% de sua previsão de realização, não o fizeram pois deixaram de ser
prioridade, como é o caso do carvão e das ferrovias, que foram deixadas em um
plano secundário devido ao interesse no setor automobilístico.
Tabela 1 – Brasil: Plano de Metas, Previsão e Resultados, 1957 – 1961.
Previsão Resultado %
Energia Elétrica (1000 Kw) 2000 1650 85
Carvão (1000 ton.) 1000 230 23
Petróleo-Produção (1000 barris/dia) 96 75 76
Petróleo-Refino (1000 baris/dia) 200 52 26
Ferrovias (1000 km) 3 1 32
Rodovias-Construção (100 km) 13 17 138
Rodovias-Pavimentação (1000 km) 5 - -
Aço (1000 ton.) 1100 650 60
Cimento (1000 ton.) 1400 870 62
Carros e Caminhões (1000 unid.) 170 133 78
Nacionalização (carros) (%) 90 75 -
Nacionalização (caminhões) (%) 95 74 -
Fonte: Abreu at al (1990)
Ainda sobre o contexto do capital transnacional, é válido lembrar que o
nacionalismo brasileiro apenas existiu e resistiu enquanto este fazia parte dos
interesses econômicos e sociais dos países desenvolvidos. Após as grandes
guerras, tornou-se nítida a periculosidade de se adentrar em outra nação vestindo-
se e defendendo explicitamente o seu país de origem. Desta forma, para adentrar
com o capital no Brasil, os países superavitários despiram-se de suas bandeiras
dando-nos a falsa impressão de que o capital interno era também o capital nacional.
O mesmo ciclo vicioso em que Brasil se encontra desde que foi colonizado, repete-
se. Antes, os países fortemente industrializados vendiam-nos seus manufaturados,
agora, eles usam nosso território para produzir os bens que aqui serão vendidos ou
aqueles produtos que lhe servirão de matéria-prima barateada.
Brum (1996, 25 – 33), sintetiza a ideia do parágrafo anterior da seguinte
forma:

A dependência se exerce fundamentalmente através do controle do capital


e da tecnologia. Por esse controle as economias dos países periféricos
[como o Brasil] são articulados em função das necessidades, interesses e
ações dos países centrais, onde as corporações multinacionais têm sua
sede. [...] Num relance histórico retrospectivo constatam-se distinções
dicotômicas imperialistas, com povos classificados como superiores e outros
como inferiores. Assim: na Roma Antiga patrícios e plebeus; na época do
Império Romano, romanos e bárbaros; após os grandes descobrimentos
marítimos , civilizados e selvagens; hoje, desenvolvidos e
subdesenvolvidos.

O Brasil ocupa posição de submissão ao desenvolvimento dos países


centrais. Curiosamente, dentro do próprio país, há essa dicotomia, entre as regiões.
Nosso país é reflexo da ordem mundial do trabalho, regiões desenvolvem-se em
detrimento de outras, como é o caso do nordeste, região que ocupa uma posição
desprivilegiada nesse jogo de interesses.
Furtado (1999), diz-nos sobre a necessidade do planejamento estatal para
romper com essas estruturas que alimentam o (sub)desenvolvimento:
[...] o planejamento aumenta a eficácia do Estado. Minha convicção é que
uma economia subdesenvolvida como a do Brasil necessita de um
planejamento (...) numa economia como a brasileira, que tem imenso atraso
acumulado, desequilíbrios regionais e setoriais, (...) abandonar a idéia de
planejamento é renunciar à idéia de ter governo efetivo.

Assim, uma das propostas de Furtado, diz respeito a criação de políticas


específicas para o desenvolvimento do Nordeste, como aborda em sua obra A
Operação Nordeste, surge então no cenário nacional a SUDENE (Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste), criada pela Lei no 3.692, de 15 de dezembro de
1959, isto é, durante a implantação do Plano de Metas, JK conscientizou-se do
monopólio industrial instaurado na região centro-sul e optou por políticas cepalinas
para que houvesse a existência do desenvolvimento econômico e não apenas o
mero crescimento, como bem retrata Furtado apud Sampaio Júnior (1999):
O que caracteriza o desenvolvimento é o projeto social subjacente. O
crescimento, tal qual o conhecemos, funda-se na preservação dos
privilégios das elites que satisfazem seu afã de modernização. Quando o
projeto social dá prioridade à efetiva melhoria das condições de vida da
maioria da população, o crescimento se metamorfesia em desenvolvimento.
Ora, essa metamorfose não se dá espontaneamente. Ela é fruto da
realização de um projeto, expressão de uma vontade política.

4.1 A CRIAÇÃO DA SUDENE

A gênese da SUDENE, em 1959, é resultado da necessidade de minimizar a


crescente diferença entre o Nordeste e o eixo Centro-Sul do país. Planejar e
coordenar políticas para o desenvolvimento da região eram seus principais objetivos.
Como uma autarquia subordinada diretamente à Presidência da República, coube a
Celso Furtado sua direção, de sua criação até 1964 (CABRAL, 2011).

Um documento oficial da SUDENE (BRASIL. SUDENE, 1980, 137) diz-nos


sobre as intenções da política de desenvolvimento, que anos depois de sua criação,
mantinha a mesma raiz:

Acima de tudo, porém, a política de desenvolvimento do Nordeste intenta a


elevação dos níveis da qualidade da vida da população regional. Nesse
sentido, concentrar-se-á um amplo esforço na promoção de atividades
produtoras voltadas para o atendimento das necessidades básicas da
população do Nordeste, a saber: nutrição e saúde, educação e capacitação,
habitação, segurança, consumo de bens duráveis, emprego e renda.

Como causa imediata da criação do órgão, pode-se citar uma nova seca, a de
1958, que aumentou o desemprego rural e o êxodo da população. Igualmente
relevante foi uma série de denúncias que revelaram os escândalos da "indústria das
secas", denunciava-se que o latifúndio e seus coronéis – a oligarquia agrária
nordestina – tinham capturado o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
(DNOCS), criado em 1945, da mesma forma como anteriormente tinham dominado a
Inspetoria de Obras Contra as Secas, de 1909 (OLIVEIRA, CPDOC| FGV).
5 O NORDESTE EM NÚMEROS

Visando demonstrar quantitativamente a necessidade de políticas públicas


aplicadas ao Nordeste, abaixo serão apresentadas tabelas que trazem informações
sobre o crescimento regional, nossa análise, no entanto, voltara-se para o caso
nordestino.

Na Tabela 2, estão as taxas de crescimento populacional ao ano do nordeste


frente ao Brasil, e o que observa-se é que antes do Plano de Metas, a população
nordestina crescia a taxas maiores que o restante do Brasil, depois, com o
investimento industrial quase exclusivo ao eixo centro sul, migração rumo aos
estados em desenvolvimento, a população nordestina passa a crescer a taxas
menores.

Tabela 2 – Taxa de crescimento populacional do Nordeste e do Brasil (%a.a.) de


1940 a 1960
Região Nordeste Brasil
Período
Urbana Rural Total Urbana Rural Total
1940-50 3,5 1,8 2,2 3,1 1,6 2,3
1950-60 4,9 1,1 2,2 5,5 1,6 3,2
Fonte: Adaptado de Moura & Teixeira (1997)

No entanto, quando descortinamos uma importante variável, a taxa de


fecundidade total, observada na Tabela 3, que serve inclusive para avaliar o
desenvolvimento econômico, pois está intimamente relacionada à qualidade de vida
e às condições mínimas de sobrevivência, observamos que as taxas de nascimento
no nordeste são muito maiores que sua taxa de crescimento. Este fato é
extremamente preocupante pois indica que possivelmente há altas taxas de
mortalidade infantil, denunciando que os nordestinos não têm tido o mínimo para
sobreviverem, privando-os de viver digna e longamente.

Tabela 3 – Taxa de fecundidade total por regiões brasileiras nos anos de 1940,1950
e 1960
Anos Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Norte Brasil
1940 7,15 5,69 5,65 6,36 7,17 6,16
1950 7,50 5,70 5,70 6,86 7,97 6,21
1960 7,36 5,89 5,89 6,74 8,56 6,28
Fonte: Moura & Teixeira (1997)

Um dado muito importante a ser considerando quando se trata de distribuição


do crescimento econômico é o Produto Interno Bruto, pois quanto mais concentrado
for o PIB em determinadas regiões indubitavelmente será em detrimento de outras.
E é isso o que podemos observar na Tabela 4. Apesar de como decorrer dos anos ,
o Nordeste conseguir progredir em seu percentual de participação do PIB nacional, a
diferença entre as proporções são exacerbadamente grandes. Enquanto o resto do
país divide menos de 40% do PIB, o Sudeste, sozinho, apropria-se de mais de
65,1% em 1959, ano de criação da SUDENE.

Tabela 4 – Proporção PIB (%) por região brasileira de 1939, 1949 e 1959
Região 1939 1949 1959
Norte 2,6 1,7 2,0
Nordeste 16,7 13,9 14,4
Sudeste 63,3 67,6 65,1
Sul 13,3 15,1 16,2
Centro-Oeste 3,1 3,2 4,6
Fonte: Adaptado de Cano (1981)

No período de 1970 a 1985, como pode ser visto na Tabela 5, há uma


diminuição contínua da participação do Sudeste no PIB nacional, porém em 1985
sozinha a região ainda monopoliza quase 60% de tudo que se produz no país.
Esses dados podem indicar que a SUDENE não obteve os resultados que almejava,
pois a ainda pequena participação no PIB, possivelmente indica que não houve
aumentos consideráveis nos postos de trabalhos.
Tabela 5 – Proporção PIB (%) por região brasileira de 1970 a 1985
Região 1970 1975 1980 1985
Norte 2,2 2,1 3,3 4,1
Nordeste 11,7 11,1 12,0 13,7
Sudeste 65,5 64,8 62,3 59,1
Sul 16,7 17,9 17,0 17,1
Centro-Oeste 3,9 4,1 5,4 6,0
Fonte: Adaptado de Carvalho (2001)

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como foi mostrado no decorrer do trabalho, no período de


desenvolvimentismo Juscelinista foi marcado pela execução do quantitativamente
exitoso Plano de Metas, contudo, outras realizações marcaram seu governo, como a
percepção da desigualdade no crescimento regional e principalmente na criação de
medidas que visaram solucionar os problemas diagnosticados, como é o caso da
SUDENE.

Embora tais medidas não tenham solucionado os problemas estruturais e


institucionais existentes, elas serviram de exemplo para nos lembrar de que são
necessárias. O Plano de Metas também deixou-nos marcas não muito agradáveis,
como altas inflacionárias e muitas dívidas externas.

A qualidade de vida dos brasileiros precisa, ainda, de muita atenção, pois a


desigualdade existe e assola o país de proporções continentais.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CANO. Wilson; Desequilíbrios Regionais e Concentração Industrial no Brasil 1930-1970, Tese de livre
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