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Artigo 101

Bachelard e Freud:
alargar o espírito, tonificar a alma1

Bachelard et Freud: élargir l’esprit, enrichir l’âme

José TERNES

Resumo

As relações do filósofo Gaston Bachelard com a Psicanálise assumem múltiplas formas. Privilegiam-se duas nesta comunicação:
a Psicanálise como terapia da razão e as críticas bachelardianas à compreensão freudiana da linguagem. As duas formas nascem
de um solo epistemológico comum: a idéia de que o saber tem uma materialidade própria, realiza-se sempre no interior de um
psiquismo. O epistemólogo recorre à Psicanálise para superar os obstáculos epistemológicos, isto é, para reativar as forças
psíquicas em vias de esgotamento. Já o fenomenólogo da imaginação encontra na Psicanálise, especialmente em Freud, sérias
restrições quanto à sua compreensão da linguagem como representação. Por caminhos diferentes, em última instância, procura-
se preservar o que há de mais caro à filosofia: a possibilidade e a liberdade de pensamento.
Palavras-chave: pensamento, psiquismo, epistemologia, imaginação, fenomenologia, psicanálise, formação.

Resumé

Les relations du philosophe Gaston Bachelard avec la Psychanalyse assument de multiples formes. On en privilégie deux dans la

BACHELARD E FREUD: ALARGAR O ESPÍRITO, TONIFICAR A ALMA


présente comunicação: la Psychanalyse comme thérapie de la raison et les critiques bachelardiennes à la compréhension freudienne
du language. Les deux formes naissent d’un sol épistémologique commum: l’idée que le savoir a une materialité propre, se realise
toujours à l’intérieur d’un psychisme. L’épistémologue recourt à la Psychanalyse pour dépasser les obstacles épistémologiques,
c’est-à-dire, pour réactiver les forces psychiques en voie d’épuisement. Alors que le phénoménologue de l’imagination trouve
dans la Psychanalyse, spécialement chez Freud, de sérieuses restrictions quant à sa compréhension du languagem en tant que
représentation. Par différents chemins, en dernière instance, on cherche a préserver ce qu’il y a de plus cher à la philosophie:
la possibilité et la liberté de pensée.
Mots-clés: pensée, psychisme, épistémologie, imagination, phénoménologie, psychanalyse, formation.

Bachelard não é um psicanalista. Sua relação de, de um especialista em doenças mentais. Formado
com a Psicanálise não é a de um profissional de saú- em Física, cedo enveredou pelas sendas da filosofia.
(1)
Uma primeira versão deste texto foi publicada, com o título Bachelard e a Psicanálise, na Revista Fragmentos de Cultura, v. 15, n. 6, jun./2005-
UCG, Goiânia.

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Sua obra costuma ser apresentada como um duplo tomar como paciente a ciência?”
percurso intelectual, o da epistemologia e o da (BONICALZI, 2004, 90).
fenomenologia da imaginação.2 Nesse duplo cami- Bachelard parece criar, para a psicanálise, um
nho, a Psicanálise não nos parece um simples aciden- novo domínio, uma nova ocupação: a terapia da ra-
te. Ao contrário, defenderemos a tese de que ela é zão. Um objeto estranho a Freud e seus seguidores,
requerida estruturalmente pelo próprio pensamento pois tinham estes certeza dos limites de sua invenção:
do filósofo. Tem a ver, essencialmente, com a sua com- o inconsciente. É sempre este que precisa ser desven-
preensão de saber. Este é que é, sempre, psíquico. dado. Como, porém, interrogar o que, por defini-
Realiza-se sempre numa aura de psiquismo. Não ha- ção, se constituiria a própria evidência? Alguma rela-
veria, pois, ato puro do conhecimento. Nossas ver- ção com o domínio de origem? Trata-se, ainda, de
dades científicas, bem como nossas imagens poéticas, psicanálise, ou, com Bachelard, nasce um novo sa-
nascem no interior de um movimento psicológico. ber? Voltemos a 1938, ano em que a psicanálise é
Quando se evocam as relações de Bachelard com a convocada para uma nova tarefa.
psicanálise, mais precisamente com Freud, essa idéia
de uma espécie de pan-psiquismo, condição de pos- Observamos, há pouco, que foi esse o ano
sibilidade de todo conhecimento, não pode ser olvi- de nascimento de La formation de l’esprit scientifique.
dada. O próprio título, além, claro, do sub-título, deixa
entrever um projeto ambicioso. Estamos diante de algo
As primeiras relações com a Psicanálise po- mais do que um discurso do método. Não se trata
dem ser detectadas nas investigações epistemológicas apenas de uma instrução sobre como proceder nas
de Bachelard, em suas pesquisas acerca da natureza
atividades científicas. Trata-se de formar o cientista.
da ciência moderna. Não se trata de aproximar duas
Está em jogo, além das habilidades tradicionais do
ciências, de estreitar seu comércio conceitual e expe-
investigador, aquilo que o filósofo denomina novo
rimental, como vemos, por exemplo, na biofísica. Não
é em nome da cientificidade que o filósofo vai à Psi-
espírito científico. O antigo espírito é o cartesiano.
canálise. Com efeito, esta, com seus conceitos e suas Este não serve mais. Melhor, é o elementar, indispen-
teorias, uma ciência humana, pouco ou nada poderia sável para toda a atividade científica, mas insuficien-
oferecer para os progressos da física e da química, te. Do cientista de nosso tempo se exige mais. E este
ciências matemáticas. São regiões epistemológicas mais tem um sentido muito próprio para Bachelard:
absolutamente estranhas entre si. O fato é que exige-se dele um outro espírito, uma nova filosofia.
Bachelard vai à Psicanálise, e o faz em dois livros de La formation de l’esprit scientifique começa,
1938: La formation de l’esprit scientifique, cujo justamente, em seu “Discours Préliminaire”, contrapondo
subtítulo é “contribution a une psychanalyse de la as exigências cartesianas da ciência clássica, e as da
connaissance objective”, e La psychanalyse du feu. modernidade. A ciência clássica tinha por meta:
Na verdade, observa Francesca Bonicalzi,
“Tornar geométrica a representação, isto é,
“Bachelard abre à psicanálise e lhe confia representar os fenômenos e ordenar em sé-
um novo trabalho, ele lhe pede para ocu- rie as ocorrências decisivas de uma expe-
par-se (soigner) da vida intelectual. Mas riência, eis a tarefa primeira em que se afir-
qual é o sintoma da vida intelectual, qual ma o espírito científico. É com efeito des-
é a neurose (névrose)da ciência que re- sa maneira que se chega à quantidade fi-
quer a intervenção terapêutica da psica- gurada, a meio caminho entre o concreto e
nálise? O que autoriza a psicanálise a o abstrato, numa zona intermediária em que
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(2)
Jean Libis acrescenta um terceiro, o de uma ontologia negativa.

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o espírito pretende conciliar as matemáti- de 1998, cuja inspiração remete, talvez a Nietzsche
cas e as experiências, as leis e os fatos” e ao romantismo alemão (NOUVEL, 1998, 107-114).
(BACHELARD, 1972b, 5). O fundamental dessa vertente é a concepção do
A ciência moderna tem necessidades maiores conhecimento como invenção dos homens. E, por ser
do que as representações geométricas “fundadas so- invenção, não tem origem, um ponto fixo de que
bre um realismo ingênuo das propriedades espaciais” poderia ser o desdobramento. E, por isso mesmo,
(BACHELARD, 1972b, 5). Com efeito, diz o filósofo: também não é sempre o mesmo. Daí, esta afirmação
desconcertante (para os historiadores tradicionais) de
“A função das matemáticas na Física con- que o conhecimento muda de espécie.
temporânea ultrapassa a simples descrição
geométrica. O matematismo não é mais “Com efeito, as crises de crescimento do
apenas descritivo, mas formador. A ciên- pensamento implicam uma reforma total do
cia da realidade não se contenta mais com sistema do saber. A cabeça bem feita deve
o como fenomenológico; ela procura o por então ser refeita. Ela muda de espécie.
que matemático” (Bachelard, 1972b, 5). Opõe-se à espécie precedente por uma
função decisiva. Pelas revoluções espiritu-
Em outros termos, a ciência contemporânea ais que necessita a invenção científica, o
demanda uma revolução na compreensão mesma do homem torna-se uma espécie mutante, ou
objeto científico, na idéia de objetividade do co- para dizer melhor ainda, uma espécie que tem a
nhecimento. Os clássicos cultivaram uma concepção necessidade de mudar, que sofre por não mu-
bastante fechada acerca do lugar do sujeito e do objeto dar” (BACHELARD, 1972b, 15-16).
de ciência. “No conhecimento, há apenas dois pon-
tos a considerar: Nós que conhecemos e os objetos a Essas palavras de Bachelard recebem sentido
conhecer”, diz a regra XVII de Descartes (1977, no contexto em que foram escritas, o capítulo
66). Tratava-se, porém, de dois espaços exteriores introdutório ao livro La formation de l’esprit
um ao outro, e anteriores ao conhecimento. Ou seja, scientifique. O filósofo está ocupado com a elabora-
este aparecia, sempre, como efeito de um comércio ção de uma estranha teoria acerca da noção de obstá-
(exterior) entre representante e representado. Havia
culo epistemológico. Se voltarmos à história do pen-
samento ocidental, podemos observar que os clássi-
a natureza, com suas leis universais e imutáveis, uma
cos do século XVII não colocariam, jamais, seme-
ordem natural. E havia o homem, a quem fora dada a
lhante questão. É que o conhecimento, naquela épo-
tarefa de conhecer essa ordem previamente dada. Com
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ca, se dava na imobilidade da representação. Se se
tais pressupostos, nada mais justo do que uma moral
detectavam crescimentos, estes se davam como acrés-
da vida intelectual inflexível. Todas as interferências cimo, nunca como recomeço. Na idade clássica, o
deveriam ser eliminadas. Todas as facilidades, espe- espírito era incorruptível, era imune a toda patologia.
cialmente as da imaginação, cortadas. O conheci-
mento poderia dar-se sem traumas. Objetividade ab- Ora, é em nosso tempo, desde Kant, talvez
(se dermos ouvidos a Foucault), quando se coloca a
soluta.
pergunta sobre as condições de possibilidade da pró-
Já observamos que o pensamento científico pria representação, que o saber muda de espécie.
moderno muda radicalmente essa situação. Mudan- Torna-se um acontecimento histórico, humano, dema-
ças muito mais decisivas que as tradicionais adequa- siado humano. Então, não temos mais certeza da sua
ções metodológicas, pedagógicas ou comportamen- objetividade. Sujeito e objeto tornam-se vulneráveis.
tais. Aliás, estas devem ser solidárias de revoluções Ambos parecem constituir-se historicamente. E o co-
do próprio conhecimento. Bachelard pertence a uma nhecimento objetivo, aspiração de todo cientista, re-
tradição, bem apontada por Pascal Nouvel, num texto cebe uma densidade outra. Todo o conhecimento,

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agora, é perpassado de subjetividade. Todo conhe- Essa doutrina do conhecimento objetivo mo-
cimento, agora, nasce da luta, da guerra. A noção de derno significa um deslocamento importante face ao
obstáculo epistemológico foi constituída, por passado. Por muito tempo, a objetividade era defi-
Bachelard, para pensar esse novo ser do conhecimen- nida genericamente pelos filósofos. A epistemologia
to científico. Para mostrar que, no esforço de constru- bachelardiana critica aquele passado, especialmente
ção das verdades científicas, há conflitos, há resistên- Descartes com suas substâncias simples. A nova
cias as mais tenazes. Mais ainda, essas resistências são epistemologia há de ser não-cartesiana, ensina Le nouvel
estruturais, nascem do interior mesmo do sujeito esprit scientifique. O não tem um sentido muito pró-
epistemológico. Daí a advertência do filósofo, logo ximo do sur da expressão surréalisme. O que para
no começo de seu discurso: muitos significou obscuridade, licenciosidade, pura
“E não se trata de considerar obstáculos revolta, aparece, para Bachelard como liberdade es-
externos, como a complexidade e a piritual, criatividade, vigor do pensamento. As revo-
fugacidade dos fenômenos, nem de luções científicas modernas modificaram, em sua es-
incriminar a fraqueza dos sentidos e do sência, a própria razão. No lugar do racionalismo
espírito humano: é no ato mesmo de co- fechado de outrora, um racionalismo aberto, polêmi-
nhecer, internamente, que aparecem, por co, dialético (num sentido muito preciso, aqui),
uma espécie de necessidade funcional, re- discursivo. No lugar do racionalismo, um
tardamentos e perturbações. É aí que mos- surracionalismo. Um ideal, porém, muitas vezes abor-
traremos causas de estagnação e mesmo de tado:
regressão, é aí que revelaremos causas de “Dessa liberdade que poderia renovar to-
inércia que chamaremos obstáculos das as noções completando-as dialeti-
epistemológicos” (BACHEL ARD, camente, não se fez infelizmente uso posi-
1972b, 13). tivo, real, surrealista. Vieram os lógicos e
Acredito que é isso aí, essa interioridade, que os formalistas. E no lugar de realizar, de
merece nossa atenção. Esse terreno novo que Bachelard surrealizar, a liberdade que o espírito ex-
assinala, não é o dos historiadores das sociedades, perimentava em tais dialéticas precisas e
nem dos sociólogos, nem, certamente, dos psicólo- fragmentárias, os lógicos e os formalistas,
gos tout court. Diz respeito, sem dúvida, ao sujeito. ao contrário, desrealizaram, despsicolo-
Logo, porém, é necessário esclarecer: o sujeito da gizaram a nova conquista espiritual”
ciência. Termo que sempre deveria ser grifado com (BACHELARD, 1972a, 9).
maiúscula. Essa interioridade nada mais é do que a Os lógicos e os formalistas são, na verdade,
própria razão. Mais especificamente, para Bachelard, exemplos pouco comuns. É a atividade científica, em
a própria matemática. Para ele, a ciência moderna se todo o seu desdobramento, que está sempre ameaçada
revelara, constitutivamente, matemática. E é isto que de perder o seu dinamismo dos começos criadores.
está em jogo: as exigências de abstração que a ciên- “A nosso ver, diz Bachelard, no cap. XII de La
cia contemporânea impõe. A matematização é, na formation de l’esprit scientifique, é necessário acatar,
atualidade, mais do que registro, mais do que sim- para a epistemologia, o seguinte postulado: o objeto
ples quantificação de uma realidade anterior à ciên- não pode ser designado como um objetivo imediato;
cia. Ela é a possibilidade mesma da ciência. Quan- ou seja, o caminho para o objeto não é inicialmente
do Bachelard afirma que, em ciência, “rien ne va de objetivo” (Bachelard, 1972b, 239). É um verda-
soi, rien n’est donné, tout est construit” (Bachelard, deiro caminho das pedras. A objetividade é, rigoro-
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1972b, 14), entende que tudo é calculado, “som- samente, objetivação. Trajetória povoada de surpre-
bra de um número” (BACHELARD, 1978, 86 ). sas, de obstáculos. Trajetória de erros: “psicologica-

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mente, nenhuma verdade sem erro retificado. Uma em cena o estatuto da imagem. Então, será preciso
psicologia da atitude objetiva é uma história dos er- esquecer o homem meridiano.
ros pessoais”(BACHELARD, 1972b, 239). É, le- “Um filósofo que formou todo o seu pen-
mos em “Noumène et microphysique”, “a reforma de samento ligando-se aos temas fundamen-
uma ilusão” (BACHELARD, 1970, 14). Ou ain- tais da filosofia das ciências, que seguiu, o
da, “porque não há démarche objetiva sem a consci- mais precisamente possível, a linha do
ência de um erro íntimo e primeiro, devemos começar racionalismo ativo, a linha do racionalismo
as lições de objetividade por uma verdadeira confis- crescente da ciência contemporânea, deve
são das faltas intelectuais” (BACHELARD, 1972b, esquecer seu saber, romper com todos os
242). Conclui-se, pois, que a epistemologia hábitos de pesquisas filosóficas, se quiser
bachelardiana detecta, na razão, uma tendência ao estudar os problemas colocados pela
esgotamento, à acomodação, à inércia. Ao contrário imaginação poética” (BACHELARD,
do que se pensa, a razão não é sempre senhora de si
1974, 341).
mesma. Está sempre em perigo. Como tudo o que é
humano, envelhece. No começo do belo texto “Le Embora o filósofo confira à imaginação cientí-
surrationalisme”, Bachelard alerta: “il faut rendre à la fica um valor essencial, reconhece igualmente à imagi-
raison humaine sa fonction de turbulance et nação poética uma natureza própria. Aquela, com
d’agressivité”(BACHELARD, 1972a, 7). Adver- efeito, é o coroamento do “racionalismo ativo”. Seu
tência que sugere duas coisas: algo aconteceu com a métier é o conceito. Esta, o desdobramento da alma.
razão. Ela está debilitada. Está doente. Algo deve Trabalha com imagens. Discutir a noção bachelardiana
ser feito. A quem recorrer para reabilitá-la? A Psica- de imagem me parece tão decisivo para a sua poéti-
nálise parece poder cumprir essa função, ou, talvez, ca, quanto fora fundamental, para a epistemologia, a
possa contribuir com os seus conceitos para a crítica noção de idéia, ou de verdade. A ciência produz
da razão. verdades. A poesia, imagens.
Penso que esta segunda possibilidade é a mais A tradição, desde Aristóteles, mas ainda mui-
provável. Se crítica da razão, a Psicanálise talvez seja, tas vezes a recente, costuma definir imagem como o
aqui, um modo de se dizer Epistemologia. Sua im- que está no lugar de (alguma coisa). A linguagem
portância me parece semelhante à que Bachelard atri- seria a imagem de algo anterior a ela. A linguagem
bui a Lautréamont, uma possibilidade tonificante. Freud
teria o poder de representar. Teria por tarefa significar.
e Ducasse estão na aurora de uma nova cultura, ou

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Já mostramos que Bachelard recusa o representa-
melhor, da possibilidade de uma cultura de reencon-
trar “sua função de ensaio, de risco, de imprudência, cionismo. Daí o seu pavor pelas teorias da significa-
de criação”(BACHELARD, 1995, 155). O pro- ção, suas críticas severas a Sartre, apesar de todos os
jeto de uma Psicanálise do conhecimento objetivo progressos em seus estudos da imaginação, e a muitos
não visa fundar uma nova ciência, como se poderia, de seus contemporâneos.
talvez, pensar. Trabalho sobre o pensamento, estabe- A tradição representacionista, com efeito, se-
lece os rudimentos de uma nova filosofia. para as coisas. Estabelece um dualismo que se esgota
Nem sempre, porém, as relações de Bachelard num jogo simples entre representante e representado.
com a Psicanálise foram assim positivas. Quando o Podemos perceber isto no modo de se compreender
filósofo se volta para a arte e a poesia, não tardam os o tempo, principalmente o tempo poético. Para
primeiros conflitos. Como já adiantei, as divergências Bachelard, vale o instante, o da emergência da ima-
nascem acerca da natureza da linguagem, especial- gem. Esta não tem passado. E aqui a primeira crítica
mente a poética. Assumem dimensões próprias com à Psicanálise. Trabalhando com símbolos, ela separa,
o homem noturno. Os conflitos nascem quando entra sempre, a atualidade do passado. A verdade é sem-

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pre recorrente. Não está, jamais, presente. Para um sa toda causalidade. Bachelard lembra uma referência
freudiano, o lugar da verdade é o passado. O pre- de Proust às rosas pintadas por Elstir. Seriam uma “va-
sente é suspeito. Para tirar o véu do presente, urge o riedade nova com a qual esse pintor, como um
retorno às regiões obscuras da história do inconscien- horticultor engenhoso, enriquecera a família das Ro-
te. O atual, que é, em última instância linguagem, sas” (BACHELARD, 1974, 352).
deve então ser interpretado. Há um horror de É isto que autoriza Bachelard a falar de uma
Bachelard à interpretação. Donde procede essa ne- fenomenologia da imaginação. Uma epistemologia da
cessidade, esse quase instinto moderno, de sempre poesia configuraria o maior dos absurdos. A um filó-
interpretar? Dê a sua interpretação, é a ordem mais sofo leitor de poemas não resta outro caminho senão
freqüente de nossos professores! Mal percebem eles aquele da fenomenologia. Apesar das muitas dife-
que, buscando valorizar o aluno, desvalorizam a ima- renças entre os caminhos seguidos pelos fenomenólogos,
gem. Para Bachelard, a imagem simplesmente se mos- há uma coisa em comum: trata-se das palavras de
tra. ordem de Husserl: às coisas elas mesmas (zu den
Como já observamos acerca da epistemologia, Zachen selbst ). Ou seja: todos recusam, como pon-
também aqui um dos grandes pecados, o maior tal- to de partida, o mundo da pura forma, da represen-
vez, é o formalismo. Bachelard não pode aceitar que tação e, ao mesmo tempo, privilegiam o mundo efe-
se reduza imagem a forma. Ele acusa seus interlocutores tivamente existente, com sua densidade própria. O
de permanecerem, ainda, no conceptualismo. No acesso a tal mundo pode diferir de autor a autor. O
discurso bachelardiano, a imaginação formal cede es- princípio de acesso não: o fundamental é o mundo,
paço à imaginação material. Não se trata de esque- ou, se quisermos, são as coisas, e não o que delas se
cer o aparato formal. A escola se ocupa disso. Como diz. No caso da poesia ou da literatura, não importa
o tecnicismo científico esvazia a ciência do que lhe é o que se diz acerca de um poema ou de um romance.
essencial, o pensamento, também aqui a obra per- Importa o que eles nos dizem.
deria o que a constitui, a força imagética. Uma poe- “Para um leitor de poemas, o apelo a uma
sia, um romance, uma pintura, tudo isso que denomi- doutrina que traz o nome, freqüentemente
namos arte, ou obra de arte, se transforma, anima-se,
mal compreendido, de fenomenologia,
fala. Em Bachelard, a frase de Heidegger, a lingua-
corre o risco de não ser entendido. No
gem fala, encontra sua mais completa confirmação.
entanto, fora de toda doutrina, esse apelo
“Olhe bem uma das gravuras e a gravura vai, sozinha,
se pôr a fabular”(BACHELARD, 1994, 22).
é claro: pede-se ao leitor de poemas para
não tomar uma imagem como objeto, me-
E porque a linguagem fala, porque se dá numa nos ainda como substituto do objeto, mas
materialidade atual, não se presta à comunicação, perceber-lhe a realidade específica”
não é mediação de nada, nem de uma coisa, nem do (BACHELARD, 1974, 343).
passado. Se, eventualmente, se recorre ao passado,
se, muitas vezes, se dá asas à memória, não é para A “realidade específica” da imagem, o que
recuperar uma identidade. E quando o poeta parece isto quer dizer? – Conferir à imagem uma realidade
falar das coisas deste mundo, é apenas fingimento. anterior ao pensamento, considerá-la como instauradora
“O poeta não repete os contos da vovó. Ele não de realidade, e não representante de algo anterior a
tem passado. É de um novo mundo. Em relação ao ela. Paradoxalmente, Bachelard faz isto redefinindo
passado e às coisas deste mundo, realizou a sublima- um conceito decisivo para os clássicos: o da própria
ção absoluta”(BACHELARD, 1974, 465). Tra- imagem. Ao contrário da tradição formalista, a ima-
J. TERNES

ta-se, como lemos na Introdução a La poétique de gem para Bachelard se torna força instituinte. Ela é,
l’espace, de uma “ontologia direta”, onde se dispen- literalmente, animada. Ela é expressão da alma.

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Em La poétique de l’espace fazem-se duas cias. A linguagem sempre encobre, sempre mascara
distinções que reforçam essa idéia de dinamismo, de algo (um desejo, um complexo, etc.). Para Bachelard,
força criadora, de imaginação criadora: trata-se da a linguagem poética não oculta nada. Não há nada
distinção alemã entre Geist e Seele (espírito e alma), para além dela mesma. Ela é a realidade, é ser. “A
que os franceses não fazem, e da distinção entre re- palavra fala”(BACHELARD, 1974, 350). Certa-
percussão e ressonância, inspirada em Minkowski. A mente, diz Bachelard, uma poesia como “absoluta
repercussão se dá nas profundezas da alma. As resso- criação” é algo raro. Mas é preciso separar os domí-
nâncias, na exuberância do espírito. nios próprios da fenomenologia e da psicanálise. “O
A fenomenologia se interessa, antes de tudo, psicanalista pode estudar bem a natureza humana dos
pela repercussão. Já as ressonâncias são objeto da poetas, mas não está preparado, pelo fato de estagiar
Psicologia e da Psicanálise. Estas, no entanto, proí- na região passional, para estudar as imagens poéticas
bem-nos o ser. O máximo que fazem é descrever sen- em sua realidade superior. C. G. Jung disse aliás
timentos. A fenomenologia, somente ela, nos coloca bem claramente, seguindo os hábitos de julgamento
no devir do ser. É que, ao contrário daquelas, não da psicanálise, o interesse se desvia da obra de arte
conta com medidas prévias de avaliação, métodos para se perder no caos inextricável dos antecedentes
com pretensões de objetividade. psicológicos, e o poeta se transforma num caso clíni-
co, um exemplo que traz consigo um número determi-
O fenomenólogo não é um crítico literário, nem nado da ‘psychopathia sexualis’. Assim a psicanálise
um professor de Retórica, nem um terapeuta. Estes se da obra de arte se afastou do seu objeto, transpôs o
distanciam da obra, para sobre ela pronunciar um juízo, debate para um domínio geralmente humano, que não
ou fazem dela um meio para (alguma coisa). Aquele é o campo específico do artista e não tem importân-
se contenta com a leitura feliz. Vive, de alguma ma- cia para sua arte” (BACHELARD, 1974, 351).
neira, a obra. O perigo que a Psicanálise corre é redu-
zir a linguagem a um utensílio, linguagem-instrumento. Vimos que a arte é criadora de realidade. E o
Para o fenomenólogo, trata-se de linguagem-realida- faz, nos momentos mais fecundos, numa total solidão.
de. Daí se poder falar em sublimação pura. Poderíamos,
talvez, dizer melhor: a arte é criadora de irrealidade.
O mais fundamental é que nos encontramos A tradição sempre desclassificou a função de
diante de uma filosofia da linguagem, uma certa com- irrealidade. O irreal sempre fora codificado como pura
preensão da linguagem poética. Contra o atomismo fantasia. O máximo que se lhe concedia era uma fun-

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lingüístico, Bachelard vê a linguagem poética como ção de divertimento. Não era uma função positiva.
um escoar imaginário. Trata-se da linguagem vivida.
E nisto, novamente, a Psicologia e a Psicanáli-
Ou, talvez, da linguagem viva. É essa filosofia que
se dão a sua contribuição. Para elas, a própria noção
leva nosso autor ao confronto constante com Freud. de imagem vem carregada de negatividade. A ima-
Poderíamos fazer o inventário desses confrontos. De- gem é sempre vista como simples reprodução. E o
mandaria tempo e paciência. Contentar-nos-emos com próprio Bergson, um dos que mais investigou a imagi-
alguns exemplos, ou algumas indicações, além das já nação, somente de passagem fala da imaginação pro-
feitas acima. dutora. Também para ele, ela não passa de “diverti-
Já assinalamos que a linguagem poética é en- mentos da fantasia”.
tendida, por Bachelard, como sublimação pura. Quer Ora, Bachelard leva a sério esse lado da ques-
dizer, uma sublimação absoluta, “que não sublima tão: o da criação pura, o da “pura fantasia”. Para
nada”(BACHELARD, 1974, 349). De imediato, isso, será preciso conferir positividade à imaginação.
entram em cenas a Psicologia e a Psicanálise. Conhe- Isto é, percebê-la como lugar de instauração de reali-
cemos bem o sentido da “sublimação” nessas ciên- dade. Ou, se quisermos permanecer realistas, dar

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positividade ao irreal. Contra todas as aparências, psicanalíticos são suspeitos, guardam nossas perver-
configura-se aí a radicalidade do materialismo bachelar- sões. A topoanálise estuda abrigos e aposentos, es-
diano. Pode-se perceber isto nas análises espaciais paços vividos. Os espaços bachelardianos guardam,
do filósofo. pois uma positividade. Eles existem, não para serem
desmascarados, mas para serem reencontrados, vivi-
O espaço, com efeito, constitui um dos mais dos. A casa bachelardiana é a morada primeira do
instigantes temas da poética bachelardiana. Há, sem ser. Nós nos identificamos com a primeira morada, a
dúvidas, infinitos espaços, e, também, infinitos moti- casa natal.
vos para a poesia. Um dos mais comuns é a casa.
Que a casa seja objeto para o engenheiro e o arquite- A mesma reflexão pode dar conta de outros
to, nada de estranho. Estranho é tornar-se objeto de espaços. Os cofres, por exemplo. O cofre, também
filosofia. Mas justamente aqui vamos encontrar uma ele, nos é dado, pelos escritores, para ler. Escreve-se
novidade: a filosofia não pode considerá-la como um cofre. Lê-se um cofre. Há um peso nessas afirma-
“objeto”. Ela deve, antes, “superar os problemas da ções. Bachelard lembra Rilke. Este poeta, “sem dúvi-
da alguma, gostava de fechaduras”(BACHELARD,
descrição”(BACHELARD, 1974, 357). Somen-
1974, 409). Transcrevo uma citação tirada, por
te assim poderá “atingir as virtudes primeiras”(ibid.)
Bachelard, de uma carta a Liliane:
do habitar. Quer dizer, o filósofo busca outra coisa
que o cientista. Ele vai explorar matizes, valores par- “Tudo o que tiver a marca dessa experiên-
ticulares, valores da imaginação, que é sempre parti- cia indizível deve ficar distante ou então
cular. Já a ciência, ensina-nos a epistemologia, pro- só dá lugar às ligações familiares mais dis-
cura valores racionais. A casa talvez seja uma das cretas, cedo ou tarde. Sim, devo confessá-
fontes mais intensas do imaginário. Mais originária, -lo, imagino que isso deveria passar-se um
também. Ela é “nosso primeiro universo” (BACHELARD, dia como se passa com as fechaduras for-
1974, 358). tes e imponentes do século XVII, que en-
chiam toda a tampa de um baú, com pa-
A noção de matiz nos parece muito interes- rafusos de toda sorte, garras, barras e ala-
sante. Enquanto, nas ciências, se desprezam os mati- vancas, enquanto que uma chavezinha
zes, os detalhes, a subjetividade, e se procura o má- dócil retirava todo esse aparato de defesa
ximo de economia e de funcionalidade, aqui entram e de proibição de seu centro mais centrado.
em cena outros valores, os da intimidade, os que ali- Mas a chave não age sozinha. Tu sabes
mentam o devaneio. Um dos mais interessantes pare- também que os buracos das fechaduras de
ce ser o que concerne à memória. Uma fenomenologia cofres semelhantes estão escondidos sob um
da casa deve incluir as lembranças das outras casas, botão ou sob uma lingüeta, obedecendo
principalmente da primeira casa. Não porém uma apenas a uma pressão secreta”
volta ao passado do historiador, mas a do poeta. O (BACHELARD, 409).
historiador descreve, documenta. O poeta revive, ou,
talvez, vive de novo, já que o passado não se repe- A Psicanálise, assinala Bachelard, trabalha as-
te, mas sempre é mais no devaneio presente. siduamente este tema. Por outro lado, ela torna as
coisas muito fáceis. Sonhar, por exemplo, com chaves
Em oposição à Psicanálise, onde os espaços e fechaduras, já encontra, na Psicanálise, uma resposta
se encontram sempre deslocados, Bachelard propõe pronta. “Mas a poesia ultrapassa os limites da
uma topoanálise. Uma psicologia do espaço. Ao psicanálise”(BACHELARD, 1974, 410). O de-
contrário das ciências, que se ocupam com projeções vaneio poético não é redutivo. Abre um mundo mai-
de um espaço exterior, esta psicologia define um es- or do que a chave e a fechadura. Há aí muito mais
J. TERNES

paço íntimo, uma topofilia. Os espaços científicos do que apenas um complexo. O cofre poético tem
são frios, distantes, neutros, todos iguais. Os espaços uma positividade. É um mundo.

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Assim, a seca geometria dos clássicos vai, ago- mologia, fez sucesso a proposta de uma psicanálise
ra, ser habitada. Pode-se, então, imaginar uma curva da razão, de um a psicanálise do conhecimento obje-
quente. As curvas convidam ao repouso. Pode-se tivo. É preciso devolver à razão humana “sua função
imaginar um cone frio. E as cores? Com Bachelard, de turbulência e de agressividade”, lemos nas primei-
as cores são mais do que um material colocado na ra linhas de L’engagement rationaliste. É preciso de-
tela. Elas instauram realidade. nunciar os obstáculos que o próprio exercício da ra-
E um canto, para um poeta, torna-se, também zão cria para si, pois, também na busca da verdade,
ele, habitado. O meu canto. Há aí mais do que um prevalece a lei da inércia. Mas não é somente o espí-
ângulo reto. Há valores cuja medida escapa à nossa rito que pode adoecer. A alma, também ela, pode-
métrica. rá, de algum modo, entrar em estado patológico.
Também ela pode envelhecer. Então, sua força
No começo da reflexão sobre o interior e o
exterior, lemos: “...em filosofia, todas as facilidades imaginante enfraquece. Aqui, no entanto, o remédio
se pagam, e o saber filosófico começa mal a partir de parece ser mais difícil. As asas da imaginação, uma
experiências esquematizadas” (BACHELARD, vez cortadas, ou mutiladas, não renascem de uma
1974, 494). Eis a filosofia de Bachelard! Ir além hora para outra, com simples lições de estética, de
do espírito escolar, prisioneiro da forma. teorias da arte, de crítica literária. Está em questão o
ser mesmo que imagina e que precisa, como vemos
A dialética do interior e do exterior se presta,
mais do que outras, a “experiências esquematizadas”. insinuado em Lautréamont, de ocasiões tonificantes.
Na verdade, a dualidade exterior/interior fora, na his-
tória do pensamento ocidental, o espaço privilegia- Bibliografia
do do espírito geométrico. Quando um filósofo como
Bachelard se empenha numa filosofia intensiva, en- BACHELARD, G. O direito de sonhar. Rio de Janeiro:
contra as maiores dificuldades para intensificar uma Bertrand Brasil, 1994.
dialética já bastante velha, prenhe dos vícios da
ocularidade. . L’engagement rationaliste . Paris:
P.U.F., 1972a.
Com efeito, diz o filósofo, referindo-se à filo-
. Études. Paris: Vrin, 1970.
sofia de seu tempo: “...se o metafísico não desenhas-
se, será que ele pensaria?” (BACHELARD, 1974, . La formation de l’esprit scientifique.

BACHELARD E FREUD: ALARGAR O ESPÍRITO, TONIFICAR A ALMA


492). Paris: Vrin, 1972b.
Como fazer filosofia num contexto de relações . Lautréamont . Paris: José Corti,
metafóricas, apenas formais? Este parece ser o desafio 1995.
de Bachelard: transgredir o formalismo em que a filo- . Le nouvel esprit scientifique. Paris:
sofia se encontrava, desde muito tempo, enredada. P.U.F., 1978.
José Américo Pessanha percebera, com muita luci-
. A poética do espaço. São Paulo:
dez, que estava aí, na distinção entre o formal e o
Abril Cultural, 1974.
material, o que separava Bachelard de boa parte de
seus contemporâneos. . A psicanálise do fogo. São Paulo:
Martins Fontes, 1994.
Para Bachelard, segundo Pessanha, as duas
funções psíquicas mais importantes são a vontade e a . A Terra e os devaneios do Repouso.
imaginação. Cabe à filosofia a vigilância para que São Paulo: Martins Fontes, 1990.
essas funções não sejam bloqueadas. Cabe à filosofia . A Terá e os devaneios da Vontade.
buscar, de alguma maneira, o remédio. Em sua episte- São Paulo: Martins Fontes, 1990.

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110 Artigo

BONICALZI, F. “La psychanalyse entre science et NOUVEL, P. “Bachelard – Canguilhem, naissance d’une
rêverie”. Cahiers Gaston Bachelard, n. Spécial. Dijon: tradition de pensée?” Cahiers Gaston Bachelard, n. 1.
Université de Bourgogne, 2004, p. 90-102.
Dijon: EUD, 1998, p. 107-114.
DESCARTES, R. Regras para a direção do espírito.
Lisboa: Estampa, 1977. PINHEIRO, A .G. “À propos d’une nouvelle
LIBIS, J. L’eau et la mort . Dijon: Centre Gaston psychanalyse”. Cahiers Gaston Bachelard, n. 4. Dijon:
Bachelard, 1996. EUD, 201, p. 91-104.
J. TERNES

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