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Dimensionamento Otimizado de Blocos de Ancoragem

para Tubulações sob Pressão


Optimized Design of Thrust Blocks for Pressurized Pipelines

Jordlly Silva (1); Graciano Mendonça (1); Mayara Modesto (1); Tiago Agra (1)

(1) Engenheiro Civil, Companhia Pernambucana de Saneamento – COMPESA

Resumo

No presente trabalho é proposto um procedimento de análise de blocos de ancoragem utilizando técnicas


de otimização, onde o custo de fabricação do bloco é entendido como uma função objetivo a ser
minimizada, que deve satisfazer restrições, representadas pelas verificações de equilíbrio no bloco, tendo
como variáveis de projeto as dimensões desse elemento. A função objetivo proposta considera na sua
composição, além do volume de concreto, outros gastos, como: formas, escavações e reaterro. Dessa
forma, tornando a análise mais próxima da realidade. Uma vez definido o referido procedimento, este é
aplicado a um caso real de um sistema de abastecimento de água, onde são comparados os custos totais
de fabricação dos blocos de ancoragem: antes e após a utilização da técnica proposta. Com isso, foi
observado uma economia de aproximadamente 24% nos custos com esse elemento, o que demostra os
benefícios da utilização desse método.

Palavra-Chave: Blocos de Ancoragem; Otimização; Empuxos Hidráulicos; Concreto; Saneamento Básico.

Abstract
In this work, a Thrust blocks analysis procedure is proposed, using optimization techniques. The Block’s
fabrication cost is placed as an objective function to be minimized, that should satisfy restrictions,
represented by the equilibrium conditions of the block, which the variables are the dimensions of the
element. Additional to that, the proposed objective function consider in your formulation, besides the
concrete volume, another costs, for example: Forms, excavations and filling. That way, approximating the
analysis to reality. Once defined the procedure, it is applied to a real case of a water supply system, where
are compared the costs of fabrication of the blocks before and after the study. A savings of approximately
24% was observed in the costs of these elements, which demonstrates the benefits of using this
methodology.
Keywords: Thrust Blocks; Optimization; Thrust; Concrete; Sanitation

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1 Introdução
O conceito de otimização é uma ideia que, intuitivamente, está presente no raciocínio do
engenheiro civil: executar uma atividade, com qualidade, ao mesmo tempo, minimizando
os custos envolvidos. No caso do cálculo estrutural, no desenvolvimento dos seus
projetos, o calculista tenta sempre conceber uma solução econômica, ainda assim,
satisfazendo algumas restrições no comportamento da estrutura. No problema em
questão, o dimensionamento de blocos de ancoragem, construção muito utilizada em
obras voltadas ao saneamento básico, não é diferente. No dimensionamento desses
elementos em concreto, para tubulações sobre pressão, diminuir o custo de fabricação
dos elementos através da redução do volume de concreto, por exemplo, respeitando
sempre certas limitações para o seu comportamento e segurança, é um objetivo do
projetista.
Os blocos de ancoragem têm por finalidade equilibrar os esforços provenientes de
empuxos hidráulicos, que resultam de curvas nas linhas de recalque. Em algumas
situações, devido a magnitude das pressões que a tubulação está sujeita, o diâmetro da
mesma e a angulação da curva, os valores dos empuxos podem ser bastante elevados,
resultando em blocos de ancoragem com dimensões consideráveis.
Com o objetivo de gerar economia na execução dos blocos, são, geralmente, aplicados
métodos de tentativa e erro, variando-se assim, as dimensões do bloco, tentando definir
uma geometria que consiga satisfazer verificações de equilíbrio na estrutura (como
tombamento e deslizamento) e necessite do menor volume de concreto possível, por
exemplo.
Apesar desse método efetivamente conseguir determinar dimensões econômicas para os
blocos (ainda assim, satisfazendo as verificações citadas), em alguns casos, a
metodologia pode não atingir a geometria com o menor custo, e esse gasto adicional, não
eliminado no processo de tentativa e erro, pode ser acumulado em vários blocos de
ancoragem ao longo de uma adutora e gerar um acréscimo no insumo total, podendo ser
relevante no orçamento da construção.
Visando apresentar uma alternativa viável para esse problema, é proposto nesse trabalho
um procedimento de análise de blocos de ancoragem cúbicos, para curvas horizontais
com junta elástica, utilizando técnicas de otimização, onde o custo de fabricação do bloco
é entendido como uma função objetivo a ser minimizada, que deve satisfazer restrições,
representadas pelas verificações de equilíbrio no bloco, tendo como variáveis de projeto
as dimensões desse elemento.

2 Dimensionamento de blocos de ancoragem


Essa seção tem como objetivo apresentar os principais conceitos e premissas utilizados
no dimensionamento de blocos de ancoragem, como: o cálculo do empuxo hidráulico, os
principais parâmetros geotécnicos necessários, assim como as verificações de segurança
realizadas. Nesse estudo, optou-se por seguir a metodologia indicada por LASMAR
(2003).

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2.1 Empuxo Hidráulico
Segundo LASMAR (2003), tubulações condutoras de líquidos sob pressão, que utilizam
juntas elásticas nas conexões, como adutoras de água bruta, por exemplo, estão sujeitas
a esforços desequilibrantes nos locais de mudança de direção, como curvas e tês,
denominados empuxos hidráulicos ( EH ). A Figura 1 exemplifica essa situação, mostrando
o sentido do empuxo resultante na curva, concordante com a bissetriz do ângulo interno
da conexão.

EH

 De 2  De 2
Fp Fp
4 4

Figura 1 – Empuxo hidráulico resultante em uma curva com junta elástica

Nessa ilustração, a força F pode ser calculada como o produto da pressão interna de
projeto nesse ponto da adutora, p , pela área da tubulação, relativa ao diâmetro externo,
De . Aplicando-se o equilíbrio das forças, na Figura 1, na direção vertical, é possível
definir a resultante do empuxo hidráulico ( EH ) como mostra a Eq. (1).

 De2  
EH  2 p sen   (Equação 1)
4 2

Segundo TSUTIYA (2006), a resultante do empuxo pode ser calculada de forma mais
precisa aplicando-se o teorema de Euler, presente em MUNÕZ (2000). Porém, de forma
geral, é bastante comum em projetos de engenharia a determinação desse parâmetro, de
maneira simplificada e prática, utilizando-se Eq. (1).
Com base nessa equação, é possível perceber que os três parâmetros que, basicamente,
ditam a magnitude do empuxo são a pressão interna p , o diâmetro externo De e o
ângulo da curva  .
Em relação ao diâmetro da tubulação selecionado para esse cálculo, LASMAR (2003)
recomenda que seja utilizado De e não o diâmetro nominal ( DN ) do tubo. Essa premissa
é estabelecida com base no entendimento de que na junta elástica da tubulação a
pressão interna não incide apenas na área referente ao DN do tubo, e sim a área
externa. Essa premissa de projeto também é indicada em AWWA M11 (2004).
LASMAR (2003) também ressalta que a pressão interna selecionada para esse
dimensionamento deve levar em conta a envoltória de pressões máximas a qual a
tubulação está sujeita, considerando os efeitos dos transientes hidráulicos. Apesar disso,

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também é comentado que, em casos onde a envoltória de pressões é aproximadamente
paralela a linha piezométrica da tubulação sob pressões em serviço, pode-se adotar no
projeto, de forma simplicada, as próprias pressões de serviço, majoradas por coeficientes
de segurança.
Em relação à pressão de teste, parâmetro geralmente utilizado na verificação da
estanqueidade em tubulações, é comum, na prática nacional, a não utilização desse
parâmetro no cálculo de blocos de ancoragem, apesar da sua grande magnitude. Isso é
feito visando evitar um dimensionamento excessivamente conservador, visto o curto
espaço de tempo que essa pressão atua nas tubulações, comparado à vida útil total. Com
isso, geralmente, essa carga fica compreendida nas possibilidades cobertas pelos
coeficientes de segurança do dimensionamento.
Uma vez definido o empuxo hidráulico que ocorre na conexão da tubulação, visando
garantir a segurança da construção, o engenheiro civil responsável pelo projeto deve
avaliar a necessidade de execução de elementos especiais de ancoragem para esse
esforço.

De forma aproximada, para curvas no plano horizontal LASMAR (2003) determina que a
utilização de blocos de ancoragem pode ser dispensada caso a Eq. (2) seja satisfeita, ou
seja, a tensão transmitida ao solo referente ao empuxo, em 50 cm de tubo (  EH ), seja
inferior a tensão horizontal admissível do solo (  ADM . H ), tendo como valor máximo 0,40
kg/cm2, caso não tenha havido determinação por ensaios de laboratório.

EH
 EH    ADM .H  0, 40kg / cm 2 (Equação 2)
50cm . De

Combinando as equações Eq. (1) e (2), pode-se obter Eq. (3), que fornece a pressão
máxima admitida na conexão que aplica ao terreno uma tensão menor ou igual a
admissível, de acordo com o diâmetro externo De e o ângulo da curva  .

 ADM .H
pmax  (Equação 3)
 
 .De.sen  
2

Com o objetivo de tornar essa verificação mais prática e simples, é possível, com base na
equação acima elaborar a Tabela 1, que fornece as pressões máximas permitidas ( pmax ),
de acordo com os parâmetros envolvidos, as quais não é necessária a utilização de
blocos de ancoragem.
Exemplificando: para uma curva de 45º com De igual a 326 mm (DN igual a 300 mm),
sendo  ADM .H desconhecida (adotar 0,40 kg/cm²), a pressão máxima admissível sem
bloco de ancoragem nessa conexão é 25 x 0,4 = 10 m.c.a. Por outro lado, caso seja
possível comprovar, via sondagens geotécnicas, um  ADM . H igual a 2,00 kg/cm², por
exemplo, o pmax passaria a ser igual a 25 x 2 = 50 m.c.a., isso ressalta a importância do
tipo do solo na análise de blocos de ancoragem para tubulações.
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Tabela 1 – Pressões máximas onde é dispensada a utilização de blocos de ancoragem
Pressões máximas permitidas ( pmax )
Diâmetro Ângulo da curva  (graus)
externo De
(mm) 11,15 22,5 45 90
118 277  ADM . H 138  ADM . H 70  ADM . H 38  ADM . H
170 192  ADM . H 95  ADM . H 48  ADM . H 26  ADM . H
222 147  ADM . H 73  ADM . H 37  ADM . H 20  ADM . H
274 119  ADM . H 59  ADM . H 30  ADM . H 16  ADM . H
326 100  ADM . H 50  ADM . H 25  ADM . H 13  ADM . H
378 86  ADM . H 43  ADM . H 22  ADM . H 11  ADM . H
429 76  ADM . H 38  ADM . H 19  ADM . H 10  ADM . H
480 68  ADM . H 33  ADM . H 17  ADM . H 9  ADM . H
532 61  ADM . H 30  ADM . H 15  ADM . H 8  ADM . H
635 51  ADM . H 25  ADM . H 13  ADM . H 7  ADM . H
738 44  ADM . H 22  ADM . H 11  ADM . H 6  ADM . H
842 38  ADM . H 19  ADM . H 9  ADM . H 5  ADM . H
945 34  ADM . H 17  ADM . H 8  ADM . H 4  ADM . H
1048 31  ADM . H 15  ADM . H 7  ADM . H 4  ADM . H
Obs.: Informar o valor de  ADM . H em kg/cm²

Caso essa condição não seja satisfeita, ou seja, a pressão na conexão é superior a
permitida pela tabela, a tensão transmitida ao solo é considerada relevante e, portanto, é
necessária a execução de um bloco de ancoragem. Por sua vez, para que o bloco seja
considerado estável e seguro, é fundamental a realização de algumas verificações quanto
ao seu comportamento.

2.2 Verificações e segurança

Quanto às verificações do equilíbrio estático de blocos de ancoragem, essenciais para a


avaliação da sua segurança, pode-se citar: o deslizamento horizontal, o tombamento e a
verificação das tensões verticais aplicadas ao terreno. Outras verificações menos usuais,
como: flutuação, efeitos da variação térmica e fendilhamento do bloco, podem ser
previstas em casos especiais.

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2.1.1 Geometria adotada para o bloco de ancoragem

Inicialmente, para o entendimento da metodologia de cálculo adotada, é necessário


compreender a geometria dos blocos de ancoragem, considerada no presente estudo,
Figura 2.

De 4 20cm

H
De 4
h
C A

Figura 2 – Geometria adotada para o bloco de ancoragem

A geometria ilustrada na Figura 2 foi escolhida com o objetivo de concordar com a


bibliografia técnica LASMAR (2003). Apesar disso, é possível encontrar nas práticas
construtivas nacionais e internacionais os mais diversos formatos para blocos de
ancoragem, como: blocos trapezoidais e piramidais (NBR 13211:1994). O procedimento
de análise que será demonstrado nesse trabalho pode ser adaptado para tais geometrias,
retificando-se as formulações envolvidas.

2.1.2 Sistema de forças atuante em um bloco de ancoragem

Após compreendida a geometria adotada para o bloco de ancoragem, é possível avaliar o


sistema de forças atuante no mesmo, com base na Figura 3.
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p1

EH EA

PB FP
yE
yP

p2
FAT
Figura 3 – Sistema de forças atuante em um bloco de ancoragem

É possível ver nessa ilustração:


EH Empuxo hidráulico, já discutido anteriormente;
PB Peso próprio do corpo do bloco (região compreendida pelas dimensões A  B  H );
EA Empuxo da água relativo ao volume submerso do corpo do bloco;
p1 Empuxo passivo na parte superior do bloco;
p2 Empuxo passivo na parte inferior do bloco;
FP Resultante do empuxo passivo do terreno que se opõem ao empuxo hidráulico;
FAT Força de atrito na base do bloco, relativa ao peso efetivo do mesmo;
yE Distância da resultante do empuxo hidráulico a base do bloco;
yP Distância da resultante do empuxo passivo do solo a base do bloco;

São desconsiderados no sistema de forças em estudo os pesos: da base do bloco (região


abaixo da tubulação, compreendida entre as dimensões C  B  h ), do tubo preenchido de
água e do berço de concreto que conecta o tubo ao bloco. Isso é feito devido à pequena
influencia dessas cargas, em comparação com as demais, já citadas, além de ser uma
aproximação a favor da segurança.
Dependendo do caso estudado, e a critério do projetista, pode-se desconsiderar a
resultante do empuxo passivo do solo, atuante no bloco, FP . Essa hipótese, geralmente, é
adotada no projeto de blocos de ancoragem em regiões urbanizadas ou em locais onde
exista o risco de escavações próximas, e não seja possível garantir a contribuição do solo
lateral, em toda vida útil do bloco.

2.1.3 Deslizamento horizontal do bloco

Para que não ocorra o deslizamento horizontal de um bloco de ancoragem, é necessário


que a equação Eq. (4) seja satisfeita, ou seja, a soma das forças resistentes ao
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deslocamento horizontal ( FP e FAT ), minoradas por coeficientes de segurança (  E e  S )
seja maior ou igual ao empuxo EH . Os coeficientes de segurança  E e  S podem ser
estimados, respectivamente, como 1,5 e 2,0.

FAT FP
  EH (Equação 4)
E S

A força resultante do empuxo passivo do solo ( FP ) pode ser calculada como a área do
trapézio da Figura 2 (delimitado pelas tensões p1 e p2 ), multiplicada pela largura do bloco
B , Eq. (5), onde H é a altura desse elemento.

p1  p2
FP  H .B (Equação 5)
2

Os empuxos passivos do solo p1 e p2 podem ser calculados, de acordo com a mecânica


dos solos, como:

 
p1   SOLO hATERRO tan 2  45º   (Equação 6)
 2

 
p2   SOLO (hATERRO  H ) tan 2  45º   (Equação 7)
 2

Os parâmetros  SOLO e hATERRO representam o peso específico do solo e a cobertura de


aterro acima do bloco, enquanto que  é o ângulo de atrito interno do solo.
Voltando a equação Eq. (4), a força de atrito na base do bloco FAT pode ser definida
como:

FAT  ( PB  E A ) tan( ) (Equação 8)

Nessa equação, EA torna-se relevante em regiões com riscos de inundações ou em


situações em que o bloco encontra-se parcialmente (ou totalmente) submerso pelo lençol
freático.
O parâmetro  é o ângulo de atrito entre o concreto e o solo (da ordem de 30º), que não
deve ser confundido com o parâmetro geotécnico ângulo de atrito interno do solo  ,
mencionado anteriormente. LASMAR (2003) comenta que  não deve ser superior a  ,
para evitar problema com arrastamento da camada de solo.
Combinando as equações Eq.(4) e Eq. (8), pode-se obter:

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E  FP  EA
VMIN   EH    (Equação 9)
 CONC tan( )   S   CONC

Onde VMIN é o volume mínimo de concreto a ser emprego para que não ocorra o
deslizamento do bloco, enquanto que  CONC é o peso específico do concreto. No caso de
blocos em concreto simples, a NBR-6118:2014 permite adotar  CONC como 24 kN/m³. Com
base na equação Eq. (9) é possível verificar a segurança quanto ao deslizamento
horizontal de blocos de ancoragem, através da comparação do volume de concreto
empregado com o valor mínimo admissível.

2.1.4 Tombamento do bloco

De forma análoga à verificação quanto ao deslizamento, para que não ocorra o


tombamento do bloco é necessário que a equação Eq. (10) seja satisfeita, ou seja, o
momento resultante estabilizante (formado pelas componentes do peso do corpo do bloco
e da resultante do empuxo passivo do solo) seja superior ao momento de tombamento
(devido ao empuxo hidráulico).

A
FP yP  ( PB  E A )  EH y E (Equação 10)
2

Reorganizando a equação, pode-se determinar o valor da excentricidade e , como:

A EH yE  FP yS
 e (Equação 11)
2 PB  E A

Segundo a teoria clássica da resistência dos materiais, para que, além de não ocorrer o
tombamento do bloco, não surjam tensões de tração no solo, a excentricidade e deve
estar contida no núcleo central da base do bloco, ou seja:

A EH yE  FP yS
 e (Equação 12)
6 PB  E A

Como essa hipótese é mais restritiva que a equação Eq. (11), pode-se utilizar apenas
Eq. (12) na verificação do elemento, sem que haja perda de segurança no cálculo. Com
isso, é possível estudar o comportamento do bloco quanto ao tombamento, apenas
avaliando-se a relação da largura do elemento ( A ) com a excentricidade e .

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2.1.5 Tensões aplicadas ao terreno

Por sua vez, o bloco é considerado satisfatório, quanto às tensões aplicadas ao terreno
(  V ), quando esses esforços não ultrapassam o limite admissível, na vertical,  ADM .V .
Uma vez conhecida a excentricidade e , de acordo com a resistência dos materiais, pode-
se definir as tensões aplicadas ao terreno  V como:

PB  6e  PA
V  1      ADM .V (Equação 13)
A.B  A  A.B

Onde PA é o peso da camada de aterro sobre o bloco de ancoragem, parâmetro


desconsiderado nas outras verificações (hipótese a favor da segurança).
Com isso, de forma geral, as equações Eq. (9), (12) e (13) podem ser utilizadas para
verificar o equilíbrio estático de blocos de ancoragem.

3 Orçamento de blocos de ancoragem e Função custo

Nessa seção é detalhada a metodologia para o orçamento de blocos de ancoragem,


representada pela função custo minimizada no procedimento de solução proposto. A
referida função foi elaborada de forma semelhante a planilhas orçamentárias reais. Isso
foi feito com o objetivo de tornar a análise o mais próxima possível do real custo de
fabricação dos elementos.
A função custo elaborada é composta por oito partes: locação, escavação mecanizada,
escoramento, concreto magro, formas, lançamento do concreto, volume de concreto do
bloco e reaterro. Essas parcelas do custo total, por sua vez, são obtidas pelo produto dos
respectivos quantitativos pelo seu preço unitário.
Os preços unitários ( Pi ) adotados para compor o custo dos blocos de ancoragem, foram
baseados na Tabela SINAPI 02/2017, Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices
da Construção Civil, que efetua a produção de custos e índices da construção civil através
do levantamento de preços de materiais e salários. Mensalmente, o IBGE, Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, em convênio com a CEF, Caixa Econômica Federal,
lança tabelas atualizadas para as capitais do Brasil. Na ocasião, adotou-se a tabela de
custos unitários do SINAPI, desonerado, com data-base 02/2017 (fevereiro de 2017),
localidade Recife/PE. Os preços unitários considerados nesse estudo constam na Tabela
2, e, naturalmente, podem variar de acordo com a região do país, a categoria do solo
encontrado em campo e o nível de interferência do ambiente na execução da obra.
Por sua vez, os quantitativos ( Qi ) foram levantados de acordo com o método construtivo
de blocos de ancoragem, geralmente empregado. Com base na Figura 4, assim como na
última coluna da Tabela 2, é possível obter os quantitativos das oito parcelas da função
custo. Com o objetivo de simplifica a elaboração da função custo, os quantitativos
relativos ao berço de conexão de concreto foram desconsiderados no presente estudo.

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Tabela 2 – Preços unitários considerados – SINAPI fevereiro/2017
Preço
Parcela do Código Descrição Respectivo Quantitativo
Unid. (R$/Unid.)
Custo Ci SINAPI Resumida Qi
Pi
Locação da obra,
Locação 73686 M² 18,98 ( A  C )B
com nivelador
Escavação com
Escavação profundidade VESCAV  (hATERRO  H )
90085 M³ 8,75
mecanizada maior que 1,5 m ( B  60cm)( A  C  60cm )
até 3,0 m
Escoramento até
Escoramento 73301 3,30 m de M³ 9,72 VESCAV
profundidade
Concreto Concreto usinado VCMAGRO  (5cm)( B  10cm)
14041 M³ 248,74
Magro C10 ( A  C  10cm)
Forma p/ AFORMA  H .B  2 H . A
Formas 74007/001 concreto de M² 23,91
fundação.  2h.C  h.B
Lanç. de conc.
Lançamento 74157/4 M³ 93,71 VCONCRETO  H .B. A  h.B.C
para fundações
34492 Concreto C20 M³ 249,29
Volume de
Concreto
34494 Concreto C30 M³ 270,46 VCONC
34496 Concreto C40 M³ 294,57

Reaterro 73964/006 Reaterro de vala M³ 42,85 VESCAV  VCONC  VCMAGRO

Obs: Para maiores detalhes na descrição dos preços, consultar a SINAPI com os códigos informados

Na Figura 4, a distância de 30 cm é um recuo mínimo, na escavação, para a execução do


bloco, com finalidade construtiva, enquanto que, na Tabela 2, para a espessura do
concreto magro, abaixo do bloco, foi adotado o valor de 5 cm. A dimensão C pode ser
calculada de forma simplificada como uma vez e meia o diâmetro externo da adutora De .
Com base nessas hipóteses, é possível definir a função custo do bloco ( fCUSTO ) como o
somatório do produto dos custos unitários pelo respectivo quantitativo Eq. (14).
8 8
fCUSTO   Ci   PQ
i 1
i i
i 1
(Equação 14)

4 Procedimento proposto

Nessa seção do trabalho, é apresentado um procedimento de análise de blocos de


ancoragem, para curvas horizontais, de acordo com a metodologia proposta por
LASMAR (2003), utilizando conceitos de otimização, ao contrário de técnicas de tentativa
e erro, opção normalmente empregada nesse tipo de cálculo.
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hATERRO

30cm C A 30cm

30cm

30cm C A 30cm

Figura 4 – Cálculo dos quantitativos do orçamento de blocos de ancoragem

As variáveis primárias, ou variáveis de projeto, selecionadas para esse estudo foram a


altura ( H ), a largura ( B ) e a profundidade do bloco de ancoragem ( A ). Visando
simplificar a análise, as dimensões do bloco abaixo da tubulação, h e C , foram fixadas.
Como, geralmente, as ordens de grandeza das três variáveis de projeto selecionadas são
relativamente próximas da unidade, não foi necessário normaliza-las.
De forma geral, uma vez fornecidos os parâmetros mecânicos, hidráulicos e geotécnicos
do problema, discutidos anteriormente, a metodologia proposta pode ser entendida como
um processo de otimização:
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Minimize f CUSTO ( A, B, H )
Sujeito a : f REST  0

Onde, f REST é a função restrição relativa à segurança do bloco, Eq. (15), detalhada a
seguir:

 VMIN  VREAL   0 
 ABS(6e)  A   0 
   
f REST    V   ADM    0  (Equação 15)
   
 B  2 A. tan(60º )   0 
 H  2 A.tan(60º )   0 

O primeiro elemento da função restrição () faz referência a verificação quanto ao


deslizamento do bloco, Eq. (9), enquanto que o segundo elemento é relativo a verificação
do tombamento do bloco, expresso na equação Eq. (12). A terceira parcela da função de
restrição da solução guarda relação com a verificação da tensão máxima vertical aplicada
no terreno, Eq. (13).
A quarta e a quinta linha da função restrição foram impostas com o objetivo de evitar que
a solução obtenha geometrias discordantes com a realidade. Sem essas duas equações,
o procedimento de otimização apresenta a tendência de propor, como geometria mais
econômica, um elemento de ancoragem semelhante a uma viga, com a dimensão B da
ordem de dez vezes as outras dimensões. Como na prática, a execução desse elemento
seria inviável, foi necessário adicionar restrições visando evitar esse descontrole com a
geometria do elemento. As equações utilizadas foram propostas com o intuído de limitar a
relação entre as variáveis de projeto de forma que o empuxo hidráulico se propague no
bloco com um ângulo máximo de 60º. Essa premissa apresentou resultados positivos no
presente estudo, apesar disso, é necessária uma análise mais apropriada quanto a esse
ponto do comportamento do bloco.
Normalmente, em método de análise por otimização, é necessário informar uma
estimativa inicial para a solução (o ponto de partida do procedimento antes de se iniciar
os cálculos). Essa atividade guarda relação com o processo de concepção de estruturas,
onde o projetista antes mesmo de determinar os esforços internos precisa definir a
geometria dos elementos estruturais, em outras palavras: fazer um pré-dimensionamento
da estrutura. Com isso, conclui-se que uma boa estimativa inicial para a solução seria um
pré-dimensionamento do bloco, dependendo do tipo de solo e da magnitude do empuxo
hidráulico. No presente estudo, as estimativas iniciais adotadas foram as dimensões
originais dos blocos de ancoragem em um projeto real (dimensionado usando tentativa e
erro). Isso foi feito com o intuito de se comparar o custo de fabricação de blocos
calculados por tentativa e erro ( CORIG ) com os otimizados pela técnica proposta ( COTM ),
conforme será visto no estudo de caso a seguir.

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5 Estudo de caso real

Para verificar a eficiência da metodologia proposta, um estudo de caso real de uma


adutora de água tratada foi selecionado. A Tabela 3 ilustra os dados relativos a cada
curva horizontal presente nessa adutora.
O diâmetro nominal da tubulação, DN , foi considerado igual a 500 mm ( De igual a 532
mm), enquanto que o cobrimento de aterro sobre o bloco, hATERRO , foi igual a 80 cm. Nesse
estudo, o nível d’água N.A. foi utilizado para calcular o volume submerso do bloco, e,
consequentemente, o empuxo vertical EA . A densidade do solo e do concreto (C20) foram
admitidas como 17 e 24 kN/m³ respectivamente. O ângulo de atrito interno do solo foi
considerado igual a 32º, enquanto que o ângulo de atrito solo-concreto foi fixado em 30º.
As tensões admissíveis vertical e horizontal do solo foram 200 e 100 kN/m² (2 e 1 kg/cm²).
A dimensão h , altura do bloco abaixo do tubo, foi considerada igual a 40 cm.
De posse desses dados, foi possível concluir que as curvas 16,17 e 18 não aplicam ao
terreno tensões superiores ao limite estipulado pela Tabela 1, e, com isso, não é
necessária a execução de blocos de ancoragem.
Uma vez feita essa análise inicial, as curvas onde foi considerada necessária a execução
de blocos de ancoragem foram submetidas ao procedimento proposto, considerando
como estimativa inicial para a solução as dimensões originais do projeto real, Tabela 3.
Como solução foram obtidas as dimensões otimizadas, também ilustradas nessa tabela
juntamente com os respectivos custos de fabricação, de acordo com a função
custo fCUSTO , exposta no capítulo 3.
Com base na Tabela 3, e sabendo que tanto os blocos originais como os otimizados
satisfazem as verificações de equilíbrio, é possível verificar que os elementos
aprimorados conseguem obter dimensões mais econômicas que a geometria original,
resultando em uma economia acumulada de R$17.088,21(-24%) ao longo da obra. Esse
fato mostra os potenciais benefícios financeiros de se empregar técnicas de otimização no
projeto de blocos de ancoragem.
Além disso, é importante salientar a eficiência computacional demonstrada pelo
procedimento proposto, onde o tempo de processamento para a análise de cada curva foi
aproximadamente 4 segundos.

6 Conclusões e sugestões para futuros estudos


No presente trabalho, um procedimento de análise de blocos de ancoragem, para curvas
horizontais com junta elástica, baseado em LASMAR (2003), utilizando algoritmos de
otimização, foi apresentado. Com base nos resultados obtidos nesse estudo, foi possível
obter as seguintes conclusões:
 O entendimento do processo de dimensionamento de blocos de ancoragem como
um problema de otimização estrutural pode ser considerada uma opção vantajosa,
visto a capacidade dessa metodologia em encontrar geometrias econômicas para os
elementos estruturas, ainda assim, solicitando um relativo baixo tempo de
processamento;

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Tabela 3 – Estudo de caso real
Pressão interna BLOCO ORIGINAL BLOCO OTIMIZADO
da Tubulação

Nível d'água

Profundidade

Profundidade
Ângulo da

Fabricação

Fabricação
Largura do

Largura do
Curva

Altura do

Altura do
do Bloco

do Bloco
Custo de

Custo de
Numeração

Bloco

Bloco

Bloco

Bloco
 p N.A. B A H CORIG B A H COTM
° m.c.a. m m m m R$ m m m R$
1 90 89 1,3 3,00 2,90 1,50 6.944,53 2,90 2,51 1,59 6.255,08
2 90 88 1,3 3,00 2,90 1,50 6.944,53 2,89 2,50 1,58 6.178,81
3 90 87 1,3 3,00 2,90 1,50 6.944,53 2,87 2,49 1,58 6.102,62
4 90 86 3,65 3,00 2,90 1,50 6.944,53 2,50 2,17 1,66 5.000,13
5 45 83 3,65 3,00 2,60 1,00 4.623,10 1,85 1,60 1,37 2.574,31
6 11,15 82 0,85 1,50 1,50 0,70 1.300,40 0,97 0,84 0,92 744,28
7 90 81 0,85 3,00 2,70 1,50 6.537,39 2,97 2,58 1,50 6.238,11
8 90 77 0,85 3,00 3,00 1,50 7.148,36 2,90 2,52 1,48 5.907,70
9 45 78 3,6 3,00 2,60 0,80 3.948,11 1,80 1,56 1,34 2.416,88
10 45 77 3,6 3,00 2,60 0,80 3.948,11 1,78 1,55 1,34 2.385,44
11 90 77 3,6 2,60 2,60 1,50 5.540,87 2,38 2,06 1,60 4.463,91
12 90 77 3,6 2,60 2,60 1,50 5.540,87 2,38 2,06 1,60 4.463,91
13 11,15 77 3,6 1,30 1,30 0,80 1.135,04 0,78 0,86 0,99 663,81
14 22,50 75 3,6 2,00 2,00 1,00 2.591,56 1,23 1,06 1,11 1.171,39
15 45 27 0 1,6 1,5 1,00 1.723,67 1,50 1,30 0,85 1.332,40
16 22,5 7 0 - - - - - - - -
17 11,15 6 0 - - - - - - - -
18 22,5 6 0 - - - - - - - -
TOTAL 71.815,70 54.727,39

 No estudo de caso real analisado, o procedimento conseguiu encontrar uma


geometria mais econômica que a original, obtida por tentativa e erro, para todas as
curvas, ainda que, em algumas conexões, as dimensões tenham sido consideráveis.
Além disso, pode-se considerar como possíveis aprimoramentos para esse trabalho,
sugeridos para estudos futuros:
 Analisar o comportamento de outras geometrias de blocos, que apresentam a
tendência de serem mais eficientes que o cúbico, como: o trapezoidal e o piramidal.
Com isso, a formulação adotada necessitaria ser adaptada para as novas
topologias, o que iria elevar o número de variáveis de projeto do problema;
 Tornar o parâmetro h , fixado no presente estudo, uma variável de projeto e, com
isso, avaliar os valores obtidos para essa dimensão em um bloco otimizado;
 Adicionar à função custo o gasto com a armação dos blocos, geralmente empregada
em elementos com dimensões elevadas, com o objetivo de controlar a fissuração;
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7 Referências

American Water Works Association. AWWA M11 - Steel Water Pipe: A Guide for
Design and Installation – Manual of Water Supply Practices., USA, 2004.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Dimensionamento de ancoragens para


tubulação (NBR 13211). Rio de Janeiro, Brasil, 1994.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto –


Procedimento (NBR 6118). Rio de Janeiro, Brasil, 2014.

Caixa Econômica Federal. SINAPI - Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e


Índices da Construção Civil. Recife, Brasil, 2017

LASMAR, I. Ancoragens de tubulações com juntas elásticas. Associação Brasileira de


Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, 2003.

MUNÕZ, A. H. Abastecimiento y distribuición de agua. Colegio de Ingenieros de


Caninos, Canales y Puertos, Madrid, 2000.

TSUTIYA, M. T. Abastecimento de Água. Departamento de Engenharia Hidráulica e


Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.

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