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RODAGENS - DER
RECURSO ADMINISTRATIVO
DOS FATOS
No dia 10/12/2017, por volta das 04:05 hs do corrente ano, foi o requerente abordado
por um agente do DER para realizar exame de alcoolemia.
Feita a abordagem, em nenhum momento foi oportunizado, nem sequer questionado a
este, a possibilidade de realizar o teste de alcoolemia. Estranhamente e em total
desacordo com todas as disposições que serão exaustivamente discutidas, mesmo
autuando secretamente de imediato o requerente, coagiram o condutor a realizar
assinatura da Notificação e ainda mais grave, posteriormente, o Agente da Autoridade
de Trânsito tendo supostamente verificando a incorrência de todos os inventivos e
fantasiosos sinais de embriaguez, liberou imediatamente o condutor para que seguindo
seu roteiro, conduzindo o seu veículo dando continuidade a seu trajeto.
Embora a autuação possua vícios insanáveis de produção, diversos outros fatos
notórios que ensejam no efetivo vício na produção do auto serão devidamente
aventados, conforme demonstrar-se-á a seguir.
II. DO DIREITO
Porém, a respectiva tipificação não abarca a conduta praticada pelo requerente. Nada
mais preciso do que logo na frase inaugural do referido artigo, delimitarmos a conduta
típica com os seguintes dizeres:
Em que pese o nobre saber jurídico do Agente da Autoridade de Trânsito que elaborou
o Auto de Infração e da Autoridade de Trânsito que expediu a Notificação de
Autuação, tal não pode e não deve prosperar, senão vejamos:
Como exposto, na data dos fatos, o autor não tomou conhecimento da possibilidade de
realização de exame de alcoolemia. Não lhe fora solicitado a realização de teste para
que fosse possível por meios apropriados investigar o “suposto” estado de alcoolemia.
Pelo contrário, de forma coercitiva e questionável fora aplicada a tipificação de
conduta sem que esta tenha existido. Houve absoluto cerceamento de defesa. Após a
retenção de seu veículo o autor foi questionado sobre a ingestão de bebida alcóolica
pela autoridade de trânsito. Ao fornecer resposta negativa, nada justificaria a hipótese
de ter sido posteriormente autuado, uma vez que não lhe fora informado da sanção
aplicada. Ainda porque, feito isso, o Agente da autoridade de trânsito reteve o
documento de CNH do autor e informou a ele que poderia após apresentar outro
condutor seguir seu transcurso. Nesse momento presumiu o Condutor que não haveria
nenhum óbice ao seguimento de seu trajeto, pois nada lhe foi informado quanto a
qualquer irregularidade que pudesse ter sido considerada.
Eis aqui a configuração do que se constitui no Direito como conduta atípica, eivada de
vício insanável, pois não há nexo de causalidade, uma vez que o requerente não
recusou-se a nada, tampouco foi-lhe solicitado a realização do teste tratado. Pelo
contrário, cumpriu com todos os procedimentos solicitados pelo Agente.
Consideremos a aplicação do conceito da expressão latina “In dubio pro reo” que
significa literalmente na dúvida, fica-se a favor do réu. Este instituto é um dos pilares
do Direito e está intimamente ligada ao princípio da legalidade.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece em breves linhas sobre tais princípios,
mostrando que:
"O princípio do contraditório, que é inerente ao direito de defesa, é
decorrente da bilateralidade do processo: quando uma das partes alega
alguma coisa, há de ser ouvida também a outra, dando-se-lhe
oportunidade de resposta. Ele supõe o conhecimento dos atos
processuais pelo acusado e o seu direito de resposta ou de reação.
Exige: 1- notificação dos atos processuais à parte interessada; 2-
possibilidade de exame das provas constantes do processo; 3- direito de
assistir à inquirição de testemunhas; 4- direito de apresentar defesa
escrita"(DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, 20a
edição, São Paulo, Atlas, 2007, p. 367).”
Como bem esclarece Gilmar Ferreira Mendes, o contraditório e a ampla defesa não se
constituem em meras manifestações das partes em processos judiciais e
administrativos, mas, e principalmente uma pretensão à tutela jurídica.
Insere-se nesta tutela, assim como visto na doutrina alemã a pretensão à tutela jurídica
(Anspruch auf rechtliches Gehör), os direitos de informação, de manifestação e o
direito em ver seus argumentos devidamente apreciados.
José Afonso da Silva em brilhantes linhas nos ensina que o devido processo legal está
baseado em três princípios, quais sejam: o acesso à justiça, o contraditório e a
plenitude de defesa.
Caso tratar-se de mero procedimento fica afastada por simples dedução a observância
do devido processo legal.
Demais disso, na Constituição Federal do Brasil em seu Art. 5o, resta consignado
ainda que:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantido-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e a propriedade, nos termos seguintes:”.
[...]
[...]
É válido, relembrar o que diz os termos do artigo 8°, no (com destaque para a alínea
“g”), da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969), também conhecida
por “Pacto de São José da Costa Rica”, onde:
A lei é clara, com respeito, ao desfazimento dos atos eivados de ilegalidade dá-se o
nome de invalidação ou anulação. Esta nada mais é que a restauração da ordem
jurídica, tendo em mira o princípio da legalidade e a indisponibilidade do interesse
público. Conveniente, nesse lanço, darmos a palavra à insigne professora da
Universidade de Fortaleza, CLARISSA SAMPAIO SILVA (27), para que reforce
nosso pensamento:
Destarte, a expressão latina “In dubio pro reo” que significa literalmente na dúvida,
fica-se a favor do réu, é um dos pilares do Direito e está intimamente ligada ao
princípio da legalidade.
Qual atitude você acha que eu tomaria como Julgador? Com certeza, a da Justiça, a da
legalidade, a de não punir um inocente que provou com provas concretas que não
estava embriagado e dirigindo veículo automotor.
Agora que Vossa Senhoria conhece a realidade dos fatos e, tem provas suficientes do
não cometimento da presente infração de trânsito, o mais justo a ser feito é não deixar
prosperar a presente multa administrativa.
(…) Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma
qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos.
É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme
o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra
todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia
irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra”.
(2000, pp. 747 e 748).
Ainda que se considerasse que o nemo tenetur se detegere não tem aplicação no
campo administrativo, o que não se sustenta a partir da solar constatação de que nossa
Constituição estende o Devido Processo Legal, no bojo do qual se encontra o referido
princípio, aos processos administrativos (art. 5º, LV, CF), não se poderia esquecer que
para além da infração administrativa em casos de embriaguez ao volante, estamos ante
a real possibilidade de responsabilização criminal do suposto infrator (artigo 306,
CTB, sem falar do novo artigo 291, § 1º, I, CTB).
Este princípio é um instituto previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal
de 1988 e refere-se a um tipo de garantia processual que se atribui ao acusado,
oferecendo a ele a prerrogativa de não ser considerado culpado por qualquer ato
delituoso até que a sentença penal condenatória transite em julgado, garantindo ainda
ao acusado um julgamento justo que respeite à dignidade da pessoa humana.
De tal forma, o condutor não poderá sofrer quaisquer sanções administrativas por
causa da recusa em realizar testes e exames, tendo em vista que na ausência de prova
da sua efetiva utilização de substância psicoativa, há de prevalecer a presunção de
inocente.
Nenhum indivíduo pode ser obrigado, por qualquer autoridade ou mesmo por um
particular, a fornecer involuntariamente qualquer tipo de informação ou declaração ou
dado ou objeto ou prova que o incrimine direta ou indiretamente.
Vejamos o que dispõe Convenção Americana de Direitos Humanos – CADH (art. 8º,
2, “g”) :
[…]
E o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos – PIDCP (art. 14, 3, “g”):
Artigo 14:
[…]
Estas decisões judiciais já tem sido acolhidas também na esfera administrativa, onde
se tem conseguido anular um número cada vez maior de infrações onde não há
qualquer registro de sinal ou sintoma de embriaguez. Tais decisões tem sido
embasadas também em um princípio válido no direito brasileiro que é chamado de
Nemo tenetur se detegere (nome em latim), ou também conhecido como princípio da
não autoincriminação. Este princípio é consagrado em nossa Constituição Federal no
art. 5º, mas sua previsão é feita de forma expressa no Pacto de São José da Costa Rica,
no artigo 8º, inciso 2, alínea g, cuja redação é a seguinte:
Assim, podemos concluir que a matéria sobre a lei seca apresenta várias nuances que a
tornam um dos pontos de nossa legislação que mais sofreu alterações nos últimos
anos. Não só isso, apesar das inúmeras reformas ainda pairam muitas dúvidas sobre
sua aplicabilidade.
O Judiciário vem reformando as aplicações administrativas de infrações com base
apenas no artigo 277, parágrafo 3º, por entender que são necessários mais elementos
para impor as penalidades administrativas ao Condutor do que a simples recusa ao
exame de embriaguez. Este entendimento repercute em toda a esfera administrativa,
vez que as decisões administrativas são passíveis de reforma pelo Judiciário, com isso
as multas da lei seca podem ser canceladas.
As autoridades administrativas deverão acompanhar o entendimento do Judiciário,
pois adotar um procedimento diferente daquele que é definido como correto pelo
Poder Judiciário é um contrassenso, mas mais do que isto, é a violação de princípios
que regem o direito administrativo, tal como o da economicidade, eficiência e
moralidade.
A própria legislação (artigo 277, §2°, do CTB) e o Contran (Resolução n° 423/2013)
divergem com a redação do artigo 165-A, já que, determinam outros meios para a
produção da prova da embriaguez. Se é possível a constatação da alteração da
capacidade psicomotora por tantos outros meios de prova, não existe a obrigatoriedade
do etilômetro e, consequentemente, não haveria motivo para punir a sua recusa.
Por todo o exposto, concluímos que o artigo 165-A, do CTB está em descompasso
com a Constituição Federal, ferindo o direito da não-autoincriminação (art. 5º, inciso
LXIII), já que, ao exercer tal direito, o condutor será punido na via administrativa.
DO PEDIDO
a) Que seja acolhida a preliminar suscitada, para que essa Egrégia Junta de Defesa
Prévia receba o presente recurso com efeito suspensivo, para se abster de lançar
qualquer restrição, inclusive para fins de licenciamento e transferência, nos arquivos
do órgão ou entidade executivo de trânsito responsável pelo registro do veículo até
que a presente demanda seja julgada.
f) Requer também que seja respeitada a Constituição Federal e o Pacto de São José da
Costa Rica, onde Vossa Senhoria apresente uma decisão legalmente fundamentada;
para que, no caso de não acolhimento do pedido mencionado na alínea “A”, esta servir
de subsídios para uma ‘possível’ correção da ilegalidade e dos atos de quem
administrativamente tem obrigação de corrigi-los (SÚMULA 473 STF), via Poder
Judiciário, de maneira a fundamentar o não acolhimento de maneira técnica e
precisa.