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ILMO DIRETOR GERAL DO DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E

RODAGENS - DER

Autos de infração de números de séries: Y001330425

Elson da Silva Couto, brasileiro, portador do CPF n.º 599.003.001-06, residente e


domiciliado na Rua 18 Sul Lote 13 apt 1301 Águas Claras - DF, CEP: 71940-
540, vem, mui respeitosamente à presença de Vossa Excelência apresentar

RECURSO ADMINISTRATIVO

à Notificação de Autuação exarada nos Auto de Infração nº Y001 330425, referente


ao veículo de placa: JJW-5770, Renavam: 00487471318, modelo: VW Polo
Sedan, lavrada em 10/12/2017, às 04:05 hs, do qual consta como Condutor
Identificado, na DF 079 Sentido Águas Claras, o que faz pelos motivos de fato e de
direito a seguir aduzidos.

Inicialmente, pretende a Diretoria de Trânsito a imposição e cobrança de multa por


infração assim descrita na Notificação de Infração de Trânsito:

DOS FATOS

No dia 10/12/2017, por volta das 04:05 hs do corrente ano, foi o requerente abordado
por um agente do DER para realizar exame de alcoolemia.
Feita a abordagem, em nenhum momento foi oportunizado, nem sequer questionado a
este, a possibilidade de realizar o teste de alcoolemia. Estranhamente e em total
desacordo com todas as disposições que serão exaustivamente discutidas, mesmo
autuando secretamente de imediato o requerente, coagiram o condutor a realizar
assinatura da Notificação e ainda mais grave, posteriormente, o Agente da Autoridade
de Trânsito tendo supostamente verificando a incorrência de todos os inventivos e
fantasiosos sinais de embriaguez, liberou imediatamente o condutor para que seguindo
seu roteiro, conduzindo o seu veículo dando continuidade a seu trajeto.
Embora a autuação possua vícios insanáveis de produção, diversos outros fatos
notórios que ensejam no efetivo vício na produção do auto serão devidamente
aventados, conforme demonstrar-se-á a seguir.

II. DO DIREITO

II.I. DA FALTA DE NEGATIVA DO AUTOR EM SUBMETER-SE AO TESTE


DE ALCOOLEMIA

Pretende a Diretoria de Trânsito a imposição e cobrança de multa por infração assim


descrita na Notificação de Infração de Trânsito:

Art. 165-A. Recusar-se a ser submetido a teste, exame clínico,


perícia ou outro procedimento que permita certificar influência de
álcool ou outra substância psicoativa, na forma estabelecida pelo
art. 277:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por
12 (doze) meses;
Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação
e retenção do veículo, observado o disposto no § 4º do art. 270.

Porém, a respectiva tipificação não abarca a conduta praticada pelo requerente. Nada
mais preciso do que logo na frase inaugural do referido artigo, delimitarmos a conduta
típica com os seguintes dizeres:

“Recusar-se a ser submetido a teste(...).. grifo nosso.


Eis aqui a configuração do que se constitui no Direito como conduta atípica, eivada de
vício insanável, pois não há nexo de causalidade, uma vez que o requerente não
recusou-se a nada, tampouco foi-lhe solicitado a realização do teste tratado. Pelo
contrário, cumpriu com todos os procedimentos solicitados pelo Agente.

Considere-se que os procedimentos administrativos atinentes às infrações de trânsito,


por óbvio, não estão imunes aos princípios constitucionais que norteiam e obrigam
todo e qualquer procedimento do qual se extraiam consequências jurídicas.

Em que pese o nobre saber jurídico do Agente da Autoridade de Trânsito que elaborou
o Auto de Infração e da Autoridade de Trânsito que expediu a Notificação de
Autuação, tal não pode e não deve prosperar, senão vejamos:

Inicialmente, atesto que em nenhum momento foi sugerido ao autor a realização


de teste de alcoolemia. Consta salientar que não fora sequer oportunizado ao
requerente a possibilidade de realização e submissão ao teste de alcoolemia. Após a
retenção de seu veículo o autor foi questionado sobre a ingestão de bebida alcóolica
pela autoridade de trânsito. Imediatamente informou que não havia consumido
substância alcóolica. Feito isso, o Agente de trânsito reteve o documento de CNH do
autor e informou a este que poderia seguir seu transcurso após apresentar outro
condutor. Nesse momento presumiu o Condutor que não haveria nenhum óbice ao
seguimento de seu trajeto, pois nada lhe foi informado quanto a qualquer
irregularidade que pudesse ter sido considerada.

A feitura de Notificação nos termos das razões expostas, viola os princípios


Constitucionais Consagrados da Ampla Defesa e Contraditório. Eis que aqui,
sobremaneira, aplicou-se ao requerente conduta típica, sem que esta tenha se
materializado, razão pela qual deve o auto ser imediatamente anulado.

II.III. DA ABSOLVIÇÃO POR NÃO CONSTITUIR O FATO INFRAÇÃO


ADMINISTRATIVA

Como exposto, na data dos fatos, o autor não tomou conhecimento da possibilidade de
realização de exame de alcoolemia. Não lhe fora solicitado a realização de teste para
que fosse possível por meios apropriados investigar o “suposto” estado de alcoolemia.
Pelo contrário, de forma coercitiva e questionável fora aplicada a tipificação de
conduta sem que esta tenha existido. Houve absoluto cerceamento de defesa. Após a
retenção de seu veículo o autor foi questionado sobre a ingestão de bebida alcóolica
pela autoridade de trânsito. Ao fornecer resposta negativa, nada justificaria a hipótese
de ter sido posteriormente autuado, uma vez que não lhe fora informado da sanção
aplicada. Ainda porque, feito isso, o Agente da autoridade de trânsito reteve o
documento de CNH do autor e informou a ele que poderia após apresentar outro
condutor seguir seu transcurso. Nesse momento presumiu o Condutor que não haveria
nenhum óbice ao seguimento de seu trajeto, pois nada lhe foi informado quanto a
qualquer irregularidade que pudesse ter sido considerada.

Eis aqui a configuração do que se constitui no Direito como conduta atípica, eivada de
vício insanável, pois não há nexo de causalidade, uma vez que o requerente não
recusou-se a nada, tampouco foi-lhe solicitado a realização do teste tratado. Pelo
contrário, cumpriu com todos os procedimentos solicitados pelo Agente.

Assim, a imputação de uma infração de trânsito, como de resto a imputação de


qualquer ato infracional, deve necessariamente reverter-se da absoluta caracterização
da ocorrência do fato tido como infracional, além da individualização do condutor do
veículo, já que a punição obrigatoriamente restringe-se à pessoa do infrator e deve
assentar-se na comprovada materialidade infracional (dogmas constitucionais).

Logo, considerando a deficiência da prova técnica, as observações preliminares


absolutamente confusas e inconclusivas e a violação do direito constitucional de
ampla defesa e contraditório (CONTRAPROVA), requer o autor, que seja cancelada a
autuação ora aqui tratada.

II.IV. DA PREVISÃO CONSTITUCIONAL E NAS LEIS ESPECIAIS DA


SIMETRIA - DIREITO DO “IN DUBIO PRO REO”

Conforme consta no campo de observações da autuação, no ato da Constatação da


autuação, ocorrera a seguinte observação:

“Condutor recusou-se a fazer o teste do etilômetro”.

Não bastassem os erros maculados comprometedores da autuação ora aqui


especificada, o desprestígio da prestação administrativa por vezes se justifica por atos
irresponsáveis da própria Administração. Perguntamo-nos como pode um cidadão ser
compelido a ter de produzir contraprovas de condição situacional que de fato não
ocorrera. Inaceitável aceitar que nas considerações do campo de “observação”
suscitada, a descrição detalhada dos sinais de embriaguez, tal como obrigatórias
que são, NÃO ESTÃO PRESENTES. Em absoluto reforça-se que o condutor NÃO
RECUSOU-SE A FAZER O TESTE DE ALCOOLEMIA (Ora pois sequer fora
convidado a fazê-lo) e principalmente, NÃO APRESENTAVA NENHUM SINAL
DE EMBRIAGUEZ, NEM ODOR CARACTERÍSTICO, NEM FACE
RUBORIZADA, TAMPOUCO APRESENTAVA FALTA DE
COORDENAÇÃO, SUA VOCALIZAÇÃO ERA PERFEITA E SEM
ESTRANHAMENTOS E NÃO BASTASSE ISSO, NENHUM SINAL DE
EMBRIAGUEZ FORA DESCRITO EM CAMPO APROPRIADO. O CARRO
FOI LIBERADO A OUTRO CONDUTOR PARA SEGUIR SEU TRAJETO.

Além disso, há muito se sabe que a aplicação da Simetria no Direito Moderno é


medida que se impõe nas considerações que abranjam outras áreas do Direito, tal
como o Direito Administrativo de trânsito.

Consideremos a aplicação do conceito da expressão latina “In dubio pro reo” que
significa literalmente na dúvida, fica-se a favor do réu. Este instituto é um dos pilares
do Direito e está intimamente ligada ao princípio da legalidade.

O contraditório e a ampla defesa em nosso ordenamento jurídico tratam-se de uma


cláusula pétrea, disposta no art. 5o, LV da CRFB/88[1], que nos diz:

"Art. 5o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:(...)

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos


acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes;(...)"

Maria Sylvia Zanella Di Pietro esclarece em breves linhas sobre tais princípios,
mostrando que:
"O princípio do contraditório, que é inerente ao direito de defesa, é
decorrente da bilateralidade do processo: quando uma das partes alega
alguma coisa, há de ser ouvida também a outra, dando-se-lhe
oportunidade de resposta. Ele supõe o conhecimento dos atos
processuais pelo acusado e o seu direito de resposta ou de reação.
Exige: 1- notificação dos atos processuais à parte interessada; 2-
possibilidade de exame das provas constantes do processo; 3- direito de
assistir à inquirição de testemunhas; 4- direito de apresentar defesa
escrita"(DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, Direito Administrativo, 20a
edição, São Paulo, Atlas, 2007, p. 367).”

Como bem esclarece Gilmar Ferreira Mendes, o contraditório e a ampla defesa não se
constituem em meras manifestações das partes em processos judiciais e
administrativos, mas, e principalmente uma pretensão à tutela jurídica.

Insere-se nesta tutela, assim como visto na doutrina alemã a pretensão à tutela jurídica
(Anspruch auf rechtliches Gehör), os direitos de informação, de manifestação e o
direito em ver seus argumentos devidamente apreciados.

José Afonso da Silva em brilhantes linhas nos ensina que o devido processo legal está
baseado em três princípios, quais sejam: o acesso à justiça, o contraditório e a
plenitude de defesa.

Ora, em se falando de devido processo legal, trazemos à tona se haveria de fato um


processo administrativo fiscal, ou apenas um mero procedimento.

Caso tratar-se de mero procedimento fica afastada por simples dedução a observância
do devido processo legal.

Demais disso, na Constituição Federal do Brasil em seu Art. 5o, resta consignado
ainda que:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantido-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade dos direitos à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e a propriedade, nos termos seguintes:”.

Além disso, importante salientar que a Convenção Americana sobre Direitos


Humanos (1969), in verbis, dispõe:

Art. 8o Garantias judiciais.

[...]

2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua


inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante
o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:

[...]

g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-


se culpada;

É válido, relembrar o que diz os termos do artigo 8°, no (com destaque para a alínea
“g”), da Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969), também conhecida
por “Pacto de São José da Costa Rica”, onde:

“Toda pessoa acusada de delito tem o direito a que se presuma sua


inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas [...] direito de não ser obrigado a depor contra si
mesma, nem a declarar-se culpada”.

A lei é clara, com respeito, ao desfazimento dos atos eivados de ilegalidade dá-se o
nome de invalidação ou anulação. Esta nada mais é que a restauração da ordem
jurídica, tendo em mira o princípio da legalidade e a indisponibilidade do interesse
público. Conveniente, nesse lanço, darmos a palavra à insigne professora da
Universidade de Fortaleza, CLARISSA SAMPAIO SILVA (27), para que reforce
nosso pensamento:

“O desfazimento dos atos viciados pela própria Administração ocorre


mediante a invalidação, que pode ser conceituada como a eliminação de
um ato administrativo, por outro ato ou por decisão judicial, em virtude
de violação à ordem jurídica, com a desconstituição dos efeitos por ele
produzidos. (grifos nossos).”

“A invalidação ou anulação é, pois, feita por meio de um ato


administrativo que desfaz o outro (tal técnica foi elaborada pelo
Conselho de Estado Francês no início do século XX), incidindo apenas
sobre o ato, na hipótese de este não ter ainda gerado efeitos, ou sobre o
ato e seus efeitos”. (Limites à invalidação dos atos administrativos. Ed.
Max Limonad: São Paulo, 2001, p. 77). (grifo nosso).

Já a Súmula 473 do STF prescreve:

“A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados dos


vícios que os tornem ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
revogá-los, por motivo de conveniência e oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial”.

Destarte, a expressão latina “In dubio pro reo” que significa literalmente na dúvida,
fica-se a favor do réu, é um dos pilares do Direito e está intimamente ligada ao
princípio da legalidade.

Portanto na dúvida não é a causa/motivo de se absolver o réu (nesse caso o ‘suposto’


infrator de trânsito) mas, ao contrário, é a falta elementos de convicção que
demonstrem ligação do acusado com o fato delituoso é que geram, no julgador, a
dúvida acerca do nexum entre materialidade e autoria.
Nesse passo, solicito que Vossa Senhoria, se imagine no lugar do Recorrente, como
cidadão recorrendo desta punição injusta e eu, como Julgador.

Qual atitude você acha que eu tomaria como Julgador? Com certeza, a da Justiça, a da
legalidade, a de não punir um inocente que provou com provas concretas que não
estava embriagado e dirigindo veículo automotor.

Agora que Vossa Senhoria conhece a realidade dos fatos e, tem provas suficientes do
não cometimento da presente infração de trânsito, o mais justo a ser feito é não deixar
prosperar a presente multa administrativa.

II.V. DO ILEGALIDADE DA AUTUAÇÃO DO ART 165-A, NOS TERMOS DO


PARECER Nº 243/2014/CETRAN/SC

Não menos importante, cabe mencionar o entendimento da prestigioso CONSELHO


ESTADUAL DE TRÂNSITO DE SANTA CATARINA, dentro do Sistema Nacional
de Trânsito, que uma vez proferidas, espraiam-se, podendo influenciando mesmo
aqueles que não se encontram sob sua circunscrição. Em entendimento uníssono ao de
outros CETRANS, bem como uniforme a diversas explanações judicias, anote-se:

(...)“Há quem defenda que com as inovações trazidas pelos diplomas


legais acima mencionados, independentemente do comportamento do
condutor despertar suspeita contra sua sobriedade, estaria ele sujeito a ser
submetido ao teste de alcoolemia e, caso se recusasse, deveria responder
pelo ilícito do art. 165 do CTB. Com o devido respeito aos partidários
dessa tese, apesar das inovações normativas introduzidas pela Lei nº
12.760/12 e pela Resolução nº 432/13 do Contran, o fato é que os
pressupostos jurídicos alinhados no Parecer nº 120/11 deste Conselho,
extraídos da Constituição Federal e dos princípios gerais do Direito,
aplicáveis à espécie, permanecem indicando que a suspeita de ebriedade
continua sendo um elemento indispensável para justificar a submissão do
condutor aos testes e exames de alcoolemia e, por esta razão, não seria
lícito autuar alguém pela infringência do art. 165 do CTB
simplesmente porque ele se recusou a fazer o teste.” Grifo nosso.

Não obstante, prossegue o brilhante parecer:


(...) Com efeito, acreditamos que não é a oposição pura e simples do
condutor à realização dos procedimentos previstos no caput do art.
277 do CTB que o sujeita às penalidades e medidas administrativas
estabelecidas no art. 165, também do CTB, mas a prevalência da
suspeita de ebriedade diante dessa objeção.

Para compreender essa assertiva, primeiro deve-se identificar o objeto


jurídico tutelado pela norma. Entendendo-se que a punição decorre da
recusa, pura e simples, do condutor em realizar os exames propostos pelo
agente público, tem-se que o bem que se pretende garantir é a própria
Administração Pública, especialmente o cumprimento de suas
determinações o que, com o devido respeito, não parece ser o caso.

O §3º do art. 277 do CTB, ao estabelecer que o condutor que se recusar a


se submeter a qualquer dos procedimentos necessários para certificar seu
estado de sobriedade, será punido com as mesmas penalidades e medidas
administrativas cominadas no art. 165, CTB, põe em evidência que o que
se pretende defender é a incolumidade pública, ameaçada diante da
nocividade da conduta que o referido art. 165/CTB descreve como
infração gravíssima.

Não obstante, sustenta ainda o respeitável parecer da desobrigatoriedade da submissão


ao teste de alcoolemia:

Quanto a possibilidade de tomar como obrigação do condutor submeter-


se aos testes ou exames de alcoolemia quando instado à fazê-lo por
agente da autoridade de trânsito, bom lembrar que o Tribunal Regional
Federal da 5ª Região, ao julgar a Apelação Cível nº 223518 (AC
200005000385751), atinente a Ação Civil Pública proposta pelo
Ministério Público Federal com o intuito de que fosse declarada a
inexistência de relação jurídica válida, que obrigasse os condutores de
veículos a se submeterem aos exames de sangue e ao uso do bafômetro,
ao referir-se a constitucionalidade do art. 277 do CTB, restringiu-lhe
uma das interpretações possíveis, afastando aquela que implicasse na
sujeição compulsória do condutor de veículos automotor aos
mencionados testes e exames, condenando a União na obrigação de
tolerar a recusa dos condutores de veículos de se submeterem aos
referidos testes, ressalvada a prova do fato (embriaguez) pelos demais
meios de prova juridicamente admitidos. Transcreve-se, abaixo, a ementa
do acórdão citado:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE COM EFEITO "ERGA OMNES".
USURPAÇÃO DE COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. VEDAÇÃO. INTELIGÊNCIA DO ART. 102, I, A, DA
CF. PRECEDENTES. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.
INADEQUAÇÃO DA VIA PROCESSUAL ELEITA. CARÊNCIA DE
AÇÃO. EXTINÇÃO DO PROCESSO, SEM JULGAMENTO DE
MÉRITO. PROVIMENTO DO APELO. CONHECIMENTO
IMEDIATO DO MÉRITO PELO TRIBUNAL.
OBRIGATORIEDADE DE TESTE DE ALCOOLEMIA. VIOLAÇÃO
DO PRINCÍPIO DE RECUSA DA PROVA AUTO-
INCRIMINATÓRIA. PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. - O SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL, NA SUA COMPOSIÇÃO PLENA, JÁ
ADMITIU A POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DA AÇÃO CIVIL
PÚBLICA COMO INSTRUMENTO ADEQUADO E IDÔNEO DE
CONTROLE INCIDENTAL DE CONSTITUCIONALIDADE, PELA
VIA DIFUSA, DE QUAISQUER LEIS OU ATOS DO PODER
PÚBLICO, MESMO QUANDO CONTESTADOS EM FACE DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, PROCLAMANDO NÃO SE
REGISTRAR, EM TAL HIPÓTESE, SITUAÇÃO
CONFIGURADORA DE USURPAÇÃO DA SUA COMPETÊNCIA,
DESDE QUE A INCONSTITUCIONALIDADE SEJA INVOCADA
COMO FUNDAMENTO, COMO CAUSA DE PEDIR,
CONSTITUINDO QUESTÃO PREJUDICIAL AO JULGAMENTO
DO MÉRITO, NÃO COMO PEDIDO DE APRECIAÇÃO DA
VALIDADE CONSTITUCIONAL DE LEI EM TESE (RCL 600-SP,
REL. MIN. NÉRI DA SILVEIRA - RCL 602-SP, REL. MIN. ILMAR
GALVÃO; RDA 206/267, REL. MIN. CARLOS VELLOSO - AG
189.601-GO [AGRG], REL. MIN. MOREIRA ALVES). - NA
ESPÉCIE, O PEDIDO DE DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 277 DO CÓDIGO DE
TRÂNSITO BRASILEIRO, POR VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DE
RECUSA DA PROVA AUTO-INCRIMINATÓRIA, NÃO SE
CONSTITUI NO PEDIDO PROPRIAMENTE DITO, MAS SIM NA
CAUSA DE PEDIR, VALE DIZER, SIMPLES QUESTÃO
PREJUDICIAL, INDISPENSÁVEL À RESOLUÇÃO DA LIDE
PRINCIPAL. PROVIMENTO DO APELO. - TENDO SIDO
EXTINTO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO (ART. 267, VI, CPC),
VERSANDO A QUESTÃO EXCLUSIVAMENTE DE DIREITO E
ESTANDO O PROCESSO EM CONDIÇÕES, É DE SER
IMEDIATAMENTE JULGADO. INTELIGÊNCIA DO ART. 515,
PARÁGRAFO 3º, CPC. - NINGUÉM, À LUZ DAS NORMAS E
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS, ESTÁ OBRIGADO A
PRODUZIR PROVAS CONTRA SI MESMO, POIS O DIREITO DE
PUNIR, JUDICIAL E ADMINISTRATIVAMENTE, NO DIREITO
BRASILEIRO, REGE-SE PELO PRINCÍPIO NEMO TENETUR SE
DETEGERE, QUE FACULTA AO INDICIADO/AUTUADO
ADOTAR OU NÃO A CONDUTA QUE PRODUZIRÁ A PROVA
QUE LHE SERÁ DESFAVORÁVEL. PRECEDENTES DO STF E
TRF´S (HC Nº 77.135/SP, REL. MIN. ILMAR GALVAO; HC Nº
79.812/SP, REL. MIN. CELSO DE MELLO; RHC Nº 34000071702, -
200234000071702/DF, REL. DES. FED. LUCIANO TOLENTINO
AMARAL, V.G.). - NÃO SE TRATANDO, NA ESPÉCIE, DE
DECLARAR A INCONSTITUCIONALIDADE INCIDENTAL DO
ART. 277 DA LEI Nº 9.503/97 -CTB, É DE SE LHE RESTRINGIR
UMA DAS INTERPRETAÇÕES POSSÍVEIS PARA AFASTAR
AQUELA QUE IMPLIQUE NA SUJEIÇÃO COMPULSÓRIA DO
CONDUTOR DE VEÍCULOS AUTOMOTORES A TESTES DE
ALCOOLEMIA, EXAMES CLÍNICOS, PERÍCIA OU OUTRO
EXAME QUE PERMITA A CERTIFICAÇÃO DE SEU ESTADO,
EM SEU PREJUÍZO. - PROCEDÊNCIA DO PEDIDO PARA
CONDENAR A UNIÃO NA OBRIGAÇÃO DE TOLERAR A
RECUSA DOS CONDUTORES DE VEÍCULOS DE SE
SUBMETEREM AOS MULTICITADOS TESTES, RESSALVADA A
PROVA DO FATO (EMBRIAGUEZ) PELOS DEMAIS MEIOS DE
PROVA JURIDICAMENTE ADMITIDOS. (TRF5 - Apelação Cível
nº 223518 - AC 200005000385751 – Primeira Turma – Rel. Des. Fed.
Alcides Saldanha – DJ 04/04/2003) (1)

Reforça por fim a Inconstitucionalidade da aplicabilidade de sanção fundamentada


pela recusa à submissão coercitiva da Administração referente a aplicação de
Notificação dada à não realização de teste de alcoolemia, o qual pedimos vênia para
reproduzir:

Numa interpretação conforme a constituição é de se reconhecer que a


norma supra [art. 277 do CTB] dirige-se à Administração Pública, não ao
Administrado. Isto porque a legislação não pode, em flagrante conflito
com a Constituição Federal – art. 5º, LXIII, violar a garantia
constitucional contra a auto-incriminação. A Administração está
obrigada a tentar submeter o Administrado suspeito de haver excedido os
limites legalmente previstos para o consumo de bebidas alcoólicas a teste
de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que por meios
técnicos ou científicos permita a comprovação da sua condição, contudo
o Administrado não está obrigado a se submeter a tal exigência. A
Administração deve propor, mas a realização da aferição há de estar
condicionada à sua concordância.

Ninguém, à luz das normas e princípios constitucionais, está obrigado a


produzir provas contra si mesmo pois o direito de punir, judicial e
administrativamente, no direito brasileiro, rege-se pelo princípio nemo
tenetur se detegere, que faculta ao indiciado/autuado adotar ou não a
conduta que produzirá a prova que lhe será desfavorável.

O acórdão em tela arrima-se, ainda, em precedentes do STF e de


Tribunais Regionais Federais da 4ª e 1ª Regiões (HC Nº 77.135/SP, Rel.
Min. Ilmar Galvão; HC Nº 79.812/SP, Rel. Min. Celso de Mello; RHC
Nº 34000071702, - 200234000071702/DF, Rel. Des. Fed. Luciano
Tolentino Amaral, V.G.), evidenciando sua robustez e a temeridade de
esposar entendimento diverso que implique na compulsoriedade, por
parte do condutor de veículo automotor, de se submeter aos testes e
exames de alcoolemia.

Não obstante, considerando que a matéria ingressa na seara do Direito


Constitucional, nada melhor do que conhecer o entendimento que o
Pretório Excelso, a quem compete a guarda da Constituição nos termos
do art. 102, CRFB/88, expõe acerca do assunto. Nessa senda, o Supremo
Tribunal Federal, nos autos do Habeas Corpus nº 93.916-3/Pará, relatado
pela Ministra Cármen Lúcia em 10/06/2008, asseverou que é possível a
indicação de outros elementos juridicamente válidos, no sentido de que o
acusado estaria embriagado, ressalvando, contudo, que “não se pode
presumir que a embriaguez (sic) de quem não se submete a exame de
dosagem alcoólica: a Constituição da República impede que se extraia
qualquer conclusão desfavorável àquele que, suspeito ou acusado de
praticar alguma infração penal, exerce o direito de não produzir prova
contra si mesmo” (Habeas Corpus 93.916-3, do Pará – Primeira Turma
do STF – Rel. Min. Cármen Lúcia – j. 10/06/2008).
Referido julgado, além de evidenciar a inconstitucionalidade de
considerar apenas a recusa do suspeito em submeter-se ao exame de
alcoolemia como bastante para imputar-lhe o cometimento do ilícito,
evidencia a contemporaneidade das disposições de Direito alinhadas pelo
STJ no acórdão antes referido.

Desta feita, resta claro que não há de se considerar a materialidade da conduta do


autor na referida Autuação. Não se admite suposição da tipificação tratada a medida
em que a não submissão ao teste justifica medida de caráter punitivo. Não há que se
falar em aplicação de sanção em tais condições, por contrariar todas as disposições
legais de referência, razão pela qual não se opera outra medida necessária senão o
cancelamento da autuação ora aqui tratada.

II.VI. DAS VIOLAÇÕES CONSTITUCIONAIS DO ART. 165-A, CTB

Conforme averbou Celso Antônio Bandeira de Mello:

“Princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema,


verdadeiro alicerce dele, dispositivo fundamental que se irradia sobre
diferentes normas compondo lhes o espírito e servindo de critério para
sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e
a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe
dá sentido harmônico.”

(…) Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma
qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um
específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos.
É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme
o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra
todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia
irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra”.
(2000, pp. 747 e 748).

Todavia, esse posicionamento já mereceu reprovações, havendo mesmo parecer por


parte da Procuradoria Geral da República no sentido da inconstitucionalidade no
dispositivo uma vez que sua incidência acabaria, por via indireta, como meio de
compelir o cidadão a se submeter a procedimento que possa ensejar autoincriminação.

Desta forma, temos posicionamento da Procuradoria Geral da República acerca da


recusa do motorista em concordar com a aferição de alcoolemia, o parecer da PGR na
ADI 4103 afirma que, “com fundamento no direito geral de liberdade, na garantia do
processo legal e das próprias regras democráticas do sistema acusatório de processo
penal, não se permite ao Estado compelir os cidadãos a contribuírem para a produção
de provas que os prejudiquem”. Trata-se do chamado direito à não incriminação, que
possui previsão normativa no direito internacional, no direito comparado e no direito
constitucional. No Direito Constitucional brasileiro, a vedação à autoincriminação é
identificada como princípio constitucional processual implícito, relacionada à cláusula
do devido processo legal e ao princípio da presunção de inocência. Mas, para a PGR, a
previsão contida na Lei Seca viola direito à não incriminação e não é admitida pela
normatividade constitucional e infraconstitucional, nem pela jurisprudência do STF e
pela doutrina especializada.

No mais, é incrível que o legislador ainda insista nessa espécie de coação


inconstitucional à produção de prova contra si mesmo (Princípio da não
autoincriminação), acrescentando a isso agora também uma flagrante violação ao
Princípio da Presunção de Inocência, Estado de Inocência ou não culpabilidade. O
dispositivo sob comento vem sofrendo as críticas da doutrina em seu confronto com
os Princípios Constitucionais sobreditos, aplicáveis ao caso mediante analogia a
disposições constitucionais (art. 5º, LVII e LXII, CF) e diplomas internacionais que
versam sobre Direitos Humanos e garantias individuais de que o Brasil é signatário.

Ainda que se considerasse que o nemo tenetur se detegere não tem aplicação no
campo administrativo, o que não se sustenta a partir da solar constatação de que nossa
Constituição estende o Devido Processo Legal, no bojo do qual se encontra o referido
princípio, aos processos administrativos (art. 5º, LV, CF), não se poderia esquecer que
para além da infração administrativa em casos de embriaguez ao volante, estamos ante
a real possibilidade de responsabilização criminal do suposto infrator (artigo 306,
CTB, sem falar do novo artigo 291, § 1º, I, CTB).

II.VII.DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA –


ART. 5º, LXII

Este princípio é um instituto previsto no artigo 5º, inciso LVII da Constituição Federal
de 1988 e refere-se a um tipo de garantia processual que se atribui ao acusado,
oferecendo a ele a prerrogativa de não ser considerado culpado por qualquer ato
delituoso até que a sentença penal condenatória transite em julgado, garantindo ainda
ao acusado um julgamento justo que respeite à dignidade da pessoa humana.

De acordo com Moraes, em regra, direitos constitucionais definidos como direitos


fundamentais democráticos e individuais são de eficácia e aplicabilidade imediata. E a
própria Constituição Federal, em uma norma síntese, determina esse fato, expressando
que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata, e ainda leciona que o princípio da presunção de inocência é um dos
princípios basilares do Estado de Direito. E como garantia processual penal, visa à
tutela da liberdade pessoal, salientando a necessidade de o Estado comprovar a
culpabilidade do indivíduo, que é de forma constitucional presumido inocente, sob
pena de retrocedermos ao estado de total arbítrio estatal. (MORAES, 2007).

No mais, pode-se dizer que se trata de um princípio que se encontra manifestado de


forma implícita em nosso ordenamento.

Pode-se perceber, que o princípio constitucional da presunção de inocência é


considerado um dos mais importantes e intrigantes institutos do ordenamento jurídico.

Todavia, ressalta-se que os princípios constitucionais são instrumentos limitadores do


poder estatal e principalmente garantem a proteção da dignidade da pessoa humana.

O instituto da inocência presumida é, portanto, garantia fundamental e instituto


essencial ao exercício da jurisdição.

Para tanto, cite-se as palavras de Ferrajoli

“que a presunção de inocência não é apenas uma garantia de liberdade e


de verdade, mas também uma garantia de segurança ou, se quisermos,
de defesa social” (FERRAJOLI, 2010, p.506).”

Assim vejamos os entendimentos jurisprudenciais:

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL.


IMPOSSIBILIDADE DE SE EXTRAIR QUALQUER CONCLUSÃO
DESFAVORÁVEL AO SUSPEITO OU ACUSADO DE PRATICAR
CRIME QUE NÃO SE SUBMETE A EXAME DE DOSAGEM
ALCOÓLICA. DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVA CONTRA SI
MESMO: NEMO TENETUR SE DETEGERE. INDICAÇÃO DE
OUTROS ELEMENTOS JURIDICAMENTE VÁLIDOS, NO
SENTIDO DE QUE O PACIENTE ESTARIA EMBRIAGADO:
POSSIBILIDADE. LESÕES CORPORAIS E HOMICÍDIO CULPOSO
NO TRÂNSITO. DESCRIÇÃO DE FATOS QUE, EM TESE,
CONFIGURAM CRIME. INVIABILIDADE DO TRANCAMENTO
DA AÇÃO PENAL. 1. Não se pode presumir que a embriaguez de
quem não se submete a exame de dosagem alcoólica: a Constituição
da República impede que se extraia qualquer conclusão desfavorável
àquele que, suspeito ou acusado de praticar alguma infração penal,
exerce o direito de não produzir prova contra si mesmo: Precedentes.
2. Descrevendo a denúncia que o acusado estava “na condução de
veículo automotor, dirigindo em alta velocidade” e “veio a colidir na
traseira do veículo” das vítimas, sendo que quatro pessoas ficaram
feridas e outra “faleceu em decorrência do acidente automobilístico”, e
havendo, ainda, a indicação da data, do horário e do local dos fatos, há,
indubitavelmente, a descrição de fatos que configuram, em tese, crimes.
3. Ordem aprovada. (HC 93916, Relator (a): Min. CÁRMEN LÚCIA,
Primeira Turma, julgado em 10/06/2008, DJe-117 DIVULG 26-06-2008
PUBLIC 27-06-2008 EMENT VOL-02325-04 PP-00760 RTJ VOL-
00205-03 PP-01404).

De tal forma, o condutor não poderá sofrer quaisquer sanções administrativas por
causa da recusa em realizar testes e exames, tendo em vista que na ausência de prova
da sua efetiva utilização de substância psicoativa, há de prevalecer a presunção de
inocente.

II.VIII. DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA NÃO AUTOINCRIMINAÇÃO –


ART. 5º, LXIII

O princípio (a garantia) da não autoincriminação (Nemo tenetur se detegere ou Nemo


tenetur se ipsum accusare ou Nemo tenetur se ipsum prodere) significa que ninguém é
obrigado a se autoincriminar ou a produzir prova contra si mesmo (nem o suspeito ou
indiciado, nem o acusado, nem a testemunha etc.).

Nenhum indivíduo pode ser obrigado, por qualquer autoridade ou mesmo por um
particular, a fornecer involuntariamente qualquer tipo de informação ou declaração ou
dado ou objeto ou prova que o incrimine direta ou indiretamente.

Fiori (2008, p. 45) caracteriza o Nemo Tenetur se Detegere como o direito


fundamental de que ninguém poderá ser obrigado a colaborar ou produzir prova contra
si mesmo. Nucci (2007, p. 91) chega a afirmar que exigir a colaboração do acusado
seria a admissão da falência da máquina estatal e a fraqueza das autoridades se
dependesse do suspeito para colher elementos suficientes a embasar a ação.

Vejamos o que dispõe Convenção Americana de Direitos Humanos – CADH (art. 8º,
2, “g”) :

Artigo 8º – Garantias judiciais:

[…]

1. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma


sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às
seguintes garantias mínimas:
[…]

1. g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a


confessar-se culpada;

E o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos – PIDCP (art. 14, 3, “g”):

Artigo 14:

[…]

1. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena


igualmente, a, pelo menos, as seguintes garantias:
[…]

1. g) De não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a


confessar-se culpada.

No sentido de que o princípio da não autoincriminação pressupõe a existência de


vontade em decidir o que fazer ou não. É o que se vê dos seguintes acórdãos do STF:

“HABEAS CORPUS – JÚRI – RECONSTITUIÇÃO DO CRIME –


CERCEAMENTO DE DEFESA – NÃO-INTIMAÇÃO DO
DEFENSOR PARA A RECONSTITUIÇÃO DO DELITO – PACIENTE
QUE SE RECUSA A PARTICIPAR DA REPRODUÇÃO SIMULADA
DOS FATOS – VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITORIO –
INOCORRENCIA – PRISÃO CAUTELAR – INSTITUTO
COMPATIVEL COM O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA NÃO-
CULPABILIDADE (CF, ART. 5., LVII) – CONCESSÃO DE
LIBERDADE PROVISÓRIA – MERA FACULDADE JUDICIAL –
ORDEM DENEGADA. – A RECONSTITUIÇÃO DO CRIME
CONFIGURA ATO DE CARÁTER ESSENCIALMENTE
PROBATÓRIO, POIS DESTINA-SE – PELA REPRODUÇÃO
SIMULADA DOS FATOS – A DEMONSTRAR O MODUS
FACIENDI DE PRATICA DELITUOSA (CPP, ART. 7.). O SUPOSTO
AUTOR DO ILICITO PENAL NÃO PODE SER COMPELIDO,
SOB PENA DE CARACTERIZAÇÃO DE INJUSTO
CONSTRANGIMENTO, A PARTICIPAR DA REPRODUÇÃO
SIMULADA DO FATO DELITUOSO. O MAGISTERIO
DOUTRINARIO, ATENTO AO PRINCÍPIO QUE CONCEDE A
QUALQUER INDICIADO OU RÉU O PRIVILEGIO CONTRA A
AUTO-INCRIMINAÇÃO, RESSALTA A CIRCUNSTANCIA DE
QUE E ESSENCIALMENTE VOLUNTARIA A PARTICIPAÇÃO
DO IMPUTADO NO ATO – PROVIDO DE INDISCUTIVEL
EFICACIA PROBATORIA – CONCRETIZADOR DA
REPRODUÇÃO SIMULADA DO FATO DELITUOSO. – A
RECONSTITUIÇÃO DO CRIME, ESPECIALMENTE QUANDO
REALIZADA NA FASE JUDICIAL DA PERSECUÇÃO PENAL,
DEVE FIDELIDADE AO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DO
CONTRADITORIO, ENSEJANDO AO RÉU, DESSE MODO, A
POSSIBILIDADE DE A ELA ESTAR PRESENTE E DE, ASSIM,
IMPEDIR EVENTUAIS ABUSOS, DESCARACTERIZADORES DA
VERDADE REAL, PRATICADOS PELA AUTORIDADE PÚBLICA
OU POR SEUS AGENTES. – NÃO GERA NULIDADE
PROCESSUAL A REALIZAÇÃO DA RECONSTITUIÇÃO DA CENA
DELITUOSA QUANDO, EMBORA AUSENTE O DEFENSOR
TECNICO POR FALTA DE INTIMAÇÃO, DELA NÃO PARTICIPOU
O PRÓPRIO ACUSADO QUE, AGINDO CONSCIENTEMENTE E
COM PLENA LIBERDADE, RECUSOU-SE, NÃO OBSTANTE
COMPARECENDO AO ATO, A COLABORAR COM AS
AUTORIDADES PUBLICAS NA PRODUÇÃO DESSA PROVA. – A
LEGITIMIDADE JURÍDICO-CONSTITUCIONAL DAS NORMAS
LEGAIS QUE DISCIPLINAM A PRISÃO PROVISORIA EM NOSSO
SISTEMA NORMATIVO DERIVA DE REGRA INSCRITA NA
PROPRIA CARTA FEDERAL, QUE ADMITE – NÃO OBSTANTE A
EXCEPCIONALIDADE DE QUE SE REVESTE – O INSTITUTO DA
TUTELA CAUTELAR PENAL (ART. 5., LXI). O PRINCÍPIO
CONSTITUCIONAL DE NÃO-CULPABILIDADE, QUE DECORRE
DE NORMA CONSUBSTANCIADA NO ART. 5., LVII, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA, NÃO IMPEDE A UTILIZAÇÃO,
PELO PODER JUDICIARIO, DAS DIVERSAS MODALIDADES QUE
A PRISÃO CAUTELAR ASSUME EM NOSSO SISTEMA DE
DIREITO POSITIVO. – O RÉU PRONUNCIADO – AINDA QUE
PRIMARIO E DE BONS ANTECEDENTES – NENHUM DIREITO
TEM A OBTENÇÃO DA LIBERDADE PROVISORIA. A
PRESERVAÇÃO DO STATUS LIBERTATIS DO ACUSADO
TRADUZ, NESSE CONTEXTO, MERA FACULDADE.” (HC
69.026/DF, Rel. Min. Celso de Mello, Primeira Turma, julgado em
10/12/1991, DJ de 04/09/1992, p. 14091).

II.IX. DAS VIOLAÇÕES AS DECISÕES JUDICIAIS UNÍSSONAS AO


DIREITO PLEITEADO PELO AUTOR
Não obstante, todo exposto conclamado, trazemos algumas decisões judiciais que
demonstram como o judiciário tem decidido nestes casos:
Multa por se recusar a fazer o teste é inconstitucional! (imperatativo nosso):
PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO DE
INSTRUMENTO. AUTO DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. TESTE DO
BAFÔMETRO. RECUSA. NECESSIDADE DE OUTROS MEIOS DE
PROVA. ANULAÇÃO.

– O art. 277 do CTB dispõe que a verificação do estado de embriaguez,


ao menos para cominação de penalidade administrativa, pode ser feita
por outros meios de prova que não o teste do etilômetro.

A despeito das discussões acerca do art. 277, §3º, CTB, a jurisprudência


exige que a embriaguez esteja demonstrada por outros meios de prova,
não podendo ser decorrência automática da recusa em realizar o teste. –
Quando, além de não ter se envolvido em acidente de trânsito, não há
nenhum indício externo de que o condutor esteja dirigindo sob o efeito
de bebidas alcoólicas, a simples recusa em fazer o teste do etilômetro
(‘bafômetro’) não pode ser considerada como caracterizadora do estado
de embriaguez. não preencheu o termo de constatação ou fez constar no
auto de infração ou no próprio boletim de ocorrência qualquer das
informações acima referidas.

Ao contrário de outras irregularidades suscitadas pela parte autora, a falta


de exame, teste, perícia ou termo de constatação que aponte a
embriaguez do autor constitui falta grave e insanável, que diz respeito à
própria prova da materialidade do ato infracional e cuja ausência torna
insubsistente o auto de infração.

Deve constar no auto de infração a fundamentação da exigência do


etilômetro. Agravo de Instrumento nº 5027527-62.2015.4.04.0000/RS –
3ª Turma do Tribunal Regional Federal da Quarta Região.

(TRF4, AI nº 5006245-46.2013.404.7110/RS, 3ª Turma, Rel. Des.


Federal Fernando Quadros da Silva, D.E. 12/02/2015)

ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. AUTO DE INFRAÇÃO


DE TRÂNSITO. TESTE DO BAFÔMETRO. RECUSA.
NECESSIDADE DE OUTROS MEIOS DE PROVA. ANULAÇÃO.
1) O art. 277 do CTB dispõe que a verificação do estado de embriaguez,
ao menos para cominação de penalidade administrativa, pode ser feita
por outros meios de prova que não o teste do etilômetro. A despeito das
discussões acerca do art. 277, §3º, CTB, a jurisprudência exige que a
embriaguez esteja demonstrada por outros meios de prova, não podendo
ser decorrência automática da recusa em realizar o teste.

2) Quando, além de não ter se envolvido em acidente de trânsito, não há


nenhum indício externo de que o condutor esteja dirigindo sob o efeito
de bebidas alcoólicas, a simples recusa em fazer o teste do etilômetro
(‘bafômetro’) não pode ser considerada como caracterizadora do estado
de embriaguez. Deve constar no auto de infração a fundamentação da
exigência do etilômetro. Anulação do Auto de Infração.

(TRF4, AC nº 5008069-64.2013.404.7102/RS, 3ª Turma, Rel. Juíza


Federal Salise Monteiro Sanchotene, D.E. 14/04/2015)

Estas decisões judiciais já tem sido acolhidas também na esfera administrativa, onde
se tem conseguido anular um número cada vez maior de infrações onde não há
qualquer registro de sinal ou sintoma de embriaguez. Tais decisões tem sido
embasadas também em um princípio válido no direito brasileiro que é chamado de
Nemo tenetur se detegere (nome em latim), ou também conhecido como princípio da
não autoincriminação. Este princípio é consagrado em nossa Constituição Federal no
art. 5º, mas sua previsão é feita de forma expressa no Pacto de São José da Costa Rica,
no artigo 8º, inciso 2, alínea g, cuja redação é a seguinte:
Assim, podemos concluir que a matéria sobre a lei seca apresenta várias nuances que a
tornam um dos pontos de nossa legislação que mais sofreu alterações nos últimos
anos. Não só isso, apesar das inúmeras reformas ainda pairam muitas dúvidas sobre
sua aplicabilidade.
O Judiciário vem reformando as aplicações administrativas de infrações com base
apenas no artigo 277, parágrafo 3º, por entender que são necessários mais elementos
para impor as penalidades administrativas ao Condutor do que a simples recusa ao
exame de embriaguez. Este entendimento repercute em toda a esfera administrativa,
vez que as decisões administrativas são passíveis de reforma pelo Judiciário, com isso
as multas da lei seca podem ser canceladas.
As autoridades administrativas deverão acompanhar o entendimento do Judiciário,
pois adotar um procedimento diferente daquele que é definido como correto pelo
Poder Judiciário é um contrassenso, mas mais do que isto, é a violação de princípios
que regem o direito administrativo, tal como o da economicidade, eficiência e
moralidade.
A própria legislação (artigo 277, §2°, do CTB) e o Contran (Resolução n° 423/2013)
divergem com a redação do artigo 165-A, já que, determinam outros meios para a
produção da prova da embriaguez. Se é possível a constatação da alteração da
capacidade psicomotora por tantos outros meios de prova, não existe a obrigatoriedade
do etilômetro e, consequentemente, não haveria motivo para punir a sua recusa.

Em razão da recente vigência da lei, ainda não há decisões sobre a temática em


específico, entretanto, a recusa do bafômetro já havia sido protegida por decisões
exaradas pelo Judiciário, sustentando a aplicabilidade do princípio nemo tenetur se
detegere, citando o dispositivo constitucional que assegura tal direito. Alguns
exemplos:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO ORDINÁRIA. AUTO DE INFRAÇÃO


DE TRÂNSITO. TESTE DO BAFÔMETRO. RECUSA. – O art. 277 do
CTB dispõe que a verificação do estado de embriaguez, ao menos para
cominação de penalidade administrativa, pode ser feita por outros meios
de prova que não o teste do etilômetro. A despeito das discussões acerca
do art. 277, §3º, CTB, a jurisprudência exige que a embriaguez esteja
demonstrada por outros meios de prova, não podendo ser decorrência
automática da recusa em realizar o teste. (TRF4, AC 5001367-
22.2015.404.7106, TERCEIRA TURMA, Relator p/ Acórdão RICARDO
TEIXEIRA DO VALLE PEREIRA, juntado aos autos em 12/05/2016)

ADMINISTRATIVO. TRÂNSITO. AUTO DE INFRAÇÃO. TESTE


DO BAFÔMETRO. RECUSA. NECESSIDADE DE OUTROS MEIOS
DE PROVA. ANULAÇÃO. O art. 277, caput e § 3º, do Código de
Trânsito Brasileiro, com a redação dada pela Lei n.º 12.760/12, dispõe
que ao condutor que se recusa a realizar o teste do bafômetro serão
aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no seu
art. 165. A embriaguez deve ser demonstrada por outros meios de prova,
não podendo ser atestada como decorrência automática da recusa do
condutor de realizar o teste do etilômetro (“bafômetro”). Precedentes.
(TRF4 5014123-06.2014.404.7201, QUARTA TURMA, Relatora p/
Acórdão VIVIAN JOSETE PANTALEÃO CAMINHA, juntado aos
autos em 03/05/2016)
ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA. TRÂNSITO.
AUTO DE INFRAÇÃO E NOTIFICAÇÃO DE AUTUAÇÃO. ART.
165 E 277 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO. RECUSA EM FAZER O
TESTE DO “BAFÔMETRO”. AUSÊNCIA DE SINAIS DE
EMBRIAGUEZ. FALTA DE PROVAS. 1. Consta dos autos que a
autoridade afirmou que a autuação ocorreu diante da recusa do autor em
realizar o teste do etilômetro. A despeito das discussões acerca do art.
277, §3º, CTB, a jurisprudência exige que a embriaguez esteja
demonstrada por outros meios de prova, não podendo ser decorrência
automática da recusa em realizar o teste. 2. A antecipação de tutela deve
ser concedida para que, até o julgamento final da ação, seja suspensa a
penalidade de impossibilidade de uso da CNH, bem como a multa, no
que se refere somente à infração prevista no artigo 277, parágrafo
terceiro, c/c artigo 165, do CTB. (TRF4, AG 5001455-
04.2016.404.0000, TERCEIRA TURMA, Relatora p/ Acórdão MARGA
INGE BARTH TESSLER, juntado aos autos em 07/04/2016)

Por todo o exposto, concluímos que o artigo 165-A, do CTB está em descompasso
com a Constituição Federal, ferindo o direito da não-autoincriminação (art. 5º, inciso
LXIII), já que, ao exercer tal direito, o condutor será punido na via administrativa.

DO PEDIDO

Por todo exposto, requer:

a) Que seja acolhida a preliminar suscitada, para que essa Egrégia Junta de Defesa
Prévia receba o presente recurso com efeito suspensivo, para se abster de lançar
qualquer restrição, inclusive para fins de licenciamento e transferência, nos arquivos
do órgão ou entidade executivo de trânsito responsável pelo registro do veículo até
que a presente demanda seja julgada.

b) Conforme dispõe o CTB, jurisprudências de nosso Egrégio Tribunal de Justiça,


bem como os doutrinadores supra citados, que seja mantida a CNH do Recorrente até
que se esgotem todas as possibilidades do mesmo exercer seu amplo direito de defesa,
conforme prevê também a nossa Constituição Federal, em seu artigo 5o.
e) Caso não seja esse entendimento deste Núcleo de recepção de Defesas Prévias, que
seja acolhida a presente defesa em desfavor da notificação da autuação de infração de
trânsito, na forma das razões apresentadas, juntamente com as documentações anexas,
com o seu regular processamento, apreciação, e ao final o acolhimento das
preliminares nesta peças aventadas, de acordo com Código de Transito Brasileiro,
para julgar inconsistente o AIT de número Y001330425, gerando a correta e legal
anulação do Auto de Infração ora recorrido, com a consequentemente determinação de
cancelamento da penalidade e, posterior arquivamento do mesmo;

f) Requer também que seja respeitada a Constituição Federal e o Pacto de São José da
Costa Rica, onde Vossa Senhoria apresente uma decisão legalmente fundamentada;
para que, no caso de não acolhimento do pedido mencionado na alínea “A”, esta servir
de subsídios para uma ‘possível’ correção da ilegalidade e dos atos de quem
administrativamente tem obrigação de corrigi-los (SÚMULA 473 STF), via Poder
Judiciário, de maneira a fundamentar o não acolhimento de maneira técnica e
precisa.

g) Requer a imediata exclusão dos pontos registrados no prontuário do Requerente


com a intimação via postal do resultado da decisão, para requerer o que entender de
direito.

h) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos.

i) Por fim requer seja o presente recurso julgado TOTALMENTE PROCEDENTE,


declarando o auto de infração objeto da lide INSUBSISTENTE, gerando assim a
ANULAÇÃO E ARQUIVAMENTO do mesmo, nos termos da fundamentação retro,
por medida da mais lídima e salutar JUSTIÇA!
Nestes Termos, pede deferimento.

Brasília, de Janeiro de 2018.


_____________________________________________________________

Elson da Silva Couto

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