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rer en0 OAno da Morte de Ricardo Reis @ 0 Ano da Morte de Ricardo Reis, sequéncia a sequéncia’ + Chegada a Lisboa, em 29 de dezembro de 1935, apés 16 anos de auséncia no Brasil 1. + Instalagio no Hotel Braganga. + Conhecimento dos h6spedes do hotel pai, Dr. Sampaio e filha, Marcenda, + Deambulagto por uma Lisboa desconhecida e labirintica + Recordagio da morte de Fernando Pessoa (30 de novembro de 1935) ¢ visita ao cemitério (30 de 2. dezembro} + Conhecimento de Lidia, a riada do hotel + Eecrita¢ leitura do jornal. += Deambulagao pela cidade, no time dia do ano (31 de dezembro). + Deambulagao pela Lisboa notur. + Partida para Coimbra do Dr. Sampaio ¢ da filha + Regresso 20 hotel e encontro com “o fantasma” de Femando Pessoa. + Leitura matinal dos jornais. 4. = Atracio por Lidia e inicio da relacio amoross. + Passeio por Lisboa + Regresso ao hotel do Dr. Sampaio e de Marcenda. + Encontro no Teatro D, Maria I e apresentagoes. += Novo encontro com Fernando Pessoa, + Conversa com o gerente do hotel, Salvador, sobre Marcenda 6. + Leitura dos jomais. RICARDO RFS: HOSPEDE NO HOTEL BRAGANGA + Conversa com Marcenda e jantar, + Reflexdo sobre a situagio politica nacional e internacional. 7. + Citmes de Lidia. + 0 Carnaval fevereiro de 1936) em Portugal. + Noite de febre e dias de doenga com Lidia como enfermeira + Chegada de uma contrafé da Policia de Vigilancia e Defesa do Estado, + Desencontro com Marcenda. + Encontro com Femando Pessoa, "vost Saramago, 0 Ano de Morte de Ricardo Reis + Declaracao na policia politica (2 de margo de 1936). + Tscrta da carta para Marcenda, + Arrendamento da casa no Alto de Santa Catarina, + Deslocagio do hotel para a casa arrendada. + Visita de Femando Pessoa. + Passcio por Lisboa ¢ visita ao hotel + Visita de Lidia & casa do Alto de Santa Catarina, + Leitura dos jamais. + Visita de Marcenda ~o beijo. + Visita de Lidia —limpeza da casa, + Hscrita de carta a Marcenda, + Deambulagao e procura de emprego como médico, + Nova carta a Marcenda, + Reflexbes sobre as noticias internacionais. O tempo da Péscoa (abril de 1936). += Chegada da carta de Marcenda ~ fim da relagdo e peregrinaglo a Fétima, + Visita de Fernando Pessoa ~ Lidia e Maxcenda. Reflexdes sobre a morte 3. + Vista de Lidia e leitura de jornais. + Marcenda vista o consulta ¢ recusa pedido de casamento, + Carta de Marcenda — peregrinagao a Fatima em maio. + As comemoragbes do Primeiro de Maio (maio de 1936) e a situag2o politica internacional. + Ricardo Reis comnnica a Lidia que vai a Fatima a 13 de maio, + Carta de colega amancia fim da substituicdo temporéria no consuiério (mio de 1936). O colega retoma o trabalho a 1 de janho. + Vista de Liaise retiestes sobre pla. + Celebragbes do déelmo ano da Revoluguo Nacional (10 de juno) + Visita de Fernando Pessoa ~ Of Lidia e Mazcenda; politica nacional + Notas poticasinquetantes. + Fest do 10 de juno, + Conver cm Fernando Pessoa Ricardo Res val se pai Lidia ests grivida + Releso sobre stuasto polltcsineracionl. Letra de oral. + Sitmaso politics internacional gravee no verso : + As noticias na telefonia (agosto de 1936). +0 Portugal de Salazar +0 massacre de Badajoz. (SEM ATIVIDADE PROFISSIONAL) + Bavio de um poema a Marcenda. «Lidia visita Ricardo Reis pla ima vez no Alto de Santa Catarina + Preocupagio de Lidia — ino Danie. + Revola dos marinheiros(& de setembro de 1936) + Revolta para derubar o regime saizaristaabortad. + Visita de Fernando Pessoa ~ parti conjunta para ocemitéco, RICARDO REIS INSTALADO NO ALTO DE SANTA CATARINA 'simbologia ds cores: Verde — tempo / efertnciashittrcas; Azul ~dearnbulao; Vermelho ~ amor, Castanho tempo da naraiva Resumo da obra © Ano da Morte de Ricardo Reis narra os acontecimentos desenrolados ao longo des meses que Ricardo Reis passou em Lisboa até morrer, regressado do Brasil logo apés a morte de Fernando Pessoa. Entre esses acontecimentos, dé-se especial realce & atmosfera politico-social do Pais, 20 ambiente lisboeta, 20s acontecimentos histéricos mais importantes (da caracterizacio do Estado Novo & efervescéncia da politica espanhola que culmina com o golpe franquista, passando por um sem mimero de referencias a casos mundiais) ~e a toda uma intriga romanesca que se organiza em torno da liga¢io que Reis mantém com Lidia, uma criada do Hotel Braganga onde se hospeda, ¢ com Marcenda, ura menina de Coimbra que também frequenta o hotel, acompanhada por seu pai. A mudanga para uma casa alugada no Alto de Santa Catarina, o breve exercicio da profissio em substituigao de um colega na policlinica do Cam@es, a passagem pela Pide ¢ os encontros frequen- tes com um agente que o vigia e a “contemplagao” (termo de Ricardo Reis, como se sabe) do espeté culo do mundo que por aqui se The vai oferecendo (0 Carnaval, uma ids ao teatro, os passeios pela Baixa, uma ida a Fétima) so os acess6rios mais importantes da intriga ~ nao esquecendo dois findamentais: a ligacio afetiva de Lidia a seu irmao Daniel, marinheiro revolucionario que mozze durante a revolta do contratorpedeiro Afonso de Albuquerque, precedendo imediatamente, na lbgica narrativa, a decisio de Ricardo Reis de acompanhar Fernando Pessoa no desaparecimento desta vida. ‘Maria Alzira Sei, O essencial sobre José Saramago, Lisboa: IN-CM, 1087, pp. 47-48. Representagoes do século XX: o espago da cidade, o tempo historico e os acontecimentos politicos AA ficcio do sécuilo XX revela um grande fascinio pela Hist6ria, Nos romances de José Saramago, co discurso da ficgao e da Historia entrelacam-se. O passado torna-se presente ao ser reescrito, nim. ‘outro momento, ¢a Historia deixa de ser considerada um repositério da verdade. Assim, a conceciio de Hist6ria como um todo acabado cai e passa a valorizar-se 0 discurso hist6- rico com marcas do eu e do momento da sua escrita, como um tecido rendado onde os vazios tam- bém t8m significagao. Neste romance, Saramago recupera tu tempo ~ 1936 -, um poeta ~ Ricardo Reis -, uma poesia — Fernando Pessoa -, um contexto de amizade e de especulacio intelectual entre Ricardo Reis e Fernando Pessoa, sem deixar de lado a ficgao ¢ as profecias para o futuro de Portugal. © romance situa-se num ano historicamente critico: 1936, ano decisivo para o desencadear dos acontecimentos fatais da Segunda Guerra Mundial. Ricardo Reis, na sua forma impassivel de ver 0 mundo ~ “sdbio € 0 que se contenta com 0 espeticulo do mundo” -, sente-se perdido nessa Lisboa revisitada, deba- tendo-se durante nove meses neste labirinto que é um pais de marinheiros naufragados em pessi- mismo e corrupeao. ‘O romance decorre na cidade de Lisboa, no fim de 1935, mas, sobretudo, ao longo de 1936. Poli- ticamente, Portugal vive os primeiros anos do Estado Novo (1933-1974), um perfodo de Ditadura Gitigido por Salazar. Esta é também a época de ascensio dos regimes nacionalistas espanhol, ale- mao ¢ italiano, Em Portugal, a maquina do regime de Salazar divulga uma imagem idealizada e enganadora das realidades portuguesa e europeia. Lisboa é o local onde se desenrola a agao e é perspetivada por Ricardo Reis como um labirinto. Na cidade, Ricardo Reis encontra marcos culturais e memérias do passado que constituem as suas Ancoras culturais, na deambulaglo pela cidade que niio reconhece. Assim, o cais de Lisboa, as esti- tuas de Cames e do Adamastor constituem marcos do passado hist6rico portugués que contrastam com o presente mediocre e cinzento quer da cidade quer do povo. No fundo, Ricardo Reis sente-se perdido no labirinto de uma cidade que jé nao identifica como sua. ‘os Saramaye,O Ano da Morte de Rear Reis A aco da obra cruza acontecimentos histéricos com ficcionais, pois as personagens ficticias do romance (Ricardo Reis, o fantasma de Fernando Pessoa) Lidia, acompanham os acontecimentos sociais ¢ politicos da época, sendo afetados por eles: Ricardo Reis ¢ interrogado pela policia politica, o irmiio de Lidia, Daniel, morre na Revolta dos Marinheiros. A maquina de propaganda do regime de Salazar divulga uma imagem idealizada da realidade portuguesa, Ricardo Reis assume uma ati- tude de observador, embora nao interfira no curso dos acontecimentos. No fundo, 0 romance apresenta uma reflexdo sobre um momento do passado histérico portu- gués e uma perspetiva critica e reflexiva sobre a Historia, questionando a versio oficial e tendo em conta os movimentos de revolta que conduzirio ao 25 de Abril. JOSE SARAMAGO, 0 ANO DA MORTE DE RICARDO REIS: 0 ESSENCIAL EM TOPICOS (© romance desenha a paisagem da Europa de 1936: +a Franga govermada por Léon Blum e as noticias das vitérias do movimento do "Front Populaire’; + alltiliafascista de Mussolini eo nacionalismo, a anexacio do tenitério independente da Etiépia ea nao oposigao da Franca, que teme que Itdlia fica uma alianga com a Alemanha; + a Alemanha de Hiller ¢o seu prestigo ténico-centitico: o adamastorio Graf Zeppelin’; + aBspanha de Franco apés a Guera Civil + oretrato de Portugal: ~da primeira Repiblica & Ditadura (45 governos, 8 eleigoes, 8 presidentes em 15 anos}; ~ Salazar, desde 1928 no cargo de Ministo das Finangas e verdadero lider da naczo; ~ Salazar visto como “Salvador da Pétria", dentro do espitito messianico e sebastianista de quem acredita ‘um futuro glorioso garantido por um passado grandioso; 0s jomais portugueses comprometidos com o discurso do poder, — da repressio 3 contestagio; a Mocidade Portuguesa e a educagdo dos jovens; os movimentos contra o regime. (0 TEMPO HISTORICO DO ROMANCE Inicio do século XX — tempo de ruturas a vanios niveis, + Acontecimentos marcantes referidos no romance ~ 1910 ~ Proclamagio da Repiblica ~ 1914-1 Guerra Mundial: Lib ocupada pels italianos = 1916 — Alemanha declara guerra a Portugal, que entra formalmente no confito ~ 1917-1918 — Revolugio Russa ~1926 ~ Revolucio de 28 de maio e instauragio da Ditadura militar que Garé lugar zo Estade Novo e que ssubstituird a Primeira Repiblica 1928 ~ Salazar & nomeado Ministro das Financas e Oscar Carmona ¢ eleito Presidente da Repiiblica ‘sem oposigd0 1931 ~Proclamacio da Repiiblica em Espanha 1934 Adolf Hitler sobe 20 poder na Alemanha '~1936 ~ Mussolini invade a Fuigpia com sucesso; a sua conquista unificaria as col6r chamado “chifre da Africa’ ~ 1936-1939 — Guerza civil espanhola 1939 ~ 11 Guerra Mundial italianas no 269 0 TEMPO DA NARRATIVA, = Femando Pessoa morren a 30 de novembro de 1935, em Lisboa. = Ricardo Reis chega a Lisboa em 30 de dezembro de 1935. Fica a6 setemibro de 1936, 9 meses 60 tempo que Ricardo Reis esté em Lishoa. Deambulagdo geografica e viagem literaria Neste romance, Ricardo Reis deambula pelo espaco citadino da Lisboa de 1936, tendo como ‘inico objetivo observar a cidade. Durante a leitura, partilhamos caminhos ao lado do protagonista, que surge como uma espécie de guia, que nos dé a conhecer o que observa no Rossio, na Baixa ou na Praca do Comércio. Percor- remos, assim, a zona que vai do Cais do Sodré e, pela Rua do Alecrim, 20 Largo do Bardo de Quin- tela, chega ao Largo de Camées, ao Alto de Santa Catarina, ao Chiado: com os seus herdis, residéncias, consult6rios, monuments. Na deambulacao pela cidade, Ricardo Reis adota a atitude de observador acidental de Cesério, mas também se torna evidente a mesma visao critica que encontramos no episédio final de Os ‘Maias face 4 cidade de Lisboa. As veredas da cidade e as da criagio poética no romance t#m sempre a esclarecé-las 05 versos camonianos, pois é impossivel imaginar Portugal sem Camies ¢ sem Os Lusfadas. Reis est em Lisboa, Pessoa também, o primeiro habitando proximo do Adamastor, o segundo o Cemitério dos Prazeres. A estétua do Adamastor é um dos locais preferidos por Ricardo Reis: simbolo dos obsté culos do passado, opositor & marcha dos portugueses, representa agora a aurora de uma sociedade nova. A deambulacao geogrifica nesta obra é sempre uma viagem literdria e quando Ricardo Reis se embrenha no labirinto da cidade é nas suas personalidades culturais que encontra os marcos nor- teadores do caminho, Assim, a viagem geogrifica cruza-se com a viagem literdria ¢ as alus6es cons- tantes a Luis de Camdes, a Eca de Queirés ¢ ao proprio Fernando Pessoa, autor da Mensagem, ou aos heteténimos, completam a revisitagdo de Ricardo Reis a Lisboa, cidade (te}conhecida em funcio de elementos simbélicos intemporais. Mapa de Lisboa, Representacdes do amor ‘Neste romance, o tema do amor € apresentado a partir do tridéngulo amoroso: Ricardo Reis, Lidia ¢ Marcenda, Estas duas mulheres representam duas relagdes amorosas antagénicas e ambas termi- nam, pois Ricardo Reis acaba por prescindir das duas e ficar sozinho. Marcenda, a menina de Coimbra, que Ricardo Reis conhece no Hotel Braganga, exerce sobre ele ‘um peculiar fascinio. ‘No nome desta personagem feminina esté condensada a sua simbologia na obra. O nome latino torna-a proxima das musas da poesia de Ricardo Reis. Etimologicamente, Marcenda significa “aquela que deve murchar”, aquela a quem falta a eternidade e que esta, portanto, fadada a ser mor- tal, Ela éa musa de Ricardo Reis sem ter sido, € a ave cujo voo é abortado pela mao inerte que a faz prisioneira do labirinto familiar e afetivo. A sua mao paralisada pode representar 0 vazio afetivo da sua vida e a prisio a que os compromissos familiares a condenam. O romance com Ricardo Reis finda porque o poeta recusa assumir-se outro e prefere “desenlacar as maos”. Opostamente, a personagem L{dia, neste romance, excede a imagem que 0 livro de odes de Ricardo Reis Ihe confere e assume uma vida de compromisso politico. Ficando de lado o modelo pessoano de musa pilida, de descompromisso com a vida para escapar & dor, esta mulher a dias, camareira de hotel, morena, assume sozinha a sua condigao o filho de pai incégnito. f uma mulher humilde com quem Ricardo Reis nunca pensa ter uma relacao séria. Lidia, a0 longo do romance, revela-se uma personagem liicida, inteligente e politicamente envolvida. Decide assumir ‘flo sozinha, nao forcando Ricardo Reis a um compromisso que ele nao deseja ‘Na verdade, Lidia simboliza a esperanca numa nova revolucao que nao aborte antes de nascer e representa a imagem da terra portuguesa definida no romance: “Aqui, onde o mar se acabou e a terra espera”. EM ESQUEMA: A RECUPERACAO DA MULHER AMADA ened Lidia + Nome (’3s rosas” das Odes) + Nome (de construc gerundiva, que estabelece uma : ae relagio com o radical atino que o faz signficar "a que ee csté a enfraqueces", “aque vai murchar" em contraste ‘Marcenda + Plano do ideal com as “rosas" das Odes) | + Menina de Coimbra Figura servigal“exsténcia desfocada de musa? Figura labirinticae inatingivel Caracterizagdo das personagens + Ricardo Reis ~Personagem maitpla + imexistenteheterbnirmo + posta doutor + poeta ¢ héspede do hotel + pocta que nfo se econbece a sua crapo, que se opde ao autor dos seus versos + Femando Pessoa 0 fantasia" +0 poeta que jé no existe + ointarlocutor de Ricardo Reis Lidia ~Onome: + uma das musas posticas de Ricardo Reis ~Retrato social + camareira de hotel + mulher dias + rapariga do povo sem instrugio, naturalmente simples e sabia + consciente da sua situagio cultural: sabe que é anaifabeta e Ricardo Reis ¢ um doutor + ciente de que Ricardo Reis nao assumi a paternidade do filho de ambos = Condigio familiar + preocupada com a posicZo politica do iemao Daniel + teme pela sua vida = Retrato psicoldgico + discreta + corajosa elutadora + sentese feliz com o que tem ‘+ consciente de que Ricardo Reis est interessado em Marcenda = Simbologia +a sabedoria de Lidia e dos populares comparive a “sibio saber" dos poets instruidos i we, . Ue. Wy yj “Jon Sarg, © te Mor de ao at + Marcenda -O nome + recolhido num verso de Ricardo Reis; “E colho a rosa porque a sorte manda, Marcenda, guardo-a; reurche-se comiga” + derivado do verbo Iatino “marcere” emurchecer, tornarsefraco, debilitado} +o gertdio aplica-se, no poema,& rosa + da forma verbal fez Saramago um nome ferninino + semanticamente, relaciona-se com fragilidade, definhamento + oantropénimo Marcenda pressupde uma dimensio intertextual importante, concretizandose através 4a sobreposi¢io de discursos de Verlaine e Camilo Pessanhs — Retrato fisico + fisicamente tem uma aparéncia instivel + insegura + inacabada + delgada, sob uma aparéncia frgil + de peri, parecer uma adolescente + portadora de um defeitofisico + jovem (tem pouco mais do que vinte anos) + mio paralisada ¢ cega (iman que atrai a stencao do poeta) ~ Retrato psicolégico + desprendida «altva + tem uma inexplicével maturidade, fruto da inexperiéncia aliada a uma inata sabedoria = Simbologia + sabedoria das mulheres que 0s homens nio entendem + Daniel ~ irmio revolucionéio de Lidia = morre na lata contra o totalitarismo + Salvador: gerente do Hotel Braganga + Pimenta: riado do Hotel Braganga + Carlota funcionsria do consultéxio +O leitor ~ Abra exige um perfil de Ieitor + conhecedor de Pessoa « frequentador dos seus poemas e das obras que A sua volta se publicaram | + famillarizado com os seus versos + capaz de identificar as odes, as referéncias aos poemas ¢ aos textos dos outzos heterdnimos,além das do proprio orténimo + decifiador de enigmas dentro do labirinto textual sum amante de jogos + um participante ativo na construgio do romance Intertextualidade: José Saramago, leitor de Luis de Camdes, Cesario Verde e Fernando Pessoa Este romance estabelece varias relagbes intertextuais com outros textos literérios e com autores consagrados da literatura portuguesa, através de citagbes*, de parafrases*, de alusdes’, de referén cias irénicas ou cémicas. Estas marcas intertextuais permitem-nos dizer que o romance sarame- guiano é um texto polifénico'. AA figura de Luis de Camoes parece ser uma obsessdo neste romance, enquanto marco incontor nivel da literatura portuguesa e base fundamental da esséncia do ser portugués. Assim, proliferam ‘no romance as referéncias quer 4 épica quer 2 Ifrica camoniana. Por outro lado, a viagem de regresso de Ricardo Reis do Brasil para Portugal surge como a inversio das viagens maritimas das descobertas e a gléria do passado da lugar, agora, ao desencanto do Portugal presente. Tudo é disfé- rico nesta viagem em que Ricardo Reis da as costas 20 oceano: a viagem invertida (a partida dew lugar 20 regresso), o barco decrépito inglés (as naus engalanadas portuguesas deram lugar a um. navio estrangeiro), 0 dia cinzento de chuva de uma Lisboa himida e sem brilho. Por outro lado, 2 estatua do Adamastor é, assim como a estétua de Cam@es, um marco norteador dentro do labirinto da cidade de Lisboa. Geograficamente, 0 Adamastor encontra-se num ponto de cruzamento de caminhos, numa encruzilhada de todos os destinos. O Adamastor, simbolo de todos os obstaculos, no passado, torna-se, no presente, a rosa dos ventos que anuncia o novo roteiro do povo. Assim, nas coordenadas do texto, sendo a confluéncia das oito direcées cardeais, 0 Gigante ilumina dupla- mente 0 horizonte de expectativas humanas ¢ anuncia um mundo novo. A estatua de Cam@es sim boliza a meméria dos feitos gloriosos do povo porlugués ¢ contrasta com o presente decadente e opressivo, marcado pela Ditadura do Estado Novo. As frases iniciais e finais do romance: “Aqui o mar acaba e a terra principia” e “Aqui, onde o mar se acabou ¢ a terra espera” reescrevem o verso do Canto III, estincia 20 de Os Lusiadas: “Onde a terra se acaba e o mar comeca”. Estas frases apresen- tam também uma mensagem simbélica para Portugal: a gloria ja nao est no mar como no pas- sado, o futuro é agora em terra e pela mao de uma nova geracio, j4 no de marinheiros, mas de revolucionérios ¢ defensores da liberdade. As marcas intertextuais de Cesario Verde sao diferentes das anteriores, na medida em que nao sto as referéncias textuais que marcam a presenga do poeta, mas a atitude de Ricardo Reis de deam- bulacao ¢ de observacao acidental da cidade. Em sintese, Ricardo Reis retoma face a cidade de Lis- boa um posicionamento semelhante ao de Cesério Verde: no carater deambulatério de observador acidental, no desconforto da revisitagao de um local “desconhecido”, no recurso & meméria; e na tentativa de evasao. de salientar também o diélogo intertextual com Fernando Pessoa or6nimo, autor da Mensagem, & com os varios heter6nimos. Muito interessante é o facto de Saramago se tornar coautor da obra de Ricardo Reis, pois poeta continua a escrever poemas, pela mao de Saramago, mesmo depois da morte de Fernando Pessoa. Por outro lado, este Ricardo Reis citadino é muito diferente do Ricardo Reis epicu- rrista e estoico de Pessoa ¢, em Saramago, o heterénimo humaniza-se ¢ torna-se permedvel ao sofri- mento dos outros. Ser4 ainda de realcar que este romance, pela andlise que faz do passado, do presente do futuro de Portugal, se aproxima do sentido simbélico de Mensagem, de Fernando Pessoa. Outra referéncia intertextual é a evocacao da obra de Jorge Ianis Borges Ficcdes, através do protago- nista de um conto’, o escritor Herbert Quain, autor do livro imagindrio The God of the Labirynth, A obra The God of the Labirynth, da autoria de Herbert Quain, é o livro que Ricardo Reis se esquece de centregar na biblioteca do navio que o traz de regresso a Lisboa, que vai lendo zo longo de nove meses que leva para o Cemitério dos Prazeres quando decide acompanhar Femando Pessoa, no fim do " Referencia au texto ou fragmento de test. Testa que reormrula, com efeitesexplictios ou interpretatves, a mesma informa. go de out text, Referéaca dizeta ou indvea * Vocibulo do cazapo leical da musica que est selacionad com a combinagao de Linas melodicas Aliferentesdispostas e forma harmoniosa 5 sbysmnen dela obea de Herbert Quai’, inserido na obra Fz, de 1944, ‘Joué Saramago, 0 Ano da More de Ricardo Reis romance. O cardter Iéidico desta alusio constitui um “labirinto textual”, que reside no facto de uma entidade ficcional, o heterénimo Ricardo Reis, se transformar em personagem de um romance, Ricardo Reis, que lé um livro de um autor irlandés, que s6 existe como ficco na obra de Borges. £ deste modo que Saramago elabora um texto polifénico composto por varios textos que percor- rema literatura de Cam@es, a Pessoa, a Garrett, a Cesdrio e a tantos outros. Em tépicos ‘+ Muitos textos afloram neste romance em forma de citago: versos @ prosas de variados autores, ‘numa leitura fiel, por vezes, mas quase sempre muito pessoal e subversiva. Com frequéncia, o narrador privilegia a parédia ou a paréftase irénica nas leituras dos outros autores. '* O texto camoniano 6 retomiado com frequéncia e colocado ora na voz do narrador, ora na voz de Ricardo Reis, ora na de Fernando Pessoa, * De Ega de Queirds, fica-nos a ideia de que os caminhos da ficgéo portuguesa sempre se cruzam com os seus escritos. * Dante, Bernardim Ribeiro, Cervantes, Virgilio, Verlaine, Camilo Pessenha, Jorge Luis Borges s80 alguns dos autores que irrompem no texto saramaguiano, ao lado de poetas brasileiros que mar- cam a passagem de Ricardo Reis pelo Brasil: Gongalves Dias, Manuel Bandeira. +0 texto biblico é muitas vezes recuperado e subvertido, salientando-se disorepaincias entre os, varios Evangelhos e apresentando uma nova versao. + Saramago retoma Saramago quando Ricardo Reis evoca @ Passarola do Padre Bartolomeu de Gusmao, refere Blimunda, ou os boieiros de Mafra, do romance Memorial do Convento. +0 dilogo intertextual com a obra de Fernando Pessoa 6 recorrente: —citam-se e reescrevem-se versos de varios poetas; —0 romance assume-se como uma biografia complementar de Ricardo Reis, iniciada por Pessoa e concluida por Saramago; — 0 trabalho postico de criagao de Rels continua, apés a morte de Pessoa. Linguager, estilo e estrutura Aestrutura da obra romance O Ano da Morte de Ricardo Reis esti dividido em 19 partes (sequéncias/capitulos), nao nomeadas nem numeradas, mas perfeitamente reconhecidas pelos espacos em branco que as separam. Acestrutura do romance é aparentemente simples, visto que os acontecimentos sio relatados predo- minantemente pela ordem cronolégica desde a chegada de Ricardo Reis a Lisboa, no final do ano 1935, até setembro de 1936, momento em que se dirige com Fernando Pessoa para o Cemitério dos Prazeres. Cruzam-se no texto referéncias hist6ricas e ficeZo com frequentes alusées 3 obra pessoana. ‘Ao longo do romance, © narrador evoca acontecimentos passados ¢ futuros € comenta-os, colo- ‘ando-se simultaneamente no inicio (1936) e no final (1984) do século XX. Ao lermos a primeira ¢ tiltima frase deste romance, somos confrontados com uma reflexao sobre a aventura marinheira de Portugal, de que Cames é eco, com a forma de desconstruir/ reconstmir 0 novo projeto cultural portugues. As duas frases, colocadas estrategicamente no inicio eno fim do romance, desdobram 0 verso da estrofe 20 do Canto III de Os Lustadas: “Onde a terra se acaba e o mar come¢a”. O novo texto responde: "Aqui o mar acaba ea terra principia’ e “Aqui onde ‘© mar se acabou ¢ a terra espera”, invertendo o movimento da cultura, pois j4 no se cré. no mar como saida para a pequenez.¢ a subalternidade, pois é na terra, na patria, que existe o verdadeiro tesouro escondido que constituird o alicerce da histéria portuguesa. | 275 a Teron Em varios momentos do romance surgem textos dos jornais ¢ da rédio marcados pela ideologia do Estado Novo a par de constantes e diversas marcas de intertextualidade. ‘0 tom oralizante ea pontuacao Em O Ano da Morte de Ricardo Reis, Saramago apresenta um discurso proximo da oralidade, através da transgressdo de algumas regras da pontuacio. i ‘A pontuagao € utilizada de uma forma inovadora e original. + a virgula sobrepée-se aos demais sinais de pontuagio: — separa as falas das personagens (iniciam com maitiscula depois da virgula); — marca as pausas e acelera o ritmo de leitura; + auséncia de travessio a indicar discurso direto; + auséncia dos sinais emotivos de pontuagio: ~pontos de interrogacio e exclamacao. © facto de prescindir dos sinais emotivos de pontuagio confere fluidez e ritmo ao discurso. £ ainda uma forma de assumir uma (inica voz dentro do discurso. Deste modo, a voz do narrador incorpora todas as vozes. Assim, a narrativa toma-se polifénica, assumindo o narrador virios papéis dentro da narrativa: + movimenta-se entre 0 passado, 0 presente e o futuro; + controla a aclo e as personagens; + profere jufzos de valor, opinides e divagacoes; + empresta a sta “voz” a diversas personagens; + insere citagbes de obras facilmente reconheciveis; + modifica as citagdes & luz de uma perspetiva critica. © romancista mistura vozes de Reis e Pessoa, documentadas em textos em prosa € verso jé publicados e atribui palavras as personagens em perfeita consonancia com o seu perfil e forma de pensar. © leitor fica por vezes indeciso, sem saber a quem remeter a autoria de certas frases € palavras. Saramago revela uma capacidade inigualivel de assumir a personalidade do Outro, integrando- -se totalmente nele, inclusive falando com a sua voz e diccao. Recursos expressivos: a antitese, a comparagio, a enumeracio, a ironia e a metifora (Cf. recur sos expressivos pp. 324-328) A ironia e 0 sarcasmo dominam o tom do romance ¢ esto ao servico da dentincia e da critica. ‘A ironia percorre toda a obra ora de forma subtil ora mordaz. —antitese: “Nao ird ter tempo, Terei o tempo todo” — comparagio: “as bandeiras molhadas como trapos pingoes” enumerasao: “Seguiu o caminho das estituas, Eea de Queirés, 0 Chiado, D’Artagnan, 0 pobre Adamastor visto de costas” = ironia: “Era o tmico ser vivo no Alto de Santa Catarina, com 0 Adamastor jd nao se podia contar, estava concluida a sua pettificaszo" —metifora: “as obras mortas pintadas de morte-cinza” As simbologias + O romance é uma “viagem” através de momentos claros e escuros. «A frase inicial e a tiltima do romance completam um ciclo ¢ constituem um desafio para todos 10s Portugueses: terminaram as descobertas maritimas, inicia-se a descoberta da terra. + No romance, a epopeia Os Lusiadas é constantemente retomada como uma obsessio, presenti- ficada e amalgamada até & contemporaneidade. + 0 Adamastor surge como a confluéncia de todos os destinos do povo portugues: 0 obsticulo do pasado e a aurora do futuro, amunciando uma nova sociedade. ‘José Saramago, © Ano da Morte do Ricard Reis + Aestitua de Camies é 0 elemento norteador das personagens no labirinto da cidade, +A visio da pétria ¢ do mundo de Cam@es esté intimamente ligada & concegao de “ser portugués”. +A poesia portuguesa centra-se nas criagdes camonianas. + A poesia de Camdes e de Fernando Pessoa s20 0s limites da poesia portuguesa. + O mimero oito, para além de ser simbolicamente 0 ntimero do equilibrio césmico, surge asso- ciado a estétua do Adamastor pela sta localizagao geogrifica, mas também pelo significado simbélico dentro do romance. Ha uma coincidéncia temporal, pois oito anos depois da partida de Ricardo Reis para o Brasil é erigido o monumento ¢ apés oito anos de a estétua estar no Alto de Santa Catarina, é que Reis regressa & patria +9 meses é 0 perfodo que Ricardo Reis esta em Lisboa. também 0 tempo de gestagdo de um novo caminho para Portugal. Evoca ainda o tempo que demoraré o filho de Lidia a nascer. + O Hotel Braganca é uma referencia Iiterinia que evoca a obra queirosiana, + A presenca da estitua de Eca de Queités marca a sua influéncia incontomnavel na fieso portuguesa. + Lidia, musa de Ricardo Reis ¢ criada de hotel, confunde-se na mente de Ricardo Reis e, gracas ao nome, permite a fusdo entre o artista e o homem do mundo. Linguagem e reprodugo do discurso no discurso + Linguagem = O texto resulta de um efeito de alquimia poética ~ Texto com miltiplas vozes: ~ gente do povo; ~ altos poetas. — As vozes que se cruzam sto facilmente reconheciveis ¢ reconhecidas, mas renascem no texto saramaguiano. + Reprodugio do discurso no discurso: ~ Reescrita da citacao; ~ Subyersao na construciio do discurso indireto livre: ~ Orelato de discurso adquire especial subtileza nesta obra; = 0 relato de discurso determina a intersegao de miiltiplas vozes, ao reproduzir fiel- ‘mente o discurso relatado, conservando a sua enunciaglo ¢ a sua sequencializacao. Em topicos + Subverséio das regras tradicionais. + Forma intempestiva. + Reinvencao da eserita (combinacdo do discurso literério com 0 discurso oral}; + Auséncia de pontuagéo convencional (maior relevancia da virgula; confere ao texto fluidez ritmica, aproximando-o do discurso oral ou do ritmo do pensamento), “+ Frases muito longas ¢ labirinticas (aproximagéo ao discurso oral ou como tradugéio do mondlogo interior e da celeridade do pensamento). + Uso subversivo da maiiscula no interior da frase. * Recursos expressivos (metafora, ironia, enumeragéo, comparagao, andfora,...) + Emprego de exclamagoes e “apartes? + Utlizago predominante do presente — marca do fluir constante do narrador entre © passado © 0 presente. + Mistura de discursos — discurso direto, indireto, indireto livre — sem proceder as demarcagées, tradicionais, a nivel gréfico (dois pontos seguidos de travessao) e lexical (verbos “dicend) como acrescentar, declarer, dizer, exclamar, perguntar...) + Coexisténcia de sequéncias narrativas e descritivas sem delimitagao clara. “Alternancia entre registo formal e informal + Comentarios @ reflexdes através de intertextualidade. + Tom simultaneamente cémico, trégico e épico. ig ~Aprendo como se faz Como pode surgir em exame o romance O Ano da Morte de Ricardo Reis? Anélise de um excerto a partir de um questiondrio interpretativo. Peace ace) Andlise de um excerto Leia o texto. ‘Chegou a hora do ajuste de contas, @ a praga de touros abriu as portas para receber 0s milicianos prisio- neiros, depois fechou-se, é a fiesta, as metralhadoras entoam olé, oé, olé, nunca tao alto se gritou na praca 5 de(Badajoz\ os minotauros vestidos de ganga caemuns —— Quastaol: sobre 0s outros, misturando os sangues, transfundindo _* Massacre de Badajoz Questées-tipo de exame as veias, (quando jd nao restar um 86 de pé iro 03 Guoctso fmatadores liquidar, a tiro de pistola, os que apenas fica,‘ Massacrede Badajoz : - + Ricardo Reis Ié no jomal ram feridos, e se algum velo a escapar desta misericér) eae ‘0 (dia foi p + Lidia completa as informagoes um deles, ainda assim, ilus- Questiio 2: trou a noticia com uma fotografia da praga, onde se Scenes viam, espalhados, alguns corpos, e uma carroga que ali publicaram. 16 parecia incongruente, néo se chegava a saber se era cartoga de levar ou de trazer, nela tinham sido transpor- tados os touros ou os minotauros.(O resto soube-0 | cuontio icardo Res por Lidia, que 0 Soubera pelo imag, que o | * Versio de ida comple- memta ainformagio de soubera ndo se sabe por quem, talvez um recado que eae 20 veio do futuro, quando enfim todas as coisas puderem saber-se. dia ja no chora, diz, Foram mortos dois mil, ianende um @ tem os olhos secos, mas os ldbios tremem-lhe, as revolucionario magéis do rosto sao labaredas. Ricardo Reis vai para | ‘Lidia empentiada consolé-la, segurarihe 0 brago, foi esse o seu primeito. | «iain personagem 25 gesto, lembram-se, mas ela furta-se, néo o faz por ran- | interventiva cor, apenas porque hoje nao paderia suporté-lo. Depois, na cozinha, enquanto lava a louga suja acumulada, + Nome Lidia desatam-se-Ihe as ldgrimas, pela primeira vez pergunta + Evocaa figura das odes asi mesma o que vem fazer a esta casa, (Ser a criada do) de Ricardo Reis x0 Cae ee ee ee eel doutor, a mulher a dias, nem sequer a amante) "v2 Figuraconcretae porque ha igualdade nesta palavra, amante, amante, +€ muito diferente da tanto faz macho como fémea, ¢ eles nao sao iguais, @ Imagem cléssica de Lidia entio jd no sabe se chora pelos mortos de Badajoz, se. asa por esta morte sua que é sentir-se nada. La dentro, no * Caracterizagao de Lidia rio, Ricardo Reis n&o suspeita o que se esté —_* Figura multifacetada passando aqui. Para nao pensar nos dois mil cadave~ res, que realmente s40 muitos, se Lidia disse a verdade, abriu uma vez mais (The god of the labyrinth, ia ler a partir da marca que deixara, mas nao havia sentido Questiio 2: 40 para ligar com as palavras, entéo percebeu que néose —“ perrynaaao lire ae Ricardo Reis ndo entregou lembrava do que o livro contara até ali, voltou ao princi- pio, recomegou, O corpo, que foi encontrado pelo (Grimeire jogador de xadrez ocupava, de bragos aber- tos, as casas dos pedes do rei e da rainha e as duas 48 seguintes, na diregdo do campo adversario, e chegado—— uontuio 2 a este ponto tornou a desligar-se da leitura, viuo tabu- —_* Referéncia ao poemade ieiro, flaino abandonado, de bracos estendidos o jover Reece rae @Ue jovem fora) € logo um circulo inserito no quadrado imenso, arena coberta de corpos que pareciam crucifi- esto: 50 cados na propria terra, de um para outro ia 0 Sagrado —_« Referéncia ae poema a if de que ja nao havia de Fernando Passo Coracéo de Jesus certificando-se de que j eaten reseee José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Rels, Porto: Porto Ecitora, 2016, pp. 466-468. Identifique o episédio politico a que o texto faz referéncia ¢ justifique com expressdes textuais. Explicite a fuséo dentro do texto de varias realidades ficcionais. Caracterize a personagem feminina. Como responder 20 questionério? * Leia o texto duas vezes. * Leia todas as questdes colocadas. + Releia 0 excerto. * Sublinhe o verbo de instrugéo de cada pergunta. + Elabore tépicos de resolugao para cada questo. ‘*Atente no esquema aptesentado. * Construa as respostas. + Releia as respostas. + Verifique se inseriu exemplos textuais. Questées-tipo de exame is ~Aprendo como se faz 1. Identifique o episédio politico a que o texto faz referéncia e justifique com expresses textuais. Resposta No ano de 1936, o mundo esta dominado par guerras e movimen- tos totalitaristas em emersao. | Intradugio 0 texto refere-se ao massacre de Badajoz, que Ricardo Reis conhece por Lidia, ea partir daleitura dos jornais: “quando ja nao res- | pevenvolviniet™ tar um s6 de pé irao os matadores liquidar, a tiro de pistola, os que —_- idenrbificago + apenas ficaram feridos, e se algum veio a escapar desta misericordia | exemplo foi para ser enterrado vivo.” Em conclusdo, este texto insere na fic¢o romanesca varias refe- réncias historicas de uma época conturbada quer em Portugal quer na Europa. Conalusdio 2. Explicite a fusdo dentro do texto de varias realidades ficcionais. Questées-tipo de exame Resposta Uma das caracteristicas da escrita de Saramago é a insercao de outros textos ou a alusdo a outras obras. Neste texto, esto presentes varias realidades ficcionais: a refe- réncia ao livro The god of the labyrinth, um excerto do poema de Ricardo Reis ("Os jogadores de xadrez"] e uma referéncia ao poema do orténimo, "Menino de sua mae". Pademos ainda juntar a estas rea~ lidades a parcialidade do discurso jornalistico: “De tais acontecimen- tos no soube Ricardo Reis senao o que Ihe disseram os seus jornais portugueses”. Todos estes textos contribuem para o desenho de um contexto histérico perspetivado de uma forma miiltipla. Deste modo, o texto ultrapassa a mera transcri¢ao de factos histé: ricos, demonstra investigacao, conhecimento e sensibilidade critica 3. Caracterize a personagem feminina. Resposta A partir da leitura do texto, podemos inferir varias caracteristicas da personagem feminina que acompanha Ricardo Reis. Lidia @ a muther a dias, mas também a amante, nem sempre con- formada, de Ricardo Reis: “pela primeira vez pergunta a si mesma o que vem fazer a esta casa, ser a criada do senhor doutor, a mulher a dias, nem sequer a amante porque hd igualdade nesta palavra, amante, an amante”. 0 seu nome constitui uma referéncia a musainspiradorado Se do nome poeta. € também a irma preocupada com 0 irmao revolucionsrio:

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