PRIMEIRO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL DO ESTADO DE SAO PAULO
ACÓRDÃO
Sentença - Nulidade - Ausência de fundamentação - Inocorrência -
Interpretação de regras contratuais pelo sentido teleológico - Preliminar rejeitada - Nulidade repelida - Sentença mantida.
Julgamento - "Uttra petita" - Inocorrência - acréscimo de juros e de correção
monetária à condenação em dinheiro desde o vencimento da obrigação - Encargos que têm a função de reposição do valor aquisitivo da moeda - situação que não enseja julgamento além do pedido - Preliminar rejeitada - Nulidade repelida - Sentença mantida.
Recurso - Apelação - Não conhecimento - Endereçamento à vara diversa de
onde tramitam os autos - Erro material que pode ser sanado - interposição dentro do prazo recursal - Intempestividade descaracterizada - Preliminar afastada - Recurso conhecido.
Contrato - Prestação de serviço - empresa de recursos humanos -
Recolocação de contratante no mercado de trabalho - Interpretação teleotógtca da cláusula da correta remuneração - Ação de cobrança procedente - Apelação desprovida - Sentença mantida.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO
N° 1.213.540-9, da Comarca de OSASCO, sendo apelante RICHARD SLOWINSKI e apelada BAHRY CONSULTORIA EM RECURSOS HUMANOS LTDA.
ACORDAM, em Primeira Câmara do Primeiro Tribunal de
Alçada Civil, por votação unânime, negar provimento ao recurso.
Ação de cobrança de prestação de serviços de consuitoria em
recursos humanos (recolocação do contratante no mercado de trabalho), que foi julgada procedente pela r. sentença de fls. 44/46. Apela o réu (fls. 56/61). Preliminarmente alega a nulidade da sentença, sem fundamentação nas provas colhidas no processo e julgamento "ultra petita". No mérito, em síntese, pede a reforma do julgado afirmando que o saldo exigido pela autora, de R$ 1.000,00, não tem amparo no contrato ajustado, que dispõe que, na hipótese de contratação, deverá o contratante pagar à contratada 50% do salário percebido no primeiro mês de trabalho, que foi a importância de R$ 1.276,77, e não de R$ 3.100,00, como afirmado na inicial H- PRIMEIRO TRIBUNAL DE ALÇADA CIVIL DO ESTADO DE SÃO PAULO
(cláusula III do contrato). Por esses argumentos, pede o provimento do recurso
para ser julgada improcedente a ação. Apelação tempestiva, preparada e contra-arrazoada às fls. 70/74, com preliminar de não conhecimento, por intempestivídade. Ê o relatório. Inicialmente, o exame da preliminar invocada na contraminuta. O equívoco verificado na petição de interposição da apelação, com endereçamento errado da Vara onde tramita o processo, não enseja o não conhecimento do recurso, por ser mera falha material, que pode ser suprida, ainda mais na hipótese em que observado o prazo de interposição. Por isso, rejeita-se a preliminar. E também as formuladas na própria apelação. A sentença está muito bem fundamentada, com amparo nas provas documentais constantes do processo, utilizando-se o MM. Juiz das regras de interpretação para afirmar a procedência da ação. E o julgamento não se deu além do pedido colocado na ação. Correção monetária e juros são fatores intrínsecos às condenações em dinheiro, haja vista a necessidade de reposição do valor aquisitivo da moeda, ao ser recebido tardiamente, depois de vencida a obrigação, que na hipótese, tinha o prazo fixado quando da recepção do salário pelo contratado. Daí o termo inicial para a incidência dos referidos encargos. E, no mérito, o recurso não comporta provimento, Embora o sentido literal da cláusula III do contrato firmado pelas partes não seja preciso, dando margem, inclusive, para a interpretação diversa da proclamada na sentença, certo é que o objetivo da mencionada cláusula é remunerar adequadamente a contratante, diante da efetiva recolocação do contratado no mercado de trabalho. Mais do que o sentido literal, é imprescindível a observância da interpretação teleológica dos contratos. E, nesse sentido, com acerto a posição firmada pelo MM. Juiz, que deu correta interpretação ao contrato, assim esclarecendo a questão às fls. 45 dos autos: "E, tal obrigação, pelo princípio da boa fé, indica que o valor a que se obrigou o contratante é o de 50% do primeiro salário, entendido com o primeiro salário o valor correspondente ao pagamento dos 30 dias trabalhados. Se assim não fosse, caso o contratante fosse recolocado no mercado nos últimos dias do mês e recebesse o equivalente a apenas estes dias em seu primeiro salário, o valor a ser pago à empresa de recolocação no mercado seria irrisório, o que contraria o princípio da boa fé que deve nortear a interpretação dos contratos. Dessa forma, a expressão "primeiro salário" não corresponde ao primeiro pagamento, mas ao valor de contratação correspondente ao valor pago por 30 dias trabalhados". (...). ^---•,
APEL.N" 1.213.540-9 - OSASCO - VOTO 13589 - PMC
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Mais não é preciso acrescentar para se afirmar, também nesta
instância, a procedência da ação, mantida a r. sentença, pelos próprios fundamentos. Pelo exposto,nega-se provimento ao recurso. Presidiu o julgamento, com voto, o Juiz CORREIA LIMA e dele participou o Juiz PLÍNIO TADEU DO AMARAL MALHEIROS. São Paulo, 02 de agosto de 2004.