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A responsabilidade civil decorrente do abandono afetivo

Laís Mariane Alves1


Andreia Olmedo Minto2

RESUMO

Palavras-chave:

ABSTRACT

Keywords:

INTRODUÇÃO

Prefacialmente insta esclarecer que a Responsabilidade Civil por Abandono


Afetivo tem se tornado um tema tem sido um dos temas jurídicos amplamente
discutidos, proporcionando inúmeras e valorosas reflexões, considerando que o
judiciário brasileiro tem se deparado com inúmeras demandas nesta área.

Insta esclarecer que entendimentos diversos têm oportunizado uma


jurisprudência conflitante, tendo em vista que o tema engloba a possibilidade de
reparação por danos causados pelo abandono afetivo de um ou de ambos os
genitores, alicerçados pelos princípios da afetividade, da paternidade responsável,
da dignidade da pessoa humana e da proteção da criança e do adolescente, bem
como do dever de cuidado, de proteção e guarda que os pais têm para com os
filhos, previstos na Constituição Federal (BRASIL, 1988) e no âmbito civil associado

1 Graduanda em Direito pela Faculdade São Luis do Jaboticabal.


2 Advogada, Docente e Orientadora de Trabalho de Conclusão de Curso pela Faculdade São Luis do
Jabotical.
à possibilidade de indenização em decorrência dos danos causados pior este
abandono.

A legislação vigente preconiza que ser genitor de um filho, transcende a


obrigatoriedade do pagamento de pensão alimentícia, considerando o dever de
amparar, amar, cuidar e dar assistência psicológica, afetiva e social, que são
fundamentais para a construção da personalidade da criança e do adolescente, pois,
quando ausentes ou falhos, causam danos irreparáveis de ordem emocional,
devendo a vítima, no caso o filho, ser ressarcida por tais atos.

Partindo da inquietação da pesquisadora em mergulhar no arcabouço jurídico


acerca da temática e ainda por compreender a afetividade como vetor dos
relacionamentos familiares atuais, este estudo busca reunir dados e informações no
intuito de responder aos seguintes questionamentos: como o Direito interpreta o
abando afetivo e de que forma se dá a indenização (responsabilização)? Qual seria
a proporção entre a gravidade da culpa e o dano? Qual seria o critério para fixação
da indenização?

Para delimitar a investigação alguns objetivos foram propostos. Como objetivo


geral pretende-se identificar as consequências do abandono afetivo e se esta
perspectiva é passível de gerar dever de indenizar o abandonado e como objetivos
específicos: analisar quais pressupostos da responsabilidade civil são necessários
para caracterizar o abandono afetivo indenizável por dano moral; coletar
informações referentes a mudanças sócio legislativas responsáveis pela
consolidação do afeto como elemento caracterizador das relações familiares e a
busca constante da dignidade da pessoa humana.

Com o intuito de sustentar as ideias trazidas acerca do problema formulado, torna-se


necessário a fundamentação teórica, onde buscou-se esse aporte em pesquisadores
e publicações acerca do tema proposto.

Este estudo foi propiciado por meio de uma pesquisa bibliográfica, cujo
benefício se dá pelo fato de que esta possibilita investigar as diferentes
contribuições cientificas sobre o tema abordado permitindo ao pesquisador utilizar as
informações coletadas para enriquecimento de suas proposições. Com tal intuito
procedeu-se a busca de publicações que abordaram questões relacionadas ao
tema, sendo estas posteriormente analisadas e interpretadas para servirem como
aporte teórico na construção da fundamentação da pesquisa.

Após a coleta de informações foram selecionadas e posteriormente


delimitadas três categorias: Contextualização da Família; Responsabilidade Civil e
família e Abandono Afetivo e Dano Moral as quais deram origem aos capítulos
abordados neste estudo.

1. Conceito de Família

A Constituição Brasileira, em seu artigo 226, pressupõe a organização familiar


como alicerce da sociedade, tendo a sua proteção assegurada pelo Estado. Esse
documento adota uma "ordem de valores, privilegiando a dignidade da pessoa
humana, realizando verdadeira revolução no Direito de Família [...]" (DIAS &
PEREIRA, 2006, p.3) demonstrando várias formas de representá-la.

Com efeito, o Direito brasileiro predispõe de dois conceitos de família, sendo


um mais amplo e outro limitado. Amplamente, "a família pode ser considerada como
o parentesco, ou seja, o conjunto de pessoas unidas por vínculos jurídicos de
natureza familiar, compreendendo ascendentes, descendentes e colaterais".
(SALES, 2010, p.55). De maneira limitada, "a família compreende somente o núcleo
formado por pais e filhos que vivem sob o poder familiar" (ibidem, 2010, p.59).

Deve-se trazer ao lume, entretanto que, perante as constantes mudanças que


as famílias vêm sofrendo, inúmeras formas de união entre as pessoas podem ser
apontadas como uma instituição familiar. Desta forma, assomam famílias
monoparentais; uniões estáveis; uniões homo afetivas; cidadãos que estão em um
segundo matrimônio com filhos de uniões passadas, enfim, diversas são os
contextos que podem caracterizar uma família, atualmente.

A título de esclarecimento, por mais que não se desconsidere todo o avanço


histórico da família e, por conseguinte da legislação, nem sempre o texto frio,
preciso e pragmático da lei é suficiente para elucidar os litígios direcionados ao
poder judiciário. Souza (2000) cita como exemplo incisivo de modificações nas
relações familiares, o fato de que as separações conjugais se tornaram habituais na
atualidade.
Vale frisar que por muitos anos, as instituições familiares eram consideradas
como genuínas sociedades entre homem e mulher ligados por uma “affectio” que era
uma ligação romântica contemporânea, e sim uma “affectio” de parceiros de uma
sociedade, em que era nítida a ascendência do marido sobre a esposa e do pai
sobre os filhos (LOPES, 2000). Exemplificando o Código Civil de 1916 trazia em seu
texto, o modelo jurídico de família alicerçado nas relações patriarcais. Deste modo, o
casamento era indissolúvel só sendo exequível a separação dos corpos por causa
justificada (GONÇALVES & BRANDÃO, 2010).

Convém pôr em relevo que instigada pelo movimento feminista e pela


pretensão de autonomia da mulher na sociedade, uma intensa renovação ocorre no
ano de 1977. Neste ano, é decretada a Lei 6515, denominada como Lei do Divórcio.
Tal legislação regimentava a dissolução da sociedade civil e do casamento. Não
obstante, esta regulamentação apresentava a prerrogativa relacionada à guarda dos
filhos, a qual ditava que o cônjuge que durante o período do enlace matrimonial
apresentasse um comportamento deturpado não teria o direito de manter a guarda
dos filhos. Enfatiza-se, neste período, ainda, a presença de um vínculo da
conjugalidade ao desempenho da parentalidade (BRITO, 2008).

Posteriormente, com o Código Civil de 2002 e a Nova Lei do Divórcio, inserida


pela Emenda Constitucional nº. 66/2010 decorre uma relevante evolução no Direito
de Família. Cumpre salientar que a partir dessa atual concepção do Direito de
Família, pretende-se de forma factual garantir, primeiramente, o direito à dignidade
humana, possibilitando aos cônjuges decidirem sobre os rumos de sua vida
matrimonial. Diante do exposto pode se afirmar que uma significativa conquista
nestas normativas é o discernimento entre a parentalidade a conjugalidade.

Tanto a Constituição quanto o Estatuto da Criança (BRASIL, 1990) equiparam


os direitos e deveres do homem e da mulher no que concerne à família, como
também eliminem a ideia, apresentada pelo Código Civil de 1916, do poder familiar
ser concretizado somente durante o casamento (BRITO, 2008).

Nessa vereda, é normal que o desempenho dos papéis parentais esteja, após
uma desunião, muito afetado pelas transformações ocasionadas pelo divórcio.
Wallerstein e Kelly (1998) em pesquisas sobre o tema destacam que com certa
regularidade o divórcio acarreta uma crise parcial ou total na habilidade do adulto
assumir seu papel como pai ou mãe, perdurando por meses, e em algumas
situações por anos.

Assevera ainda que a separação litigiosa, ou ruptura do laço conjugal em


meio a conflitos, tem gerado um forte impacto nas relações de parentalidade
(BRITO, 2008). Dito de outro modo, a relação entre pais e filhos tem sido agravada
em decorrência do rompimento das relações conjugais onde o litígio esteja
envolvido.

Neste contexto, o discernimento entre conjugalidade e exercício parental


evidenciou-se um desafio às novas estruturas familiares. A separação conjugal
estabelece o fim da relação entre os cônjuges, no entanto, a parentalidade engloba
uma relação indissolúvel, relação país e filhos e deste modo, compreende-se que ao
abandonar afetivamente um descendente, o genitor poderá ser submetido aos
rigores da lei.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br>. Acessado em: 11 de novembro de 2014. Acessado
em: 10 de novembro de 2014.

BRITO, Leila Maria Torraca de. Guarda compartilhada: um passaporte para a


convivência familiar. In Apase (Org.), Guarda compartilhada: aspectos psicológicos e
jurídicos (pp. 53-71). Porto Alegre: Equilíbrio. 2005

DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coords.). Direito de família e


o novo código civil. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p. 3.

LOPES, José Reinaldo de Lima. O Direito na História – Lições Introdutórias. São


Paulo: Max Limonad, 2000.

SALES, Lília Maia de Morais. A família e os conflitos familiares: a mediação como


alternativa. Pensar, Fortaleza, v. 8, n. 8, p. 55-59, fev. 2003. Disponível em: <
http://www.unifor.br/joomla/joomla/joomla/images/pdfs/pdfs_notitia/1691.pdf>.
Acesso em: 10 Mai 2018.

SOUZA, Fábio Araújo de Holanda. As Formas Alternativas de Resolução de


Conflitos e a Mediação Familiar. Disponível em: :
< http://www.artigonal.com/divorcio-artigos/as-formas-alternativas-de-resolucao-de-
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WALLERSTEIN, J; KELLY, J. B. Sobrevivendo à separação: como pais e filhos
lidam com o divórcio. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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