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Filosofia e
princípios
da arquivística
audiovisual
| Filosofia e princípios
da arquivística audiovisual
| Filosofia e princípios
da arquivística audiovisual
Ray Edmondson
Tradução de Carlos Roberto de Souza
4.5 Principais perspectivas dos arquivos audiovisuais...................... 115 Anexo 2 – Quadro comparativo: arquivos audiovisuais,
6. Princípios de gestão.............................................................159
6.1 Introdução...............................................................................159
6.2 Políticas....................................................................................159
6.3 A constituição das coleções: seleção, incorporação,
exclusão e descarte...................................................................161
6.4 Preservação, acesso e gestão dos acervos................................... 166
6.5 Documentação......................................................................... 171
6.6 Catalogação.............................................................................173
6.7 Aspectos jurídicos..................................................................... 175
6.8 Nenhum arquivo é uma ilha..................................................... 177
| Apresentação
13
tradução para o português torna a obra imediatamente acessível | Prefácio da primeira edição
para outro grande grupo linguístico. Eu gostaria de agradecer o dr.
Carlos Roberto de Souza por seu dedicado trabalho ao preparar
esta edição e entregá-la para o que, eu confio, será uma ampla
comunidade de leitores.
1.“Filosofia”, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Por-
No prefácio da edição de 1998, observei que esta tuguesa, é o “estudo que se caracteriza pela intenção de ampliar
incessantemente a compreensão da realidade, no sentido de
...poderá ser apenas a “primeira palavra”, não a “palavra fi- apreendê-la na sua totalidade, quer pela busca da realidade ca-
nal”. Se ela ganhar alguma aceitação e estimular o debate, paz de abranger todas as outras, o Ser [...], quer pela definição
terá provado seu valor. As práticas e experiências dos arquivos do instrumento capaz de apreender a realidade, o pensamento
audiovisuais, e a contribuição intelectual de indivíduos e gru- [...], tornando-se o homem tema inevitável de consideração”. A
pos continuarão a enriquecer a teoria. Definir os princípios exemplo de outros aspectos do trabalho de coleta e preservação
de qualquer nova disciplina é um processo de longo prazo. da memória da humanidade, a arquivística audiovisual tem, em
sua base, certas “causas e princípios gerais”. Para serem abertos
À medida que nos movemos rapidamente para a era digital, este ao exame e ao reconhecimento geral, eles precisam ser conve-
sentimento permanece mais verdadeiro do que nunca. nientemente codificados.
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Philosophy Interest Network (Avapin), uma rede informal que reú- de Arquivos de Televisão) em Bogensee, Alemanha, em setem-
ne mais de 60 arquivistas de filmes e sons, e outros interessados bro. As discussões nas oficinas foram documentadas e, juntamen-
na pesquisa e definição da base teórica do campo da arquivística te com outros aportes subsequentes, foram utilizadas como base
audiovisual. Embora esta seja uma rede de pessoas que se iden- para revisão. O segundo documento foi debatido numa oficina
tificam e exercitam seus interesses em base estritamente indivi- na conferência da Amia (Association of Moving Image Archivis-
dual, a maioria de seus membros tem também relações pessoais ts) em Toronto, Canadá, em outubro de 1995.
e institucionais com as principais associações profissionais ativas
no campo (elas são mencionadas ao longo deste documento). 5. Preparei o presente texto sob os auspícios da Unesco e em
Até o momento, funcionei como o coordenador da rede Avapin, consulta com um grupo editorial composto por Ernest J. Dick
e a instituição em que trabalho, o National Film and Sound (Canadá), Annella Mendoza (Filipinas), Robert H.J. Egeter-van
Archive da Austrália (nfsa), assumiu os custos de secretaria e Kuyk (Países Baixos), Paolo Cherchi Usai (Estados Unidos), Die-
correio. trich Schüller (Áustria), Roger Smither e Helen Harrison (Reino
Unido) e com contribuições de alguns outros membros do “1994
4. No final de 1993, surgiu a oportunidade – através da concessão Philosophy Working Group” original. Embora todas essas pes-
de uma bolsa da Australian Public Service Commission – para soas tenham feito suas contribuições em caráter estritamente
que eu passasse algum tempo na Europa, durante 1994, dedica- pessoal, sua situação profissional deu-lhes acesso aos pontos de
do a colocar no papel algumas das discussões. Nessa tarefa, jun- vista de virtualmente todas as maiores associações profissionais
taram-se a mim os membros da Avapin, Sven Allerstrand, Helen no campo da arquivística audiovisual. Sou grato aos comentá-
Harrison, Rainer Hubert, Wolfgang Klaue, Dietrich Schüller, rios detalhados que Wanda Lazar e Paul Wilson fizeram ao tex-
Roger Smither e Paolo Cherchi Usai, e formamos o “1994 to e a colegas do nfsa e de outras instituições por suas sugestões
Philosophy Working Group”. Cada membro do grupo deu, ao durante a gênese deste trabalho.
longo de extensos debates e/ou através de reações escritas aos
diferentes estágios do rascunho, sua contribuição à síntese que 6. A partir de setembro de 1994, a primeira e depois a segunda re-
constituiu o documento inicial. O projeto de 1994 começou em dação deste documento tiveram uma circulação cada vez maior,
reuniões durante o congresso da Fiaf (Federação Internacional ainda que informalmente. Partes foram traduzidas para uso em
de Arquivos de Filmes) em Bolonha, Itália, em abril/maio; o tex- diferentes países, e versões integrais foram incorporadas aos
to foi concluído no final de julho e submetido a críticas em três programas de formação desenvolvidos pelo NFSA, pela Asso-
oficinas durante a conferência conjunta da Iasa (International ciation of South East Asian Nations-Committee on Culture and
Association of Sound Archives) e Fiat (Federação Internacional Information (Asean-Coci), pela University of New South Wales,
16 17
Sydney, Austrália, e pela George Eastman House School of Film especial a secretaria em Bruxelas) que tornaram possível o pro-
Preservation, Rochester, Estados Unidos. Partes da segunda re- jeto de 1994 e a primeira redação deste documento. Agradeço
dação foram incluídas no livro Audiovisual archives: a practical rea- os muitos colegas da Avapin pelas contribuições que deram à
der (Unesco, 1997). A publicação do presente texto pela Unesco segunda redação. Quero agradecer os companheiros acima cita-
é um passo lógico e vital na formalização do documento em sua dos que deram seu tempo e sua energia para contribuir editorial-
integralidade e na ampliação do acesso a ele. mente na formatação das diferentes redações e/ou na edição do
texto ora em publicação – em ambos os casos foi um trabalho de
7. Ao oferecer uma base teórica documentada ao campo e à profis- amor dedicado por pessoas muito ocupadas. Finalmente, quero
são da arquivística audiovisual, esta publicação poderá ser ape- agradecer a Unesco pelo apoio e abrangência de visão ao publi-
nas a “primeira palavra”, não a “palavra final”. Se ela ganhar car este documento.
alguma aceitação e estimular o debate, terá provado seu valor. As
práticas e experiências dos arquivos audiovisuais, e a contribui- Ray Edmondson
ção intelectual de indivíduos e grupos continuarão a enriquecer Camberra, abril 1998
a teoria. Definir os princípios de qualquer nova disciplina é um
processo de longo prazo. Esperemos que, no futuro, haja tenta-
tivas mais abrangentes e melhores de codificação da teoria da
arquivística audiovisual.
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| Prefácio da segunda edição
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3. Nos poucos anos que se seguiram à primeira edição, mudanças nossa área, em sua diversidade geográfica e cultural. Suas con-
significativas ocorreram no campo da arquivística audiovisual. tribuições foram feitas graciosamente e sou devedor a eles pelo
O desafio da digitalização e as mudanças tecnológicas associa- tempo que lhes roubei de suas agendas sobrecarregadas e pelos
das a ela colocam em questão a continuidade da existência dos conselhos ponderados. Quero agradecer também Crispin Jewitt,
suportes tradicionais. Filmes em nitrato, considerados instáveis coordenador do ccaaa (Co-Ordinating Council of Audiovisual
e efêmeros no passado, estão sobrevivendo a materiais de pre- Archives Associations) por seus valiosos comentários do texto
servação em acetato feitos a partir deles. Em alguns países, a final, e Mme. Joie Springer, interlocutora na Unesco, por seu
formação em arquivística audiovisual ao nível de pós-graduação apoio ao projeto. Esta publicação aparece sob os auspícios con-
está implantada e se tornou a norma para os que querem en- juntos da Unesco e do ccaaa . A recente criação deste último,
trar para a profissão. Estes e outros desenvolvimentos levantam um órgão máximo de coordenação da profissão, é em si mesma
questões filosóficas que precisam ser levadas em conta. uma prova das mudanças e do amadurecimento em curso.
4. A primeira edição foi publicada pela Unesco em inglês, francês 6. A 27 de outubro de 1980, a Conferência Geral da Unesco ado-
e espanhol, com uma tradução portuguesa posterior prepara- tou a Recomendação sobre a Salvaguarda e Preservação das
da e publicada pela Associação Portuguesa de Bibliotecários, Imagens em Movimento, um considerável avanço internacional
Arquivistas e Documentalistas. A edição em papel do texto em no reconhecimento legal e cultural da arquivística audiovisual.
inglês está esgotada e logo as outras também estarão. Esta nova Esta publicação, apropriadamente, aparece no 25º aniversário
edição responderá à demanda e esperamos que atinja um públi- desse documento e a ele deve muito dos princípios aqui formu-
co ainda mais amplo. lados.
5. Como na primeira edição, tive o privilégio de me beneficiar dos 7. Todas as opiniões, erros e omissões do texto são meus, obvia-
conselhos e das reações de um grupo internacional de referência mente. Como antes, comentários e reações serão muito bem-
formado por companheiros que leram e comentaram o texto vindas, já que nenhum texto desse tipo é “definitivo”.
em vários estágios: Sven Allerstrand, Lourdes Blanco, David
Boden, Paolo Cherchi Usai, David Francis, Verne Harris, Sam Ray Edmondson
Kula, Irene Lim, Hisashi Okajima, Fernando Osorio e Roger Camberra, abril 2004
Smither. Embora cada um deles tenha contribuído individual-
mente, suas atividades, como se verá, refletem acesso aos pontos
de vista de quase todas principais associações profissionais de
22 23
Notas editoriais Informações complementares na Internet
24 25
| Agradecimentos
Sven Allerstrand
Arquivista. Diretor geral do Arquivo Nacional Sueco de Sons Gra-
vados e Imagens em Movimento desde 1987. Membro dos conse-
lhos da Sociedade Sueca de Arquivos desde 1993 e da Biblioteca
Nacional Sueca desde 1995. Secretário Geral (1991-1996) e Presi-
dente (1997-1999) da Iasa.
Lourdes Blanco
Curadora de arte pré-hispânica e contemporânea e ensaísta. Ex-
diretora do Centro de Conservação e de Arquivos Audiovisuais da
Biblioteca Nacional da Venezuela. Membro do comitê regional
para América Latina e Caribe do programa Memória do Mundo.
David Boden
Administrador de arquivos. Chefe do setor de Preservação e Serviços
Técnicos do National Screen and Sound Archive da Austrália. Mem-
bro do Conselho Executivo e tesoureiro da Seapavaa desde 2002.
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Paolo Cherchi Usai Irene Lim
Arquivista, ensaísta e professor. Curador Chefe do Departamento Diretora adjunta (Audio Visual Archives/Exhibitions) do National
de Cinema e diretor da L. Jeffrey Selznick School of Film and Vi- Archives de Singapura. Membro do Conselho Executivo da Seapa-
deo Preservation da George Eastman House, Rochester, Nova Ior- vaa de 2000 a 2002. Atualmente termina um mestrado em ciências
que, desde 1994. Membro do conselho das Giornate de Cinema da informação na Nanyang Technological University.
Muto de Pordenone desde 1982. Membro do Comitê Executivo
da Fiaf. Hisashi Okajima
Ensaísta de cinema, professor e crítico. Curador do arquivo de fil-
David Francis OBE mes e chefe do setor de Programação/Difusão do National Film
Consultor em arquivística. Curador do National Film Archive (In- Center, National Museum of Modern Art, Tóquio, Japão. Mem-
glaterra) até 1990. Diretor da Motion Pictures, Broadcasting and bro do Conselho de diretores da Japan Society of Image Arts and
Recorded Sound Division da Library of Congress até 2001. Mem- Sciences desde 2000.
bro honorário da British Kinematograph and Television Society.
Ganhador dos prêmios Jean Mitry e Mel Novikoff. Membro hono- Fernando Osório
rário da Fiaf. Professor de arquivística e conservação audiovisuais. Professor
de preservação fotográfica na Escola Nacional de Conservação,
Verne Harris Restauração e Museologia, Cidade do México. Diretor de con-
Arquivista e ensaísta sobre assuntos arquivísticos. Diretor do South servação da Coleção Manuel Alvarez Bravo do Centro de Cul-
African History Archive, um arquivo independente que documenta tura Casa Lamm. Ganhador da bolsa Fulbright – Gracia Robles
as lutas contra o apartheid. Conferencista sobre arquivos da Uni- (1994-96).
versity of Witwatersrands. Diretor adjunto do South Africa State
Archives/National Archives até 1993. Roger Smither
Ensaísta e arquivista. Conservador do Imperial War Museum Film
Sam Kula and Video Archive desde 1990. Editor do Código de Ética da Fiaf
Ensaísta, consultor em arquivística. Presidente (2003-2004) e mem- (1998). Membro da Comissão de Catalogação da Fiaf (1979-1994),
bro do Conselho da Amia. Ocupou vários cargos executivos na do Comitê Executivo da Fiaf (1993-2003) e secretário geral/vice
Fiaf e na Fiat. Participou de missões de estudo para a Unesco e presidente da Fiaf (1995-2003).
Ica. Diretor do National Film and Television Archives/National
Archives do Canadá até 1988.
28 29
| Filosofia e princípios
da arquivística audiovisual
1 | Introdução
1.1.1
Toda atividade humana baseia-se em valores, crenças ou no conhe-
cimento de certas verdades, ainda que estas sejam percebidas ins-
tintivamente e não verbalizadas (“se não respirar, eu sufoco”). Da
mesma forma, todas as sociedades funcionam porque existem valo-
res compartilhados e regras aplicadas em comum, frequentemente
expressas em fórmulas escritas, como leis e constituições. Essas, por
sua vez, fundamentam-se em valores que, independentemente de
estarem ou não expressos nesses textos, constituem sua base, bem
como a base de sua aplicação.
1.1.2
A filosofia coloca a problemática dos valores e crenças em um pa-
tamar mais elevado ao fazer perguntas do tipo “por quê?”, “quais
os princípios fundamentais e a natureza de...?”, “o que é esse todo
33
do qual eu vejo apenas uma parte?”, e de propor respostas que De outra forma, a ação nos arquivos corre o risco de ser arbitrária
se articulam num sistema lógico ou numa determinada visão de e inconsistente, baseada em intuições não verificadas e em políticas
mundo. As religiões, os sistemas políticos e a jurisprudência são caprichosas. Tais arquivos não teriam condições de garantir confia-
expressões de filosofias. Também o são os campos de atividades bilidade, previsibilidade e seriedade.
que habitualmente chamamos de “profissões” – a prática da me-
dicina, por exemplo, tem uma base filosófica que reconhece a su-
perioridade da vida e o bem-estar do indivíduo como um estado 1.2 Filosofia e princípios de arquivos
normal e desejável. audiovisuais 1
1.1.3 1.2.1
As filosofias têm força porque as teorias, as visões de mundo e os Foi durante a década de 1990 que, por diversos motivos, o desen-
quadros de referência que elas criam são base de ações, decisões, volvimento de uma base teórica codificada para a profissão tor-
estruturas e relações. Os arquivistas audiovisuais, assim como os nou-se finalmente uma preocupação. Em primeiro lugar porque
bibliotecários, os museólogos e outros profissionais de coleta e con- a importância óbvia e crescente da mídia audiovisual como parte
servação, exercem um tipo particular de poder sobre a sobrevi- integrante da memória do mundo provocou uma rápida expan-
vência, o acesso e a interpretação da memória cultural do mun- são da atividade arquivística, sobretudo em contextos comerciais
do (estudaremos isso no capítulo 7). Compreender as teorias, os e semicomerciais além do âmbito dos tradicionais arquivos ins-
princípios, os postulados e realidades que influenciam seu trabalho titucionais. Grandes somas de recursos foram gastas mas talvez
tem, portanto, importância não somente para os próprios arquivis- nem sempre tenham sido obtidos os melhores resultados devi-
tas mas também para toda a sociedade. do à ausência de normas profissionais definidas e reconhecidas.
Décadas de experiência prática acumulada em arquivos audio-
1.1.4 visuais forneciam agora uma base sobre a qual firmar mais so-
A teorização é uma ferramenta para explorar e entender um domí- lidamente – através da codificação dessa experiência – as possi-
nio profissional e esse objetivo é o propósito deste texto. A hipótese bilidade de maximizar os ganhos potenciais e os inconvenientes
inicial é que os arquivistas audiovisuais precisam entender e refle- de perder oportunidades.
1. O termo arquivo
tir sobre os fundamentos filosóficos de sua profissão para exercer audiovisual como
definição de um campo
seus poderes com maior responsabilidade, estar abertos à discussão 1.2.2 de atividade será
discutido no Capítulo 3,
e ao debate em defesa de seus princípios e práticas, e ao mesmo Em segundo lugar, os profissionais de arquivos audiovisuais por mui- juntamente com outras
terminologias usadas
tempo evitar a tentação de se esconder atrás de dogmas rígidos. to tempo careceram de uma identidade clara e de reconhecimento neste texto.
1.5.4
A discussão, contudo, não tem uma postura distante e fria. Paixão,
poder e política são tão inseparáveis da arquivística audiovisual
quanto de quaisquer outras disciplinas mais tradicionais de coleta e
conservação. O desejo de proteger a memória coexiste com o dese- 2.1 Premissas básicas
jo de destruí-la. Já foi dito que “ninguém e nenhuma força poderão
abolir a memória”7. Mas a história mostrou – e nunca mais dra- 2.1.1
maticamente do que nos últimos cem anos – que a memória pode Este documento baseia-se necessariamente em determinadas pre-
7. “O fogo não pode
matar os livros. As ser distorcida e manipulada e que seus suportes são tragicamente missas que precisam ficar claras desde já.
pessoas morrem, mas
os livros nunca morrem. vulneráveis à negligência e à destruição proposital.
Ninguém e nenhuma
força poderão abolir 2.1.2
a memória. [...] Nesta
guerra, sabemos, os 1.5.5 Ele tenta sintetizar os pontos de vista de profissionais que falam em
livros são armas. Parte
de nossa dedicação Em outras palavras: a preservação consciente e objetiva da memó- seu próprio nome e não como representantes oficiais de institui-
é sempre mantê-los
como armas usadas ria é um ato intrinsecamente político e pleno de valores. Não há ções ou federações (o que teria exigido uma abordagem diferente e
em defesa da liberdade
do homem.”. Franklin poder político sem controle sobre os arquivos e sobre a memória. muito mais complexa). Em consequência, ele não representa uma
Delano Roosevelt,
Message to the A democratização concreta sempre poderá ser medida à luz deste posição “oficial”, salvo se alguma organização o adotar explicita-
booksellers of América
[Mensagem aos livreiros critério essencial: o grau de participação na formação dos arquivos, mente como tal.
da América], 6 de maio
de 1942. o acesso a eles e a participação em sua interpretação 8.
8.Jacques Derrida, 2.1.3
Archive fever: a Freudian
impression, University O documento adota a postura da Unesco que considera a arqui-
of Chicago Press, 1996,
p.4, n.1. vística audiovisual como um campo único, no qual operam várias
20.Os cursos de
verão organizados 2.5.3 2.5.5
pela Fiaf em 1973, no
Staatlichesfilmarchiv Os cursos de nível universitário em arquivística audiovisual, que Como ocorre com outras profissões, um conhecimento amplo e
der DDR, em Berlim,
inauguraram um se multiplicaram a partir de meados da década de 1990, vieram diversificado constitui base prévia para uma especialização poste-
conceito que continua a
ser aplicado atualmente preencher uma lacuna21. Oferecem uma formação prática e teórica rior e permite aos arquivistas audiovisuais localizarem-se no con-
e que, sob os auspícios
da Unesco ou de que, ao final de um ou dois anos, é consagrada por um diploma. junto dos profissionais especializados na coleta e conservação de
diversas federações,
ou por iniciativa de Paralelamente, cursos mais gerais em biblioteconomia e arquivísti- documentos. Os conhecimentos de história são essenciais para a
serviços de arquivos,
reúnem especialistas ca começaram a incorporar elementos audiovisuais à medida que compreensão e a apreciação pessoal da importância social dos do-
internos e externos.
estes passaram a ocupar um lugar cada vez maior nas coleções ge- cumentos – para responder à pergunta: “para o que serve o que es-
21. Um estudo da rais das bibliotecas, dos arquivos e dos museus. Evidentemente, aos tou examinando?” A natureza dos documentos audiovisuais exige
Unesco intitulado
Curriculum development olhos dos potenciais empregadores, uma especialização desse tipo uma formação técnica universal; de outra maneira seria impossível
for the training of
personnel in moving constitui vantagem para os que aspiram trabalhar nesse campo. A entender o acervo com o qual se ocupa e explicá-lo para os outros.
image and recorded
sound archives obrigatoriedade de possuir uma qualificação na área será em breve Um conhecimento da história contemporânea em geral e de seu
estabeleceu um
programa “modelo” de definitiva para qualquer pessoa que quiser ocupar um lugar dentro próprio país em particular fornecerá um quadro para avaliar fil-
um curso universitário.
Boa parte dos cursos de um arquivo audiovisual. mes, programas e gravações. A capacidade de apreciar, criticar e
organizados seguiu
esse modelo em julgar a qualidade dos materiais dá coerência a todo esse conjunto.
estabelecimentos de
e n s i n o s u p e r i o r, m a s 2.5.4
existe também um curso
à distância pela Internet. Todo arquivista audiovisual deveria adquirir, numa carreira aca- 2.5.6
A lista de cursos
existentes figura no dêmica ou assemelhada, uma bagagem elementar que englobasse, A formação de arquivistas audiovisuais tem relações intrínsecas com
final dessa publicação
da Unesco. entre outros, os seguintes domínios do conhecimento: a informática e a arquivística, a conservação e a museologia, de modo
3.1.1
A arquivística audiovisual tem sua própria terminologia e seus pró-
prios conceitos, mas eles são frequentemente usados – e mal usados
– com pouco cuidado para com a precisão, de forma que a comuni-
cação nem sempre é clara. Este capítulo estuda esses pontos de refe-
rência fundamentais e propõe uma série de definições e princípios.
3.1.2
O Anexo I contém um glossário com alguns termos comuns. Glos-
sários maiores podem ser encontrados em algumas outras publica-
ções. Nem todos são concordes; além disso, a terminologia varia de
acordo com os idiomas. Nem todos os conceitos – sobretudo os abs-
tratos – podem ser traduzidos com precisão. Estimulamos o leitor
a abordar com cuidado esse tópico, tanto ao analisar os conceitos
quanto ao aplicá-los no curso de seu trabalho cotidiano.
3.2.2.1 Uma ampla gama de termos é usada para descrever os itens 3.2.2.6 Alguns suportes são mais conhecidos por acrônimos co-
físicos das coleções ou acervos dos arquivos audiovisuais que con- muns ou patenteados, como cd , cd - r , dvd , vcd , vcr , vhs .
3.2.3.8 Vídeo pode significar uma imagem em movimento eletrô- 3.2.4.3 Pelo mesmo motivo, a palavra museu é empregada por inúme-
nica (em oposição à fotográfica) exibida numa televisão ou numa ros arquivos. Há, por exemplo, vários museus de cinema na Europa. Em
tela de computador, ou ser uma abreviação para uma mídia ou um alguns, mas não em todos, há uma ênfase na coleção e exibição de arte-
formato relacionado, como registro de vídeo, videoteipe ou videocassete. fatos como figurinos, objetos de cena e equipamentos técnicos antigos.
3.2.3.9 Materiais especiais, não-livros, não-texto e outros termos seme- 3.2.4.4 Como unidade administrativa dentro de uma organização
lhantes são habitualmente usados para identificar suportes audiovi- maior, um arquivo audiovisual pode às vezes ser chamado de cole-
suais no jargão das bibliotecas e às vezes em arquivos tradicionais. ção – literalmente, um grupo de objetos ou documentos colocados
Do ponto de vista do arquivista audiovisual, esses termos não são juntos. Dependendo do contexto, o termo pode ter diversas cono-
úteis e, dependendo do contexto, podem mesmo ser pejorativos e tações, inclusive o sentido de itens selecionados individualmente de
ofensivos (ver 2.1.7). acordo com uma política, em oposição a um fundo de arquivo, ou a
um grupo de registros relacionados que forma um todo orgânico.
3.2.4 Descritores institucionais Em termos de organização, a palavra enfatiza a dependência com
relação a uma organização ou conceito maiores, mais do que suge-
3.2.4.1 Na medida em que os arquivos audiovisuais são instituições re uma organização com direitos próprios.
ou parte de instituições, eles são habitualmente identificados por
um descritor. O descritor é algumas vezes neutro (por exemplo: 3.2.5 Nomes de instituições
organização, instituto, fundação), mas, com mais frequência, é um
termo específico da profissão, como arquivo, biblioteca ou museu. 3.2.5.1 Os nomes institucionais dos organismos públicos de coleta e
Isso tem o efeito de dar a conhecer a natureza da instituição (ou do conservação preenchem várias funções importantes, entre as quais:
departamento competente) e, ao mesmo tempo, declarar os valores
associados a ela. descrever a instituição, declarar seu caráter profissional,
seu status, sua missão e eventualmente outros atributos 26. Foi provavelmente a
Cinémathèque Française,
3.2.4.2 Em alguns países, os arquivos audiovisuais utilizam um tipo informar e comunicar; são um ponto de referência através um dos primeiros
arquivos de filmes do
específico de descritor originado dos termos franceses ou espanhóis do qual a instituição é encontrada (em catálogos, pesquisas mundo, que deu origem
a essa tendência, na
para biblioteca (bibliothèque, biblioteca). Daí, cinémathèque (cinemateca, si- na Internet etc.) década de 1930.
3.3.1 Definição de patrimônio audiovisual Materiais não bibliográficos ou gráficos, como fotografias, mapas, manuscritos,
transparências e outros trabalhos visuais, selecionados por seu próprio valor.
3.3.1.1 Os documentos audiovisuais – gravações, filmes, programas
etc., como definido em 3.3.2 abaixo – são parte de um concei- 3.3.1.2 Em consequência, a maior parte dos arquivos audiovisuais,
to mais amplo que pode ser chamado de patrimônio audiovisual. As se não todos, deveria ajustar essa definição a seus parâmetros par-
conotações e o alcance deste conceito variam de acordo com as ticulares de forma a adaptá-la a sua situação – por exemplo, a uma
33. Outra redação para
culturas, os países e as instituições, mas sua essência é que os ar- qualificação geográfica (isto é, o patrimônio de um país, de uma a segunda parte dessa
cláusula foi sugerida por
quivos precisam contextualizar seus acervos de gravações, progra- cidade ou de uma região), a uma limitação temporal (por exemplo, Wolfgang Klaue: “(...) isso
inclui materiais resultantes
mas e filmes através da coleta e da formação de uma série de o patrimônio da década de 1930) ou a uma especialização temática da produção, gravação,
transmissão, distribuição,
itens, informações e competências a eles associadas. Propomos a (por exemplo, o patrimônio radiofônico como fenômeno social an- exibição e radiodifusão
de documentos
seguinte definição : 32
tes do surgimento da televisão). audiovisuais tais como
roteiros, manuscritos,
partituras, desenhos,
documentos de produção,
O patrimônio audiovisual inclui (mas não se limita a) os seguintes componentes: 3.3.2 Definição de mídias, documentos e materiais fotografias, cartazes,
materiais de publicidade,
Sons gravados, produções radiofônicas, cinematográficas, televisivas, videográ- audiovisuais comunicados para a
imprensa, documentos de
ficas e outras que contenham imagens em movimento e/ou sons gravados, des- censura, artefatos como
32. Baseada na definição equipamentos técnicos,
originalmente publicada tinados prioritariamente ou não à veiculação pública. 3.3.2.1 Há muitas definições e outras tantas hipóteses a propósito cenários, acessórios,
em Time in our hands elementos de filmes de
(National Film and Sound destes termos que podem, em combinações variadas, abarcar (a) animação e de efeitos
Archive da Austrália, especiais, figurinos”.
1985), e revista por Birgit Objetos, materiais, trabalhos e elementos imateriais relacionados imagens em movimento, tanto em película quanto eletrônicas, (b)
Kofler em Legal questions
facing audiovisual a documentos audiovisuais, considerados do ponto de vista téc- projeções de transparências acompanhadas de sons, (c) imagens 34. Klaue sugere aqui
archives (Paris: Unesco, “produção, reprodução e
1991, p.8-9). nico, industrial, cultural, histórico ou qualquer outro. Isso inclui em movimento e/ou sons gravados em vários formatos, (d) rádio e apresentação”.
Um arquivo audiovisual é uma organização ou um departamento de 3.3.3.5 A tipologia dos arquivos audiovisuais (ver próximo capítu-
uma organização cuja missão, eventualmente estabelecida por lei, con- lo) indica que nesta definição incluem-se numerosas categorias e
siste em facilitar o acesso a uma coleção de documentos audiovisuais preocupações. Por exemplo, alguns arquivos audiovisuais dedicam-
e ao patrimônio audiovisual mediante atividades de reunião, gestão, se a uma determinada mídia, como filmes, programas de rádio e
conservação e promoção. de televisão, ou gravações sonoras; outros englobam várias mídias.
Alguns se ocupam de conteúdos variados enquanto outros se dedi-
3.3.3.3 Esta definição leva em consideração o que foi exposto cam a conteúdos específicos ou especializados. Finalmente, podem
no ponto 3.2.6 e responde à ideia de que a preservação não ser públicos ou privados, e ter ou não finalidades comerciais. O
é um fim em si, mas uma maneira de atingir uma finalidade, que importa é o caráter predominante das funções, não as políticas que
que é o acesso permanente. Também estabelece que a coleta, orientam essas funções. Por exemplo, alguns arquivos audiovisuais
a gestão, a conservação, a promoção e o acesso ao patrimônio de empresas não permitem o acesso público, pois sua política é
audiovisual são funções principais e não uma atividade de menor atender apenas “clientes internos”. Alguns arquivos públicos ou
importância entre várias outras. A palavra que importa aqui institucionais, por outro lado, optam por facilitar o acesso a usuá-
é e não ou: o arquivo faz todas essas coisas, não apenas algu- rios não comerciais, sem objetivo de lucro. Nos dois casos, a função
mas. Isto por sua vez supõe que reúne materiais, ou pretende de possibilitar acesso, em si, é a mesma.
reuni-los, nos diferentes formatos apropriados tanto para sua
preservação quanto para sua consulta. 3.3.4 Definição de arquivista audiovisual
3.3.3.4 Esta definição deve ser aplicada de forma criteriosa e não 3.3.4.1 Embora termos como arquivista de filmes, arquivista de sons e
dogmática. Por exemplo, a atividade de preservação de um arquivo arquivista audiovisual sejam de uso comum na área e em sua biblio-
audiovisual não pode ser confundida com a de uma distribuidora grafia, parece não haver uma definição oficial desses termos adota-
de filmes, vídeos ou gravações sonoras cuja missão é o acesso e não da pelas associações profissionais, pela Unesco ou mesmo entre os
a preservação. Na prática, esse segundo tipo de instituição pode profissionais. Tradicionalmente, são conceitos subjetivos e flexíveis
se converter com o tempo em uma instituição do primeiro tipo, se que evidentemente significam coisas diferentes para pessoas dife-
sua coleção for preciosa ou única, e sua perspectiva se transformar. rentes: uma afirmação de percepção e identidade pessoais mais do
Repetindo: embora as coleções privadas não sejam organizações – que uma qualificação formal.
3.3.4.4 Levando em conta o exposto, propomos a seguinte definição: 3.3.4.7 Como os arquivistas em geral, os bibliotecários e os museó-
logos, os arquivistas audiovisuais deveriam poder seguir quaisquer
37. Amia 2002, Diretório Um arquivista audiovisual é uma pessoa formalmente qualificada ou especializações correspondentes a suas oportunidades, preferên-
de membros.
credenciada como tal, ou que exerce, num arquivo audiovisual, uma cias ou conhecimentos temáticos, e identificar-se de acordo com
38. Iasa: Estatuto da
Iasa adotado a 8 de
atividade profissional voltada para o desenvolvimento, a gestão, a con- eles. Dessa forma poderiam, por exemplo, compartilhar uma base
dezembro de 1995.
servação ou a possibilidade de acesso ao acervo, bem como para o comum em teoria, história e conhecimento técnico, mas escolher
39. Seapavaa: Estatuto e atendimento de uma clientela. seguir carreiras como arquivistas de som, de cinema, de televisão,
regimento adotados a 20
de fevereiro de 1996. de radiodifusão, de multimídia ou de documentação.
93
4.1.2 gton, a Library of Congress perguntava-se o que fazer com as
Os arquivistas audiovisuais, enquanto grupo profissional, também cópias em papel dos primeiros filmes recebidos para registro de
não têm um nascimento oficial. À medida que a área se desenvol- direitos autorais.
veu, atraiu profissionais de muitos campos: as profissões de coleta
e conservação, a universidade, as indústrias cinematográficas, de 4.1.5
radiodifusão e de som, as ciências e as artes. Alguns tinham titula- Um jornal britânico da época expressou o dilema:
ção formal em seus campos de origem, outros não. O que parecia
reuni-los era provavelmente um sentimento de perda e catástrofe, O filme não era nem um impresso nem um livro – na verdade, qualquer
e uma motivação, em alguns casos um zelo missionário, da neces- um poderia dizer o que ele não era, mas ninguém podia dizer o que ele
sidade de deter a maré. era. O objeto não tinha uma categoria na qual se encaixasse. O verdadeiro
problema era que ninguém sabia dizer a que categoria ele pertencia (The
4.1.3 Era, 17 outubro 1896).
Nos primeiros anos do século XX, não era de modo algum eviden-
te que os registros sonoros e as imagens em movimento tivessem Alguns meses depois, a Westminister Gazette via a questão da se-
qualquer valor permanente. Embora sua invenção tenha sido, em guinte forma:
grande parte, resultado da curiosidade e do empenho científicos,
seu rápido desenvolvimento deveu-se à sua explosão como forma ...a atividade cotidiana da sala de gravuras do British Museum está com-
de entretenimento popular. pletamente atrapalhada pela coleção de fotografias animadas que foram
despejadas em cima dos funcionários atarantados (...) a degradação da
4.1.4 sala consagrada a Dürer, Rembrandt e outros mestres (...) [onde o pessoal]
Algumas tentativas pioneiras foram feitas para que instituições cataloga de má vontade O Derby do príncipe, A Praia de Brigh-
especializadas reconhecessem o valor dos materiais audiovisuais. ton, Os Ônibus de Whitehall e outras cenas atraentes que deliciam
Por exemplo, em Viena, em 1899, a Österreichische Akademie der os olhos do público dos cafés-concerto... Falando seriamente: essa coleção
41. Desde seu início, Wissenschaften estabeleceu um Phonogrammarchiv com a finali- de porcarias não está se tornando uma bobagem absurda?
o objetivo era assegurar
a permanência dos dade de recolher registros etnográficos sonoros (provavelmente o
registros, criar uma
documentação de primeiro arquivo sonoro estabelecido no mundo com essa finali- 4.1.6
apoio à pesquisa
e desenvolver um dade expressa, arquivo até hoje em funcionamento) 41. Ao mesmo Os suportes audiovisuais não se enquadraram facilmente nos pres-
programa. Isso vai ao 42. Como o Imperial
encontro da definição tempo, em Londres, o British Museum esboçou uma coleção de supostos de trabalho das bibliotecas, arquivos e museus do começo Wa r M u s e u m i n g l ê s q u e
de arquivo audiovisual desde 1919 efetivamente
expressa em 3.3.3.2. imagens em movimento de valor histórico, enquanto em Washin- do século XX e, embora houvesse exceções 42, seu valor cultural era coletou filmes.
4.3.4.1 A palavra não tem aqui um sentido pejorativo ou elitista: é 4.3.5.1 Os arquivos são definidos pelos públicos que atendem. Nes-
unicamente um descritor prático e um componente essencial dos se sentido, cabe estabelecer uma diferenciação paralela à dicotomia
termos de referência do arquivo. com/sem finalidades de lucro estabelecida acima. Os arquivos de re-
des de radiodifusão, por exemplo, podem servir prioritariamente às
4.3.4.2 Status geográfico define o território que o arquivo cobre ou necessidades e estratégias internas de produção da organização maior
representa. Um arquivo nacional tem um âmbito de coleta e de ser- e, em certo grau, estão integrados ao fluxo produtor e técnico cotidia-
viços mais amplo, mas talvez menos detalhado do que um arquivo no da empresa. Também podem fornecer materiais para uma cliente-
que opera em nível regional, estadual ou local. Pode também ter la maior, em termos que reflitam os objetivos de lucro, na eventualida-
outras funções pertinentes à escala nacional como, por exemplo, de provável de que a emissora controle também direitos patrimoniais.
um papel de coordenação ou de formação. O acesso inclusive pode ser negado se estiver em conflito com algum
planejamento (por exemplo, uma estratégia de relançamentos).
4.3.4.3 Muitos arquivos governamentais ou semigovernamentais têm
status oficial: seu papel e mandato são reconhecidos de alguma forma 4.3.5.2 O arquivo sem finalidades lucrativas será motivado por
pelo governo, ou através de uma legislação ou de disposições admi- valores de interesse cultural e público, mas mesmo dentro desses
nistrativas práticas. Esse status pode estar expresso através de meca- parâmetros existe um amplo espectro de clientes. Arquivos ligados
nismos de apoio financeiro (uma subvenção governamental anual a universidades, por exemplo, podem conscientemente voltar-se
fixa), mecanismos de prestação de contas e controle públicos. Podem para o usuário acadêmico, com o desenvolvimento do acervo e de
beneficiar-se do depósito legal e de outras disposições compulsórias. serviços orientado pelos currículos. Outros podem estar sintoni-
zados com as necessidades da indústria de produção audiovisual,
4.3.4.4 Os arquivos consolidam seu status e autoridade com o pas- com a cultura cinematográfica, com a pesquisa, com o turismo, por
sar do tempo. Isso pode se dever aos efeitos conjugados da idade exemplo. Quanto maior o arquivo e o âmbito de sua coleção, maior
institucional, do prestígio do acervo, do âmbito de atividades, da será a variedade de públicos que poderá atender.
4.5.6.1 A exemplo das bibliotecas, os arquivos audiovisuais ad- 4.5.7.1 Por sua própria natureza, diversos suportes audiovisuais
quirem materiais de diversas maneiras e aplicam a seus acervos são caros e sensíveis ao ambiente. Na medida dos recursos dispo-
políticas e mecanismos de seleção e de avaliação. Os mecanis- níveis, os arquivos audiovisuais mantêm sistemas de armazena-
mos de incorporação incluem a compra, a troca, a doação e, em mento com temperatura e umidade controlados e utilizam proce-
alguns casos, regulamentos em matéria de depósito legal. Mas a dimentos de verificação do estado dos documentos no momento
constituição dos acervos audiovisuais apresenta alguns aspectos de sua incorporação e, depois, a intervalos regulares. Os sistemas
específicos. Pode-se mencionar, por exemplo, o sistema de depó- de controle do tipo inventário, que permitem a cada unidade da
sito voluntário (o arquivo tem a guarda do objeto mas não sua coleção ser identificada separadamente, e que cada material seja
propriedade ou os direitos de autor), o registro de programas no classificado por forma, categoria e dimensão, são aspectos especí-
momento de sua transmissão, a produção de registros, a pesquisa ficos dos sistemas de gestão dos arquivos audiovisuais. O estabele-
e a descoberta de materiais efêmeros cuja vida comercial me- cimento de uma ficha técnica detalhada por unidade é necessário
de-se por semanas muito mais do que por dezenas de anos. As para acompanhar as condições de conservação ao longo do tempo
investigações metódicas, as “caças ao tesouro” em lugares susce- e aplicar, quando for preciso, um tratamento apropriado. Nesse
tíveis de guardar materiais antigos são por vezes a única maneira quadro, a unidade-chave é o suporte individual 59, associado a uma
prática de encontrá-los. Os arquivos audiovisuais devem buscar obra identificada por um título. Essa abordagem, em sua teoria e
materiais de forma ativa e seletiva; eles não são meros receptores aplicação, emana da natureza material e conceitual dos documen- 59. Isso significa a menor
unidade física: bobina de
passivos de materiais 58. tos audiovisuais. fita magnética, rolo de
filme, disco, cassete, etc.
Uma obra pode existir
em diversos suportes
4.5.6.2. – Os particulares, sobretudo os colecionadores, consti- 4.5.8 O acesso individuais, de tipos
diferentes. Um filme
tuem uma fonte importante de documentos e as relações que os pode ser constituído de
58.Esse esquema varia diferentes elementos:
segundo a estrutura e arquivos mantêm com eles são fundamentais. As próprias indús- 4.5.8.1 Dada a própria natureza dos documentos audiovisuais, exis- um contratipo de
a política do organismo imagem, um negativo
do qual dependem. trias audiovisuais confiam muito no contato pessoal. A capacidade tem muitas formas de acesso, reais e potenciais, seja do tipo “pas- de som, um positivo
Alguns arquivos intermediário, uma cópia
audiovisuais selecionam de estabelecer e manter relações pessoais e de inspirar confiança sivo” – como a pesquisa e a consulta individuais –, seja do tipo combinada etc. Cada um
pouco e recorrem desses elementos pode
menos à pesquisa é essencial num domínio onde as sensibilidades se exacerbam e a “ativo” – como a exposição pública, a projeção, a transmissão, corresponder a várias
ativa. É o caso, por unidades. Inversamente,
exemplo, dos arquivos confiança se perde com facilidade. As questões éticas relativas ao a comercialização de produtos etc. As competências e conheci- muitas obras podem
nacionais, que recebem existir em um único
obrigatoriamente as direito de propriedade e de uso estão frequentemente em jogo e mentos exigidos nesse setor são, por isso mesmo, muito diversos: suporte individual – por
produções de outros exemplo, as diversas
organismos públicos. exigem muita cautela. por um lado, é necessário possuir sólidos conhecimentos técnicos, faixas de um cd.
4.7 Governo e autonomia 4.7.1.3 Talvez em razão de sua existência relativamente recente,
os arquivos audiovisuais movem-se com frequência num contexto
4.7.1 Contexto prático menos definido e mais instável. Apenas alguns deles beneficiam-se
de um nível de autonomia ou de reconhecimento jurídico compa-
4.7.1.1 Na maior parte dos países, as estruturas de gestão das em- ráveis em escala nacional. A existência e as atividades de muitos
presas, instituições beneficentes e outros organismos não governa- arquivos dependem da boa vontade da instituição ou organismo
mentais devem cumprir determinadas obrigações legais a respeito ao qual pertencem e não têm senão pouca ou nenhuma garantia
da prestação de contas, transparência, autonomia e competência de autonomia profissional. A maioria dos arquivos com finalidades
administrativas. Os textos que regulam as modalidades de gestão não lucrativas ocupa uma situação intermediária entre esses dois
dessas organizações definem seus objetivos, poderes e estrutura bá- polos. Quanto aos arquivos que fazem parte de organizações maio-
sica. O poder decisório e as responsabilidades emanam em última res, com finalidades comerciais, eles estão naturalmente sujeitos
instância, geralmente, de um conselho ou de um comitê que repre- aos seus princípios de gestão, o que significa que em geral gozam
senta as pessoas interessadas na organização. de muito pouca autonomia.
condições? –, a experiência sugere que os pontos abaixo consti- 4.7.2.5 O arquivo terá controle sobre a constituição e a gestão de
tuem uma lista de requisitos mínimos. seu acervo. Os critérios profissionais relativos à seleção, incorpo-
ração, descrição, conservação e acesso serão exercidos de forma
4.7.2.2 O arquivo deve ser uma entidade identificável. Deve ter um autônoma, sem que nenhuma autoridade superior interfira nas de-
nome explícito, uma localização física, estrutura organizacional, cisões do arquivo. Sem essa condição, não há nenhuma segurança
quadro de pessoal, acervo, equipamentos e instalações. Deve dis- de que as normas profissionais sejam respeitadas.
por de um estatuto, seja ele uma pessoa jurídica de direito próprio
ou um departamento ou programa de uma organização maior. Na 4.7.2.6 O arquivo será representado por seus próprios profissionais
ausência desses elementos básicos, os grupos de apoio ao arquivo quando tratar com seus grupos de interesse, compreendidos neles
não terão nada concreto com que se relacionar. os meios de comunicação, outras instituições de coleta e conserva-
ção, e fóruns profissionais de âmbito nacional e internacional. Terá
4.7.2.3 O arquivo deve possuir documentos públicos sobre seu siste- acesso direto ao conselho de administração ou ao diretor da orga-
ma de gestão nos quais estejam definidos sua natureza, seu papel e nização à qual pertence e, idealmente, dependerá dessa instância
missão, sua condição e âmbito de responsabilidades. Esses documen- superior de forma direta. Essa condição é fundamental para garan-
63. Até há pouco
tempo, os estatutos e tos serão a garantia essencial da seriedade institucional perante os tir a clareza de comunicação e a capacidade do arquivo em relacio-
regulamentos da Fiaf
exigiam um alto grau de usuários, os patrocinadores, o pessoal, e serão promulgados ou re- nar-se com seus parceiros profissionais e seus grupos de interesse.
autonomia institucional
como condição ferendados pela autoridade máxima competente (um parlamento,
necessária para a
afiliação de arquivos. conselho diretor de uma empresa, reitoria de uma universidade etc.). 4.7.2.7 O arquivo terá fundamentos éticos e filosóficos escritos e
Em 2000 esse critério
foi um pouco atenuado disponíveis ao público, seja sob a forma de compromissos expressos
e a ênfase colocada
na adesão formal a 4.7.2.4 O arquivo deve divulgar publicamente suas políticas relativas, de adesão a códigos ou declarações profissionais existentes seja sob
um novo código de
ética. Os candidatos à no mínimo, às atividades de constituição do acervo, preservação e a forma de documentos que fixem suas próprias linhas de conduta.
a d e s ã o d e v e m f o r n e c e r,
não obstante, muitas acesso. Essas políticas baseiam-se nos documentos de gestão e, de acor- Tanto os grupos de apoio quanto os membros do quadro pessoal
informações sobre o
grau de autonomia do com a evolução das circunstâncias, serão periodicamente discutidas terão direito de conhecer os valores que guiam a ação do arquivo e
profissional de que
gozam. e atualizadas mediante consultas e discussões com os funcionários e pelos quais se podem cobrar suas responsabilidades.
4.7.2.10 O arquivo será dirigido por um diretor ou uma equipe 4.7.3.4 A liberdade profissional para estabelecer e aplicar políticas
executiva com experiência profissional no campo dos arquivos au- também é um ideal. Embora muitas instituições acreditem gozar
diovisuais. Isso garantirá um quadro de referência adequado à ges- dessa liberdade, o certo é que com muita frequência promulga-se
tão do arquivo. uma política mas sua aplicação fica sujeita às numerosas restrições
que constrangem os arquivos. Ou seja, as políticas enunciadas nem
4.7.3 ...e além da prática sempre são aplicadas na prática.
64. O presidente
da Amia, Sam Kula,
formulou essa ideia de
4.7.3.1 O arquivo deveria ter, idealmente, outras características maneira expressiva: “O
lema ‘dê-me dinheiro
que lhe garantissem a autonomia, a continuidade e a viabilidade. e me deixe em paz’
seria muito bonito
numa bandeira (os
anarquivistas poderiam
4.7.3.2 Possuir personalidade jurídica própria definida por um o c u p a r- s e d o a s s u n t o )
mas não é provável
texto legislativo, uma constituição, uma carta, um ato constitutivo que encontrasse
boa acolhida nas
ou equivalente. Tal documento seria a melhor garantia de con- altas esferas”. Amia,
Newsletter nº 61, verão
tinuidade, estabilidade e sistema de gestão responsável. Quando de 2003, p.2.
5.1.1
Nesta seção estudaremos as características definidoras dos suportes
audiovisuais que, por sua vez, conformam a profissão de arquivista
audiovisual e os próprios arquivos audiovisuais.
5.1.2
Os documentos audiovisuais apresentam-se sob diversos supor-
tes físicos característicos (atuais e obsoletos) cujos formatos estão
profundamente enraizados na consciência coletiva. O disco de
vitrola e a película perfurada constituem ícones concretos, re-
conhecíveis e universais, ainda que também se registrem sons
e imagens sobre suportes cuja identidade visual é menos mar-
cante, a exemplo das fitas magnéticas e dos discos rígidos de
computador. Em todo caso, as tecnologias associadas a eles são
139
representadas com a ajuda de ícones visuais fáceis de reconhe- material e a qualidade da informação visual e sonora que contêm.
cer, como o pavilhão do gramofone, o alto-falante, a bobina de Alguns possuem duração de vida limitada a algumas décadas ou
filme, o projetor e o raio de luz que ilumina a tela. ainda menos, enquanto a experiência demonstra que outros são
surpreendentemente resistentes 67. Os arquivos procuram armaze-
5.1.3 nar suas coleções a baixas temperaturas e umidade, condições que
As imagens em movimento e os sons contidos nesses suportes físicos permitem reduzir ao mínimo a degradação e maximizar a duração
65. Não entraremos aqui
nas sutilezas analisadas não têm existência objetiva. As imagens em movimento são na ver- de conservação dos materiais bem como ganhar tempo 68.
pela semiologia
(estudo dos códigos) dade percebidas como tais em função do fenômeno da persistência
e a semiótica (estudo
dos signos). As obras retiniana – a sucessão rápida de imagens fixas cria, a partir de uma 5.1.6
audiovisuais geraram
códigos e convenções certa cadência, uma impressão de continuidade. Da mesma forma, A tecnologia de registro e de leitura é, em muitos sentidos, ainda mais
internas próprias que
se generalizaram até o o som é produto de uma série de deslocamentos do ar que nossos vulnerável do que os suportes. A rapidez com que as tecnologias 67. O tempo de
ponto de normalmente
conservação pode se limitar
não nos darmos conta órgãos auditivos percebem e interpretam como música, fala ou ruído. caem em desuso caracteriza o campo do audiovisual. Os formatos a alguns anos, como é o
de sua existência. Por
caso, demonstrado pela
exemplo, os primeiros mudam sem parar e os suportes – conservados em boas condições experiência, de certos
filmes eram apenas
planos únicos, estáticos 5.1.4 – podem sobreviver à existência industrial da tecnologia de repro- formatos de cd ou de
cassetes, mas pode ser
e sem ininterrupção. A
infinita como o sugerem os
emenda e a justaposição Enquanto fenômeno óptico e acústico percebido pelos canais subjeti- dução, da qual depende o acesso a eles 69. Todos os arquivos enfren- discos em 78 rotações. Os
de planos (a montagem)
materiais mais tradicionais,
e a descoberta dos vos dos olhos e dos ouvidos de uma pessoa, o documento audiovisual tam o problema da manutenção de tecnologias obsoletas, desconti- tais como o papel, a tela,
diversos tipos de
a seda e o pergaminho
movimento de câmara compartilha alguns traços com os documentos visuais estáticos – como nuadas pelas indústrias audiovisuais. parecem poder se conservar
para apresentar diferentes
em bom estado por séculos.
pontos de vista foram a fotografia e a pintura – mas difere radicalmente dos documentos de
elementos destacados da
evolução da gramática base textual, cuja transmissão repousa sobre um código interpretado 5.1.7 68. Existem muitos
cinematográfica. O estudos especializados
leitor pode consultar as pelo intelecto . A percepção dos documentos audiovisuais exige a in-
65
A sobrevivência dos suportes audiovisuais corre perigos aleatórios na conservação que
obras de Umberto Eco, analisam as práticas e
Ferdinand de Saussure e termediação de dispositivos tecnológicos entre o suporte e o especta- superiores aos que correm outros suportes mais antigos. A indús- locais de armazenamento
outros autores sobre e a gestão geral dos
o assunto. dor/auditor. Não se pode ouvir um disco ou uma fita observando-os, tria que os cria nem sempre é sensível aos valores e à dimensão acervos.
nem assistir um filme apalpando-o ou o desenrolando66. prática da conservação. Nem sempre existem muitas cópias de
66. Diferentemente 69. Os filmes são
de outros suportes um mesmo material. Enormes quantidades de filmes foram re- exceção à regra. Os
audiovisuais, o filme filmes e os projetores
é suscetível de leitura 5.1.5 cicladas e suportes de gravação em laca foram utilizados na pa- de 35mm nunca se
humana direta, mas como tornaram obsoletos. O
sequência de fotografias Devido a suas características físico-químicas próprias, muitos su- vimentação de rodovias. Os suportes magnéticos (fitas de áudio, mesmo não se pode dizer
fixas. A sensação de de alguns formatos de
movimento, entretanto, portes audiovisuais são vulneráveis a temperaturas e índices de vídeo, disquetes) são de fácil reutilização e a sobrevivência de menor largura e de seus
continua dependente projetores ou leitores,
da intermediação de umidade inadequados, efeitos de poluição atmosférica, mofo e dife- um programa pode estar constantemente ameaçada por motivos dificilmente encontráveis
um projetor ou de um em bom funcionamento
aparelho semelhante. rentes tipos de degradação e distorção que afetam sua integridade práticos e econômicos. no mercado.
nadas nem por isso prescindem de constante supervisão. Na xos. Existe com frequência uma defasagem considerável entre a du-
ausência de controle das condições de armazenamento, os fe- ração de conservação de um suporte e a duração da vida comercial
nômenos de degradação, como a “síndrome do vinagre”, provo- da tecnologia a ele associada. Na prática, o processo de migração
cam reações em cadeia ao se propagar para materiais contíguos. traz em si alguma perda e degradação da informação sonora e vi-
As alterações bruscas e constantes de temperatura e umidade sual além de uma modificação da experiência de percepção auditi-
colocam em risco todo o acervo. Mofo e fungos alimentam-se va e óptica. As decisões nessa matéria fundam-se necessariamente
das partes orgânicas dos suportes. Os documentos audiovisuais em conhecimentos insuficientes. A experiência posterior nem sem-
deterioram-se com o tempo e exigem medidas ativas de salva- pre confirma as previsões.
5.3.9 5.3.11
72. The W izard of Oz
Contudo, as tecnologias obsoletas, ainda quando funcionam, são O conteúdo é literalmente determinado pelo suporte e pelo contex- (Victor Flaming, 1939),
Los Olvidados (Luis
acessíveis apenas se dispusermos das competências necessárias para to. Os criadores de páginas da Internet exploram as possibilidades Buñuel, 1950).
5.5.4
O conceito de obra individual constitui a unidade básica das ativi-
dades de catalogação e de organização dos acervos das bibliotecas,
além de ser o conceito-chave da legislação do direito de autor e do
direito de patentes. Um conceito diferente, o de fundo, é a base da
estrutura do acervo dos arquivos de documentos. Entende-se aqui
6.1 Introdução
6.1.1
Os arquivos audiovisuais, como outras organizações, realizam seu
trabalho apoiados em filosofias, métodos e princípios de gestão.
Cada arquivo é diferente dos demais e seus princípios nem sempre
são formalmente enunciados. Tentaremos nesta seção definir al-
guns princípios fundamentais.
6.2 Políticas
6.2.1
Os arquivos seguem políticas, mas elas nem sempre são enunciadas
e definidas com o mesmo grau de precisão. Sem falar nos casos em
que elas nunca foram definidas. Na ausência de políticas e regras
161
claramente estabelecidas, a tomada de decisões corre o risco de se p definição da missão e dos objetivos explícitos do arquivo
tornar arbitrária, contraditória e escapar a qualquer controle. As menção a autoridades externas e a textos de referência,
políticas servem de guias e estabelecem restrições, o que é dupla- como os estabelecidos pela Unesco ou pelas federações de
mente útil. Na falta de documentos que definam os princípios de arquivos audiovisuais
seleção, incorporação e preservação de um arquivo, o grupo que o p explicação dos princípios relevantes
apoia não terá nenhuma garantia da competência do arquivo para p exposição das intenções, posições e escolhas do arquivo
reunir e preservar seu acervo. Além disso, a formulação de políti- baseadas nos fundamentos acima apresentados
cas permite aos arquivos avaliar suas próprias competências, assim p detalhamentos específicos, simples e concisos, para evitar
como suas práticas e seu rigor intelectual . 78
qualquer ambiguidade, destinados à preparação de normas
de trabalho voltadas ao pessoal (normas que, assim como a
6.2.2 política, devem ser públicas).
Disso decorre que todos os aspectos fundamentais do funciona-
mento de um arquivo – a constituição, a preservação, o acesso e a 6.2.4
gestão do acervo – deveriam estar apoiados em uma política explí- As boas políticas são maleáveis. Resultam de avaliações adequadas
cita. Essas políticas devem impregnar profundamente a cultura do e de consultas aos interessados e devem ser periodicamente atuali-
arquivo de forma que todo seu pessoal as entenda e as siga na prá- zadas para que sejam práticas e eficazes.
78. Existem muitos
pontos de referência tica. Elas são o motor que impulsiona o arquivo e estabelecem seu
disponíveis.
Frequentemente as estado de direito. Infelizmente isso nem sempre acontece. É muito
políticas de instituições
relacionadas à coleta e fácil redigir políticas que são, em essência, obras de ficção, desliga-
conservação estão em
suas páginas na Internet das da realidade da vida do arquivo, vagas e ambíguas, ao invés de 6.3 A constituição das coleções: seleção,
e a comparação entre
as diversas políticas informativas e concretas. Nesse caso, tais documentos apresentam incorporação, exclusão e descarte
institucionais vigentes
é um ponto de partida uma imagem dos arquivos para o público, mas não revelam nada
adequado no processo
de elaboração de uma das políticas realmente praticadas. Esta dicotomia pode ter efeitos 6.3.1
política desse tipo.
Como indicado nas insidiosos do ponto de vista intelectual e ético. A constituição de acervos é uma expressão ampla que abarca qua-
cláusulas 3.1 e 3.2 do
Código de Ética do tro operações distintas:
Conselho Internacional
de Museus – Icom 6.2.3
(http://icom.museum/
the-vision/code-of- As políticas definem de maneira clara e lógica as posições, pers- p a seleção (operação intelectual que consiste em esco-
ethics/) as políticas têm
dimensões éticas (o pectivas e intenções do arquivo. Elas compreendem em geral os lher, ao final de uma avaliação, os documentos que
que será discutido no
Capítulo 7). seguintes elementos: convém incorporar)
6.5.3 6.6.1
O armazenamento e a movimentação interna de cada material, bem A catalogação é a descrição intelectual do conteúdo de uma
como os movimentos de empréstimo externo, quando for o caso, de- obra, segundo regras coerentes e precisas. Como em outras ins-
vem ser administrados com rigor. Diferentes instituições de coleta tituições de coleta e conservação, o catálogo de um arquivo
e conservação têm graus diversos de tolerância no tocante à perda audiovisual é o instrumento chave de acesso e ponto de partida
de materiais. Nos arquivos audiovisuais, a margem de tolerância é das pesquisas. Nas bibliotecas, as operações de catalogação e
mínima. Que explicação aceitável dar ao proprietário sobre a perda registro de entrada são frequentemente simultâneas. Nos arqui-
de um rolo do negativo de um filme ou de uma fita original que esta- vos audiovisuais, ao contrário, elas em geral são separadas. A
va sob a responsabilidade do arquivo, quando isso significa colocar catalogação é posterior ao registro, pois os materiais não são fa- 87. O Código de
Ética e Conduta do
em risco a exploração comercial de um filme ou de uma obra que cilmente consultáveis antes de serem inventariados. Pode acon- Australian Institute
for Conservation of
perdeu sua integridade? Não se substitui o insubstituível. tecer de os arquivos catalogarem uma obra muito tempo depois Cultural Material –
aiccm constitui um
6.6.3 6.7.2
A catalogação pode ser descrita como uma especialidade profissio- O arquivo deve respeitar a lei no que se refere aos direitos dos
nal que atravessa as diferentes disciplinas de coleta e conservação. titulares das obras. Quando a titularidade dos direitos é clara, o
Existe uma abundante literatura sobre esta atividade e alguns pro- que acontece em geral no caso de produções recentes, o cumpri-
fissionais consagram a ela toda sua vida profissional, como ocorre mento dessa obrigação não coloca complicações formais. Entre-
em outras áreas de trabalho dos arquivos audiovisuais. Nesse sen- tanto, quanto mais antigos os documentos, mais sua situação legal
tido, o catalogador, que precisa assistir e ouvir os diferentes mate- tende a ser pouco clara. À medida que os direitos são cedidos
riais para preparar a descrição de seu conteúdo, desenvolve muitas ou vendidos, que empresas produtoras se dissolvem, que criadores
vezes um profundo conhecimento sobre o acervo. de obras desaparecem e seus bens passam para mãos de tercei-
ros, torna-se cada vez mais difícil identificar com clareza o titular
6.6.4 dos direitos de autor. Acontece às vezes de ninguém reivindicar
A harmonização, no âmbito audiovisual, de diferentes normas de sua propriedade ou de pessoas que a reivindicam não dispõem de
catalogação – que têm origens históricas diversas – e a preparação nenhuma prova material que apoie suas pretensões. Os arquivos
7.1.1
A ética de uma profissão é produto de seus valores e motivações
fundamentais (ver Capítulo 2). Alguns aspectos são específicos do
próprio campo de especialização. Outros baseiam-se em regras de
vida e de sociedade mais amplamente aceitas. Em geral, as pro-
fissões codificam suas normas éticas redigindo declarações que
servem de orientação para seus membros e de garantia para os
interessados em seu trabalho. Os organismos profissionais dispõem
com frequência de mecanismos disciplinares com o objetivo de fa-
zer com que as normas sejam cumpridas. A ordem dos médicos e a
dos advogados são os exemplos mais conhecidos.
7.1.2
No âmbito das profissões de coleta e conservação, inclusive nos ar-
quivos audiovisuais, existem códigos de ética a nível internacional,
181
nacional e institucional. Esses códigos centram-se em condutas pes-
7.2 A ética na prática
soais e na ética das instituições e enfatizam alguns temas comuns,
cujos principais são:
7.2.1
p proteção da integridade e preservação do contexto dos Um código escrito, de âmbito internacional ou institucional, define
documentos orientações gerais. Ele não prevê todas as situações, nem oferece
p probidade nas operações de acesso, constituição de acervo soluções prontas para problemas que exigem a formulação de julga-
e outras mentos de valor. Os profissionais aceitam em geral a responsabili-
p direito ao acesso dade de formular julgamentos na esfera ética, bem como em outras.
p conflitos de interesse e proveito pessoal
p respeito à lei e tomada de decisões a partir de normas 7.2.2
p integridade, honestidade, responsabilidade e transparência Em âmbito institucional, os códigos só têm sentido e respeito quan-
p confiabilidade do fazem parte integrante da vida do arquivo, são objeto de pro-
p ideais de excelência e desenvolvimento profissional moção efetiva e são respeitados de forma transparente por todos
conduta pessoal, senso de responsabilidade e relações os escalões da hierarquia. Para isso, pode haver necessidade de um
profissionais. processo de educação das equipes, mecanismos de acompanha-
mento e pesquisa, e implantação de práticas administrativas que
Convidamos o leitor a aprofundar essas questões, reportando-se personalizem a aplicação do código no que respeita cada membro
aos códigos das principais associações da área88.Todos fornecem do quadro. Assim, por exemplo, em algumas instituições prevê-se
interessantes pontos de referência para a elaboração do código ins- que todos os empregados leiam o código interno e o debatam e
titucional de um arquivo audiovisual. Como não é possível, nem comentem, comprometam-se por escrito a observá-lo, e declarem
útil, examinar aqui esses temas comuns em termos gerais, enfatiza- qualquer conflito de interesses existente ou hipotético. Quando não
remos nessa seção os aspectos específicos dos arquivos audiovisuais. se realiza esse tipo de aplicação ativa, os códigos institucionais são
puramente formais, observados apenas ao sabor das conveniências
88. Encontram-se
nas páginas do Icom 7.1.3 ou utilizados apenas para exibir uma imagem pública do arquivo.
( w w w. i c o m . o r g ) , d a
I c a ( w w w. i c a . o r g ) e Até hoje, apenas uma federação de arquivos audiovisuais adotou
d a I f l a ( w w w. i f l a . o r g )
códigos internacionais formalmente um código de ética. O código da Fiaf foi adotado 7.2.3
assim como códigos
de associações em 1998 e os membros da federação são obrigados a subscrevê-lo Existe um ponto além do qual a ética pessoal não pode ser controla-
nacionais nos campos
da museologia, da (http://www.fiafnet.org). Outras federações adotaram posições da e depende apenas da integridade e da consciência do indivíduo.
arquivologia e da
biblioteconomia. normativas em relação a questões concretas de índole ética. Isso acontece independentemente do rigor com que o organismo
95. Qualquer arquivo 7.4.4.4 A resposta não é fácil, mas podemos adotar algumas me-
audiovisual de alguma
importância contém 7.4.4.1 Não há razão para aceitar doutrinas elaboradas para defen- didas lógicas. Analisar a situação para identificar direitos, motivos
materiais que ofendem
provavelmente alguma der os poderosos e privilegiados ou pensar que somos oprimidos por e pressupostos de todas as partes envolvidas pode ajudar a escla-
pessoa. É quase certo
que os arquivistas leis sociais misteriosas e desconhecidas. Trata-se simplesmente de recer as próprias motivações e prioridades. Obedecer cegamente
audiovisuais não
compartilhem valores, decisões adotadas no seio de instituições submetidas à vontade hu- e deixar-se levar pela corrente é sempre mais fácil, mas a história
regras morais e pontos
de vista inerentes a mana e cuja legitimidade deve ser posta à prova. Se a prova lhes for demonstra que isso em geral é um erro. Qual a verdadeira priori-
pelo menos alguns itens
de sua coleção. Mas desfavorável, podem ser substituídas por outras instituições mais li- dade? Quais os interesses pessoais em jogo, inclusive o meu? Estou
o racismo, o sexismo,
o paternalismo, a vres e mais justas, como já aconteceu no passado (Noam Chomsky). enganando ou encobrindo alguém? Sei a resposta correta, mas não
imoralidade, a violência, que elas veiculam? Ou
os estereótipos etc. quero enfrentar as consequências? estou endossando o
fazem parte da história direito de acesso a elas?
da humanidade e se 7.4.4.2 Haverá ocasiões em que o arquivista perceba um conflito en- (ver nota precedente).
manifestam em produtos
da sociedade, entre tre as instruções que recebe e o que julga ser responsável e ético. 7.4.4.5 Uma vez analisada a situação, podemos pesar os diferentes
eles as produções 96. Na redação desta
audiovisuais. A questão Os exemplos não faltam: censura política (“destrua isso – isso nunca argumentos, nas circunstâncias que lhe são próprias. Mas frequen- seção, inspiramo-nos no
é: permitindo acesso a r t i g o d e Ve r n e H a r r i s ,
a essas produções, eu aconteceu”), pressão econômica (“não podemos nos permitir guardar temente é difícil discernir o que a moral reprova e o que tolera, e “Knowing right from
estou endossando – ou wrong: the archivist
pelo menos dando a todo esse material, faça-o desaparecer”), opções estratégicas, diretri- pode acontecer de não haver nenhuma saída satisfatória, senão a es- and the protection of
impressão de estar p e o p l e ’s r i g h t s ” ( J a n u s ,
endossando – os valores zes arbitrárias e carentes de fundamento, acesso difícil ou proibido a colha de um mal entre outros, a partir das informações disponíveis. nº1999.1, p.32-38).
7.5.6
Em todos os arquivos existem relações de poder a nível interno
e externo e as considerações éticas nem sempre predominam. Os
arquivistas audiovisuais têm diante de si a árdua tarefa de entender
seu poder e de exercê-lo de acordo com princípios éticos, no inte-
resse da sociedade, de seus colegas de profissão e para a preserva-
ção da memória do mundo.
8.1
Pouco mais de um século após o surgimento do registro sonoro e do filme
cinematográfico e menos de cem antes do da radiodifusão, essas tecno-
logias desempenham um papel dominante na comunicação, na arte e
no registro da história. As espetaculares mudanças acontecidas no século
XX – guerras, transformações políticas, conquista do espaço e globaliza-
ção – não foram apenas registradas, difundidas e influenciadas por essas
tecnologias. Sem estas, aquelas não se teriam produzido. A memória co-
letiva passou do conceito manual para a dimensão tecnológica. Os meios
audiovisuais estão em toda parte: “a todo o momento irrompem todos
os lugares e o mundo inteiro no seio dos lares (...) essa intromissão per-
manente (...) do outro, do estranho, do que está longe, de outra língua”98.
8.3
Poderíamos esperar que a tarefa de preservação da memória au-
diovisual do mundo ocupasse um lugar destacado e dispusesse de
recursos à altura da importância de seu papel na história da huma-
nidade. Nada mais longe da realidade. O número de pessoas que
se encarrega dessa tarefa em todo o mundo chega a menos de 10
mil e talvez esteja abaixo dessa estimativa. Essa pequena comuni-
dade formada por profissionais tenazes e comprometidos, embora
exercendo um trabalho em grande medida desconhecido e carente
de reconhecimento, tem uma responsabilidade imensa. Enquanto
profissionais, ainda que reflitam pouco sobre a questão, os arqui-
vistas audiovisuais do mundo inteiro detêm um poder considerável.
A maneira como o exercem hoje determinará, em grande parte, o
que a posteridade conhecerá sobre nossa época.
99. Margareth
Mead (1901-1978),
antropóloga.
202 203
Anexo 2 Como você Catálogos, listas de Guias de pesquisa, Catálogos, pesquisa Exposições,
| Quadro comparativo: arquivos audiovisuais, acha o que pesquisas, consulta inventários, outros livre nas estantes, consulta aos
arquivos generalistas, bibliotecas e museus procura? aos funcionários documentos consulta aos funcionários
funcionários
Como você Depende da política Nos locais da Nas instalações Nos locais de
Arquivos Arquivos Bibliotecas Museus acha o que estabelecida, instituição, sob da biblioteca exposição
audiovisuais generalistas procura? instalações e observação ou (em caso de
O que Suportes de Seleção de Materiais Objetos, artefatos, tecnologia. No local empréstimo)
guardam? imagem e som, documentos publicados, documentos ou remoto remoto
documentos antigos em qualquer em qualquer relacionados
e artefatos formato, em geral formato Qual o Preservação Proteção a fundos Preservação e/ou Preservação
relacionados únicos e inéditos objetivo e acesso ao de arquivos, de seu acesso a e acesso a artefatos
deles? patrimônio valor testemunhal materiais e e informação
Como o Sistema Segundo a ordem Sistema de Sistema audiovisual e informativo informação
material é estabelecido, estabelecida classificações estabelecido
organizado? compatível com e usada pelos estabelecido (por compatível com Por que você Pesquisa, educação, Prova de transações Pesquisa, Pesquisa,
formatos, criadores exemplo Dewey, a natureza e os visita? lazer, negócios e atos jurídicos, educação, lazer educação, lazer
condições e status Library a condição dos pesquisa, lazer
do material of Congress) itens
Quem Arquivistas Arquivistas Bibliotecários Curadores de
Quem pode Depende da Depende da Depende da Depende da cuida dos audiovisuais museus
ter acesso? política definida, política da política aplicada, política aplicada, materiais?
da disponibilidade instituição, da do público ou do público ou
de cópias e legislação e das comunidade comunidade
limitações condições definidas atendidos atendidos
contratuais pelo doador ou Agradecimento: o conceito deste quadro, e uma parte de seu conteúdo foram
depositante adaptados de J. Ellis (ed.) Keeping archives (segunda edição) D.W Thorpe/Australian
Society of Archivists, 1993.
204 205
Anexo 3 p Detalhes claros dos elementos originais, incluindo sua natureza, condi-
| Relatório de reconstituição ção, números de registro e os nomes dos arquivos ou coleções onde
estão conservados
p Detalhes completos das manipulações feitas para a reconstituição
p Informações sobre os detentores de direitos ou das tentativas feitas
A lista de pontos a seguir é um guia que recomendamos para a elaboração de para localizá-los
um relatório de reconstituição que documenta, tanto para o público quanto para p Identificação do(s) supervisor(es) do projeto
referência interna, o trabalho feito na criação de uma versão reconstituída de um p Quadro temporal – datas de início, fim e etapas significativas
filme, um programa de rádio ou de televisão ou um registro sonoro. p Créditos completos de todos os participantes e as funções que
desempenharam
Definição p Autorização e aprovação final da direção, conselho ou instância equiva
Uma reconstituição é uma versão nova de um trabalho, realizada para agrupar lente do arquivo.
elementos fragmentados ou incompletos, a partir de múltiplas fontes, e ordená-los
num todo coerente, algumas vezes com muitas manipulações de imagens e/ou Processo
sons e o uso de artifícios de articulação, com o objetivo específico de acesso e em O relatório deve incluir a documentação exata do processo de reconstituição. Isso in-
geral para apresentações públicas. Ela pode ser muito diferente de quaisquer ver- clui todas as decisões técnicas e artísticas tomadas, pesquisas feitas, julgamentos con-
sões originais da obra. Como seu alvo é um público contemporâneo, sua eficiência clusivos e sua justificativa. Deve acrescentar outras informações pertinentes, como
pode diminuir com o tempo, pois os gostos da audiência mudam, a tecnologia referências a bibliografia, materiais de publicidade e outros elementos consultados.
evolui e/ou novos materiais podem ser encontrados.
Uma reconstituição é diferente de uma restauração, que envolve a remoção de Informação pública
acréscimo do tempo – como ruídos de superfície, riscos e danos – de uma cópia As exibições públicas ou cópias de distribuição da reconstrução devem ser acom-
de preservação, mas não envolve qualquer forma de manipulação de conteúdo. panhadas de informações contextuais completas que
A preservação dos elementos originais utilizados na reconstituição deve ser inte- p Identifiquem o trabalho como uma reconstituição
gral. Eles devem continuar a ser conservados em sua forma original. p Expliquem quais são as diferenças que tem do original
p Expliquem resumidamente o processo de reconstituição
Parâmetros p Forneçam o contexto histórico
O relatório de reconstituição deve definir os parâmetros do projeto, incluindo p Informem existência do relatório de reconstituição e incentivem
p Propósito e objetivos sua consulta.
p O público alvo e o uso pretendido da versão reconstituída
206 207
Anexo 4 Harrison, Helen (ed). Audiovisual archives: a practical reader (CH.97/WS/4), Paris:
| Bibliogafia selecionada Unesco, 1997.
______. Curriculum development for the training of personnel in moving image and recorded
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Londres e Sterling (Estados Unidos): Kogan Page, 2003. century (CII-96/WS/I). Paris, 1996.
208 209
Áudio analógico –
Anexo 5 suportes com sulcos Época de produção Status
| Mudança e obsolescência de alguns formatos Cilindro (duplicado ou 1876-1929 Obsoleto
moldado em cera)
Cilindro (de gravação 1876-anos 1950 Obsoleto
em ditafone)
Formato Disco de sulco grosso 1888-c.1960 Obsoleto
Filme Época de produção Status (78rpm ou similar)
70mm formato Imax anos 1980 -atualidade Em uso Disco de transcrição anos 1930-anos 1950 Obsoleto
poliéster
Disco de laca de anos 1930-anos 1960 Obsoleto
35mm nitrato 1891-1951 Obsoleto
gravação
35mm acetato 1910-atualidade Em uso LP (long playing) vinil anos 1950-atualidade Em uso
35mm poliéster 1955-atualidade Em uso microssulco
8,75mm EVR anos 1970 Obsoleto Cassete compacto anos 1960-atualidade Em declínio
210 211
Áudio – suportes
digitais Época de produção Status
Disco compacto (CD) 1980-atualidade Em uso
212
Esta publicação foi composta na tipogra-
fia Baskerville, corpo 11/17, sobre papel
Polen Bold 80g/m (miolo) e Duo Design
300g/m (capa).
ab associação brasileira de preservação audiovisual
pa