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PERCURSO HISTÓRICO
Belo Horizonte
2011
Lívia Neide de Azevedo Alves
PERCURSO HISTÓRICO
Belo Horizonte
2011
Fundação João Pinheiro
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Examinada em:26/10/2011
Às policiais militares femininos da PMMG.
A Deus e a meus pais, Judite e Marcelino. Sei que com os três posso contar sempre, ainda que
a distância.
A meus filhos, André e Ana Beatriz, que por tanto tempo conviveram estoicamente com a
presença meramente física da Mãe. Mamãe está de volta!
Ao Alê, meu amor, que mesmo envolvido com o próprio trabalho monográfico, esteve sempre
ao alcance da minha mão.
À Juju, que tomou conta dos meus filhos nesse longo período, como se a mãe fosse! E à
amiga querida, Maria Duarte, por estar sempre por perto para “adotá-los” se fosse preciso!
À Cap PM QOR Denise Gonçalves: palavras e gestos são muito pouco para expressar minha
gratidão e reconhecimento pelo apoio em todas as fases de construção desse projeto, desde a
escolha do tema até a correção final, antes da entrega à orientadora. Seu rigor na correção
ortográfica, gramatical e de normalização faz as outras parecerem anjos, mas foram
fundamentais para a qualidade final do trabalho. E ao Glênio, pela ajuda com os gráficos e
pelos lanches deliciosos!
À Professora Madalena Jabour, que abriu as portas de sua casa e seus álbuns à minha ávida
curiosidade, desvendando imagens únicas e surpreendentes de um período de intensa
transformação institucional e de abertura de um novo capítulo na vida de cada uma das
mulheres ali retratadas.
Por fim, aos amigos Silma, Marcelo e Silvano, meus companheiros no grupo de trabalho,
muito obrigada pela amizade e companheirismo. O CESP ficou muito melhor na companhia
de vocês!
Todo conhecimento histórico pode ser representado pela
imagem de uma balança em equilíbrio, que tem sobre um
de seus pratos o ocorrido e sobre o outro o conhecimento
do presente. Enquanto no primeiro prato os fatos reunidos
nunca serão insignificantes e numerosos demais, o outro
deve receber apenas alguns poucos pesos – grandes e
maciços.
A história da Polícia Feminina na Polícia Militar de Minas Gerais se faz com uma sucessão de
acontecimentos que tiveram e continuam tendo reflexos nas carreiras das próprias policiais,
nas ações da Polícia Militar e, via de conseqüência, na segurança pública de maneira geral. A
percepção sobre os eventos pioneiros, iniciados com o Decreto 21.336, de 20 de maio de
1981, que criou a Companhia de Polícia Feminina, e sobre os processos que se sucederam é
determinante para que se avalie, sob quaisquer ângulos, a situação atual da mulher na
Instituição. Para resgatar o percurso histórico da Polícia Feminina na Polícia Militar de Minas
Gerais, foram coletadas informações disponíveis nos documentos expedidos pela própria
Instituição, desde o ano de 1981 até 2011, além das disponíveis em estudos acadêmicos,
livros e outras publicações. De forma complementar, foram coletados relatos orais de pessoas,
civis e militares, que ajudaram a entrelaçar os fatos, contando os acontecimentos dos quais
participaram e que não estavam registrados nas fontes anteriores.
The history of the Female Police in the Minas Gerais Military Police is done with a
succession of happenings that had and still having reflexes in own policewomen career, in the
Military Police‟s actions and, consequently, in the public security in a general manner. The
perception over the pioneer events, started with the Decree nº 21.336, from may, 20th, 1981,
that created the Female Police Company, and over the processes which has succeeded is
determinant to evaluates, under any angle, the actual situation of the woman in the Institution.
To rescue the historical trajectory of the Female Police in the Minas Gerais Military Police,
had been collected available information in documents dispatched by the own Institution,
since the year of 1981 up to 2011, beyond the available academic studies, books and others
publications. In a complementary way, had been collected oral relates of people, civilians and
militaries, who supported to interlace the facts, telling the happenings which they had
participated and that had not been registered in earlier sources.
1 INTRODUÇÃO .............................................................................. 17
3 METODOLOGIA .......................................................................... 48
3.1 Métodos ............................................................................................ 48
3.1.1 Coleta de registros escritos ............................................................... 48
3.1.2 Coleta de relatos orais ...................................................................... 50
PERCURSO HISTÓRICO
1 INTRODUÇÃO
Desde 20 de maio de 1981, com a entrada em vigor do Decreto 21.336, que criou a
Companhia de Polícia Feminina (Cia PFem) na Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), as
mulheres passaram a compor as fileiras dessa Instituição. (MINAS GERAIS, 1981)
A partir do decreto mencionado, criaram-se normas específicas para essas servidoras, tanto no
que se refere aos padrões pessoais e profissionais de comportamento, quanto para o emprego e
para o acesso na carreira.
A PMMG foi uma das Corporações Policiais Militares do Brasil pioneiras na incorporação
das mulheres em seus quadros de carreira. Em 1981, já transcorridos vinte e seis anos da
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criação da Polícia Feminina do Estado de São Paulo (PMSP, 2010), quatro anos da criação da
Polícia Feminina do Estado do Paraná (SCHACTE, 2006), e no mesmo ano em que se criou a
Polícia Feminina do Estado do Rio de Janeiro (SOARES e MUSUMECI, 2005), o emprego
das mulheres nas forças policiais militares dos estados ainda não era consolidado em todo o
País.
Ao contrário do que ocorria com os homens, que chegavam à Corporação pelas graduações
iniciais de Soldado, no caso das Praças, e de Tenente, no caso daqueles que acessavam
diretamente ao Oficialato, as primeiras policiais femininas da PMMG galgaram, diretamente,
à graduação de Sargentos. Somente em 1983 as mulheres foram admitidas no Curso de
Formação de Oficiais (MINAS GERAIS, 1983). E somente em 1986, a PMMG incorporou as
primeiras mulheres aprovadas, em concurso público, para o Curso de Formação de Soldados
Femininos (MINAS GERAIS, 1986).
Enquanto, no círculo dos Oficiais, as mulheres pertenceram, desde o início, ao mesmo quadro
que os homens (Quadro de Oficiais Policiais Militares – QOPM), no círculo das Praças, criou-
se o Quadro de Praças Policiais Militares Femininos (QPPMFem). Essa situação somente foi
alterada em 1993 com a unificação dos quadros, que juntou o QPPM Fem com o QPPM
(MINAS GERAIS, 1993).
Dessa forma, observa-se que a decisão inovadora de incorporar mulheres na PMMG alterou a
estrutura da própria Instituição em 1981 e continuou alterando, de acordo com a evolução do
pensamento estratégico do Comando e com a estabilização dessa força de trabalho.
Buscando definir o foco da pesquisa, percebeu-se que as abordagens sobre o emprego das
mulheres nas instituições militares, e especialmente na PMMG, poderiam ser as mais
diversas, dependendo dos inúmeros aspectos que se desejasse abordar em cada estudo.
Diante das limitações próprias do trabalho monográfico, que se pretendeu como resultado
final desta pesquisa, a proposta foi delinear o percurso histórico das mulheres do quadro
Policial Militar na PMMG, desde a criação da Polícia Feminina nessa Instituição, até
setembro de 2011.
Por esses motivos, não se contempla, neste estudo, a trajetória das mulheres dos quadros de
especialistas, muito embora se saiba que a presença das profissionais da área de saúde,
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música, comunicações e das bombeiras constitui também um percurso pioneiro, sob os mais
diversos pontos de vista, inclusive sendo aplicáveis a essas profissionais, muitas das regras
mencionadas nesta monografia, mormente aquelas de caráter geral. No caso específico das
Bombeiras Militares, resta esclarecer que, até 1999, o Corpo de Bombeiros em Minas Gerais
pertencia à PMMG; a Emenda à Constituição nº 39, de 02 de junho de 1999, desvinculou o
Corpo de Bombeiros da PMMG, atribuindo à nova Corporação a competência para coordenar
e executar ações de defesa civil, perícias de incêndio, busca e salvamento e estabelecimento
de normas relativas à segurança das pessoas e de seus bens contra incêndio ou qualquer tipo
de catástrofe (MINAS GERAIS, 1999).
Justifica-se essa pesquisa pelo fato de que a PMMG, em seus 236 anos de existência, foi alvo
de estudos por especialistas das mais variadas áreas, motivados, dentre outros, pelo seu
protagonismo no cenário de segurança pública estadual e nacional. No entanto, apesar de já se
terem passado trinta anos da inclusão das mulheres na PMMG, até o presente momento, os
registros do percurso da Polícia Feminina não foram compilados. Assim, as referências
disponíveis sobre esse caminhar se encontram esparsas em legislações específicas e gerais -
algumas em vigor, outras revogadas - em trabalhos de pesquisa cujos focos não convergiam
para a consolidação exclusiva da história da Polícia Feminina na PMMG – portanto, sem a
preocupação com a memória minuciosa – e em notícias publicadas por órgãos de imprensa.
Logo após a sua criação, a Polícia Feminina foi objeto de estudo por Oficiais da PMMG, com
foco na forma de emprego das mulheres policiais, seja buscando a comprovação de sua
adequabilidade ao trabalho policial, ou procurando medir seu desempenho operacional em
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comparação ao homem, ou, mais recentemente, discutindo o tema sob a ótica relacional, a
exemplo de Salazar (2007). Dos estudos realizados por pesquisadores militares, localizados
nos acervos da biblioteca da APM, apenas alguns destes trabalhos foram feitos por mulher, a
exemplo daquele feito com enfoque na aposentadoria aos 25 anos de serviço para o efetivo
feminino da PMMG (COCOVIK, 2006).
Para contar a história da Polícia Feminina na PMMG, o trabalho foi dividido em cinco partes.
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Na primeira, a criação da Polícia Feminina foi inserida no seu contexto histórico, recuperado
a partir das informações que apresentaram o papel da mulher na sociedade, sua inserção no
mercado de trabalho, a presença das mulheres nas instituições militares e a Polícia Militar de
Minas Gerais.
Na terceira parte, os registros do percurso histórico, por sua vez, também foram divididos em
três décadas: a) a década de oitenta, que concentrou a maior parte dos acontecimentos sobre a
Polícia Feminina na PMMG, especialmente em virtude do grande volume de normas e
acontecimentos pioneiros. Essa década foi apresentada ano a ano, para assegurar melhor
percepção quanto à sequência e a época em que os fatos aconteceram; b) a década de noventa
foi dividida em duas partes. A primeira contou os acontecimentos do último ano de existência
da Companhia de Polícia Feminina (Cia PFem), 1990, cujos registros ainda indicaram muitos
acontecimentos relacionados exclusivamente às Policiais Femininos1. Os acontecimentos dos
demais anos da década de 90 foram agrupados, já que, a partir de então, os registros
específicos sobre a Polícia Feminina se tornam escassos; c) os acontecimentos de 2000 a 2011
também foram apresentados em conjunto, embora, como o restante do trabalho, na ordem
cronológica em que se sucederam.
A quinta parte do trabalho foi dedicada ao registro das considerações finais, apresentando
aspectos da complexidade para o acesso às informações.
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Para fins de uniformização, nesse trabalho foram usadas as expressões “Policial Militar Feminino” e “Policial
Feminino” para se referir às mulheres da Instituição. No entanto, nas citações diretas ou reproduções de
documentos, foi mantida a expressão original, seja “Policial Feminina” ou ainda, “Policial Militar Feminina”.
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O caminhar da humanidade registrou mudanças a passos lentos, com casos pontuais de fuga
do modelo estabelecido, contudo, o século XIX, em virtude de transformações sociais de
ordens diversas, trouxe alterações nessa ordem. Assim, paulatinamente, observa-se que a
mulher passou a participar do mercado de trabalho, inicialmente ocupando funções
específicas.
Desse movimento inicial, a mulher passou a se fazer presente em todas as áreas da vida do
trabalho, de maneira que, no século XX, ao contrário do que se observava algumas décadas
antes, não se distinguem mais funções exclusivamente masculinas, considerando como
referência o fato de serem ou não exercidas também por mulheres.
Ao passo em que se inseria nos demais setores, a mulher também caminhou em direção às
carreiras militares. No Brasil atual, as mulheres estão presentes nas Forças Armadas e nas
Polícias Militares, exercendo funções relacionadas aos postos e graduações que envergam, a
exemplo do que acontece na PMMG.
Dessa forma, para resgatar o percurso histórico da Polícia Feminina na PMMG, torna-se
necessário rever os passos na mulher na sociedade, sua inserção no mercado de trabalho, seu
acesso aos organismos militares no mundo e no Brasil, passando pelos fatos motivadores da
decisão de inserir indivíduos do sexo feminino na Instituição e culminando com os registros,
década após década, de 1980 a 2011.
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No entanto, conforme Marques (2009), somente com a chegada da família real, em 1808, as
mudanças nos padrões de comportamento da elite européia começaram a ter reflexo no Brasil.
Assim, segundo Silva (1998), apud Marques (2009), datam de 1809 os primeiros registros do
surgimento de colégios privados que ofereciam educação às filhas da elite local. Seguiu-se, de
acordo com Marques (2009), uma elevação cultural das filhas da elite. Foi um processo
gradual de redefinição dos costumes e dos padrões de convívio na aristocracia, cujo auge, no
Brasil, ocorreu no segundo reinado.
Marques (2009) aponta que a educação feminina na elite brasileira criou raízes em meados do
século XIX, embora as mulheres estivessem circunscritas aos espaços de socialização
consentidos: o lar e o salão, no entanto, “para o conjunto mais amplo da sociedade, a difusão
da concepção da educação feminina como um valor social foi um processo simultâneo ao
surgimento nos setores médios” (MARQUES, 2009, p. 441). Isso porque, conforme o Estado
se reorganizava e se fazia presente nas províncias mais distantes, adveio um contingente
urbano, que ocupava funções na burocracia pública e privada, assim como no provimento de
serviços, que também tinha interesse em educar suas filhas.
Samara (2009) destaca as primeiras décadas do século XX como cruciais para as mulheres
mobilizadas na conquista da cidadania e ressalta o direito do voto, que foi uma das lutas
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feministas. Assim, aponta que, na América Latina, o Equador foi o primeiro país a garantir o
sufrágio feminino (em 1929) e o Paraguai, o último (em 1961). A autora relata que, em teoria,
a primeira nação do hemisfério ocidental a reconhecer o sufrágio feminino na Constituição,
foi o Uruguai (em 1917), contudo, a prática era inviabilizada pela exigência de dois terços de
maioria em cada uma das casas legislativas para que se tornasse lei. A Constituição Peruana
de 1933 permitiu que as mulheres votassem em nível local, contudo, não reconhecia sua
cidadania, que permanecia privilégio masculino. Cuba, em 1934, foi o quarto país da América
Latina a permitir o direito de voto às mulheres.
Também falando sobre a emersão dos direitos femininos no Brasil, D‟Araújo (2004) destaca:
Analisando dados do Censo Demográfico de 1920, Oliveira (2001) conclui que, até então,
apenas as trabalhadoras de baixa renda vivenciavam o trabalho extradomiciliar, idéia que se
reforça com a baixa representação das mulheres nas profissões liberais (menos de 5%). A
autora demonstra que, nos anos 70, o quadro começa a se modificar, especialmente entre as
mulheres dos segmentos médios, assim como as mulheres casadas e as mães.
Conforme Oliveira (2001), a estrutura ocupacional tornou-se mais complexa, na década de 70,
em virtude da intensificação da urbanização, e isso conduziu à emergência de uma classe de
trabalhadores não-manuais. As novas oportunidades de inserção da mulher no mercado de
trabalho se deram com o crescimento dos setores modernos da economia, além de mudanças
de ordem cultural e social:
Segundo Ramos e Soares(1994), a taxa de participação das mulheres com 16 anos ou mais no
mercado de trabalho nos Estados Unidos passou de 41,6 para 51,7%, no período de 1976 a
1985, ao passo que, no Brasil, essa taxa passou de 28,7 para 36,9%, o que ainda demonstrou
uma baixa participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro.
Apesar disso, Hoffmann e Leoni (2004) apontam uma intensificação da participação das
mulheres na atividade econômica na década de 1970, em um contexto em que a economia se
expandia, sendo que esse movimento prosseguiu na década de 1980, apesar da estagnação da
atividade econômica e da deterioração das oportunidades de ocupação.
últimas décadas do século XX no Brasil (período de 1981 a 1998) foram marcadas por
intensas transformações demográficas, culturais, políticas e econômicas. A autora cita, como
indicadores dessas modificações, a queda de fecundidade, o envelhecimento da população, o
aumento do número de famílias chefiadas por mulheres e a redemocratização do país. Além
disso, aponta que os anos em questão foram marcados por crises econômicas, elevadas taxas
de inflação, sucessivos planos de estabilização e, a partir de 1994, queda da inflação e
estabilização da moeda.
Bruschini (2000) refere-se aos anos 80 como um período de “permanente e prolongada crise
econômica, com aumento do desemprego e alteração na distribuição da população
economicamente ativa, deslocando-a do setor industrial para ocupações no setor informal”
(BRUSCHINI, 2000, p. 438). Os dados analisados pela autora demonstram o papel destacado
do setor terciário, na primeira metade dessa década, no sentido de evitar maiores quedas no
nível de desemprego, já que os ramos que mais geraram empregos foram a prestação de
serviços, o comércio, as atividades sociais, a administração pública e alguns outros, a exemplo
das instituições financeiras. Nesse sentido, a década de 80 registra, conforme a autora, um
declínio no nível de emprego no setor industrial, representada por uma queda ligeira no caso
dos trabalhadores masculinos e de forma mais acentuada (9,6%) para as mulheres. Segundo
ela, as maiores possibilidades para as mulheres continuaram sendo na prestação de serviços
(apesar de cederem lugar para os homens – de 7,8% em 1981, para 12,4% em 1998), na área
social e no comércio de mercadorias.
Em seu estudo, Bruschini (2000) aponta que, nas duas últimas décadas do século XX, apesar
de nos setores denominados “menos favorecidos” (trabalhadores domésticos, não
remunerados e consumo próprio e da família), ainda predominar o trabalho da mulher,
também aumenta a parcela feminina em todos os grupos ocupacionais, com aumento nas
funções administrativas (ampliando presença nas burocráticas e nos cargos de diretoria e
chefia na administração pública). A autora também indica que, no período analisado (1981 a
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1998), o aumento considerável das mulheres nas funções de chefia, gerência e administração
de empresas, bem como nas funções de empresárias, ou empregadoras, num acréscimo de
participação na ordem de 224%. No grupo das ocupações técnicas, aumentou a presença
feminina nas profissões de prestígio: arquitetura e odontologia (170%), medicina (137%),
jornalismo (146%), engenharia (126%) e ocupações jurídicas (144% - destacando-se o
número de juízas, cuja evolução foi de 300%).
Dedicando-se a traçar a participação da mulher nas forças armadas, Caire (2004) identifica
que a presença feminina sempre foi permitida nos exércitos desde a pré-história, ainda que
elas não ocupassem os cargos militares propriamente ditos. Assim, o autor trata das “mulheres
que acompanhavam os exércitos” em circunstâncias distintas, em cada exército, país ou
época. O autor cita dois exemplos lendários da coragem das mulheres celtas e gaulesas:
Assim, segundo Caire (2004), “na Idade Média os exércitos reais transbordavam de mulheres”
(CAIRE, 2004, p. 18). Desde 638, os francos tinham o costume de levar suas mulheres com o
exército. Eram, em grande parte, das chamadas “mulheres autorizadas”.
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Assim, Caire (2004) especifica que “todas essas „mulheres que acompanhavam os exércitos‟
partilharam a vida do soldado, a ponto de, em determinadas circunstâncias, combaterem ao
seu lado”. (CAIRE, 2004, p. 35)
Caire (2004) também trata das mulheres guerreiras, as quais classifica em duas categorias. A
primeira categoria é a das chefes de exércitos, quase sempre rainhas, princesas e amazonas,
cujos registros remontam à Antiguidade, a exemplo de Artemisa, primeira Rainha de
Halicarnasso, que combateu que combateu ao lado de Xerxes, rei dos persas. Nesse grupo
também estão Joana d‟Arc, considerada a mais célebre de todas, e as amazonas, cujos
exércitos eram comandados e compostos por mulheres guerreiras. As primeiras amazonas da
França teriam surgido com a Revolução de 1789.
A segunda categoria de mulheres guerreiras, segundo Caire (2004), a mais numerosa, é a das
mulheres-soldados, muitas das quais, por necessidade, defenderam vilas e castelos sitiados.
Dentre essas, o autor enumera as que considera mais famosas: Jeanne Hachette, que defendeu
Beauvais, em 1472, contra Carlos o Temerário, e Améliane Puget e suas companheiras, que
combateram durante o cerco de Marsella, em 1542, contra o grande oficial da coroa de
Bourbon, dentre outras.
Caire (2004) pontua que, apesar de seu antifeminismo notório, Napoleão Bonaparte admitiu a
presença de determinadas mulheres-soldados nos exércitos imperiais. Assim, há registros da
presença de Rose Barreau, que serviu com seu marido e se destacou durante a tomada do
reduto espanhol de Biriaton, em 1793; de Angélique Ducheim, que começou sua carreira
como cantineira e, depois da morte do marido, foi engajada no 42º de Infantaria e participou
de sete campanhas, de 1792 a 1799, na qualidade de fuzileiro, cabo, cabo-furriel e sargento-
maior, dentre outras.
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Relacionando mulheres-soldados de outros países, Caire (2004) menciona: Mary Read, uma
célebre mulher-pirata do século XVII; Francesca Scanagetta, oficial do Exército austríaco
que, disfarçada de homem, freqüentou cursos na academia militar de Viena e serviu como
porta-estandarte por três anos, a partir de 1979; Augustine Sarzella, na Espanha, que defendeu
o sítio de Zaragosa, que foi nomeada oficial e passou a ser reconhecida como “a Virgem de
Zaragosa” após ter os braços arrancados por uma granada de canhão; a primeira mulher-
almirante da história, a grega Laskarina Bourboulina, que comandou uma frota que combateu
os turcos de 1821 a 1825; Deborah Sampson Garret e Molly Pitchers, que combateram na
Guerra de Secessão nos Estados Unidos e foram chamadas de riflewomen; e Emilie Plater
que, por ocasião do levante de 1831, na Polônia, foi encarregada da defesa da cidade de
Kowna, investida no posto de capitão-comandante.
Contudo, conforme assevera Caire (2004), somente com o advento dos grandes conflitos
mundiais do século XX, as mulheres passaram a ser admitidas nos exércitos, não apenas em
caráter excepcional, como ocorrera até então. Antes disso, o século XIX, considerado uma
época de transição, viu despontar as enfermeiras que atuavam nos hospitais militares e, em
alguns casos, nos campos de batalha, no socorro aos feridos. Aumentou a importância da
participação das mulheres na direção das instituições da Cruz Vermelha e os decretos que
regulamentaram a participação de seus membros nas zonas de retaguarda dos conflitos,
autorizaram seus membros a usar uniforme e portar um braçal característico.
A primeira guerra mundial gerou a necessidade de mão de obra na retaguarda para sustentar o
esforço de guerra. Assim, as mulheres foram mobilizadas ou requisitadas, conforme Caire
(2004) para servirem nas formações militares. Segundo o autor, foram muitas as mulheres que
combateram na Rússia, dentre as quais estavam as três primeiras pilotos militares do mundo:
Lioubov Galanchikova e a Princesa Dolgoroukaia, que serviram na guerra contra a Alemanha,
em 1917, e Natalia Bervy, primeira piloto do exército vermelho, em 1918. Há registros da
atuação de mulheres em combates na Romênia, na Tchecoslováquia, na Sérvia e na Polônia;
neste último, inicialmente em organizações clandestinas – há notícia de uma formação militar
polonesa totalmente feminina que chegou a ter três mil componentes. No entanto,
“diferentemente dos países da Europa Ocidental, os do Ocidente não enviaram suas mulheres
para a guerra; porém, elas fizeram um esforço prodigioso na retaguarda para substituir os
homens” (CAIRE, 2004, p. 58).
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Foi na Inglaterra, no fim de 1914 e no início de 1915, e nos Estados Unidos, em 1917, que,
conforme Caire (2004) surgiram as precursoras dos corpos femininos militares como hoje
conhecemos. Na Inglaterra, havia os corpos femininos benemerentes, que eram submetidos a
uma disciplina mais ou menos militar e que constituíram os futuros corpos femininos, em
decorrência de sua função de auxiliar a marinha, o exército e a aviação militar. Nos Estados
Unidos, em 1917, o exército terrestre empreendeu algumas tentativas no sentido de gerar a
criação de corpos femininos militarizados, sem sucesso. A Marinha e o Corpo de Fuzileiros,
no entanto, recrutaram mulheres para substituir os homens nos serviços de terra: 11.275 na
Marinha e 305 no Corpo de Fuzileiros Navais, todas dispensadas em julho de 1919.
Ao lado do esforço anônimo e considerável despendido no interior para suprir a ausência dos
homens (três milhões de mulheres na Inglaterra e perto de dois milhões a França), acabou-se
também reconhecendo a diversidade de funções que a mulher podia desempenhar nos
exércitos.
Segundo Caire (2004), em abril de 1939, a Inglaterra reativou o Serviço Feminino da Marinha
Real e, em junho do mesmo ano, o de Mulheres Auxiliares da Força Aérea. A essa época, já
existia o Serviço Auxiliar Territorial, instituído em 1938, que consistia em um corpo feminino
dentro da organização do exército terrestre. As três consistiam corpos militarizados e três
eram associações voluntárias; o recrutamento englobava mulheres de 17 anos e meio até 43
anos (45 para a Marinha Real). O engajamento das mulheres foi voluntário até abril de 1941
e, a partir dessa data, as mulheres foram requisitadas pelo governo inglês para trabalharem nas
fábricas, no campo e nos escritórios; o governo concedeu-lhes a escolha do engajamento
prioritário nas associações do exército, da marinha e da aeronáutica. Em dezembro do mesmo
ano, com a Lei do Serviço Nacional (National Service Act) foi permitida a mobilização das
mulheres para as funções militares na Inglaterra.
Conforme computou Caire (2004), os corpos auxiliares e os mais ou menos integrados a eles
na Inglaterra nessa época somaram 437.000 (quatrocentas e trinta e sete mil) mulheres, o que
representava 8,5% das forças armadas do país. A avaliação da mobilização das mulheres na
Inglaterra ainda se torna mais relevante quando se considera que, das 17 milhões existentes,
sete milhões foram requisitadas para serviços de retaguarda (como o serviço nacional
feminino contra incêndios e o exército feminino agrícola, dentre outros).
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Os efetivos dos três corpos militarizados da Inglaterra, segundo Caire (2004) tinham a missão
de substituir os homens nas tarefas não-combatentes, mas a situação mudou quando elas
começaram a servir mais próximas ao combate. Dentre as características desses corpos estão:
Seu estatuto era militar, mas não havia correspondência exata com o do
elemento masculino. O alistamento era subscrito pela duração da guerra. As
engajadas tinham direito a dois shillings de soldo-base, quando não eram
especializadas, mais uma gratificação de guerra de oito pence por dia. O
uniforme era distribuído gratuitamente e elas tinham direito a uma
gratificação para manutenção dos uniformes, ao alojamento, à alimentação e
ao tratamento médico. Eram obrigatoriamente inscritas nos organismos de
seguro contra doenças e contra a inatividade. Os soldos eram maiores para
as especializadas, para as suboficiais e para os oficiais de posto inferior aos
do pessoal masculino (cerca de 80% a 85%). O mesmo acontecia com as
diversas gratificações. (CAIRE, 2005, p. 85)
No organismo denominado Transportes Aéreos Auxiliares (ATA) da Inglaterra, cem dos mil
pilotos eram mulheres, que pilotaram todos os tipos de aviões, mas elas foram desmobilizadas
ao fim da guerra. Na Inglaterra, também, foram criados os Corpos de Enfermeiras da Marinha
Real, cujas integrantes, em alguns casos, tinham postos correspondentes aos dos oficiais. O
final da guerra anunciou um resultado favorável ao ingresso das mulheres nas forças armadas,
já que “as mulheres prestaram tal contribuição durante a guerra, que a existência dos corpos
femininos foi oficialmente reconhecida. O Parlamento britânico anunciou, em 1946, sua
intenção de conservar o elemento feminino nas forças armadas da Coroa e, dessa vez, de
maneira permanente”. (CAIRE, 2004, p. 90).
Em 14 de maio de 1942, após debates sobre a conveniência de aceitar mulheres nos serviços
militares, o Congresso dos Estados Unidos instituiu o Corpo Auxiliar Feminino do Exército,
com estatuto civil. Contudo, as mulheres que integravam esse corpo não podiam prestar
serviço ultramarino e somente podiam ser empregadas em funções militares. Em 30 de julho
de 1942, uma lei criou a Reserva Feminina da Marinha dos EUA. Em 25 de novembro de
1942, a Reserva Feminina da Guarda Costeira dos EUA foi reativada e, em 03 de fevereiro de
1943, foi criada a Reserva do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. Os dois últimos corpos,
segundo Caires (2004), foram dotados de estatuto militar, contudo, as suas integrantes não
podiam prestar serviço além-mar e nem estavam autorizadas a substituir o pessoal civil, o que
seriam demonstrações da hesitação legislativa da época em relação ao emprego das mulheres
nas forças armadas.
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Com o evoluir da guerra, os corpos femininos, que não eram regidos exatamente pelas
mesmas regras que os masculinos e que tinham comandos separados, sofreram alterações
quanto às circunstâncias de emprego. O Corpo Auxiliar Feminino do Exército foi
transformado, em julho de 1943, em Corpo Feminino do Exército – WAC (Women‟s Army
Corps), cujo efetivo não poderia, segundo Caires (2004), ultrapassar 150 mil integrantes. As
interessadas em integrar esse corpo assinaram um engajamento pela duração da guerra e a
autoridade feminina sobre o pessoal masculino somente era admitida em casos excepcionais.
As oficiais da WAC possuíam diploma universitário e receberam formação mais exigente.
Predominavam as funções na administração e no suprimento. Às suboficiais, foi proibido o
trabalho como serventes, cozinheiras, ordenanças ou domésticas. Algumas integrantes da
WAC foram empregadas nas baterias antiaéreas. Engenheiras atuaram no projeto atômico e
nos laboratórios de balística. Nenhuma atuou no serviço de informações. Na Força Aérea do
Exército, nenhuma atuou em tripulação específica de combate, mas foram empregadas como
radioperadoras, mecânicas, fotógrafas e até mesmo como serventes de bordo (aeromoças).
Conforme Caire (2004) duas mil integrantes da WAC serviram no teatro de operações do
Mediterrâneo (Norte da África), oito mil na Europa (incluindo as campanhas da Itália e da
França), cinco mil na Austrália, Nova Guiné e nas Filipinas. Caire (2004) destaca a atuação
dessas mulheres na Normandia:
Segundo Caire (2004), quando os efeitos da legislação que criara o WAC expiraram, em
1948, foi preservado como um corpo militar na ativa do exército, não sem que, antes, essa
medida fosse debatida nos Estados Unidos. Em 1947, cerca de 1500 (mil e quinhentas)
mulheres haviam sido recebidas e constituíram a primeira Women Air Force.
Também nos Estados Unidos, conforme Caire (2004), os Fuzileiros e a Armada que, apesar de
serem forças distintas, estavam ambas sob a autoridade da Marinha, viram surgir sua primeira
34
A respeito da Força Aérea dos Estados Unidos, Caire (2004) esclarece que, em 1939, dois
grupamentos distintos foram criados. O autor registra que as mulheres do Women Air Service
(WASP) percorreram, durante a Segunda Guerra, cerca de 90 (noventa) milhões de
quilômetros em vôo, em 77 (setenta e sete) tipos de aviões, e tiveram uma taxa de acidentes
comparada aos dos homens: 38 (trinta e oito) acidentes mortais.
Sobre a Rússia, Caire (2004) esclarece que, graças a um sistema de preparação que se iniciou
antes mesmo da guerra, inclusive com um “registro militar” de mulheres, o país já conhecia
quantas tinham condições de substituir o homem no combate. Essas mulheres, cujas idades
estavam entre 18 e 45 anos para oficiais e 18 a 40 anos para soldados, já alcançavam o
número de cinco milhões em agosto de 1920. Eram obrigadas a se alistar na Sociedade
Benemerente de Auxílio ao Exército, à Aviação e à Marinha (DOSAAF), as mulheres
empregadas nos serviços de saúde que possuíam o curso militarizado da Cruz vermelha
(enfermeiras ajudantes cirúrgicas ou parteiras), além das diplomadas pelos cursos de estado-
maior, empregadas na administração ou nas academias militares, onde ocupavam postos
oficiais. Por ocasião do apelo ao serviço militar, decorrente de uma lei de 1º de setembro de
1939, as mulheres alistadas na DOSSAF faziam parte da reserva militar; a partir de 1940, as
demais podiam ser requisitadas para a chamada “reserva de mão-de-obra”. A partir de um
decreto de 13 de fevereiro de 1943, as mulheres de 16 a 45 anos, aptas ao serviço militar,
foram mobilizadas. Entre as combatentes, selecionadas entre mulheres de 18 a 25 anos que
não se haviam engajado voluntariamente, um batalhão feminino recebeu a missão de desativar
as minas nos territórios conquistados; as sobreviventes foram empregadas como enfermeiras
no front. Ainda consoante Caire (2004), cerca de 800 (oitocentas) mil mulheres serviram no
Exército Soviético durante a Segunda Grande Guerra Mundial, dentre essas, aviadoras
militares. Ainda segundo o autor, esse foi um dos poucos países em não houve distinção de
sexo para emprego no conflito.
Segundo Caire (2004), no período entre guerras na Alemanha, era enaltecido o retorno da
mulher. Além disso, os preconceitos contra o emprego da mulher impediam qualquer
iniciativa para emprego feminino de maior vulto. Por outro lado, a Lei da Defesa, de 21 de
maio de 1935, previa a obrigatoriedade do serviço militar e a disponibilização para o serviço
da pátria de todos os homens e mulheres em tempo de guerra. Posteriormente, foi criado, em
15 de outubro de 1938, um serviço obrigatório de urgência, especialmente para as
administrações públicas; já em 13 de fevereiro de 1939, outro decreto permitiu a requisição de
mulheres para serviços mais diversos; em 27 de janeiro de 1943, por força de decreto, todas as
mulheres de 17 a 45 anos foram concitadas a ser inscrever para colaborar com o Reich; o
limite de idade foi aumentado para 50 anos no ano seguinte. Há registros de que, a partir de
1944, as alemãs eram empregadas nas baterias antiaéreas (sem fazer parte das guarnições de
canhões) e de que, em janeiro de 1945, assumiram pela primeira vez postos de chefia, o que
36
ocorreu nas baterias de projetores (quando essas subunidades eram mobilizadas apenas por
mulheres).
Fornecendo uma visão panorâmica, D‟Araújo (2004) apresenta dados, de 2001, sobre a
presença das mulheres nas Forças Armadas dos países membros da Organização do Tratado
do Atlântico Norte (OTAN). Assim, fica demonstrado que o primeiro país membro da OTAN
a aceitar mulheres nas forças armadas foi a Bélgica, em 1946. Em 1951, seguiram-se a França
e o Canadá, depois a Turquia, em 1955. Somente na década de 1970, as mulheres foram
aceitas nas forças armadas dos Estados Unidos (1970), da Dinamarca (1977) e da Grécia
(1979). A maior concentração de abertura das forças armadas para mulheres ocorreu na
década de 1980, com Noruega e República Tcheca (1985), Luxemburgo (1987), Portugal,
Espanha e Holanda (1988). Na década de 90, as forças armadas do Reino Unido (1992), da
Hungria (1996) e da Polônia abriram as portas para as mulheres. Finalmente, no ano de 2000,
as mulheres foram recebidas nas forças armadas da Alemanha e da Itália.
Tratando da inserção das mulheres nas Forças Armadas dos países latino-americanos, Mathias
(2005) assevera:
... são três os principais fatores que levam à integração das mulheres às
forças armadas. O primeiro é a democracia que cada vez mais exige maior
igualdade na oferta de oportunidades para os cidadãos. Depois, está a
mudança na forma de fazer a guerra, nisto compreendendo as mudanças
tecnológicas (sofisticação nos armamentos) e administrativas (gestão da
guerra). O terceiro fator poderia ser chamado de psicossocial, pois é
conseqüência da percepção dos agentes sobre a função dos militares, o que
englobaria a questão econômica (proventos e benefícios) e também o
prestígio da profissão, resultante tanto do grau de legitimidade castrense
(crise de identidade e grau de confiança da sociedade) como da pouca
atração que a profissão teria para o sexo masculino. Adicionalmente, o
estabelecimento do voluntariado no recrutamento militar também explica a
abertura para as mulheres. (MATHIAS, 2005, p. 2)
37
D‟Araújo (2004) entende que é uma mudança significativa o fato de, atualmente, a maioria
dos países ocidentais aceitarem mulheres nas Forças Armadas, ainda que com restrições
quanto ao acesso às posições hierárquicas e as de comando. Para a autora, isso representa uma
significativa mudança de valores, considerando que seriam mais ligados à masculinidade
alguns atributos da vida militar, tais como “risco, alta mobilidade geográfica, separação
temporária da família, necessidade de praticar a violência, exposição a perigos, treinamentos
intensivos, disciplina férrea, exercícios físicos pesados e obediência profissional acima de
qualquer direito ou dever pessoal” (D‟ARAÚJO, 2004, p. 441).
38
D‟Araújo (2004) esclarece que as portas da caserna para as mulheres foram abertas, no Brasil,
na década de 1980, inicialmente nos quadros complementares de apoio administrativo, depois
nos quadros de médicos, dentistas, farmacêuticos, veterinários, professores, economistas,
advogados e outros. Posteriormente, as mulheres acessaram aos quadros permanentes, não
exclusivamente femininos. A autora delineia esse processo da seguinte forma:
D‟Araújo (2004) também esclarece que, além das funções de carreira, o Exército também
promoveu a formação de mulheres para ocupação de funções temporárias:
Por sua vez, ao abordar a situação dos países de maneira geral, Soares e Musumeci (2005)
especificam:
Para Monet (2001), a polícia representa um ofício de homens, ainda que sejam raras,
atualmente, as organizações estritamente masculinas. O autor explica que, na França, somente
a partir de 1972, as mulheres começaram a ser admitidas no corpo de inspetores; em 1979
começaram a ser admitidas no corpo dos guardiães da paz e na Gendarmeria. Até 1987 existia
um sistema de cotas, que limitava o número de mulheres em 11%. Como o Tribunal de Justiça
européia condenou o sexismo naquele país, as autoridades elevaram a altura exigida das
candidatas de 1 m 63 cm para 1 m 66 cm, o que teria restringido o acesso, tendo em vista a
altura mínima das francesas.
Expondo dados numéricos sobre os efetivos femininos nas polícias de diversos países, sem
distinção de corpos civis e militares, Monet indica, em 2001, que, na França e na Dinamarca,
a taxa de feminilização é de 5%; na Grã-Bretanha, os dados indicam cerca de 14 (quatorze)
mil mulheres policiais, o que representa uma mulher por cada nove homens; no Corpo
Nacional de Polícia (civil) da Espanha, 1% do efetivo é composto por mulheres, as quais não
exercem nenhuma função de comando; na Bélgica, as mulheres são 5% do efetivo das polícias
municipais, 2,6% na polícia judiciária e 0,5% na Gendarmaria; em Israel, as mulheres
representam 16% dos 19 mil policiais; no Japão, onde cerca de 2% do efetivo é composto por
mulheres, a maior parte delas está empregada no controle de trânsito.
A respeito da polícia do Reino Unido, Reiner (2003) esclarece que a ausência de composição
representativa de gênero – bem como étnica – foi uma das preocupações oficiais naquele país.
O autor indica, no entanto, que embora o desequilíbrio entre homens e mulheres continue
acentuado, houve uma mudança considerável nesse quadro, em decorrência da Lei de
Discriminação Social, que data de 1975. Essa lei aboliu a separação entre as divisões de
polícia feminina e gerou uma integração formal entre os corpos masculino e feminino.
Ao comparar a situação das mulheres nas polícias militares do Brasil e de outros 51 países,
com dados do ano de 2000, Musumeci (2009) mostra números que apresentam a Estônia
como aquele cujo efetivo feminino é maior (26%), seguido de Israel 2 (22%), África do Sul
(21,4%). Na mesma exposição, a Suécia apresenta um efetivo feminino de 17,3% do total,
Inglaterra e Gales, 16,7%, Canadá, 13,7%, França, 13,3%, EUA, 10% e Brasil, na 33ª
posição, 8,2%.
Musumeci (2009) destaca que, na maioria dos estados brasileiros, as polícias militares
começaram a admitir mulheres na década de 80, o que ocorreu num contexto de
redemocratização do país, embora, para a autora, isso não tenha derivado de movimentos
sociais em prol da criação de serviços especializados ou pela abertura de um novo espaço
profissional para as mulheres. Assim, esse processo teria ocorrido “ao que tudo indica, do
propósito interno de „humanizar‟ a imagem das corporações, fortemente marcada pelo seu
envolvimento anterior com a ditadura”. (MUSUMECI, 2009, p.176)
De fato, na década de 80, as mulheres haviam conquistado muitos direitos, entre eles, o de
acessar o mercado de trabalho nas mais variadas profissões. O serviço militar e o ingresso nas
Polícias Militares, até então, era inacessível nas Forças Armadas e na maioria dos estados.
Esse cenário começa a mudar com a abertura dos quadros das polícias militares para as
mulheres, conforme esclarece Schactae (2006).
No estado de São Paulo, o Corpo de Policiais Femininos existe desde 12 de maio de 1955,
embora, àquela época, não pertencesse aos quadros da Polícia Militar do Estado de São Paulo
(PMESP), mas à Guarda Civil. Com o advento do Decreto-Lei 1072, de 30 de dezembro de
2
Dados de 2002.
41
1969 (que deu nova redação ao art. 3º, letra “a” do Decreto-Lei 667, de 02 de junho de 1969,
que reorganizou as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros), as missões de policiamento
ostensivo fardado passaram a ser de exclusividade das polícias militares, o que gerou
modificações nesse quadro.
Havia mulheres policiais no Estado de São Paulo deste o ano de 1955 com a
criação do “Corpo de Policiamento Feminino”. Esse grupo de policiais foi
agregado às demais polícias - Guarda Civil, Força Pública e a Polícia
Marítima e Aérea, em 1970, dando início a Polícia Militar do Estado de São
Paulo. Nesse caso o surgimento da própria PMSP levada a cabo no período
ditatorial é que insere mulheres e homens em uma mesma instituição
policial, pois até então a inclusão de mulheres se dava em uma organização
em separado, permanecendo, no entanto, a atividade das policiais como um
tipo de policiamento específico e fisicamente dividido. (MOREIRA E
WOLF, 2009, p. 57)
Na Polícia Militar do Pará (PMPA), conforme Xavier (2008), a polícia feminina foi criada em
15 de dezembro de 1981, sendo que a primeira turma formou-se em agosto de 1982. A
Companhia de Polícia Feminina do Pará, no entanto, somente foi criada em janeiro de 1984.
Segundo Musumeci (2009), no ano de 1982, as mulheres ingressaram nas Polícias Militares
do Amazonas, do Maranhão e do Rio de Janeiro. Em 1983, foi a vez das Polícias Militares do
Distrito Federal, do Espírito Santo e de Santa Catarina. Em 1985, a Polícia Militar do Acre
abriu as portas para o ingresso feminino. Em 1986, foi a vez das Polícias Militares de Goiás,
Rio Grande do Sul e de Tocantins. Em 1987, o mesmo aconteceu na Paraíba e no Rio Grande
do Norte. Em 1988, as mulheres ingressaram na Polícia Militar de Alagoas. Em 1989,
ingressaram na Polícia Militar do Amapá. Em 1993, as mulheres chegaram à Polícia Militar
de Pernambuco e em 1994, à Polícia Militar do Ceará. Em 2000, foi a vez da Polícia Militar
de Roraima receber suas primeiras integrantes femininas.
42
Silva Neto (1995) esclarece que, em todo seu período de existência, a PMMG desempenhou
missões de natureza militar e policial, embora uma dessas missões sempre tenha predominado
sobre a outra, alternadamente, em momentos distintos da história, o que decorria do ambiente
histórico vivido pelo país.
Como as Companhias de Ordenanças eram compostas por homens voluntários e das camadas
menos favorecidas (pobres, negros, índios e pardos), elas não serviam aos desígnios
exploradores do Brasil-Colônia, o que levou à criação das “Companhias de Dragões,
formadas por homens oriundos do reino, bem adestrados e, portanto, mais aptos a impor a
ordem interna nas capitanias” (SILVA NETO, 1995, p. 40).
As Companhias de Dragões, criadas em 1719, eram uma força militar composta por soldados
e oficiais profissionais, organizadas nos moldes do exército e foram extintas em 1775,
conforme esclarecido por Netto (1981).
De acordo com Silva Neto (1995), a mais evidente organização de uma “força pública”
estruturada como uma organização militar, na então Capitania de Minas, se configura com a
criação, em 09 de junho de 1775, do Regimento Regular de Cavalaria.
Conforme Marco Filho (2005) o Regimento Regular de Cavalaria tinha missões de natureza
policial e militar: a primeira, com a missão de impedir o contrabando do ouro e escoltar esse
minério até o Rio de Janeiro; a segunda, que levou o Regimento a estar mobilizado, por várias
vezes, para o Rio de Janeiro e outros estados do País.
Segundo Silva Neto (1995) as raízes históricas da PMMG são as tropas pagas dos séculos
XVII e XVIII, ou seja, as Companhias dos Dragões e os Regimentos de Cavalaria. Essas
43
Cotta (2006) se debruça ao estudo da História da Polícia Militar de Minas Gerais e sintetiza
acontecimentos importantes do final da década de 30:
Silva Neto (1995) atribui ao papel decisivo da Polícia Militar de Minas Gerais, como força
militar, na Revolução de 1964, o processo de inversão do quadro de atribuições da instituição,
cuja missão principal, até então voltada para as operações militares, deu lugar a uma missão
então considerada secundária: a manutenção da ordem pública.
Nessa linha de raciocínio, Silva Neto (1995) conclui que “o abstrato das crenças e valores que
fundamentam as práticas formais e informais que dinamizam a Polícia Militar como
organização ainda agrega elementos com raízes em passado como instituição genuinamente
militar” (SILVA NETO, 1995, p. 214). O autor ainda defende que:
Os anos 1980 alcançaram uma instituição regida pelo Regulamento Disciplinar da Polícia
Militar de Minas Gerais (RDPM), cuja última versão havia sido aprovada pelo Decreto
16.231, de 02 de maio de 1974.
Um exemplo da conduta que se esperava dos policiais militares, especialmente dos alunos dos
cursos de formação, está publicado no BI APM 027, de 06 de julho de 1981, onde está
inserida a decisão do Conselho de Disciplina Escolar ao qual foi submetido um aluno do
CFO1 enquadrado no art. 74, inciso VIII, do Regimento da Academia de Polícia Militar
(RAPM), aprovado pela Resolução n.º 804, de 09 de julho de 1980. No caso em questão, o
aluno, acusado de viver maritalmente com uma senhora, sendo ele solteiro, e de não pagar as
despesas da pensão onde morava, foi punido com o desligamento do curso e com a exclusão
dos quadros da PMMG:
45
Até 1980, somente os cidadãos do sexo masculino podiam ser incluídos nos quadros militares
da PMMG. De forma semelhante ao que ocorre nos dias atuais, os militares incluídos na
Instituição eram classificados nos chamados quadros: a) policial militar; b) de especialistas
(este integrado pelos pessoal de saúde, capelães, veterinários, dentre outros); c) bombeiros
militares, até 1999. Especificamente quanto ao quadro policial militar (objeto deste trabalho),
a estruturação se dá da seguinte forma: a) o Quadro de Oficiais da Polícia Militar (QOPM); b)
o Quadro de Praças Policiais Militares (QPPM).
Como se vê, as chamadas portas de entrada nos quadros operacionais da PMMG eram, o
CFO, para ingresso nas funções de Oficiais, e o CFSd, para ingresso nas funções de Praças.
Como será detalhado nesta monografia, a inclusão das primeiras policiais militares ocorreu de
46
forma diferente, já que se deu, por alguns anos, a partir do ingresso na graduação de 3º
Sargento.
No ano de 1981, a Polícia Militar editou normas visando à seleção e matrícula de 120
mulheres no primeiro Curso de Formação de Sargentos Femininos. Nesse mesmo ano, foram
previstas 160 vagas para o curso de Formação de Sargentos Masculinos, a ser realizado em
1982, de acordo com a Resolução 911, de 14 de agosto de 1981. Para os candidatos a esse
curso, era exigida a Carteira Nacional de Habilitação, requisito que não foi requerido das
mulheres, como se verá no curso deste estudo, além do 1º grau completo.
Nesse ano, o Comandante-Geral da PMMG era o Cel PM Jair Cançado Coutinho, que
assumiu o Comando em 1980 e ocupou esse cargo até 1983.
No ano de 1982, o efetivo previsto para a PMMG era de 30.200 (trinta mil e duzentos)
policiais militares, conforme ficou definido na Lei 8191, de 13 de maio de 1982, que fixou o
efetivo da PMMG. Apesar de editada após a inclusão das primeiras policiais, a Lei não previu
efetivo feminino na Instituição. Foi essa mesma Lei que, conforme Coutinho (1983) permitiu
a criação dos então mais recentes Batalhões da Corporação: o 17º BPM, sediado em
Uberlândia, o 18º BPM, sediado em Contagem, o 19º BPM, sediado em Teófilo Otoni, e o 20º
BPM, em Pouso Alegre.
No início dos anos 80, vigorava o Código Eleitoral instituído pela Lei 4737, de 15 de julho de
1965, que esclarecia, no parágrafo único do art. 5º: “os militares são alistáveis desde que
oficiais, aspirantes a oficiais, guarda-marinhas, subtenentes ou suboficiais, sargentos ou
alunos das escolas militares de ensino superior para formação de Oficiais”. (BRASIL, 1965).
Somente no ano de 1988, com o advento da Constituição Cidadã, os Soldados e os Cabos da
PMMG puderam exercer o direito ao voto. A administração da PMMG, por sua vez,
relacionava e publicava os nomes dos policiais militares obrigados ao exercício do voto que
votaram ou justificaram sua ausência, além dos policiais que não cumprissem, quando havia
casos, para os “efeitos legais”. (MINAS GERAIS, 1982)
Nesse contexto, a criação da Companhia de Polícia Feminina da PMMG foi o primeiro passo
para a inserção da mulher numa organização que iniciava o processo de sobreposição do
47
caráter policial ao caráter militar. Numa instituição que comemora, em 2011, 236 anos de
existência e que passou, e vem passando, por mudanças que repercutem na própria cultura
organizacional e nos padrões de comportamento e de emprego, seria demasiado simplista
focar qualquer aspecto isolado do tempo e do quadro institucional em que ocorreu.
3 METODOLOGIA
3.1 Métodos
Com o caminhar dos estudos, percebeu-se que restavam lacunas que impediam a produção de
uma narrativa que satisfizesse os objetivos propostos, já que o registrado nas fontes de
consulta escritas não respondia algumas perguntas sobre: o resultado prático de certas normas
editadas; a percepção do andamento do processo de entrosamento das mulheres na Instituição
pelos atores envolvidos, tanto no preparo das estratégias de atuação, como na sua aplicação na
rotina diária da Polícia Feminina na PMMG.
Por esse motivo, a metodologia da História Oral foi acrescida ao trabalho, constituindo-se na
fonte dos esclarecimentos que permitiram o encadeamento dos fatos apresentados.
Os dois métodos utilizados (consulta a textos escritos e História Oral) serão detalhados a
seguir.
Nesse trabalho, foram lidos todos os BGPMs microfilmados, publicados de 1979 a 2000, uma
vez que, de 2001 em diante, os BGPMs já estão disponíveis na intranet da PMMG, que
tornou-se a fonte de consulta para o restante do período estudado.
Também microfilmados, foram lidos todos os BIs da Academia da Polícia Militar (APM), no
período de 1980 a janeiro de 1983; do Comando de Policiamento da Capital (CPC), no
período de janeiro de 1982 a fevereiro de 1991, uma vez que essas Unidades publicaram
documentos referentes à Polícia Feminina: a APM, por ser a Unidade de Ensino onde se
formaram as policiais e deu apoio administrativo à Cia PFem até a sua completa estruturação;
o CPC, por ser a Unidade de Direção Intermediária à qual se subordinou a unidade feminina
de 1982 a 1990, quando foi extinta.
A Cia PFem somente começou a publicar BIs a partir de 17 de janeiro de 1983. Dessa época
em diante, foram consultados todos os BI daquela Unidade, microfilmados, até o último
exemplar editado.
Especificamente quanto aos Boletins da Cia PFem, a pesquisa aos arquivos microfilmados
não resultou na localização de publicações referentes aos anos de 1988 e 1989. Por esse
motivo, os fatos referentes a esse biênio, porventura publicados apenas pela Cia PFem, não
puderam ser coletados para a pesquisa.
Tendo em vista que o presente trabalho objetivou a apresentar fatos que ajudassem a contar o
percurso da Polícia Feminina como um todo, não foram pesquisados os Boletins Internos nem
os Boletins Gerais da PMMG de caráter reservado. Essa categoria contém, por sua própria
natureza, informações restritas a pessoas em específico. Os boletins de caráter não sigiloso
publicam assuntos que afetam ou devem interessar, direta ou indiretamente, ao grupo de
policiais.
Considerando as pesquisas nos BGPM e nos BI da APM, do CPC e da Cia PFem, nos
períodos já mencionados, foram consultados, aproximadamente, 5.100 (cinco mil e cem)
boletins microfilmados. Ressalta-se que na redação desse trabalho, devido ao elevado número
de Boletins consultados, só foram referenciados bibliograficamente, conforme a normalização
técnica, os registros que constituíam legislação; foram citados no próprio corpo do texto o
número do Boletim Interno ou Geral e a data para as demais publicações.
Foram realizadas consultas junto a órgãos de imprensa da capital mineira, com o objetivo de
resgatar notícias sobre a Polícia Feminina, especialmente no início dos anos 80.
Finalmente, mas não menos importante, foram consultados trabalhos acadêmicos e livros que
mencionaram ou estudaram a história da Polícia Feminina na PMMG e no País.
Foram realizadas entrevistas com pessoas que pudessem contar fatos que não puderam ser
reconstituídos pelas fontes escritas disponíveis, especialmente aqueles que se referem aos
procedimentos que antecederam o ingresso das primeiras policiais militares na PMMG e
aqueles relacionados à rotina dessas profissionais nos seus primeiros anos na Instituição.
51
Cassab (1995) explica que “como metodologia de pesquisa, a História Oral se ocupa em
conhecer e aprofundar aspectos sobre determinada realidade, como os padrões culturais, as
estruturas sociais, os processos históricos ou os laços do cotidiano” (CASSAB, 1995, pp. 7 e
8). Conforme o autor, as fontes orais contribuem para recuperar fatos não registrados em
outros tipos de documentos, assim como aqueles cuja documentação se deseja completar ou
abordar de ângulo diverso.
Alberti (1994, apud Cassab, 1995) qualifica a metodologia da História Oral como agente da
ampliação do conhecimento e fonte de consulta, a partir da consideração de duas
especificidades dessa metodologia: uma decorrente da intencionalidade do pesquisador em
produzir documentos históricos que tornar-se-ão fontes de conhecimento; a outra, que a
História Oral é utilizada apenas em pesquisas de temas contemporâneos em que:
(...) a memória dos seres humanos alcance, para que se possa entrevistar
pessoas que deles participaram, seja como autores, seja como testemunhas.
É claro que, com o passar do tempo, as entrevistas assim produzidas
poderão servir de fontes de consultas para pesquisas sobre temas não mais
contemporâneos. (ALBERTI, 1994, apud CASSAB, 1995, p. 12)
A metodologia da História Oral já foi utilizada como estratégia para falar da Polícia Feminina
da PMMG, conforme trabalho desenvolvido por Souza (2011). Nesse caso, a metodologia em
questão foi utilizada como a estratégia principal para levantar as informações buscadas pela
pesquisadora, portanto, sem aprofundamento nas fontes documentais ou no contexto em que
se deram os fatos buscados nos textos utilizados, já que não se tratava do objetivo do estudo.
No presente trabalho, a História Oral foi utilizada, nos termos apresentados por Cassab
(1995), como um dos recursos para recuperar o percurso traçado pela Polícia Feminina na
52
Dessa forma, dos relatos orais coletados, não foram transportados para o presente estudo
quaisquer julgamentos, avaliações, perspectivas pessoais das pessoas entrevistadas, já que
esses registros não se relacionam ao objeto da pesquisa. A História Oral foi utilizada,
portanto, como uma das fontes de coleta de dados que contribuiu para descortinar, juntamente
com os registros escritos arrecadados, os acontecimentos que constituem a história da Polícia
Feminina na PMMG.
A seleção dos entrevistados se deu em virtude das contribuições que cada poderia fornecer, de
acordo com o acesso que teve em virtude das funções que desempenhou no período focado.
53
4 PERCURSO HISTÓRICO
No final do ano 1980, após a decisão de criar a Cia PFem nos quadros operacionais da
Corporação, um grupo de profissionais já discutia possíveis regras para a inclusão, com o
estabelecimento dos critérios relativos à idade, altura, idoneidade moral, estado civil, entre
outros. Nesse grupo, que posteriormente passou a compor uma comissão, estavam o Diretor
de Pessoal, o futuro Comandante da Companhia, uma professora de renome no cenário
educacional da capital e outra pertencente ao Colégio Tiradentes da PMMG. Uma integrante
da comissão manifestou-se sobre essa época:
Uma grande dificuldade que eu enfrentei foi que eu queria que a primeira
turma da Polícia Militar Feminina fosse iniciada com uma turma de
terceiros sargentos, isso aqui é um ponto principal e nevrálgico. A IGPM
resistia e só admitia dar autorização se fosse uma turma de soldados, com o
quê eu não concordava. Nos primeiros contatos que tivemos com a IGPM
eu dizia: Eu quero iniciar com uma turma de sargentos. A IGPM por si: Isso
não tem lógica no ordenamento militar porque no ordenamento militar a
gente começa tudo como soldados.
E eu não queria. As razões eram óbvias: estávamos implantando algo novo,
era necessário começar-se bem.3
Além das vantagens elencadas pelo oficial, a inclusão na graduação de Sargento garantiu a
manutenção do direito ao voto, que ainda não alcançava os Cabos e Soldados, o que só foi
acontecer em 1988, com a atual Constituição Federal. Portanto, se a mulher tivesse ingressado
como Soldado, teria que abrir mão de tal conquista. No período de duração do curso não
foram realizadas eleições.
Quando ainda eram alunas, recebiam salário correspondente ao de Cabo (Art. 8º do Decreto
21.336), embora, para fins de subordinação, eram equiparadas a Soldados. Justificando que
essa exigência teria implicações nos salários das novas policiais e acarretaria candidatas de
melhor nível, o Comandante-Geral manifestou sua certeza de que
3
Declaração concedida em entrevista. Considerando a importância de identificar o autor dessa fala, a citação não
será acompanhada do código aplicado às demais informações coletadas em relatos orais.
4
Idem ao anterior.
55
0 10 20 30 40 50 60 70 80
estudante 73
61%
outras 17
14%
professora 14
12%
aux. escritório 6
5%
secretária 5 4%
escriturária 3 3%
não informado 2 2%
5
Idem ao anterior.
56
4.1.4.1 1981
A Companhia de Polícia Feminina foi criada pelo Decreto Estadual 21.336, de 20 de maio de
1981, assinado pelo Governador Francelino Pereira dos Santos. A mesma norma estabeleceu
que a Cia PFem seria composta por um Capitão PM e um Tenente PM do Quadro de Oficiais
Policiais Militares (QOPM), um 1º Sargento e um 2º Sargento do Quadro de Praças Policiais
Militares (QPPM) e cento e vinte 3º Sargentos PM Fem.
Embora dois Oficiais e Praças masculinos tivessem sido designados para a Cia PFem, o
Decreto 21.336/81 previu que, assim que houvesse condições de formação e acesso, os cargos
para o comando e a administração da Companhia seriam providos por Oficiais e Praças do
Quadro de Polícia Feminina, conforme se dispusesse em lei e regulamento.
57
I – ser brasileira;
II – ter idade compreendida entre 18 e 25 anos;
III – ter idoneidade moral e político-social;
IV – ter sanidade física e mental;
V – ter altura mínima de 1,56 m (um metro e cinquenta e seis centímetros);
V – ser solteira;
VII – ser aprovada nos exames de escolaridade, em nível de 2º grau e
psicológicos.
A partir dessa norma, o Comando da PMMG expediu outras que visaram a implementar a
seleção, a inclusão, a formação e o emprego das policiais femininos. A primeira delas, a
Resolução 880, de 29 de maio de 1981, que aprovou as diretrizes para o recrutamento, seleção
e matrícula, inclusão e formação de Sargentos PM Femininos naquele mesmo ano, visava a
“preparar policiais militares femininas para o exercício das funções atribuídas a Sargento PM
Feminina, formando grupo homogêneo, dotado de comprovada vocação e habilitados para a
carreira”. As condições para inscrição foram as mesmas previstas no edital que criou a Cia
PFem, acrescidas da exigência de “assumir o compromisso, junto à Polícia Militar, de não
contrair matrimônio antes de decorridos 02 (dois) anos após a conclusão do CFS PM Fem,
sob pena de exclusão”.
58
As atividades referentes ao recrutamento e à seleção das candidatas foram executadas por uma
comissão, designada pelo Comandante-Geral da PMMG, composta por Oficiais e civis:
O primeiro Comandante da Cia PFem, então Cap PM Dalmir José de Sá, foi designado em 02
de junho de 1981 (BGPM 102, de 02/06/1981). Três anos mais tarde, em Ato de Concessão
de recompensa ao Cap Dalmir pela sua atuação na Cia PFem, o Comandante-Geral da PMMG
manifestou-se sobre a escolha:
Por meio de Instruções Reguladoras, o Comando da PMMG detalhou normas para o concurso
ao CFS/Fem, registrando que o recrutamento objetivava “atrair candidatas devidamente
qualificadas para concorrer ao processo de seleção” (BGPM 117/81).
Com esse objetivo, ficou estabelecido que cada policial militar deveria estar em condições de
informar, às candidatas interessadas, as informações básicas sobre a seleção. A PM5 ficou
encarregada de “realizar intensa divulgação por cartazes, anúncios da imprensa falada, escrita
e televisada, em horários adequados a atingir as possíveis candidatas.” Ainda foram
produzidos panfletos e disponibilizados números de telefones unicamente para fornecimento
de informações (BGPM 117/81).
59
Dentre as recomendações práticas para execução das atividades, estavam procedimentos que
deveriam ser adotados em relação às possíveis candidatas, especialmente por ocasião das
inscrições, que funcionaram de 08 às 20 horas:
6
Fonte: Tribunal Regional do Trabalho-3ª Região – Minas Gerais: Disponível em http://www.trt3.jus.br/informe/calculos/minimo.htm,
consulta em 15Ago2011.
60
No Brasil, em 1981, o salário médio percebido pela mulher no mercado de trabalho era
equivalente a 68% do salário pago ao homem, na mesma função (GIUBERTI e MENEZES-
FILHO, 2005). Tal diferença não existiu na PMMG, uma vez que o salário era definido para o
posto ou a graduação, sem distinção de gênero. A única exceção, como já apresentado, foi o
período em que as policiais femininos, alunas do CFS, receberam vencimentos iguais aos
Cabos, muito embora exercessem funções de Soldados. Nesse caso, portanto, o vencimento
das mulheres era superior aos dos homens na mesma situação funcional.
Para composição do efetivo da Cia PFem, foram remanejados cargos de outras Unidades da
Corporação, conforme Resolução 883, de 02 de junho de 1981, publicada no BGPM 125, de
06 de julho de 1981.
A criação da Cia PFem gerou a necessidade de que fossem previstos uniformes para as novas
policiais. Em virtude disso, foram criadas as Normas Provisórias para Uniformes e Insígnias
da Polícia Feminina, aprovadas pela Resolução 885, de 08 de junho de 1981. Uma primeira
versão desses uniformes foi apresentada para o Governador do Estado, ocasião em que foram
escolhidas as filhas do estilista, então Tenente Coronel João Teixeira Vicente, para usá-los. A
repercussão rendeu matérias em jornais de grande circulação no Estado, iniciando, dessa
forma, a divulgação do concurso.
A FIG. 1 mostra o momento da apresentação dos uniformes a serem usados pelas futuras
sargentos, ao Governador Francelino Pereira, no dia 29 de maio de 1981.
Nota-se que os sapatos que compunham os uniformes de cerimônia cinza e branco eram tipo
peep toe, caracterizado pela pequena abertura na ponta, deixando entrever partes dos dedos.
Esse modelo, no entanto, nunca foi adotado para uso pelas policiais femininos, segundo as
integrantes da primeira turma, prevalecendo o modelo que na FIG. 1 compõe o uniforme de
cerimônia cáqui.
QUADRO 1
Composição do uniforme operacional para policiais militares masculinos e femininos em
1981.
Uniforme Operacional
(para policiamento a pé, radiopatrulhamento)
Policiais masculinos Policiais femininos
- sapato marrom café - sapato marrom café
- meia marrom café; - meia;
- calça de tergal bege; - saia bege
- cinto marrom café; - cinto marrom café;
- cinturão marrom café com acessórios; - cinturão marrom café com acessórios;
- camisa de tergal bege meia manga; - blusa bege manga curta;
- quepe. - chapéu bege;
- bolsa marrom café.
62
Também ficou estabelecido, pela Resolução 885/81, que às policiais militares a partir do sexto
mês de gravidez seria facultado o uso do uniforme.
O art. 3º do RePoFem previu que a Cia PFem estaria estruturada com Comandante,
Subcomandante, Seção de Comando e Pelotões.
O art. 10 do RePoFem previu que o emprego da Cia PFem odedeceria às seguintes variáveis:
Além das previstas no Regulamento Disciplinar da Polícia Militar (RDPM), ao qual também
estavam sujeitas as policiais femininos, o art. 14 da primeira versão do RePoFem estabeleceu
transgressões disciplinares próprias para as integrantes da Cia PFem:
Para as mulheres, a redação das transgressões foi mais clara e específica, em contraponto a
redação por vezes genérica do RDPM, na sua versão anterior à entrada das mulheres na
Corporação. Como se verá, os acontecimentos históricos registram que uma versão posterior
do RDPM, estendeu a todos os policiais militares as transgressões tipificadas nos incisos I, II,
VI, VII, VIII, IX, além de uma 16ª transgressão, inserida na versão alterada do RePoFem.
64
O art. 15 do RePoFem previa a exclusão da Corporação para a policial militar que contraísse
matrimônio antes de completado o período de dois anos de conclusão do CFS/Fem. Além
disso, estabeleceu entendimentos gerais a respeito da Cia PFem:
Art. 18 – A Cia PFem não deve ser entendida como uma organização de
mulheres masculinizadas ou um movimento feminista de libertação, não
considerando, todavia, a beleza e a estética como valores fundamentais, mas
procurando manter e estimular a feminilidade de suas integrantes.
Art. 19 – A Cia PFem é uma organização em que são respeitadas as
diferenças bio-psicológicas de suas integrantes, mas de quem são exigidos
os mesmos padrões de desempenho profissional atribuídos ao policial-
militar do sexo masculino. (RePoFem, 1981).
4.1.4.2 1982
Na segunda consta:
Pouco tempo depois, foi a vez da primeira Aluna ser punida, agora porque, “no dia 25 de
dezembro de 1981, às 04:00, chegou ao portão principal da Academia, conduzindo em seu
carro, um aluno do CFO, contrariando recomendações do Comando no sentido”. Seu
acompanhante foi punido no mesmo BI pelas mesmas razões e, ainda, “por ter induzido
subordinada a cometimento de falta disciplinar”. Ao policial masculino coube o dobro da
punição da Aluna. (BI APM 008, de 22/02/1982)
Em 12 de março de 1982, uma comissão composta por três Policiais Militares, dentre eles
uma aluna do CFS/Fem, foi designada para estudar e selecionar, para posterior aprovação, a
letra e a música da Canção da Polícia Feminina. No entanto, não foram encontrados registros
da existência oficial da Canção da Cia PFem.
Com a proximidade da formatura houve-se por bem reforçar e esclarecer o previsto no art. 22
do RePoFem (1981). Assim, no BGPM 058, de 30 de março de 1982, foi publicado o Aviso
n.º 210, que dispunha sobre o tratamento que seria dispensado às graduadas do sexo feminino
a partir da formatura no CFS/Fem, ficando determinado que seria mantida a forma masculina
dos postos e graduações e que a designação do gênero seria feita com a flexão do artigo e do
adjetivo. As demais regras se dariam conforme procedimentos previstos no Regulamento de
Continências, Honras, Sinais de Respeito e Cerimonial Militar (RCont) do Exército
Brasileiro.
O Ato Final do primeiro Curso de Formação de Sargentos Femininos da PMMG foi publicado
no BEPM 005, de 02 de abril de 1982. O ato esclarece que o resultado final é o conjunto das
médias obtidas nas disciplinas do curso: Organização Social e Política do Brasil, Língua
Portuguesa, Legislação e Regulamentos, Comunicações, Metodologia do Ensino,
Administração PM, Defesa Civil, Ordem Unida, Educação Física, Armamento e Tiro,
Informações, Noções de Direito, Socorros de Urgência, Relações Públicas e Humanas,
Noções de Serviço Social, Chefia e Liderança, Defesa Pessoal, Técnica Policial Militar e
Operações de Defesa Interna e Defesa Territorial. Todas as novas 3º Sargentos foram
classificadas na Cia PFem, conforme ato também publicado no BEPM 005/82.
Das 112 (cento e doze) aprovadas no CFS/82, a primeira classificada foi a 3º Sgt PM Fem
Vilma Neri Jatobá, com a média de 9,089 pontos. Como prêmio por seu desempenho
acadêmico, a graduada recebeu, na solenidade de formatura, um revólver calibre .38, que
gerou posterior ato para sua regularização (BI APM 017, de 25/04/82). A policial militar
permaneceu nas fileiras da Corporação até 08 de agosto de 1983 (BI APM 015, de 12/04/82).
A Cia PFem passou a executar policiamento ostensivo feminino nas ruas de Belo Horizonte
em 14 de abril de 1982. (BI 001-Cia PFem)
A partir de maio de 1982, surgiu uma nova situação motivadora de dispensa médica das 3º
Sargentos Femininos: o uso da bolsa prevista no RUIPM para compor os uniformes
femininos, na qual era transportado o armamento. Do BI APM 22, de 31 de maio, ao BI APM
32, de 09 de agosto de 1982, das 49 dispensas médicas publicadas, 19 (ou seja, 9,31%) foram
decorrentes do “uso da bolsa com peso sobre os ombros” ou “do uso de bolsa e equipamento
que apóia sobre a coluna”. Essa situação é narrada por uma das entrevistadas, que também
trata do armamento utilizado:
A leitura de ato publicado no BGPM 104, de 07 de junho de 1982, permitiu perceber que, das
120 vagas de Sargentos Femininas previstas, 112 eram efetivamente ocupadas.
68
A partir do dia 26 de julho de 1982, cinco Sargentos da Cia PFem estiveram à disposição do
Centro de Instrução de Graduados da Aeronáutica (CIGAR). Não foram localizadas
publicações referentes à ida dessas militares, porém a apresentação à Cia PFem, após
encerrado o empenho, foi publicada no BI 01/83-Cia PFem, de 17 de janeiro de 1983. As
Sargentos da Cia PFem ficaram à disposição da Força Aérea Brasileira para auxiliar na
formação da primeira turma de Sargentos e Cabos do Corpo Feminino da Reserva da
Aeronáutica (CFRA). Conforme constou do Of. 001/DIR-046, de 17 de janeiro de 1983, o
Diretor de Ensino da Aeronáutica manifestou-se dizendo: “é com grata satisfação que elogio
os seguintes Sargentos, pertencentes ao corpo feminino da PMMG, pela competência,
dedicação, entusiasmo e valor profissional demonstrado quando da instrução da 1ª turma de
Sargentos e Cabos do CRFA, contribuindo significativamente para o êxito da formação
militar do Corpo Discente do CIGAR” (BI 004/83-CPC, p. 042). As Policiais Femininas
empenhadas nessa tarefa foram:
No mesmo ano, o RePoFem sofreu alterações, inseridas pela Resolução 1056, de 22/09/1982.
Essa versão inseriu duas novas transgressões disciplinares àquelas já listadas na edição que
data de 1981:
Algumas das transgressões definidas pelo RePoFem, na primeira e na segunda versão, embora
previstas especificamente para as policiais femininos, somente poderiam ser praticadas com a
participação de policiais militares masculinos, o que ocorre com o inciso II da primeira versão
(manter relacionamento íntimo não recomendável ou socialmente reprovável, com superiores,
pares ou subordinados) e o inciso XVI, acrescido à versão de 1982.
Na mesma linha, a edição de 1982 também preocupou-se em acrescentar outras normas para a
policial feminino, como a que previu exclusão disciplinar também no caso de casamento fora
do círculo hierárquico:
Os registros encontrados indicam que, após a formatura do CFS/Fem, a primeira mulher a ser
excluída, por baixa a pedido, foi a 3º Sgt PM Fem Lilian Thérese Froeseler, o que ocorreu a
partir de 1º de novembro de 1982.
A primeira sede própria da Cia PFem foi localizada na Rua Almirante Alexandrino, nº 277, no
bairro Gutierrez, em Belo Horizonte, onde a Cia passou a funcionar a partir de 05 de
novembro de 1982, operacionalmente subordinada ao Comando de Policiamento da Capital.
O resumo da locação do imóvel foi publicado no BGPM 211, de 12 de novembro de 1982.
Sobre a sede própria da Cia PFem, um dos entrevistados falou com entusiasmo, ressaltando as
qualidades do imóvel para acomodar o contingente da Cia PFem:
Então nós tivemos que mudar, aí mandaram procurar um imóvel pra alugar
(...).Uma casa maravilhosa, três pavimentos, todas as policiais femininas, no
meu tempo lá, todas tinham armário, tudo arrumado, não era? Armário
grande, maior do que esse aqui. (...) A gente tinha que mandar bem, olha,
tudo tinha seu armário mas não podia deixar nada fora do armário.
(Cmt Cia PFem - 01)
4.1.4.3 1983
No início de 1983, teve início o primeiro Curso de Formação de Oficiais da PMMG integrado
por policiais femininos. Foi designado como Coordenador do curso o 1º Ten PM Paulo
Eustáquio de Oliveira, porém, verificou-se que efetivamente outro oficial exerceu essa
função, o Tenente Jairo Maio Borges. Por ordem de classificação, as aprovadas no concurso
ao CFO foram:
Dificílimo em vários aspectos. Não havia medida para nada. Era tudo
demais ou não era nada. Não que houvesse culpados para a situação, mas o
próprio ineditismo da situação causava isso. Éramos excessivamente
cobradas ou não éramos, sem meio termo. (...). Não se conformavam com
as nossas colocações na ordem de antiguidade. Foi uma relação de amor e
ódio, porque, ao mesmo tempo, tivemos a oportunidade de nos dar a
conhecer e de merecer respeito e reconhecimento. No final das contas, não
poderia ter sido diferente.
(PFem 1ª turma – 01)
Dentre as policiais militares de outros estados esperadas para cursar essa edição do CFO,
apenas a Cadete Angelina dos Santos Correia, que pertencia à PMRO efetivamente realizou o
curso. Anos mais tarde, ela assumiu o cargo de Comandante-Geral da sua Corporação.
A primeira linha telefônica direta da Cia PFem teve o número 337-0199 e foi instalada a partir
de 03 de janeiro de 1983.
Somente nesse ano, a calça comprida passou a compor o uniforme operacional da Polícia
Feminina, o que se deu a partir da Resolução 970, de 06 de janeiro de 1983. Dessa forma,
além da saia bege, a calça comprida bege passou a ser usada pelas alunas dos Cursos de
Formação de Oficiais e de Sargentos, bem como pelas Sargentos em serviço no policiamento
72
A exemplo do que já estava previsto para o CFO, a recepção de policiais militares femininos
de outros estados para a formação na PMMG também se repetiu com o CFS que funcionou
neste ano, já que a Resolução 1113, de 06 de janeiro de 1983, alterou o número de vagas para
este curso, acrescentando 10 (dez) vagas destinadas às co-irmãs. Essas vagas foram ocupadas
por policiais femininos da Polícia Militar de Rondônia (PMRO) e da Polícia Militar do Estado
do Mato Grosso do Sul (PMMS).
I – ser brasileira;
II – ser solteira, sem encargos de família;
III – ter idade compreendida entre 18 (dezoito) e 26 (vinte e seis) anos, até
28Fev83;
IV – não possuir antecedentes criminais e ter idoneidade político-social;
V – ser possuidora de curso de 2º grau completo ou equivalente legal.
(BGPM 24/83).
A Comissão designada para proceder à seleção das candidatas ao CFS/83 era composta por
policiais militares e civis:
Apesar de ser a Cia PFem uma Unidade autônoma, há registros de que suas integrantes eram
empenhadas, eventualmente, em outras Unidades da PMMG, para atividades específicas,
exercidas pelos militares dessas Unidades. No ano de 1983, algumas Unidades da PMMG
tiveram seus efetivos empregados em abrigos da Grande BH, atuando em atividades
organizadas pela Defesa Civil, em virtude dos transtornos gerados pelas enchentes que
acometeram a capital. Nessa ocasião, algumas policiais da Cia PFem foram hipotecadas a
essas Unidades para reforçarem o serviço em questão, conforme se vê no BI 004-Cia PFem,
de 07 de fevereiro de 1983.
Já no início de sua existência, a Cia PFem colocava suas policiais à disposição de outras
Unidades, a fim de participar de tarefas específicas. O BI 008-Cia PFem, de 07 de março de
1983, publicou o Of. 326/83, no qual o Comandante do 13º BPM, localizado no bairro
74
Nessa época, a Polícia Feminina já era observada pelos olhos dos cidadãos, ao exemplo do
que ficou registrado numa carta enviada ao Comandante-Geral da Polícia Militar, na qual o
missivista, que assina José Jovino de Souza, morador de Belo Horizonte, tece elogios à
Polícia Militar. Na linguagem própria da época ele afirma:
Foi aí que elas mostraram bastante serviço porque nós medíamos o tempo
que ocorre entre o momento em que a pessoa liga o telefone pra ser
atendido e o momento que a radiopatrulha chega no local. Esse tempo, ele
era medido, na época, em doze, treze, catorze minutos. Com a chegada das
PFem nos telefones das patrulhas e por terem uma escolaridade maior, o
segundo grau, e algumas tinham um curso superior, elas tinham mais
facilidade (...) então isso permitiu um ganho substancial de quase um
minuto na redução de tempo de espera pela radiopatrulha.
(Cmt Cia PFem – 02)
A publicação da transferência, para a Cia PFem, dos policiais militares masculinos que
exerceriam funções na Cia PFem foi publicada no BGPM 064, de 07 de abril de 1983. Esses
militares eram, o Cap PM Dalmir José de Sá, o 1º Ten PM Luiz Felipe Soares, o 2º Ten PM
José Marinho Filho, o 2º Ten Adalberto Geraldo Martins Campelo e o 2º Sgt PM Ronaldo
Soares de Oliveira.
Para implementar essa medida, o Memorando 190, de 06 de maio de 1983, recomendou que
se colocassem à disposição do COPOM as Sargentos PM Fem, em grupos de 20 (vinte), para
estagiarem com o objetivo de se prepararem para substituir, em caráter definitivo, os
Sargentos masculinos. O mesmo Memorando determinou que também as alunas do CFS Fem
que estava em andamento deveriam estagiar no COPOM, em grupos de 10 (dez), aos sábados,
no horário compreendido entre 08 e 18 horas, sem prejuízo para as demais atividades do
curso.
utilizar as palavras do ato, “com uma coragem invulgar e um acurado senso do dever”,
prendeu o autor; a 3º Sgt PM Fem Elizabete Jurema Machado e a 3º Sgt PM Fem Belísia
Barroso Ferreira, que, após suspeitarem de um cidadão que parecia haver feito uso de
substâncias entorpecentes, e após imobilizá-lo (já que houve reação), descobriram que ele
conduzia, em seu veículo particular, uma porção de maconha e 60 (sessenta) comprimidos de
Iniber (bolinha); a 3º Sgt PM Fem Maria Emília de Freitas que, também em seu horário de
folga, atuou numa ocorrência em que uma residência era inundada, em virtude das chuvas, e
após entrar pelo teto da casa, resgatou dois idosos e duas crianças. Esses são os primeiros
registros identificados de concessão de recompensa, por ato do Comandante-Geral, para
policiais femininos que se destacaram em atividades operacionais da PMMG. A ocorrência
em que se envolveu a 3º Sgt Junia Dias Murta foi publicada, conforme informações contidas
no ato de concessão de recompensas, no Jornal Estado de Minas, de 14 de janeiro de 1983.
As consultas aos Boletins Internos da Cia PFem revelam a existência de recorrentes registros
de recompensas pela atuação operacional das policiais femininos, especialmente aqueles
relacionados a ocorrências com prisões, assistências, apreensões de porções de drogas, dentre
outras.
No início de sua existência, também era comum que a Cia PFem cedesse suas Policiais para
apoiarem eventos sociais diversos, como, por exemplo, exercendo a função de monitoras nas
colônias de férias organizadas pela 4ª Divisão do Exército, situada em BH, e pelo Clube dos
Oficiais da PMMG (COPM), conforme se constata pelas publicações disponíveis no BI 28-
Cia PFem de 25 de julho de 1983.
No decorrer do ano de 1983, outras publicações registram o emprego temporário das policiais
femininos em outras Unidades da Corporação. As publicações transcrevem elogios dos
Comandos das Unidades apoiadas ao trabalho das integrantes da Cia PFem. Exemplos disso
são: o Of. 683/83-17º BPM, referente ao empenho em palestras de trânsito, em conjunto com
policiais masculinos; Of. 443/83-11º BPM, pelo empenho na realização de palestras em
estabelecimentos de ensino; Of. s/nº 16º BPM, que agradece pelo empenho na festa de natal
da Unidade.
Há registros de que a Cia PFem adotava a prática de consignar anotações sobre suas policiais
em um Livro de Conceitos. Isso se salienta pela concessão de uma recompensa, publicada no
78
BI 33-Cia PFem, de 29 de agosto de 1983, em que cinco policiais são homenageadas por se
destacarem positivamente, o que se constatou porque elas alcançaram o maior saldo de
anotações positivas no Livro de Conceito da Cia.
O Regulamento Disciplinar da Polícia Militar (R-116)8 passa a ter uma nova versão, aprovada
pelo Decreto 23.085, de 10 de outubro de 1983. O artigo 13, que lista e classifica as
transgressões disciplinares, passa a incorporar, e consequentemente estende a todos os
policiais militares, algumas das transgressões que foram previstas no RePoFem:
Pelo que indicam as publicações, iniciou-se no ano de 1983 o emprego das policiais
femininos no Centro de Operações Policiais Militares (COPOM). Em um Elogio Individual
publicado no BI 038, de 03 de outubro de 1983, o Comandante do Policiamento da Capital se
reporta à “presença do elemento feminino, que tem sido expressivo em alguns segmentos
7
Os Regulamentos baixados pelo EB são codificados por uma letra, seguida de um número seqüencial. A PMMG adotou e mantém até hoje,
o mesmo tipo de codificação dos regulamentos internos
8
Conforme nota 3.
80
Como paraninfa, tiveram a Srª Risoleta Tolentino Neves, então primeira-dama do Estado. Em
seu discurso, ela destacou que as qualidades inerentemente femininas seriam fundamentais
para a atuação das formandas na manutenção da segurança pública no estado e destacou,
também, a importância da graduação na qual estavam se formando:
81
O pioneirismo da abertura das fileiras da corporação para a mulher, não passa despercebido à
paraninfa, que, em outro ponto do discurso, cumprimenta o então Comandante Geral, por
“manter aberto e crescente, inovadoramente, este mercado de trabalho.” (BGPM 238, 1983, p.
4559) e compara tal inovação ao passado recente, quando se dirige às mães das formandas,
lembrando que estas “vivendo em outros tempos e em outras situações, não tiveram a
oportunidade de exercer diretamente um trabalho junto à comunidade”. (BGPM 238, 1983, p.
4559)
Todas as formandas da PMMG foram classificadas na Cia PFem, conforme ato publicado no
BGPM 238, de 21 de dezembro de 1983.
4.1.4.4 1984
A inexistência da previsão, nas leis federais, para inclusão de mulheres nas Polícias Militares
somente mudou em 1984, com a entrada em vigor do Decreto-Lei 2.106, de 06 de fevereiro de
1984, que alterou o Decreto-lei 667, de 2 de julho de 1969, passando a redação da letra “a” do
art. 8º ser a seguinte:
QUADRO 2
Modificações introduzidas no art. 27 do RePoFem, pela Resolução 1284/84
Versão anterior Redação dada pela Resolução 1284/84
Art. 27 – A policial militar que contrair Art. 27 – A policial-militar somente poderá
matrimônio, antes de completado o período contrair matrimônio após dois anos da
de dois anos de conclusão do CFS/Fem, ou conclusão do CFS/Fem, observada a
com integrante da Corporação, fora do legislação civil específica.
círculo hierárquico a que corresponder § 1º - O não cumprimento do disposto neste
(Subten e Sgt), será excluída da Corporação. artigo implicará em exclusão da Corporação.
Parágrafo único – O pedido de autorização § 2º - O pedido de autorização para contrair
para contrair matrimônio deverá ser matrimônio, deverá ser apresentado ao Cmt
apresentado ao Comandante da Cia P Fem da Cia PFem com a antecedência mínima de
com a antecedência mínima de sessenta dias 60 (sessenta) dias do evento.
do evento.
84
No mesmo ano, verifica-se o primeiro registro de autorização para que uma Policial Feminino
contraísse matrimônio com um outro policial militar, de círculo diferente. No caso
apresentado, a 3º Sgt PM Fem foi autorizada a contrair núpcias com um 2º Tenente.
As vagas para o CFO que teria início no ano de 1985 foram previstas na Resolução 1300, de
31 de julho de 1984, contudo a norma não menciona a destinação de vagas para policiais
femininos.
Também nesse ano em que as primeiras policiais militares completaram dois anos de serviço,
foi editada a Resolução 1307, de 17 de agosto de 1984, que alterou as Normas Provisórias de
Uniformes e Insígnias da Polícia Feminina, e acrescentou o Uniforme de Gestante, composto
por uma veste bege (bata estilo vestido), que seria utilizado no interior dos estabelecimentos
de serviço, quando o comandante da Unidade julgasse conveniente.
Foi no ano de 1984 que surge o primeiro registro de Policial Feminino punida com a pena de
exclusão disciplinar. A policial foi enquadrada no RDPM por manter relacionamento íntimo
socialmente reprovável com civil, além de ter ingressado no mau comportamento.
4.1.4.5 1985
Neste ano, foram previstas seis vagas femininas para o Curso de Formação de Oficiais que
teria início em 1986. Ficou definido, pela Resolução 1420, de 12 de julho de 1985, que tais
vagas seriam destinadas a militares da Cia PFem, selecionadas em concurso. A seleção e a
matrícula para esse curso foram reguladas pela Instrução 3003-EMPM, de 31 de julho de
1985, e pela Instrução 3008, de 18 de novembro de 1985.
policiais ocuparam o 12º, o 20º e o 22º lugares na classificação, conforme foi publicado no
BGPM 205, de 1º de novembro de 1985.
Em seguida, a Cia PFem recebeu a sua primeira viatura para emprego no radiopatrulhamento;
o Fiat sedan, ano 1985, recebeu o prefixo de TP 1616. O episódio mereceu registro no BI 46-
Cia PFem, de 18 de novembro de 1985:
A Resolução 1460, de 29 de outubro de 1985, previu 40 (quarenta) vagas para o CFS/Fem que
seria realizado no ano de 1986, cujas alunas seriam selecionadas por meio de concurso
público. Posteriormente, por meio da Resolução 1502, de 03 de janeiro de 1986, o número de
vagas foi ampliado para 80 (oitenta).
Outro reforça o aspecto da dedicação aos estudos e ressalta, também, a apresentação pessoal:
QUADRO 3
Distribuição do efetivo de Oficiais em decorrência da Lei 9089/85
Quadro de Oficiais Policiais Militares (QOPM)
Coronel 21
Tenente-Coronel 56
Major 104
Capitão 332
1º Tenente 374
2º Tenente 370 (1)
Total 1257
(1)
Nessa época, havia 05 (cinco) Aspirantes-a-Oficial Femininos.
A mesma lei previu, pela primeira vez, a existência de um quadro de policiais femininos na
PMMG. Tratou-se do Quadro de Praças Policiais Militares Femininos (QPPM Fem),
composto por 120 Sargentos. Os demais quadros de praças eram compostos por Subtenentes,
Sargentos, Cabos e Soldados.
4.1.4.6 1986
Também Sargentos Femininos passaram a ser empenhadas na formação das novas policiais
militares: a 3º Sgt PM Fem Janice Maria Ferreira e a 3º Sgt PM Fem Márcia Maria Queiroz
Cabral Costa foram designadas para atuar como auxiliares dos Chefes de Curso e como
Monitoras do CFS/Fem 1986.
No início de 1986, foram divulgados os nomes das candidatas aprovadas ao segundo Curso de
Formação de Oficiais composto por Policiais Femininos da PMMG. São elas:
O Quadro de Organização e Distribuição (QOD) da PMMG foi aprovado pelo Decreto 25381,
de 27 de janeiro de 1986. A distribuição das Praças da PMMG nos diversos quadros ficou
assim representada:
QUADRO 4
Distribuição de Praças da PMMG em decorrência do Decreto 25381/86
Sten 1Sgt 2Sgt 3Sgt Cb Sd soma
Quadro de Praças da Polícia Militar 206 393 983 1915 4147 1781 25455
(QPPM)
Combatente 35 47 84 138 305 1015 1624
QPBM Condutor e Op. de viatura 4 6 9 33 51 122 225
(1)
Manutenção Equip. Especiais 3 3 3 3 3 - 15
Busca e salvamento 3 4 6 7 22 67 109
Manutenção de Armamento 1 3 5 6 4 - 19
Operador de Comunicações 6 21 59 170 45 16 308
Manutenção de moto 6 20 32 31 45 31 165
mecanização
QPE (2)
Músico 24 106 147 56 42 84 459
Manutenção de Comunicações 3 8 13 38 - - 60
Auxiliar de Saúde 6 10 18 85 48 20 287
Corneteiro - 1 2 4 35 36 78
QPPMFem - - - 120 - - -
297 520 1352 2686 4867 19202 28824
(1) (2)
Quadro de Praças Bombeiros Militares Quadro de Praças Especialistas
90
A previsão de inclusão da primeira turma de Soldados Femininos na PMMG se deu por meio
do Aviso 262, de 01 de julho de 1986. A norma estabeleceu 120 (cento e vinte) vagas para o
Curso de Formação de Soldados Femininos (CFSd Fem), que teria início em 1º de setembro
do mesmo ano e seria realizado no Batalhão de Polícia de Choque (BPChq). Coube à própria
Cia PFem realizar o recrutamento e a seleção das candidatas.
Dentre as condições para inscrição, estavam a necessidade de ser solteira, sem encargos de
família; possuir o primeiro grau completo, até o início do curso e ter no mínimo 1,60 m de
altura. Nesse caso, pela primeira vez, a altura mínima exigida para ingresso na PMMG
(1,60m) foi a mesma para homens e mulheres.
As etapas do concurso ao primeiro CFSd Fem da PMMG incluíam exame de: escolaridade,
médico-odontológico, psicológico, entrevistas e teste de aptidão física. Além disso, estava
prevista, para o período em que o processo era realizado, a execução da pesquisa social das
candidatas.
No dia 1º de julho de 1986, a PMMG passou a contar com as cinco primeiras Oficiais
Femininos, visto que, nessa data, ocorreu a promoção a 2º Tenente das Aspirantes-a-Oficial
formadas no ano anterior.
Foi também no ano de 1986 que foi aprovado o estandarte da Cia PFem, de autoria do Cap
PM Heli Maurílio Pereira, lotado no 2º BPM, conforme consta da Resolução 1573, de 10 de
julho de 1986.
Ainda no ano de 1986, foi prevista a realização de outro CFSd/Fem, com 50 vagas, este a ser
realizado no 2º Batalhão de Polícia Militar (2º BPM), sediado em Juiz de Fora/MG, também
com início em 1º de setembro de 1986. Conforme estabeleceu o Aviso 263, de 17 de julho de
1986, as atividades de recrutamento e seleção ficaram a cargo do 2º BPM.
As Chefes de curso do CFSd/86 foram as 2º Tenentes PM Maíza Ferreira dos Santos, Miriam
Assumpção e Lima e Marisa Ribeiro Xavier Cardoso, e as monitoras foram as 3º Sargentos
PM Fem Luíza de Marilac Maciel Leite, Sara Aparecida da Costa Capucho e Arlete Henrique
de Almeida, todas da Cia PFem, conforme designação publicada no BI 036/Cia PFem, de 08
de setembro de 1986.
92
Para participar nas atividades de formação, duas Sargentos Femininas da Cia PFem ficaram
adidas ao 2º BPM: a 3º Sgt PM Fem Noeme Afonso da Silva Rocha e a 3º Sgt PM Fem
Wanice Sadi Campos.
Em 1º de setembro de 1986, teve início no BPChq, o primeiro CFSd Fem executado pela Cia
PFem. Diversos Oficiais e Praças da Cia PFem foram designados para ministrar aulas das
disciplinas curriculares. As 3º Sgt PM Fem Sara Aparecida da Costa Capucho, Luíza Marilac
Maciel Leite e Arlete Gomes Henrique foram designadas para exercer as funções de
monitoras de cada uma das três turmas, conforme está publicado no BI 44-Cia PFem de 03 de
novembro de 1986.
Também o 10º Batalhão de Polícia Militar (10º BPM), localizado em Montes Claros, passou a
ser sede de formação de Soldados Femininos. As 50 (cinqüenta) futuras Soldados iniciaram o
curso em 1º de dezembro do mesmo ano, conforme o Aviso 266, de 18 de setembro de 1986.
A mesma norma previu que a Cia PFem disponibilizaria pessoal feminino para apoiar a
execução do curso.
Em 26 de setembro de 1986, foi designada uma comissão, composta por quatro militares, para
consolidar as normas relativas ao uso dos uniformes e insígnias e apresentar propostas para o
novo Regulamento de Uniformes e Insígnias da PMMG (RUIPM). O Major PM Josemar
Trant de Miranda era integrante dessa Comissão. No mês seguinte, a 2º Ten PM Luciene
Magalhães de Albuquerque também foi designada para integrar a comissão.
O primeiro registro de transferência de Policial Militar Feminino da Cia PFem para outra
Unidade está publicado no BGPM 192, de 15 de outubro de 1986. O ato transfere a 2º Ten
PM Maíza Ferreira dos Santos para o 2º BPM, sediado em Juiz de Fora.
93
O primeiro Curso de Formação de Cabos Femininos (CFC) da PMMG foi previsto pela
Resolução 1618, de 28 de outubro de 1986. Foram 50 (cinqüenta) vagas para um curso que
teve início em 07 de abril de 1987.
A mesma Resolução 1618/86 previu 12 (doze) vagas femininas para o Curso de Formação de
Oficiais que seria realizado no ano de 1987.
Para o ano de 1987, a Resolução 1563, de 03 de junho de 1986, previu 40 vagas femininas
para a quarta edição do CFS/Fem.
9
Curso com início previsto para 1988. Os demais cursos foram previstos para 1987.
94
foi classificada na Cia PFem, contudo, algumas foram transferidas para Unidades do interior
do estado, nas localidades onde estavam sendo realizados ou havia programação para
realização do CFSd Fem. Assim, três formandas foram transferidas para o 2º BPM; uma para
o 6º BPM; duas para o 8º BPM; duas para o 10º BPM; uma para o 14º BPM; duas para o 17º
BPM.
Ainda em dezembro de 1986, duas outras Sargentos, essas da turma que se formara no ano de
1982, foram transferidas para Unidades do interior do estado, 6º e 14º BPM.
QUADRO 5
Situação do efetivo de policiais militares femininos em decorrência da Lei 9362/86
Graduações 1987 1988 1989
Segundo-Sargento 25 25 25
Terceiro-Sargento 162 162 162
Cabo 50 50 50
Soldado 403 403 403
Soma 640 640 640
Fonte: BGPM 232, de 12/12/1986
O ano de 1986 foi marcado por mudanças significativas no cenário da Polícia Feminina da
PMMG. Neste ano, ficou definida a inclusão de Cabos e Soldados, o que ampliou as
graduações femininas na Instituição. O ano marcou, ainda, o emprego efetivo de Policiais
Femininos em diversas Unidades do interior: as Soldados, cuja formação já se daria nas
Unidades, assim como as Sargentos e a própria Oficial que foram transferidas da Cia PFem
para Unidades do interior.
95
4.1.4.7 1987
Neste ano, continuaram as transferências de Policiais Femininos da Cia PFem para outras
Unidades da Corporação, tais como o HPM, Estado-Maior (PM5), 17º BPM, o 15º BPM, o 4º
BPM, a PM6, a Diretoria de Pessoal (DP), dentre outras.
A partir dessa época são encontrados registros da participação das Policiais Femininos em
situações que demonstram seu entrosamento com atividades diversas da atividade operacional
ou administrativa específicas da PMMG. Exemplo disso são como o empenho na fiscalização
das eleições para presidente do Clube de Cabos e Soldados para as Praças e inclusão na
relação de Oficiais em condições de compor os Conselhos da Auditoria Judiciária Militar,
para as Oficiais, dentre outras.
Nos anos que se seguiram, a PMMG continuou a recepcionar Policiais Femininos de outras
Instituições para freqüentarem Cursos de Formação de Oficiais e Cursos de Formação de
Sargentos. O CFO que teve início em 1987 contou com alunas oriundas da Polícia Militar de
Rondônia (PMRO), da Polícia Militar da Paraíba (PMPB), da Polícia Militar do Estado do
Amazonas (PMAM), da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), da Polícia Militar do
Espírito Santo (PMES) e da Polícia Militar de Goiás (PMGO).
O BGPM 012, de 20 de janeiro de 1987, publicou os resultados dos exames seletivos dos
concursos ao CFO/87, com 12 vagas femininas, e ao CFS Fem/87, com 40 vagas. Conforme
Ato de Matrícula publicado no BI 08-Cia PFem, de 23 de fevereiro de 1987, dentre as
aprovadas no concurso, havia Soldados PM Fem, ou seja, esse curso contou, tanto com alunas
selecionadas no meio civil quanto com alunas que já eram policiais militares.
A Cia de Polícia Feminina já tem sua história. Após estes anos de trabalho,
seu saldo de êxitos extrapola todas as perspectivas feitas quando de sua
criação e instalação. (...) Agora, mas recentemente, numa iniciativa inédita,
atuam no atendimento às ocorrências de assistência à pessoa, socorrendo
vítimas ou prendendo agentes, enfim, a Cia está engajada também no
radiopatrulhamento. (BI 08-Cia PFem, p. 094)
Foi nesse contexto que surgiu a DOPM 08/87, de 19 de fevereiro de 1987, que tratou do
Emprego de Policiais Militares Femininos no Policiamento Ostensivo. Os objetivos da DOPM
08/87 foram:
...
O emprego de policiais-militares femininos deve ser feito de forma a cobrir
os locais de fluxo intenso de veículos, de forma dosada, de maneira que em
cada posto seja alocado o efetivo estritamente necessário ao cumprimento
da missão.
...
c. Apoio às atividades turísticas
...
Além de ser uma forma de ampliar a malha protetora do cidadão, promove
maior interação comunitária, conquista o apoio da opinião pública e
melhora, consequentemente, a imagem da Polícia Militar.
(BGPM 35/87, pp. 761-762)
As atribuições gerais das Policiais Femininos foram, conforme a DOPM 08/87, executar o
policiamento ostensivo geral e de trânsito e atividades auxiliares na RMBH e nas cidades do
interior. As atribuições específicas tratam do emprego no radiopatrulhamento, em terminais
aeroviários e rodoviários, nas cabines de informações em pontos turísticos, em shopping
centers, em desfiles carnavalescos e bailes e nos estabelecimentos penais.
Foi nessa época que as Policiais Femininos passaram a atuar efetivamente no Policiamento
Ostensivo de Trânsito, executando as atividades referentes ao controle e à fiscalização. Na
Capital, também em cumprimento à DOPM 08/87, a Cia PFem hipotecou, ao BPTran,
Policiais Militares Femininos que foram empenhados nessas atividades.
Por outro lado, especificava que as Policiais Femininos poderiam ser empregadas tanto em
motocicleta quanto em viatura básica (Fiat, Opala, Volks). Dessa forma, a partir de 1987,
começaram a atuar em Belo Horizonte as primeiras Policiais Militares empregadas em
99
Em 09 de março de 1987, o efetivo feminino da PMMG ganha uma nova categoria já que,
nessa data, foram promovidas as primeiras policiais à graduação de 2º Sargentos. A relação
das promovidas permite observar Unidades, diversas da Cia PFem, onde as Policiais
Femininos já atuavam:
O resultado final da seleção ao CFS/87 foi publicado no BGPM 46, de 11 de março de 1987,
em ordem alfabética.
O resultado final da seleção ao primeiro CFC Fem da PMMG, publicado no BGPM 059, de
30 de março de 1987, registra a presença de policiais femininos oriundas da Cia PFem e do 2º
BPM.
Em 07 de maio de 1987, o Aviso 279 esclarecia quanto aos direitos da Policial Militar durante
o período de gravidez, diante da omissão do Estatuto do Pessoal da Polícia Militar sobre o
assunto. Assim, ficou regulamentado que à Policial Feminino gestante seria concedida licença
por 03 (três) meses e que deveria ser requerida até o 8º mês da gestação. Ficou decidido,
ainda, que a partir do 3º mês de gestação, até a data da concessão da licença, a Policial Militar
seria empenhada em atividade meio ou auxiliar, ou seja, não seria empenhada em atividades
operacionais. Por fim, para assistir o próprio filho, até 06 (seis) meses de idade, a policial teria
o direito de ausentar-se 60 (sessenta) minutos do local de serviço, em cada turno de sua
jornada.
O Aviso 285, de 30 de julho de 1987, dispôs sobre os critérios para inclusão de Soldados
Femininos na PMMG, dentre eles, ter idade compreendida entre 18 e 25 anos, na data da
inclusão, ter altura mínima de 1,56 m10 e ser possuidora do 1º grau completo.
Para o ano de 1988, ficaram previstas 10 (dez) vagas para Sargentos Femininos no CFO que
seria realizado em 1988, conforme a Instrução de Ensino 003/87-DE.
10
A altura prevista no Aviso 285/87 é diferente da que foi exigida para as candidatas aos Cursos de Soldados
realizados até então (que era 1,60m).
101
O uniforme das Policiais Femininos passou a ser composto pela saia-calça bege, a partir da
publicação da Resolução 1754, de 31 de julho de 1987. Conforme a norma, a peça passou a
compor o uniforme operacional (que inclui atividades de policiamento a pé, rádio-
patrulhamento e trânsito). Ainda, a mesma norma facultou o uso da boina marrom-café,
exceto no policiamento de trânsito, no qual seria utilizado o boné branco tipo bico de pato.
Além disso, quando houvesse determinação, a saia-calça seria substituída pela calça comprida
bege.
Para o ano seguinte, o Aviso 290, de 09 de setembro de 1987, previu 50 (cinqüenta) vagas
para o CFSd Fem que seria realizado pelo 7º BPM, sediado em Bom Despacho.
Para o ano de 1988, foram previstas 20 vagas femininas no Curso Especial de Formação de
Sargentos (CEFS). As vagas foram preenchidas mediante submissão a concurso, cujo
resultado foi divulgado no BGPM 238, de 21 de dezembro de 1987.
102
A realização dos cursos, no entanto, pode ser visualizada parcialmente pelas pesquisas, vez
que as normas que autorizam a criação de vagas continuaram a ser publicadas nos BGPMs.
4.1.4.8 1988
O uso obrigatório da designação “PM” após o posto dos Oficiais e das Praças da PMMG em
todos as publicações e registros cadastrais, acrescidas das abreviaturas das expressões “Mus”,
“Com”, “Aux S” e “Fem” foi instituído pela Resolução 1863, de 18 de fevereiro de 1988.
A PMMG continuou contribuindo para a formação dos corpos femininos de outros estados.
Neste ano, a PMMG recebeu a Aspirante a Oficial Fem Júlia Beatriz Pires de Almeida, da
PMPI, com a finalidade de realizar estágio que objetivava “colher subsídios suficientes e
necessários à implantação (...) de Polícia Feminina” naquela Corporação. (BGPM 056, pp.
1130-1131).
O Aviso 300, de 30 de março de 1988, esclareceu que, embora a Polícia Militar seja
considerada Força Auxiliar do Exército, não há previsão de “reserva feminina” no Exército
103
Brasileiro e, por esse motivo, a policial militar excluída da Corporação, seja por demissão,
exclusão disciplinar, ex-officio ou baixa a pedido, não recebe o Certificado Militar.
O Resultado Final do CEFS/88 classificou, por ordem de colocação no curso, todos os 160
alunos aprovados em primeira chamada, numa mesma relação que incluía os policiais
masculinos e femininos. Nessa relação é possível perceber que o primeiro lugar geral do curso
foi ocupado por uma Policial Feminino, a Cb PM Fem Cátia Maria da Silva Barbosa. As
alunas do CEFS/88 foram transferidas, na maior parte, para a Cia PFem; duas formandas
foram transferidas para o 15º BPM.
4.1.4.9 1989
O resultado do terceiro Curso de Formação de Oficiais que contou com Policiais Femininos
fui registrado no BGPM 188, de 04 de outubro de 1989. A Declaração de Aspirantes a Oficial
foi publicada no BEPM 013, de 10 de outubro de 1989. As Aspirantes a Oficial da turma de
1989 foram classificadas em outras Unidades, além da Cia PFem.
104
Ressalta-se que nos anos de 1988 e 1989, não existem microfilmagens de Boletins Internos da
Cia PFem, o que reduziu a possibilidade de levantamento de dados.
4.2.1 1990
O BI 30-CPC, de 23 de julho de 1990, registrou que a 1º Ten PM Maíza Ferreira dos Santos
passou a responder pelo Comando da Cia PFem, a partir de 22 de junho11 de 1990, em virtude
11
Embora o BI 30/90-CPC tivesse publicado que a Ten Maíza entrara no exercício das funções de Comandante
da Cia PFem a partir de 22 de julho de 1990, essa informação foi retificada pelo BI 31/90-CPC, que registrou a
data correta: 22 de junho de 1990.
105
Pela primeira vez as 2º Sargentos Femininos foram convocadas a participar dos exames de
seleção ao Curso de Aperfeiçoamento de Sargentos, cuja conclusão com aproveitamento,
conforme normas da PMMG, é requisito indispensável para a promoção à graduação de 1º
Sargento. Conforme o ato de convocação, publicado no BGPM 121, de 03 de julho de 1990,
foram consideradas aptas a participar da seleção, 57 policiais femininos.
A Resolução 2423, de 11 de julho de 1990, dispôs sobre o corte de cabelo dos policiais
militares de maneira geral. Especificamente quanto às policiais femininos, a norma regulou:
12
O penteado para o cabelo curto, previsto no Anexo B da Resolução 3423/90, será apresentado a seguir.
13
O penteado para o cabelo médio, previsto no Anexo C da Resolução 3423/90, será apresentado a seguir.
14
O penteado para o cabelo longo, previsto no Anexo D da Resolução 3423/90, será apresentado a seguir.
106
Também neste ano, o RePoFem foi revogado pela Resolução 2450, de 19 de setembro de
1990. (MINAS GERAIS, 1990)
Naquele momento, a Polícia Feminina já estava bastante capilarizada pelo interior, com 8
pelotões espalhados em todas as regiões do estado.
A mesma Resolução que extinguiu a Cia PFem retirou esses pelotões da subordinação direta
dos Comandantes das Unidades e subordinou-os às Companhias desses mesmos batalhões.
Até o momento da extinção da Cia PFem, havia policiais militares femininos servindo em
diversas Unidades operacionais e administrativas e também no EMPM. A exceção era o
Comando do Corpo de Bombeiros (CCB), Batalhão de Polícia Florestal (BPFlo) e Batalhão
de Polícia de Choque (BPChq), que ainda não contavam com mulheres em sua tropa.
Em virtude da extinção da Cia PFem, a 1º Ten PM Maíza Ferreira dos Santos, Comandante da
Unidade, foi transferida para a DAL, conforme está registrado no BGPM 237, de 28 de
dezembro de 1990.
No último ano de existência da Cia PFem, todo o Estado-Maior da Unidade já era composto
por Oficiais Femininos:
Com relação aos CFC e CFSd realizados a partir de 1991, as publicações encontradas
demonstram que se intensificou a formação pelas próprias Unidades, tais como o 1º BPM, o
2º BPM, o 6º BPM, o 17º BPM, o 18º BPM, o 20º BPM. A maior parte dos atos reguladores
das seleções, assim como de convocação e de resultados finais de cursos (CAS, CEFS, CFS,
CFC e CFSd) não mais separam claramente os efetivos masculino e feminino. Por esses
motivos, desse período em diante, o acompanhamento dos atos disponíveis não garante a
certeza de que se alcançou a totalidade dos casos. Assim, a partir deste ponto da pesquisa,
optou-se por não mais detalhar a autorização, a realização e os resultados desses cursos.
Também com o CAO, atual Curso de Especialização de Oficiais (CESP) e com o Curso
Superior de Polícia (CSP), atual Curso de Especialização em Gestão Estratégica de Segurança
110
Também as promoções não decorrentes de curso passaram a ocorrer com mais freqüência, até
que as mulheres ocupassem todos os postos e graduações previstos nos quadros da PMMG.
Uma grande modificação na situação das Policiais Femininos se deu com o advento da Lei
11.099, de 18 de maio de 1993, que fixou, em 45.758 (quarenta e cinco mil setecentos e
cinquenta e oito) o efetivo da PMMG, a ser integralizado, gradualmente, nos anos de 1992,
1993, 1994 e 1995. A Lei em questão extinguiu o Quadro de Praças Femininos da PMMG e
fixou em 5% o efetivo feminino em alguns quadros:
Art. 4º - Fica extinto o Quadro das Praças Policiais Femininos – QPPM Fem
– sendo transferidas suas atuais integrantes para o Quadro de Praças
Policiais Militares – QPPM – a partir de 1993.
Art. 5º - Será admitida a utilização de militares do sexo feminino nos
Quadros de Oficiais Policiais Militares, de Oficiais da Administração, de
Praças Policiais Militares e de Praças Bombeiros Militares, em número
equivalente a até 5% (cinco por cento) do efetivo previsto.
Parágrafo único – A utilização de militares do sexo feminino não será
limitada nos demais quadros. (MINAS GERAIS, 1993) g.n.
A altura mínima exigida para ingresso na PMMG foi novamente alterada com a Resolução
2931, de 06 de agosto de 1993, que passou a prever o limite mínimo de 1,60 m para
candidatos de ambos os sexos.
A DOPM 12/94, de 11 de janeiro de 1994 (p. 46), foi editada com a finalidade de estabelecer
diretrizes básicas para o planejamento, coordenação, execução e o controle, em todo o estado,
das atividades afetas à PMMG. Essa Diretriz contemplou orientações pertinentes ao emprego
das Policiais Militares Femininos no policiamento ostensivo:
O modelo do sapato feminino, assim como outras peças de fardamento feminino, sofreu
outras alterações com o passar do tempo, tornando-se objeto de publicações e divulgações
específicas, geralmente por ocasião das alterações do RUIPM.
No final dos anos 90, em virtude das consultas recebidas a respeito do emprego dos Policiais
Militares Femininos no serviço operacional, especialmente no que se refere à alocação desse
pessoal nas frações inferiores a Companhias e Pelotões Especiais, conforme o Comandante-
Geral esclareceu no Memorando Circular 33449.3, de 29 de outubro de 1999, discutia-se a
necessidade do emprego da mulher policial em localidades em que não havia previsão de
emprego delas, o que, dentre outras, privava a própria policial de servir nas Unidades que
desejavam. Por outro lado, havia preocupações com relação às características peculiares da
mulher, o que dificultaria o seu emprego em certas localidades.
A DOPM 12/94 foi revogada, oito anos depois, pela Diretriz para Produção de Serviços de
Segurança Pública 01/02 (DPSSP 01/02), como pode se ver mais à frente.
Nesse ano, foi promovida a Tenente Coronel a então Major Luciene Magalhães de
Albuquerque, primeira mulher da PMMG a alcançar esse posto, publicada no BGPM
001/2001.
116
Em 2002 foi, então, substituída a DOPM 12/94, pela DPSSP 01/02, editada no mês de março
do ano de 2002. A DPSSP 01/02 também trouxe recomendações referentes ao emprego das
Policiais Militares Femininos do policiamento ostensivo e previu:
15
POV é a sigla para Posto de Observação e Vigilância. PPC é a sigla para Posto de Policiamento Comunitário.
117
A Oficial permaneceu nesse cargo até fevereiro de 2007, quando foi promovida a Coronel
PM, tornando-se a primeira mulher do QOPM a ocupar esse posto na PMMG. A partir da
promoção, a Coronel Luciene Magalhães Albuquerque assumiu as funções de Subchefe do
Estado-Maior da Instituição, conforme publicada no BGPM 16, de 27/02/2007, onde
permaneceu até a sua transferência para o Quadro de Oficiais da Reserva da PMMG, em 10
de fevereiro de 2011 (SIRH).
Em virtude do previsto nessa Lei, a Instituição esclareceu, por meio da Resolução 3937, de 04
de julho de 2007, que a limitação de vagas às militares do sexo feminino, nos cursos que
seriam realizados em 2008, não alcançava as militares do Quadro de Oficiais Especialistas-
QOE (MINAS GERAIS, 2007).
Prosseguiu, também, o envolvimento das policiais femininos com atividades que, embora não
diretamente funcionais, decorriam do próprio fato de pertencerem ao grupo. Um exemplo
disso foi a criação da Associação das Mulheres Profissionais de Segurança Pública
(AMPROSEG), em 28 de março de 2007, e registrada em 11 de outubro do mesmo ano,
iniciativa de Policiais Femininos da PMMG.
Ainda no que se refere ao desempenho nos cursos da PMMG, também é relevante o fato de
que a Cadete Maressa de Assis Silva Martins classificou-se em primeiro lugar no Curso de
Formação de Oficiais (Curso de Bacharelado em Ciências Militares – área de Defesa Social)
cuja formatura se deu em 2009, com publicação no BGPM 89, de 26/11/2009. Foi a segunda
policial feminino da PMMG a conquistar tal feito, transcorridos 24 (vinte e quatro) anos da
primeira.
118
O Estatuto do Pessoal da Polícia Militar foi alterado pela Lei Complementar 109, de 22 de
dezembro de 2009, trazendo, para as policiais femininos, alterações referentes ao tempo de
serviço e à licença-maternidade (MINAS GERAIS, 2009).
Em setembro de 2010, a DPSSP 01/02 foi revogada pela DPSSP 3.01.01/2010, que regulou o
emprego operacional da PMMG. A nova norma tratou do emprego das Policiais Femininos da
seguinte forma:
Na ocasião em que as primeiras policiais femininas foram empregadas na
Polícia Militar de Minas Gerais, no princípio dos anos 80, o seu leque de
atividades era bem limitado: atuava no trato com crianças, idosos e
mulheres, no policiamento ostensivo em lugares de muito movimento e
grande visibilidade e na atividade-meio da Instituição, dentre algumas
outras poucas possibilidades de emprego.
Havia uma percepção tácita e equivocada de que a condição biológica da
mulher era um impedimento ao pleno exercício da profissão. As mulheres
provaram, com o passar do tempo, ser capazes de executar as mais variadas
missões, em todos os rincões do Estado de Minas Gerais.
Portanto, as policiais femininas poderão atuar até o nível de destacamento e
subdestacamento PM, desde que o efetivo existente na fração seja, sob
análise do comandante da UEOp, adequado ao bom desempenho das
atividades nas respectivas frações.
Quanto às atividades de policiamento a serem desempenhadas, não há
restrição quanto ao tipo, processo, modalidade, circunstância, lugar,
desempenho e duração, desde que obedecida a legislação em vigor que trata
das peculiaridades de trabalho da mulher.
119
Atualmente, mantém-se o limite de 10% para o número de policiais militares femininos nos
Quadros de Oficiais, de Oficiais Complementares e de Praças da Polícia Militar, sem limite
para os demais quadros.
A respeito das mudanças observadas no que se refere ao emprego das policiais femininos, de
1981 até os dias atuais, um dos entrevistados afirmou:
Então, no início a resistência não era a Polícia Feminina, não. O que havia
sempre era a resistência em ser comandado por Policial Feminina. Então,
hoje eu vejo com muita satisfação uma Tenente-Coronel Cláudia, por
exemplo, comandando um batalhão totalmente masculino, totalmente
operacional.
(Cmt Cia PFem – 02)
120
QUADRO 6
Efetivo de Policiais Femininos da PMMG16
Posto/Graduação Total
Coronel 3
Tenente Coronel 17
Major 50
Capitão 189
Primeiro Tenente 72
Segundo Tenente 185
Aspirante-a-oficial 0
Cadete/Aluno 37
Subtenente 40
Primeiro Sargento 191
Segundo Sargento 294
Terceiro Sargento 464
Cabo 888
Soldado de Primeira Classe 1252
Soldado de Segunda Classe 186
Total na PMMG 3867
Fonte: CAP
A partir da verificação da situação funcional atual, setembro de 2011, de cada uma das 120
Policiais Femininos pioneiras da PMMG, que ingressaram em 1981, o GRÁFICO 2
demonstra o tempo de permanência no serviço ativo, no período de 1981 a 2011. Destas,
apenas uma estava na ativa em setembro de 2011, apesar de saber-se que ainda existe mais
uma policial que de fato está na ativa, porém deu baixa na década de 80 e posteriormente
reingressou na PMMG (passa a pertencer a outra turma), além de duas que se encontram no
serviço ativo do Corpo de Bombeiros Militar.
16
Em virtude das peculiaridades da fonte de consulta, os dados apresentados incluem todas as Policiais
Femininos da PMMG, inclusive as dos quadros de especialistas.
121
30 8
29 28
28 13
27 4
26 7
25 2
24 1
19 1
16 3
14 3
13 3
12 2
11 1
10 2
9 3
8 1
7 2
6 3
5 7
4 4
3 4
2 6
Tempo serviço Ocorrencias
1 6
0 6
0 10 20 30 40 50 60
Em que pese o elevado número de policiais femininos integrantes da primeira turma que
deram baixa do serviço nos primeiros anos, pode-se afirmar que a experiência deu certo, vez
que, das 120 incluídas em 1981, 62 permaneceram na ativa por mais de 25 anos.
17
Dados de setembro de 2011.
122
O GRÁFICO 3 apresenta os motivos que levaram à evasão das integrantes da primeira turma.
-5 5 15 25 35 45 55 65
reserva 58 48,3%
sem informação 1
0,8%
ativa 1 0,8%
Podemos observar que os requisitos para ingresso e a formação rigorosa que receberam teve
reflexos na carreira profissional das integrantes da primeira turma, visto que apenas 2,5%
delas saiu da Corporação por motivos disciplinares. A grande maioria das que permaneceram
na Instituição aguardou o tempo para a transferência para os Quadros da Reserva (QOPM ou
QPPM) e apenas uma está na ativa.
18
Dados de setembro de 2011.
123
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por meio da pesquisa, foi possível levantar o percurso histórico da Polícia Feminina na
PMMG, desde sua concepção, em 1980, até setembro de 2011.
A pesquisa demonstrou que a inserção da mulher nas diversas instituições militares estaduais
do Brasil se deu de formas diversas. Na PMMG, decidiu-se criar, ao mesmo tempo, o corpo
feminino e a Companhia de Polícia Feminina. Também decidiu-se, em Minas Gerais, que as
primeiras policiais femininos acessariam diretamente à graduação de Sargentos, o que não
ocorria com os homens, que tinham acesso à instituição pela graduação de Soldados ou
Cadetes.
Como previu o Decreto 21.336/81, as policiais femininos da PMMG ocuparam, com o passar
dos anos, todos os postos e graduações existentes nos quadros na instituição, o que decorreu
dos processos institucionalizados para acesso na carreira, a partir da realização de cursos e
como conseqüência das promoções decorrentes deles. O percentual feminino na instituição
também foi regulado com o correr dos anos e, atualmente, está previsto em 10% do efetivo
total para Quadros de Oficiais, de Oficiais Complementares e de Praças da Polícia Militar,
sem limite para os demais quadros.
O estudo permitiu, portanto, uma visão mais ampla da evolução de diversos aspectos
relacionados ao caminhar da Polícia Feminina na PMMG e poderá servir de base para estudos
futuros que se proponham a focar mais detalhadamente em aspectos específicos desse corpo.
125
O resultado desta pesquisa é fruto de uma metodologia que somente pode ser executada a
partir da existência de fontes para coleta de dados. É sobre os fatos observados durante esse
processo que são tecidas outras considerações:
Por esse motivo, serão registrados alguns dos “achados” que, em ocasiões oportunas, podem
desencadear novas pesquisas ou mesmo providências por parte de setores específicos da
própria PMMG.
Em alguns momentos desta pesquisa, foi necessário acessar versões antigas de documentos
que, em virtude da revogação, não são mais utilizados na Corporação. Dentre esses
documentos estão incluídos: a) as versões antigas do RDPM (tanto a de 1973 quanto a de
1983), assim como suas versões comentadas; os exemplares do Manual Básico de
Policiamento, do Manual de Prática Policial e do Manual do Soldado; as versões antigas do
Estatuto do Pessoal da Polícia Militar, dentre outros.
126
A busca por esses documentos, de valor relevante para situar a PMMG e a Polícia Feminina
no contexto histórico, demonstrou que eles não estão disponíveis para consulta por meio
institucional. O acesso a esses documentos somente foi possível pela colaboração de pessoas
que os conservaram e disponibilizaram para consulta ou, no caso das leis, por meio de buscas
nos arquivos do Diário Oficial do Estado ou pela colaboração da Assembleia Legislativa de
Minas Gerais (ALMG) – já que no site da ALMG somente estão disponíveis as versões mais
recentes das normas do Estado.
A história da PMMG, como a de qualquer Instituição, somente pode ser contada se for
possível transportar cada acontecimento ao contexto em que ocorreu. Se as normas e os
procedimentos foram renovados, não significa que já eram ultrapassados à época em que
vigoravam. Além disso, uma forma de perceber a constante atualização da PMMG é conhecer
como ela foi capaz de renovar normas, procedimentos, comportamentos. Isso somente é
possível com o acesso aos documentos históricos de qualquer natureza.
Os textos são uma forma relevante para conservar a história das instituições. A consulta às
publicações mais antigas da PMMG permitiram encontrar mais do que normas ou atos
administrativos de quaisquer naturezas. Isso porque nas décadas anteriores, especialmente na
de 1980, era praxe a publicação de textos de ordens as mais variadas, como discursos de
paraninfos e pessoas homenageadas, cartas endereçadas à PMMG, notícias de jornal.
Foram esses procedimentos que permitiram encontrar alguns textos que não estavam
disponíveis sequer aos seus autores, além de dar-lhes um caráter oficial que não seria
conferido caso chegassem por mãos de particulares.
127
Por outro lado, foram encontradas, por meio de particulares, peças publicitárias e notícias de
jornal cujas datas, e até mesmos personagens fotografados, não puderam ser identificados por
que não continham registros de datas e órgãos de publicação, por exemplo. A busca nas
seções da PMMG, inclusive no setor de Comunicação Organizacional, demonstrou que não há
arquivos dessas peças.
Se hoje as instituições vivem a era da informática, em que os textos circulam com grande
facilidade e se perpetuam por tempo indefinido pela própria forma de produção e divulgação,
isso não ocorria até poucas décadas atrás.
Dessa forma, a maior parte das informações existentes neste trabalho foi encontrada nos
arquivos microfilmados do Centro de Gestão de Documentos da PMMG, especialmente na
Seção de Microfilmagem. Se, por um lado, os métodos de arquivamento que eram possíveis
até a década de 90, assim como a pouca disponibilidade de equipamentos, dificultam as
pesquisas, que se tornam lentas e até mesmo complexas, por outro, existe ali um acervo de
valor inestimável que pode servir de fonte para estudos os mais diversos sobre a Instituição.
Não é possível mensurar os prejuízos causados por não estarem disponíveis os Boletins da Cia
PFem referentes aos anos de 1988, 1989 e 1990, em virtude do que já foi exposto no item
dedicado à apresentação da metodologia utilizada neste estudo. Muito menos é possível, a este
tempo da história, levantar os fatores que repercutiram essa situação. Mas é por esses mesmos
128
motivos que ressai a importância das Unidades e dos militares que se dedicaram e se dedicam
a coletar, organizar e guardar a história da PMMG, como se pôde observar nos meses de
pesquisa diária à Seção de Microfilmagem do CGDoc.
5.1.4 Sistema de Recursos Humanos como fonte de dados sobre o pessoal da PMMG
Por outro lado, as necessidades da pesquisa demonstraram que ainda não são possíveis buscas
por critérios específicos, ainda que os dados estejam disponíveis no sistema, o que reduz, ou
pelo menos dificulta, a possibilidade de acesso a eles.
Atualmente, caso exista interesse em pesquisar a raça das policiais femininas, ou, ainda, um
corte de faixa etária desse grupo, ou talvez o número de dependentes, o sistema não emitiria
relatórios consolidados. A partir do SIRH somente seria possível condensar esses dados pela
consulta aos dados de cada policial feminina cadastrada, a exemplo do que foi feito, na
presente pesquisa, para apresentação dos dados de escolaridade, origem, tempo de
permanência no serviço ativo das policiais da primeira turma de policiais femininas.
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Oliveira Brízida. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Ed., 2002.
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CAIRE, Raymond. A mulher militar: das origens aos nossos dias. Tradução de Joubert de
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MATHIAS, Suzeley Kalil. As mulheres chegam aos quartéis. Janeiro, 2005. Disponível em
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Estado de Minas Gerais e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial do Estado,
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Horizonte: Comando-Geral. BGPM 102, de 02/06/81.
132
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__________. Polícia Militar. Aviso n.º 210, de 20 de março de 1982: Dispõe sobre o
tratamento que deverá ser dispensado às policiais-militares femininas. Belo Horizonte:
Comando-Geral, 1982.
__________. Polícia Militar. Resolução n.º 1014, de 01 de junho de 1982: Dispõe sobre o
funcionamento, na Corporação, de cursos e estágios, para oficiais e praças, no ano de
1983. Belo Horizonte: Comando-Geral. BGPM 101, de 02/06/1982.
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de vagas para CFS/Fem – 1983. Belo Horizonte. Comando-Geral, 1983. BGPM 004, de
06/01/1983.
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001, de 17/01/1983. pp. 04 e 05.
__________. Polícia Militar. Elogio Individual. Belo Horizonte: Cia PFem. BI 002, de
24/01/1983. pp. 012 e 013.
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Horizonte: Cia PFem. BI 003, de 31/01/1981. p. 022.
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Horizonte: Cia PFem. BI 004, de 07/02/1983. p. 024.
__________. Polícia Militar. Carta assinada por José Jovino de Souza. Belo Horizonte: Cia
PFem. Belo Horizonte: Cia PFem. BI 008, de 07/03/1983. p. 069 a 070).
__________. Polícia Militar. Of. 326/82-13º BPM. Belo Horizonte: Cia PFem. BI 012, de
04/04/1983. pp. 091-092.
__________. Polícia Militar. Nota sobre o Aniversário da Cia PFem. Belo Horizonte: Cia
PFem. BE 001, de 06/04/1983. pp. 095-096.
__________. Polícia Militar. Transferência de Oficiais e Praça para a Cia PFem. Belo
Horizonte: Comando Geral. BGPM 064, de 07/04/1983. p. 1143.
__________. Polícia Militar. Resultado final do exame de seleção ao CFS/Fem 1983.. Belo
Horizonte: Comando Geral. BGPM 075, de 22/04/1983. pp. 1151-1152.
__________. Polícia Militar. Memorando n.º 190, de 06 de maio de 1983: Utilização das
Sgt PM/Fem e alunas do CFS PM/Fem no COPOM. Belo Horizonte: Comando-Geral,
1983. BGPM 85, de 06/05/83.
__________. Polícia Militar. Dispensa do serviço: Recompensa. Belo Horizonte: Cia PFem.
BI 033, de 29/08/1983. p. 178.
__________. Polícia Militar. Of. 683/83-17º BPM: agradecimento pelo empenho de PFens.
Belo Horizonte: Cia PFem. BI 037, de 26/09/1983. pp. 197-198.
__________. Polícia Militar. Resolução n.º 1190, de 29 de setembro de 1983. Dispõe sobre
penteado e corte de cabelo para as policiais-militares femininas e dá outras
providencias. Belo Horizonte: Comando-Geral. BGPM 185 de 29/09/83. p. 3159.
__________. Polícia Militar. Of. 443/83-11º BPM: agradecimento pelo empenho de PFens.
Belo Horizonte: Cia PFem. BI 040, de 17/10/1983. pp. 209-210.
__________. Polícia Militar. Aviso n.º 229, de 20 de outubro de 1983: Dispõe sobre as
comemorações natalinas no âmbito da Corporação, em 1983. Belo Horizonte: Comando-
Geral. BGPM 198, de 20/10/83.
__________. Polícia Militar. Aviso n.º 232, de 29 de dezembro de 1983: Dispõe sobre
inclusões de Soldado PM de 2ª Classe na Corporação, no exercício de 1984. Belo
Horizonte: Comando-Geral. BGPM 244, de 29/12/83.
__________. Polícia Militar. Ordem do Dia: Formatura do CFS Fem de 1983. Belo
Horizonte: Comando-Geral. BEPM 039, de 16/12/1983. pp. 318 a 320.
__________. Polícia Militar. Of. s/nº/16º BPM: agradecimento pelo empenho de PFens.
Belo Horizonte: Cia PFem. Belo Horizonte: Cia PFem. BI 002, de 19/01/1984. p. 007.
__________. Polícia Militar. Autorização para contrair matrimônio. Belo Horizonte: Cia
PFem.. BI 009, de 27/02/1984. p. 038.
__________. Polícia Militar. Ordem do Dia: Aniversário da Cia PFem. Belo Horizonte:
Comando-Geral. BGPM 064, de 02/04/1984. p. 1114.
__________. Polícia Militar. Funções passagem: Comando da Cia PFem. Belo Horizonte:
Cia PFem. BI 035, de 27/08/1984. pp. 147-148.
__________. Polícia Militar. Elogio Individual. Belo Horizonte: Cia PFem. BI 039, de
24/09/1984. pp. 161-162.
__________. Polícia Militar. Exclusão Disciplinar. Belo Horizonte: Cia PFem. BI 040, de
01/10/1984 (transcrição do BGPM 183/84). pp. 165-166.
__________. Polícia Militar. Autorização para aulas de educação física por professora
civil. Belo Horizonte: Cia PFem. BI 042, de 15/10/1984 (transcrição do BGPM 193/84). p.
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137
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funcionamento, na Corporação, de cursos para oficiais e praças, no ano de 1986. Belo
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141
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policial militar durante o período de gravidez. Belo Horizonte: Comando-Geral. BGPM
059, de 30/03/1987. pp. 1328-1329.
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para inclusão de Sd PM Fem. Belo Horizonte: Comando-Geral. BGPM 142, de 30/07/1987.
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Comando-Geral. BGPM 161, de 26/08/1987. p. 3205.
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142
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diversos cursos fora da corporação no ano de 1989. Belo Horizonte: Comando-Geral.
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143
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150
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151
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ANEXO III – Publicação do Minas Gerais do dia 31 de março de 1982 (Entrega do convite
da formatura da primeira turma ao então Governador Francelino Pereira)
155
“A história da mulher na Polícia Militar tem início em 29 de maio de 1981, quando, por meio
do Decreto 21.336, o então Governador do Estado de Minas Gerais, Francelino Pereira dos
Santos, criou a Companhia de Polícia Feminina.
Para alocar o efetivo de mulheres previsto, foi aberto o concurso que proveria os 120 cargos
de 3º Sgt PM Feminino. Na ocasião, a PM mineira era comandada pelo Coronel PM Jair
Cançado Coutinho.
2441 mulheres aceitaram o desafio e se candidataram aos cargos; 500 foram aprovadas; 120
foram chamadas para o curso de formação de sargentos, especialmente preparado para
qualificar essas profissionais para o exercício da atividade de segurança pública, função,
naquela época, essencialmente masculina. 112 concluíram o curso em abril de 1982 e
receberam a graduação de 3º Sgt FEM.
Naquela época muitas eram as dúvidas e os desafios a serem enfrentados pelas mulheres,
pelos homens e pela Instituição, para que aquele projeto se transformasse em uma ação de
sucesso; uma ação que possibilitasse o fortalecimento da cidadania e da paz social; que
possibilitasse o crescimento e a humanização do trabalho policial.
O início foi tímido. A primeira Composição da Cia PFem era de um Capitão, um 1º Tenente,
um 1º Sgt; um 2º Sgt, 120 3º Sgt, totalizando 124 policiais. Esse era, portanto, o espaço
máximo que poderia ser ocupado pelas mulheres na PMMG.
Novo avanço, com a quebra de mais um paradigma, quando 05 sargentos femininos foram
incluídas no Curso de Formação de Oficiais. Realizaram o curso em turmas mistas. Em 1985
formaram-se as primeiras oficiais da PMMG, que pertenciam ao mesmo quadro dos oficiais
masculinos. Este foi um passo muito importante para o avanço das mulheres na carreira
policial militar em Minas Gerais. Um sinal de que as mulheres estavam vencendo os desafios
que surgiam e que poderiam contribuir ainda mais para a segurança pública do Estado.
Outro fator importante, para a evolução do trabalho da mulher policial militar foi a extinção
da Cia P Fem em 1990, o que possibilitou a distribuição do efetivo nas diversas unidades
operacionais, a unificação dos quadros feminino e masculino e o aumento do percentual de
mulheres na Corporação.
Saímos de um número fixo de 120 policiais femininos, em 1981, para um percentual de 10%
do efetivo da Corporação nos dias atuais.
Atualmente não há qualquer restrição em relação ao seu emprego. Também não há restrições
quanto à designação de policiais femininos para o comandamento de qualquer Fração PM ou
qualquer tipo de policiamento.
No entanto, a principal vitória neste período foi a conquista do respeito à mulher profissional
em uma atividade que anteriormente era tida como essencialmente masculina. Sim, nós
conseguimos consolidar o nosso trabalho.
Fechamos a primeira geração de policiais femininos podendo afirmar que somos uma
Corporação composta por homens e mulheres, que atuam lado a lado, com respeito às
características naturais de cada gênero, contribuindo para a criação de um ambiente seguro e
para o bem estar da sociedade mineira.
Não poderíamos deixar de destacar, neste momento, a conquista histórica alcançada com a
sanção da Lei Complementar 109/2009, que possibilitou à mulher transferir-se para a
inatividade com 25 anos de serviços prestados.
A aprovação da referida Lei só foi possível graças à atuação, firme e determinada, do Exmo
Sr Cmt Geral, Cel Renato Vieira de Souza, com o apoio do então Governador do Estado, Dr.
Aécio Neves e do Vice-Governador, atual Governador, Prof. Antônio Augusto Junho
Anastasia e participação ativa das entidades de classe dos militares estaduais. Essa é uma
conquista que demonstra o propósito do Exmo Sr Comandante Geral de atuar de forma
contínua e incessante na busca da valorização das pessoas.
Por fim, para sintetizar os reflexos da inclusão da mulher na Corporação cito a mensagem do
Cap Sérgio Alexandre Moraes - 9º BPM – Barbacena em referência a esta data comemorativa:
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“Elas são o ponto de equilíbrio entre a razão e emoção. São, por natureza, educadoras e
protetoras. São as flores, que se contrapõem aos espinhos da vida, harmonizam e valorizam as
relações pessoais. São afetuosas, delicadas e vaidosas; são firmes, decididas e corajosas.”
Parabéns a todos aqueles e aquelas que ousaram e possibilitaram esta conquista. Que
possamos todos juntos, a cada dia, buscar a excelência na prestação do serviço de segurança
pública à sociedade mineira e a todos aqueles que por Minas passar.
Muito obrigada!”