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1an0os

editorial
Gláucia Viola, editora

Se não pode vencê-los,


use-os a seu favor!
O
utro dia, andando pela rua, fui literalmente atropelada por uma turma de jovens felizes por encontrar
algo muito raro, logo ali na minha frente, que eu juro que não via! Passado algum tempo observando
AGAROTADA PERCEBIQUESETRATAVADEUMABRINCADEIRAVIRTUAL%RAOJOGOQUEMINHAlLHACOMENTOUHÉ
ALGUNSDIAS/LAN¥AMENTONO"RASILSERIAEMBREVE MASELAJÉFALAVADELECOMINTIMIDADE SABENDO
todos os truques, elementos especiais e mencionava mais uns 15 amigos ansiosos
para a estreia de Pokemón Go.
#OMECEIAREPARARQUEOASSUNTOCRESCIANAlLADOSUPERMERCADO NAtimeline das
redes sociais e nos almoços de domingo com a família. Não contive a curiosidade.
Precisava entender a intensidade que o tema estava tomando na sociedade. Não
parecia mais uma diversão inocente de criança, dessas que os especialistas defen-
dem relatando o desenvolvimento da lógica e do raciocínio. E para minha surpresa,
estava certa! Descobri contribuições que o jogo oferece que transcendem qualquer
CENÉRIOVIRTUAL%SSASCRIATURASDENOMESESQUISITOSEEVOLU¥ÜESMAISESTRANHASAINDA
conseguiram misturar fantasia e realidade em uma única dimensão.
!REALIDADEAUMENTADAFEZCRESCEROASSUNTOTAMBÏMNASPÉGINASDESTAEDI¥ÎO
da Psique Ciência & Vida, e o que era para ser um artigo, se transformou em um
dossiê que analisa o sucesso do uso dessa tecnologia na Educação, na Medicina, na Psicologia.
Tiago Eugênio, que coordena o curso de pós-graduação em Games e Tecnologias da Inteligência aplicados à
Educação e é mestre em Psicobiologia, conta no texto que “essa febre entre crianças e adultos tem envolvido o uso
da realidade aumentada para o tratamento de diversos transtornos psicológicos e doenças neurológicas, além de
TRAZERINÞMEROSRECURSOSCRIATIVOSPARAASALADEAULAv-ASTAMBÏMMOSTRAQUEHÉUMASÏRIEDEQUESTIONAMEN-
TOSACERCADAMANEIRAAlCIONADACOMQUEOSJOGADORESDETODASASIDADESSEEMPENHAMPARACA¥ARBICHOSQUE
NÎOEXISTEM lCANDOIMERSOSHORASAlONESSAATIVIDADE%NTRETANTO DISTINTASOPINIÜESDESTACAMPONTOSPOSITIVOS 
como o incentivo para fazer os praticantes andarem pela cidade, ocupar praças, museus e parques e conectar-se
pessoalmente a outras pessoas. O autor falou emocionado, em uma conversa informal sobre a pauta, de um passeio
no parque em que viu mais um grupo de meninos se divertindo na captura dos personagens e entre eles havia um
amigo na cadeira de rodas participando ativamente da caçada.
Diante desta nova era, fomos capturados pela pluralidade de recursos que a tecnologia proporciona e excede a
valorização do espaço público ou a interação social real. Bem-vindo a uma nova grandeza, do tamanho que esta
palavra representa.

'LÉUCIA6IOLA
psique@escala.com.br
www.facebook.com/RevistaPsiqueCienciaeVida

“Os próprios computadores, e o software ainda a ser


desenvolvido, irão revolucionar a forma como aprendemos.”
Steve Jobs
sumário

CAPA
DOSSIÊ: Habilidades na
1an0os
Psicologia e na Educação
O fenômeno Pokémon GO é
estudado como uma excelente
ferramenta terapêutica na avaliação
DARESILIÐNCIAPARAOSDESAlOS 
: 123RF

nas interações virtuais e reais,


35
IMAGEM DA CAPA

15/09/16 19:21
ENTREOUTRASPRÉTICASBENÏlCAS

MATÉRIAS
08 TCC para idosos
4ERCEIRAIDADESEBENElCIACOMA
Terapia Cognitivo-comportamental,
principalmente em função de
seu rigor metodológico e teórico
24
ENTREVISTA
Peculiaridades dos
Flora Victoria defende
superdotados
coaching em crianças para que
conheçam melhor suas forças Pesquisas mostram que pessoas
e aprendam como usá-las com altas habilidades precisam 56
de apoio emocional, pois se
sentem sobrecarregadas pelas
SEÇÕES exigências de não poder falhar
05 EM CAMPO
14 IN FOCO Longo caminho a percorrer
16 SUPERVISÃO 72 Para conseguir uma vida a dois
18 PSICOPOSITIVA
saudável é importante prestar
20 PSICOPEDAGOGIA
atenção aos detalhes da relação,
22 UTILIDADE PÚBLICA
avaliar as necessidades do
32 COACHING
companheiro e de si próprio também
34 LIVROS
50 CYBERPSICOLOGIA
52 NEUROCIÊNCIA
54 RECURSOS HUMANOS
Sincronicidade
Fenômeno não pode ser controlado,
78
64 DIVÃ LITERÁRIO
previsto ou evitado, ocorre
66 CINEMA
frequentemente em todas as áreas
70 PERFIL
da vida humana e foi descrito em
80 EM CONTATO
grandes fatos históricos
82 PSIQUIATRIA FORENSE
em campo por Jussara Goyano

CUIDADO PARENTAL
CRIANÇAS BEM-SUCEDIDAS SÃO AQUELAS EM QUE
OS PAIS MAIS INVESTEM EMOCIONALMENTE

Um estudo envolvendo 27 crianças com idade entre quatro e seis anos ava-
liou a qualidade do vínculo emocional destas com seus pais e o desempenho
dos pequenos em atividades nas quais fatores predisponentes de sucesso na
vida são determinantes, tais como resistir à tentação, uma boa memória e ex-
troversão. Muito embora tais fatores sofram grande inf luência dos genes, a
pesquisa verif icou que crescer em um ambiente de carinho e atenção parental
pode mudar totalmente o jogo.
O trabalho, publicado na revista Frontiers in Human Neuroscience, levou em
conta a resposta das crianças a uma combinação de questionários, a perfor- HIPNOSE E FELICIDADE
mance em tarefas comportamentais e medidas eletrof isiológicas. Os resulta- Uma cooperação entre brasileiros
dos, de acordo com autores do estudo, reforçam as teorias que propõem que e portugueses, na Universidade de
uma alta qualidade emocional na interação mãe-f ilho promove um melhor de- Lisboa, vem utilizando, com sucesso,
senvolvimento cognitivo da criança. um protocolo de atendimento em
Mas não se trata, segundo a pesquisa, de manter os pequenos sob as asas coaching e psicoterapia que une
dos pais indiscriminadamente. Quando estes incentivam a independência em a hipnose e a Psicologia Positiva,
seus f ilhos, mas mantêm-se emocionalmente disponíveis, aumentam as chan- aproveitando-se do estado alterado de
ces de sucesso dessas crianças. consciência dos coachees e pacientes
não para fazê-los reviver traumas e
PARA SABER MAIS: circunstâncias complicadas, mas para
Henriette Schneider-Hassloff, Annabel Zwönitzer, Anne K. Künster, Carmen fazê-los vivenciar experiências mais
Mayer, Ute Ziegenhain, Markus Kiefer. Emotional Availability Modulates positivas. Antes e depois das sessões,
Electrophysiological Correlates of Executive Functions in Preschool Chil- diversos marcadores biológicos são
dren. Frontiers in Human Neuroscience, 2016; 10 DOI: 10.3389/fnhum.2016.00299 monitorados, de maneira que, no
momento após as vivências, uma
avaliação desses marcadores aponta
para a redução do stress, sugerindo
que a junção de ambas as abordagens
PODESERElCAZNOSTRATAMENTOSDE
transtornos de humor e ansiedade.

MINDFULNESS PARA TODOS?


Em psicoterapia, especial atenção
deve ser dada ao uso de meditação
mindfulness, uma vez que ela pode
ser gatilho no agravamento de crises
para quem apresenta transtornos
dissociativos, especialmente no caso
de despersonalização. Em voga,
ATÏCNICA NOENTANTO ÏElCAZNO
tratamento de pânico, ansiedade e
depressão, reduzindo recaídas. O
método mindfulness propõe a atenção
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

plena ao presente, com exercícios


de escaneamento corporal e foco na
própria respiração.
(Fonte: www.makeitpositivemag.com)

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em campo

PERFORMANCE E
ASSERTIVIDADE
TER SEMPRE UM PLANO B NÃO É
BOM PARA SUAS METAS, DIZ ESTUDO
O que até então tem sido considerado uma maneira
sensata de planejar as coisas cai por terra, de acordo
com uma nova pesquisa Universidade de Wisconsin-
-Madison.

IMAGENS: 123RF
Quando se trata de estabelecer metas organizacionais
e pessoais, fazer um plano de backup, o famoso “plano B”
pode atrapalhar a conclusão do plano A.
No estudo, voluntários receberam uma tarefa após
a qual, se eles mos-
trassem alto desem-
penho, receberiam
lanche gratuito ou
poderiam sair mais
cedo. Alguns grupos
foram, então, instruí-
EFEITO GOOGLE dos sobre outras ma-
neiras de conseguir
USO DA INTERNET COMO EXTENSÃO comida de graça no
DE NOSSA MEMÓRIA JÁ É REALIDADE campus ou poupar
tempo no f inal do dia,
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, Santa caso não se saíssem
Cruz e da Universidade de Illinois, Urbana Champaign bem o suf iciente para
descobriram que a tendência de usar a Internet como uma ganhar o lanche ou
espécie memória virtual, um HD externo a nossos cére- a folga. Aqueles nos
bros, aumenta após cada utilização. grupos que já tinham
Em um experimento, participantes foram divididos em mente planos de
primeiro em dois grupos para responder a algumas per- backup apresentaram
GUNTAS TRIVIAIS DESAlADORAS  UM GRUPO USOU APENAS SUA menor desempenho na tarefa, pois, nesses casos, houve
memória, o outro usou o Google. Na segunda bateria de diminuição no desejo de sucesso na meta.
perguntas, ainda mais fáceis, ambos os grupos poderiam Para ser mais assertivo nos objetivos, no entanto, os
usar o método de sua escolha para chegar às respostas. pesquisadores responsáveis pela experiência não reco-
Os resultados revelaram que os participantes que já mendam passar pela vida sem um plano B. A melhor
tinham usado a Internet para obter informações foram maneira de utilizar esse recurso seria esgotar as possi-
SIGNIlCATIVAMENTEMAISPROPENSOSAVOLTARAO'OOGLEPARA bilidades de execução do plano A, para, então, investir
responder as questões subsequentes, em relação àqueles em uma contingência. Principalmente nos casos em que
QUE NAPRIMEIRAVEZ CONlARAMEMSUAMEMØRIA/SPAR- o êxito da primeira opção depende exclusivamente do
ticipantes também passaram menos tempo tentando usar esforço do indivíduo.
sua própria memória antes de consultar a Internet. (Fonte: ScienceDaily.com)

PARA SABER MAIS:


Benjamin C. Storm, Sean M. Stone, Aaron S. Benjamin. Jussara Goyano é jornalista. Estuda Psicologia, Medicina
ARQUIVO PESSOAL

5SINGTHE)NTERNETTOACCESSINFORMATIONINmATESFUTURE Comportamental e Neurociências, com foco em


  ÈI G9H¢GGI:UIGI I ‚IG
G
use of the Internet to access other information. Memory,
pelo Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento.
2016; 1 DOI: 10.1080/09658211.2016.1210171

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giro escala

A MÍDIA E
A POLÍTICA RENATO JANINE RIBEIR
O
a atuação de

REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 65 VICTOR SEPÚLVEDA


A hegemonia capitalista
está dando
sinais de contradição e decad
ência
Para economias prósperas,
economistas nem sempre
é democrática

aevida.com.br
ANO IX No 120 – www.portalcienci

A socióloga e professora da Fundação Escola de SIMONE DE


BEAUVOIR
Sociologia e Política de São Paulo e do Departamento Possibilidades
e armadilhas

de Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação do movimento


feminista

AMOR FATI,
em Ciências Sociais da PUC-SP, Rosemary Seg ura- NIETZSCHE e a
experiência dionisíaca

do, é especializada na área de mídia e comunicação, nas relações amorosas

sobretudo no campo da comunicação política. Ela APRENDER A


demonstra seu lado engajado ao posicionar-se contra MORRER
Como o capitalismo e a relig
ião
de
o que qua lif icou como golpe pa ra derruba r o gover- nos afastaram da morte e
vida
que forma isso se reflete na
no Dilma Roussef f e também por sua enfática defesa
da s ocupações de escola s pública s pelos estuda ntes.
Pa ra a socióloga , é preciso rea gir e luta r pela ma nu- EDIÇÃO 120 - PREÇO R$
12,90

xão
Refle ca 109

tenção da democracia e das conquistas sociais, pois


R

e práti
ESSO
PROF
DO
ARTE
ENC de
tivida
subje
o dado trabalho e a resistência
priaçã
Expro e econômica
social
a ordem
capitalista

subjetividade
A organização es sob
dos trabalhador rial o capitalismo
imateões que levaram
lhoas transformaç

Trabalho e espoliação da
Traba
análise
sobre
o seu
modo
de produção
Uma
a reformular
atual

REFLEXÃO E PRÁTICA:
estaria em curso uma escalada conservadora com
e
Fernandes
Desoti
de Carolina A

7/14/16 12:56 PM
curadoria Perencini
Com Brentam GRADUADAEM&ILOSOl
AAFRICANANA
Tiago ¡EDITORA 
FernandesÏ
Desoti 0ESQUISAAINmUÐNCI
Carolina DECULTURALBRASILEIRA RELEM
PELA05# #AMPINAS CULTURAL
FORMA¥ÎODAIDENTIDA PELA5NESPE
ÏLICENCIADOEBACHA
Perencini
REDATORAEPRODUTORA A&ACULDADE
Brentam %NSINODE&ILOSOlA
Tiago A#ONTEMPORÊNEAN
&ILOSOlA-ESTREEM ÓLIA
PROFESSORDE&ILOSOl
*OÎO0AULO))DE-AR

contornos fa scista s muito fortes na sociedade e na


atuação de a lg uma s instituições pública s.
E não poupa críticas à atuação dos veículos de
A IMPORTÂNCIA
comunicação: “Qua ndo vemos que o jorna l ta l, ou DOS AFETOS
emissora tal, teve acesso exclusivo a gravações ori- REVISTA FILOSOFIA - EDIÇÃO 120
ginada s de escuta s lega is ou ilega is, esta mos dia nte
de um poder tremendo da mídia nesse processo. Se A discussão e o debate a respeito do afeto e seus
isso não for estu- mais variados aspectos, principalmente sob o ponto
dado no campo em sala de aula: Caio Prad
o Jr. e a aplicação da teor
ia e do método marxistas
de vista da Filosof ia, é um dos pontos preferidos de
no Brasil
da comunicação discussão por pa rte dos pensadores que se dedica m
política , corre- www.portalcienciaevida.c
om.br
à disciplina. Em linha s gerais, é possível def inir os
mos o risco de a fetos como sendo processos tra nsitivos. A a legria ,
achar que a mí- por exemplo, é o afeto correspondente à variação de
dia divulga a Marx e a
indús tria
uma potência de agir menor para uma maior, sendo
política e pon- Uma análise
sobre
cooperação
essa uma transição positiva. A transição negativa se
to. Um imenso dá com o a feto da tristeza , correspondente à va riação
e divisão do
trabalho em
O capital

equívoco, pois Ques tão


de gênero
Representação
de uma potência de agir maior para uma menor.
a mídia faz po- O f ilósofo Baruch Spinoza denomina de afetos
na política é
impor tante?

As conquistas

lítica o tempo dos caudilhos


Avanços primários o desejo, a alegria e a tristeza. A partir daí,
sociais

todo”. Apesa r aconteceram


sob governos aproveitando como uma exposição introdutória do
execrados tanto

disso, Rosema- pela direita


quanto pela
esquerda
que Spinoza compreende por tais afetos, é possível
ry ressalta que A ECONOMIA
Ciberespaço
limitante
pa rtir da def inição spinoza na de a feto pa ra , então,
a área de co- LAnossos TINO-AMERICANA
Web ampliou

horizontes, desenvolver a ideia de desejo ligada ao conceito de


Na óptica de Celso Fur
mas encur tou

municação po- nossa visão tado conatus, compreendido como o esforço huma no pa ra
para as
questões locais
e Raúl Prebish
ROS EMA RY SEGU RAD
lítica cresceu Capa65_aprovada.indd
O
1
DISCU TE POLÍT ICA E CONS
ERVA DORI SMO NO PAÍS perseverar em sua existência. Além disso, tendo em
muito no pa ís vista o para lelismo spinozano, a partir dos atributos
e possui excelentes pes- pensamento e extensão, conclui-se a relevância de
quisadores e pesquisas diversif icadas, inclusive com a na lisa r a s ideia s de a legria e de tristeza no corpo e
a criação da Associação Brasileira de Pesquisadores na mente. Para tanto, o autor, em texto publicado na
da Comunicação Política, que se reúne em congres- edição 121 da revista Filosof ia, segue a argumenta-
sos a cada dois anos para discutir as pesquisas do ção exposta na Ética, sobretudo o terceiro livro, em
campo. A entrevista completa está na edição 65 da que Spinoza inicia sua teoria dos afetos.
revista Sociologia.

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FLORA VICTORIA

Para Flora Victoria,


é preciso ter em mente
que, às vezes, a carga
de expectativas dos
G GhÔG‚ 
suplanta as necessidades
de desenvolvimento
da criança

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E N T R E V I S T A

UM ESTÍMULO À
INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL
DA CRIANÇA
Para Flora Victoria, o trabalho desenvolvido
pelo coaching infantil não deve se limitar a resolver
problemas, mas, sim, contribuir para que indivíduos
que já obtêm bons resultados em sua vida possam
ampliar ainda mais suas conquistas
Por Lucas Vasques

D
esejos e intenções podem ser da às crianças, trabalhando o desenvol-
transformados em objetivos, vimento, a inteligência emocional, além
que têm todas as chances DOSTALENTOSINDIVIDUAIS/GRANDEDESAlO
de ser alcançados, por inter- enfrentado pelo coaching infantil é con-
médio da prática de determinadas ações, tribuir para que a criança ou adolescente
explicitando, assim, a relação entre es- perceba suas potencialidades e se conven-
forço consciente e resultado desejado. É ça de que deve investir nelas.
dessa forma que Flora Victoria, fundadora Mestre em Psicologia Positiva Aplicada
da Sociedade Brasileira de Coaching e presi- pela Universidade da Pensilvânia e master
dente da SBCoaching Training, explica o coach com vasta experiência na área, Flora
conceito do coaching e suas incontáveis é especialista em Governança Corporati-
possibilidades de ajuda. va, Gestão Empresarial e Comunicação
E essa prática não se limita a ajudar e Marketing. Fundou, também, o Institute
pessoas na vida pessoal ou no universo of Positive Coaching Research (IPCR). Atua
corporativo. Dentre os inúmeros nichos como diretora educacional no grupo SB-
nos quais o coaching é aplicado com re- Coaching e é editora-chefe da Revista
DIVULGAÇÃO

sultados positivos, a técnica é direciona- #IENTÓlCA"RASILEIRADE#OACHING.

Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.

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HOJE , EXISTEM DIVERSOS NICHOS ONDE Com o coaching, a F LORA: É preciso ter muito cuidado
O COACHING É APLICADO COM RESUL - antes de se rotular comportamentos
TADOS EFICIENTES. UM DESSES É O CO - criança passa a conhecer infantis como negativos e inadequados
ACHING PARA CRIANÇAS , QUE TRABALHA – muitas vezes, eles são sintomas. Uma
O DESENVOLVIMENTO, A INTELIGÊNCIA melhor suas forças e a criança excessivamente tímida está re-
EMOCIONAL E OS TALENTOS INDIVIDUAIS.
COMO FAZER PARA QUE A CRIANÇA PER-
ter consciência de como agindo a quê? Está se protegendo do
quê? Por que uma criança demonstra-
CEBA SUAS POTENCIALIDADES E SE CON - usá-las, o que a faz ria apatia, desinteresse ou preguiça em
VENÇA DE QUE DEVE INVESTIR NELAS? uma fase da vida em que sua vitalidade
FLORA VICTORIA: Potencialidade e in- se sentir mais segura deveria estar no ápice? O que a criança
vestimento compõem o imaginário está tentando dizer quando se mostra
adulto, não o infantil. Palavras como e feliz. E, claro, cabe agressiva ou rebelde? É fundamental
essas muitas vezes expressam a carga
de expectativas e ansiedade dos pais em
lembrar que todas essas investigar as causas desses compor-
tamentos, o que, em muitos casos, é
RELA¥ÎOAOSlLHOSEMVEZDASNECESSIDA mudanças costumam função do psicólogo, e não do coach
des de desenvolvimento da criança. Isso – especialmente no que diz respeito à
pode causar a impressão de que o obje- REmETIR SEPOSITIVAMENTE depressão. Rotular precipitadamente
tivo do coaching infantil é transformar comportamentos infantis como nega-
os pequenos em adultos em miniatura, no rendimento escolar tivos e inadequados – antes mesmo de
o que não poderia estar mais distante da entender o que está por trás disso – e
realidade. O trabalho de um bom coach QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DO prescrever “técnicas” como quem re-
para crianças, isto é, um que tenha uma COACHING INFANTIL? ceita um elixir que “cura tudo” são coi-
excelente formação em coaching, expe- F LORA: Tudo gira em torno de favore- sas que não caracterizam a atuação de
riência com crianças e sólido conheci- cer um desenvolvimento saudável, de um coach sério. Além disso, promover
mento sobre o desenvolvimento infantil, estimular a inteligência emocional da mudanças comportamentais em uma
consiste em acompanhar a criança nas criança, para que ela possa lidar melhor criança não é uma questão de técnica
diferentes fases de seu desenvolvimento, com as diversas situações que com- mas de processo. Um processo que com
contribuindo para que ela percorra es- põem o universo infantil. Além disso, frequência envolve a promoção de mu-
sas etapas de modo saudável e positivo. o coaching é um importante aliado na danças no seio familiar, em estruturas e
Isso geralmente envolve um trabalho prevenção do bullying – ou na supera- relacionamentos que podem ter contri-
voltado para a inteligência emocional, ção das sequelas de quem sofreu com buído para que o problema surgisse e se
ou seja, a capacidade de reconhecer isso. Os relacionamentos em geral tam- mantivesse. Sem analisar tudo isso – e
e de lidar com as próprias emoções e BÏMSÎOBENElCIADOS SEJAARELA¥ÎODA SEMVERIlCARSEÏREALMENTEUMASITUA
com as dos outros. Com esse trabalho, criança com ela mesma, seja sua rela- ção na qual o coach pode intervir ou se
uma série de questões vem à tona: au- ção com família, amigos e professores. é mais recomendável a intervenção de
toconceito e autoestima, autonomia e Outro ponto importante a citar é que, um psicólogo – não é possível descrever
responsabilidades, forças e construção com o coaching, a criança passa a co- quais processos seriam mais adequados
de identidade, a relação consigo e a re- nhecer melhor suas forças e a ter cons- para ajudar a criança e sua família.
lação com os outros, até a compreensão ciência de como usá-las, o que a faz
de que desejos e intenções podem ser se sentir mais segura e feliz. E, claro, COMO CONTRIBUIR PARA QUE OS PRIMEIROS
transformados em objetivos que, por cabe lembrar que todas essas mudanças ANOS DE VIDA DE UMA PESSOA SEJAM UM
sua vez, podem ser alcançados median- COSTUMAM REmETIR SE POSITIVAMENTE NO PERÍODO PARA FIRMAR AUTONOMIA, AU-
te a execução de determinadas ações, rendimento escolar. TOCONFIANÇA E EXPANDIR COMPETÊNCIAS
explicitando, assim, a relação entre es- EMOCIONAIS, SOCIAIS E INTELECTUAIS?
forço consciente e resultado desejado. QUAIS AS TÉCNICAS UTILIZADAS PARA SE F LORA: A base é sempre dar apoio
A partir daí, pavimenta-se o caminho ALTERAR COMPORTAMENTOS NEGATIVOS emocional e criar uma relação de con-
para um processo de amadurecimento, E INADEQUADOS NAS CRIANÇAS , COMO TI- lAN¥ACOMOSlLHOS4AMBÏMÏIMPOR
ao longo do qual a criança chegará à MIDEZ EXCESSIVA , ANSIEDADE , TEIMOSIA , tante não exigir perfeição, nem de si
adolescência com muito mais chances CARÊNCIA , APATIA , DESINTERESSE , PRE - mesmo nem das crianças. E, é claro,
de conhecer suas potencialidades e se GUIÇA , AGRESSIVIDADE , MEDO, INSEGU - sempre oferecer estímulos ao aprendi-
dispor a investir nelas. RANÇA , REBELDIA E ATÉ DEPRESSÃO? zado e à curiosidade.

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A PARTIR DE QUAL IDADE É INDICADO O A base é sempre participação dos pais é fundamental,
COACHING ? pois, conforme já foi dito, muitas vezes
F LORA: Conceitos e competências de dar apoio emocional o processo de mudança envolve tam-
coaching podem ser usados desde mui- bém estruturas e relações familiares.
TO CEDO POR PAIS QUE lZERAM UM BOM
e criar uma relação
treinamento – em especial o positive co-
aching, que combina o coaching com a
DECONlAN¥ACOM QUAL O PAPEL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA
NO SUCESSO DO COACHING PARA CRIANÇAS?
Psicologia Positiva. Não se trata, aqui, OSlLHOS4AMBÏM F LORA: Tanto pais quanto educadores
de um processo de coaching formal, podem usar conceitos e técnicas de co-
mas de habilidades que os pais adqui- é importante não aching com as crianças. Os resultados
rem ou aprimoram durante o treina-
mento, e que podem ajudá-los a cons-
exigir perfeição, nem SÎOMUITOBENÏlCOSEENVOLVEMACRIA-
ção de ambientes saudáveis nos quais a
truir um relacionamento mais forte e
SAUDÉVELCOMOSlLHOS
de si mesmo nem das criança possa contar com mais estímu-
los para seu desenvolvimento emocio-
crianças. E, é claro, nal, social e cognitivo.
PODE EXPLICAR PASSO A PASSO COMO
FUNCIONA O PROCESSO DE COACHING PARA sempre oferecer estímulos QUAIS OS CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA
CRIANÇAS? A PRESENÇA DOS PAIS NESSE
INÍCIO DE ABORDAGEM É FUNDAMENTAL
ao aprendizado QUE NÃO HAJA CONFUSÃO ENTRE SITUA-
ÇÕES QUE DEVEM SER ALTERADAS PELO
PARA SEU SUCESSO?
e à curiosidade COACHING E PEQUENOS PROBLEMAS TÍPI-
F LORA: O processo depende da metodo- COS E PASSAGEIROS NAS CRIANÇAS?
logia utilizada e da situação a ser aborda- estejam aquém do esperado. Outro pon- F LORA: A pergunta parte de uma pre-
da. Portanto, não é possível descrevê-lo to importante é o estímulo à melhoria missa equivocada: a de que o coaching
passo a passo. De modo geral, porém, o contínua, para que a pessoa continue existe apenas para ajudar pessoas a re-
coaching começa com um determinado usando as habilidades de coaching após solverem problemas ou consertarem
objetivo a ser atingido. A seguir, é tra- o encerramento do processo. Essa é a o que não está funcionando bem. Na
çada uma estratégia na qual são iden- estrutura básica e, é claro, no caso das verdade, o coaching vai muito além
TIlCADASASA¥ÜESNECESSÉRIASPARAESSE crianças, existem adaptações de acordo disso. Por exemplo, contribuir para que
lM/SRESULTADOSSÎOMONITORADOSPARA com a idade. Mas é bom lembrar, seja indivíduos que já obtêm bons resultados
QUESEPOSSACONlRMAROSUCESSODAES- qual for a situação, o coaching sempre em sua vida possam ampliar ainda mais
tratégia ou alterá-la, caso os resultados trabalha com objetivos e resultados. A suas conquistas. Ou para que empresas
que já estão em boa forma cresçam ain-
da mais. Essa é uma tendência registra-
da por diversos estudos. Um deles, da
*GHG 
HIGI 
American Management Association, re-
para crianças consiste em
GIG P¢GG
G
velou que 79% das empresas que usam
de desenvolvimento, auxiliando nas coaching têm como principal objetivo
GG
G
G

G
P o aumento da performance e da produ-
tividade individuais. A abordagem de
PROBLEMAS ORGANIZACIONAIS ESPECÓlCOS
só aparece em quinto lugar como mo-
tivo para a contratação de um coach.
O mesmo se aplica ao coaching para
crianças. Não é preciso esperar que um
problema apareça para que a criança
comece a fazer coaching. Trata-se de
nutrir o que a criança tem de melhor em
vez de se concentrar apenas em reparos
e consertos, de estimular forças em vez
IMAGENS: 123RF

de focar nas fragilidades, e de ajudá-la


AmORESCER

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Conceitos e competências de coaching podem ser uma equipe de pesquisadores da Uni-
versity of British Columbia e da Chemnitz
USADOSDESDEMUITOCEDOPORPAISQUElZERAMUM 5NIVERSITY OF 4ECHNOLOGY analisaram mais
de 20 estudos feitos por neurocientis-
bom treinamento. Não se trata, aqui, de um processo TAS E VERIlCARAM QUE A MEDITA¥ÎO AFETA

de coaching formal, mas de habilidades que os consistentemente oito regiões do cére-


bro. Uma dessas regiões, por exemplo,
pais adquirem ou aprimoram durante o treinamento está associada à autorregulação, isto
é, à capacidade de dirigir a atenção e o
O COACHING PARA CRIANÇAS É UMA envolve apenas circunstâncias imedia- comportamento e suprimir respostas
ABORDAGEM INDIVIDUAL OU PODE SER tas e literais, mas que também expressa comportamentais inadequadas – motivo
USADO EM VIVÊNCIAS DE GRUPO? eventos futuros e passados, ideias e ima- pelo qual os praticantes de meditação se
FLORA: Pode ser individual ou em grupo. gens – contribui para acelerar o desen- saíram melhor em testes para aferir a au-
volvimento de suas habilidades de comu- torregulação. Também são estimuladas
A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM ELA MESMA nicação oral e escrita. Ainda há muito áreas do cérebro ligadas à percepção,
E COM O MUNDO À SUA VOLTA DEVE SER mais que poderia ser dito a esse respeito, tolerância à dor, controle emocional e
AVALIADA NA CONDUÇÃO DO PROCESSO? mas minha intenção é enfatizar o fato de pensamento complexo, entre outras.
F LORA: Com certeza. Essa é a base de que uma questão aparentemente simples
um processo que envolve o desenvol- – como o modo de falar com a criança – EM QUE CONSISTE O TREINAMENTO DO
vimento da inteligência emocional: a possui uma série de implicações. É por MINDFULNESS ?
relação do indivíduo com suas próprias isso que, volto a frisar, além da qualidade FLORA: Embora o mindfulness esteja mui-
emoções e com as emoções dos outros, da formação do coach, também é neces- to associado à meditação, existem outras
ou seja, sua relação com ele mesmo e sário que ele tenha sólidos conhecimen- formas de se chegar a esse estado. Por
com o mundo à sua volta. tos sobre desenvolvimento infantil. exemplo, concentrar-se na respiração –
especialmente quando se experimentam
A LINGUAGEM USADA PELO PROFISSIONAL COMO PROMOVER BRINCADEIRAS E DIÁ- emoções fortes. Outra prática consiste
DEVE SER ADAPTADA A CADA IDADE? LOGOS ESTIMULANTES COM AS CRIANÇAS em saborear o momento, prestar aten-
FLORA: Sim, mas até certo ponto. É ne- DE MODO A NÃO FERIR O LIMITE PRÓPRIO ção no que estamos fazendo, por mais
CESSÉRIO UM PROlSSIONAL TREINADO PARA DA IDADE E OU DE SEU DESENVOLVIMENTO simples que seja a atividade: comer se
fazer isso corretamente, pois o equilíbrio COGNITIVO? concentrando no gosto e na textura do
é fundamental. Se por um lado a crian- F LORA: A resposta à questão anterior alimento, tomar banho focando na sen-
ça deve entender o que está sendo dito, também se aplica a esta. Pode-se acres- sação da água sobre a pele... pode parecer
por outro, o uso de uma linguagem in- centar, ainda, que o desenvolvimento muito simples, mas não é. Experimen-
fantilizada por parte do adulto não irá cognitivo e social da criança é acelerado TE lCAR SOB O CHUVEIRO APENAS SENTINDO
contribuir para seu desenvolvimento. quando os adultos utilizam a high quality a água sobre a pele e mais nada – sem
Estudos indicam que quanto mais rico language – ou linguagem de alta quali- pensar no que você precisa fazer daqui a
for o vocabulário e mais complexas fo- dade, prática que envolve o uso de per- pouco, na lista de compras do supermer-
rem as sentenças que a criança escutar, GUNTASDESAlADORASEDEUMTOMDEVOZ cado, naquela discussão que deixou você
mais rapidamente ela irá desenvolver sua positivo, dar respostas que satisfaçam a irritado. O fato é que estamos sempre fa-
linguagem. E quanto mais palavras dife- criança mas que, ao mesmo tempo, es- zendo uma coisa e pensando em outra.
rentes ela ouvir, maior será seu vocabulá- timulem a curiosidade em saber mais e Ou falando uma coisa e sentindo outra.
rio. Cabe lembrar que a linguagem falada EXPLORAR MAIS  ENlM  UMA LINGUAGEM É como se nossa mente estivesse per-
é a fundação para a escrita e a leitura. que mantenha a criança interessada e petuamente dividida: realizamos nossas
Crianças que adquirem cedo uma boa engajada na conversa. atividades diárias mecanicamente, en-
habilidade de fala costumam demonstrar quanto o cérebro se ocupa de outras coi-
um desenvolvimento no aprendizado O QUE MUDA NO CÉREBRO QUANDO SE sas. Isso interfere até mesmo em nossas
da escrita e da leitura muito superior a PRATICA O MINDFULNESS ? relações. Podemos levar a esposa para
de colegas que não desenvolveram bem FLORA: Mindfulness se refere a um estado jantar, ou sentar no chão para brincar
essa habilidade. Além disso, incluir uma de atenção plena no momento presente. COM OS lLHOS  ACREDITANDO QUE ESTAMOS
linguagem descontextualizada ao falar A principal forma de se atingir esse es- lhes dando atenção quando, na verdade,
com a criança – uma linguagem que não tado é por meio da meditação. Em 2015, nossa mente simplesmente divaga pelas

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preocupações cotidianas, trabalho, con-
tas a pagar, assuntos a resolver. Estamos
presentes e, ao mesmo tempo, não esta-
MOS0ORISSO ADElNI¥ÎODEmindfulness é
um estado de atenção plena no momen-
to presente. É estar inteiro e presente
no que quer que você esteja fazendo em
dado momento.

COMO A TÉCNICA AUXILIA NO COMBATE


AO ESTRESSE OU À DEPRESSÃO?
FLORA: So b o po nto de vista da
neurociência, o estudo já citado, da Uni-
versity of British Columbia e da Chemnitz
IMAGENS: 123RF

5NIVERSITY OF 4ECHNOLOGY  VERIlCOU QUE


pessoas que participam de programas
de mindfulness apresentam um aumento *
IG
È
GG H 
G

G\I IG
coaching com as crianças,
de matéria cinzenta no hipocampo, uma o que resulta em pontos positivos para o desenvolvimento educacional e pessoal
área do cérebro que é recoberta por re-
ceptores de cortisol, o hormônio do es- O coaching O QUE É PSICOLOGIA POSITIVA E EM QUAIS
tresse. Isso as torna mais resistentes ao es- SITUAÇÕES ESSA PRÁTICA É INDICADA?
tresse. Por outro lado, pessoas que sofrem começa com um FLORA: Em 1998, o dr. Martin Seligman,
de estresse crônico e depressão tendem a como novo presidente da Associação
apresentar um hipocampo menor. Esses determinado objetivo. Americana de Psicologia, sustentou a tese
são importantes indícios de que a prática
do mindfulness pode deixar o cérebro mais
A seguir, é traçada de que a Psicologia não deveria ser apenas
o estudo de doenças e distúrbios mentais,
resistente ao estresse e à depressão. uma estratégia na mas também o estudo da força e da virtu-
de. A Psicologia deveria não apenas tra-
EM LINHAS GERAIS , QUAIS OS BENEFÍCIOS QUALSÎOIDENTIlCADAS TARAQUILOQUEESTÉDANIlCADOELADEVERIA
DO MINDFULNESS ? cultivar o melhor que temos em nós. Psi-
FLORA: Vários estudos indicam benefí- as ações necessárias cologia Positiva foi o nome concebido por
cios que vão do fortalecimento do siste-
ma imunológico à elevação da frequên-
PARAESSElM/S Seligman para designar esse novo campo
da Psicologia, que se atém ao princípio de
cia de emoções positivas, do aumento do resultados são que a Psicologia é muito mais do que um
foco à habilidade de relaxar em vez de se ramo da medicina focado em patologias.
concentrar ininterruptamente nas preo- monitorados para que Ela também deve abordar o trabalho, a
cupações. Como o mindfulness afeta áre- educação, o amor, o crescimento e o lúdi-
as do cérebro ligadas à autorregulação, SEPOSSACONlRMAR co. Ao invés de focar doenças, a ciência da
CONTROLE EMOCIONAL E EMPATIA  VERIlCA-
-se uma melhoria nos relacionamentos e
o sucesso da estratégia Psicologia Positiva enfatiza as qualidades,
VIRTUDESEPONTOSFORTESDASPESSOASFOCA
mais estímulos a atitudes compassivas e ou alterá-la coisas que fazem a vida valer a pena . Ela
altruístas. Estudos também sugerem que visa construir conhecimentos sobre quais
a prática de mindfulness em escolas reduz E SSA TÉCNICA PODE SER CONFUNDIDA ambientes contribuem para formar crian-
problemas comportamentais e a agres- COM A MEDITAÇÃO? ças mais sadias e felizes, funcionários
sividade entre os alunos. Experimentos F LORA: A meditação é uma prática que mais satisfeitos e cidadãos mais compro-
envolvendo a prática de mindfulness entre conduz ao mindfulness, isto é, a um esta- missados. Um grande número de pesqui-
presidiários registraram redução de raiva do de atenção plena no momento pre- sadores começou a aplicar os princípios
EDEHOSTILIDADEENTREOSDETENTOS%NlM  sente. As raízes do mindfulness se encon- da Psicologia Positiva às suas próprias
os benefícios são inúmeros e se estendem tram na meditação budista. Contudo, já áreas de estudo, desenvolvendo, assim,
a qualquer pessoa que se disponha a rea- existem práticas seculares de meditação novos corpos de conhecimento que aca-
lizar essa prática. voltadas para o mindfulness. baram por ampliar o seu alcance.

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in foco por Michele Muller

Por que as CRIANÇAS


precisam da FANTASIA
AS HISTÓRIAS FANTÁSTICAS MANTÊM AS CRIANÇAS
ATENTAS, FACILITAM A APRENDIZAGEM DE NOVOS
CONCEITOS E SÃO FUNDAMENTAIS PARA A
COMPREENSÃO DE COMO FUNCIONA O MUNDO REAL

Q
uando fadas com suas educativos aplicados em 154 crianças – deixando um objeto cair para tes-
varinhas mágicas, mons- em idade pré-escolar. Aquelas que tar a gravidade, por exemplo. Para
tros e heróis invencíveis tinham contato com os novos con- Weisberg, pensar sobre possibilida-
decidem invadir as es- ceitos por meio de contos realísticos des irrealistas pode também ajudar
colas, eles provam que de fato têm mostraram desempenho mais fraco na criação de contrastes informati-
superpoderes: ajudam na aprendi- na hora de explicar os signif icados vos que levam à compreensão das
zagem. O papel das histórias fan- dos vocábulos aprendidos. estruturas do mundo real.
tásticas na infância não se limita Essa fascinação das crianças por A partir dessa perspectiva, as his-
ao entretenimento. Elas trabalham acontecimentos extraordinários é tórias ganham função fundamental
a ling uagem de forma mais ef icaz evidente já nos primeiros meses de na construção do senso de realidade
que narrativas realísticas, aumentan- vida. No ano passado, pesquisadores – que pode começar com a certif i-
do a possibilidade da criança f ixar da Universidade Johns Hopkings, em cação de que objetos não f lutuam e
o novo vocabulário. Pode parecer Baltimore, testaram o efeito de even- bichos não falam e seg uir por ques-
contraditório, mas, justamente por tos mágicos sobre a atenção e as brin- tionamentos bem mais sof isticados
conta da violação das expectativas, cadeiras de 110 bebês de onze meses. que necessitam de contrapontos para
são também fundamentais para a Perceberam que tendem a olhar mais serem formados e esclarecidos.
compreensão das inúmeras possi- atentamente e por muito mais tempo Partindo da simples constata-
bilidades que a realidade apresenta. para um objeto quando ele desaf ia ção da necessidade do contato com
Os efeitos do mundo do faz de as leis da f ísica. A chance de ocor- o absurdo para se reconhecer o real,
conta sobre a cognição infantil vêm rer algo inesperado, que fere suas ex- podemos transferir para os heróis e
sendo investigados pela Neurociên- pectativas, naturalmente mantém as vilões dos contos de fada uma nova
cia com resultados reveladores. No crianças mais atentas – o que explica, responsabilidade: a de ensinar às
ano passado, pesquisadores da Uni- em parte, o sucesso das histórias fan- crianças a administrar seus próprios
versidade da Pensilvânia constataram tásticas na aprendizagem. medos. Talvez isso explique a popu-
que as crianças assimilam melhor um Mas a experiência com bebês re- laridade milenar das histórias uni-
vocabulário novo quando as palavras velou que a ação da fantasia no ima- versais carregadas de tragédias, bru-
são introduzidas em meio a histó- ginário infantil vai além do aspecto xas malvadas e f iguras assustadoras.
rias fantásticas. O estudo, liderado da atenção. Depois de assistirem a Podem ter cumprido um importante
pela professora Deena Weisberg, do uma cena em que algo desaparece papel no desenvolvimento das habi-
Instituto de Pesquisa em Ciências repentinamente ou f lutua, os be- lidades linguísticas das crianças, mas
Cognitivas, avaliou dois programas bês tendem a investigar a realidade dif icilmente foi essa a intenção dos

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OS EFEITOS DO
MUNDO DO FAZ
DE CONTA SOBRE
A COGNIÇÃO
INFANTIL VÊM SENDO
INVESTIGADOS PELA
NEUROCIÊNCIA
COM RESULTADOS
REVELADORES,
COMO A
NECESSIDADE DO
CONTATO COM O
ABSURDO PARA
LIDAR COM O MEDO

Andersen, irmãos Grimm e tantos


outros que evitaram poupar seus lei-
tores do contato com desgraças fan-
tásticas. A fascinação inata das crian-
ças pelos horrores e aventuras que o
mundo imaginário oferece pode nas-
cer de uma necessidade de dar forma
ao impossível para saber reconhecê-
-lo antes que ele se torne medo.
Ainda bem que a força das histó-
rias populares é grande a ponto de
sobreviver em uma época na qual as
crianças são protegidas de tudo: das
brincadeiras que trazem um mínimo
risco, dos objetos cortantes, das pro-
fessoras bravas e de qualquer frustra-
ção e tristeza.
Muitos contos clássicos já ganha-
ram versões suavizadas e muitos de-
senhos perderam seu humor negro
para garantir que a infância acon-
teça toda num mundo cor-de -rosa. maravilhas da ling uage m e lhe s mos- o irreal para ter seg urança no mundo
Mas se as crianças continuam bus- tram o que muitos pais e professo- real, da mesma forma como o conta-
cando representações extremas do res ignoram: que é preciso conhecer to com a frustração é essencial para
bem e do mal nas histórias fantásti- para disting uir. É preciso descobrir o reconhecimento da satisfação.
cas, não estranhem: instintivamente,
123RF E ARQUIVO PESSOAL

elas buscam referências. E muitas


vezes encontram nas histórias mais Michele Müller é especialista em Neurociências e Neuropsicologia da
extraordinárias e sombrias, que as Educação. Pesquisa e cria ferramentas para o desenvolvimento da
linguagem. É autora do blog www.leituraesentido.blogspot.com
mantêm atentas, que as ensinam as

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supervisão Por Ricardo Wainer

Sob o FIO DA NAVALHA


O TRABALHO PSICOTERÁPICO NOS APRESENTA, VEZ POR
OUTRA, ALGUNS DILEMAS ÉTICOS E MORAIS COMPLEXOS E QUE
EXIGEM POSICIONAMENTO RÁPIDO E FIRME DO TERAPEUTA

A
prática terapêutica envol- nesse último quesito que este artigo luto, como fazer quando o compor-
ve cuidado com o sigilo foca sua discussão. tamento do paciente indicar riscos
prof issional e ético. Para A garantia do sigilo de todas as iminentes?
aqueles que têm uma prá- informações trazidas ao consultório é Esse tópico é motivo de discus-
tica prof issional direcionada a pa- ANUNCIADA PELO PROlSSIONAL NO PRIMEI- sões e de importantes divergências
cientes com comportamentos antis- ro encontro da díade terapêutica, como entre organizações prof issionais que
sociais, então, é muito mais comum uma condição primordial para que o reg ulam o trabalho dos prof issionais
o enfrentamento de situações limi- paciente sinta que o ambiente terapêu- da saúde, e também dos departa-
tes, como a perspectiva do cliente tico é um espaço seguro para ele expor mentos de justiça mundo afora. Para
atentar contra a vida de outros ou SUASDIlCULDADESDAFORMAMAISHONES- se ter uma ideia das disparidades,
incorrer em outras práticas ilícitas. ta e despida de medos de qualquer tipo somente nos EUA cada estado tem
Os constituintes essenciais de de julgamentos morais possível. legislações distintas relativas a esse
qualquer psicoterapia são: o pa- No trabalho com pacientes com assunto.
ciente (ou cliente), o psicoterapeuta comportamentos, ou com tendên- De modo geral, as orientações
(devidamente autorizado e reg ula- cias de personalidade antissociais, quanto à postura dos prof issionais
mentado), o processo terapêutico nasce o dilema ético de como pro- nas situações de condutas ilícitas
(com suas distintas teorias e metas) ceder quando é anunciado para o de seus clientes têm dois princípios
e a relação terapêutica. É justamente psicólogo/psiquiatra alg um crime que são aceitos sem muitas contro-
pelos princípios intrínsecos da rela- ou contravenção. Se a relação tera- vérsias: 1) quando for anunciado ao
ção terapêutica que o encontro entre pêutica se baseia na total conf iança prof issional ou crime ou contraven-
psicoterapeuta e paciente(s) acaba do paciente de que tudo que ele dis- ção que já ocorreu (no passado), a in-
por se diferenciar de qualquer outra ser na sessão f icará em sigilo abso- formação deve se manter em sigilo,
forma de interação humana.
Independentemente da aborda-
gem teórica do prof issional, a rela- INDEPENDENTEMENTE DA ABORDAGEM
ção terapêutica se alicerça nos prin-
cípios do respeito pelo ser humano,
TEÓRICA DO PROFISSIONAL, A RELAÇÃO
pela empatia do psicoterapeuta pelo TERAPÊUTICA SE ALICERÇA NOS PRINCÍPIOS
sofrimento do paciente (evitando DO RESPEITO PELO SER HUMANO, PELA
julgamentos de ordem moral ou re-
ligiosa) e pelo sigilo absoluto dos
EMPATIA MÚTUA E PELO SIGILO ABSOLUTO
conteúdos trazidos em sessão. É DOS CONTEÚDOS TRAZIDOS EM SESSÃO
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pois nada pode ser feito para rever- com pacientes antissociais, ou mes- tal anúncio levará o paciente a res-
ter o que foi cometido; 2) quando o mo aqueles com riscos de condutas tringir a informação. Isso pode até
paciente relatar a intenção/plano de parassuicidas e/ou suicidas, é anun- ocorrer, mas é imprescindível que o
cometer conduta antissocial, o tera- ciar ao cliente no estabelecimento paciente compreenda que o psicote-
peuta deve tentar dissuadi-lo do ato do contrato terapêutico (nas sessões rapeuta é um ser humano que está
(com todos os recursos e auxílios iniciais) que, caso ele (o prof issio- ali para ajudá-lo a evoluir e a apren-
possíveis); mesmo que para isso te- nal) perceba elevado risco de alg u- der estratégias mais adaptativas
nha que anunciar ao paciente que o ma ação contra a vida do paciente para lidar com o sofrimento inerente
sigilo prof issional será quebrado em ou a vida de outro(s), terá de utilizar ao viver. Mas que, ao mesmo tempo,
respeito ao direito natural (direito de todos os recursos para evitar isso, esse mesmo terapeuta tem direitos
à vida). Reparem que isso traz con- inclusive sendo a única situação em e deveres e não deve assumir uma
sequências de grande magnitude: o que o sigilo poderá ser quebrado. condição de cúmplice em comporta-
risco do paciente voltar-se contra o Há defensores e opositores a essa mentos que vão no sentido oposto à
terapeuta, ou ainda a possibilidade medida. Os opositores dizem que saúde mental.
de ele acusar o terapeuta de calúnia
e difamação (caso não venha a co- Ricardo Wainer é doutor em Psicologia, especialista em Terapia do Esquema,
meter o ilícito). com treinamento avançado pelo New York Schema Institute, e supervisor
123RF / ACERVO PESSOAL

credenciado pela International Society of Schema Therapy. Pesquisador em


Uma medida preventiva de gran-
Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e em Ciências Cognitivas. Professor titular
de serventia e que também deve ser da Faculdade de Psicologia da PUC–RS. Diretor da Wainer Psicologia Cognitiva.
adotada por todos aqueles que lidam

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psicopositiva por Lilian Graziano

Sobre a FELICIDADE
e a “barriga de tanquinho”
NÃO. DEFINITIVAMENTE QUERER NÃO É PODER. RESTA SABER ENTÃO
O QUE FAZER PARA CONSEGUIRMOS ATINGIR NOSSOS OBJETIVOS

P
ode pergunta r. Pelo menos muito provavelmente uma bela bar- diz a sa bedoria popula r, querer NÃO
na cultura ocidental, onze riga de tanquinho! é poder!
em cada dez pessoas gosta- Se essa é uma preferência de boa Quero tocar piano desde os 7 anos
ria m de ter ba rriga de ta n- pa rte da s pobres criatura s submeti- de idade e – adivinhe só – isso nunca
quinho. Brincadeiras à parte, é bem das, sim, aos padrões de beleza oci- fez com que eu fosse capaz de tocar
verdade que, se pudéssemos determi- dentais, ditadura da magreza, culto uma nota sequer. “É porque você não
na r nossa apa rência f ísica de ma nei- ao corpo e blá-blá-blá, por que não deseja de verdade!” – diriam as men-
ra tão simples qua nto cria mos hoje nos depa ra mos com uma legião de tes simplistas.
um avata r no videoga me, a gra nde beldades no metrô, na ruas, no tra- Quero, sim! O desejo é meu e so-
maioria de nós exibiria corpos es- balho etc.? Resposta: Em primeiro mente eu conheço a sua intensida-
beltos, musculatura def inida e, sim, lugar porque, ao contrário do que de (embora meus alunos, amigos e

18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br


NAS BANCAS!
familiares também devam ter passado a PARA ALCANÇAR O
conhecê-la a partir da milésima vez que
DESENVOLVIMENTO
me ouviram suspirar dizendo: “Puxa, eu
queria TANTO tocar piano!”). DA MUSCULATURA
Compreendamos então o que NÃO EXISTEM
acontece. Meu desejo de tocar pia-
no é grande, é intenso e verdadeiro.
ATALHOS. É TREINO
Só não é maior do que minha paixão E PONTO. ANSEIO
PELO MEU TRABALHO )SSO SIGNIlCA QUE PELO DIA EM QUE AS
embora deseje tocar piano, não estou
determinada a dispor do meu tempo
PESSOAS SAIBAM QUE,
para aprendê-lo. Isso porque, conside- EM SE TRATANDO
rando que o tempo é uma questão de DE FELICIDADE,
prioridade, seria preciso que eu abrisse
mão de coisas relativas ao meu traba- ACONTECE O MESMO
lho (leituras, preparação de aulas, cur-
sos, consultorias, escrever artigos etc.) dade da pergunta) prontamente respon-
para ceder espaço não apenas às aulas dem: “Faça aulas de piano, ué!”.
de música, mas ao necessário estudo Ainda que não se deem conta, em
que deve acompanhar qualquer pes- TERMOSNEUROlSIOLØGICOS ELESESTÎOME
soa que espera aprender a tocar um dizendo que eu devo, por meio do trei-
instrumento. É exatamente isso que no (aula), criar uma rede neural (que
acontece com relação à famigerada hoje eu não tenho) que me capacite a
barriga de tanquinho. A maioria quer, tocar piano.
MASDElNITIVAMENTENÎOESTÉDISPOSTA Eles não entendem aonde preten-
a passar horas na academia em nome do chegar com o cansativo exemplo
desse desejo. do piano até que lhes digo: Por que
Acho interessante, no entanto, que em relação à felicidade seria diferente?
NÎOÏPRECISOSERESPECIALISTAEMlSIOLO- Se eu quero ser feliz devo treinar meu
gia do exercício para saber que muscu- cérebro para isso. Sair por aí pergun-
latura só se adquire puxando ferro. Os tando às pessoas o que devo fazer para
CONHECIMENTOSCIENTÓlCOSSOBREOTEMA aprender a tocar piano é tão patético
tornaram-se tão populares que até mes- quanto dizer: “Como eu faço para ser
mo os que querem “trapacear” tomando mais otimista?” “Mais grato?” “Apren-
anabolizantes sabem que devem fazer a der a perdoar?” e é claro: “Como eu
sua parte, literalmente suando a camisa. faço para ser feliz?”.
Para desenvolvimento da muscu- A resposta a toda s essa s pergunta s é
latura não existem atalhos. É treino e uma só: treino.
ponto. Anseio pelo dia em que as pes- É por isso que eu digo que, assim
soas saibam que, em se tratando de feli- como acontece em relação à barriga de
cidade, acontece o mesmo. tanquinho, nem todos “merecem” a fe-
Quando em meus cursos peço aos licidade. Porque, dentre todos que a de-
alunos um conselho acerca do que de- sejam, existem aqueles que trabalham
VERIAFAZERPARA lNALMENTE APRENDERA diariamente por ela. A esses poucos é
tocar piano, eles (estranhando a obvie- que os prêmios estão destinados.

Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão
123RF / ACERVO PESSOAL

em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora


universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento,
onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área.
graziano@psicologiapositiva.com.br

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www.escala.com.br
psicopedagogia por Maria Irene Maluf

hij
BILINGUISMO
klm
nop
e aprendizagem
qrstu
A EXPERIÊNCIA BILÍNGUE É
EXTREMAMENTE RICA PARA CRIANÇAS JÁ
NA PRIMEIRA INFÂNCIA E SEUS BENEFÍCIOS
SE PERPETUAM AO LONGO DA VIDA, TAIS
COMO MAIOR FACILIDADE DE MONITORAR
MUDANÇAS E APRENDER NOVAS LÍNGUAS

H
oje é perfeitamente aceito da Universidade McGill, no Canadá,
PELO MUNDO CIENTÓlCO E PELA descobriram por meio de testes ver-
sociedade em geral que o bais e não verbais que os bilíngues
multilinguismo seja, além de apresentavam rendimento superior em
uma condição natural, uma situação vários quesitos padronizados. Mas sua
muito proveitosa para o desenvolvi- descoberta logo caiu no esquecimento
mento geral da criança, mas nem sem- até que inovações tecnológicas permi-
pre foi assim. tiram analisar os cérebros de recém-
No século XIX, alguns estudiosos -nascidos em seus primeiros encontros
AlRMAVAMQUEESSAPRÉTICACONFUNDIAAS com a linguagem. fato ainda ajuda as crianças bilíngues a
crianças e poderia prejudicar seu apren- Constatou-se então que todos os aprenderem outros idiomas facilmente
dizado e desenvolvimento intelectual. bebês nascem com capacidade para pelo resto da vida.
Foi em 1960 que os psicólogos falar qualquer língua humana e são Além de uma necessidade social e
Elizabeth Peal e Wallace Lambert, capazes de diferenciar sons de todos acadêmica, o domínio de mais de um
os idiomas. idioma hoje está se tornando impor-
Mas perto dos 12 meses de vida, tante do ponto de vista educacional
a maioria perde essa capacidade: a por um novo motivo: comprovada-
exceção justamente está nos bebês mente os bilíngues demonstram, em
de famílias bilíngues, os quais ainda estudos internacionais, possuírem
mostram um aumento de atividade maior atividade neuronal nas áreas
neurológica quando ouvem línguas pré-frontais do cérebro, relacionadas
totalmente desconhecidas ao f inal de às funções executivas, indispensáveis
seu primeiro ano. para o aprendizado acadêmico (Ellen
A neurocientista norte-americana Bialystok, Universidade York de To-
Laura Ann Petitto, da Gallaudet Uni- ronto, 2003).
VERSITY AlRMAQUEAEXPERIÐNCIABI- Tal sistema é fundamental para

q r s t u v x z
língue impede que a criança praticamente tudo que fazemos, é pró-

n o p abcdefghij
perca a capacidade de enten- prio do cérebro humano e nos con-

l m
der sons de outras línguas. O fere principalmente três importantes

20 psique ciência&vida

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ESTUDOS COMPROVAM QUE OS

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BILÍNGUES POSSUEM MAIOR ATIVIDADE
NEURONAL NAS ÁREAS PRÉ-FRONTAIS

klm n o
DO CÉREBRO, RELACIONADAS ÀS FUNÇÕES
EXECUTIVAS, INDISPENSÁVEIS PARA
O APRENDIZADO ACADÊMICO
habilidades: a memória operacional, gem e no desenvolvimento cognitivo

hij
A mEXIBILIDADE E A INIBI¥ÎO COGNITIVA geral, até porque a necessidade diá-

fe g
De modo geral, podemos dizer que ria de alterar o uso de idiomas
memória operacional ou de trabalho permite melhorar as habilida-
é aquela responsável de sustentar e des de função executiva de for-

c d
ab
manipular informações mentalmente ma rotineira.
pelo espaço de tempo necessário para Ao se comparar a resposta cerebral Saber falar em duas ou mais línguas
compreendermos e elaborarmos um
trecho de leitura, um texto, um diálo-
em estudos com imagem computado-
rizada, percebeu-se que os bebês de
v x z
traz vantagens de muitas ordens: a ca-
pacidade de monitorar melhor as mu-
go, o enunciado de um problema etc.
Flexibilidade cognitiva é a habili-
dade que facilita a adaptação do indi-
famílias monolíngues e de famílias bi-
língues apresentavam diferenças per-
ceptíveis em seu córtex pré-frontal e
opqrs t u danças do ambiente ao seu redor, por
exemplo, é uma delas. Outra vantagem
de dominar idiomas diferentes, espe-
víduo a diferentes contextos, e a inibi- orbitofrontal, sendo que nos bebês bi- cialmente dentro de uma família bilín-
ção, também chamada de autocontrole, língues a atividade neural era superior, gue, é a facilidade para conhecer várias
corresponde à capacidade de bloque- mais preparada para aprender sons de culturas de uma maneira natural.
ar um comportamento inadequado, vários idiomas. Perceberam que até os As vantagens do bilinguismo po-
que nos permite inibir a atenção a seis meses as crianças diferenciam sem dem alcançar as habilidades sociais:
detratores, estando assim relacionada problemas sons de um idioma estran- Paula Rubio-Fernández e Sam Glu-
k lm n

ao foco atencional. geiro e os bilíngues continuam a ter cksberg (Universidade de Princeton,


As funções executivas, tal como essa capacidade aos 11 meses, mas os nos Estados Unidos) descobriram que
também a linguagem, outra importan- monolíngues não (Patricia Kuhl, 2016). indivíduos bilíngues são mais capazes
te habilidade cognitiva, estão na base de se imaginar no lugar dos outros,
de todo desenvolvimento cognitivo, entender o ponto de vista alheio, pois
hij

acadêmico, social, e prejuízos nessas têm mais facilidade de neutralizar as


áreas podem marcar todo o desenvol- informações que já conhecem.
vimento da criança. Os efeitos do bilinguismo também
efg

Um estudo recente da Universida- se estendem até a velhice. Em um es-


de de Granada, na Espanha, também tudo recente com 44 idosos bilíngues
cd

divulgou que os bilíngues utilizam em espanhol-inglês, cientistas desco-


mecanismos de atenção muito mais briram que os indivíduos com maior
ab

z
vezes do que os monolíngues e são PROlCIÐNCIAEMCADAIDIOMAERAMMAIS

x
capazes de trabalhar melhor em situ- resistentes do que os outros idosos para

v
ações de tomada de decisão e em situ- o aparecimento de demência e outros

u
ações de distração: o bilinguismo sintomas da doença de Alzheimer
incrementa a memória e desenvol- (Tamar Gollan, da Universidade da

r s
ve a atenção, além de aumentar o Califórnia, San Diego).
t

pq
autocontrole.
Segundo Naja F. Ramirez, da

o
Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e

n
123RF/ ARQUIVO PESSOAL

Universidade de Washington e auto- Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de

klm
ra principal do estudo publicado no Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É editora da revista Psicopedagogia da

j Developmental Science, o bilinguismo ABPp e autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso
de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br
inf lui no desenvolvimento da lingua-

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utilidade pública Por Roberta de Medeiros

DELÍRIOS da PAIXÃO

COMO RECONHECER A PAIXÃO DOENTIA QUANDO A


CONVICÇÃO DELIRANTE DA RELAÇÃO AMOROSA PARECE
TÃO REAL. O COMPORTAMENTO DE FIXAÇÃO AMOROSA
É PERIGOSO E PRECISA DE CUIDADOS

O
psiquiatra francês De 0OR OUTRO LADO  OS OBJETOS DE AMOR Há casos em que o amor fantasioso
Clèrambault descreveu o pro- delirante (na realidade ou em fantasia), se desenvolve a partir de um único e es-
blema como uma síndrome SÎO SEMPRE SUPERIORES EM INTELIGÐNCIA  PECÓlCOINCIDENTEnOQUEJÉÏSUlCIENTE
de emoções doentias que pas- POSI¥ÎO SOCIAL  APARÐNCIA FÓSICA  AUTORI- para que a pessoa se convença do amor
sa pelos estágios de esperança, despeito DADE OU UMA COMBINA¥ÎO DESSAS QUA- QUESENTEPORSEUOBJETO!LIMENTA SEA
e rancor. A fase de rancor seria a mais lidades. Quase sempre o amor doentio crença de que ele iniciou o caso de amor
importante delas. Após sofrer diversos si- pode ser visto como um meio de prote- a partir de olhares, mensagens cifradas,
NAISDEREJEI¥ÎO APESSOABUSCASEVINGAR GEROSUJEITOQUEOSENTECONTRAUMPRO- MENSAGENSDEJORNAL DETELEVISÎOOUATÏ
DOOBJETODESEUAMOR PODENDOTRANSFE- FUNDOEDOLOROSOESTADODESOLIDÎO mesmo telepáticas.
rir suas retaliações para terceiros. %MBORAATOSFÓSICOSOUSEXUAISSEJAM ! PESSOA PODE ATÏ REJEITAR O OBJETO
Pessoas que alimentam esse tipo de incomuns, essas pessoas podem trazer DOSEUAMOR PORÏM OACEITAESEAPAI-
FANTASIASÎORESERVADAS SOCIALMENTEINEX- grandes conturbações às suas vítimas. O xona por ele de maneira obsessiva. A
PRESSIVAS SOLITÉRIAS  MUITAS SÎO PRIVADAS inconveniente varia de chamadas telefô- despeito de vigorosas negações da outra
de contato sexual por anos, a maioria ocu- nicas no meio da noite a declarações de pessoa, a fantasia de estar sendo amado
pa cargos subalternos, e, em muitos casos, amor em ambientes públicos. A pessoa persiste por anos, havendo necessidade
SÎOPOUCOATRAENTES%SSEPERlLPODERE- PODE DESEJAR TER RELA¥ÜES SEXUAIS COM de hospitalizações ou de ações legais
sultar numa personalidade hipersensível, O OBJETO DE SEU AMOR DELIRANTE /S HO- QUE IMPE¥AM A PERSEGUI¥ÎO DA VÓTIMA
SHUTTERSTOCK

EM DESCONlAN¥A ACENTUADA OU ASSUMIDA MENSTENDEMMAISÌPERSEGUI¥ÎODOQUE pelo paciente.


SUPERIORIDADEEMRELA¥ÎOAOSOUTROS as mulheres. O paciente crê no intenso amor que

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UM FATOR QUE CONTRIBUI PARA
A MANUTENÇÃO DOS DELÍRIOS É A
RIGIDEZ COGNITIVA, QUE PODE RESULTAR super
guia de
NUMA DIFICULDADE EM ALTERAR
DETERMINADO SISTEMA DE CRENÇAS

estudo
a outra pessoa tem por ele, ao mesmo meio poderiam ser causadas por anorma-
tempo em que preserva certo senso de LIDADES LÓMBICAS / CONTEÞDO ESPECÓlCO
INOCÐNCIA AO CONSIDERAR QUE O OBJETO do delírio, entretanto, seria determinado
DESEUAMORJAMAISSERÉFELIZSEMASUA pela cultura e pelas experiências pessoais
companhia. de cada paciente.
Quem sofre com esse amor geral- O desenvolvimento dos delírios pode
mente racionaliza a conduta da pessoa ORIGINAR SEDEPERCEP¥ÎOOUINTERPRETA-
QUEELEGEINTERPRETAASREJEI¥ÜESQUESO- ¥ÎOANORMAISDOMEIO MASAMANUTEN-
FRE COMO AlRMA¥ÜES SECRETAS DE AMOR  ¥ÎO DE UMA CREN¥A DELIRANTE  EM FACE
TESTESDElDELIDADEOUTENTATIVASDEDES- de informações distorcidas, tem sido
pistar outras pessoas de seu “romance”. ATRIBUÓDAAUMFUNCIONAMENTODElCIEN-
0ENSAM QUE SÎO AMADOS POR UM BOM TEDOSISTEMAFRONTAL/LOBOPRÏ FRONTAL
TEMPO  QUANDO ENTÎO RENUNCIAM A ESSE desempenha um importante papel nos
amor para reiniciar suas fantasias com testes de realidade.
outra pessoa. Um fator que pode contribuir para a
Existe um potencial para comporta- MANUTEN¥ÎODOSDELÓRIOSÏARIGIDEZCOG-
mento violento e vingativo, com taxas de NITIVA  SURGIDA DE DISFUN¥ÎO FRONTAL SUB-
comportamento agressivo chegando a CORTICAL AQUEPODERESULTARNUMADIlCUL-
57% em amostras de homens que foram dade em alterar determinado sistema de
diagnosticados com esse tipo de pro- crenças. Disfunções nessas mesmas áre-
blema. Apesar de haver poucos estudos as têm sido associadas a outros tipos de
sobre o tema, alguns pesquisadores su- DELÓRIOS 4AMBÏM lCOU CONSTATADO QUE
GEREMQUEASUAFREQUÐNCIANÎODEVASER pessoas que sofriam com esse problema

PREPARE-SE!
CONSIDERADATÎOBAIXAQUANTOSEACREDITA tinham um comprometimento maior do
!S CAUSAS PODEM VARIAR $ÏlCITS NO HEMISFÏRIOCEREBRALDIREITO
FUNCIONAMENTO DA VISÎO ESPACIAL OU LE- ! INTEGRIDADE DESSAS FUN¥ÜES Ï CRÓ-
sões no sistema límbico, particularmen- tica para o reconhecimento das inter-
TE NOS LOBOS TEMPORAIS  EM COMBINA¥ÎO pretações delirantes, que ocorrem, com Planejado por docentes
com experiências amorosas ambivalentes maior probabilidade, em pacientes priva- especializados na produção
e de isolamento afetivo, poderiam contri- DOSDERELACIONAMENTOSÓNTIMOS PORÏM 
de exames vestibulares,
buir com as interpretações delirantes. E a altamente motivados a tais experiências.
FALTADEmEXIBILIDADECOGNITIVAFARIACOM %SSE DESEJO POR RELACIONAMENTO PODE o INTENSIVÃO traz uma
que esses delírios persistissem. ser contrabalançado por temores de re- seleção de questões
O sistema límbico medeia a interpre- JEI¥ÎOEDEINTIMIDADE atualizadas, além de dicas
TA¥ÎO DO AMBIENTE AO ACRESCENTAR UMA / AMOR PATOLØGICO Ï PERIGOSO E NE-
resposta afetiva aos estímulos externos. cessita de tratamento psicológico e muitas
infalíveis para se dar bem
Assim, interpretações inadequadas do vezes medicamentoso. Fique alerta. na redação.

Nas bancas ou acesse


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HG
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¢G dHG:I I G²G :I

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ENVELHECIMENTO

TCC descobrindo
os IDOSOS
A terapia
terapia cognitivo-
cognitivo-
-comportamental
-comportamental (TCC) (TCC)
para
para a tterceira
erceira iidade
dade
necessita
necessita d dee uum
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maior
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no futuro
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condições
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incluir, de
de forma
forma
  ‚IG G9G
  ‚IG G9G
parcela
parcela da
da p população
opulação
nas
nas pesquisas
pesquisas
e eestudos
studos

Por Eduarda Rezende Freitas,


Altemir José Gonçalves Barbosa e
Carmem Beatriz Neufeld

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Eduarda Rezende Freitas é psicóloga, mestre e doutoranda
em Psicologia. Possui formação em Terapia Cognitivo-
Comportamental. Membro da diretoria da Associação de
Terapias Cognitivas de Minas Gerais (ATC-Minas), membro do
Centro de Pesquisa sobre Desenvolvimento e Envelhecimento
(Cepeden) e do Laboratório de Pesquisa e Intervenção
Cognitivo-Comportamental (LaPICC-USP).
Altemir José Gonçalves Barbosa é psicólogo, mestre em
Psicologia Escolar e doutor em Psicologia. Professor do
Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), coordenador do
Centro de Pesquisa sobre Desenvolvimento e Envelhecimento
(Cepeden) e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq.
Carmem Beatriz Neufeld é psicóloga, mestre e doutora em
Psicologia, professora e orientadora do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia do Departamento de Psicologia da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da
USP. Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Intervenção
Cognitivo-Comportamental (LaPICC-USP). Vice-presidente
da Associação Latino-Americana de Psicoterapias Cognitivas
(gestão 2015-2018).
123RF

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ENVELHECIMENTO

A
terapia cognitivo-com- pesquisas empíricas, caracterizado
portamental (TCC) é pela exigência de controles rigorosos,
uma modalidade tera- análises estatísticas, integridade e cre-
pêutica com duração dibilidade no tratamento de dados e as-
limitada, focada no pro- sim por diante, dos behavioristas. Por
blema e que tem sido aplicada – com outro lado, adotou muitos conceitos
sucesso – a uma extensa variedade profícuos dos cognitivistas (Rachman,
de problemas (Becker, Sanchez, Cur- 2015). Tornou-se, desse modo, uma
ry & Tonev, 2008; Thoma, Pilecki & das formas mais extensivamente pes- ŒLiteratura Œ
McKay, 2015). Apesar de sua breve quisadas de terapia (Butler, Chapman, Recentemente foi publicada pela Sinopsys
Editora a obra Terapias Cognitivo-Com-
história, a TCC é amplamente prati- Forman & Beck, 2006) e que é capaz
portamentais com Idosos (Freitas, Barbosa
cada no planeta (Thoma et al., 2015), de ser bem-sucedida para uma ampla & Neufeld, 2016). Ela é composta por tex-
consolidando-se na América do Nor- gama de demandas, como transtornos tos que contribuem para a formação inicial
te, em vários países da Europa, espe- do humor (depressão, por exemplo), e continuada de terapeutas, uma vez que,
cialmente na Grã-Bretanha, na Aus- transtornos de ansiedade (como sín- preocupantemente, parte significativa dos
cursos brasileiros de graduação e pós-
trália (Rachman, 2015) e no Brasil. drome do pânico), transtornos de per-
-graduação das áreas “psi” negligencia ou,
Parte do sucesso dessa abordagem sonalidade, transtornos alimentares, até mesmo, não inclui temas sobre a ve-
integradora, isto é, que combina técni- abuso de substâncias, esquizofrenia, lhice em seus currículos, formando, desse
cas de psicoterapia cognitiva e terapia insônia e distúrbios comportamen- modo, profissionais que não estão efetiva-
comportamental, pode ser atribuída ao tais de adolescentes e crianças (Briki, mente preparados para atuar com idosos.
seu rigor metodológico e teórico. No 2015; Thoma et al., 2015). Hoje em dia,
processo de fusão dessas duas moda- com o aumento da demanda por trata-
lidades terapêuticas, a TCC, por um mentos baseados em evidências para sistemas de saúde públicos e privados
lado, incorporou o estilo de realizar garantir a “eficácia” e a “eficiência”, os mais e mais frequentemente endos-
sam tratamentos cognitivos (Korman,
Parte do sucesso dessa abordagem, Viotti & Garay, 2015), como a TCC.
Recentemente, Thordarson e Frie-
que pode ser considerada integradora, isto dberg (2014) fizeram uso da audaciosa
é, que combina técnicas de psicoterapia exclamação (“Ao infinito... e além!”)
do personagem Buzz Lightyear, da
cognitiva e terapia comportamental, seria Disney/Pixar, para retratar as contri-
atribuída ao seu rigor metodológico e teórico buições da TCC para crianças e jovens.
Paradoxalmente, essa frase sinaliza
uma força dessa abordagem terapêuti-
ca – ser bem-sucedida no tratamento
de um amplo leque de demandas apre-
sentadas por crianças, adolescentes e
jovens adultos – e uma de suas limi-
tações: apresentar poucas evidências
de eficiência e eficácia para idosos.
Considerando que o envelhecimento
da população mundial é um processo
inegável e irreversível, a frase “Você
vai precisar de um barco maior!”, dita
por Brody – um personagem do filme
Tubarão – ao constatar o tamanho do
animal que pretendiam capturar, tam-
bém se aplica à TCC. Ela precisará, nas
próximas décadas, de uma “embarca-
G
G
G

G G‚I 
G
GIGG G9 ção” maior, que seja capaz de incluir
de personalidade, abuso de substâncias, esquizofrenia, entre outros de modo expressivo os idosos entre as

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A TCC, por um PARA SABER MAIS

lado, incorporou VELHICE POSITIVA E SAUDÁVEL


o estilo de
realizar pesquisas
É fato que o processo de envelhecimento acontece de maneira constante e
restringe certas atividades físicas e condições psíquicas. Portanto, o gran-
de desafio das pessoas e dos especialistas é fazer com que esse momento
empíricas, da vida seja levado de uma forma positiva e, acima de tudo, saudável. As
limitações psicológicas mais relevantes na fase do envelhecimento são a sen-
caracterizado sação de não pertencimento que atinge a maioria dos idosos, dificuldade no
pela exigência de planejamento do futuro, adaptação a mudanças, desmotivação em relação a
tudo e perda de contato social, especialmente provocado pela aposentadoria.
controles rigorosos, Diante desse cenário, a depressão é uma das consequências mais frequentes,
análises estatísticas, problema este que pode ser gerado por baixa autoestima e autoimagem,
medo, ansiedade e insegurança. É justamente a partir desse ponto que a tera-
integridade e pia assume uma importância fundamental, pois oferece ao idoso amplas con-
credibilidade no dições de promover um momento de reflexão e de encontro consigo mesmo,
melhorando a confiança e ajudando a valorizar as próprias conquistas obtidas
tratamento de ao longo da vida. A prática terapêutica age como uma forma de propiciar que
dados. Por outro, o idoso consiga falar sobre seus medos e inseguranças, com tranquilidade e
sem ser julgado ou criticado.
adotou muitos
conceitos profícuos
plicações econômicas (como maior 2015; Camarano, Kanso & Fernan-
dos cognitivistas quantidade de pensionistas), sociais des, 2013; Robalo, 2010; Villas-Boas,
(como convivência entre várias gera- Oliveira, Ramos & Montero, 2015).
coortes etárias alvo de suas pesquisas e ções e mais idosos vivendo em insti- Assim, o envelhecimento popu-
desenvolvimentos. tuições de longa permanência) e de lacional gera novos desafios para os
Os idosos são, segundo o Institu- saúde (por exemplo, maior quantida- profissionais “psi”. Dentre eles, men-
to Brasileiro de Geografia e Estatísti- de de gastos com medicações e tra- cionam-se algumas perdas cognitivas
ca (IBGE) (Ervatti, Borges & Jardim, tamentos e aumento de transtornos que acometem mais frequentemente
2015), o segmento populacional que mentais e doenças crônicas na popu- a população idosa, os transtornos de
mais tem aumentado no Brasil. As ta- lação) (Barreto, Carreira & Marcon, ansiedade e a depressão.
xas de crescimento ultrapassam 4% ao
ano no período de 2012 a 2022. Em
2000, 14,2 milhões de brasileiros ti-
nham 60 anos ou mais. Transcorridos
dez anos eram 19,6 milhões de pesso-
as na velhice, sendo que essa coorte
etária deve contar, em 2030, com 41,5
milhões de indivíduos e, em 2060,
com 73,5 milhões. Espera-se, para os
próximos dez anos, um incremento
médio de mais de 1 milhão de idosos
anualmente. Dessa forma, “o Brasil
está envelhecendo”.

Implicações
O envelhecimento populacional
não pode ser entendido como
IMAGENS: SHUTTERSTOCK

uma “simples” mudança demográfica.


O aumento da população de idosos De acordo com levantamento do IBGE, os idosos pertencem ao segmento populacional que mais tem
gera, por exemplo, uma série de im- aumentado no Brasil

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ENVELHECIMENTO

PARA SABER MAIS

TÉCNICAS ALTERNATIVAS PODEM


SER DE GRANDE AJUDA
Q ue o corpo – no sentido mais amplo – necessita de cuidados redobra-
dos para acompanhar, de forma saudável, todas as transformações que
ocorrem quando a idade vai chegando não é novidade. No entanto, os recur-
Uma frase do
personagem Buzz
Lightyear foi usada
sos eficazes para envelhecer com saúde e vitalidade, oriundos das terapias GGI‚G
alternativas, podem ser ótimas opções para quem deseja administrar bem benefícios da terapia
as naturais fraquezas da chamada terceira idade, para, assim, enfrentar essa cognitivo-
-comportamental:
fase com mais alegria e disposição. Existem diversas técnicas e práticas que,
p ‚ :::
bem utilizadas, podem ajudar a equilibrar a mente e o corpo dos idosos, e além!”
facilitando a superação de problemas e dificuldades de maneira natural. Uma
das mais difundidas é o pilates, que auxilia na aquisição ou manutenção de
um alinhamento corporal mais adequado, coordenação motora, força, aumen-
tando a autoestima. Outras possibilidades são o shiatsu e o reiki, que podem O “ageísmo”
contribuir no combate a problemas como artrite, dores lombares, artrose, merece destaque
depressão e ansiedade. São massagens feitas usando a pressão dos dedos em
pontos de tensão. Existem algumas não muito conhecidas, mas que também por ser um
têm sua importância, como a aromaterapia e a cromoterapia. A aromaterapia, fator que,
baseada na aplicação de óleos essenciais, pode ser uma boa opção no com-
bate à insônia, problemas de memória e carência afetiva. Já a cromoterapia, historicamente,
que trabalha com o elemento cor, amplia as chances de o idoso estabelecer a tem contribuído
harmonia da mente, do corpo e das emoções.
para que pouca
atenção seja
No primeiro caso, estima-se uma gem que tende a aumentar com as
prevalência de 14% a 18% de compro- mudanças demográficas (Knopman
destinada pelos
metimento cognitivo leve na popula- & Petersen, 2014). A prevalência das profissionais “psi”
ção idosa do Brasil (Brucki, 2013),
sendo que cerca de 7% desses casos
demências varia de acordo com o
tipo de demência e aumenta gradati-
aos serviços
evoluem para demências, porcenta- vamente com o avançar da idade, in- para idosos. Ele
cidindo sobre 1% a 2% em indivíduos atinge tanto
com 65 anos e chegando a 30% entre
aqueles com 85 anos (APA, 2014). A leigos quanto
principal doença neurodegenerativa, pesquisadores e
responsável por 50% dos casos de de-
mências entre os idosos, é a demência
profissionais
de Alzheimer (Aprahamian, Marti-
nelli & Yassuda, 2009; Rodríguez & valência aumenta para taxas que po-
Herrera, 2014). dem chegar a 56% (Bryant, Jackson &
ŒDepressão Œ Com relação aos transtornos de Ames, 2008). É conhecida, também,
A depressão não é só um problema de-
ansiedade em idosos, no contexto a elevada taxa de comorbidade entre
rivado da velocidade do mundo moderno
e da dificuldade em manter relações mais
clínico, sua prevalência varia entre sintomas ansiosos e depressivos (Len-
saudáveis. Os idosos também sofrem com 1% e 28%, sendo o transtorno de an- ze et al., 2000).
isso. No Brasil, sua prevalência nesse seg- siedade generalizada (TAG) o mais Não bastassem os desafios nas
mento da sociedade pode chegar a 34% comum entre os idosos (Chou, 2009). áreas de prevenção terciária e secun-
IMAGENS: 123RF/SHUTERSTOCK

(Alvarenga, Oliveira & Faccenda, 2012).


Se forem considerados os sintomas dária, os profissionais “psi” são, cada
Quando se trata de idosos institucionaliza-
dos, esse percentual salta para 47% (Vaz &
ansiosos clinicamente relevantes, mas vez mais, demandados a realizar a
Gaspar, 2011). que não chegam a preencher critérios prevenção primária e a promoção de
para transtornos de ansiedade, a pre- saúde, pois, como destacou Vaillant

28 psique ciência&vida
(2004), não bastam adicionar mais
O envelhecimento
anos à vida, há que se acrescentar populacional provoca novos
mais vida aos anos. Nesse sentido,
G‚GGI G G9
cumpre assinalar que Abreu (2012) entre eles lidar com perdas
identificou que a perspectiva cogni- cognitivas, transtornos de
ansiedade e a depressão
tivo-comportamental é uma das mais
utilizadas em pesquisas sobre preven-
ção primária em saúde mental no Bra-
sil. Todavia, Leandro-França e Murta
(2014) observaram que, independen-
temente do referencial teórico, faltam,
no país, pesquisas sobre intervenções
preventivas e de promoção à saúde
mental de idosos.
O “ageísmo” (ver, por exemplo,
Goldani, 2010) – anglicismo utilizado
para designar atitudes preconceituosas
em relação à idade das pessoas – me- Durante décadas, a velhice foi considerada
rece destaque por ser um fator que, uma etapa marcada exclusivamente por
historicamente, tem contribuído para
que pouca atenção seja destinada pe- perdas e limitações, principalmente quando
los profissionais “psi” aos serviços para comparada às primeiras fases da vida. Na
idosos. Ele atinge tanto leigos quanto
pesquisadores e profissionais, deter-
Psicologia, esse cenário começou a mudar
minando, no último caso, a baixa “pre- significativamente na década de 1960
ferência” pela velhice enquanto objeto
de pesquisa e/ou prática profissional. e limitações, principalmente quando ças significativas a partir da década
Durante muitas décadas, a velhi- comparada às primeiras fases da vida de 1960, quando, após a ocorrência
ce foi considerada como uma etapa (Nakamura, 2009). Na Psicologia, de vários eventos (como o envelheci-
marcada exclusivamente por perdas esse cenário começou a sofrer mudan- mento de grandes teóricos, inclusive
do desenvolvimento humano, que,
mesmo idosos, continuavam a produ-
PARA SABER MAIS zir e a se desenvolver, contrariando o
que propunham), o estudo do enve-
MEDOS E INSEGURANÇAS NA TERCEIRA IDADE lhecimento humano passou a ser sis-

C omo em qualquer outra fase da vida, trabalhar medos e inseguranças em um


setting terapêutico é um excelente recurso para se aprender a lidar melhor
com eles. No entanto, na velhice há algumas expressões de medo e insegurança
tematizado (Neri, 2006).

Perspectiva
que são mais comuns que nas demais etapas do curso de vida. Como exemplos,
citam-se as perdas, que incluem tanto a morte – de cônjuges, parentes e amigos –
quanto da rede de contatos e de apoio social, e as experiências de transição, como
U m evento bastante importante
durante esse período foi o desen-
volvimento da perspectiva Life-Span
a aposentadoria e a necessidade de adquirir novos papéis, que podem desenvolver (Baltes, 1987). Ela parte da premissa
ou potencializar sentimentos de medo e insegurança frente ao presente e ao futu- de que o desenvolvimento humano é
:GHG IGG
 ‚IGG
h€I  G
9 um processo que ocorre ao longo de
bem como as situações que as “alimentam” e intervir, reestruturando os pensamen- toda a vida, da concepção até a morte,
tos disfuncionais e apresentando maneiras alternativas para que o idoso consiga o que implica que idosos também po-
lidar melhor com as situações. Cumpre destacar que, nos casos em que os idosos dem aprender e se desenvolver (Baltes,
apresentam quadros clínicos mais graves, o psicoterapeuta precisa ter um “olhar” 1987). Uma importante proposição de-
HGGI
G
G‚
I IÔ
G
 GhGG
- rivada dos estudos dessa perspectiva é a
quados ou, por exemplo, sintomas ansiosos, característicos de um quadro de fobia. de que em qualquer fase do desenvolvi-
mento (seja na infância, adolescência,

www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 29


ENVELHECIMENTO

PARA SABER MAIS

O DESAFIO EM TRAZER
SIGNIFICADO PARA O FUTURO
O envelhecimento da população é um fenômeno inegável e, felizmente, o
que se observa atualmente é uma preocupação em não “só” aumentar
a expectativa de vida, mas, também, desenvolver estratégias para que es-
ses “anos a mais” sejam vividos com mais qualidade, satisfação e bem-estar.
Desse modo, é necessário que o terapeuta vá além da redução de sintomas e
emoções negativas de seus pacientes, identificando e fortalecendo as habili-
dades e as forças do idoso ali presente. Alguns exemplos de forças pessoais
que fornecem um significado de vida são a esperança (esperar o melhor e
trabalhar para alcançá-lo), a espiritualidade (ter crenças coerentes sobre um
propósito maior e o significado da vida), a gratidão (estar atento e ser grato
pelas coisas boas que acontecem) e o humor (gostar de rir e brincar e de des-
pertar sorrisos em outras pessoas). Além das forças, o suporte social também
é um importante recurso para o (r)estabelecimento de significados para a vida.
!GG
ƒ H 
G
I^ I

‚I
G

G
GGG
de Freud para desaconselhar a Psicanálise a
vida adulta ou velhice) há uma dinâ- de proteção. Não obstante, ainda é fre-
partir de 50 anos
mica entre ganhos e perdas, ou seja, quente a concepção da velhice apenas
nenhum processo de desenvolvimento como uma continuidade da vida adul- Atualmente, sabe-se que a idade
consiste apenas em crescimento (nem ta, caracterizada por declínios e que não é um impeditivo para a realiza-
mesmo a infância, na qual um exem- não requer alterações substanciais nas ção de terapia. É sabido, também, que
plo de perda que ocorre com o avançar práticas “psi”. a TCC é uma das abordagens mais
para as próximas fases é a da flexibilida- No início do século XX, Freud de- utilizadas com idosos (Rebelo, 2007;
de). Não se nega, entretanto, que haja saconselhou a Psicanálise para pesso- Thompson et al., 2003). Apesar dis-
um predomínio das perdas na velhice. as com mais de 50 anos. Algumas de so, reitera-se que ainda são poucos os
Porém, a plasticidade individual e ou- suas justificativas foram a falta de fle- estudos sobre TCC, especificamen-
tras estratégias – como a seleção, oti- xibilidade nos processos psíquicos a te com idosos. No Brasil, a literatura
mização e compensação (Baltes, 1987) partir dessa idade, a pouca disponibi- científica sobre esse tema é ainda me-
– permitem que os ganhos sejam maxi- lidade e dificuldade de aprendizagem nor, com algumas poucas publicações
mizados e as perdas minimizadas. Eles e a grande quantidade de material clí- de artigos e capítulos de livros, e, até
atuam como importantes mecanismos nico (Nardi & Oliveira, 2011). pouco tempo, não havia sequer um

NAS BANCAS!
30 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br
Atualmente, sabe-se que a idade não é
um impeditivo para a realização de terapia.
É sabido, também, que a TCC é uma das
abordagens mais utilizadas com idosos.
Apesar disso, ainda são poucos os estudos
ŒTerapia preventiva Œ sobre TCC, especificamente com idosos
A representação social dos profissionais
“psi” não é das mais positivas; não só en- entre as pessoas, é preciso considerar Cognitivo-Comportamentais com Ido-
tre idosos. Não é incomum, por exemplo, que existem padrões de envelheci- sos abrange capítulos que buscam
reduzir a prática desses trabalhadores à mento e não um único padrão. En- contemplar as múltiplas “trajetórias”
loucura. Assim, crianças, jovens, adultos velhecer e viver a velhice constituem de envelhecimento, abarcando tanto
e idosos podem hesitar ou, até mesmo,
uma experiência individual e bem o envelhecimento patológico quanto
recusarem-se a procurar a ajuda tera-
pêutica. Cabe aos familiares, amigos, heterogênea. Logo, o livro Terapias o normal e o bem-sucedido.
cuidadores, pares e, principalmente, pro-
REFERÊNCIAS
fissionais de saúde combater essa “visão”
deformada, apresentando o amplo leque ABREU, S. Prevenção em saúde mental no Brasil na perspectiva da literatura e especialistas da área.
das práticas “psi”, salientando que não é Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, Brasília, DF, 2012.
preciso ter “problemas” para buscar uma AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
terapia e enfatizando o caráter preven- Mentais (DSM-5). Porto Alegre: Artmed, 2014.
tivo e de promoção de saúde da ajuda ERVATTI, L., BORGES, G. M. & JARDIM, A. P. (Eds.). (
GhGP‚IGG $^I 

terapêutica. Todavia, se eles existirem, é Século XXI: Subsídios para as Projeções da População. Rio de Janeiro: IBGE – Instituto Brasileiro de
preciso esclarecer que se trata de uma "G‚G G^ IG9=;<@:
prática profissional científica e eticamente
FREITAS, E. R., BARBOSA, A. J . G. & NEUFELD, C. B. Terapias Cognitivo-Comportamentais com
pautada, eficaz e eficiente, capaz de, em
Idosos. Novo Hamburgo: Sinopsys Editora, 2016.
um período limitado de tempo, propiciar
GOLDANI, A. M. “Ageism” in Brazil: what is it? who does it? what to do with it? Revista Brasileira de
remissão ou, pelo menos, diminuição
Estudos de População, v. 27, n. 2, p. 385-405, 2010.
significativa do sofrimento.
KORMAN, G. P., VIOTTI, N. & GARAY, C. J. The origins and professionalization of cognitive
psychotherapy in Argentina. History of Psychology, v. 18, n. 2, p. 205-214, 2015.
LENZE, E. J. et al. Comorbid anxiety disorders in depressed elderly patients. American Journal of
livro que se destinasse exclusivamen- Psychiatry, v. 157, n. 5, p. 722-728, 2000.
te à terapia cognitivo-comportamen- NERI, A. L. O legado de P. B. Baltes à Psicologia do Desenvolvimento e do Envelhecimento. Temas
tal com idosos. de Psicologia, v. 14, n. 1, p. 17-34, 2006.
Uma vez que o envelhecimento RODRÍGUEZ, J. L. & HERRERA, R. F. G. Demencias y enfermedad de Alzheimer en América Latina y
é um processo bastante diferenciado el Caribe. Revista Cubana de Salud Pública, v. 40, n. 3, p. 378-387, 2014.

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www.escala.com.br
coaching por Eduardo Shinyashiki

Onde está o seu FOCO?


MUITOS NÃO SE DÃO CONTA DE QUE PASSAM TEMPO
DEMAIS CRIANDO, ORGANIZANDO E ALTERANDO
PROCESSOS PARA RESOLVER PROBLEMAS, E ESQUECEM
DE PENSAR SOBRE O RESULTADO DESEJADO

T
ODOPROlSSIONALCOMPROME- vos também deveriam fazer parte do Diversos conf litos, preocupações
tido com o sucesso da sua cotidiano, mas parece que, na maioria e problemas podem inf luenciar di-
carreira enfrenta constan- das vezes, os resultados não chegam e retamente a performance do dia,
TEMENTE MUITOS DESAlOS ! muitos têm a percepção de que tudo negócio ou carreira. A pressão, o
superação das adversidades diárias e VIVEDANDOERRADOEDIlCILMENTElCAM volume de atividades e a cobrança
A CONQUISTA DE RESULTADOS SIGNIlCATI- felizes por aquilo que conquistam. são tão grande s que muitas ve ze s

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voltamos para casa com a sensação mais fácil enxergar quais estratégias mudança de olhar, é possível ir mais
de um dia perdido e improdutivo. e ações deverão ser tomadas para além e de canalizar as energias para
Esse sentimento assombra a nossa que isso se concretize. percorrer o caminho para as con-
mente, causando insônia, frustração A dica prática para você que de- quista das metas e objetivos.
e , principalmente , de smotivação. seja fortalecer a sua liderança e ali- Caso repare que o foco se per-
Diariamente é necessário saber nhar o seu foco é atuar como se não deu durante o percurso, regaste-o.
lidar com no mínimo dois tipos de existissem erros, apenas resultados. Tenha em mente que sempre há
cobrança: a que fazemos para nós Caso não esteja satisfeito com o re- tempo para recuperar uma ideia. O
mesmos e a que precisamos fazer em sultado pessoal ou da equipe, refaça impor tante é identif icar a existên-
relação à equipe e a todas as pesso- a programação e trabalhe a seu fa- cia da falta de direção, pois perder
as que convivemos. Diante do con- vor para atingir os objetivos gerais. o foco é sinônimo de perder o sen-
texto, o ponto mais dif ícil é manter tido da vida.
o equilíbrio das emoções quando Relembrar as principais metas
algo não sai como se e spera. Ne ssa É NECESSÁRIO de vida e objetivos prof issionais já
hora, a tendência é nos culparmos SABER LIDAR COM alcançados também pode ajudar e
ou buscar alg uém para “ jogar” a re s- muito em identif icar os métodos de
ponsabilidade, entretanto, entender NO MÍNIMO DOIS sucesso usados, af inal, cada um tem
e ref letir sobre o que há por trás do TIPOS DE COBRANÇA: seu jeito próprio de se organizar e
objetivo ou meta pode ajudar a en- trilhar seu caminho.
A QUE FAZEMOS
contrar soluções e não culpados. Analisar o próprio desempenho
A maioria das pessoas coloca seu PARA NÓS MESMOS é importante. Avalie se tem poupa-
foco nos problemas, adversidades e E A QUE PRECISAMOS do esforços, dedicado tempo e re-
imprevistos que surgem ao longo do almente focado em cada um deles.
caminho. Desse modo, faz o trajeto
FAZER EM RELAÇÃO Diariamente, nos doamos para o
inverso e enfraquece as suas ferra- À EQUIPE E A TODAS trabalho e projetos de outras pesso-
mentas pessoais para a conquista do AS PESSOAS QUE as com muito empenho. Talvez seja
propósito. Quando não está focada a hora de merg ulhar de cabeça nos
nos problemas ou no resultado nega-
CONVIVEMOS seus próprios sonhos.
tivo, está voltando a sua atenção para O foco é o primeiro passo para a
o processo. E a solução, f ica onde? Pode ser o momento para você ava- realização. Com a nossa vida plena
Às vezes, as pessoas não se dão liar a possibilidade de desenvolver em sua totalidade, temos ainda mais
conta de que passam a maior par- uma habilidade específ ica, pedir fôlego para nos dedicar e contribuir
te do tempo criando, organizando e apoio de um colega, revisar o mé- com os planos da empresa, dos f i-
alterando proce ssos, e se quer param todo planejado, mas nunca desistir. lhos, amigos e familiares.
para pensar sobre o resultado de- Quando há mudança na maneira de São os nossos pés que nos levam
sejado. Pelo contrário, elas pensam analisar um resultado, a mente pas- à frente, mas é a nossa cabeça que
sempre nos problemas que precisam sará a funcionar na direção de solu- nos comanda. Desse modo, é f un-
resolver, nos erros que aconteceram, ções, e isso o colocará ainda mais damental não perder o foco ou dei-
e direcionam a mente ao lado opos- perto de atingir a meta e o objetivo xar que o alvo f uja de vista. Caso
to dos re sultados que de sejam. desejados. venha a tropeçar, levante, considere
Ao trocar o prisma do nosso foco É preciso ter clareza de quais são as críticas e tenha humildade para
para a solução, conseg uimos ter os resultados desejados e focar na so- pedir ajuda. Essa é uma tarefa es-
uma visão mais ampla daquilo que lução. Uma boa técnica a ser aplicada sencial para o sucesso. Em muitos
queremos e, assim, desenhamos me- é desenhar o passo a passo de como casos, a troca de experiências faz
lhor as açõe s que serão nece ssárias se pretende chegar até lá. Com essa toda diferença.
IMAGEM: SHUTTERSTOCK / ACERVO PESSOAL

para alcançarmos exatamente aquilo


que desejamos. Por exemplo, se o re- Eduardo Shinyashiki é palestrante, consultor organizacional, especialista em
sultado desejado é fazer com que a Desenvolvimento das Competências de Liderança e Preparação de Equipes.
É presidente do Instituto Eduardo Shinyashiki e também escritor e autor de
equipe bata a meta, faça com que a importantes livros como Transforme seus Sonhos em Vida (Editora Gente), sua
sua mente já consiga visualizar essa publicação mais recente. www.edushin.com.br
meta alcançada. Dessa forma, será

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livros Por Lucas Vasques

Atuação clínica (recursos terapêuticos)


99 Procedimentos Facilitadores em Processos Psicoterápicos traz um conjunto de procedimentos práticos
para utilização em Psicologia Clínica. As estratégias estão descritas de maneira simples e direta
com as etapas, materiais necessários, sugestões de aplicação e análise, com indicações para a faixa
etária e problema a ser trabalhado na sessão terapêutica. Esses procedimentos foram desenvolvidos
pelo dr. Anderson Zenidarci durante o seu trabalho como supervisor de maneira a atender as ne-
CESSIDADESPONTUAISDESEUSSUPERVISIONADOSEQUESEMOSTRARAMCOMOSOLU¥ÜESElCAZES!ESCASSEZ
de material desse tipo na literatura acadêmica levou o psicólogo, professor e palestrante a criar seus
próprios recursos didáticos e aplicá-los no setting terapêutico. Ao comprovar os resultados, resolveu
compartilhar a experiência. O material se destina tanto aos estudantes da área como também aos
PROlSSIONAISCLÓNICOS!PUBLICA¥ÎOSEPROPÜEAESTIMULARAELABORA¥ÎODENOVOSCONTEÞDOSPARAA
ANÉLISENOTRATAMENTOTERAPÐUTICOEASUPERVISÎOPROlSSIONAL

99 Procedimentos Facilitadores em Processos Psicoterápicos


Autor: Anderson Zenidarci
Editora: Wak
Páginas: 330

Um olhar psicanalítico (Freud e Chanel)


O livro Coco Chanel: a Força de Vida como Positividade na Histeria Feminina apresenta um olhar psi-
canalítico à neurose histérica feminina, utilizando como objeto de estudo a construção da história
de vida da importante estilista francesa do século XX – Coco Chanel (1883-1971). Quem foi Coco
Chanel? Como pôde operar tamanha revolução na aparência e na vivência corporal de milhões de
PESSOAS"ASEADAEMSETEBIOGRAlASEDOISlLMES EMUNIDADEUMSØLIDOCONHECIMENTODA0SICANÉ-
lise, Thalita Lacerda Nobre realiza uma feliz aproximação entre Freud e a estilista de Paris. Freud
CRIOUBOAPARTEDOSEUARSENALTEØRICOREmETINDOSOBREOQUERELATAVAMSUASPACIENTESHISTÏRICAS E 
AMPLIANDOOSCONCEITOSEHIPØTESESDELEHERDADOS SEUSSUCESSORESlZERAMAVAN¥OSCONSIDERÉVEISNO
ENTENDIMENTODASSOLU¥ÜESHISTÏRICASPARAOSCONmITOSPRØPRIOSATODOSOSSERESHUMANOS

Coco Chanel: a Força de Vida como Positividade na Histeria Feminina


Autora: Thalita Lacerda Nobre
Editora: Zagodoni
Páginas: 180

Importância das fábulas (processos psicológicos)


Em A Psicanálise dos Contos de Fadas OAUTORBUSCATRA¥ARUMARADIOGRAlADASMAISCONHECIDASFÉ-
BULASPARACRIAN¥AS APONTANDOOSEUVERDADEIROSIGNIlCADO MOSTRANDOOSPROCESSOSPSICOLØGICOS
que ocorrem no cérebro da criança ao se deparar com os contos de fadas e o quanto necessárias são
essas histórias para o seu desenvolvimento psicológico e social. Os contos de fadas, considerados
por muitos pais e educadores como irreais, falsos e recheados de crueldade, são, para as crianças,
ALGO QUE LHES FALA  EM LINGUAGEM ACESSÓVEL  SOBRE UM MUNDO QUE TEM SIGNIlCADO $EPOIS QUE A
0SICANÉLISEDESMITIlCOUAhINOCÐNCIAvEAhSIMPLICIDADEvDOMUNDODACRIAN¥A OSCONTOSDEFADAS
IMAGENS: DIVULGAÇÃO

voltaram a ser lidos (e discutidos), justamente por descreverem um mundo pleno de experiências, de
amor, mas também de destruição, de selvageria e de ambivalências.

A Psicanálise dos Contos de Fadas


Autor: Bruno Bettelheim
Editora: Paz e Terra
Páginas: 448

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Clínica e Educação
dossiê

UMA NOVA ERA


A febre entre crianças e adultos do mundo
todo, o jogo Pokémon GO, tem envolvido
as áreas da Psicologia e da Medicina no uso
da realidade aumentada para o tratamento
de diversos transtornos psicológicos e
doenças neurológicas, além de trazer
inúmeros recursos criativos para a Educação
Por Tiago José Benedito Eugênio

Tiago José Benedito Eugênio é Coordenador do curso de pós-graduação em Games e Tecnologias da


Inteligência aplicados à Educação da Capacitar. É mestre em Psicobiologia pela UFRN e licenciatura e
bacharelado em Ciências Biológicas pela UNESP. Possui formação em Game-Based Learning na Quest
to Learn, em Nova York e em comunidades de aprendizagem nas Escuelas Experimentales da Terra
do Fogo, Ushuaia. Atualmente, é aluno de especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional do
Instituto PROMINAS. Professor STEAM e de projetos relacionados a produção de jogos e ciências
forenses do Colégio Bandeirantes. tiagoeugenio20@gmail.com
123RF

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dossiê

REALIDADE
aumentada ou reduzida?
A nova mania do mundo virtual exige que o jogador saia da
frente do computador para explorar o mundo real. Porém, esse

P
G G‚

GII
G
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Iƒ 

I  IG 

A
caça é uma das mais esta motivação como basilar e cau- experiência de caça e captura,
antigas atividades do sal do desenvolvimento cognitivo Pokémon Go exige que o jogador
ser humano. Consiste dos animais. Não é para menos, saia da frente do computador e do
na prática de perseguir pois a vida mais parece um jogo sofá, e explore o mundo real. É ne-
animais, geralmente selvagens, de caça e fuga, protagonizada por cessário caminhar para encontrar
para obtê-los como alimento ou, diferentes técnicas de emboscadas, os “pokéstops” - pontos de coleta
então, simplesmente para entrete- perseguição, trabalho em grupo, de itens e pokébolas (a arma que é
nimento, defesa de bens ou ativi- fuga em massa, alertas emitidos lançada pelo jogador para capturar
dades comerciais. Munido de uma para o grupo, entre outras. Contu- o Pokémon). Ovos são chocados
arma, o caçador deixa o conforto do, ao contrário da caça concreta, somente quando são incubados e
de sua residência e se expõe à inú- Pokémon Go propõe uma caçada de o dispositivo móvel é carregado
meros riscos enquanto explora o monstrinhos digitais, que interage pelo jogador por 2km, 5km ou até
mundo real em busca da presa al- com o mundo real a partir do con- 10km. O ponto forte de inovação
mejada. No início de 2016, um jogo ceito de realidade aumentada. do jogo é dialogar de maneira fi-
para celular subverteu esse concei- Ainda, diferente de outros jo- dedigna com os elementos da rea-
to tradicional de caça. Essa subver- gos, muitos dos quais oferece uma lidade do jogador. Há um círculo
são parece um desdobramento da
célebre frase de Henry Jenkins, “em
uma sociedade de caça, as crianças PARA SABER MAIS
brincam com arcos e f lechas. Em
uma sociedade da informação, as NOSTALGIA PARA OS MAIS VELHOS,
crianças brincam com informa- NOVIDADE PARA OS MAIS NOVOS
ções”. A espingarda foi trocada
pelo celular, os tiros pelas poké-
bolas e as presas animais agora são
P okémon foi criado em 1995 para o Game Boy. Na época, foi um fenômeno
de grande sucesso, o que possibilitou a criação de uma linha de produtos,
envolvendo brinquedos, jogos analógicos, cards colecionáveis e séries de te-
Pokémons virtuais que, em tese, levisão. Para o público adulto, Pokémon Go é uma oportunidade de revisitar
não oferecem quaisquer riscos de algo vivido na infância, assim como a série conquista milhões
vida real para o jogador. Pokémon
G G
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 G G ÔG
G
Go é a nova mania que reacende a grade televisiva e se consolidam como símbolos atemporais da televisão bra-
vontade ancestral de caçar outros sileira. Para os mais novos é novidade, mas o encanto é tal devido a uma nova
seres - atividade fundamental para experiência de jogar que mais parece um “caça ao tesouro”. O jogo nos trans-
qualquer animal carnívoro ou oní- porta da tela do celular para as ruas da cidade.
voro. Diversos estudos apontam

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Clínica e Educação
Há distintas opiniões sobre o jogo. Muitos destacam os pontos positivos como o incentivo para fazer os jogadores andarem pela cidade, ocupar praças,
museus e parques e conectar-se pessoalmente a outras pessoas

Pokémon Go reacende a vontade ancestral soas terem seus celulares rouba-


dos. Na imprensa, há histórias de
de caçar outros seres. Diversos estudos jogadores que caíram de prédios
apontam esta motivação como basilar e enquanto jogavam, outros que
adentraram em locais perigosos
causal do desenvolvimento cognitivo dos animais e foram assaltados, etc. Contudo,
mágico emoldurado por uma his- quela atividade de caça de mons- há pessoas que observam a joga-
tória de criaturas ficcionais que trinhos que não existem. Diversas tina de outra perspectiva, desta-
os seres humanos capturam e os declarações, muitas delas posta- cando os pontos positivos como o
treinam para lutarem um contra o das em redes sociais, julgam as incentivo para fazer os jogadores
outro como um esporte. Contudo, pessoas que apreciam o jogo, afir- andarem pela cidade, ocupar pra-
este círculo está agora distribuído mando que aos jogadores faltam- ças, museus e parques e conectar-
e geolocalizado. -lhes uma “boa jornada de traba- -se a outras pessoas. Pretendemos
lho” ou outras responsabilidades discutir aqui essas nuances da
Um fenômeno polêmico como cuidar de uma casa, cuidar experiência do jogador e busca-

O sucesso estrondoso do jogo


suscita uma série de questio-
namentos acerca da maneira afi-
de filho e família, dentre outras.
Há uma tentativa de infantilizar a
atitude de jogadores adultos com-
mos lançar uma luz lúcida sobre
a polêmica que envolve conceitos
e aplicações de diferentes tecnolo-
cionada com que os jogadores de parando-os com crianças e ado- gias como realidade aumentada,
todas as idades se empenham para lescentes que, em tese, não têm geolocalização e gamificação que
capturar Pokémons, muitas vezes essas responsabilidades. Outros constituem a experiência psicoló-
123RF

ficando imersos horas a fio na- alertam sobre o perigo das pes- gica de Pokémon Go.

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dossiê

TECNOLOGIA na clínica
Pokémon Go utiliza a realidade aumentada para
sobrepor no ambiente real camadas de informações
virtuais que permanecem misturadas à realidade

P
arece algo muito inova- da de maneira tão bem-sucedida e de controle que o terapeuta tem de
dor, mas na verdade não satisfatória. Não é para menos que controlar quais estímulos estarão
é. Em maio de 1977, o diversos críticos, à despeito das presentes e quando eles serão apre-
primeiro filme da série críticas negativas, apontam Poké- sentados para o paciente em trata-
de Star Wars arrebatou plateias do mon Go como um veículo de mu- mento. O estresse pós-traumático
mundo inteiro. A produção cha- dança de paradigma, o que torna é outro transtorno que pode ser
mou a atenção pela qualidade téc- o jogo o que o Iphone foi em 2007 tratado com auxílio da tecnolo-
nica e efeitos que possibilitavam no que diz respeito à interação gia. Um exemplo clássico é o uso
personagens interagir com outras homem-máquina. O jogo é apenas da realidade virtual em pacientes
realidades. Em uma cena clássica, o início de um novo universo de que foram expostos aos cenários
R2 e Chewbacca aparecem jogan- possibilidades para ressignificar de guerra. Com auxílio da imersão
do xadrez com peças de realidade experiências psicológicas humanas e experiências revividas artificial-
virtual. Na década de 80, Arnold e de interação com o mundo real. mente (barulhos de tiros, explosões
Schwarzenneger interpretou o Na verdade, algumas dessas possi- e emboscada) o paciente consegue
personagem que revolucionou o bilidades já existem, mas ainda são perceber que as memórias traumá-
conceito de 3D e realidade aumen- pouco conhecidas ticas pertentem exclusivas ao pas-
tada. Quem não se lembra da visão sado. Por outro lado, a realidade
do Exterminador do Futuro, a qual Ciência no mundo virtual aumentada, como comentamos,
mostrava em tempo real informa-
ções do ambiente ao seu redor. A
realidade aumentada é um conceito
N a área de Psicologia e Medici-
na, o uso da realidade virtual
e aumentada é útil no tratamento
introduz elementos virtuais no
mundo real, gerando objetos, seres
e contextos cuja visualização de-
diferente da realidade virtual, uma de diversos transtornos psicológi- pende de um dispositivo - em real,
vez que não há uma substituição cos e doenças neurológicas. Estu- um celular ou tablet. A diferença
completa daquilo que vemos por dos apontam eficácia na utilização da realidade virtual é que o sujei-
uma simulação - como ocorre na de realidade virtual no tratamento to percebe o mundo real “aumen-
realidade virtual. A realidade au- de pacientes com transtorno de pâ- tado” ou “enriquecido” por outras
mentada utiliza o mundo real para nico. Com óculos, que simula um informações que são introduzidas -
adicionar novas camadas de in- ambiente virtual e fone de ouvido, como ocorre no jogo Pokémon Go.
formação ao mundo real tal como o paciente é imerso dentro de um Na realidade aumentada, o mundo
nós conhecemos. Om Makik, em cenário de controle, no qual é ex- não é substituído por completo. O
artigo na revista The New Yorker, posto artificialmente às raízes do indivíduo permanece com os ca-
compara a realidade aumentada à medo. Pode ser o interior de um nais sensoriais abertos e conecta-
metáfora de uma história infantil. elevador, uma aeronave, um trans- dos à experiência de uma realidade
“Realidade aumentada é o Pedro e porte público com muitas pessoas híbrida, complementado por infor-
o lobo do mundo pós internet”. Há ou o topo de um enorme prédio. mações virtuais que amplificam as
tempos esta tendência é prometida, O diferencial da realidade virtual possibilidades de interação e explo-
mas nunca, de fato, foi desenvolvi- é o seu poder de imersão e poder ração do mundo real.

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GG  ‚IG ÈI G I` IG GG
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G Clínica e Educação
A realidade aumentada tam- específicos no próprio ambiente - metidos a um cenário totalmente
bém tem sido utilizada por psico- de acordo com a forma e a cor -, imersivo - como ocorre na reali-
terapeutas. O pesquisador Juan e projeta sobre este padrão uma dade virtual. Todavia, a repulsa
Garrafa e colaboradores da Uni- imagem ou animação, uma aranha pode ser atenuada quando o estí-
versidade de Valência, na Espa- por exemplo. Garrafa e colabora- mulo fóbico é observado por um
nha, utilizaram este conceito e dores destacam que a inserção de dispositivo. Existe uma ciência
tecnologia para tratar pacientes elementos virtuais ao mundo real por parte do paciente que a aranha
com aracnofobia. Neste tipo de pode ser mais eficaz e adequada não existe, de fato. Mesmo assim,
experimento, em geral, o pacien- em alguns casos, já que muitas ve- diversos estudos apontam eficácia
te coloca um capacete por meio zes o paciente tem um medo tão desse tipo de intervenção, inclu-
IMAGENS: 123RF

do qual enxerga o mundo real. O arraigado e irracional que reage sive somente durante uma sessão
dispositivo reconhece padrões de maneira negativa quando sub- de exposição prolongada. Entre

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dossiê

A realidade aumentada
é um conceito diferente
da realidade virtual, uma
vez que não há uma
substituição completa
daquilo que vemos
por uma simulação
- como ocorre na
realidade virtual
outros benefícios da realidade
Na área de Psicologia e Medicina, aumentada comparados a virtual,
o uso da realidade virtual e podemos citar o baixo custo, além
aumentada é útil no tratamento de do psicoterapeuta poder intervir

G I` I

hG` IG
com cenários próprios da realida-
de do indivíduo.

PARA SABER MAIS


^
MECÂNICAS E GATILHOS PSICOLÓGICOS EFICAZES
T odo mundo já fez ou quis colecionar alguma coisa.
Na década de 90 era comum as meninas colecio-
narem papel de carta, os meninos selos, tampinhas ou
gatilho psicológico, o da urgência. Os monstrinhos ficam
disponíveis por um tempo determinado para caça, eles
podem aparecer em qualquer lugar e a qualquer momen-
IG  :I G \ PH I to. Há uma perfeita mesclagem entre mecânicas compe-
em todas as culturas e credos. A diferença agora é que a titivas e cooperativas. Jogadores podem competir entre
coleção está digitalizada e ocupa espaço na memória do times (amarelo, azul e vermelho), mas também podem
seu celular. Diversos games fazem uso dessa mecânica e cooperar uns com os outros indicando o melhor local
“necessidade” psicológica para conquistar os jogadores. para caçar pokémons. Esta mecânica ativa no jogador
Há sempre um novo item para ser coletado e adiciona- um gatilho psicológico associado ao pertencimento de
do à coleção. Essa expectativa ativa o gatilho de busca grupo. A cor nesse caso funciona como um marcador de
pela novidade e aumenta a liberação de dopamina, neu- alianças ou etnocentrista. Entre as diversas maneiras de
rotransmissor responsável pela sensação de prazer. No iniciar uma conversa a partir da temática do jogo, uma
jogo também podemos perceber uma bela herança do das mais corriqueiras é perguntar a cor do seu time. Falo
Foursquare - rede geossocial que permite ao jogador re- aqui do jogo, mas podemos aplicar este mesmo raciocí-
alizar check-ins nos locais que visita e, caso detenha o nio para outras circunstâncias como time de futebol, na-
maior número de visitas em um local, ele se torna prefeito cionalidade, música, filme, game ou livro preferido. Mes-
ganhando uma medalha virtual (Badge) que fica visível mo estando em times distintos, é possível colaborar com
para todos os jogadores. Essa é uma das mecânicas mais outros jogadores, liberando itens como “Lure” para atrair
famosas utilizadas em processos de gamificação na área pokémons para um determinando ponto, beneficiando
corporativa, de marketing e educação. Em Pokémon Go, outros que estão nas proximidades. Dentro do jogo é
as pokéstops são locais de check-in definidos que po- possível ver o nome do usuário do jogador que lança o
dem ser revisitados a cada 10 min. Você pode se tornar item, sendo assim possível ele ser reconhecido como um
um líder de ginásio, na medida em que detém em sua jogador colaborativo, que abre mão de um item raro em
colação o pokémon mais forte que é caçado com poké- prol do grupo. Esta mecânica ativa no jogador o gati-
bolas virtuais coletadas nas pokéstops. O intrincado jogo lho da reciprocidade, a necessidade de retribuir àquilo ou
de regras e design de experiência no jogo remete a outro àquele que nos gerou um benefício.

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Clínica e Educação
Um tratamento real
O Parkinson é uma doença
neurológica causada pela de-
terioração seletiva dos neurônios
dopaminérgicos. Quando estas vias
neuronais são deterioradas há uma
interrupção do equilíbrio entre os
neurotransmissores de dopamina e
acetilcolina, resultando nos sinais
típicos da doença: tremor, rigidez
e bradicinesia ou acinesia (lentidão
de movimento ou ausência de mo-
vimento). A cinesia, por exemplo,
pode aparecer nas fases posteriores
da doença de Parkinson - dez anos
ou mais após o diagnóstico. Pes-
soas com acinesia normalmente
exibem um padrão de marcha com-
prometido, composto por uma série
de pequenos passos “embaralhados”
ou até mesmo incapacidade de se-
guir adiante. Estudos anteriores *`¢GP I
GG
IG^ 
GI GI
GG
G
 G
demonstraram uma redução signi- GI GGIP 
G
ficativa desses sintomas quando o
paciente caminhava entre obstácu- Diversos críticos,
los ou subia em escadas. A carac-
terística comum destas situações à despeito das críticas
é que elas fornecem um ambiente negativas, apontam
com linhas horizontais perpendicu-
lares, as quais auxiliam o paciente Pokémon Go como um
durante a caminhada. Atento a isso, veículo de mudança de
pesquisadores do HIT Lab (Human
Interface Technology), em Seattle, paradigma, o que torna ŒA pulsão como foco Œ
utilizaram a realidade aumentada O jogo traz elementos da Psicanálise,
para criar um óculos especial que
o jogo o que o Iphone como conceito do gozo e do princípio
gera linhas virtuais por realidade foi em 2007 no que do prazer. A qualquer momento pode
aparecer um pokémon. O jogo apos-
aumentada e as mescla ao mundo diz respeito à interação ta na imprevisibilidade para cativar os
real do paciente, auxiliando o in- jogadores que sempre abrem o apli-
divíduo durante a marcha - favo- homem-máquina cativo em busca da oportunidade certa
recendo o comprimento normal do para capturar o monstrinho que deseja.
passo, a manutenção da velocidade sugerir aqui, mas vale a pena desta- Ainda, há uma espécie de radar que in-
da caminhada e reduzindo riscos de car o uso da realidade aumentada forma ao usuário quais pokémons estão
queda, permitindo mais liberdade e - o mesmo conceito utilizado pelo nas proximidades, mas isso não signifi-
segurança para o paciente explorar jogo que agora caiu no gosto popu- ca que aparecerão. Não há um roteiro
o ambiente. lar. Não obstante, tampouco isso linear pré-determinado nem metas ex-
plícitas, o jogador pode subir ou não de
significa que o jogo de caçar mons-
Olhar para o futuro trinhos é irrelevante para as áreas
nível - dependendo exclusivamente do

A
tempo e da motivação dele para seguir
té então não há registro do uso da Psicologia e saúde. Muito pelo no jogo. Cada jogador tem sua própria
do Jogo Pokémon Go para tra- contrário. Desde o lançamento de
IMAGENS: 123RF

aventura e toda a experiência no game


tamento dos transtornos e doenças Pokémon Go, há diversas notas e está sob o poder do usuário.
neurológicas. Nem é isso que desejo relatos tocantes compartilhados

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dossiê

do que possa fazer reproduzir esses


comportamentos em uma criança
autista, mas, pelo menos para Ral-
ph, Pokémon Go o auxiliou a ven-
cer as típicas falhas ou dificuldades
(qualitativas) na comunicação, na
interação social e outras dificulda-
des comportamentais que caracte-
rizam o sujeito com autismo.
A equipe do C. S. Mott
Children´s Hospital, em Michigan,
nos Estados Unidos emitiu nota di-
zendo que o jogo está mudando a
vida de seus pacientes. O hospital
incentiva o uso na medida em que o
jogo melhora a rotina dos pacientes,
especialmente dos pequenos. Dessa
maneira, elas não ficam isolados em
seus quartos e exercem suas capaci-
Um aspecto positivo defendido é que o jogo permite o jogador “redescobrir” o ambiente em que dades sociais com outros interna-
 : -Ô+G99 
IG
 9Gpokéstops9Ô dos durante as caçadas. Segundo JJ

 ‚IG
GG
GÔ9IIG G
Bouchard, gerente de mídia digital
da instituição, “o game é uma forma
nas redes sociais sobre o poder O diferencial da divertida de incentivar a mobilida-
dos Pokémons “aumentados” para de dos pacientes”, disse. O hospi-
atenuar sintomas de outros distúr- realidade virtual é o tal também defende o uso devido à
bios. O caso do garoto de 6 anos, seu poder de imersão. outra vantagem - o jogo motiva as
Ralph Koppelman, é um deles. Ele crianças a se envolverem mais com
foi diagnosticado com autismo, Com óculos, que simula a sua terapia física. Há o benefício
um transtorno caracterizado pela um ambiente virtual, o social também. As crianças passa-
dificuldade qualitativa de comuni- ram a se comunicar, isso deixou o
cação, sociabilização e imaginação. paciente é exposto a hospital um ambiente menos soli-
Ainda, o garoto foi diagnosticado IP G ‚I GI tário e assustador. Não era comum
com hiperlexia caracterizado por crianças explorarem o ambiente
uma capacidade precoce de leitu- as raízes de seu medo hospitalar, mas a experiência com o
ra, acompanhada por uma fixação e o terapeuta pode jogo mudou as coisas. O lugar dei-
constante com letras e palavras e xou de ser temido e passou a ser en-
dificuldade no processamento oral trabalhar os estímulos carado como um lugar que deve ser
da linguagem. A mãe do garoto pu- no tratamento conhecido e explorado.
blicou um relato nas redes sociais
que foi compartilhado mais de Valor do espaço público
1000 vezes. Ela conta que a brin-
cadeira virtual motivou seu filho
a socializar com outras crianças,
os aconselhava qual era o local ide-
al para caçar determinado mons-
trinho. Ralph estava socializando
C om certeza, a necessidade de
caminhada, de exploração do
ambiente real feita pelos usuários é
compartilhar impressões sobre o com auxílio da experiência de caça um dos fatores que contam mais a
jogo, o número de pokémons ca- mediada pelo jogo. Estava parti- favor do jogo. O fotógrafo Rober-
çados e o fez sair de casa e da sua cipando de conversas pragmáticas to Vasquez afirma que perdeu mais
rotina rígida com horários e tarefas com desconhecidos, olhando e sor- de 11kg depois de caminhar mais
repetidas. A mãe se surpreendeu rindo para estranhos, verbalizando de 265 km atrás dos monstrinhos
quando o filho fez contato visual e e compartilhando algo em comum. virtuais. Outro aspecto positivo
agradeceu as outras pessoas - que Não há efeito de remédio conheci- defendido é que o jogo permite o

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PARA SABER MAIS
Entre outros
O QUE ESTÁ POR VIR benefícios da
realidade aumentada
O surgimento da tele sensível ao toque mudou a experiência com as
telas. Rapidamente, o teclado do celular sumiu, os tablets ganha-
ram espaço no mercado e uma série de produtos Touch foi lançado.
comparados à virtual,
A realidade aumentada popularizada em Pokémon Go pode também podemos citar o
inaugurar uma mudança drástica como nos comportamos e nos relacio-
namos com a realidade física. Por exemplo, imagine no futuro:
baixo custo, além do
TU RISMO AU M ENTADO: um museu ou exposição totalmente interativa e dia- psicoterapeuta poder
G
G:  G^ 
 G IG  IÈ 
 I I G ` G

quadro, além disso o serviço pode chamar a atenção para alguns ele- intervir com cenários
mentos do quadro, possibilitando que o usuário veja elementos de tex- próprios da realidade
to ou imagens entre a obra real e a tela do celular. Os audioguias serão
subtítulos por trilhas audiovisuais. O mesmo raciocínio se aplica para do indivíduo
o turismo, um aplicativo de navegação urbana poderia contar a história
e o desenvolvimento de uma cidade, destacar informações de prédios jogador “redescobrir” o ambiente
históricos (mostrando inclusive fotos de suas versões antigas). em que vive. Em São Paulo, por
TRANSPORTE AUMENTADO: um ponto de ônibus, no qual pode ser visualizado exemplo, muitos pontos de coleta
todas informações sobre as linhas que passam por ali. A cidade pode- de itens, os famosos pokéstops, são
ria ficar menos poluída com informações, selecionado as fundamentais. identificados pela arte de rua ou
\^G  GG^
GIP
GG IG 
- então museus, centros culturais e
alidade aumentada, é possível criar oportunidades e políticas de inclusão. parques. A pessoa precisa explorar
áreas públicas, com maior circula-
M AN UTENÇÃO E SU PORTE AU M ENTADOS : Diversas áreas podem se beneficiar ção de pessoas, para encontrar os
criando experiências interativas durante a aquisição de um equipamento pokémons. Essa seria, em tese, uma
novo, por exemplo. Ao invés de ler o manual, o usuário pode mirar o forma dos usuários olhar para pon-
celular para partes específicas do equipamento e interagir com vídeos tos da cidade antes não percebidos
tutoriais ou dicas de uso. por outros fatores distratores, con-
R EALIZAÇÕES PESSOAIS AU M ENTADAS : a realidade aumentada aponta para o fu- tribuindo assim para a valorização
turo de aprendizagens personalizadas e coletivas ao mesmo tempo. do espaço público. Outras mecâ-
Pokémon Go, o caminho pode ser individual, mas é inevitável nicas disponíveis no jogo como o
o encontro com terceiros. Imagine um jogo em que os participantes item “lure” - uma espécie de incen-
precisam encontrar informações que estão com um avatar para que o so social, que atrai pokémons para
um exercício faça sentido. Na verdade, essa é exatamente a mecânica as pokéstops, reforça esse aspecto
utilizada nos jogos de RPGs (Role Play Game). Mas a realidade aumen- social do jogo. Na Avenida Paulista
tada vai além que os estímulos podem circular pelo ambiente de for- assim como no Parque Ibirapuera
ma automatizada e interativa. É possível imaginar um jogo, no qual eu e Parque da Luz é agora comum
preciso construir um carro e o usuário precisa percorrer uma trilha em observar grupos de pessoas para-
busca de participantes que detém um pedaço da informação, até que das em pontos específicos - todas
no final seja realizada a tarefa. olhando para a tela do celular. No
P ESQU ISA AU M ENTADA : Atualmente, pesquisamos o que desejamos saber na entanto, visitar locais públicos com
tela do celular ou na frente do computador, em páginas de buscadores atenção voltada para o celular, à
específicos como Google, Bing ou Yahoo, mas isso pode estar mudan- espera do Pikachu ou do Bulbas-
do. A realidade aumentada somada à estética lúdica tem um potencial sauro, seria uma maneira eficiente
desmedido de modificar a forma como produzimos informação, como e adequada para ocupar o espaço
a pesquisamos e a compartilhamos na rede. O século XXI pode ser o público e manter uma rotina sau-
século do Homo Ludens e descobrir que a brincadeira pode ser, em dável? Ao jogar Pokémon Go, esta-
certos momentos, frívola, mas indubitavelmente é o que move e motiva mos recebendo os benefícios físicos
as pessoas. e mentais usufruídos geralmente
em uma caminhada?

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dossiê

Formação de
(+-*")$.$0*-
Estudos preliminares apontam que a experiência do jogo
ÔIH^I I G ‚ ` I
como se obtém em uma caminhada sem o uso do jogo

P
ara alcançar a saúde fí- tamento dos indivíduos mudam em nossos pensamentos interio-
sica, o exercício está no drasticamente. Elas relaxam, ficam res, preocupações cotidianas ou
topo da lista. De fato, mais em silêncio, atentam-se ao seu talvez à procura de um Pokémon
a inatividade física é o entorno e se sentem mais felizes e com nossos telefones, a ligação do
maior fator de risco para a morte confortáveis. Realmente, o núme- nosso sistema nervoso com o am-
por qualquer causa, sendo respon- ro maior de pokéstops estão em biente é perdida. Como um tipo de
sável por 9% das mortes prema- áreas mais verdes como parques, evidência para isso, estudos neuro-
turas. Caminhar é uma atividade museus e jardins, mas apenas estar científicos têm mostrado que uma
que traz benefícios, assim não há em um lugar bonito não é suficien- dependência excessiva de GPS
dúvida de que jogar Pokémon Go é te. Você tem que prestar atenção como Wase e Google Maps pode
mais saudável do que ficar jogando a paisagem. Nos experimentos da realmente causar uma atrofia das
um jogo em frente ao computador equipe de Eliard, eles perceberam áreas do cérebro envolvidas na for-
(desde que você se atente ao trân- que os benefícios emocionais e físi- mação de mapas cognitivos.
sito e evite locais perigosos). Colin cos são mais consistentes quando o
Eliard, neurocientista da Universi- indivíduo aloca seus recursos cog- Labirinto virtual
dade de Waterloo, no Canadá, es-
tudou a relação entre o desenho da
rua das cidades e o funcionamento
nitivos para mapear a paisagem, se
relacionar com ela de uma maneira
mais intensa e, digamos, de apego
E m seu laboratório, Eliard,
descobriu que participantes
distraídos, que divagavam mental-
saudável do cérebro humano. Nas - como um andarilho de espírito mente ou se ocupavam com outra
experiências feitas em laboratório, livre. Mas quando andamos em tarefa - distinta de olhar e pres-
a equipe mediu o nível de ansieda- um estado de desapego, perdido tar atenção à paisagem enquan-
de, o movimento dos olhos e a fre- to caminhavam -, estavam mais
quência cardíaca de participantes propensos a ficar desorientado e
enquanto passeavam pela cidade. O número maior de perdido ao atravessar um labirinto
Experiências semelhantes têm sido pokéstops estão em virtual. O problema de Pokémon
executados em muitas metrópoles Go é que você não precisa olhar
como Nova York, Berlim, Mumbai áreas mais verdes para o ambiente, simplesmen-
e Toronto. Os resultados mostram te precisa estar próximo ao local
que quando as pessoas caminham
como parques, museus demarcado. Assim, os jogadores
por áreas urbanas com muitos es- e jardins, mas apenas não estão ativamente prestando
tímulos, os níveis de ansiedade e o atenção à paisagem. Eles estão fo-
batimento cardíaco tendem a dimi-
estar em um lugar cando nas telas de seus celulares.
nuir. Por outro lado, quando o ca- H Ô\‚I : Falo isso por experiência própria.
minho é realizado em áreas verdes, O envolvimento com o jogo cau-
como parques urbanos e jardins,
Você tem que prestar sa padrões de ativação do cére-
os dados fisiológicos e o compor- atenção à paisagem bro que não são muito diferentes

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IMAGENS: 123RF/DIVULGAÇÃO

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dossiê

A lógica binária PARA SABER MAIS

redutora, especialmente PROJETO BEM SUCEDIDO


no julgamento do uso
de instrumentos,
E =;<=9GG9  GG(G9(G G'bI G-G9(GG G-
bello e Thaís Bianco, fundaram um curso para o ensino de ciência forense
destinados a alunos dos 9º anos do Ensino Fundamental II. Neste projeto,
suscita apenas ódio, conhecido como BandForense, os alunos aprendem uma série de técnicas e
procedimentos para resolver casos criminais com auxílio de conhecimentos
reforça uma visão da física, química, biologia e matemática. Fui acolhido pelo grupo no ano de
2014, no qual comecei a apresentar um design de experiência mediado por
bairrista e autoritária elementos mais próximos da cultura pop, especialmente a dos games. Neste
ano, criamos e aplicamos um jogo cujas mecânicas foram inspiradas em
daqueles experimentados por jo-
Pokémon Go. A ideia foi re-
gadores de tiro em primeira pes-
produzir uma caçada, não dos
soa. Com esses tipos de jogos, há
simpáticos Pokémons, mas
um aumento da ativação de uma
sim dos importantes artró-
parte do cérebro chamada de nú-
podes, uma vez que o curso
cleo caudado. Essa parte do cére-
aborda a importância do estu-
bro participa do mesmo circuito
do dos insetos (entomologia)
neuronal que é fortemente ativado
para as práticas forenses. Foi
durante a navegação guiada por
criado assim o Bandforense
GPS (na qual nos concentramos
Go, jogo no qual os alunos
principalmente nos pontos “azuis”
movimentam um avatar caça-
- as pokéstops, ao invés do nosso
dor de artrópodes. Os alunos
entorno). O efeito é amplificado coletam “pokébolas” pelo ce-
pelo simples fato de que no ca- nário e exploram o ambiente
minho pode aparecer a qualquer atrás de escorpiões, besou-
momento um monstrinho para ser ros, lacraias, moscas, vespas,
caçado. A mecânica randômica do etc. Da mesma forma que em
jogo ativa ainda mais o sistema de Pokémon, os artrópodes po-
alerta, mas não para o ambiente e dem somente ser visualizados
sim para a tela do celular. A forte quando estão próximos ao
ativação do sistema que envolve o avatar. Há um radar que sina-
núcleo caudado pode ocorrer em liza quais animais estão nas
detrimento da ativação do hipo- proximidades aumentando a
campo, que é o sistema que o cé- empolgação dos alunos que
rebro utiliza para mapear e com- desejam caçar todas as es-
preender nossas relações com o pécies. A ideia foi criar uma
ambiente. Evidências científicas experiência gamificada dia-
sugerem que a hiperativação do logando com o universo do
núcleo caudado, contrabalanceada aluno. Mas nosso propósito
pelo hipoativação do hipocampo, foi utilizar os animais coleta-
pode implicar em uma variedade dos no jogo para que, pos-
de feitos nocivos, incluindo trans- teriormente, o aluno fizesse
tornos psiquiátricos, doença de uso de uma chave dicotômica
Alzheimer, dificuldades de apren- (instrumento utilizado pelos
dizagem e até mesmo o aumento biólogos para classificar espécies) e identificar os artrópodes coletados e
da vulnerabilidade à dependência. armazenados em uma “artropodéx” virtual (algo bastante similar à pokedéx
Não há dúvidas que o jogo merece do jogo dos Pokémons), conforme os critérios científicos. Não utilizamos
aplausos por encorajar e motivar o jogo pronto, mas sim suas mecânicas para criar uma experiência lúdica,
as pessoas a saírem do sofá e fa- divertida e relacionada à cultura que o aluno está inserido.
zer uma atividade física. Mas não

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Clínica e Educação
podemos nos iludir com a ideia
que os jogadores de Pokémon Go
estão aprendendo e conhecendo
o ambiente em que vive, O méto-
do mais indicado para conhecer
o mundo é muito mais simples.
Vista-se e saia de casa para dar
uma caminhada, olhe em volta (e
não para o celular) e se surpreenda
com aquilo que não teve tempo de
reparar. Seu cérebro vai ficar mais
grato por isso.

Dois lados da moeda


D aniel Levetin, autor de A
Mente Organizada, relata
que há 5 mil anos o surgimento + GGG
GGIG  GPGHGGI ^9
da escrita não foi recebido com níveis de ansiedade e o batimento cardíaco tendem a diminuir
grande entusiasmo. Muita gen-
te considerou a escrita como um Pokémon Go popularizou algo que a prática
I^ IG  GH‚I G PH
tempo. A popularização é importante para
G ‚ G G
IÔ
excesso de tecnologia. Platão re- agora com Pokémon Go. A questão
clamou que com a tecnologia da é que a lógica binária, do “bom” ou
escrita seria impossível constatar a do “mau” não é adequada para se
ŒNo uso da linguagem Œ veracidade das alegações do escri- relacionar com a tecnologia, aliás
O jogo pode ser utilizado para a ba ou, ainda, fazer perguntas. O com qualquer outra coisa. Acredi-
compreensão da linguagem. Ele não Rei Tamuz foi mais enfático, disse tar que alguém que jogue Pokémon
está traduzido ainda para o português que a palavra escrita “enfraquece- Go, por exemplo, é um desocupa-
e isso já é um motivo para utilizá-lo ria o caráter dos homens e forjaria do ou irresponsável é, sem sombra
em sala de aula. No Brasil muitos alu-
o esquecimento em suas almas” O de dúvidas, sintoma de uma man-
nos não falam inglês, mas mesmo as-
Poeta grego Calímaco disse que driice cognitiva que não se desloca
sim conseguem jogar e compreende
perfeitamente a experiência do game.
os livros eram um “grande mal”. de seus próprios valores e pontos
Diversas frases e recomendações são Argumentos dessa natureza e tom de vista para colocar-se no lugar
apresentadas para o jogador como se repetiram após o surgimento da do outro. Dito de outro modo, é
“não entre em áreas perigosas”, “esteja imprensa em 1400. Já no final de falta de empatia. A lógica binária
alerta, fique ciente de seus arredores”, 1600, havia um f luxo constante redutora, especialmente no julga-
etc. Segundo o professor de Inglês de críticas à proliferação de livros, mento do uso de instrumentos,
da UFMG, Ronaldo Gomes Jr. essa é alegando que assim as pessoas aca- suscita apenas ódio, reforça uma
uma ótima oportunidade para o pro- bariam deixando de falar entre si, visão bairrista e autoritária que
fessor iniciar um debate sobre o por-
focando-se intensamente nas his- não conduz ao diálogo, a troca de
quê dessas mensagens, o porquê das
tórias contadas pelos livros. Mais pontos de vista e ressignificação da
mensagens estarem escritas de modo
recentemente, esse amontado de visão de mundo que o indivíduo
IMAGENS: 123RF/DIVULGAÇÃO

imperativo e não de uma maneira me-


nos indireta. Na gramática, o professor argumentos e críticas recaiu com tem. Nestas horas, em que pesso-
de inglês pode discutir o uso de certas a invenção do rádio e da televisão, as compartilham argumentos de
palavras em frases imperativas. depois com os computadores, iPa- ódio, chulos e conservadores, lem-
ds, Facebook, Twitter, Instagram e bro-me das palavras de Nietzsche

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dossiê

quando disse “aqueles que foram *‚ G\ popularização é importante para
vistos dançando foram julgados envolver mais profissionais na
insanos por aqueles quenão po- consultado por pais discussão e alavancar a produção
diam escutar a música”. É por essas curiosos sobre como de novos dispositivos e procedi-
e outras que o profissional, espe- mentos terapêuticos e curativos.
cialmente àquele que é consultado deve lidar com essas
por pais curiosos sobre como deve novas tecnologias O jogo na Educação
lidar com essas novas tecnologias,
deve apresentar os dois pontos de
vista. Antes de falar, talvez seja
deve apresentar todos L ogo após o lançamento Pokémon
Go no Brasil, muitos textos fo-
ram escritos e compartilhados sobre
melhor ouvir as angústias e os
os pontos de vista, o potencial do jogo na Educação. Na
temores do responsável que lhe bons e ruins verdade, acredito que o verdadeiro
consulta. A partir da escuta aten- valor que o jogo entrega para a edu-
ta é que o profissional (psicólogo, tais como sente e acredita, de fato. cação está no uso da realidade au-
orientador educacional, pedagogo, Outro ponto que destaquei neste mentada para ressignificar ambientes
psicopedagogo, etc) pode orientar texto é o poder da tecnologia da
os pais, sempre mostrando os dois realidade aumentada utilizada
lados da história. Elogiar a preo- pelo jogo, associada aos elementos
cupação apresentada pelo respon- típicos de jogos aplicados na expe-
sável é fundamental, assim o in- riência. Pokémon Go popularizou
divíduo se sente acolhido e ficará algo que a prática clínica utiliza e
mais aberto para relatar as coisas se beneficia há um bom tempo. A

ΠNo uso das
ciências da natureza Œ
Há uma exuberante diversidade de
Pokémons organizados em grupos es-
pecíficos. Há pokémons da água, outros
da pedra, das plantas, etc. Existe uma
organização “biológica” desses seres
que pode ser utilizada pelo professor
para introduzir e trabalhar a taxonomia.
Os pokémons evoluem também, como
os conceitos do neodarwinismo se
relacionam com a evolução dos poké-
mons? Os pokémons estão espalhados
pelo ambiente, mas a distribuição não
é randômica. Há mais possibilidade de
capturar um Goldeen - da família da
água - mais próximo de lagos e rios e
o tão desejado Pikachu perto de ante-
nas de energia elétrica. Esse é um ótimo
ponto para discutir ecologia, por exem-
plo, por que alguns pokémons apare-
cem em certos locais? Qual a relação
entre o tipo de Pokémon com suas
possíveis localizações? Além do con-
ceito de evolução, no jogo é possível
incubar ovos. Mas o que isso significa?
Esse pode ser um ótimo gatilho para
 GP I
I^ I9Ô
G IG G
G
 iniciar uma sequência didática de estu-
 

G
IGhÔ:)Ô PI 
G

 G\G
do dos mecanismos reprodutivos.
realidade na vida das crianças e jovens

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Clínica e Educação
PARA SABER MAIS Logo após o
CONSTRUINDO EXPERIÊNCIAS PERSONALIZADAS lançamento Pokémon
Go no Brasil, muitos
A realidade aumentada é uma tecnologia que há décadas vem sendo pesquisa-
das e Pokémon Go está longe de ser a única forma de utilizá-la na Educação.
Na verdade, há outros aplicativos muito mais bem-sucedidos e mais adequados
textos foram escritos e
para uso na educação, medida em que o professor tem um domínio que tipo de
compartilhados sobre
estímulo pode ser revelado quando o a câmera do celular escaneia determinada o potencial do jogo na
imagem do ambiente. No curso de Pós-graduação em Games e Tecnologias da
$ ÈI GG IG
O
IGhÔ
GGGI GI
99  - Educação. O valor está
zamos o Aurasma, aplicativo gratuito disponível na Apple Store ou Play Store, para no uso da realidade
construir experiências imersivas e investigas com os professores. Também explo-
ramos o Layar que permite a criação mais rápida e intuitiva, no entanto o serviço aumentada para
limita o número de aureas criadas gratuitamente - apenas duas. Nestes aplicativos   ‚IGGH 
é possível criar “aureas” e mesclar informações virtuais ao mundo real. É possível,
por exemplo, utilizar uma foto ou qualquer outra imagem que desejar para associar e criar experiências
a uma obra de arte real, um quadro de avisos ou ao rótulo de um produto. Assim, mais imersivas
é possível criar trilhas investigativas, verdadeiras caçadas ao tesouro, mais especí-
ficas para os conteúdos e habilidades pedagógicas. Em uma disciplina específica, logias. O professor pode fazer um
os professores, alunos do curso, tiveram que coletar diversas pistas relacionadas a estudo de meio, especialmente os
GI^ I9IGGPG:G^ 
IGIGG 9 pontos mais próximos da escola.
visualizaram vídeos, ouviram músicas e puderam participar de uma experiência Pode propor uma visita ao local
transmidiática, reunindo diferentes modos de expressão, os quais lhes conduziram das pokéstops, não apenas para
a um processo de investigação, exigindo o pensamento indutivo e dedutivo para coletar os itens, mas também para
resolver o problema em questão. fazer um estudo do local. Explicar
por que aquele ponto foi escolhido,
o que representa para o entorno.
e criar experiências mais imersivas e fessor pode utilizar os diversos nu- Pode ser feito ainda um resgate his-
investigativas na área de Educação. méricos (altura do pokémon, peso, tórico, cultural, social ou político
Pokémons é apenas um tema atra- distância percorrida pelo usuário, da área de visita.
ente. Não obstante, há muitos edu- etc) para trabalhar conversões Não há como fugir do fato de
cadores que já fizeram uso do game numéricas. A captura do mons- que o mundo virtual é uma reali-
dentro da sala para relacionar com trinho depende da distância que dade na vida das crianças e jovens.
um conteúdo específico. Assistido o pokémon, bem como da trajetó- Então, como diz a velha máxima do
por mais de 1.200.000 milhão de ria física da bola que é disparada dito popular: “se não pode vencê-
pessoas no Facebook o vídeo de um com o deslizar do dedo na tela do -los, junte-se a eles” e abuse dos
professor, mostrando dicas de como celular. Esse é um ótimo começo recursos que a realidade virtual
a trigonometria pode ser útil para os para o estudo de movimentos de e aumentada podem oferecer. O
alunos (jogadores) escolherem ca- projéteis, balística e relação entre fenômeno do jogo está aí. De que
minhos mais curtos para andarem e tempo e distância da trajetória. É forma podemos capturar a melhor
terem seus ovos de Pokémons choca- possível também trabalhar com as oportunidade de explorar todos os
dos, é um dos maiores exemplos no Ciências Humanas e suas tecno- caminhos a que ele nos leva?
país. Outros educadores aproveita-
REFERÊNCIAS
ram a febre da Geolocalização que
Baranowski, T. (2016). Pokémon Go999L:"G!#G %Gd GI 9
o jogo utiliza para ensinar Geografia
Development, and Clinical Applications. V.5, 1-2.
em sala de aula.
G
9:":91GG'-‡=;;Cˆ:+G I  GI G H GGIG
GI 
Aos olhos pragmáticos dos crí- space in a blind-walking task. Perception37(7) 1044 – 1053
ticos, não se pode enxergar o rico G
9:":9 9(‡=;;Cˆ:-G GI    H d  GIG
material que pode ser explorado  G G: G  ‡* ! d*IH9=;;Cˆ:
IMAGENS: 123RF

nesse universo dentro da educa- - 9(:9


H9&99( GG 9 :‡=;<Aˆ:Pokémon GoG
G
 GG Gd
ção. Além de trigonometria, o pro- a cautionary commentary for parents and pediatricians. Current Opinion in Pediatrics. 2-6.

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ciberpsicologia Por Igor Lins Lemos

Existem fronteiras
entre o PRAZER
e o SOFRIMENTO?
A INTERAÇÃO SEXUAL
PELA INTERNET NÃO
EXIGE A PRESENÇA
FÍSICA DO(A) PARCEIRO(A),
SENDO CONSIDERADA
UMA REVOLUÇÃO NA
SEXUALIDADE, PORÉM
ESSE USUFRUTO NEM
SEMPRE É SAUDÁVEL

A
internet, espaço virtual ampla- cular, possui uma relevante tendência tilham de uma conversa sexual enquan-
mente debatido nesta coluna, no desenvolvimento e manutenção de to estão conectadas com propósitos de
gerou novas e diversas possi- diversos adoecimentos psíquicos (seja prazer sexual, podendo ou não incluir
bilidades no acesso às infor- no campo dos transtornos de ansiedade, a masturbação. Três características
MA¥ÜES  ALGUMAS DELAS ESPECÓlCAS AO transtornos do controle dos impulsos, FUNDAMENTAIS CLASSIlCAM O CIBERSEXO
público adulto. Nesse grupo etário, um dentre outros) no campo da sexualidade ACESSARPORNOGRAlAon-line, áudio, vídeo
PONTOQUESOFREUALTERA¥ÜESSIGNIlCATIVAS no ciberespaço (Lemos et al., 2012). e histórias textuais; interação em tempo
foi o circunscrito à sexualidade. Sabe-se O cibersexo pode ser considerado real com um parceiro virtual (ou fan-
que as modernas mídias de comunicação uma subcategoria da intitulada ativida- TASIOSO E PORlM  softwares multimídia
proporcionam alternativas na expressão des sexuais on-line%SSADElNI¥ÎOOCORRE (CD, DVD e blu-ray) (Carnes; Delmoni-
psicopatológica, e a internet, em parti- quando duas ou mais pessoas compar- CO'RIFlN  

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ESTUDO REVELA QUE OS TRANSTORNOS DE
ANSIEDADE E DE PERSONALIDADE PODEM
ACOMETER DEPENDENTES DE SEXO VIRTUAL E
USUÁRIOS QUE APRESENTAM COMPORTAMENTO
SEXUAL COMPULSIVO OFF-LINE

literatura de que esses indivíduos revelam IDENTIDADESVIRTUAISE PORlM BAIXORISCO


uma melhor comunicação sexual em seus de apreensão (Hill; Briken; Berner, 2007).
relacionamentos devido ao uso de porno- Técnicas importantes podem ser im-
GRAlANAREDE$ELMONICO'RIFlN   plantadas no manejo e prevenção do uso
Distante daquilo que é considerado PROBLEMÉTICO DO SEXO VIRTUAL  COMO AS-
adaptativo, o grupo de usuários depen- segurar que o computador seja utilizado
DENTESAPRESENTADIlCULDADESNALIBERDADE apenas em locais de grande movimen-
de escolha, comportamentos compulsi- tação; limitar os dias e o tempo de uso;
vos, pensamentos obsessivos, isolamento utilizar o computador apenas quando
e tempo excessivo na prática de sexo vir- outras pessoas estiverem próximas; es-
tual. Um estudo revela que o transtorno PECIlCARLOCAISONDEAINTERNETPOSSAOU
depressivo maior, transtornos de ansieda- não ser usada; ter certeza de que o moni-
de, transtornos de personalidade e uso de TOR ESTÉVISÓVEL PARA TERCEIROS E  POR lM 
substâncias podem acometer dependentes instalar planos de fundo (screen savers ou
de sexo virtual e usuários que apresentam backgrounds) de pessoas importantes (fa-
comportamento sexual compulsivo off-line miliares, parceiro/a). Técnicas efetivas no
(Kuzma; Black, 2008). Um dos fatores que tratamento da dependência de sexo vir-
podem servir para a manutenção desta TUAL SÎO MELHORA NA INTIMIDADE  RECON-
possível psicopatologia é a existência, se- dicionamento de estimulação e desenvol-
gundo os usuários, de algumas vantagens vimento de estratégias de enfrentamento.
NA PRÉTICA DO SEXO VIRTUAL FÉCIL ACESSO  /UTROS MODELOS DE TRATAMENTO ElCAZES
anonimato, mercado ilimitado, prevenção SÎOATERAPIACOGNITIVO COMPORTAMENTAL 
do medo da rejeição, comunicação intera- terapia familiar, treinamento de habilida-
tiva, espaço para experimentação entre a des sociais e intervenções farmacológicas
fantasia e o comportamento da vida real, (Young et al., 1999).

Referências:
CARNES, P.; DELMONICO, D. L.; GRIFFIN, E. In the Shadows of the Net: Breaking Free of Compulsive
Online Sexual Behavior. Center City (MN): Hazelden, 2001.
DELMONICO, D. L.; GRIFFIN, E. J. Cybersex addiction and compulsivity. In: YOUNG, K. S.; ABREU, C.
N. Internet Addiction: a Handbook and Guide to Evaluation and Treatment. New Jersey: Wiley, 2011.
HILL, A.; BRIKEN, P.; BERNER, W. Pornography and sexual abuse in the Internet.
Bundesgesundheitsblatt Gesundheitsforschung Gesundheitsschutz, v. 50, n. 1, 2007.
Apesar da dependência de sexo vir- KUZMA J. M.; BLACK, D. W. Epidemiology, prevalence, and natural history of compulsive sexual
tual ser considerada mais uma expressão behavior. Psychiatric Clinics of North America, v. 31, n. 4, 2008.
patológica dos comportamentos desadap- LEMOS, I. L.; S, M. C. M. D. M.; CALDAS, M. T. Dependência de sexo virtual (cibersexo): uma revisão
tativos relacionados à tecnologia, é im- da literatura. Neurobiologia, n. 75, v. 1-2, 2012.
portante salientar que a maior parte dos YOUNG, K.; PISTNER, M.; O’MARA, J.; BUCHANAN, J. Cyber disorders: the mental health concern for
the new millennium. CyberPsychology & Behavior, v. 2, n. 5, 1999.
USUÉRIOSDEPORNOGRAlAVIRTUALAPRESENTA
um usufruto saudável. Esse grupo, que não
Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento
revela problemas em seu comportamento
123RF / ACERVO PESSOAL

pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia


on-line, constitui aproximadamente 80% Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE).
dos internautas que utilizam recursos por- É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das
dependências tecnológicas. E-mail: igorlemos87@hotmail.com
NOGRÉlCOSDAINTERNET%XISTEMRELATOSNA

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neurociência por Marco Callegaro

IMAGENS: FERNANDO FRAZÃO/AGÊNCIA BRASIL


Quanto treino faz um
CAMPEÃO OLÍMPICO?
UMA CRENÇA BASTANTE DIFUNDIDA É QUE TREINAMENTO
REPETITIVO DE UMA HABILIDADE LEVARIA À PERFEIÇÃO

“A
prática leva à perfeição”, conjunto de publicações em conside- receberam medalha de ouro olímpica
diz a sabedoria popu- ração, procurou lançar luz nessa ques- e aqueles que não se destacaram. A
lar, em um ditado que tão. O estudo focou na relação entre o prática deliberada explicou apenas 1%
expressa a crença, am- treinamento e a performance esporti- da variação no desempenho dos atle-
plamente difundida, de que treinar va, e chegou a algumas conclusões im- tas de elite.
uma habilidade é a chave da melho- portantes. Um dos achados do estudo Outra questão investigada foi a
ra contínua do desempenho. Parece apontou que a relação entre a prática idade de início da prática no esporte.
muito intuitivo e evidente que prati- deliberada e o desempenho esportivo A crença mais difundida a respeito, e
car e praticar melhora a performance, existe, mas não de maneira tão vigo- compartilhada por pais e treinadores,
e que, portanto, um desempenho de rosa como se pensava anteriormente. é de que um alto desempenho esporti-
alto nível se origina de um treinamen- A prática pode não contribuir para vo depende de começar cedo a prática
to rigoroso. Acredita-se que depende- melhorar a performance quando se de um esporte. Os pesquisadores com-
ria de treinamento obsessivo para um trata de altos níveis de desempenho pararam a idade de início na prática
atleta atingir o nível de ganhar uma em um esporte, por exemplo. Dentro esportiva em se tratando de atletas de
medalha olímpica. dessa análise, não fez diferença signi- alto desempenho e aqueles com bai-
Um estudo de meta-análise, um f icativa o número de horas de prática xo rendimento e não encontraram ne-
tipo de investigação que leva todo um deliberada acumulada em atletas que nhuma diferença signif icativa.

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ROBERTO CARLOS/FOTOS PÚBLICAS

Segundo os resultados, o desempe- NO ENTANTO, PESQUISA MOSTRA QUE MESMO


nho de alto nível em um esporte não
UMA PRÁTICA OBSESSIVA MELHORA APENAS
depende tanto da prática com era es-
perado. Certamente existem fatores 1% O DESEMPENHO DE ATLETAS DE ELITE
genéticos envolvidos. Outros fatores
excetuando o treinamento podem con- mente no desempenho esportivo. f inanceiro e de tempo na prática esco-
tar, como a experiência em competi- Existem fatores de habilidades cog- lhida, e considerar o desejo do atleta
ções e atividades lúdicas. Curiosamen- nitivas que aumentam o desempenho em participar de outras formas de ex-
te, participar de múltiplos esportes nos esportes, como inteligência geral, periências, como outras modalidades
antes de se especializar em uma única a capacidade da memória de trabalho, esportivas, por exemplo.
modalidade pode prever positivamen- a habilidade de controlar a atenção, Outra implicação desse estudo é
te o bom desempenho naquele esporte, velocidade de percepção e psicomo- que a mania dos pais de estimularem
aumentando a coordenação e melho- tora, por exemplo. PRECOCEMENTE OS lLHOS  COLOCANDO OS
rando habilidades motoras essenciais. Estudos como esse revelam toda demasiadamente cedo na prática de es-
De fato, especializar-se mais tarde uma gama de variáveis que inf luen- portes, pode ser contraprodutiva. Nem
em um esporte pode reduzir lesões e ciam o desempenho esportivo e po- a prática exagerada nem iniciar muito
estresse psicológico que acompanham dem contribuir para um melhor dire- cedo em um esporte podem ajudar a
o treinamento precoce, e assim contri- cionamento de esforços. Com esses melhorar o desempenho esportivo, e os
buir para que o atleta atinja e mante- conhecimentos, podemos pesar de pais e treinadores devem levar em con-
nha altos níveis de desempenho. forma mais elaborada o investimento sideração essas informações.
Fora a prática deliberada, existem
Para saber mais:
vários traços psicológicos que contam MACNAMARA, B. N.; MOREAU, D.; HAMBRICK, D. Z. The relationship between deliberate practice
na avaliação do desempenho esporti- and performance in sports: a meta-analysis. Perspectives on Psychological Science, n. 11, p. 333-
vo. A conf iança em si mesmo faz di- 350, maio 2016. doi:10.1177/1745691616635591
ferença. A predisposição para experi-
Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento,
mentar ansiedade de desempenho, a diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto
aversão para consequências negativas Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo
e a sensibilidade para recompensas Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o
Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).
também inf luenciam signif icativa-

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recursos humanos por João Oliveira

AUTONOMIA
com responsabilidade
A INFORMAÇÃO DEVE SER A BASE DE QUALQUER PROCESSO DA
DESCENTRALIZAÇÃO DE PODERES. O EMPOWERMENT SURGE
COMO UMA FORMA DE COLOCAR O COMPROMETIMENTO
DA EMPRESA COM O SEU MERCADO EM PRIMEIRO PLANO

O
momento atual exige velo- outras pessoas com o relato de sua no atendimento ao cliente e, para isso,
cidade nas respostas. Não própria experiência. Dependendo da o empoderamento dos colaboradores
HÉ TEMPO PARA DIVAGA¥ÜES credibilidade desse cliente, outros nem que atuam diretamente com o mercado
entre as estruturas institu- buscarão a empresa, mesmo que nunca deve existir em plenitude.
cionais, pois o cliente pode optar pelo tenham tido nenhum contato bom ou A terceirização do SAC, cada vez
concorrente em segundos, graças às ruim com a instituição. mais comum, é a maior inimiga da reso-
tecnologias disponíveis ao toque dos As grandes multinacionais consi- lução de demandas. Nesse tipo de aten-
DEDOS4ERUMAEQUIPEFUNCIONALAlNA- DERAMARESOLU¥ÎORÉPIDADESITUA¥ÜES  dimento ao cliente, a limitação de infor-
da com os ideais da empresa é apenas mesmo que possam gerar pequenas mações e autonomia é fato comprovado.
PARTE DO PROCESSO E Ï NECESSÉRIO UTILI- perdas, como um investimento no Outra forte barreira é a tentativa de
zar o empowerment. FUTURO CLIENTE  QUE Ï lDELIZADO E UM automatização nos atendimentos com
A burocracia não é o único empe- agente promotor de seus serviços ou OP¥ÜES DE DIRECIONAMENTO INlNDÉVEIS
cilho no trâmite para a resolução de produtos. Um exemplo é o atendimen- Isso ocorre pela especialização extrema
demandas no dia a dia de qualquer to de um serviço mundial de streaming DEÉREAS EOQUE ANTES PARECIASERUM
instituição. A falta de distribuição de vídeos, no qual os atendentes, em investimento em solução, torna-se uma
de responsabilidades com autonomia todos os países em que o serviço opera, pirâmide inversa, levando o cliente a se
nos indivíduos da equipe, de fato, é o são capazes de ofertar descontos, dele- PERDER NO UNIVERSO DIVERSIlCADO CRIADO
maior problema. tar faturas ou aplicar créditos extras PELA INSTITUI¥ÎO  AlNAL PESSOAS GOSTAM
Uma intervenção que visa tornar os NAS CONTAS DE SEUS USUÉRIOS IMEDIATA- de falar com pessoas.
PROCESSOS ÉGEIS DEVE SE PREOCUPAR EM mente enquanto falam ao telefone, sem O sucesso não tem muito segredo.
nivelar o conhecimento das ações para nenhum tipo de prolongamento no de- Geralmente tem muito investimento em
solucionar problemas. De nada adianta bate. Solução em primeiro plano para tempo de planejamento e de trabalho na
ter velocidade e causar danos à própria GERARSATISFA¥ÎONOUSUÉRIO efetivação do projeto. Mas o resultado
empresa em prol de atender solicitações. Nem todas as empresas podem pode ter grande durabilidade se a exe-
Temos que lembrar que essa mu- atender seus clientes dessa forma, até cução for bem-sucedida. O empowerment
DAN¥A Ï NECESSÉRIA PORQUE O MERCADO MESMOPELOPERlLDEPRODUTOQUEFOR- surge como uma forma de colocar o
possui sua própria estrutura de poder, necem. A limitação de estoque ou es- comprometimento da empresa com o
de escolha e de moldar a opinião futura. paço – coisa inexistente nesse univer- seu mercado em primeiro plano. Mas
Um cliente que passa por uma experi- so de serviços on-line – pode diminuir não existe empowerment sem distribui-
ÐNCIA RUIM DE ATENDIMENTO IRÉ BUSCAR o percentual de êxito nas negociações ção, primeiro, da informação. Dar auto-
outro fornecedor na próxima ocasião entre as partes. No entanto, dar con- nomia a um indivíduo que desconhece
QUE PRECISAR  E AINDA PODE INmUENCIAR cessões ou alternativas deve ser padrão os recursos disponíveis para a resolução

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UMA INTERVENÇÃO QUE VISA TORNAR OS buição de responsabilidades, da mesma
forma que uma comunicação aberta, em
PROCESSOS ÁGEIS DEVE SE PREOCUPAR EM
duas vias, é a única forma de transpa-
NIVELAR O CONHECIMENTO DAS AÇÕES PARA recer alg uma autonomia entre os ele-
SOLUCIONAR PROBLEMAS. DE NADA ADIANTA mentos atuantes no corpo institucional.
Quem não sabe os recursos que tem para
TER VELOCIDADE E CAUSAR DANOS À PRÓPRIA resolução de demandas, e não conseg ue
EMPRESA EM PROL DE ATENDER SOLICITAÇÕES se comunicar com quem deveria saber, é
inútil e ainda prejudica o crescimento da
DECONmITOSÏINVESTIRNOBREVEFRACASSO entra o planejamento visando o plano instituição em que opera.
de qualquer negociação com o mercado. futuro de crescimento. Não se deve en- A centralização de poderes pode ser
As pequenas instituições podem, trar no mercado sem o pensamento vol- atraente para quem possui uma autoes-
mais rapidamente, ofertar soluções in- TADOPARAAEVOLU¥ÎO/CONTRÉRIODISSO TIMADUVIDOSAEQUESTIONÉVEL)SSOPODE
ternas e externas graças à limitação de é o processo artesanal, no qual uma pes- ser resolvido fora das fronteiras da insti-
contatos. Muitas vezes, supervisores ou SOA Ï RESPONSÉVEL POR TODO O PROCESSO  tuição em um local terapêutico livre da
gerentes são acionados, demandando al- sem distribuição de tarefas. possibilidade de causar danos na produ-
g uns poucos minutos até que haja a dis- Treinamentos constantes são neces- tividade e ao conceito que o mercado
solução do impasse. Mesmo assim, são SÉRIOS MESMOONDENÎOEXISTEADISTRI- pode construir sobre a empresa.
recursos desviados de seus focos princi-
PAISMUITASVEZESPORSITUA¥ÜESDEFÉCIL
IMAGENS: 123RF/ACERVO PESSOAL

lNALIZA¥ÎOSEMREVÏSINSTITUCIONAL João Oliveira é psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e


Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão: Relacionamento em Crise:
Podemos inferir que o empowerment Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!; Jogos para Gestão
deve iniciar na empresa no momento de de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana:
seu surgimento sem a centralização de Entenda Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise
Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).
decisões consideradas cotidianas. Aqui

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EDUCAÇÃO

Desvendando os
SUPERDOTA Quando
Q uando se
se trata
trata de de crianças
crianças ouou
adolescentes d
adolescentes otados d
dotados dee aaltas
ltas hhabilidades
abilidades
é iimprescindível
mprescindível terter um
um cuidado
cuidado
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om os
os aspectos
aspectos emocionais
emocionais
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inclusão na na escola
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Por M
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Berto
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Massuda
assuda e R
Rosemeire
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de
eAAraújo
raújo R
Rangni
angni

Mayra Berto Massuda é doutoranda


e mestre em Educação Especial,
psicopedagoga e graduada em Letras.
Rosemeire de Araújo Rangni é professora adjunta II
do curso de licenciatura em Educação Especial
e pós-graduação em Educação Especial.
Autoras do livro Altas Habilidades / Superdotação –
Pesquisa e Experiência para Educadores (Wak Editora).

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DOS 123RF

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EDUCAÇÃO

D
urante muitos anos Desse modo, são considerados
as crianças que eram alunos com altas habilidades ou su-
chamadas de super- perdotação aqueles que demonstram
dotadas, em alguma potencial elevado em qualquer uma
área do conhecimen- das seguintes áreas, isoladas ou com-
to, eram estigmatizadas ou, até mesmo binadas: intelectual, acadêmica, lide-
por falta de informação por parte de rança, psicomotricidade e artes. Tam-
pais e professores, se sentiam inade- bém apresentam elevada criatividade,
quadas. Pois bem, altas habilidades ou
superdotação é a denominação mais re-
grande envolvimento na aprendiza-
gem e realização de tarefas em áreas
ŒhGGŒ
Existem vários mitos envolvendo o tema.
cente utilizada pelas Leis de Diretrizes de seu interesse, de acordo com a Po- Alguns deles: boa dotação intelectual como
e Bases da Educação Nacional, de 1996 lítica Nacional de Educação Especial condição suficiente para alta produtividade
na vida; aluno com superdotação apresentará
(Lei nº 9.394), alterada em 2013 (Lei na Perspectiva da Educação Inclusiva,
necessariamente bom rendimento na escola;
nº 12.796), para se referir justamente a de 2008. indivíduo superdotado apresenta necessaria-
alunos com potencial acima da média. Essa política nacional estabele- mente algum tipo de distúrbio ou disfunção;
Essa alteração trouxe a ratificação de ceu a inclusão escolar de pessoas com indivíduo superdotado é imune a qualquer
que alunos com essa especificidade são altas habilidades ou superdotação problema emocional (Fleith, 2007, p. 41-43).
considerados público-alvo da educa- dentro da modalidade da educação
ção especial, com todos os direitos aos especial, apontando que esses alunos
serviços especializados. O Decreto nº deveriam receber atendimento espe- ressalva-se que em número irrisório
7.611, de 17 de novembro de 2011, dis- cializado, de forma articulada ao en- de matrículas. As recomendações na
põe sobre a educação especial e o aten- sino comum, e em todos os níveis de literatura especializada indicam que
dimento educacional especializado. ensino, desde a educação infantil até pelo menos 10% da população podem
o ensino superior. possuir altas habilidades ou super-
Tendo em vista essa definição, po- dotação. Se for considerada a malha
de-se compreender que se trata de um estudantil brasileira, em torno de 50
grupo heterogêneo e diverso de pesso- milhões, é possível concluir que são
as que têm habilidades e necessidades desperdiçados inúmeros talentos en-
diferentes entre elas, já que esses indi- tre esses estudantes. O censo de 2012
víduos podem apresentar seis áreas de aponta pouco mais de 11 mil matrí-
domínios de capacidades. Isso signifi- culas, que, apesar de terem evoluído,
ca que a identificação e o atendimento ainda são incipientes.
não se configuram uma tarefa fácil de Nesse cenário, observa-se que por
ser conduzida, especificamente pelos mais que os documentos pertinentes à
meios escolares. legislação educacional se mantenham
No entanto, levantam-se as se- em orientações ao atendimento a esse
guintes questões: Os alunos que se grupo de pessoas, não se verifica um
destacam por suas capacidades eleva- crescimento vertiginoso das matrícu-
das são contemplados pela legislação las nas escolas brasileiras, apontando
educacional? Eles têm sido reconheci- um descompasso ao que é proposto
dos e atendidos? A resposta é sim, mas nas políticas públicas.

PGHI
GG IÔIG

GIGG GH 
G


G

IGhÔI G9GG

G
 GIHG

A criança que demonstra potencial elevado em áreas I G G
9
GG IG
GG 
como artes, liderança, psicomotricidade, intelectual
ou acadêmica é considerada superdotada I9
^ 
 
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Mitos que persistem
A lgumas hipóteses são pontuadas
para explicar o descaso com essa
parcela de indivíduos, uma delas pode
ser a falta de conhecimento da temáti-
ca pela sociedade e pelos educadores.
Nesse sentido, mitos e crenças popu-
lares são criados e perpetuados acerca
das pessoas com altas habilidades ou
superdotação no sistema educacio-
nal, tais quais: esses indivíduos ca-
minham por si sós e não necessitam
de atendimento; são alunos nota 10
em tudo; são fracos emocionalmente;
são, em sua maioria, do gênero mascu-
lino; entre outros.
O mito de que não necessitam de /G
G
IGG
 
‚I
G
GP IGeÔ G
GG
atendimento propicia que, possivel- direito de ter seus potenciais reconhecidos
mente, o professor e/ou gestor público
entenda que aqueles que têm defici-
ência ou transtornos devem ser prio- .GG¢
 È9
rizados no atendimento especializa-  GH 
G
I
G


do. Entretanto, pesquisas científicas
apontam que os altos habilidosos ou 9 P 
^

superdotados precisam, sim, de apoio 
GG PG

^ 
para o seu desenvolvimento, assim
como esses indivíduos não são nota 10

IGGI
G
9   IGG
em tudo. Esses mitos fazem com que
  IGhÔÔI GGGGPI 
eles se sintam sobrecarregados pelas
exigências de que não podem falhar
e serem o máximo, especialmente nas ou superdotação podem, sim, apresen-
disciplinas escolares. tar dificuldades de aprendizagem em
Considerar que o aluno com altas algum ou vários momentos da vida.
habilidades ou superdotação é ape- Isso é possível considerando a gran-
nas aquele que tira nota 10 em todas de diversidade de áreas de potencial
as matérias e se destaca em todas as das pessoas com altas habilidades ou
áreas de desenvolvimento humano superdotação. Assim, um aluno com
pode trazer um grande prejuízo a es- essas características na área física, que
sas pessoas. Primeiro, porque faz com seja ótimo atleta, que se destaque por
que somente um grupo muito seleto e Œ I GŒ sua autopercepção corporal, agilidade,
de perfil notoriamente acadêmico se Segundo Silverman, a superdotação é um de- rapidez, força e destreza, pode ter difi-
destaque entre os mais inteligentes. senvolvimento assincrônico, no qual habilida- culdade em matemática. É necessário,
Segundo, porque se estabelecem ex- des cognitivas avançadas e a alta intensidade então, aceitar que não ser bom em to-
se combinam para criar experiências internas e
pectativas irreais quanto ao desem- uma consciência que são qualitativamente di-
das as matérias ou em tudo que faz não
penho escolar desses alunos, gerando ferentes do padrão. Essa assincronia aumenta destitui a pessoa do direito de ter seus
uma alta carga de cobrança e descon- de acordo com o nível de capacidade intelec- potenciais reconhecidos.
siderando aqueles que possam apre- tual. A singularidade das pessoas superdotadas Muitas pessoas com altas habili-
sentar dificuldades de aprendizagem as torna vulneráveis e requer modificações na dades ou superdotação também são
parentalidade, no ensino e no aconselhamen-
e de comportamento. malvistas por fugirem dos padrões de
IMAGENS: 123RF

to, a fim de que elas se desenvolvam melhor


Apesar de aparentemente incoe- (Silverman, 2007, tradução das autoras). pensamento e comportamentos esta-
rente, pessoas com altas habilidades belecidos socialmente como normais

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EDUCAÇÃO

PARA SABER MAIS assumir riscos e curiosidade como as-


pectos positivos apenas para o gênero
EVOLUÇÃO DE MATRÍCULAS DE ALUNOS masculino, sendo vistas como des-
COM ALTAS HABILIDADES ENTRE 2003-2012 qualificação ou depreciação quando
12.000
identificadas em mulheres. Não é de
se estranhar que se identifiquem mais
11025
10763 homens do que mulheres com altas ha-
10.000
bilidades ou superdotação há séculos,
9000
senão milênios, em determinadas cul-
8.000
turas, pois estas têm sido colocadas em
segundo plano, principalmente quan-
6.000
do se fala de reconhecimento acadêmi-
5205
co e profissional.
4.000
Além desses, outros mitos pare-
3272
2769 2570 cem se perpetuar no senso comum, por
2.000 1928 exemplo, de que as altas habilidades
1720 1600
ou superdotação são exclusivamente
0 genéticas ou apenas provenientes de
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
estímulos do meio. Esses mitos des-
Fonte: BRASIL 2015
consideram todos os avanços de pes-
quisadores nacionais e internacionais,
que têm se empenhado para mostrar
+G 
I  que, nas pessoas com altas habilidades
O GhÔ
IGI GG G ou superdotação, há tanto uma capaci-
dade inata, decorrente de uma predis-
 Gh€GG
G9Ô posição genética, quanto o desenvol-
  IGII   
G vimento decorrente da estimulação de
um ambiente propício e favorável.
G^IG9GG

IGG Os mitos relativos às altas habilida-
\G^ IGbH IG des ou superdotação são decorrentes,

e, muitas vezes, são consideradas fra-


O importante é não
cas, desequilibradas e instáveis. Esse
esquecer que uma
mito nasceu dos exemplos de artistas criança que apresenta
e cientistas famosos por seus grandes altas habilidades
feitos e, ao mesmo tempo, por sua continua tendo muitas
fragilidade física e seus problemas so- das características das
outras crianças
ciais e psicológicos. Entretanto, não
há nenhuma pesquisa que comprove
que as altas habilidades ou superdo-
tação ocorra apenas em pessoas com
transtornos psicológicos, ou seja, uma
de suas causas.
Ainda, o mito que indica que exis-
tem mais homens do que mulheres
com altas habilidades ou superdotação
desconsidera a influência do contex-
to histórico, cultural e social em que
vivemos. Isso é caracterizado pela su-
pervalorização de características como
pensamento divergente, coragem de

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GI
Não existe um
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‚


GhÔ9
do superdotado,
mas algumas
9
características, GG
como senso de
humor desenvolvido,
 I
G


idealismo e
perfeccionismo,
GI G
entre outros IG\
G
G
G
9

 I
G

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I

principalmente, da falta de informação duo – e outro de ordem externa – em
 
sobre essas características no meio edu- relação a outro indivíduo ou ao am- G IÏ I
cacional e da prevalência de pensamen- biente, incluindo a escola e a família.
tos preconceituosos e excludentes, que Dentro do assincronismo interno,
estigmatizam e dificultam o reconhe- entendem-se as seguintes esferas: afe- Esse tipo de assincronismo, em-
cimento e o desenvolvimento saudável tiva-intelectual, que se manifesta em bora seja considerado de nível interno,
dos potenciais dessas pessoas. atitudes emocionais ou afetivas que tem efeitos diretos nas relações das
Não se pode esquecer também aparentam ser incoerentes ou imatu- pessoas com seus pares, sua família e
que uma criança ou adolescente que ras, de acordo com o nível intelectual com o ambiente de estudo, trabalho
têm altas habilidades ou superdotação da pessoa; intelectual-psicomotor, ex- ou lazer. Dessa forma, são considera-
continuam sendo criança e adolescen- presso na discrepância entre a rapidez dos assincronismos externos: escolar-
te como outros. A identificação de de raciocínio cognitivo e a rapidez mo- -social, que caracteriza o descompas-
seus potenciais não deve servir para tora; de linguagem e raciocínio, que se so entre os assuntos desenvolvidos na
satisfazer o ego dos pais, tampouco manifesta na dificuldade de expressar escola e os interesses do aluno com
deve ser motivo para sobrecarregar os pensamentos em palavras. altas habilidades ou superdotação;
os filhos com exigências irreais. Se a familiar, que caracteriza a dificuldade
carga de responsabilidades e cobrança de equilibrar o nível intelectual e as
for excessiva, isso pode conduzi-los, relações familiares.
muitas vezes, à frustração e sofrimen- A pessoa com altas habilidades ou
to, que acarretam em problemas de superdotação, frequentemente, apre-
ajustamento. senta dificuldades de relacionamento
com pessoas da mesma idade, dificul-
Desenvolvimento incomum dades escolares e desajustamentos de-

N esse sentido, Terrasier traz à luz o


conceito de dissincronismo, me-
lhor explicitado como assincronismo
Œ.G GŒ
correntes desse desenvolvimento as-
sincrônico. Nada mais compreensível
que uma criança que tenha interesses
A biblioterapia envolve o uso de livros infanto-
pelo Grupo Columbus e que caracteri- juvenis na compreensão e na solução de pro- em física avançada sinta-se incomo-
za a disparidade entre diferentes face- blemas. Já a cinematerapia se caracteriza pelo dada em frequentar aulas de ciências
tas do desenvolvimento: o cognitivo, uso de filmes que retratam situações viven- básicas. O mesmo ocorre quando um
o físico, o social e o emocional, por ciadas pelos indivíduos com altas habilidades adolescente, ou um adulto, relata ser
ou superdotação. Ambas estratégias também
exemplo. Esse autor pontua dois tipos incompreendido e não ter afinidade
IMAGENS: 123RF

se utilizam de discussões entre os alunos e os


de assincronismos: um de ordem inter- professores (Fleith, 2007, p. 46). com seus colegas de estudo ou traba-
na – que ocorre no interior do indiví- lho e até mesmo entre os familiares.

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EDUCAÇÃO

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GG Œ+GG GIGŒ
O livro Altas Habilidades/Superdotação – Pes-
quisa e Experiência para Educadores apre-
Sendo assim, é possível notar versão; consciência aguçada de si mes- senta pesquisas realizadas por professores,
que tanto a criança, o adolescente e mo; grande sensibilidade e intensida- mestrandos e doutorandos da disciplina
o adulto podem apresentar assincro- de emocional. “Temas em Educação Especial: Educação de
Educandos Talentosos: Identificação e Aten-
nismos em seu desenvolvimento, que Nessa contextualização, infe-

o
+GG
+`¢"G
GhÔ
dificultam o reconhecimento de seus rir que os superdotados são fracos Educação Especial da Universidade Federal
potenciais e que podem causar falta emocionalmente é equivocado, uma de São Carlos. Abordam pesquisas realizadas
de compreensão por parte de seus vez que questões emocionais podem da educação infantil ao ensino superior, bem
familiares e colegas e dificuldade de estar presentes em qualquer pessoa, como a experiência de uma mãe com um filho
com indicadores de precocidade.
estabelecer sua própria identidade. independentemente de estar acima
Aqueles que pouco conseguem se ex- da média em potencialidades. Uma
pressar, que não são compreendidos pessoa sem reconhecimento, incom- riquecimento escolar; recursos nas
em suas singularidades, que não são preendida e sem aceitação no grupo comunidades (bibliotecas, livrarias,
respeitados por suas diferenças po- que vive, na maioria das vezes, terá atividades culturais); aconselha-
dem preferir negar ou esconder suas dificuldades de ajustamento. E o sis- mento individual e grupal; orienta-
habilidades só para serem considera- tema escolar brasileiro, da forma que ção à família.
dos parte de um grupo. se encontra, é um ambiente que leva Retomando ao reconhecimento
É evidente, assim, que o alto nível estudantes talentosos a se desajusta- no contexto escolar, questionamos
de desenvolvimento intelectual pode rem e, ainda, a se evadirem, resistin- se a inclusão desses estudantes está
não ser compatível com o desenvol- do à escola. ocorrendo? Há iniciativas públicas
vimento emocional e social da pessoa Fleith (2007) recomenda dicas significativas para esse atendimento?
com altas habilidades ou superdotação, para que as dificuldades emocionais É possível responder que sim. Entre-
o que pode levá-las a uma situação de e sociais possam ser superadas, tais tanto, como já discorrido, em despro-
vulnerabilidade e que aponta para a como: aconselhamento psicológi- porção ao que rege a legislação edu-
grande importância dos pais, professo- co; implementação de técnica de cacional que lhes garante o direito ao
res e psicólogos no processo de desen- biblioterapia e cinematerapia; en- atendimento especializado.
volvimento de seus potenciais.
REFERÊNCIAS
Necessidades emocionais
O
BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 1996.
s indivíduos com altas habili- Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 3 abr. 2016.
dades ou superdotação diferem . Decreto nº 7.611. Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e
entre si. Portanto, não é possível defi- dá outras providências. 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br. Acesso em: 15 mar. 2016.
nir um único perfil psicológico. Fleith . MEC. Orientações para implementação da política de educação especial na perspectiva
(2007) discorre algumas caracterís- da educação inclusiva:=;<@: ^d d¤¤::::H¤ I¤G¤‚¤G¤
ticas emocionais e sociais: idealismo Documento_Subsidiario_EducaCao_Especial.pdf. Acesso em: 1 abr. 2016.
e senso de justiça; desenvolvimento . INEP. MEC. Sinopses estatísticas da educação. In: Censo da Educação Básica de 2015. Brasília:
INEP, 2015. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/basica-censo-escolar- sinopse-sinopse. Acesso em:
moral avançado; perfeccionismo; alto
1 mai. 2016.
nível de energia; senso de humor de-
FLEITH, D. S. Altas habilidades e desenvolvimento socioemocional. In: FLEITH, D. S.; ALENCAR, E. M. L. S.
senvolvido; independência de pensa- (Orgs.) Desenvolvimento de Talentos e Altas Habilidades – Orientação a Pais e Professores. Porto Alegre:
mento e valores; paixão por aprender; Artmed, 2007.
perseverança; multipotencialidade; -$'0 ()9':&:I dG)‚  " 
:=;;B: ^d d¤¤ :
:

não conformismo; tendência à intro- node/839. Acesso em: 4 jun. 2015.

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MOMENTO DO LIVRO

A Moreninha
LITERATURA BRASILEIRA EM QUADRINHOS


Augusto estudante de medicina,
Augusto,
August
viaja para celebrar o dia de Sant’Ana
na casa da avó de um amigo, onde
se reúnem belas moças e família.
Galanteador, aceita uma proposta de
seu amigo Filipe: não se apaixonar por
QLQJXpPDWpRÀPGDIHVWDQoD2TXH
HOHQmRFRQWDYDpTXHHPVHXFDPLQKR


KDYHULDXPDPRUHQLQKDHXPPLVWpULR
TXHRDFRPSDQKDGHVGHDLQIkQFLD
QIkQFLD
IkQFLD

Não é de agora que a adaptação de obras


clássicas da literatura para outras linguagens
vem se fortalecendo. O cinema, a televisão e o
teatro há muito procuram resgatar, cada um a
seu modo, as maravilhas que povoam as pági-
nas de uma grande obra literária.

Foi pensando em apresentar uma forma


diferente de leitura que apresentamos A Mo-
reninha, de Joaquim Manoel de Macedo. Essa
versão da obra faz parte da coleção Literatura
Brasileira em Quadrinhos, que reúne outros
títulos de grandes nomes como Machado de
Assis, Lima Barreto, Antônio de Alcântara Ma- Livro: A Moreninha
chado, Aluísio de Azevedo e Manuel Antônio Número de páginas: 76
de Almeida. Editora: Escala Educacional

À venda na loja Escala www.escala.com.br


divã literário por Carlos São Paulo

O DINHEIRO, a SAÚDE

eo
SAGRADO

PESQUISAS ANUNCIADAS
NA IMPRENSA NACIONAL
ALERTAM QUE O
BRASILEIRO ESTÁ
CONSUMINDO, POR CONTA
DA CRISE ECONÔMICA,
MAIS ANSIOLÍTICOS
E ANTIDEPRESSIVOS
DO QUE OS EUROPEUS

64 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br


Q
ue relação tem o dinheiro com O HOMEM MODERNO Dinheiro, Saúde e Sagrado
a saúde e o sagrado? Seria o di- Autor: Waldemar
nheiro, neste século, uma divin-
DEIXOU DE TROCAR Magaldi Filho
Editora: Eleva Cultural
dade? O psicólogo Waldemar LIVREMENTE. HOJE Ano: 2009
Magaldi, em seu livro Dinheiro, Saúde e É O CONSUMO 320 páginas
Sagrado, consegue analisar o quanto esses
itens estão por trás do adoecer e da infelici- DO SUPÉRFLUO.
dade humana atualmente. O dinheiro, essa O DINHEIRO É O propiciou essa facilidade para que, num
fonte inesgotável de energia e de transfor- clique, o consumir passe despercebido
CAMINHO DE “CURA”
mações, poderia ser orientado para uma e cause um sentimento de satisfação e
VIDASAUDÉVEL-ASEMVEZDISSOlCAAPRI- E “SALVAÇÃO” prazer. Essa busca de preenchimento do
sionado em duas engrenagens que se man- vazio, a divindade do dinheiro virtual, pa-
têm sem comunicação uma com a outra promisso de débito do outro, até mesmo rece atender todos os anseios. Parece ser
e igualmente viciadas. A primeira é maior o sentir a satisfação desse outro e esperar um ato de amor-próprio. Mas transforma-
em número de pessoas: são aquelas que ASUAlDELIDADE$ARELA¥ÎODETROCA EM -se em inferno no dia do confronto com os
consomem para criar débitos, trabalham função do sentimento de dívida que está débitos, ou da inutilidade dessas compras.
para pagar suas dívidas e assim continuar presente na natureza humana, é que fo- O agir sobre o mundo é o nosso mun-
a consumir, num movimento que mais pa- ram surgindo os rituais de doações e sa- do exterior; enquanto entender o mundo
rece um moto perpétuo. A outra engrena- crifícios, a exemplo das oferendas para os é o nosso mundo interior. Esse mundo
gem, com menos componentes humanos, orixás e o dízimo das igrejas. exterior tem avançado muito em recursos.
gira em torno de acumular riquezas para O homem moderno deixou de trocar li- A vida humana se tornou mais longa e a
manter o seu poder e, para isso, deve lucrar VREMENTE(OJEÏOCONSUMODOSUPÏRmUO tecnologia vem facilitando o controle e
para continuar acumulando e assim perpe- O dinheiro é o caminho de “cura” e “salva- substituindo o trabalho manual pelo meio
tuar esse poder que lhe parece garantir sua ção”. Empanturra-se de farta comida para eletrônico. O excesso de estímulos para
importância no mundo. encher o vazio existencial ou, como diz o as relações horizontais traz a racionaliza-
Uma retratação metafórica dessa con- autor: vai ao shopping para comprar o que ção e a intelectualização. Enquanto isso,
dição encontra-se na criação de Disney. O não precisa, com o dinheiro que não tem, o mundo interior, onde acontecem nossos
Tio Patinhas necessita dos Metralhas. Am- com o intuito de impressionar a quem não sonhos, deseja se manifestar. Mas quando
bos são fascinados pela riqueza. Vivem pla- conhece. Para aqueles que acumulam, o es- o faz não é reconhecido em sua lingua-
nejando fortuna, e a maior parte do tempo pírito do lucro passou a ser evangelho. E a gem não lógica para a consciência. Essa
vivem presos. Patinhas, em seu cofre forte. riqueza material tornou-se a salvação. Jun- falta de contato com esse mundo interior
Os Metralhas, na cadeia. O Pato Donald, a tos, os que consomem e os que acumulam cheio de enigmas e encantamentos talvez
classe explorada, faz o seu trabalho obsti- passaram a honrar a divindade que lhes nos faça substituí-los por tecnologia.
nado e lhe faltam criatividade e sorte. Já o permite isso: o dinheiro. Como um deus, Surgiu o Pokémon – para procurar
Gastão, sem transitar no trabalho e na cria- o dinheiro parece resolver todas as neces- monstros virtuais. Corre-se atrás de ima-
TIVIDADE lCACOMASORTE%NQUANTOISSO O sidades. Traz a falsa realização de nossos gens que mais parecem o sonhar acorda-
Professor Pardal, com o conhecimento e a sonhos, ou a ilusão do poderoso que pensa DO % ONDE lCAM OS MONSTROS QUE CRIA-
TECNOLOGIA lCAÌMERCÐDOSINVESTIMENTOS assim garantir sua importância no mundo e mos? Os do Pokémon já estão formatados,
do Patinhas. A moeda número 1 do Pati- deixá-lo no céu. Tarde quando descobrem mas servem para nos habituar a fugir
nhas é o seu talismã, símbolo do sagrado que não estão no paraíso, mas no inferno da realidade? Nos debatemos contra os
que lhe confere a graça e a sorte. onde todos os desejos são realizados. Isso monstros do mundo exterior, como a crise
A humanidade arcaica fazia holo- até ser abarrotado com os sentimentos de lNANCEIRAQUEESTAMOSVIVENDO-ASSERÉ
causto a Deus. Ao colocar seu cordei- insatisfação e de tédio, em busca do preen- que reconhecemos a crise interior cujos
rinho no fogo, a fumaça subia aos céus CHIMENTODEUMVAZIOQUENÎOTEMlM monstros que criamos confundimos com
como alimento para o divino. Essa era a O mercado mudou pagamento e for- os que estão lá fora e, por isso, não sabe-
123RF/ DIVULGAÇÃO E ARQUIVO PESSOAL

oferta que deixaria Deus alimentado e, ao mas de oferecer seus produtos. A internet mos como caçá-los?
mesmo tempo, devedor para lhe conce-
der a graça de manter seu lucro ou per-
dão de seus pecados. No ato de dar algo Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano.
a alguém se esconde a intenção de obter É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia.
carlos@ijba.com.br / www.ijba.com.br
alguma coisa em troca. Desde um com-

www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 65


CINEMA Por Dr. Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps

O humor
como escape
para o trágico
/%30!.(/,&%2.!.$/,%œ.$%
!2!./!$)2)'%5-&),-%$%3!&)!$/2
UM DIA PERFEITO-)3452!)2/.)!%
$2!-! %.6/,6%.$/5-!%15)0%$%
3!.)4!2)34!3 15%#/.6)6%#/-!3
0%23/.!'%.3 .!-!)/2)! 6°4)-!3$/3
#/.&,)4/3.!2%')§/$/3"£,#§3

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UALDIANÎOSERÉ AOlM RESULTANDOSEJALÉNOQUE
FOR UMDIAPERFEITO!IRONIADOTÓTULOEMSUAPLE-
NITUDESØPODERÉSERENTENDIDAPORQUEMASSISTIRA
ESSElLMEDESAlADORUm Dia Perfeito3ENDOJÉUMA
MARCADESSEDIRETORACAPACIDADEDEVERQUEEMTODOTRÉGICO
HÉMUITODEUMESCAPEEMQUESØOHUMOR OCHISTE DARÉCON-
TADENARRAROINENARRÉVEL
h%MALGUMLUGARDOS"ÉLCÎSv
!SSIMOESPECTADORSERÉINFORMADO LOGOAOlMDAPRIMEI-
RA SEQUÐNCIA  ONDE SE SITUA A HISTØRIA OU HISTØRIAS  QUE SERÉ
APRESENTADA PELO ROTEIRO COMPOSTO PELO DIRETOR DO lLME  O
ESPANHOL JÉ CONSAGRADO &ERNANDO ,EØN DE !RANOA -ESMO
QUENÎOSEJAASSIMNENHUMexpertEMHISTØRIARECENTE SABERÉ
IDENTIlCAROQUANTOSETRATADEUMAREGIÎOQUEVIVEUVIVE CRU-
ÏISMOMENTOSDAMAISHUMILHANTEDESTRUI¥ÎO!GUERRAQUESE
DÉPELOSPRØPRIOSCONmITOSINTERNOSQUEATINGEMUMATENSÎO 
EMQUEODIFERENTENÎOPODEMAISSERACOMODADO EMQUEO
IMPULSODESTRUTIVOTOMAAFRENTEDEQUALQUERLIGA¥ÎOCOLETIVA
QUEAGREGUEAOINVÏSDESEGREGAR
!EQUIPEDESANITARISTASQUEACOMPANHAMOSNOlLMEPER-
TENCEAUMAORGANIZA¥ÎOHUMANITÉRIA%LESTENTAMPRESERVAROS
POUCOSPO¥OSDEÉGUAQUEABASTECEMAREGIÎODEVASTADAPELOS
CONmITOS EQUEJÉANTERIORMENTELIDAVACOMAESCASSEZDESSERE-
CURSO#OME¥AOlLMECOMELESTENTANDORETIRARUMCADÉVERDE
UMDOSPO¥OS CORPOESTEQUEHAVIASIDOJOGADOLÉCOMAINTEN-
¥ÎODECONTAMINARAÉGUAQUEABASTECEOPOVOADO!TENTATIVA

66
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ida.c om.br
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DERETIRADAENVOLVERÉTODOOENREDOQUE
O ESPECTADOR ACOMPANHARÉ  E ASSIM CO-
NHECERÉCADAUMDOSINTEGRANTESDOGRU-
PO ASSIMCOMOALGUNSDOSHABITANTESDO
LUGAREJOQUESEENVOLVERÎOCOMELESEM
DETERMINADOSTRECHOS
/ COORDENADOR DO GRUPO  -AMBRÞ
"ENICIODEL4ORO NÎOPOUPARÉESFOR¥OS
PARAALCAN¥ARSEUOBJETIVO QUECARECEDE
UMSIMPLESELEMENTO UMACORDA EEM
BUSCADESSEITEMACOMPANHAREMOSNOS-
SOS AVENTUREIROS POR SITUA¥ÜES TENSAS 
QUETOCAMOESPECTADORCOMMUITOCUI-
DADO  MAS QUE  MESMO QUE DURAS  PRE-
SERVAM UMA DELICADEZA ! TENSÎO ESTÉ
PRESENTE TODO O TEMPO  METAFORIZADA
PELO CÎO QUE APARECE EM DETERMINADO
TRECHO E QUE SE CHAMA 4YSON  UM CÎO O coordenador do grupo, Mambrú (à direita), não poupará esforços para resolver a questão do poço.
ENLOUQUECIDO PRESOPORUMACORDAQUE Acompanharemos os protagonistas em muitas situações delicadas, já que a tensão está sempre presente
ELES AMBICIONAM PEGAR !PØS TENTAREM
hAPAGARvOANIMALCOMALTADOSEDESO- #/-%—!/&),-% NASCENASAMARCANTEEMUITOBEMESCO-
NÓFEROS TERÎOQUERECONHECERAIMPOSSI- #/-!%15)0% LHIDATRILHASONORA
BILIDADEEDIRÎOQUENÎOSERÉNADAFÉCIL  &AZEM PARTE DO GRUPO  AINDA  "
AlNALELESOBREVIVERAAUMAGUERRA4E- $%3!.)4!2)34!3 4IM2OBBINS OINTÏRPRETE$AMIR&EDA
MIAAPENASOEX DONO OPAIDE.IKOLA  4%.4!.$/2%4)2!2 3TUKAN  A NOVATA QUE TEMPERA O GRUPO 
QUECERTAVEZLHEDEVOLVERAUMAMORDI- 3OPHIE-ÏLANIE4HIERRY EUNE SEAELES
5-#!$£6%2$%5-
DA AMBOSTENDOACABADOOEMBATESEN- APENAS POR UMA CARONA  A EX AVENTURA
DOATENDIDOSEMEMERGÐNCIAMÏDICA $/30/—/3 #/20/ AMOROSADE-AMBRÞ ADESAlADORA+ATYA
! EQUIPE FOI LEVADA A ESSE LOCAL  AN- %34%15%(!6)! /LGA+URYLENKO EQUEMAISADIANTElCA-
TES MORADIA DO MENINO !PØS ALGUMAS RÎOSABENDOQUEESTÉLÉPARAFAZERUMRE-
TENTATIVAS FRUSTRADAS DE COMPRAR O QUE
3)$/*/'!$/,£ LATØRIOQUEOSMANDARÉDEVOLTAPARACASA
PRECISAVAM  SÎO LEVADOS PELO MENINO #/-!).4%.—§/ !OQUEPARECE NENHUMDELESESTÉINTERES-
.IKOLA%LDAR2ESIDOVIC QUEHAVIAHABI- $%#/.4!-).!2! SADONESSAPOSSIBILIDADE"ÏOPORTAVOZ
TADOESSACASAEAGORAMORACOMSEUAVÙ DESSAINTEN¥ÎO3EMQUALQUERDISFARCE LUTA
)VAN"RKIC EMOUTROLOCAL AGUARDANDO
£'5!15%!"!34%#% PARACONTINUARREALIZANDOAQUELETRABALHO
ORETORNODESEUSPAIS QUESUPOSTAMENTE /0/6/!$/! E PERGUNTA A -AMBRÞ QUEM CUIDARÉ DA-
HAVIAMFUGIDODATENSÎOPARAUMAZONA 4%.4!4)6!$% QUELASPESSOASSEELESSEFOREM
NEUTRA UM CASAL QUE PODERIA SER PERSE- 0ORTODOlLME AAFETA¥ÎOEASURPRE-
GUIDOPORPERTENCERARELIGIÜESDIFERENTES 2%4)2!$!%.6/,6%2£ SADANOVATA3OPHIEDÎOOTOMDEEMO-
CRISTÎEMUL¥UMANA /MENINOSEGUEO 4/$//%.2%$/ ¥ÎOQUEPEGAOESPECTADOR ADEQUEMVÐ
GRUPONAESPERAN¥ADEGANHARUMABOLA  COM DESCONHECIMENTO A ARIDEZ E A DOR
JÉ QUE A SUA HAVIA SIDO TIRADA DELE POR PECULIARGRUPOSEDESLOCARÉPORESTRADAS  DO QUE OCORRE  EM VERDADE  COM AQUE-
OUTRO MENINO 1UANDO ISSO ACONTECEU  QUESÎOLINDASEAOMESMOTEMPOAPAVO- LASPESSOAS QUEMEIOQUESEHABITUARAM
-AMBRÞTENTOURESOLVERASITUA¥ÎO MAS RANTES TANTOPELAGEOGRAlAQUANTOPELAS E ANESTESIARAM COMO A ÞNICA FORMA DE
FOI AMEA¥ADO POR UMA ARMA NAS MÎOS AMEA¥AS ORIUNDAS DO CONmITO .OTA SE SOBREVIVÐNCIA %M DETERMINADO PONTO
DOOUTROMENINO UMADOLESCENTE EPARA
PROTEGER .IKOLAS PROMETEU LHE ARRUMAR
Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde
OUTRA% ENTÎO EMBUSCADEUMACORDA
IMAGENS: DIVULGAÇÃO

da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e psicanalista.


PARARETIRAROCADÉVERDOPO¥OEUMABOLA Autores do livro  GG Gd 

ƒ : Participam de
PARA .IKOLA  EM UMA REGIÎO QUE VIVEN- palestras, cursos e workshops em empresas e universidades sobre
este tema. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br
CIAAINDAUMAINCERTEZADEARMISTÓCIO O

WWWPORTALCIENCIAEVIDACOMBR psique ciência&vida 67


ESPERAPODESERASOLU¥ÎO!LGUMORÉCU-
LODIRIAh.ÎOAPRESSEOCURSODORIOv%
TALVEZNESSAMENSAGEMRESIDAOENCANTA-
MENTODESSAPRODU¥ÎO QUESEMGRANDES
MOVIMENTOSFAZSENTIREPENSARNOSCAMI-
NHOSQUEAVIDADECADAUMPERCORRE/
TOM DE IRONIA EM ALGUMAS INTERVEN¥ÜES
EOTRÉGICOQUEATRAVESSAOCAMINHOSEM
AVISOS OU SEQUER MOTIVOS ENGENDRADOS
FAZEMPARTEDOPERCURSO ALEMBRARQUEA
VIDANÎOÏASSIMUMCONTODEFADAS
(É MUITOS lLMES LANCINANTES QUE
PERCORREM A DUREZA QUE VIVERAM DIFE-
RENTES PARTES DA REGIÎO  A QUAL O lLME
SEREFERE%NTREELESQUEREMOSCITARSU-
GERIR  O IMPACTANTE A Vida Secreta das
O dia cheio de imprevistos e desvios é ironicamente descrito por Sophie (à direita) como “um dia Palavras The Secret Life of Words 
perfeito”. As situações se resolverão por eventos aleatórios NOQUAL4IM2OBBINSTAMBÏMINTERPRETA
UMDOSPERSONAGENSCENTRAISOUTROSE-
Ï COMENTADO COMO SÎO CONHECIDOS 3EMDÞVIDAÏUMAREGIÎOHISTORICAMENTE RIAONÎOMENOSMARCANTEBem-vindo ao
POR SEU SENSO DE HUMOR  O HÉBITO DE MARCADAPORDIFERENTESTENSÜES ALGUMAS Mundo Venuto al Mondo QUETRAZ
RIREM DE TUDO COMO UM BOM REFÞGIO PASSAGENS ENTRE OS MAIS TERRÓVEIS CONmI- NOELENCO0ENÏLOPE#RUZE%MILE(IRSCH
FRENTE Ì DEVASTA¥ÎO E AO ØDIO LATEN- TOSINTERNOSQUENAATUALIDADEASSISTIMOS QUEPROTAGONIZOUOlLMEDE3EAN0ENN 
TE !COMPANHAREMOS OS FATOS DE UMA ! HISTØRIA DE .IKOLA NO lLME TRAZ PARA Into the Wild !MBOSOSlLMES DEMA-
MANHÎ A OUTRA  COM UMA NOITE INSØLITA DENTRO DE SUA PRØPRIA CASA A MARCA DO NEIRA DIFERENTE  NOS CONTAM UM POUCO
NO MEIO  EM QUE A EQUIPE SERÉ PARADA  SOFRIMENTO!VISITAEMSUACASAFEITAPOR ACERCADADUREZAQUEVIVEMOSHABITAN-
EM UMA ESTRADA DESERTA  IMPEDIDA DE -AMBRÞE3OPHIE COMTODACERTEZA ÏO TESDASDIVERSASREGIÜESQUECOMPÜEMOS
AVAN¥ARPORUMAVACAABATIDA QUEPODE PONTOQUEELEVAATENSÎO AOMESMOTEM- "ÉLCÎS¡PRECISOVERQUEOMUNDOTRAZ
CONTER UMA BOMBA )RONICAMENTE  AO PO EM QUE ELUCIDA PARA O ESPECTADOR O CONmITOSQUESEREATUALIZAMECOMPÜEM
AMANHECER  UMA MULHER E SEU REBANHO QUEESTÉACOMPANHANDO PONTOSPARAPENSARMOSAHUMANIDADEE
MOSTRARÎO O CAMINHO DE SAÓDA DO IM- SUACAPACIDADEDEDESTRUI¥ÎO
PASSEQUEPODERIASERFATAL $%35-!./ -ASEMUm Dia Perfeito, parece que
¡INTERESSANTE APENASPARAOSENTIDO /S GESTOS SÎO HUMANAMENTE PEQUE- &ERNANDO,ÏONDE!RANOAQUERNOSFA-
DE DEVANEAR ACERCA DO ROTEIRO DO lLME  NOSFRENTEAODESUMANOQUECONFRONTAM ZERLEMBRARQUETEMOSUMACAPACIDADE
OBSERVAR QUE O NOME DO PERSONAGEM / DIA CHEIO DE IMPREVISTOS E DESVIOS Ï DETAMBÏMCONSTRUIREINVESTIREMTEN-
QUE ACABA COMO UMA LINHA SECUNDÉRIA IRONICAMENTE DESCRITO POR 3OPHIE COMO TAR SALVAR OS LA¥OS MAIS TERNOS QUE NOS
DEUMACOSTURA ALINHAVANDOTODOOEN- hUM DIA PERFEITOv !S SITUA¥ÜES SE RESOL- FAZEMHUMANOS.ESSESENTIDO AlGURA
REDO  O GAROTO .IKOLA  CARREGA O NOME VERÎOPOREVENTOSALEATØRIOS PELODESEN- SEMPRE MARCANTE DE "ENICIO DEL 4ORO
DO HERØI PARA OS CROATAS  .IKOLA 3UBIKI ROLARDOSFATOSESERÎOATRAPALHADASPELA EMPRESTAAOPERSONAGEM-AMBRÞUMA
:RINSKI TALVEZCOMOUMAFORMADESITU- TENTATIVA DE INTERVIR (É  NO ACASO  MAIS SOLIDEZINQUESTIONÉVEL$ETERMINADOEM
AR UM POUCO HISTORICAMENTE 0ODEMOS ORDEMDOQUEQUALQUEREMPREENDIMENTO SUAS TAREFAS  CONSEGUE MANTER UM ACO-
PENSARQUESETRATADOSANOSEAINTER- PLANEJADO4ALVEZESSESEJAUMBOMLEM- LHIMENTO COM TODOS QUE TRANSITAM EM
VEN¥ÎO DAS FOR¥AS DA /4!. NA REGIÎO BRETEFRENTEAMUITASSITUA¥ÜESEMQUEA TORNO DELE 4ENTA DAR A CADA UM AQUI-
LO QUE NECESSITA A BOLA  A PROTE¥ÎO E A
VERDADE PARA .IKOLA  A RESILIÐNCIA PARA
/4/-$%)2/.)!%-!,'5-!3).4%26%.—š%3 3OPHIE  ALGUMA mEXIBILIDADE PARA " 
%/42£')#/15%!42!6%33!/#!-).(/ MEDIA¥ÎOPARA$AMIR RESPEITOPARA+A-
3%-!6)3/3/53%15%2-/4)6/3%.'%.$2!$/3 TYA E FUGA PARA SI MESMO .ÎO Ï DADO
A GRANDES CONFRONTA¥ÜES  VAI BUSCANDO
&!:%-0!24%$/0%2#523/ !,%-"2!2 UMJEITOMENOSFRONTALDEENCARARUMA
15%!6)$!.§/¡!33)-5-#/.4/$%&!$!3 UM OS DESAlOS QUE VÎO SURGINDO .ÎO

68 psiqu
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www.portalcienciaevida.com.br
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ida.c om.br
br
PARECE PARTILHAR DE GRANDES ILUSÜES E
EMBORA ISSO  E TALVEZ POR ISSO MESMO 
SEU SENTIDO HUMANITÉRIO COMOVE PELA
SUTILEZADOSGESTOS¡PATERNALSEMEXA-
GERAREMONIPOTÐNCIA&AZVERACADAUM
SEUSPRØPRIOSCONmITOSELIMITA¥ÜES
0ENSAR UM MUNDO TÎO BÏLICO E  AO
MESMO TEMPO  TÎO BELO TEM SIDO UM
GRANDEDESAlOPARAASCORRENTESDEPEN-
SAMENTO4ALVEZ COMOOPAIDE.IKOLA 
ANDAMOS A MORDER CÎES COMO RECURSO
PARA IMPOR RESPEITO 3ERÉ O ÞNICO QUE
DISPOMOS %STARIA &REUD CERTO EM SUA
CARTA PARA %INSTEIN  A RESPEITO DA POS-
SIBILIDADE DO PACIlSMO UM DIA  QUEM
SABE  UNIR GRUPOS CADA VEZ MAIORES /
QUE O IMPULSO DESTRUTIVO QUE TRAZEMOS
PODESERDOMADOENÎOAMPLIlCADOPE- Parece que o diretor Fernando Léon de Aranoa quer lembrar da capacidade que cada um tem de salvar os
LOS LA¥OS CIVILIZATØRIOS %SSAS QUESTÜES laços mais ternos que nos fazem humanos. O menino Nikola é um exemplo
TÐM SE REVITALIZADO EM EPISØDIOS BEM
ATUAIS E URGENTES EM SEREM DISCUTIDOS  0%.3!25--5.$/4§/"¡,)#/% 
PARAQUENÎOENLOUQUE¥AMOSSEMSABER !/-%3-/4%-0/ 4§/"%,/4%-3)$/5-
MAISQUEMESTENDEAMÎOAMIGAEQUEM
APUNHALACOMFACASESCONDIDASEMVES- '2!.$%$%3!&)/0!2!!3#/22%.4%3$%
TES !O PENSAR PERMISSÜES E REGRAS NA 0%.3!-%.4/4!,6%: #/-//0!)$%
CONVIVÐNCIA DOS DIFERENTES HÉ QUE SE
.)+/,! !.$!-/3!-/2$%2#§%3#/-/
ENCONTRARMEIOSPARAQUECUIDAROUSER
CUIDADONÎOVIREMATOSDESUBMETIMEN- 2%#523/0!2!)-0/22%30%)4/
TO MAS SIM DECOMPOSI¥ÎODEALIAN¥AS
COMMETASPACIlCADORAS SOBREVARIÉVEISECONÙMICASQUEALIMEN- NÎO ALIMENTE A MORDIDA FEROZ CHEIA DE
TAMGUERRASEMOUTRASREGIÜESSÎOPEN- IRAVINGATIVA(ÉESPERAN¥AEMPEQUENOS
#!-).(/ SADASEMUMABELAFALADAPERSONAGEM GESTOS EMGRUPOSAINDAMINORITÉRIOS MAS
%MUMMUNDONOQUALADESIGUALDA- INTERPRETADAPOR*ULIETTE"INOCHENOlL- HÉ%NTREOAMOROSOEODESTRUTIVOSEGUE
DETEMDITADOOTOMDOSACORDOSEDE- MEMil Vezes Boa-noite Tusen Ganger God A HUMANIDADE TENTANDO A SEMPRE DIFÓCIL
SACORDOS QUETIPODECAMINHOSPODERÎO Natt  ASSIM COMO A INDIFEREN¥A TAREFADACONVIVÐNCIASOLIDÉRIA
SERCONSTRUÓDOSPARAQUESEPOSSAPENSAR COMOQUALORESTODOMUNDOCOSTUMA -AMBRÞ PERGUNTA AO AVÙ DE .IKOLA
EM BEM COMUM #OMO A ÉGUA VENDI- APENAS VISLUMBRAR ESSES EPISØDIOS %M QUANDOELECONTARÉAELESOBRESEUSPAIS 
DA A PRE¥OS EXORBITANTES POR MERCADO- CERTOTRECHO SUAPERSONAGEM 2EBECCA  AOQUEELERESPONDEh!SEUDEVIDOTEM-
RES AOS HABITANTES DA DEVASTADA REGIÎO  QUE FOTOGRAFA ZONAS DE CONmITO  DIZ Ì POv!SSIMÏAVIDA HÉQUESEREVELARPARA
QUERECURSOSPERTENCEMATODOSECOMO SUAlLHAh%UQUEROQUEASPESSOASEN- ABRIRNOVOSHORIZONTES MESMOQUEANTES
PODEMOSCUIDARPARAQUENÎOSECONTA- GASGUEMCOMOCAFÏDAMANHÎQUANDO SE TENHA QUE ENCARAR A DOR IMENSA QUE
MINE A POSSIBILIDADE DE ACESSO AO QUE ABRIREMOJORNALv ENlMGANHARÉUMNOME!CHUVA ABOLA 
NUTRE A VIDA EM SEU ESSENCIAL .IKOLA %SGOTAMOSCADAVEZMAISRAPIDAMEN- AOlNAL PROMOVERÎOESSEDESCORTINARQUE
DIZA-AMBRÞCOMOPODEMTERSIDOOS TEOSRECURSOSQUESUSTENTAMAVIDASOBRE SERÉ PARTE DO ACASO  PARTE DOS CUIDADOS
PRØPRIOSVENDEDORESDAÉGUAQUETERIAM OPLANETA COMOCOMPORTELASDEPROTE¥ÎO QUE ALGUNS BONS HUMANOS PERSEGUEM
CONTAMINADOOPO¥O JOGANDODENTROO QUE ABARQUEM TODOS E ONDE A EXCLUSÎO MESMOCONTRAADVERSIDADES
CADÉVERQUEAEQUIPEAGORATENTARETIRAR
DE LÉ ¡ A GUERRA  DIZ -AMBRÞ PARA A
IMAGENS: DIVULGAÇÃO

Um Dia Perfeito. Título original: +IG: Diretor: Fernando León de


INDIGNADA3OPHIE QUERECLAMAPORELES Aranoa. País: Espanha. Gênero: Drama/comédia. Duração: 106 minutos. Ano
ESTAREMTIRANDOVANTAGEMDAQUELASPES-
GhGd=;<A:  H
Gd GG:G ‚IGhÔd<=G:
SOAS !LGUMAS REmEXÜES INTERESSANTES

WWWPORTALCIENCIAEVIDACOMBR
PERlL Por Anderson Zenidarci

As FACES de
Norma, Mona e Marilyn
MARILYN VIA SUA TRAJETÓRIA DE VIDA REFLETIDA NO
ESPELHO DOS SENTIMENTOS SUFOCADOS E DA AUTOESTIMA
REDUZIDA À SENSAÇÃO DE NÃO MERECIMENTO, GERADA
PELAS DESVALORIZAÇÕES SUCESSIVAS QUE VIVEU

Q
ue imagem Norma Jeane Mortenson via
AOSEOLHARNOESPELHO QUANDOERAUMA
Monroe durante
a famosa cena do ESTRELADECINEMAMUNDIALMENTEFAMOSA
vestido voando, 6IAAMENINADEANOSABANDONADAPELA
‚The MÎE!MENINAQUEPASSOUPORORFANATOSEINÞME-
Seven Year Itch (1954) ras casas de adoção, sendo agredida e abusada sexu-
ALMENTE EM ALGUMAS DELAS 6IA A CRIAN¥A SOLITÉRIA 
medrosa e desamparada que necessitava ser amada
E ACEITA DESESPERADAMENTE /U VIA -ARILYN -ON-
ROE UMPRODUTOFABRICADOECUJAIMAGEMERAUTILI-
ZADA CRUELMENTE PELA INDÞSTRIA CINEMATOGRÉlCA DE
(OLLYWOOD 1UEM ERA .ORMA-ARYLIN 3ABEMOS
QUEFOIUMDOSGRANDESÓCONESDEBELEZAESENSUALI-
DADEREGISTRADASEMlLMESENAHISTØRIADOCINEMA
! LOIRA INGÐNUA  LINDA  BURRA E GOSTOSA  QUE ATRAÓA
MILHARES DE ESPECTADORES ÌS SALAS DE CINEMAS  ERA
LUCRO GARANTIDO PARA OS ESTÞDIOS CINEMATOGRÉlCOS
-ASOPERSONAGEM-ARILYN COMSEUGLAMOUR NÎO
conseguia abrandar as cicatrizes e dores da vida de
.ORMA .ÎO SE VIA BELA COMO TODOS DIZIAM E CUL-
TUAVAM  VIA SE FEIA  DISFORME 3OFRIA DO TRANSTORNO
DISMØRlCOCORPORAL QUEÏAFALSAPERCEP¥ÎODESER
INADEQUADOlSICAMENTE
&OIEÏUMENIGMAPARAQUEMESTUDASUAPER-
SONALIDADE !S OPINIÜES DIVERGEM EM MUITOS AS-
PECTOS  MAS SÎO UNÊNIMES EM AlRMAR QUE ERA
hCONFUSA INSEGURA CARENTE MEIGA COMGESTUALNA-
TURALMENTEGRACIOSOEDEUMMAGNETISMOQUEERA
DIFÓCILPARARDEOLHARPARAELA MESMOQUANDOESTA-
VADEPIJAMA LENDOUMLIVRO DESCAL¥ASENTADAEM
UMACADEIRADOJARDIMv-ASVAMOSTENTARMONTAR
AS PE¥AS DISPONÓVEIS DESSE QUEBRA CABE¥Aå .OR-
MA ERA UMA CRIAN¥A FRÉGIL  LINDA E SEM NENHUMA

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ESTRUTURA FAMILIAR .UNCA CONHECEU O UMDESASTRE6IVEUMUITOSROMANCESCOM
PAI ! MÎE TRABALHAVA EM UM ESTÞDIO AMANTES SOLTEIROS E CASADOS  ENTRE ELES
DECINEMAETAMBÏMSEPROSTITUÓA APRE- O PRESIDENTE DOS %5!  *OHN & +ENNEDY
SENTAVAGRAVEDISTÞRBIOPSIQUIÉTRICOES- CUJOParabéns a Você CANTADOPORELAEM
QUIZOFRENIA POTENCIALIZADOPELOÉLCOOL UMA FESTA OlCIAL NO DIA DO ANIVERSÉRIO
ATÏSERINTERNADAEMUMHOSPITALPSIQUI- DELE ÏUMÓCONEDESENSUALIDADE 
ÉTRICO .ORMA *EANE FOI DECLARADA ESTAR !S EVIDÐNCIAS APONTAM PARA O FATO
sob a guarda do Estado e viveu em 11 DEQUEELAERAUMACRIAN¥AABUSADA CUJA
LARESADOTIVOSAOLONGODESUAJUVENTUDE SEXUALIZA¥ÎO PRECOCE LEVOU A UM COM-
1UANDO NÎO HAVIA LAR ADOTIVO DISPONÓ- PORTAMENTO INADEQUADO QUANDO ADULTA
VEL ACABAVANO/RFANATO(OLLYGROVEEM #ONFUNDIASERDESEJADACOMSERAMADA 
,OS !NGELES 3EU HISTØRICO NESSES LARES DAÓ A NECESSIDADE DE SER SENSUALIZADA
NÎOFOIFÉCIL EMALGUNSFOIMALTRATADA E 1UERIA SEDUZIR PARA SENTIR SE AMADA
EMTRÐSDELES ABUSADASEXUALMENTE#O- %SSECICLOCOMPULSIVOSØAFAZIARETROALI-
ME¥OUAGAGUEJARAPØSOABUSOQUESO- MENTARSUACARÐNCIA-ARILYNTINHAPOU-
FREUEISSOVOLTAVAEMMOMENTOSDEES- CAOUNENHUMALIBERDADEPESSOAL NÎOTI-
TRESSE#ASOU SEAOSANOSCOM*AMES NHANENHUMCONTATOCOMSUAFAMÓLIA FOI
$OUGHERTY  DE  ANOS  COMO SOLU¥ÎO ISOLADA PARA SER CONTROLADA AINDA MAIS
PARASAIRDOORFANATO MASDIVORCIOU SE EEVITARQUEPESSOAShREAISvAAJUDASSEM
QUATRO ANOS DEPOIS !NTES DE SE TORNAR A PERCEBER QUE ESTAVA SENDO MANIPULA-
FAMOSA  COM O NOME DE -ONA  TRABA- DA%RAUMPRODUTOPARASEUSCRIADORES 
LHOUCOMOstripperEMUMACASABURLESCA A estrela americana foi e é um enigma para quem NÎOUMAPESSOA!SÞNICASPESSOASCOM
EM,OS!NGELES PROSTITUINDO SE estuda sua personalidade. QUEMELATINHACONTATOERAMOShPSICØ-
%M   APØS PASSAR MESES DESEM- LOGOSv  QUE NA REALIDADE USAVAM INADE-
pregada, topou posar nua por pouco AS EVIDÊNCIAS QUADAMENTE TÏCNICAS COMPORTAMENTAIS
DINHEIRO-AS QUATROANOSDEPOIS JÉFA- APONTAM PARA O COMAJUSTIlCATIVADOSEUTRANSTORNODE
MOSA  ESSAS FOTOS  VALENDO UMA FORTUNA  PERSONALIDADEBORDERLINE SEUSPRODUTO-
FORAM CAPA DA REVISTA Playboy &EZ SEU
FATO DE QUE ELA RESESUADIRETORAPESSOALDEINTERPRETA-
PRIMEIRO PAPEL DE DESTAQUE EM   NO ERA UMA CRIANÇA ¥ÎO 4ODOS COMPROMETIDOS COM O PRO-
lLMEO Segredo das Viúvas.OANOSEGUIN- ABUSADA, CUJA DUTO NÎOCOMAPESSOA4AMBÏMESTEVE
te, participou de O Inventor da Mocidade CONSTANTEMENTE SOB ALTA VIGILÊNCIA DO
3EUNOMECOME¥OUAATRAIRMULTIDÜESAOS SEXUALIZAÇÃO FBI e da CIA por seus casos amorosos
CINEMAS&OIASSIMEMComo Agarrar um PRECOCE LEVOU A UM COMOPRESIDENTE+ENNEDYESEUIRMÎO 
Milionário, Os Homens Preferem as Loiras SENADOR ECOMOCHEFEDAMÉlA)TALIANA 
COMPORTAMENTO
AMBOSEM O Pecado Mora ao Lado 3AM 'IANCANA  ENTRE OUTROS PODEROSOS
 EQuanto Mais Quente Melhor  INADEQUADO -ARILYN FOI ENCONTRADA MORTA EM SEU
CONSIDERADAhAMELHORCOMÏDIADETODOS QUANDO ADULTA quarto, aos 36 anos, por overdose de
OS TEMPOSv -ARILYN FOI CASADA COM O BARBITÞRICOS EM%XISTEMVÉRIASTE-
MEGAFAMOSOJOGADORDEBEISEBOL*OE$I- Desajustados %  POR IRONIA  APRESENTA DE- orias sobre sua morte, todas contestando
-AGGIO DE JANEIRO A OUTUBRO DE   SAJUSTESDECOMPORTAMENTOECONDUTAQUE O LAUDO INCONCLUSIVO DE hPOSSÓVEL SUICÓ-
QUE  CIUMENTO  A AGREDIA lSICAMENTE E DESAGRADAMTODAAEQUIPETÏCNICAEELEN- DIOv 3ERÉ QUE UM DIA SABEREMOS O QUE
NÎOAGUENTOUSERCOADJUVANTENAVIDADA CO COMOATRASOS CHEGARALCOOLIZADAOU REALMENTEACONTECEU!ÞNICACOISAQUE
ESPOSA JÉQUEAEXPOSI¥ÎOEOASSÏDIODA SEDADAPORBARBITÞRICOS NASGRAVA¥ÜESE PODEMOSAlRMARÏQUEELAFOIESCOLHIDA 
IMPRENSAEFÎSSOBREELAERAMINTENSOSE NÎO DECORAR SUAS FALAS 3UA VIDA AFETIVA EM A-ULHER-AIS3EXYDO3ÏCULO
DIÉRIOS4AMBÏMSECASOUCOMODRAMA- ERA O RETRATO DE SUA AUTOIMAGEM  ISTO Ï  PELAPeople Magazine
TURGOEINTELECTUAL!RTHUR-ILLERA
IMAGENS: WIKIPEIDA/ ARQUIVO PESSOAL

 QUENOSÞLTIMOSTEMPOSDECASADA 
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IGhÔO IP IG9GG G^ IG:
MESMO ANO FEZ SEU ÞLTIMO lLME  Os

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COMPORTAMENTO

Construindo
RELAÇÕES
SAUDÁVEIS
Para encontrar a tão sonhada
felicidade no amor não é
necessário apenas
investir no próprio relacionamento,
mas é imprescindível
descobrir mecanismos para se
autoconhecer e, a partir daí,
compartilhar uma vida a dois
Por Beatriz Acampora e João Oliveira

Beatriz Acampora é psicóloga e especialista em


comunicação e relacionamentos humanos e autora
do livro e treinamento A Sétima Chave (http://asetimachave.com.br ).
João Oliveira é psicólogo e especialista em comunicação e análise
comportamental. Diretor de Cursos do Isec. Autor do livro Relacionamento
em Crise – Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções.

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A
vida a dois é uma cons-
trução diária, não há
milagres! É preciso in-
vestir em si mesmo, se
autoconhecer, para que
se possa ter uma relação amorosa saudá-
vel. A maioria das pessoas que têm pro-
blemas de relacionamento coloca expec-
tativa demais no outro e esquece de fazer
o necessário pela sua própria felicidade.
Aquela velha máxima “encontrar a
outra metade da laranja” está um tan-
to obsoleta, se pensarmos que já so-
mos uma laranja inteira, ou seja, que é
investindo em nós mesmos, na nossa
autoconfiança e amor próprio, que po-
deremos compartilhar com o outro um
relacionamento amoroso saudável.
Nesse sentido é importante prestar
atenção aos detalhes da relação, avaliar
bem quais são suas necessidades e as
do(a) companheiro(a), pois cada pessoa
tem necessidades distintas, que, muitas
vezes, podem até mesmo ser divergen-
tes. Quando isso ocorre, é preciso con-
versar, compreender o que é importante
para cada um e respeitar o seu espaço e
o do outro.
Muitos relacionamentos que não
dão certo estão pautados pela falta de
diálogo, de empatia, que implica em
se colocar no lugar do outro. Então, ao
invés de buscar satisfazer apenas suas
necessidades pessoais, é preciso que
cada parte possa também se doar e bus-
car espaço de satisfação para o outro e
para o casal.
Assim, é imprescindível que se te-
nha a atenção voltada para o outro e
para si mesmo, pois uma pessoa nunca
deve se abandonar dentro de uma re-
lação, que deve ser como uma balança
equilibrada, sem pender demais para
um lado ou para o outro. Isso pode
parecer muito difícil num primeiro
momento, mas quando se consegue ge-
renciar e investir no cuidado com a re-
lação, na observação dos detalhes que a
compõem, fica fácil, pois basta investir
SHUTTERSTOCK

no amor, nas qualidades e coisas boas


da relação que tudo fica mais fácil.

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COMPORTAMENTO

Imagine um casal que tem difi- PARA SABER MAIS


culdades de se encontrar em função
da vida profi ssional: um trabalha por PROCEDIMENTOS PARA UMA RELAÇÃO EXITOSA
escala de plantão e o outro em horá-
rio comercial. O momento de estar
junto tem que ser muito bom, porque
A lgumas dicas para o sucesso da relação: encontrem motivos para rir juntos
– um relacionamento divertido faz as pessoas quererem estar juntas,
simplesmente porque é bom quando elas se encontram e dá vontade de estar
já é pouco. Caso seja ruim, o que fica perto; respeito em primeiro lugar – estabelecer juntos regras de respeito, do
marcado é a distância e o afastamen- que cabe ou não na relação, desde o início é uma excelente estratégia, pois
to. Por isso, toda vez que estiver junto permite que as partes saibam exatamente como devem se comportar na relação
da pessoa que você ama, pense bem e o que não é bem-visto e pode ser prejudicial; compartilhar responsabilidades
no que vai falar, no que prefere inves- – estabelecer responsabilidades para ambas as partes com a casa, família,
tir: no que está dando certo ou no que filhos e financeira; superação e acolhimento – os momentos de crise devem
está dando errado. ser superados com acolhimento das fragilidades, o que fortalece os vínculos
da relação; surpresas, cuidados e mimos – fazem parte do investimento no
A maioria dos outro, da conquista que deve ocorrer enquanto durar a relação; sensibilidade,
percepção e admiração – ligue seu sensor para o outro, perceba como o outro
problemas de está, se mudou alguma coisa em si, elogie (invista no poder do elogio). Admire.
relacionamento
ocorre porque as A comunicação entre o casal e também de silêncios, que são valo-
pessoas não deve ser sempre assertiva, preferen- rosos e devem ser respeitados.
cialmente em tom de afetividade, A maioria dos problemas de relacio-
estão dispostas ou seja, é importante, antes de falar, namento ocorre porque as pessoas não
a olhar para si lembrar o quanto uma simples fala estão dispostas a olhar para si mesmas e
pode magoar o outro e impactar ne- fazer uma simples pergunta: “O que eu
mesmas e gativamente na relação. Como cada espero dessa relação?”. Aliás, essa é uma
fazer uma simples pessoa que faz parte da relação é um
ser singular, com suas capacidades,
pergunta que deveria ser feita desde o
início de toda e qualquer relação amo-
pergunta: “O que preferências, valores e gostos, cada rosa, e, tão logo a relação começasse de
eu espero dessa um deve ter seu espaço, na relação, fato, um diálogo sobre o tema deveria
sem que um tenha mais poder do que ser travado, pois muitas vezes as pessoas
relação?” outro, cabendo momentos de diálogo esperam coisas completamente diferen-
tes de um relacionamento. Uma pessoa
pode querer um casamento com fi lhos,
e a outra apenas uma relação saudável,
duradoura, mas sem fi lhos, por exem-
plo. O simples de desejo de querer ou
não ter fi lhos pode ser um grande pro-
blema para o relacionamento a dois.

Diálogo
P ortanto, é preciso dialogar, saber o
que se espera, o que se deseja, até para
que haja um consenso em prol da relação
e a decisão por continuar nela ou não. Afi-
nal, algumas pessoas não estão dispostas
a abrir mão de seus desejos e necessidades
em prol de um relacionamento.
Por isso, é sempre importante ser sin-
É fundamental que a pessoa aposte todas as fichas na autoconfiança e no amor próprio, pois, ao cero consigo mesmo e não entrar na ilu-
contrário do antigo ditado, cada um é uma laranja inteira são de que, com o tempo, será fácil mudar

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o outro. Ninguém muda ninguém. E a
cobrança por mudança constante pode
gerar mentiras desnecessárias, simples-
mente porque é mais fácil não entrar em
embates e encerrar o assunto. Portanto,
prezar o diálogo aberto, a honestidade e a
cumplicidade é essencial em toda e qual-
quer relação amorosa.
O amor precisa da cumplicidade,
do vínculo de confiança. Sem isso, ele
não sobrevive. E por falar em confiança,
não tem coisa mais destruidora de rela-
ções do que o ciúme. Quando ele chega,
principalmente em altos níveis, é por-
que todas as portas da confiança já fo-
ram fechadas; se ele não existia antes e
surge de repente, então é porque a cum-
plicidade está afetada. É preciso rever as
bases da relação e avaliar o que ocorreu
para que ela se torne forte novamente.
O sucesso na relação amorosa de- A falta de diálogo e de empatia é uma das principais causas de relacionamentos que não obtêm
pende de muitos fatores e talvez os mais sucesso ao enfrentar os problemas da vida cotidiana
importantes sejam o respeito e a amiza-
de, principalmente porque depois de al- O momento de estar junto tem que
gum tempo de relação é isso que vai fazer
a diferença e que vai ser a base forte da
ser muito bom. Caso seja ruim, o que fica
manutenção do amor, do carinho e dos marcado é a distância. Por isso, toda vez que
modos de enfrentamento dos problemas.
Sim, os problemas virão, eles sem- estiver junto da pessoa que você ama, pense
pre virão. Portanto, não adianta ficar bem no que prefere investir: no que está dando
com a “mala na porta”, esperando a pró-
xima briga, para ir embora já pensando certo ou no que está dando errado
no próximo relacionamento, porque
este, sim, será um conto de fadas. Ledo profissional e pessoal; momentos de
engano. Todas as relações têm proble- lazer para o casal; respeito ao direito do
mas, porque envolvem pessoas e as pes- outro de ter emoções, de ficar com raiva,
soas têm problemas. Portanto, é preciso de ficar triste, de simplesmente sentir e
investir na felicidade. ser; renove o amor constantemente,
Quando há investimento na felici- enamore-se novamente, busque o en-
dade por parte das pessoas envolvidas cantamento. Para refletir: o que nela ou
no relacionamento, mesmo que haja al- nele encanta? O que faz admirar? Con-
gumas divergências, a tendência é que vide para algo novo. Dê o primeiro pas- ŒCiúme Œ
se consigam superar as dificuldades. so. Deixe o orgulho de lado. Historicamente, o ciúme é um dos grandes
responsáveis pelo fracasso de relacionamen-
Quando estas forem muitas, é preciso Toda relação tem que ter espaço tos. Segundo definição, trata-se de uma rea-
dialogar, esclarecer os pontos de forma para o acolhimento, pois muitas vezes ção complexa a uma ameaça perceptível a uma
assertiva, sem agressividade, buscan- a agressividade é um pedido de ajuda. relação valiosa ou à sua qualidade. Apresenta
do soluções e negociando em um jogo Então, como toda relação é uma troca um caráter instintivo e natural e é marcado pelo
ganha-ganha, ou seja, todos ganham e contínua, abrace, acolha, entenda. Há medo – real ou irreal – e vergonha de perder
o amor. O ciúme está relacionado à falta de
ninguém perde. momentos de aproximação e afasta-
IMAGENS: 123RF

confiança no outro e/ou em si próprio. Quan-


Alguns pontos a serem consi- mento e isso é normal em toda e qual- do é exagerado, pode se tornar patológico.
derados: o equilíbrio entre a vida quer relação.

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COMPORTAMENTO

faz muito bem. Você já deve ter ouvido


alguém dizer que não tem vontade de
voltar para casa, o que acarreta em mais
afastamento e denota que a relação já
vem passando por sérios problemas. O
ideal é não deixar criar um abismo na
relação. Por isso, a palavra cuidado cabe
tão bem aqui. É mesmo preciso muita
dedicação e cuidado para perceber que
as duas partes juntas constroem a rela-
ção cotidianamente e não adianta tentar
culpar o outro quando as coisas não vão
bem. Os dois têm responsabilidade, e
assumir isso requer maturidade para
avaliar a parte que lhe cabe e implemen-
tar as mudanças necessárias.
A expectativa que cada um coloca na relação deve ser equilibrada, por exemplo: uma pessoa pode Todo mundo quer ser amado, todo
querer filhos, e a outra, apenas uma relação duradoura, mas sem filhos mundo gosta de afeto e de se sentir valo-
rizado. De nada adianta encher a pessoa
A comunicação entre o casal deve ser sempre amada de presentes se você não dá aten-
ção e carinho necessários. Muitas pesso-
assertiva, preferencialmente em tom de as pensam que presentes substituem esse
afetividade, ou seja, é importante, antes de falar, espaço destinado ao casal, mas é uma
grande ilusão, uma vez que o presente
lembrar o quanto uma simples fala pode magoar apenas oferta uma satisfação momentâ-
o outro e impactar negativamente na relação nea, que também pode ser muito agradá-
vel, mas se não houver um espaço real de
Cada um precisa ter bem delimita- os percalços do caminho e continuar carinho, dedicação e atenção com a rela-
do seu espaço, suas necessidades, seus investindo na relação para que ela seja ção, os presentes se tornam vazios de sig-
anseios e desejos, para não criar expec- saudável. Se não existem pessoas per- nificado. Então, arrume tempo para exer-
tativas em cima do outro que podem feitas, não existe relacionamento per- citar a felicidade com a pessoa amada.
gerar frustrações. E, nesse sentido, é feito, mas existe vida a dois saudável,
preciso ser realista, pois há momentos e possível, feliz, na qual as pessoas con- Mais leveza
momentos: com mais trabalho, mais es-
tresse, mais demandas, mais exigências
familiares etc.
versam sobre seus problemas e lidam
com eles, escolhendo ficar juntas e su-
perar as dificuldades.
M uito cuidado para não fantasiar a
relação e jogar todas as suas ex-
pectativas de felicidade em cima do ou-
A compreensão é a chave para qual- tro. O amor é um dos aspectos da vida,
quer relação, mas não se deve se isolar, Vida a dois mas existem outros que também pre-
acreditando que o silêncio eterno vai
resolver tudo; deixar de compartilhar
emoções e pensamentos; perder a ami-
O espaço do casal – investir na inti-
midade do casal, nos momentos a
dois, vale a pena. Com tantas demandas
cisam estar bem resolvidos para que o
relacionamento amoroso não seja sobre-
carregado com cobranças. Por isso, invis-
zade, que é a base de qualquer relação, e exigências do trabalho, dos amigos, da ta na autorrealização, seja no trabalho,
perder a admiração, que é necessária família, filhos, é possível que o casal se lazer, amizades, vida familiar ou espiri-
para continuar enamorado(a); perma- perca de si mesmo e acabe dando aten- tual. Quando há investimento em outros
necer por muito tempo em atitude de- ção para tudo o que o cerca, menos para aspectos da vida para os envolvidos na
fensiva, porque gera brigas desneces- o seu próprio espaço, que deve ser cui- relação, a tendência é que o amor fique
sárias; perpetuar brigas das quais você dadosamente criado para que se tenha mais leve, porque ambos já estão felizes
nem se lembra o motivo inicial (tente um “ninho de aconchego”. e querem compartilhar essa felicidade,
fazer as pazes antes de ir dormir). Se o casal mora junto deve sempre têm assuntos diferentes para conversar.
Todo relacionamento tem proble- preservar o desejo de querer voltar para Contos de fadas só existem nos
mas. É preciso aprender a lidar com casa, de estar perto do outro, pois isso livros, a vida real exige esforço e

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Contos de fadas só existem nos livros,
a vida real exige dedicação. Assim, como uma
flor precisa de atenção, água e adubo para
crescer, uma relação precisa de amor, cuidado,
diálogo e investimento das duas partes
dedicação. Assim, como uma flor preci- cima da pessoa, muito provavelmente Œ Aconchego Œ
O sentido da palavra aconchego pode ser de-
sa de atenção, água e adubo para crescer, ela se sentirá muito mal, com o peso do
finido como uma acomodação confortável,
uma relação precisa de amor, cuidado, mundo nas costas e sem saber o que fa- acolhedora. Sua sensação é conseguida por in-
diálogo e muito investimento das duas zer. Então, quando estiver com seu bal- termédio de inúmeras atividades, nos mais va-
partes para que possa continuar a dar de cheio, cuidado para não esvaziar em riados ambientes ou no contato com a pessoa
certo ao longo dos anos. cima do outro, dê uma volta no quar- amada, quando transmite uma espécie de rela-
xamento. Em momentos de enfrentamento de
O relacionamento amoroso tem teirão, respire, converse com alguém,
problemas sérios pessoais, encontrar no outro
que ser leve, delicado, sem exigências e somente quando estiver se sentindo uma disposição ao acolhimento, ao aconchego
descabidas, porque isso sufoca o outro. bem pergunte ao outro qual o melhor alivia o sofrimento e deixa a pessoa mais segura.
Quando alguém se sente sufocado, a momento para ele ouvir.
primeira coisa que faz é sair para respi-
rar e se afastar do elemento sufocador. Construção diária Há pessoas que são felizes no casa-
E quanto mais longe, melhor. Ser leve
implica em saber conversar, o que en-
volve saber ouvir e saber falar na hora
A felicidade não pode ser comprada,
vendida, emprestada nem tomada
de alguém. Ela é uma construção diária,
mento, que têm uma relação saudável,
mas que estão sofrendo uma profunda
angústia ou uma grande dificuldade
certa. A pior coisa para uma relação é uma atitude perante a vida, uma deci- em lidar com suas próprias emoções.
despejar em cima do outro frustrações são que requer olhar com atenção para Por isso, quando duas pessoas se
e angústias sem se dar conta se o outro si mesmo e suas escolhas. Se algo não amam, é preciso que se faça uma conta
está preparado para ouvir e se aquele é o vai bem agora, é importante questionar de somar: uma pessoa feliz + uma pes-
momento oportuno. Se uma pessoa está o que pode ser feito para melhorar, pois soa feliz = uma relação feliz.
com muitos problemas, mas ainda não um dia nunca é igual ao outro e o modo Os motivos que fazem uma pessoa
conseguiu falar sobre eles, e a outra par- como lidamos com os problemas faz com feliz são intrínsecos, isto é, de dentro
te, sem perceber essa situação, despeja que possamos olhar para eles com dife- para fora, e uma relação amorosa pode,
mais uma maratona de problemas em rentes tons. É uma questão de escolha. de fato, incentivar esses motivos de fe-
licidade, mas apenas se eles já existem.
Lembre-se: ninguém dá o que não tem.
Se a busca é por fidelidade, não
adianta reclamar ao se envolver com
uma pessoa que não valoriza esse atri-
buto. É preciso ter consciência do que
se quer e mais ainda do que não se quer
para poder investir na relação mais
adequada e não se envolver em rela-
ções destrutivas.
Se a felicidade está dentro, a auto-
estima também está. É preciso se valo-
rizar e se respeitar e também valorizar
e respeitar o outro para que a relação
seja tratada como um verdadeiro dia-
IMAGENS: 123RF/SHUTTERSTOCK

mante. Isso é essencial para que os


momentos difíceis do relacionamento
Ninguém dá o que não tem. É preciso ter cuidado para não fantasiar a relação e jogar todas as sejam superados e para que a felicidade
expectativas de felicidade em cima do outro se mantenha constante.

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CONCEITO

SINCRONICIDADE
O conceito se refere

O
conceito junguiano anos para escrever sobre esse conceito,
de sincronicidade, tamanha sua complexidade. Jung, na
aos fenômenos amadurecido duran- tentativa de apresentar a sincronici-
te muitos anos pelo dade como um conceito baseado em

‚ seu criador antes de pressupostos científicos, valeu-se de
acontecimentos não ser publicado em 1954, descreve fenô-
menos que não podem ser explicados
estudos como teoria Quântica, teoria
da Relatividade, leis da Termodinâmi-
casuais com uma dentro de uma causalidade linear. Se as
pessoas observarem abertamente, além
ca e de estudos de Probabilidade. A te-
oria da Complexidade foi posterior aos
GhÔ
  ‚IG
 da visão reducionista/linear de cau- escritos de Jung sobre o tema e é possí-
sa e efeito, será possível perceber um vel encontrar bases para pensar sobre o
que permite perceber mundo de eventos aleatórios, que se fenômeno da sincronicidade.
inúmeros eventos interconectam de forma surpreenden-
te. Carl Gustav Jung levou mais de 20
Jung agrupou os eventos sincronís-
ticos em três categorias: coincidência
aleatórios que se
Elaine Cristina Siervo é psicóloga clínica na linha sistêmica e junguiana. Atua desde 1992.
interconectam Pós-graduada em Terapia de Família e Casal pela PUC-SP, atuou durante 8 anos na área de
Dependência de Drogas e por 5 anos como psicóloga de CAPS-Álcool e Drogas em São Paulo.
Formação em Coaching – Sociedade Brasileira de Coaching.
Por Elaine Cristina Siervo

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de um estado psíquico do indivíduo PARA SABER MAIS
com uma ocorrência externa simul-
tânea, considerando o espaço-tempo PERSONALIDADE E CRIATIVIDADE
não apresentar nenhuma evidência de IMPRESSIONAM JUNG
conexão de causa e efeito; coincidência
de um estado psíquico do indivíduo
com um acontecimento exterior simul- J ung impressionou-se em toda sua carreira com a natureza expansiva da
personalidade e como a criatividade é uma qualidade inata do ser humano, que pode
se desenvolver satisfatoriamente, de forma distorcida ou, ainda, não se desenvolver.
tâneo, que ocorre fora do campo de
percepção do observador; coincidên- Na tentativa de auxiliar seus pacientes a resgatarem seus processos criativos e de
integração, através do acesso a seus símbolos do inconsciente, introduziu a técnica
cia de um estado psíquico do indivíduo
de imaginação ativa. Imaginação ativa consiste em estimular e se ater de forma
com fatos que ocorrem em um futuro
concentrada nos símbolos e imagens que provêm do inconsciente. Segundo Ira
próximo e que só podem ser verifica-
Progoff, “a condição de equilíbrio interno da psique, através de uma integração entre a
dos posteriormente.
consciência e a inconsciência, em função de apoio recíproco é o estado mais criativo
Um dos aspectos básicos da teoria
que a psique pode atingir”. Para Jung, a psique carrega dentro de si todas as respostas
junguiana é o conceito dos arquétipos
necessárias. A sincronicidade pode ser considerada a portadora de símbolos com
existentes no inconsciente coletivo do
significado pessoal acompanhada de configurações espontâneas de espaço-tempo,
indivíduo. Os conteúdos arquetípicos e
que podem fazer daquele um evento com grande significado para o indivíduo.
seus símbolos são acessados pelo indiví-
duo através dos sonhos, eventos de sin-
cronicidade e insights. Jung coloca que o
arquétipo ativado/constelado apresenta
Um dos aspectos básicos da teoria
uma probabilidade psíquica para a ma- junguiana é o conceito dos arquétipos
nifestação do símbolo. existentes no inconsciente coletivo. Os
A sincronicidade não pode ser
controlada, prevista ou evitada, já conteúdos arquetípicos e seus símbolos
que se trata de uma ocorrência es-
pontânea. O que faz a sincronicidade
são acessados pelo indivíduo através dos
ter uma importância tão grande é sua sonhos, eventos de sincronicidade e insights
ocorrência em todas as áreas da vida
humana. Ela pode ser notada e foi Sensibilidade ficado. O fato de os fenômenos sincrô-
descrita em grandes fatos históricos,
científicos
cien
ci entí
tífic os e rreligiosos.
ficos elig
el igio
ioso
sos.
s. É possível desenvolver no indivíduo
maior sensibilidade para os eventos
sincronísticos. Observar a sincronicida-
nicos apresentarem uma significância
simbólica própria ao indivíduo que o
presencia faz dele quase um segredo. A
de, os símbolos subjacentes e os arquéti- grande questão é como o indivíduo vai
pos envolvidos pode ser de enorme ajuda compartilhar esse fenômeno, que possui
no progresso do processo psicoterapêuti- um universo de significados próprios,
co. O aproveitamento dos símbolos que com alguém ao qual ele não pertence?
surgem para os indivíduos, quer seja atra- É tão particular que não faria sentido
vés de sonhos, visualizações criativas ou contar os eventos de sincronicidade a
eventos sincronísticos, deve ser devida- qualquer pessoa, pois são eventos úni-
ŒSincronicidade Œ mente considerado e explorado em seus cos, irreproduzíveis e subjetivos. Seria
O conceito de sincronicidade poderia ser significados para o indivíduo em análise. como contar a alguém aquele sonho que
definido como eventos que se sucedem de A questão é que não se dá muita se teve na infância, que foi tão marcante
uma forma acausal, que apresentam alguma atenção aos fenômenos de sincronicida- que ainda não se pode esquecê-lo. Isso
correlação e que têm um significado para o
indivíduo. Como descreve Joseph Cambray:
de que acontecem na vida, pelo simples faz a sincronicidade ser um fenômeno
“Elementos díspares sem conexão aparente são fato de não ser possível explicá-los de solitário, que pode ser compartilhado
juntados os justapostos de uma [tal] maneira forma racional. Alguns fenômenos po- geralmente no setting terapêutico, onde
que tendem a chocar ou surpreender a men- dem estar relacionados com pessoas do existem ressonância e confiança para di-
te, abrindo-a a novas possibilidades, por um convívio próximo, que também podem vidir o universo simbólico do paciente,
IMAGENS: 123RF

alargamento da visão do mundo, permitindo


entrever a fábrica interconectada do universo”.
vivenciar junto a ocorrência de eventos tão rico e particular, para que ele possa
sincrônicos e compartilhar seu signi- ser desvendado e validado.

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em contato

1an0os
VIOLÊNCIA INFANTIL
O tema violência merece estar no centro das discussões, não só porque lidamos frente a frente com ele
quase que diariamente, mas também por e tratar de um assunto que precisa ser analisado sob diferen-
tes ângulos. O texto publicado na edição 127 da revista Psique retrata bem essa questão, abordando
os aspectos psicológicos e ressaltando que sempre que se olhar para uma situação de violência de for-
ma isolada e restrita corre-se o risco de conclusões equivocadas. No entanto, o núcleo do material se
DISPÜEAESCLARECERQUESTÜESRELACIONADASESPECIlCAMENTEÌVIOLÐNCIACONTRACRIAN¥ASEADOLESCENTES
Em minha visão, esse é um dos problemas sociais mais sérios que existem, pois são inúmeros os tipos
de violência, conforme relata o texto: violência estrutural, que deixa os jovens vulneráveis e prejudica
seu desenvolvimento e crescimento, é um deles. Mas um dos piores casos é a violência na família.
Cláudio Viana, por e-mail

REMÉDIO CONTRA disso, também gos- cia). Acreditava-se que pessoas com QI
A INTOLERÂNCIA tei quando ele se mais elevado possuíam maior chance de
A revista Psique sempre mostra sua voca- posiciona de ma- alcançarem sucesso na vida, o que não é
ção para esclarecer e informar. Na edição neira contundente totalmente verdadeiro. Por isso, surgiu um
127, não foi diferente. Ao abordar o assun- contra os mitos e novo conceito que consiste no produto da
to violência, não se limitou a registrar es- dogmas que exis- soma do QI com o QE. Esclarecedor!
tatísticas e números frios a respeito desse tem em relação ao Vanessa Monteiro, por e-mail
grave problema social. Foi mais fundo e funcionamento do
apontou o segredo para se chegar a uma cérebro. Um exem- EMOCÕES À FLOR DA PELE
sociedade menos violenta, não tão indivi- plo que posso mencionar é uma “verdade” A mente das crianças sempre foi um territó-
dualista e intolerante. Trata-se da empatia, que escuto desde que sou criança e que o rio recheado de mistérios e dúvidas. Dessa
uma habilidade que precisa ser desenvol- professor relativizou nessa entrevista: “fa- forma, acredito que uma abordagem volta-
vida nas pessoas desde os primeiros anos zer palavras cruzadas evita a doença de DACOMÐNFASEÌSEMO¥ÜESPODERIASERMAIS
de vida, para que sejam formados adultos Alzheimer”. Nunca entendi bem isso, pois ElCIENTE DO QUE MODELOS MERAMENTE RA-
que contribuam para um mundo melhor. minha mãe sempre usou esse artifício e, cionalistas, no que se refere a intervenções
Atitudes competitivas, egoístas, violen- infelizmente, sofreu com essa doença mal- CLÓNICASEPREVENTIVASVOLTADASÌINFÊNCIAE
tas, inclusive na infância, são caracterís- dita. Parabéns pelo trabalho. adolescência. A seção Dossiê, da edição 127,
ticas do quadro atual. Um dos exemplos Kátia Guimarães, por e-mail mostra isso de forma

Psicologia Infantil
dossiê

é que nunca se falou tanto em bullying, e clara, pois estratégias


suas consequências nefastas. Isso tudo DESCOBRINDO A VOLTADASAPENASÌRE-
mostra o quanto nossa sociedade está INTELIGÊNCIA EMOCIONAL estruturação cogniti- INVESTINDO NA
MENTE DA
doente e o quanto a violência está im- Frequentemente eu ouço e leio coisas a va desse público bre- CRIANÇA
pregnada na origem da humanidade. Por respeito de inteligência emocional. Mas, na CAM NA DIlCULDADE
Profissionais se preocupam
cada vez mais em entender os
aspectos emocionais nas fases
da infância e adolescência, com

isso, é preciso lutar contra essa realidade. verdade, nunca soube exatamente o que é que muitas crianças
o objetivo de criar mecanismos
e intervenções eficazes voltadas
a esse público sensível

Laura Cendim, por e-mail isso e como se aplica no nosso dia a dia. apresentam em lidar
A partir do material publicado na revista com algo tão subje-
DOGMAS SOBRE O CÉREBRO Psique de número 127 consegui compre- tivo quanto o pensa- www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 35
123RF

Já conhecia o trabalho do professor Rober- ender melhor o termo. Para dominar o as- mento. Além disso,
to Lent e confesso que sou seu fã. A entre- sunto, percebi que é fundamental saber que OSAVAN¥OSSIGNIlCATIVOSDOCONHECIMENTO
vista, publicada no número 127 da revista, o Quociente de Inteligência, o famoso QI, CIENTÓlCOSOBREASEMO¥ÜESCONDUZEMÌDI-
novamente mostra a excelência desse neu- está diretamente ligado ao que se chama RE¥ÎOAUMMODELOMUITOMAISVOLTADOÌS
rocientista. Achei muito interessante a aná- de inteligência emocional (QE). Trata-se de emoções. Isso forma a base da educação so-
lise que ele faz, colocando a Neurociência um dos principais fatores para se alcançar cioemocional, tanto aplicada ao tratamento
como uma disciplina que está na base da SUCESSONAPROlSSÎO NARELA¥ÎOINTERPESSO- de transtornos clínicos quanto a interven-
educação, pois ela ajuda a entender melhor al e para a automotivação. Por muitos anos ções preventivas. Uma nova e interessante
de que forma as informações são guarda- a inteligência de um indivíduo foi avaliada ABORDAGEM0ARABÏNSÌPsique.
das e esquecidas, entre outras coisas. Além pelo valor do QI (Quociente de Inteligên- Sebastião Pereira, por e-mail

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Ano X - Edição 128
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Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, nº 1678, CEP 06045-390 – São Paulo – SP
AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia KARIN DE PAULA, psicanalista, doutora pela PUC-SP, Outubro/2016
Clínica pela USP. Professora no IJBA e na Escola Bahiana professora e supervisora clínica universitária e do CEP, REALIZAÇÃO
de Medicina e Saúde Pública, Savador, BA. autora do livro $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro
numa psicanálise, e de vários outros artigos publicados.
ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, autora de LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia Rua Santo Ubaldo, 28 – Torre C – CJ. 12 – Vila Palmeira – São Paulo – SP
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EDITORA: Gláucia Viola
revistas e responsável técnica do Instituto de Psicologia Construtivista. É professora universitária e diretora do EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias
Fenomenológico-Existencial do RJ. Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Atua COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Beatriz Acampora; Elaine Cristina
Siervo; João Oliveira; Lucas Vasques Peña; Mayra Berto Massuda;
em clínica e consultoria. Roberta de Medeiros; Rosemeire de Araújo Rangni; Tiago José
ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta Benedito Eugênio. Revisão: Jussara Lopes. COLUNISTAS: Anderson
cognitiva pelo Institute of Psychiatry, Universidade de LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da Zenidarci, Carlos São Paulo, Denise Deschamps; Eduardo J. S.
Honorato; Eduardo Shinyashiki; Giancarlo Spizzirri; Guido Arturo
Londres. Diretora do Instituto de Terapia Cognitiva (ITC), PUC-SP. Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Palomba; Igor Lins Lemos, João Oliveira; Jussara Goyano; Lilian
atua em clínica, faz treinamento, consultoria e pesquisa. Analítica. Coeditora da revista Junguiana. Diretora de Graziano; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller, Ricardo
Wainer. O Conselho editorial e a Redação não se responsabilizam
Presidente honorária, ex-presidente e fundadora da ABPC. Psicologia da Ser em Cena - Teatro para Afásicos. pelos artigos e colunas assinados por especialistas e suas opiniões
neles expressas.
ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia
EM#IÐNCIASNAÉREADE.EUROlSIOLOGIADA-EMØRIA pela University of Southampton – Inglaterra, mestre em FALE CONOSCO
e Atenção pela Universidade de São Paulo, Distúrbios da Comunicação pela PUC-SP, especialista em REALIZAÇÃO
DIRETO COM A REDAÇÃO
onde também é professor no curso de Biociência e Psicoterapia Psicanalítica pelo Instituto de Psicologia da USP. Av. Profª Ida Kolb, 551 Casa Verde – CEP 02518-000
coordena o Laboratório de Ciências da Cognição no São Paulo – SP – (+55) 11 3042-5900 – psique@escala.com.
Instituto de Biociências. MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de br
Psicologia Hospitalar – biênio 2007/09. Especialista em
CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, PARA ANUNCIAR anunciar@escala.com.br
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doutor em Saúde Mental pela Unicamp, pós-doutorado em do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HCFMUSP
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de Uberlândia. Autor de Aids e exclusão social. PR: (+55) 41 3026-1175 BRASÍLIA: (+55) 61 3226-2218
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DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. SC: (+55) 47 3041-3323


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duo é doente mental (não entende e/ou


não se determina), vai delinquir em de-
sordem mental, ou seja, a sua ação será
incompreensível em termos psicológicos.
Assim, compreensibilidade na “fo-
TOGRAlAv DO COMPORTAMENTO CRIMINOSO
se dá quando podemos inferir ação e
reação proporcionais em espécie. Por
exemplo, o indivíduo está sem dinheiro,
mata e se apodera da carteira da vítima;
quer queimar arquivo e elimina a fonte;
assassina o cônjuge por motivo de trai-
ção etc. Claro que são todas ações con-
denáveis moral, social e culturalmente,
mas compreensíveis.
Por sua vez, incompreensibilidade psico-
lógica ocorre quando não há possibilidade
de analisar a ação criminosa sem admitir
uma dose grande ou pequena de psicopa-
tologia. Por exemplo, um indivíduo vai ao

FOTOGRAFIAS
cinema portando metralhadora e a des-
carrega em pessoas desconhecidas, ou
melhor, nunca as tinha visto, não rouba
nada, não reivindica nada, não leva qual-

de comportamento quer vantagem, não esboça reação ao ser


preso. Nesse sentido, se não admitirmos
uma anormalidade mental (psicopatolo-
GIA AA¥ÎOlCAINCOMPREENSÓVEL/UTROS
COMO QUEM DETERMINA A AÇÃO É casos: o indivíduo violou vários túmulos
e manteve relação sexual com os cadá-
A MENTE, RESULTA QUE SE OLHARMOS VERES MÎE ATEOU FOGO EM TRÐS lLHOS IN
ESSA FOTOGRAFIA TEREMOS DADOS FORMANDOQUEESTAVAPURIlCANDO OSUM
homem assassinou algumas mulheres e
DO PSIQUISMO DO DELINQUENTE comeu pedaços de seus corpos etc.
Voltando ao assunto (todos os crimes

T
odo crime é, sem exceção, uma Porém, para ser criminoso comum SÎOFOTOGRAlASEXATASDOCOMPORTAMEN
FOTOGRAlA EXATA E EM CORES DO não basta somente entender a natureza to do criminoso nas quais podemos ver
comportamento do criminoso. ilegal da ação, é necessário, ainda, ser aspectos do psiquismo de quem os pra-
Com efeito, os comportamentos capaz de se determinar de acordo com ticou), no próximo número vamos abor-
elaborados, não instintivos, exigem que an- esse entendimento. Dito de outro modo, dar características dos crimes praticados
tes sejam pensados. Em outas palavras, o ato se entende o que faz e não age de acordo pelos doentes mentais, ou seja, ações
complexo pressupõe entendimento prévio. com tal compreensão é, da mesma forma, incompreensíveis psicologicamente (e
!SSIM  Ï CORRETO AlRMAR QUE O CRI portador de transtorno mental, por falta compreensíveis psicopatologicamente).
minoso comum (em oposição ao doente de capacidade de determinação. Até lá.
mental criminoso) entende o caráter deli- Disso resultam duas conclusões bá-
tuoso do que está fazendo. Do contrário, sicas: 1- Se o indivíduo é criminoso co-
Guido Arturo Palomba
se não entendesse e, mesmo assim, delin- mum (que entende e se determina), vai
ARQUIVO PESSOAL/123RF

é psiquiatra forense e
quisse, não seria criminoso comum, mas delinquir sob certa lógica mental e, con- membro emérito da
portador de distúrbio mental, por desco- sequentemente, a sua ação será compre- Academia de Medicina
de São Paulo.
nhecimento do que faz. ensível psicologicamente. 2- Se o indiví-

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