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DA PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

O Código Civil regula de maneira diferenciada a prescrição (arts. 189 ao 206)


e a decadência (arts. 207 ao 211).
No tocante aos prazos, a prescrição está concentrada em dois artigos (art.
205 e 206) e os demais prazos dispostos na atual codificação são, em regra, todos
decadenciais.
Na vigência do Código Civil de 1916 esses dois institutos eram disciplinados
de maneira confusa, fazendo com que o professor paraibano AGNELO AMORIM
FILHO adotasse uma teoria genial.
Agnelo associou a prescrição e decadência a ações correspondentes:

 A PRESCRIÇÃO associa-se às AÇÕES CONDENATÓRIAS (relacionadas


com direitos subjetivos) (Declaram a existência de uma relação jurídica
e, diante da violação de um imperativo legal, aplica uma sanção ao réu e
impõe que ele cumpra a prestação. Ex.: indenização).
 A DECADÊNCIA está associada às AÇÕES CONSTITUTIVAS e aos
DIREITOS POTESTATIVOS. (Declaram o direito de uma parte, cria,
modifica ou extingue o estado de uma relação jurídica preexistente).
 As AÇÕES MERAMENTE DECLARATÓRIAS não estão sujeitas à
prescrição ou à decadência, SÃO IMPRESCRITÍVEIS, e justifica-se porque
a nulidade absoluta envolve ordem pública e não se convalesce pelo
decurso do tempo. (Definem a existência, ou a inexistência, ou o modo de
ser de uma relação jurídica, ou reconhece a autenticidade ou a falsidade
de um documento. Ex.: investigação de paternidade).

O Código Civil/2003 adotou a referida teoria.

1. DA PRESCRIÇÃO

Antes mesmo da elaboração do Código Civil de 1916, já era costume se dizer


que A PRESCRIÇÃO ATACA O DIREITO DE AÇÃO, no entanto esse fundamento
não é tecnicamente correto porque o DIREITO DE AÇÃO (JUS POSTULANDI) em
si não é atingido:

O direito de pedir ao Estado um provimento jurisdicional que ponha fim à lide,


à luz do Princípio da Inafastabilidade da jurisdição, é sempre de ordem
pública, abstrato, de natureza essencialmente processual e indisponível (jus
postulandi). Isto quer dizer que não importa se o Autor detém o direito
subjetivo do que alega ter, o seu direito a uma sentença é inviolável.

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Assim, tecnicamente falando a PRESCRIÇÃO é na verdade a perda ou
extinção da pretensão de reparação do direito violado, pelo vencimento do prazo
previsto, advindo pela da inércia do seu titular.

NOTA: Por este raciocínio, ocorrida a prescrição dessa obrigação jurídica,


remanesce a obrigação natural (de natureza moral), conceituada por SÉRGIO
COVELLO como a obrigação “que não confere o direito de exigir seu
cumprimento, mas, se cumprida espontaneamente, autoriza a retenção
do que foi pago”.

Como visto, os casos de prescrição estão associados às AÇÕES


CONDENATÓRIAS, mantendo relação com as obrigações oriundas da
inobservância das regras que foram ditadas pela ordem jurídica ou pelas partes,
no entanto os prazos não podem ser alterados por acordo entre as partes. (art.
192).

Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo
das partes.

A PRESCRIÇÃO além dos prazos específicos possui também um PRAZO


GERAL de 10 (dez) anos para as ações que não possuírem previsão legal de
prazos menores.
Poderá ser alegada em qualquer grau de jurisdição e, também, pode ser
reconhecida de ofício.

Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de


jurisdição, pela parte a quem aproveita.

Interessante observar o momento em que começa a correr o prazo da


prescrição.
A explicação mais lógica decorre da regra segundo a qual a prescrição
atuando, como atua, na ação, começa a correr do dia em que a ação poderia ser
proposta e não o foi.
É o princípio da actio nata, ou seja, a prescrição começa do dia em que
nasce a ação ajuizável.
A legislação disciplina nos arts. 197 a 199 algumas causas que IMPEDEM e
SUSPENDEM a PRESCRIÇÃO.

Em resumo, ambas obstam o prazo prescricional.

Art. 197. Não corre a prescrição:


I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a
tutela ou curatela.

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Art. 198. Também não corre a prescrição:
I - contra os incapazes de que trata o art. 3º;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou
dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de
guerra.

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:


I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.

A diferença se encontra no tocante ao termo inicial, uma vez que no


IMPEDIMENTO o prazo nem chega a correr, enquanto que na SUSPENSÃO, o
prazo já em curso é paralisado, pelo tempo que estiver pendente a causa
suspensiva.
Por esse motivo, os dois institutos são tratados de maneira semelhante. E
mais, na interrupção o prazo decorrido zera e recomeça a ser contado e na
suspensão apenas fica paralisado e continuará a ser contado de onde parou.

2. DECADÊNCIA

A DECADÊNCIA pode ser definida como A PERDA DO DIREITO decorrente


da INÉRCIA de seu titular, sua eficácia é, desde a origem, subordinada à condição
de seu exercício dentro de um prazo prefixado, e este se esgotou.
Conclui-se que a INÉRCIA e o TEMPO sejam características comuns à
DECADÊNCIA e à PRESCRIÇÃO, por isso que, na DECADÊNCIA, a INÉRCIA diz
respeito ao EXERCÍCIO DO DIREITO e o TEMPO opera os seus efeitos desde o
nascimento deste, ao passo que, na PRESCRIÇÃO, a INÉRCIA refere-se ao
EXERCÍCIO DA AÇÃO e o TEMPO opera os seus efeitos desde o nascimento
desta, que, em regra, é posterior ao nascimento do direito por ela protegido.
Pelo critério desenvolvido por AGNELO DE AMORIM e adotado pelo código
civil, a decadência está ligada a DIREITOS POTESTATIVOS (direitos
incontestáveis) e às AÇÕES CONSTITUTIVAS, bem como guardam relação com
estado de sujeição, submetendo a outra parte a sofrer as consequências da
decisão judicial.
Os prazos da DECADÊNCIA podem originar-se na LEI (DECADÊNCIA
LEGAL) ou por CONVENÇÃO das partes (DECADÊNCIA CONVENCIONAL), mas
aquela não pode jamais ser renunciada, ao contrário desta que cabe após a
consumação, também pelo devedor.
A maioria da doutrina entende que não há PRAZO GERAL para a
DECADÊNCIA, não esquecendo que há o PRAZO de DOIS ANOS para anular o
negócio jurídico, de acordo com o art. 179 CC.

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Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem
estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a
contar da data da conclusão do ato.

Com EXCEÇÃO de algumas REGRAS ESPECÍFICAS, não pode ser


IMPEDIDA, SUSPENSA ou INTERROMPIDA. Salvo contra os absolutamente
incapazes, a decadência corre contra todos.

FUNDAMENTOS DA PRESCRIÇÃO

A PRESCRIÇÃO justifica-se pela sua finalidade de restabelecer o


EQUILÍBRIO e a HARMONIA SOCIAL, rompidos pelo ato antijurídico, embora
detenha, também, inegável função de penalidade indireta à negligência, como
reconheceu SAVIGNY.
A PRESCRIÇÃO fundamenta-se, destarte, na NECESSIDADE DE
ESTABILIZAR AS RELAÇÕES JURÍDICAS INCERTAS, no castigo à negligência e
no interesse público, como já previa o direito romano, segundo Leal (1982, p. 14).

FUNDAMENTOS DA DECADÊNCIA

A DECADÊNCIA também teve origem no direito romano, derivada do verbo


latino cadere - cair.

NOTA: Apesar de sua origem remota, o instituto desenvolveu-se lentamente e


há até pouco tempo não havia ainda ocorrido a sua sistematização, o que se
refletia no Código de 1916, que, pela ausência de critérios claros para
distingui-la da prescrição, sequer a mencionou.

No Brasil, o problema da definição da decadência era agravado pela ausência


de previsão legal no Código Civil de 1916.

CARACTERÍSTICAS DA PRESCRIÇÃO

A PRESCRIÇÃO é de ORDEM PÚBLICA e tal característica impõe três


consequências fundamentais:

a) SÃO NECESSÁRIAS MAIS DO QUE MERAS MINÚCIAS PARA QUE UM


DIREITO SEJA CONSIDERADO IMPRESCRITÍVEL, ou seja, a prescrição

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devido às suas próprias características estabelece um mínimo de
complexidade em cada particularidade a fim de que se possa considerar
um direito prescritível, até para que não ocorra imensas atrocidades no
complexo mundo do engenho humano.

b) NÃO SE PODE RENUNCIAR POR ANTECEDÊNCIA UMA


PRESCRIÇÃO E OS PRAZOS PRESCRITIVOS NÃO PODEM SER
ESTENDIDOS, OU ALARGADOS. Tais medidas se fazem necessárias a
fim de que não se destrua a eficácia prática da prescrição, conquanto que
em ausência de tal regra, todos os credor poderiam muito bem tomar
ações propedêuticas tais que a tornassem impositivas a seus devedores,
logo somente, e tão somente, os titulares poderão renunciar à prescrição,
isto é claro, após o tempo determinado, nunca jamais antes do mesmo.

c) ANTES DE CONSUMADA A PRESCRIÇÃO É IRRENUNCIÁVEL. Na


renúncia expressa, o prescribente abre mão da prescrição de modo
explícito, declarando que não a quer utilizar, e na tácita, pratica atos
incompatíveis com a prescrição, como é o caso do pagamento de dívida
prescrita.

CARACTERÍSTICAS DA DECADÊNCIA

DECADÊNCIA LEGAL é aquela cujo prazo é fixado pela lei, a própria


norma dispõe sobre seu prazo legal. As partes não podem renunciar.
O juiz deverá obrigatoriamente reconhecer a decadência estabelecida por lei.
DECADÊNCIA CONVENCIONAL é aquela pactuada entre as partes de um
negócio jurídico, ou seja, as partes acordam um prazo, e neste prazo elas
poderão exercitar um direito subjetivo de sujeição.

NOTA: Um exemplo de DECADÊNCIA CONVENCIONAL, seria o direito de


arrependimento pactuado entre as partes, em um negócio jurídico. Sendo
assim, se qualquer umas das partes demonstrar arrependimento pela
realização do negócio jurídico, ela pode requerer o seu DESFAZIMENTO.

Diferente da decadência legal, na decadência convencional somente as


partes do negócio jurídico poderão dispor, ou seja, o juiz não poderá reconhecer de
ofício. E ainda poderá ser alegada em qualquer grau de jurisdição

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PRINCIPAIS DISTINÇÕES ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA:

Entre as duas, existem muitas SEMELHANÇAS, sendo assim difícil encontrar suas
DIFERENÇAS, por isso, é necessário muita análise para esse tema, ao analisarmos
encontramos as seguintes diferenças:

PRESCRIÇÃO DECADÊNCIA

Artigos 205 e 206 do Código Está espalhado por todo o Diploma


LEI Civil. Civil.

Admite renúncia. Não admite a renúncia da


RENÚNCIA decadência legal (estabelecida na
lei), mas admite da decadência
convencional (convencionada entre
as partes).

INSTITUTO DE INTERESSE Privado. Público.

Pode ser interrompida, nos casos Não pode ser suspenso ou


INTERRUPÇÃO descritos no art. 202 do Código interrompido.
Civil. A interrupção só pode
ocorrer uma vez.

A prescrição não ocorre para Não há exceções para casos de


EXCEÇÕES todos. Segundo o artigo 197, decadência, ela ocorre para todos.
não ocorre a prescrição entre
cônjuges, entre ascendentes e
descendentes, e entre tutelados e
seus tutores.

INICIO DO PRAZO O prazo prescricional se inicia Na decadência, o prazo de


após a violação do direito, e perecimento se inicia junto com o
geralmente é de 10 anos. Porém, próprio direito.
a lei aponta prazos diferentes
para casos específicos.

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