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Trilobitas preservados como fósseis em rochas de cerca de 365 milhões de anos. Ontário, Canadá.

[William E. Ferguson]
"Se você puder olhar para dentro das sementes do tempo e descobrir
qual vai nascer e qual não vai, então não esqueça de me contar."
WILLIAM SHAKESPEARE

Cronologia da Terra 247


Cronologia do sistema Terra 248 de tempo humana, não há um só lugar sobre ela que
Embora a Terra
não esteja pareça ser
se movendo, sólidavagarosamente,
embora e estável na escala
tan-
Reconstrução da história geológica por to vertical como horizontalmente. Os processos geológicos
meio da datação relativa 249 que modelam a superfície terrestre e dão estrutura ao seu
interior ocorrem há milhões de anos. Nessa escala de tem-
Tempo isotópico: adicionando datas à
po, continentes, oceanos e montanhas moveram-se por
escala do tempo geológico 259 grandes distâncias. Um dos trabalhos essenciais do geólogo
Datações confiáveis: utilizando três é entender os padrões e as taxas desses movimentos.
linhas de evidências 264 Neste capítulo, abordaremos alguns métodos com
os quais os geólogos trabalham com esses intervalos
extraordinariamente longos de tempo, tanto para en-
tender os processos como para reconstruir a história geológica do planeta.
Uma das mais importantes razões para ajustar os processos geológicos em sua se-
qüência correta é entender a evolução do planeta que vemos hoje. Quando as Montanhas
Rochosas foram formadas? Por que a Terra sofre freqüentes idades do gelo, com gelei-
ras do tamanho de continentes? O que estava acontecendo no Leste da África na época
em que os humanos primitivos lá viviam? Para responder esses tipos de questões, preci-
samos de instrumentos para organizar e datar o registro das rochas. Necessitamos de um
calendário geológico para determinar a seqüência na qual as camadas rochosas se forma-
ram em suas respectivas idades e precisamos, também, de um método de comparação
das idades das rochas situadas em continentes separados. Dois séculos de pesquisa geo-
lógica moderna resultaram em tal instrumento: a escala do tempo geológico. Essa esca-
la permite que os cientistas determinem a idade da Terra, para revelar as complexas his-
tórias geológicas e, mesmo, estudar a origem e a evolução da vida.

, A,\

n 'nologia da Terra
Os geólogos diferenciam-se dos demais cientistas devido à forma como encaram o
tempo. Os físicos e os químicos estudam processos que duram somente as últimas fra-
248 Para Entender a Terra

Um bilhão Um milhão Um milhar Um Um Um Uma Um Um Um milésimo

Tempo
em anos
de anos

\ 109
de anos

\ \
106
de anos

103
ano mês

\100\ \0-3
dia

/
hora minuto

1~ /10-9
segundo de segundo

/10-12 10-15

II I I I I I I I II I I II I I I I I I I I I. I I ~
/
Idade
/
Tempo de soer-
/
Tempo de ex-
/ .._"....
Tempo
\
I

Erosâo men· Inundações


\I I
/
Ondas de ter-
/
Tempo para
/
Processos
Processo
da guimento de pansâo do as- de vida surável de remotos propa- que uma onda nucleares
ou evento Terra
uma cordilheira soalho do
montanhosa Atlântico até 1 de um rios e costas gando-se sonora seja
até 3.000 m km de largura humano litorâneas através e ao detectada por
de altura a uma a uma veloci- redor da Terra um ouvido
velocidade de dade de 4 humano
0,2 mm/ano em/ano

, Decaimento ra d'loatlVo
. ~ ~/
Mecanismo
de contagem
-1-"
Registros
Calendários
/
Relógios

do tempo , I históricos
Somente Fósseis
microrganismos com
fósseis concha

Figura 10.1 Tempo necessário para alguns processos e eventos geológicos comuns. Os tempos são dados em ordem de magni -
A escala é Ioga rítmica, isto é, tem iguais divisões entre sucessivas potências de 10.

ções de um segundo: a separação de um núcleo atômico, uma Os geólogos que construíram a escala do tempo geol' ="
rápida reação química. Outros cientistas efetuam experimentos fizeram mais do que simplesmente datar as rochas. Eles p
que duram minutos, horas ou dias. Os geólogos, ao contrário veram uma evolução no modo de pensar o tempo, o nos o
disso, tratam de processos da Terra que se desenvolvem numa neta e, inclusive, nós mesmos. Eles descobriram que a ~
grande multiplicidade de diferentes durações de tempo (Figura muito mais antiga do que se poderia ter imaginado. Eles d""
10.1). Desde tremores de um terremoto, que duram segundos briram, contrariando as idéias correntes anteriores, que a
ou minutos, até o soerguimento de montanhas, que leva vários fície terrestre e o seu interior transformaram-se e modelaraI:"-
milhões de anos para acontecer. repetidamente pelos mesmos processos geológicos que
Podemos medir alguns processos geológicos diretamente. hoje estão atuantes. Eles descobriram também que não a~
As águas que extravasam do leito de um rio, por exemplo, so- o planeta, mas também seus habitantes evoluíram no tem
bem e descem num intervalo de poucos dias. Podemos medir, revelaram que os humanos ocupam apenas um dos mais b _
também, o movimento relativamente lento das geleiras, as momentos da longa história da Terra.
quais podem demorar um ano para se moverem poucos metros.
Outros processos, entretanto, como a erosão de uma encosta,
são muito lentos para serem medidos diretamente. Nesse caso,
devemos contar com os registros históricos para determinar a do sistema Terra
quantidade de tempo necessária para que ocorram alguns des-
es processos (Figura 10.2). Mesmo que os registros históricos Nosso entendimento de como os sistemas da Terra atuarac
mais antigos remontem há alguns milhares de anos, isso ainda passado depende da medição das taxas dos processos geo _
e constitui num curto intervalo de tempo em relação àquele ne- cos e de sua história. Por exemplo, sabemos que o dióxi
es ário para medir os processos geológicos muito lentos que carbono tem um papel importante no clima global. Pode~
moldam o planeta. Nossa única fonte para cronometrar tais pro- medir a concentração desse elemento em atmosferas an =-
es os é o registro das rochas. As rochas formadas no passado por meio de testemunhos de gelo extraídos de furos feitos
e preservadas da erosão servem como uma memória da Terra, geleiras da Antártida e da Groenlândia. Além disso, pOli:-
regi trando os eventos geológicos, tais como glaciações que analisar como o dióxido de carbono foi aprisionado no gel
duraram muitos milhares ou milhões de anos. quanto este se acumulava durante as incontáveis tempe
Os geólogos do século XIX usaram seu entendimento sobre de neve. É importante saber exatamente quando a concen
O" e tratos rochosos e os fósseis para determinar a idade rela· de dióxido de carbono foi alta e quando foi baixa. Dessa D
tila das camadas de rochas sedimentares - o quanto umas são a datação de testemunhos de gelo passou a ser um impor.:
.- antigas em relação às outras. Esses pesquisadores pionei- aspecto da datação das variações climáticas (ver Reportag
: podiam, então, colocar os eventos geológicos que origina- 16.1 no Capítulo 16).
êm rms formações rochosas em uma ordem cronológica. De forma semelhante, a história de um elemento qu'~
_-.I:.IaJmente.os geólogos utilizam a física do decaimento ra- específico - alguns de grande significado ambiental, COI:;:
- "0 para detelminar a idade isotópica da rocha, freqüente- chumbo - pode ser traçada determinando-se a sua concen
-::'~ chamada de idade absoluta - o número real de anos que em sedimentos marinhos e não-marinhos de várias épocas. -
:::~ r -saram desde que ela se formou. sim, podemos deduzir as diferenças havidas no ciclo do ch::
CAPíTULO 10 o Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1249

servaram da erosão ou da subducção. Considerando que so-


mente o assoalho oceânico mais recente do que 200 milhões de
anos sobreviveu à subducção, devemos concentrar nos conti-
nentes nossa busca por rochas antigas que possam suprir as evi-
dências de grande parte da história da Tena. Entre os métodos
de leitura do registro geológico podem-se citar a interpretação
de falhas e outras estruturas; a procura de evidências de soer-
guimento e erosão; a construção de deduções a respeito dos
ambientes nos quais os sedimentos foram depositados; e a re-
construção das condições originais das rochas que foram defor-
madas e metamorfizadas.
Os geólogos do século XIX elaboraram uma escala do tem-
po geológico a partir das relações de espaço e tempo das rochas
expostas na superfície ou em testemunhos de sondagens. Eles
começaram com a mesma abordagem que estamos utilizando
aqui, ou seja, partiram das evidências da estratigrafia - que é
a descrição, conelação e classificação dos estrato de rochas
sedimentares. É importante observar que, para eventos muito
recentes na história geológica - como, por exemplo, epi ódios
de mudança climática na escala de tempo de centenas de milha-
res de anos -, outros materiais estratificados são utilizados pa-
ra suplementar as informações das rochas que fornecem um ca-
lendário dos eventos passados da Terra. Alguns desses mate-
riais são os anéis de crescimento de troncos de árvores, os tes-
temunhos de gelo glacial da Antártida e da Groenlândia e os se-
dimentos não consolidados do assoalho oceânico. As rochas se-
dimentares, entretanto, ainda são o material estratificado mais
importante que se usa para decifrar a vasta imensidão da histó-
ria geológica.

o registro estratigráfico
A estratificação, ou acamamento, que é a marca registrada das
rochas sedimentares, constitui a base de dois princípios simples
utilizados para interpretar os eventos geológicos a partir do re-
gistro das rochas sedimentares:

10.2 Os registros históricos, como mapas antigos e 1. O princípio da horizontalidade original estabelece que os
"3mentos topográficos, são úteis para medir certos processos sedimentos são depositados como camadas geralmente horizon-
- -vicos. Desde 1887;2 quando este mapa estava sendo tais. A observação dos sedimentos marinhos e não-marinhos atu-
'"'==2Iado,areia, silte e argila (áreas marrons assinaladas no original ais, em uma grande variedade de ambientes, suporta essa genera-
-388) foram levados pelas ondas e marés, preenchendo as lização. (Embora a estratificação cruzada, descrita no Capítulo 8,
::.=:: continentais de influência marinha próximas à Enseada de seja inclinada, a orientação de toda a unidade estratificada é ho-
-"'eet, no Cabo Cod, em Massachusetts (EUA). rizontal.) Se encontramos uma seqüência de camadas de rochas
sedimentares que estejam dobradas ou inclinadas, sabemos que
as rochas foram deformadas por esforços tectônicos depois de
últimos milhares de anos. A partir disso, é possível infe- seus sedimentos terem sido depositados.
- .• anto chumbo, que é um elemento venenoso, estava pre-
-= na dieta de povos antigos, seja dos Incas, no Peru, ou do 2. O princípio da superposição estipula que, numa seqüência
_ério Romano em seu apogeu. 1 não perturbada tectonicamente, cada camada de rocha sedi-
mentar é mais nova que aquela sotoposta e mais antiga que a
que está sobreposta. O senso comum geológico nos diz que
uma camada mais nova não pode se alojar embaixo de uma ca-
nstrução da história mada que já foi depositada. Esse princípio permite-nos ver uma
série de camadas como uma espécie de linha de tempo vertical
eológica por meio da datação - isto é, um registro parcial ou completo de um tempo que
elativa abrange desde a camada mais inferior até a deposição da mais
superior (Figura 10.3).
~co registro que temos dos eventos geológicos passados é Assim, uma seqüência vertical de estratos, chamada de su-
~le encontrado de forma incompleta nas rochas que se pre- cessão estratigráfica, é um registro cronológico da história
250 I Para Entender a Terra

Os sedimentos são depositados em camadas horizon- Se não houver perturbação por processos
tais e lentamente transformados em rochas sedimentares. tectônicos, as camadas mais novas permane-
cem no topo e as mais antigas, na base.

Figura 10.3 Camadas de rochas sedimentares no Cânion Marble, um braço do Grand Canyon, que foi
escavado pelo Rio Colorado na região onde hoje se situa o norte do Arizona (EUA). Essas camadas registram
milhões de anos da história geológica. [Fleteher and Baylis/Photo Researehers]

geológica de uma região. A linha de tempo correspondente a para que uma camada de lama de 1 mm de espessura se de
uma seqüência é chamada de tempo geológico abrangido por te, a sedimentação não é contínua e a espessura dos sedime::;
essa seqüência. (O termo tempo geológico é também utilizado não pode ser usada como um cronômetro preciso. Além dE:
para referência a todo o intervalo de tempo desde que a Terra se a taxa em que um sedimento é acumulado varia amplam~
formou.) As sucessões estratigráficas diferenciam-se de se- nos diferentes ambientes de sedimentação.
qüências sedimentares, as quais foram abordadas no Capítulo A estratigrafia é um cronômetro impreciso por uma s~
8. As seqüências sedimentares são mudanças verticais de lito- da razão: o registro das rochas não nos diz quantos anos se~_
logia em sedimentos depositados num ambiente de sedimenta- saram entre cada período de deposição. Muitos lugares na ~
ção. Uma sucessão estratigráfica é definida mais amplamente e nície fluvial de um vale recebem sedimentos somente durar.::
inclui uma grande variedade de camadas de diferentes origens. tempo de inundação. Os intervalos de tempo entre as in -
Enquanto a ênfase nas seqüências sedimentares é a natureza ções não se encontram representados por qualquer sedim~
dos tipos de sedimentos que se empilham, numa sucessão estra- ção. No transcurso da história da Terra, em vários lugares.:':'
tigráfica a ênfase é a cronologia das camadas que a compõem e ve um longo intervalo, alguns com a duração de milhõ
das condições sedimentares implicadas. anos, no qual nenhum sedimento foi depositado. Em outr05
Com um marcador do tempo geológico, ou "relógio estra- gares e tempos, as rochas sedimentares podem ter sido rem.::
tigráfico", os geólogos podem dizer se uma camada de rocha é das pela erosão. Embora possamos freqüentemente dizer L
mais antiga que outra, embora não possam dizer, necessaria- ocorreu um lapso no registro, raramente podemos dizer _
mente, em quantos anos ela é mais antiga. Poder-se-ia esperar exatidão quanto tempo esse intervalo representa.
que uma sucessão estratigráfica correspondesse a uma medida A razão final - e uma das mais importantes para os g~
direta do tempo, com cada ano nela materializado, se os sedi- gos que querem comparar as histórias geológicas de difer.=--o
mentos tivessem se acumulado continuamente numa taxa está- lugares da Terra - é que a estratigrafia sozinha não pode se:-
vel e se compactado numa espessura também constante quan- lizada para determinar as idades relativas de duas camadas
do foram litificados e, além disso, não tivessem sido erodidos. to separadas. Um geólogo pode ser capaz de estabelecer
de relativa de uma camada ou série de camadas seguind.:-
Se, por exemplo, soubéssemos que os sedimentos lamosos
acumulam-se numa taxa de 10m em cada 1 milhão de anos, afloramento por uma distância limitada, mas não existe nr
ma maneira de saber se uma camada no Arizona, por exer:u--
então 100 m de lamito poderiam representar 10 milhões de
é mais antiga ou mais nova que outra no norte do Canadá.
anos de deposição.
Os geólogos pioneiros, de quem já falamos, também :::...
Na prática, entretanto, não podemos, a partir da estratigra-
vam que os fósseis eram a chave para detectar intervalc
fia, medir o tempo com uma precisão de anos por várias razões.
tempo perdidos e correlacionar a idade relativa das roch -
Primeira: como abordado no Capítulo 8, os sedimentos não se
diferentes lugares. Os fósseis tornaram-se o mais impor:
acumulam numa taxa constante em nenhum ambiente de sedi-
instrumento para construir com exatidão uma escala do
mentação. Durante uma inundação, um rio poderá depositar em geológico para todo o planeta.
seu canal uma camada de areia de vários metros de espessura
em questão de poucos dias, enquanto durante todos os anos que
se seguem entre as inundações ele depositará uma camada de Os fósseis como marcadores do tempo
areia com apenas poucos centímetros de espessura. Mesmo na Para muitos estudantes de hoje, deve ser óbvio que os fi'
profundidade do assoalho oceânico, onde pode levar mil anos são os restos de antigos organismos. Alguns se parecem
CAPíTULO 10. Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1251

_ 10.4 Fósseis de animal e de vegetal. (a) Fósseis de amonite, exemplos antigos de um grande grupo de organismos
=rados que estão agora, em grande parte, extintos. Seu único representante no mundo atual é o náutilo, cuja concha tem várias
=.S internas. [Chip Clark] (b) Floresta petrificada, Arizona (EUA). Estes troncos têm milhões de anos. Seu lenho foi
_ ~wmente substituído por sílica, a qual preservou todos os detalhes da forma original. [Tom Bean]

- animais atuais, embora outros - como os trilobitas da sistência e suas conseqüências foram exploradas. Um dos pri-
_ IDa no início deste capítulo - sejam os restos de formas meiros pensadores modernos a estabelecer uma conexão entre
~ extintas. Existem fósseis de conchas, dentes, ossos, im- os fósseis e os organismos vivos antigos foi Leonardo da Vin-
de vegetais ou rastros de animais (Figura 10.4). Os ci, no século xv. No século XVII, Nicolau Steno comparou o
-..::mais comuns nas rochas do último meio bilhão de anos que era chamado de "línguas-de-pedra", encontradas na região
zonchas de invertebrados, como mariscos, ostras e o gru- mediterrânica, com formas similares de dentes de tubarões
_ :: amonites mostrado na Figura lOAa. Muito menos co- modernos e concluiu que as pedras eram remanescentes da vi-
são os ossos de vertebrados, como mamíferos, répteis e da antiga.
:: uros. Mas fósseis de ossos de dinossauros existem e No final do século XVIII, depois de centenas de fósseis e
=ram-nos muitas informações a respeito da natureza des- suas correspondências com organismos modernos terem sido
..::imais há muito extintos. As plantas fósseis são abundan- descritos e catalogados, a evidência de que eram remanescentes
algumas rochas, particularmente naquelas associadas a de criaturas vivas de outrora foi dominando. Assim, a Paleon-
-; de carvão, onde folhas, brotos, ramos e mesmo tron- tologia, o estudo da história da vida antiga a partir do registro
--eiros de árvores podem ser reconhecidos (Figura lOAb). fossilífero, ganhou lugar ao lado da Geologia, que é o estudo da
::-eis não são encontrados em rochas ígneas intrusivas, história da Terra a partir do registro das rochas.
_-z o material biológico original seria perdido na fusão Os dividendos do estudo dos fósseis não foram creditados
-~_Eles raramente são encontrados em rochas metamórfi- apenas à Geologia. A viagem do jovem Charles Darwin como
:- - quaisquer remanescentes de organismos encontram-se naturalista a bordo do Beagle (1831-1836) ampliou imensamen-
= -empre tão transformados e deformados que dificilmen- te seu conhecimento sobre a grande variedade de organismos
~m ser reconhecidos. fósseis e do que sua presença nas rochas pode ajudar a prognos-
- gregos da época clássica foram, provavelmente, os pri- ticar. Ele também teve uma 0pOltunidade para observar uma
:: a supor que os fósseis são registros de vida antiga, mas imensa variedade de espécies animais e vegetais nada familiares
:"ãlente nos tempos modernos que o conceito ganhou con- em seus hábitats naturais. Em 1859, Darwin propôs a teoria da
2521 Para Entender a Terra

evolução, que revolucionou o pensamento científico sobre as Usando seu conhecimento de sucessões faunísticas, S
origens de IlÚlhões de espécies de vida animal e vegetal e forne- correlacionou as formações de idades similares encontradas _
ceu um seguro arcabouço teórico para a Paleontologia. diferentes afloramentos. Pela observação da ordem vertica.:._
Bem antes de Darwin, em 1793, William SIlÚth, um agri- que as formações eram encontradas em cada lugar, comp
mensor que trabalhava no sul da Inglaterra, reconheceu que os uma sucessão estratigráfica composta para toda a região. SU!.
fósseis poderiam ser utilizados para fornecer as idades relativas rie composta mostrava como a sucessão completa seria ob
das rochas sedimentares. SIlÚth era fascinado pela variedade de vel se as formações dos diferentes níveis de todos os afIoram-:
fósseis, coletando-os nas seqüências de rochas estratificadas tos pudessem ser vistas reunidas num único perfil. A Fig
que se encontravam expostas ao longo de canais e afloramen- 10.5 mostra tal composição para uma série de três formaç-
tos. Ele observou que diferentes camadas tinham diferentes ti- Durante os dois últimos séculos, os geólogos vêm utiliz.-
pos de fósseis. A partir disso, foi capaz de posicionar cada ca- do essa abordagem, que combina a sucessão faunística co
mada a partir da outra pelas características fósseis que conti- sucessões estratigráficas e correlacionando cuidadosame~
nham. Ele estabeleceu uma ordem geral para a seqüência de formações em todo o mundo. O resultado, como veremo
fósseis e estratos, desde a camada mais inferior (mais antiga) adiante, é a escala do tempo geológico da Terra.
até a mais superior (mais nova). Independentemente de sua lo-
calização, Smith podia predizer a posição estratigráfica de
qualquer camada individual, ou conjunto de camadas, de qual- Discordâncias: marcadores do tempo perdiG
quer afloramento do sul da InglatelTa apenas com base na asso- Ao colocar lado a lado seqüências de formações, os geól .=,
ciação de fósseis que continham. Essa ordem estratigráfica de freqüentemente, encontram lugares onde uma destas es '
fósseis é conhecida como sucessão jaunística. sente. Isso acontece porque tal formação ou nunca foi dep
SIlÚth foi o primeiro a usar a sucessão faunística para corre- da ou foi erodida antes da camada subseqüente ter sido ac
lacionar rochas de diferentes afloramentos. Uma formação é lada. Nesse caso, a superfície ao longo da qual essas duas -
um conjunto de camadas de rochas de uma região que tem as mações se encontram é chamada de discordância - uma :
mesmas propriedades físicas, podendo conter a mesma associa- fície entre duas camadas que não foram depositadas nurnz
ção de fósseis. Algumas formações consistem em um único ti- qüência contínua (Figura 10.6). Uma discordância represe-
po de rocha, como o caleário. Outras são camadas delgadas e tempo, assim como uma rocha sedimentar.
intercaladas de diferentes tipos de rochas, como arenitos e fo- Porém, uma discordância não representa apenas o te
lhelhos. Apesar de sua variedade, cada formação compreende Ela também pode ser o indício de que forças tectônica :-
um conjunto distintivo de camadas rochosas que pode ser reco- gueram uma região acima do nível do mar, a qual, a partir
nhecido e mapeado como uma unidade. so, passou a ser erodida. Alternativamente, as discordânci -

Os fósseis encontrados em algumas cama-


das rochosas no afloramento A são os mes-
mos daqueles encontrados em algumas
camadas do afloramento B, mais distante.
Afloramento A
Afloramento B

11

11

~'d" com o, m"mo,


fósseis são de mesma idade.
( 111

Ii
Uma composição dos dois afloramentos poder<:
Figura 10.5 William Smith pôde empilhar juntas a seqüência de camadas de
mostrar as formações I e 11sobrepondo-se à ~"<-
diferentes idades e diferente conteúdo fossilífero pela correlação de afloramentos mação 111e, por isso, sendo mais novas que ek.
encontrados no sul da Inglaterra. Neste exemplo, as formaçôes I e 11 estavam
expostas no afloramento A, enquanto as formações 11 e 111, no afloramento B.
CAPíTULO 10 • Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico \253

dem representar tempos nos quai uma região foi sendo erodi-
da enquanto o nível do mar descia globalmente. O nlyel do mar
poderia baixar, por exemplo. deYido à retirada de água dos
oceanos para formar as calotas ou o manto de gelo polares.
Os geólogos classificam os diferente tipo de di ordância
de acordo com a relação entre o pacote uperior e o inferior de
camadas. Uma discordância em que o conjunto uperior de ca-
madas assenta-se em uma superfície erosi\'a de enyohida obre
um pacote de camadas não deformado e ainda dispo to na posi-
ção horizontal é chamada de desconformidade, Cma di ordân-
cia em que o pacote superior de camadas recobre roch meta-
=:'.IPO 1 mórficas ou ígneas intrusivas é uma não-conformidade,: Uma
::_ sedimentos acumulam-se. discordância em que o pacote superior de camadas sobrepõe-se a
o mar. nas camadas A-D.
um inferior cujas camadas foram dobradas ou basculadas por
processos tectônicos e, depois, sofreram erosão numa uperfí ie
mais ou menos plana é denominada de discordância angular.
Numa discordância angular, os planos de acamamento dos doi
pacotes de camadas, o superior e o inferior, não são paralelo . A
Figura 10.7 representa uma impressionante discordância angu-
lar encontrada no Grand Canyon. A Figura 10.8 ilustra os pro-
cessos pelos quais uma discordância angular pode se formar.

::';IPO 2
"Z--,>-i:eriormente.as forças
- ônicas causaram o soergui-
-' to das camadas acima do Secção escavada
nos estratos do
I do mar, expondo-as à erosão.
Grand Canyon

~AP03
- ef"Osão removeu a camada D
:' :lilrte da C. deixando uma su-
.' 'cie irregular de morros e vales.

"'"3APO 4
Jm a subsidência da região,
:: ível do mar sobe, permitin- ,
- que uma nova camada, E, se
:::: ositasse sobre a C. A superfície Subsidência
~gular no topo de C é preservada
= o uma discordância. Discordância

_ ra 10.6 Uma discordância é uma superfície entre duas Figura 10.7 A grande discordância no Crand Canyon,
adas que não foram depositadas numa seqüência contínua. Colorado (EUA), é uma discordância angular entre o arenito
- :érie de eventos representados aqui, uma discordância é horizontal Tapeats sobre os folhelhos pré-cambrianos Wapatai,
_=uzida por meio de soerguimento e erosão, seguidos de fortemente dobrados, sotopostos. [GeoScience Features Picture
-sidência e outro ciclo de sedimentação. Library]
2541 Para Entender a Terra

Relações de seccionamento
Outras feições de rochas sedimentares acamadas tambérr:
necem chaves para a datação relativa. Como descrito no C:
tulo 5, os diques ou outras intrusões magmáticas poderr;
cionar e romper as camadas sedimentares. As falhas de k
planos de acamamento quando separam blocos de rochas
mo será visto no Capítulo lI). As falhas podem também _
locar diques e soleiras. As intrusões e as falhas podem ~
seridas em uma sucessão estratigráfica, ajudando-nos,
forma, a posicionar os eventos geológicos dentro de uma
e
TEMPO 1 Ia de tempo relativo. Sabemos que eventos deformacion~
Os sedimentos acumulam-se em intrusivos ocorreram depois que as camadas sedimentare=
camadas, sob o nível do mar. tadas foram depositadas e que, portanto, tais deformaçõc.
intrusões devem ter sido mais novas que as rochas que ~
cortaram (Figura 10.9). Se os deslocamentos por intrusães
falhas forem erodidos pela superfície de uma discordân
depois, sobrepostos por uma série mais nova de formaçõ -
beremos que as intrusões ou falhas são mais antigas que
cote de camadas sobreposto.
Compressão
Estratigrafia de seqüências
Nas três últimas décadas, foi desenvolvida uma nova vi -
estratigrafia4 - a estratigrafia de seqüências. Essa fo~
estratigrafia foi originalmente conhecida como estrati T.
sísmica porque considerou os avanços trazidos pelos gr -
aperfeiçoamentos na sismologia de exploração (ver Capo
21) que permitiram aos geólogos observar desde camada "-
viduais até espessos pacotes sedimentares numa secção '
ca ou transversal (Figura 10.10). As feições geométricas _
difíceis de serem discernidas em afloramentos, são, com -
qüência, impressionantemente reveladas em perfis sísrr:::
(Figura 1O.lOa). A unidade fundamental utilizada nesse I:
modelo estratigráfico é a seqüência, um conjunto de es
sedimentares limitados no topo e na base por discordâncias ?
gura IO.lOb). Um exemplo é a seqüência sedimentar ai
abordada no Capítulo 8, que representa um único ciclo de ck:
sitos fluviais. As seqüências utilizadas na estratigrafia de
TEMPO 3
qüências envolvem, geralmente, pacotes de camadas m
A erosão removeu os topos das
camadas dobradas, deixando um maiores, que podem ser constituídos por muitos daqueles _
plano irregular com porções expostas elos. As discordâncias que definem seqüências representam:-
de várias camadas dobradas. tuações do nível do mar, que possibilitam a ocorrência da ~
são em grandes regiões. As camadas que constituem as seqE::
cias mostram padrões internos que são diagnósticos das
danças na sedimentação.
Por exemplo, num grande delta fluvial, os sedimento
depositados quando o rio desemboca no mar. Essa sedime=
ção acumula-se lentamente desde o assoalho do oceano a:=
superfície da água do mar, criando, dessa maneira, novas te~_
A sedimentação aluvial acumula-se, então, nessa nova su
cie e, após alguns milhões de anos, o delta pode avançar '
TEMPO 4 quilômetros para dentro do mar (Figura 1O.lOc). Se o ní e:
Com a subsidência da re-
gião, o nível do mar subiu,
permitindo que novos sedimen·
tos se acumulassem sobre a
superfície erosiva anterior. A super- Figura 10.8 Uma discordância angular é uma superfície de
fície onde os novos sedimentos e as
Subsidência erosâo que separa dois pacotes de camadas cujos planos de
camadas dobradas se limitam é preser-
Discordãncia acamamento nâo sâo paralelos entre si. Esta seqüência mostra
vada como discordãncia angular.
angular como tal superfície pode ser formada.
CAPíTULO 10. Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1255

mar tivesse subido como resultado de mudanças climáticas glo-


bais ou da subsidência tectônica, a linha de costa seria desloca-
da muitos quilômetros em direção ao continente. Um novo del-
ta poderia começar a ser construído sobrepondo-se à seqüência
deltaica anterior, como ilustrado na Figura 10.1Od.
Utilizando seus conhecimentos de padrões de acamamento,
os estratígrafos de seqüências podem correlacionar seqüências
de mesma idade geológica por grandes extensões. A partir de
tais informações, podemos reconstruir a história geológica de
uma região, incluindo as mudanças no nível do mar, em relação
às sucessões de seqüências.
~POl
:. sedimentos acumularam-se
_ camadas sob o nível do mar.
A escala do tempo geológico
Até agora, foram abordadas várias maneiras de ordenar os es-
tratos rochosos e correlacioná-Ios dentro de uma seqüência
temporal de eventos geológicos:
• Podemos determinar as idades relativas das rochas sedimenta-
res tanto pela simples regra da superposição como pelo registro
fóssil local e global.
• Podemos utilizar a deformação e as discordâncias angulares
para datar os episódios tectônicos em relação à seqüência estrati-
gráfica.
~,\PO 2
• Podemos utilizar as relações de seccionamento para estabele-
eriormente, as forças
=-ônicas causaram soer- cer as idades relativas de corpos ígneos ou falhas que estiverem
_ ento, dobramento e cortando as rochas sedimentares.
- - rmação das camadas
··-mentares durante a formação Combinando-se todos os três métodos, podemos decifrar a
-= ontanhas. história de regiões cuja geologia é complexa (Figura panorâ-
mica 10.11).
Nos séculos XIX e XX, os geólogos utilizaram esses princí-
pios de datação relativa e reuniram informações de afloramen-
tos de todo o mundo para ajustar uma completa escala do tem-
po geológico, um calendário de idades relativas da história geo-
lógica da Terra. Cada intervalo de tempo nessa escala está cor-
- PO 3
relacionado a um pacote de rochas e respectivos fósseis. Embo-
_-dique de magma
_-do intrudiu-se ra a escala do tempo geológico ainda esteja sendo refinada,
camadas dobra- suas principais divisões têm permanecido constantes durante o
cortando-as trans- último século.
Imente. Como é Como ilustrado pela Figura 10.12, a escala do tempo geo-
- -ívei verificar que o di- lógico é dividida em quatro unidades principais de tempo, sen-
- corta as camadas dobra-
Plúton do a seguir enunciadas em ordem de diminuição da sua duração
é claro que a sedimenta-
~ e o dobramento temporal: éons, eras, períodos e épocas. Um éon é a maior di-
21:ederam a intrusão. visão da história.

Éon ArqueanoS O mais antigo éon é o Arqueano (do grego ar-


chaios, "antigo"). As rochas arqueanas abrangem desde as mais
antigas rochas conhecidas, com cerca de 4 bilhões de anos, até
rochas de 2,5 bilhões de anos. Durante o Éon Arqueano, os sis-
temas do geodínamo, da tectônica de placas e do clima foram
estabelecidos. Os núcleos da maioria dos continentes forma-
~ :>04
: namento des-
==
ram-se nesse tempo remoto da história da Terra, quando o sis-
as camadas e
e. Como as ca-
-. sedimentares e o
- _" estão ambos deslo-
-5. a ocorrência do falha- Figura 10.9 As relações de seccionamento permitem-nos situar
~o é considerada posterior os eventos geológicos num quadro de tempo relativo dado pela
sucessão estratigráfica.
2561 Para Entender a Terra

A tecnologia sísmica pode ser utilizada ... as quais permitem aos geólogos observar
para criar seções sísmicas para revelar até as camadas individuais de uma seqüêncic..
seqüências estratigráficas, ...
Seqüência sísmica

(c) A seqüência sísmica revela as mudanças


na sedimentação, tais como aquelas
que ocorreram num delta fluvial.

"~o
.,
l
,.;'

Sedimentos

Uma seqüência da sedimentação deltaica, B, o nível do mar sobe e a linha de Outra seqüência sedimentar, C,
acumula-se sobre uma sedimentação prévia, A. costa retrocede para o continente. acumula-se sobre a seqüência B.

Figura 10.10 A comparação entre seções sísmicas (a) com seqüências sísmicas (b) revela o processo
deposicional que criou o padrão de acamamento. Quando a subsidência tectônica ou outros eventos, como uma
mudança climática global, causam a subida do nível do mar, duas seqüências deltaicas são encontradas, (c) e (d).

tema da tectônica de placas operava algo diferente de como reram em tempos geológicos posteriores, com algumas si=-
passou a fazer posteriormente, no Proterozóico, e em tempos ficativas exceções. Uma delas foi a precipitação, na água
mais recentes. Os fósseis de organismos unicelulares primitivos mar, de quantidades imensas de óxido de ferro. Quando o
são encontrados em algumas rochas sedimentares dessa idade. gênio se formou nos primórdios da Terra, combinou-se co;::
ferro reduzido (não-oxidado) presente nos oceanos para:
Éon Proterozóico O próximo intervalo de rochas formou-se mar óxido de ferro, o qual, então, precipitou e foi deposi
durante o Éon Proterozóico (do grego próteros, "anterior", e no assoalho do oceano. A precipitação de óxido de ferro
zoikós, "vida") (de 2,5 bilhões a 543 milhões de anos atrás). teve o nível de oxigênio na atmosfera muito baixo até que
Durante o tempo proterozóico, as interações do geossistema da o ferro fosse utilizado. O oxigênio atmosférico só chegou
tectônica de placas e do clima foram semelhantes às que ocor- níveis atuais no final do Proterozóico e pode ter promO\

Figura 10.11 Uma secção transversal de quatro formações arenitos, calcá rios e folhelhos contendo fósseis marinhos; F,
permite aos geólogos reconstruir os estágios da história arenitos contendo fósseis continentais. As formações A e D eS":3
geológica de uma área. A partir do mapeamento de campo, um separadas por uma discordância (C). As formações D e F estã
geólogo elabora uma secção transversal de quatro formações: A, separadas por uma discordância angular (E).
rochas metamórficas deformadas; B, um plúton granítico; D,
CAPíTULO 10 • Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1257

S GEÓLOGOS UTILIZAM AS RELAÇÕES DE SECClONAMENTO PARA ESTABELECERUMA CRONOLOGIA RELATIVA

A partir de mapas de campo, um geólogo


elabora uma secção transversal, -E F - Arenito contendo fósseis continentais
observando as características dos estratos
. ~ Discordância angular E
e duas discordâncias. Como podem essas
relações ter acontecido?

~o·~o
~~ 000 ~'o
o
contendo
Arenitos, fósseis
calcá
Discordância Criosmarinhos
e folhelhos

~ Rochas sedimentares metamor-


fizadas e deformadas

fi Para iniciar, camadas


'"~V_ Camadas sedimentares
com fósseis continentais
sedimentares são depo-
sitadas num leito plano
e horizontal.

--'-K-
~~
llJ
Discordância angular
Finalmente, a deposição de sedi-
mentos arenosos sobre a discordân-
cia angular ocorre num ambiente
continental - evidenciado pelos
fósseis continentais.

o... então a erosão aplaina


as camadas basculadas,
D A deformação e o meta-
morfismo das camadas
••••.•••..~
~ formando
cia angular. uma discordãn- sedimentares ocorrem
durante o soerguimento e
a compressão tectônicos.

11A intrusão de magma


líquido corta as camadas
sedimentares previamente
deformadas.

11A erosão das camadas deformadas


EI As novas camadas marinhas até a formação de uma superfície
são basculadas e soerguidas, aplanada resulta no desenvol-
iniciando o processo de erosão ... vimento de uma discordância ...

... seguida pela deposição de novas ca-


madas sobre a discordância, durante a sub-
sidência abaixo do nível do mar - eviden-
ciada pela presença de fósseis marinhos.
2581 Para Entender a Terra

z
I 0,8 Cenozóico c
c:c
;õ2600
~ Pleistoce
510300
Milhões
2S00 de Ma Acrescimento
eDevoniano
ÉON.2UFANEROZÓICO
320 da Terra
543
144 ,«
z Eocen
PERíODO ÉON 10 400 Cretáceo (ver Figura 1.12)ii: 0,4
409
ERA 439
2500500
Siluriano O
do200 50
'LU
ll.
o•.. LLI40Ma 300 250
CIJ ::::> e<::
-c«ee<::
ii:
tO
CIJtO PaleoceI'::
Oligoce--
0206
1,830 20100
Mioce ~ c:Fita tempo ~da~ Terra
354 Mississippiano
60
~Permiano
da
anos
O
Terra
(Ma)
queano, foram
três estabelecidos.
o
geossistemas globais tn11,2 500 Ordoviciano
I3600
3800 O SISTEMATERRA
os Éons Hadeano e Ar- 1

SISTEMA DA
TECTÔNICA
DE PLACAS

SISTEMA DO
Figura 10.12 A escala do tempo geológico. Os números na
CEODíNAMO
esquerda das colunas estão em milhões de anos (Ma) antes d
presente.
CAPíTULO 10 • Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1259
~ '''; .

as de vida unicelulares a evoluírem para algas e animais


ticelulares, os quais estão preservados no registro fóssil do ~;pO isotópico: adicionando
'~rozóico tardio. tas à escala do tempo geológico
Fanerozóico O mais recente e mais bem estudado éon,
A escala do tempo geológico, baseada em estudo da estratigra-
~ abrange os últimos 543 milhões de anos, é o Fanerozóico fia e dos fósseis, é uma escala relativa. Com ela, o geólogos
_ ego phanerós, "visível", e zoikós, "vida"). Muitas forma- podem dizer se uma formação é mais antiga que outra. mas não
--= rochosas desse éon contêm abundantes conchas e outros
determinar precisamente quando uma rocha se formou. É como
is, como ossos de vertebrados. Com raras exceções, as re- saber que a Primeira Guerra Mundial precedeu a Segunda. mas
de petróleo e gás formaram-se durante esse tempo da não definir com exatidão os anos específicos em que tai on-
'ria da Terra. O Fanerozóico é subdividido em três eras:
flitos iniciaram e terminaram. Os geólogos do século XIX po-
:::"<1 Paleozóica ("vida antiga"): de 543 milhões a 251 milhões diam estimar somente um vago tempo de milhões de ano para
os atrás que uma certa associação de fósseis mudasse para outra. Embo-
ra tivessem estimado os tempos de vários processos geológicos,
'::"ã Mesozóica ("vida intermediária"): de 251 milhões a 65 como, por exemplo, da deposição de sedimentos no fundo de
;;...1ÕeS de anos atrás lagos ou da erosão de um vale fluvial, eles não podiam imagi-
nar uma maneira de medir a duração exata dos mesmos.
'::"<1 Cenozóica ("vida recente"): de 65 milhões de anos atrás
Alguns físicos do século XIX estimaram a idade da Terra e
= presente do sistema solar a partir de princípios astronômicos e físico e
calcularam como sendo de muitos milhões de anos. Mas o cál-
As eras são subdivididas em períodos, a maioria deles de-
culo dessas estimativas estava baseado em princípios físicos da
_. ados de acordo com o nome da localidade geográfica on-
época (alguns dos quais estão hoje ultrapassados) e variavam
o - formações estão mais bem expostas ou onde foram des-
enormemente, desde 25 milhões até 75 milhões de anos. Então,
.- pela primeira vez ou, ainda, por alguma característica dis-
em 1896, um avanço na física moderna pavimentou uma ma-
-a das formações. O Período Jurássico, por exemplo, é de-
neira confiável e precisa de medição do tempo geológico em
cinado devido às Montanhas Jura, na França e na Suíça, e o
anos. Henri Becquerel, um físico francês, descobriu a radioati-
-000 Carbonífero, por causa das rochas sedimentares porta- vidade do urânio. Menos de um ano depois, a química francesa
:!S de carvão da Europa e da América do Norte.
Marie Sldodowska-Curie descobriu e isolou um outro elemen-
a- períodos são, por sua vez, subdivididos em épocas; sen- to altamente radioativo, o rádio.
~ mais bem conhecidas geologicamente aquelas do Período
Em 1905, o físico Ernest Rutherford sugeriu que a radioati-
- o-ário, como a Época Pliocena (abrangendo o intervalo de 6
vidade poderia ser usada para medir a idade exata de uma ro-
-res a 1,8 milhão de anos atrás). Na Reportagem 10.1, a es-
cha. Ele foi capaz de dizer a idade em anos de um mineral de
do tempo geológico é utilizada para interpretar um dos
urânio a partir de medições feitas em seu laboratório. Poucos
- famosos afloramentos do mundo, o Grand Canyon.
anos depois, as idades de muitas outras rochas foram determi-
_':"0 elaborarem essa escala do tempo geológico, os geólogos
nadas, enquanto os métodos de datação iam sendo refinados e
=rnm de mudar seu modo de pensar a Terra. James Hutton, mais elementos radioativos eram descobertos. Esse foi o início
'-~cido como o pai da Geologia moderna, e Charles Lyell, da datação isotópica, que consiste em usar elementos radioati-
- , de um dos primeiros e mais influentes manuais de Geolo- vos naturais para determinar as idades das rochas. Quando Ru-
Princípios de Geologia,? o primeiro volume publicado em therford anunciou os resultados de sua primeira medição, ficou
-= ,levaram os geólogos a entender que o planeta não foi claro que a idade da Terra era de bilhões de anos e que o inter-
:.elado por uma série de eventos catastróficos ocorridos em valo do Éon Fanerozóico sozinho abrangia um pouco mais de
poucos milhares de anos, como muitas pessoas de então meio bilhão de anos.
::ditavam. Pelo contrário, a Terra era o produto de processos
-, gicos ordinários operando uniformemente durante um in-
o de tempo muito maior. Como observado no Capítulo 4, Átomos radioativos: os relógios das rochas
- - n foi um dos primeiros a compreender a natureza cíclica Como os geólogos utilizam a radioatividade para determinar
udanças geológicas: o ciclo das rochas, em que ocorre a idade de uma rocha? O que os pioneiros da física nuclear
'-0, intemperismo, sedimentação, soterramento, atividade descobriram foi que os átomos de urânio, rádio e muitos ou-
"'""e tectônica e soerguimento de montanhas. tros elementos radioativos são instáveis. O núcleo de um áto-
-;:-ambéminerente ao pensamento de Hutton e Lyell foi o mo radioativo desintegra-se espontaneamente, formando um
:-ípio do uniformitarismo - o qual, você deve estar lembra- átomo de um elemento diferente e emitindo radia,ão, uma
~ Capítulo 1, postula que os processos que observamos forma de energia. Chamamos o átomo original de pai e o pro-
-~lando a Terra atualmente são os mesmos que operaram duto do seu decaimento é conhecido como filho. O isótopo-
--::::;.re toda a história do planeta. Embora diferentes tipos de pai rubídio-87, por exemplo, forma um i ótopo-filho estável,
entos possam ter sido depositados em diferentes taxas e o estrôncio-87, por meio do decaimento radioatiyo. Um nêu-
5:ferentes lugares durante a história da Terra, podemos es- tron no núcleo de um átomo de rubídio-87 desintegra-se, eje-
.:?Zoavelmente certos de que os processos deposicionais que tando um elétron do núcleo e produzindo um novo próton. O
lllaram sedimentos há milhões e bilhões de anos operaram átomo anterior de rubídio, que tinha 37 prótons, torna-se, as-
=_ ma maneira como fazem hoje. sim, um átomo de estrôncio, com 38 prótons (Figura 10.13).
260
-=-=-=-.J
Para Entender a Terra

10.1 A seqüência do Grand Canyon e a sa seqüência, sendo que os estratos das rochas materializ,,-
realmente menos de 40'7'0 do Paleozóico.
correlação regional de estratos
O próximo pacote de estratos, em direção ao topo da [X-
rede do cãnion, é o Grupo Supai (Pensilvaniano e Permiano
AsPlanalto
rochas do Colorado
do Grand Canyon
(EUA)e têm
de outras
muito partes da região
para contar. do
Elas re- que reúne formações que contêm fósseis de vegetação terres-
gistram uma longa história de sedimentação numa variedade tre, como aqueles encontrados em camadas de carvão r.-
de ambientes, algumas vezes continentais e, outras, marinhos.
América do Norte e em outros continentes. Sobrepondo-se 2=
Diversas desconformidades marcam os intervalos de erosão.
Grupo Supai, está o Hermit, um folhelho arenítico vermelho.
Essas rochas contêm uma sucessão de fósseis, os quais reve-
Continuando em direção ao topo, encontramos outro dE- .
lam a evolução de novos organismos e a extinção de outros,
pósito continental, o Arenito Coconino, o qual contém rastf1 =
mais antigos. A partir da correlação das seqüências de rochas
de animais vertebrados. Os rastros desses animais sugerer-
expostas em diferentes lugares, os geólogos podem recons-
que o Coconino foi formado em um ambiente terrestre dura -
truir uma história geológica abrangendo um intervalo de mais
de 1 bilhão de anos. te o Período Permiano. No topo dos penhascos na borda 0-
cãnion, estão mais duas formações de idade permiana: a Tora-
As rochas expostas mais basais e, portanto, as mais antigas
weap, constituída predominantemente de calcá rio, sobrepos-
do Grand Canyon são as rochas ígneas e metamórficas escuras
ta pela Kaibab, uma camada maciça de calcá rio arenoso co
do Grupo Vishnu, com idade de cerca de 1,6 bilhão de anos,
tendo sílex. Essas duas formações registram a subsidência "
de acordo com técnicas de datação isotópica.
região sob o nível do mar e a deposição de sedimentos mari-
Sobrepostas ao Grupo Vishnu, e mais novas, portanto, es-
nhos.
tão as Camadas Grand Canyon, do Pré-Cambriano Superior.
A sucessão de estratos no Grand Canyon, embora pitores-
Essas camadas contêm fósseis de microrganismos unicelulares
ca e instrutiva, representa uma imagem incompleta da histórÉ
de tamanho milimétrico. Uma não-conformidade separa as ca-
madas do Grupo Vishnu e as do Grand Canyon, representan- da Terra. Períodos mais novos do tempo geológico não estãc
do um período de deformação estrutural que acompanhou o preservados e devemos nos deslocar para lugares em Uta
metamorfismo desse grupo e, depois, de erosão, antes da de- nos parques nacionais dos cânions Zion e Bryce, para comple-
tar os últimos eventos dessa história. Em Zion, encontramos as
posição das camadas mais novas. A inclinação das Camadas
Grand Canyon, formando um ângulo em relação à posição ho- unidades equivalentes de Kaibab e Moenkopi, que nos permi-
rizontal de quando foram geradas, mostra que elas também fo- tem estabelecer uma correlação com a região do Grand Can-
ram dobradas depois da deposição e do soterramento. yon e encadear a história dessas regiões. Diferentemente de:
Uma discordância angular separa as Camadas Grand Can- área do Grand Canyon, entretanto, as rochas em Zion esten-
yon das camadas horizontais sobrepostas do Arenito Tapeats. dem-se, em direção ao topo, até o tempo jurássico, incluindo
Essa discordância indica um longo período de erosão depois dunas arenosas antigas representadas pelos arenitos da For-
do basculamento das rochas inferiores. O Arenito Tapeats e o mação Navajo. Se nos deslocarmos um pouco mais ainda, ve-
Folhelho Bright Angel podem ser datados como do Cambria- remos que essa formação ocorre também no Cânion Bryce.
no pelos seus fósseis, muitos dos quais são de trilobitas. mas, nesse lugar, os estratos empilham-se em direção ao topo
Sobreposto ao Folhelho Bright Angel está um grupo de até a Formação Wasatch, de idade terciária.
formações horizontais de calcário e folhelho (Calcário Muav, A correlação dos estratos dessas três áreas do Planalto do
Calcário Temple Butte e Calcário Redwall) que representam Colorado mostra como as seqüências de lugares bastante se-
cerca de 200 milhões de anos, desde o final do Período Cam- parados - cada qual com um registro incompleto do tempo
briano até o final do Período Mississippiano. Existe um lapso geológico - podem ser empilhadas para construir um registro
de tempo muito longo representado pelas discordâncias des- composto da história da Terra.

Secção estratigráfica generalizada das unidades rochosas das se-


qüências do Grand Canyon, do Cânion Zion e do Cânion Bryce.
[John Wang/Photo Disc/Getty Images; David Muench/Corbis; e Tim
Davis/Photo Researchers, respectivamente)
iI
CAPíTULO 10. Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1261
I

Parque Nacional do Grand Canyon Parque Nacional Zion

Terciário

Fm Kaiparowits

ArWahweap
Cretáceo
Ar Straight Cliffs

Folhelho Tropic

Ar Dakota

Fm Winsor

jurássico ArCurtis
Ar Entrada

Fm Carmel

Ar Navajo ~

Rochas mais antigas não·expostas


Fm = Formação
Ar Arenito
riássico
Cc = Calcá rio

Cc Kaibab

Cãnion Bryce '"

30 km
262 Para Entender a Terra

Núcleo do Rubídio-87 Núcleo do Estrôncio-87 átomos de rubídio-87 e estrôncio-87 de uma amostra de


como sendo de 19: 1. Utilizando a taxa conhecida de decairr.=:
Prótons
to do rubídio para o estrôncio, podemos, então, calcular --=-
bilhões de anos se passaram desde que o rubídio da n -
amostra começou a se desintegrar.
Para os geólogos, essa é a idade da rocha - ou, mais e.
mente, o tempo desde que o rubídio foi, pela primeira vez, _
sionado num mineral recém-formado de uma rocha. O rubíd:;,
• Elétron o estrâncio, assim como outros elementos, são incorpo -
num mineral quando ele se cristaliza a partir de um magID2.
Um nêutron do átomo de recristaliza durante o metamorfismo. Durante a cristaliza, --
... e produzindo um próton,
rubídio-87 desintegra-se, e o átomo muda para
razão entre rubídio e estrôncio é homogeneizada, o que d~
ejetando um elétron ... estrôncio-87. zerado o relógio radioativo. Dentro do mineral recém-foI1llê..l
o decaimento radioativo do rubídio-87 continua e novos átoc.
de estrôncio começam a se acumular, o que vai mudando a
Figura 10.13 O decaimento radioativo do rubídio para
inicial. Esses átomos de estrôncio não podem escapar, a não
estrôncio.
que uma nova recristalização aconteça. Assim, o rubídio-..,-
outros isótopos radioativos em rochas ígneas fornecem uma ~
neira de determinar quando um magma foi intrudido e resm
(Recorde do Capítulo 3 que um núcleo atômico consiste em Os isótopos radioativos em rochas metamórficas nos p<K
prótons e nêutrons e que um isótopo de um dado elemento con- bilitam medir o tempo transcorrido desde que elas foram m~_
tém o mesmo número de prótons, mas diferente número de morfizadas. O decaimento do rubídio não é utilizado para d2.::..
nêutrons.) rochas sedimentares, porque os minerais em sedimentos cl'
Quando uma dada quantidade de uma substância radioativa cos são geralmente derivados de rochas preexistentes mai
desintegra-se, ou decai, os isótopos-pais vão se alterando ao tigas. Minerais precipitados por processos químicos e bi _
acaso, e não de uma só uma vez. Assim, uma dada massa de micos em sedimentos, tais como carbonatos, geralmente
átomos-pais radioativos vai constantemente se desintegrando têm muito pouco rubídio recém-precipitado para permitir
para formar átomos-filhos. A razão pela qual o decaimento ra- lises isotópicas precisas. Às vezes, entretanto, o carbono _
dioativo oferece um método seguro de contar o tempo reside no água do mar é incorporado em quantidade suficiente nas roc~
fato de que a probabilidade de desintegração é um número de- sedimentares na época da deposição, permitindo que se de-~
terminado. A taxa de desintegração não varia com as mudanças mine a idade geológica da mesma.
de temperatura, pressão ou químicas que tipicamente acompa- Os geólogos utilizam um certo número de elemento "
nham os processos geológicos na Terra ou em outros planetas. ocorrem na natureza para determinar a idade das rochas ( _
Assim, quando os átomos de um isótopo radioativo são criados dro 10.1). Cada elemento radioativo tem sua própria taxa de .
em qualquer lugar do universo, eles começam a atuar como as caimento. Aqueles que decaem lentamente durante bilhõe::
batidas de um relógio, alterando-se de forma estável de um tipo anos, como o rubídio-87, são utilizados para medir a idade -
de átomo para outro numa taxa constante. rochas antigas. Elementos radioativos que decaem rapidam~
As taxas de decaimento radioativo são comumente estabe- te durante apenas poucas dezenas de milhares de anos, com
lecidas em termos da meia-vida de um elemento - o tempo re-
querido para que a metade do número inicial de átomos desin-
tegre-se (Figura 10.14). As meias-vidas de elementos com
aplicação na Geologia variam desde milhares até bilhões de
anos. No final do período da primeira meia-vida de um isótopo
radioativo, após a sua incorporação a um novo mineral, a meta-
de do número de átomos-pais ainda permanece. No final do pe-
ríodo da segunda meia-vida, a metade daquela metade, ou um
quarto do número original, ainda resta. No final da terceira
meia-vida, um oitavo ainda resta e assim sucessivamente.
Se conhecermos a taxa de decaimento e pudermos contar o
número de átomos-filhos recém-formados, bem como o de áto-
mos-pais que restaram, então podemos calcular o tempo que
transcorreu desde que o relógio radioativo começou a bater.
Com efeito, podemos voltar atrás no tempo quando não havia
isótopos-filhos, somente aqueles do elemento-pai ainda não de-
sintegrado. Tempo, em meias-vidas
Os geólogos medem a razão entre isótopos-pais e isótopos-
filhos com um espectrômetro de massa, um instrumento muito Figura 10.14 O número de átomos radioativos em qualquer
preciso e sensível que pode detectar até quantidades ínfimas de mineral declina numa taxa precisa ao longo do tempo. Essa taXê
isótopos. Suponha que tenhamos determinado a razão entre de decaimento é estabelecida como uma série de meias-vidas.
CAPíTULO 10. Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1263

Prihcipai{~íe~~nt~~ radioativos ~tií;~acÍ~s'~a dat~ção radiométricá" ~


Isótopo Meia-vida Intervalo de
do isótopo- datação efetiva Minerais e materiais
Pai Filho pai (anos) (anos) que podem ser datados

":-Iânio-238 Chumbo-206 4,5 bilhões 10 milhões-4,6 bilhões Zircão

Apatita
":-:âni0-235 Chumbo-207 0,7 bilhão 10 milhões-4,6 bilhões Zircão

Apatita
-= _.' ssio-40 Argânio-40 1,3 bilhão 50 mil-4,6 bilhões Muscovita
Biotita
Hornblenda
. ídio-87 Estrâncio-87 47 bilhões 10 milhões-4,6 bilhões Muscovita
Biotita
Feldspato potássico
-.:::ct>ono-14 Nitrogênio-14 5.730 100-70 mil Madeira, carvão vegetal, turfa
Ossos e tecidos
Carbonato de cálcio de conchas e outros
Água subterrânea, água do mar e
gelo de geleira contendo dióxido de
carbono dissolvido

no-14, são úteis para determinar as idades de rochas mui- vegetal morre, ele pára de absorver dióxido de carbono, e ne-
·as. A datação isotópica é possível somente se uma quan- nhum carbono novo de qualquer tipo é, então, adicionado ao te-
.:~ mensurável de átomos-pais e filhos permanecer na ro- cido. Nesse momento, a quantidade de carbono-14 em relação
?or exemplo, se a rocha é muito antiga e a taxa de decai- aos isótopos estáveis de carbono é idêntica àquela da atmosfe-
o muito rápida, quase todos os átomos-pais já foram trans- ra. Entretanto, a quantidade de carbono-14 no tecido morto, que
_dos. Nesse caso, podelÍamos concluir que a pilha do reló- é incorporada como material orgânico fóssil num sedimento,
>utópico acabou, mas não saberíamos dizer há quanto tem- decresce estavelmente à medida que os átomos radioativos se
- ~ parou. desintegram. Os átomos-filhos de nitrogênio-14 são gasosos e,
assim, abandonam o sedimento, de modo que não podemos
ono- 14: cronometrando atividades medi·los com exatidão. Contudo, podemos comparar a quanti-
dade de carbono-14 deixada no material vegetal com a quanti-
_-entes"
dade inicial que estava em equilíbrio com a atmosfera, a qual é
::'X)ll0-14,que decai para o nitrogênio-14, tem uma meia-vi- considerada como sendo aproximadamente constante para o
-c -.730 anos. Numa rocha de 30 mil anos, por exemplo, período de tempo relativamente curto que está sendo medido .
.'::'e cinco meias-vidas se passaram e somente um pouco me- Essa comparação fornece o tempo que tran correu de de que o
__e 1/32 da quantidade inicial de carbono-14 ainda perma- vegetal morreu.
~ Quando 70 mil anos tiverem se passado, muito pouco car-
-:4 terá permanecido para permitir uma contagem precisa.
"::-0. o método do carbono-14 é mais adequado para medir Os limites e usos da datação isotópica
-- do passado geológico relativamente recente. A datação isotópica não pode fornecer uma leitura preci a para
:=:.:.:: método é especialmente importante para datar ossos qualquer rocha que um geólogo amo trar. Se uma rocha con-
-. onchas, madeira e outros materiais orgânicos em sedi- tendo urânio ti\"er perdido um pou o de seu chumbo pelo in-
- muito novos, porque todos esses materiais contêm car- temperismo, por exemplo. podemo obter erroneamente uma
TIl luindo uma pequena quantidade de carbono-14. O car- idade mais no\"a. Ou se uma rocha ígnea foi metamorfizada, os
'i um elemento essencial nas células vivas de todos os or- isótopos-filhos que se acumularam desde a cristalização do
s. Por exemplo, quando os vegetais verdes crescem, magma podem ter sido perdidos, reajustando o relógio para o
_ ntinuamente incorporam em seus tecidos uma pequena tempo do metamorfismo em vez do tempo de formação inicial.
:!ade de carbono-14, junto com isótopos estáveis de car- Além desses fatores, a exatidão e a precisão da datação isotópi-
_ partir do dióxido de carbono da atmosfera. Quando um ca dependem de medidas acuradas de, geralmente, quantidades
2641 Para Entender a Terra

Ínfimas de átomos-filhos encontrados nas rochas. As técnicas dimentares seccionadas pela intrusão devem ser mais an -.
atuais avançaram de modo a possibilitar que o chumbo de um que essa idade. E se essas mesmas camadas estiverem so::r
único cristal de zircão possa ser usado para datar uma rocha. De postas a rochas metamórficas datadas radiometricamente -;:-
fato, a exatidão tem melhorado muito nos últimos anos, de sor- 500 milhões de anos, então saberemos que as camadas _~
te que as rochas paleozóicas e pré-cambrianas podem ser data- mentares foram formadas entre 500 a 550 milhões de
das com um erro não superior a algumas centenas de milhares atrás. Se, além disso, essas rochas sedimentares contiy
de anos - uma melhora significativa quando comparada com os fósseis indicando idades estratigráficas do Cambriano ou O:::
erros de mais de 50 milhões de anos praticados há poucas déca- viciano tardio, saberemos as idades absolutas de partes d -
das atrás. períodos geológicos. A partir desse tipo de controle de ida:.i::-
Um dos limites da escala do tempo geológico que teve uma os geólogos ajustam toda a escala do tempo geológico. De".
grande mudança graças ao aumento da exatidão das datações de quase um século de datações isotópicas e trabalhos c
isotópicas e à obtenção de novas amostras de territórios ante- nuados na estratigrafia do mundo inteiro, essa escala do te
riormente inexplorados é aquele entre o Período Cambriano e encontra-se consolidada nos seus aspectos principais.
o tempo Pré-Cambriano (que reúne os éons Arqueano e Prote-
rozóico). Nos últimos anos, esse limite tem mudado inúmeras
vezes, desde a idade inicial de 570 milhões de anos até a idade Estimando as taxas de processos geológicos
atual, que tem um valor muito mais acurado, de 543 milhões muito lentos
de anos. Essa idade é particularmente importante porque está Agora que já temos o controle dos métodos para a dataçãc
relacionada com um dos mais significativos desenvolvimentos rochas, veremos o que a escala do tempo pode nos dizer
da evolução de organismos multicelulares. as taxas de alguns processos geológicos muito lentos. Co --
A escala do tempo geológico tem muitos usos, além de ser re a abertura de um oceano, onde as placas do assoalho se a.:::..
valiosa para os geólogos. Os antropólogos que reconstroem os tem uma da outra a partir da dorsal mesoceânica. O Oc
passos da evolução humana e os arqueólogos que datam os vá- Atlântico Sul tem uma largura de mais de 5 mil km ene:
rios assentamentos humanos utilizam os intervalos mais recen- América do Sul e a África, sendo essa distância a medida da -
tes da escala do tempo, abrangendo os últimos 5 a 10 milhões paração dos dois continentes. Nos bordos desses dois con .
de anos. Os sismólogos que estudam as regiões propensas à tes encontraremos as porções mais antigas desse assoalho, 1-
ocorrência de terremotos utilizam a escala do tempo e a estrati- se formaram no princípio da expansão. A partir dos fósseis.
grafia do passado recente para mapear os movimentos das fa- bemos que esses sedimentos são de, aproximadamente, 100-
lhas que originam as ondas sísmicas. lhões de anos (que é a idade do Cretáceo Médio). Desse m -
a velocidade média de expansão dessa região do assoalho
Outros relógios geológicos nico é de 5 mil km a cada 100 milhões de anos, ou cerca -~
em/ano. Em outras regiões dos oceanos, as velocidades de _
o tempo é tão fundamental no estudo da Tena que os geólogos pansão podem ser mais baixas, de 2 a 4 em/ano (Dorsa:.
continuam a procurar maneiras adicionais de medir o tempo
Atlântico), ou mais altas, chegando até 10 a 17 cm/ano (D
geológico. A estratigrafia paleomagnética, por exemplo, está do Pacífico Oriental).
obtendo um notável desenvolvimento como auxiliar na datação
Esse tipo de cálculo genérico fornece uma surpreende::
isotópica. Como abordamos no Capítulo 2, a reversão do cam-
estimativa da velocidade de expansão do assoalho oceâni:
po magnético terrestre ocorre aproximadamente a cada meio
Ele foi testado em 1987, quando os cientistas, pela prim~
milhão de anos. Essas reversões periódicas estão registradas na
vez, foram capazes de medir a velocidade de expansão dirc_
orientação de minerais magnéticos nas rochas, especialmente
mente no assoalho do Atlântico, utilizando tecnologia de r ..
aqueles do assoalho oceânico. A escala do tempo magnético foi
ção laser de longo alcance e satélites. Os resultados concore::
calibrada tanto pelas determinações das idades radioativas co-
com as velocidades de expansão que os geólogos marinhos
mo pelas idades estratigráficas de formações fossilíferas sobre
cularam a partir da idade e da posição do assoalho oceânico_
e sotopostas.
Os métodos de datação descritos neste capítulo tam
nos ajudam a entender outros processos lentos, um deles re-
cionado aos habitantes da Califórnia (EUA): o movimento
blocos crus tais ao longo da Falha de Santo André e de ou
falhas próximas, que têm sido responsáveis pelos princip
~ões
~inhas confiáveis:
de evidências
utilizando terremotos da região. A Figura 10.15 mostra como a Placa ~_
cífica desliza em relação à Placa Norte-Americana ao longo
Quando os geólogos determinaram as idades isotópicas e corre- um limite transformante. Uma maneira de determinar a vel
lacionaram-nas aos seus estudos paleontológicos e estratigráfi- dade desse movimento é medindo as distâncias das contra _
cos anteriores, puderam acrescentar essas idades absolutas à es- tes das distintas formações geológicas de várias idades que -:
cala do tempo geológico (ver Figura 10.11). Com essas três ram separadas pelas falhas da borda da placa. Dividindo-~~ _
fontes de informação, puderam então deduzir as idades aproxi- distância que agora separa essas formações pelo tempo d
madas das formações rochosas, mesmo daquelas que não con- rido desde que se formaram e se separaram, teremos a velO'.
tinham material favorável às análises radiométricas. Por exem- dade do movimento. As velocidades de expansão do asso -
plo, se soubermos, a partir da datação isotópica, que uma intru- oceânico e as medidas de satélites fornecem outras estimatÍ' _
são ígnea ocorreu há 500 milhões de anos, então as camadas se- de deslocamentos ao longo das bordas das placas. Utiliz~
CAPíTULO 10. Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1265

que está na Placa Norte-Americana, dentro de, aproximada-


mente, 10 milhões de anos.
Podemos medir as taxas de movimentos verticais pela data-
ção de depósitos marinhos que se encontram agora acima do ní- ,
vel do mar. Parte da Cordilheira dos Alpes, por exemplo. con-
tém fósseis marinhos cuja idade de cerca de 1- milhões de anos Ii
é conhecida por nós. Esses fósseis, agora ele"ados para a altitu-
de de 3 mil metros, foram originalmente depositados próximos
ao nível do mar, no assoalho de um oceano raso. As rochas e-
dimentares contendo os fósseis devem ter sido soerguidas numa
média aproximada de 2 mm/década, embora as ta\.as po am
ter sido mais altas ou mais baixas por curtos inter"alo de tem-
po ou em diferentes partes da cordilheira.
Um último exemplo que utilizaremos aqui será o da era ão.
Processos erosivos estão continuamente desnudando a uperfí-
cie dos terrenos. Esses processos são tão lentos que duas foto-
grafias de um vale fluvial obtidas num intervalo de 96 ano
mostram pouca diferença (Figura 10.16). Podemos e rimar as
taxas de erosão pela adição de todos os produtos desintegrado
ou dissolvidos pela erosão que os rios ou o vento carregaram de
uma região. Para o continente norte-americano, essa ta"a tem
sido estimada como sendo de 3 mm/século. Nesse riono. e-
riam necessários 100 milhões de anos para aplainar uma mon-
tanha de 3 mil metros de altura até o nível do mar. I~ •••

_ ra 10.15 O movimento relativo de cerca de 5 em/ano Assim, nesses exemplos específicos, são necessários cerca
~" as placas Norte-Americana e Pacífica pode ser calculado de 100 milhões de anos para um oceano abrir, 15 milhõe de
pela separação das formações geológicas que deslizam ao anos para soerguer uma cordilheira e 100 milhões de ano- para
50 da falha como por medidas de satélite ou pelas depois, erodi-la. Como veremos mais adiante, entretanto. - e
-cidades de expansão do assoa lho oceãnico. intervalos de tempo são relativamente curtos quando compara-
dos com toda a história do planeta. Durante essa história a Ter-
ra sofreu muitos ciclos de soerguimento de montanhas e ero--o.

'-
:'
- observações, podemos estimar que o deslocamento mé-
rante os últimos milhões de anos foi de aproximadamen-
: _ 6 em/ano. Se essa taxa persistir, Los Angeles, que se lo-
Uma visão geral do tempo geológico "

'-.
~.
\""
.
...

Podemos, agora, combinar a escala do tempo geológico om '..


na Placa Pacífica, estará lado a lado de San Francisco, idades absolutas obtidas a partir da análise do de aimenro ra-
dioativo e da evolução dos organismos, para con truir uma li-

1968
71

ra 10.16 As duas fotografias do Meandro de Bowknot, no Rio Green, no Estado de


_- ~UA), foram tomadas num intervalo de quase 100 anos e mostram que pouco
:: na configuração destas rochas e formações no transcurso desse tempo.
2661 Para Entender a Terra

Fita do tempo da Terra (ver Figura 1.12)


Acrescimento da Terra

2S00

SOO

o desabrochar da vida - o
"Big Bang" evolutivo - com-
preende apenas cerca de um
décimo da história da Terra.

'J
I
,~

figura 10.17 Linha do tempo geológico da história da Terra. Abreviaturas: Ma (Mega


annu), milhões de anos; Ga (Giga annu), bilhões de anos.
CAPíTULO 10. Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1267

- do tempo de toda a história da Terra, iniciando desde 4,6 lhos a uma taxa constante. Quando o elementos radioativos
ões de anos atrás (ver as páginas de abertura deste livro). A são aprisionados dentro de um mineral durante a formação da
:gura 10.17 mostra toda a extensão do tempo geológico na rocha, o número de isótopos-filhos aumenta. enquanto o de isó-
a de um caminho espiralado, onde cada volta da espiral re- topos-pais diminui. Ao medir-se a quantidade de pai e filhos,
_-enta 1 bilhão de anos. A partir dessa ilustração, podemos podemos calcular a idade absoluta.
-servar o quão pequeno é o Éon Fanerozóico em relação à his-
- da Terra, bem como o diminuto intervalo de tempo que Por que a escala do tempo geológico é importante para os
correu desde o início da evolução humana. geólogos? A escala do tempo geológico permite ao geólogo
reconstruir a cronologia dos eventos que moldaram o planeta. A
Outra maneira de compreender esse período de tempo ex-
escala do tempo tem sido utilizada na validação e e rodo da tec-
rdinariamente vasto é pensar a idade da Terra como sendo
tônica de placas e na estimativa de taxas de pro essos muito len-
G'êSpondente ao calendário de um ano. No dia primeiro de ja-
tos para serem monitorados diretamente, tais como a aberrura de
, a Terra foi formada. Durante o mês de janeiro e parte do um oceano durante milhões e centenas de milhões de ano . O
::io de fevereiro, ela tornou-se estruturada em núcleo, manto
desenvolvimento da escala do tempo geológico reyelou que a
=osta. Próximo a 21 de fevereiro, a vida se desenvolveu. Du-
Terra é muito mais antiga do que os geólogos e outros ienti taS
e todo o outono, inverno e início da primavera, a Terra de-
pioneiros imaginavam e que ela sofreu contínuas mudan,as co-
'olveu os continentes e bacias oceânicas, às vezes, seme-
mo resultado de processos lentos operando ao longo de sua hi -
tes às atuais, e a tectônica de placas passou a operar. Em 25
tória. A criação da escala do tempo geológico, ao lado do de en-
- outubro, no início do Período Cambriano, os organismos
volvimento da Paleontologia e da teoria da evolução, é uma das
plexos, incluindo aqueles com conchas, chegaram. No dia mais revolucionárias e impressionantes idéias científicas.
- :e dezembro, os répteis evoluíram e, no Natal, os dinossauros
r:mJ.extintos. Os humanos modernos, Homo sapiens sapiens,
_ ceram em cena às 23h, na véspera do Ano Novo, e a últi-
idade do gelo terminou às 23h58min45s. Três centésimos
.:. gundo antes da meia-noite, Colombo aportou numa ilha I Conceitos e termos-chave
Índias Ocidentais. E poucos milésimos de segundos atrás,
cS nasceu. • datação isotópica (p. 259) • idade isotópica (p. 248)
• desconforITÚdade(p.253) • idade relativa (p. 248)
• discordância (p. 252) • meia-vida (p. 262)
• discordância angular (p. 253) • não-conformidade (p. 253)
ESUMO
• éon (p. 255) • Paleontologia (p. 251)
• época (p. 259) • período (p. 259)
o os geólogos sabem a idade de uma rocha e se ela é • era (p. 259) • princípio da horizontalidade
. antiga que outra? Os geólogos determinam a ordem de original (p. 249)
• escala do tempo geológico
ção das rochas ao estudar sua estratigrafia, fósseis e dis-
(p. 255) • princípio da superposição
-;;ão espacial no campo. Uma seqüência de rochas sedimen-
• estratificação (p. 249) (p.249)
_.:.não deformada será horizontal, com cada camada sendo
- nova que aquela que está sotoposta e mais antiga que a ca- • estratigrafia (p. 249) • relações de seccionamento
,: sobreposta. Além disso, como os animais e as plantas (p.254)
• estratigrafia de seqüências
firam progressivamente ao longo do tempo, seus fósseis • sucessãoestratigráfica(p. 2'+9)
(p.254)
_ illam as mudanças numa sucessão conhecida na seqüência
• formação (p. 252) • tempo geológico (p. 250)
sigráfica. Sabendo-se a sucessão faunística, torna-se mais
para os geólogos localizar camadas sedimentares erodidas,
:!TIdouma discordância. Mais importante ainda, os fósseis
Sloilitam a correlação de rochas localizadas em várias par-
20 mundo.
I Exercícios
o os geólogos criaram uma escala do tempo geológico
'vel em qualquer lugar do mundo? Utilizando-se os J1jl Este ícone
~ trônico que indica que há uma
pode ajudá-Ia na animaçc70
resposta. dispOllíl'e/ no sítio ele-
para correlacionar as rochas de mesma idade e reunindo
;..."i CONECTARW!II

.:<:qüênciasexpostas em centenas de milhares de afloramen-


::;}u.ndoafora, os geólogos compilaram uma seqüência estra-
-W 1. Liste os períodos geológicos, do mais no\'o ao mai antigo.
:!.:.5.a aplicável em qualquer região da Terra. A seqüência 2. Especifique as idades absolutas do início das eras Paleozóica, Me-
_ sta representa a escala do tempo geológico. O uso da da- sozóica e Cenozóica.
-Cl isotópica permitiu aos cientistas atribuírem idades abso-
- para as unidades da escala do tempo. A datação isotópica 3. Em qual elemento resulta a desintegração raruoati\'ado rubídio-87?
~-.eada no comportamento dos elementos radioativos, quan- 4. Em qual intervalo de idades pode ser datado um edimento pelo
- átomos-pais instáveis são transformados em isótopos-fi- carbono-l 4?
2681 Para Entender a Terra

5. Quais são os eventos geológicos que estão implicados numa discor·


dância angular? Roteiro de pesquisa:
6. O que é o princípio da superposição? investigue com seus colegas
~ 7. O que é o princípio da horizontalidade original?
Tempo geológico
8. Em que a discordância angular difere da desconformidade? E da
não-conformidade? Iohn McPhee, um conhecido divulgador da Geologia, populariz.e
9. Qual a propriedade dos fósseis que os geólogos utilizam para datar calendário anual comparado com o tempo geológico de modo _ -
as formações nas quais são encontrados? presentar esse último em termos humanos. Neste roteiro de pes..:
sa, você e seus colegas irão criar sua própria metáfora para o re=
10. Como a determinação das idades das rochas ígneas ajuda a datar
geológico.
os fósseis?
A metáfora do calendário anual vincula uma conversão dire'
tre os diversos intervalos de tempo. Vocês podem comparar o
geológico com outra escala de tempo, como o período de uma vidz -
Questões para pensar mana, ou outras medidas, como distância, volume ou peso. Uma ~
táfora pessoal, como a comparação do tempo geológico com a dis
cia entre suas casas, é facilmente memorizada.
Este ícone indica que há uma animação disponível no sítio Sua metáfora poderia incluir os seguintes eventos: origem da-_
CONECTARID
eletrônico que pode ajudá-Io na resposta. ra; rochas mais antigas; surgimento da vida no planeta; transição-
uma atmosfera com oxigênio; origem da vida multicelular; prim~'
W 1. Quando você passa por uma escavação numa rua, observa vegetais terrestres; primeiros animais terrestres; aparecimento e
uma secção que mostra, no topo, o pavimento dela, em seguida o solo ção dos dinossauros; primeiros hominídeos; primeiros humanos
e, na base, a rocha. Você também observa que um cano de água verti· tomicamente modernos; três eventos da história humana de sua .
cal estende·se desde um bueiro da rua até o cano de esgoto enterrado lha; suas datas de nascimento.
no solo. O que você pode dizer sobre as idades relativas das várias ca· Vocês precisam saber as datas dos eventos e deverão calcu'
madas e do cano de água? percentagem do tempo geológico entre eles. Por exemplo, se a Ter;::
2. Como você seria capaz de verificar as idades relativas de vários de· formou há 4,6 bilhões de anos e as rochas mais antigas há 3,8 b' -
pósitos de cinza vulcânica expostos num afloramento? de anos, vocês podem calcular que 0,8 bilhão de anos, ou ce
3. Que evidência você forneceria a um amigo para sustentar a idéia de 17% do tempo geológico, transcorreu entre um evento e outro: -.'
que uma formação particular originou-se há vários milhões de anos? 3,8 = 0,8; 0,8/4,6 = 0,17. Calculem as diferenças percentuais en =
outros eventos geológicos e estabeleçam a escala de sua merá:
4. Construa um diagrama similar ao da Figura panorâmica 10.11 para
apropriadamente.
mostrar a seguinte série de eventos geológicos: (a) sedimentação de
Apresentem seu projeto de equipe em uma ilustração visual. C
uma formação de calcário; (b) soerguimento e dobramento do calcá-
metáfora que faça uma equivalência dos intervalos de tempo em ~
rio; (c) erosão do terreno dobrado; (d) subsidência do terreno e sedi·
mos de distâncias, por exemplo, pode ser representada por um l'IlÇ;-
mentação de uma formação de arenito.
sinalizadores ao longo da estrada. Escrevam uma descrição de .
S. Muitas camadas de lama de grão fino foram depositadas numa taxa páginas, incluindo a razão da escolha de sua metáfora e como inter;r:
I
aproximada de cm a cada mil anos. Nessa taxa, quanto tempo leva· tar comparativamente as escalas de tempo.
ria para acumular uma seqüência de meio quilômetro de espessura?
6. Que elementos radioativos você poderia utilizar para datar xistos
de, aproximadamente, I bilhão de anos?
7. Que evento geológico é datado pelo decaimento radioativo de um Sugestões de leitura
mineral contido num xisto?
Berry, W. B. N. 1987. Growth of a Prehistoric Time Scale. L
8. Que evento geológico é datado pelo decaimento radioativo de um
mineral contido num basalto? Alto, Califomia: Blackwell Scientific.
Faure, G. 1986. Principies of Isotopic Geology, 2nd ed. New Y
9. Nomeie o evento geológico que pode ser datado tanto por métodos
Wiley.
estratigráficos como por datação isotópica.
Palmer, A. R. 1984. Deeade of North Ameriean Geologic r:.
10. Analisando a secção do Grand Canyon mostrada na Reportagem Scale. Map and Chart Series MC-50. Bou1der, Colorado: Geolo~
10.1, dê um exemplo de uma discordância angular, uma desconformi· Society of America.
dade e uma não-conformidade.
Simpson, G. G. 1983. Fossils. New York: Scientific Ameri
11. Você acha que seria possível utilizar a datação isotópica para de- Books.
terminar a idade de um basalto da Lua, o qual tem uma composição Stanley, S. M. 1999. Earth System History. New York: W. H. B-;:-
muito similar àquele encontrado na Tena? Que esquema de decaimen· mano
to radioativo você poderia utilizar? Winchester, S. 2002. The Map that Changed the World: Will-
12. Você gostaria de saber quando um vulcão inativo na América do Smith and the Birth of Modern Geology. New York: Perennial.
Sul esteve em atividade pela última vez. Que métodos você utilizaria
para determinar essa data?
II
I I

CAPíTULO 10. Registro das Rochas e Escala do Tempo Geológico 1269


II
II
Uyeda, S. 1996. Uma nova concepção da Terra: Lisboa: Gradiva.
ugestões de leitura em português Weiner,1. 1986. Planeta Terra. São Paulo: Martins Fontes.
Willie, P. J. 1995. A Terra: nova geologia global. Lisboa: Fundação
Allegre, C. 1992. Introdução a uma história natural: Do big bang Calouste Gulbenkian. I

.!esaparecimento do homem. Lisboa: Teorema. Winchester, S. 2004. O mapa que mudou o mundo. São Paulo: I,I
Carvalho, I. de S. (org.). 2004. Paleontologia. 2a. ed. Rio de Janei- Record. ~I
::merciência, 2004. 2 v.
"Jella-Fávera, J. C. 2001. Fundamentos de estratigrafia moderna .
.:teJaneiro: UERJ.
rairchild, T. R., Teixeira, W. e Babinski, M. 2000. Em busca do
I Notas de tradução
o do planeta: tempo geológico. In: Teixeira, w., Toledo, M. C.
~. Fairchild, T. R. e Taioli, F. (orgs.) 2000. Decifrando a Terra. São I o auge do Império Romano ocorreu no século II d.e. Já o processo
: Oficina de Textos. p. 305-326. civilizatório peruano iniciou-se há mais de 12 mil a.e. e originou
Gohau, G. 1987. História da Geologia. Lisboa: Europa-America. uma diversidade impressionante de culturas, culminando na incaica,
Aantesso-Neto, v., Bartoreli, A., Carneiro, e. D. R. e Brito-Neves, que se estendeu de 1440 a 1532, quando foi subjugada pelos espa-
::;_de. (orgs.). 2005. Geologia do continente sul-americano: evolu- nhóis.
:1nobra de Fernando Marques de Almeida. São Paulo: Beca. 2 Os topônimos deste mapa não foram traduzidos por se tratar de uma
_,IcAlester, A. L. 1971. História geológica da vida. São Paulo: Ed- reprodução de peça histórica.
31ücher.
3 Também chamada na literatura geológica brasileira de inconfonni-
_ fendes, J. e. 1979. Vida pré-histórica: evolução dos animais e ve- dade.
no Brasil no decorrer do tempo geológico. 2" ed. São Paulo: Me-
4 Jorge e. Della Fávera, um dos mais notáveis expoentes e pioneiro da
entos.
Estratigrafia de Seqüências no Brasil, chama essa nova visão de
_.fendes, J. e. 1988. Paleontologia básica. São Paulo: T. A. Queiroz.
"Estratigrafia Moderna", que começou a ser aplicada para as bacias
_.fendes,J. e. 1988. Elementos de estratigrafia. São Paulo: T. A.
sedimentares brasileiras com a criação do Curso de Pós-Graduação
z; Edusp. em Estratigrafia do Instituto de Geociências da UFRGS, em 1990.
Aenegat, R., Fernandes, L. A. D., Koester, E., Scherer e C. M. dos
5 Considera-se anterior ao Arqueano, porém sem registro crus tal na
. Porto Alegre antes do Homem: evolução geológica. In: Mene-
Terra, o Éon Hadeano (de Hades, deus grego do mundo subterrâneo,
:;{.. Porto, M. L., Carraro, e. e. e Fernandes, L. A. D. (coords.).
equivalente ao deus Plutão dos romanos), que vai desde o inicio do
_-\.tlasambiental de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da Uni-
acrescirnento planetário até os primeiros registros de rochas cIUstais
.; delUFRGS. p. 11-20.
(de 4,6 a 3,95 bilhões de anos).
::lerri, S. e Fúlfaro, V. 1. 1988. Geologia do Brasil. São Paulo: TA
z. 6 Pré-Cambriano é uma unidade geocronológica informal que reúne
todos os éons antes do Fanerozóico.
_ulJeiro, H. J. P. S. (org.). 2001. Estratigrafia de seqüências:funda-
7 O livro Principies of Geology, um dos mais importantes do mundo
5 e aplicações. São Leopoldo: Unisinos.
científico, ainda não foi traduzido para o português.
- gado-Labouriau, M. L. 1994. História ecológica da Terra. São
: Edgar B!ücher. 8 Pré-Cambriano é uma designação informal, não sendo uma era ou

'::--eouio,K. 1998. Dicionário de geologia sedimentar e áreas afins. éon, utilizada para se referir ao grande período de tempo que reúne
:e Janeiro: Bertrand Brasil. os éons Hadeano e Arqueano.
'::..guio, K. 2003. Geologia sedimentar. São Paulo: Edgard Blücher.
-=- atto, P. 2001. Orville A. Derby: o pai da Geologia do Brasil.
:e Janeiro: CPRMIDNPM.

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