Com base na leitura do texto, identifique se há um possível transtorno de aprendizagem.
Descreva as características e modos de intervenção relacionados ao referido transtorno. Situação 1: Uma mãe, residente em Florianópolis, diz ter uma filha de 8 anos que está na segunda série, mas que até o momento não consegue ler. Segundo a mãe, a criança só começou a falar, de uma forma que outras pessoas pudessem entender, depois dos 4 anos. Até o momento, conforme a mãe, a criança não consegue pronunciar o /r/ e tem dificuldades para pronunciar palavras com mais de três sílabas. Segundo a mãe, sua filha frequenta a educação infantil desde os dois anos e meio. Tem um irmão de 12 anos que não apresentou essas dificuldades, sempre teve acesso a um ambiente que privilegiou a leitura. Também desde os 3 anos a criança, no relato materno, tem atendimento fonoaudiológico e psicopedagógico. Não tem problemas auditivos, neurológicos ou visuais. Na escola que frequenta, embora a criança não tenha atingido os objetivos da primeira série, optou-se para que ela fosse para a segunda s érie porque se verificou avanço no seu aprendizado e pela questão afetiva, ou seja, um bom relacionamento com a turma. Num que houve exame realizado por fonoaudiólogos, disseram que ela tinha problemas no processamento auditivo central. A mãe diz ter um pouco de medo de rótulos, principalmente aqueles que estão na moda e atribuem tudo a dificuldade de aprendizagem, como estão "sugerindo e empurrando" Ritalina. Acredita a mãe que não seja dificuldade de aprendizagem, mas uma nova forma de aprender, mas ela, como mãe, não consegue enxergar como ajudá-la e as escolas, pelo visto, também não. Situação 2: A mãe diz ter notado que seu filho L., de 9 anos, atualmente cursando a 3ª série apresenta dificuldade de leitura e tende a trocar letras como "b e d" e se confunde com o som de sílabas como "se e es", o que, segundo meu entendimento, enquadra-se em um caso de dislexia pedagógica. Segundo a mãe, o processo de alfabetização do L. foi deficiente, pois ele não chegou a cursar o pré-primário (educação infantil), passou do 2º período pré-escolar diretamente para a 1ª série do ensino fundamental. Diz a mãe que embora ele não tenha dificuldade de compreensão e entendimento, apresenta uma leitura difícil e lenta, muitas vezes se perde durante a leitura de uma frase, com o se apresentasse uma distração na hora de ler. A mãe indaga como a família deve proceder para ajudá-lo. "A quem devo recorrer?", indaga a mãe. Situação 3: Ana, sexo feminino, 6 anos, branca, estudante do primeiro ano do ensino fundamental de uma escola pública, buscou atendimento psicológico por iniciativa dos pais, os quais apresentaram as seguintes queixas: agressividade, falta de limites, agitação e TDAH diagnosticado previamente por um médico neurologista. Segundo os pais, a procura por apoio profissional, tanto médico quanto psicológico, foi motivada por constantes reclamações da escola (professores, coordenadora e diretora) sobre o comportamento da filha. Ana toma Ritalina® duas vezes ao dia, receitada por um médico neurologista indicado pela escola. O psicofármaco foi prescrito logo na primeira visita ao médico, tendo o diagnóstico se pautado essencialmente no diálogo com os pais. Quanto à vida escolar, Ana é aluna do primeiro ano do ensino fundamental de uma escola municipal; frequenta aulas no período da manhã; é pontual e assídua, faltando apenas em circunstâncias especiais. Os pais de Ana são frequentemente chamados à escola devido a queixas relacionadas ao comportamento da filha, porém apenas a mãe comparece. A professora de Ana a relata como uma criança agitada, indisciplinada, ocasionalmente agressiva com os colegas e com dificuldades no cumprimento de tarefas, em acatar ordens e respeitar regras. Por outro lado, afirma que, apesar de tais características, é uma criança muito dócil, sincera, meiga e inteligente, equiparando seu comportamento a de um adulto em termos de linguagem, raciocínio e comunicação. Segundo a docente, Ana apresenta um desempenho escolar inferior à maioria dos colegas, pois não consegue se concentrar nas atividades e demonstra baixa perseverança em aprender. Não consegue ler e tem dificuldades em formar sílabas, escrevendo palavras a partir da soletração e ou desenho das letras. Entretanto, nos últimos dois meses, foi relatada pela professora uma significativa mudança no comportamento da criança, a qual tem demonstrado mais obediência, respeito aos colegas e interesse em participar das atividades escolares. Sua postura em sala é de liderança, expressano agressividade quando não tem a atenção dos colegas ou em uma situação de injustiça. Situação 4: Desde que consegue se lembrar, a paulistana Luisa Andrade, que hoje tem 17 anos, não se entendia com os números. As aulas de matemática eram um suplício. Na 3a série, aos 9 anos, experimentou pela primeira vez a vergonha que a acompanharia até o ensino médio. Para tomar a lição dos alunos, a professora costumava pedir para que todos ficassem em pé em cima de suas carteiras e recitassem a tabuada. Só sentava quem acertava a sequência. Era uma tarefa impossível para Luisa, que sempre ficava por último, em pé, sozinha, exposta à risada dos coleguinhas. Os anos se passaram e as situações constrangedoras foram se acumulando, tanto nas salas de aulas quanto em passeios com a turma de amigos. No cinema ou na lanchonete, Luisa nunca soube calcular o troco. Ou ver as horas. O pior momento foi no ensino médio. Durante uma aula de física, a professora pediu para que Luisa, que é loira e vestia uma blusa cor-de-rosa, resolvesse um problema na lousa. Luisa não foi capaz de escrever nada. Ficou lá parada por alguns minutos. A professora, então, disse a ela: “Pode voltar para sua carteira, Barbie”. Luisa não é preguiçosa. Nem burra. Ela apenas sofre de um transtorno de aprendizagem tão comum em salas de aulas quanto a dislexia.